Folhas Caídas – Almeida Garrett

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Advertência

Antes que venha o Inverno e disperse ao vento essas folhas de poesia que
por aí caíram, vamos escolher uma ou outra que valha a pena
conservar, ainda que não seja senão para memória.
A outros versos chamei eu já as últimas recordações
da minha vida poética. Enganei o público, mas de boa-fé,
porque me enganei primeiro a mim. Protestos de poetas que sempre estão
a dizer adeus ao mundo, e morrem abraçados com o louro – às
vezes imaginário, porque ninguém os coroa.

Eu pouco mais tinha de vinte anos quando publiquei certo poema, e jurei que
eram os últimos versos que fazia. Que juramentos!

Se dos meus se rirem, têm razão; mas saibam que eu também
primeiro me ri deles. Poeta na primavera, no estio e no outono da vida, hei-de
sê-lo no inverno, se lá chegar, e hei-de sê-lo em tudo.
Mas dantes cuidava que não, e nisso ia o erro.

Os cantos que formam esta pequena colecção pertencem todos
a uma época de vida íntima e recolhida que nada tem com as minhas
outras colecções.

Essas mais ou menos mostram o poeta que canta diante do público. Das
Folhas Caídas ninguém tal dirá, ou bem pouco entende
de estilos e modos de cantar.

Não sei se são bons ou maus estes versos; sei que gosto mais
deles do que de nenhuns outros que fizesse. Porquê? É impossível
dizê-lo, mas é verdade. E, como nada são por ele nem para
ele, é provável que o público sinta bem diversamente
do autor. Que importa?

Apesar de sempre se dizer e escrever há cem mil anos o contrário,
parece-me que o melhor e mais recto juiz que pode ter um escritor é
ele próprio, quando o não cega o amor-próprio. Eu sei
que tenho os olhos abertos, ao menos agora.

Custa-lhe a uma pessoa, como custava ao Tasso, e ainda sem ser Tasso, a queimar
os seus versos, que são seus filhos; mas o sentimento paterno não
impede de ver os defeitos das crianças.

Enfim, eu não queimo estes. Consagrei-os ignoto deo. E o deus que
os inspirou que os aniquile, se quiser: não me julgo com direito de
o fazer eu.

Ainda assim, no ignoto deo não imaginem alguma divindade meia velada
com cendal transparente, que o devoto está morrendo que lhe caia para
que todos a vejam bem clara. O meu deus desconhecido é realmente aquele
misterioso, oculto e não definido sentimento de alma que a leva às
aspirações de uma felicidade ideal, o sonho de oiro do poeta.

Imaginação que porventura se não realiza nunca. E daí,
quem sabe? A culpa é talvez da palavra, que é abstracta de mais.
Saúde, riqueza, miséria, pobreza e ainda coisas mais materiais,
como o frio e o calor, não são senão estados comparativos,
aproximativos. Ao infinito não se chega, porque deixava de o ser em
se chegando a ele.

Logo o poeta é louco, porque aspira sempre ao impossível. Não
sei. Essa é uma disputação mais

longa. ,

Mas sei que as presentes Folhas Caídas representam o estado de alma
do poeta nas variadas, incertas e vacilantes oscilações do espírito,
que, tendendo ao seu fim único, a posse do Ideal, ora pensa tê-lo
alcançado, ora estar a ponto de chegar a ele, ora ri amargamente porque
reconhece o seu engano, ora se desespera de raiva impotente por sua credulidade
vã.

Deixai-o passar, gente do mundo, devotos do poder, da riqueza, do mando,
ou da glória. Ele não entende bem disso, e vós não
entendeis nada dele.

Deixai-o passar, porque ele vai onde vós não ides; vai, ainda
que zombeis dele, que o calunieis, que o assassineis. Vai, porque é
espírito, e vós sois matéria.

E vós morrereis, ele não. Ou só morrerá dele
aquilo em que se pareceu e se uniu convosco. E essa falta, que é a
mesma de Adão, também será punida com a morte.

Mas não triunfeis, porque a morte não passa do corpo, que é
tudo em vós, e nada ou quase nada no poeta.

Janeiro, 1853.

I – Ignoto Deo

D.D.D.

Creio em ti, Deus: a fé viva

De minha alma a ti se eleva.

És – o que és não sei. Deriva

Meu ser do teu: luz… e treva,

Em que – indistintas! – se envolve

Este espírito agitado,

De ti vem, a ti devolve.

O Nada, a que foi roubado

Pelo sopro criador

Tudo o mais, o há-de tragar.

Só vive de eterno ardor

O que está sempre a aspirar

Ao infinito donde veio.

Beleza és tu, luz és tu,

Verdade és tu só. Não creio

Senão em ti; o olho nu.

Do homem não vê na terra

Mais que a dúvida, a incerteza,

A forma que engana e erra.

Essência!, a real beleza,

O puro amor – o prazer

Que não fatiga e não gasta…

Só por ti os pode ver

O que inspirado se afasta,

Ignoto Deus, das ronceiras,

Vulgares turbas: despidos

Das coisas vãs e grosseiras

Sua alma, razão, sentidos,

A ti se dão, em ti vida,

E por ti vida têm. Eu, consagrado

A teu altar, me prosto e a combatida

Existência aqui ponho, aqui votado

Fica este livro – confissão sincera

Da alma que a ti voou e em ti só ‘spera.

II – Adeus!

Adeus!, para sempre adeus!,

Vai-te, oh!, vai-te, que nesta hora

Sinto a justiça dos Céus

Esmagar-me a alma que chora.

Choro porque não te amei,

Choro o amor que me tiveste;

O que eu perco, bem no sei,

Mas tu… tu nada perdeste:

Que este mau coração meu

Nos secretos escaninhos

Tem venenos tão daninhos

Que o seu poder só sei eu.

Oh!, vai… para sempre adeus!

Vai, que há justiça nos Céus.

Sinto gerar na peçonha

Do ulcerado coração

Essa víbora medonha

Que por seu fatal condão

Há-de rasgá-lo ao nascer:

Há-de, sim, serás vingada,

E o meu castigo há-de ser

Ciúme de ver-te amada,

Remorso de te perder.

Vai-te, oh!, vai-te, longe, embora,

Que sou eu capaz agora

De te amar – Ai!, se eu te amasse!

Vê se no árido pragal

Deste peito se ateasse

De amor o incêndio fatal!

Mais negro e feio no Inferno
Não chameja o fogo eterno.

Que sim? Que antes isso? – Ai, triste!

Não sabes o que pediste.

Não te bastou suportar

o cepo-rei; impaciente

Tu ousas a deus tentar

Pedindo-lhe o rei-serpente!

E cuidas amar-me ainda?

Enganas-te: é morta, é finda,

Dissipada é a ilusão.

Do meigo azul de teus olhos

Tanta lágrima verteste,

Tanto esse orvalho celeste

Derramado o viste em vão

Nesta seara de abrolhos,

Que a fonte secou. Agora

Amarás… sim, hás-de amar,

Amar deves… Muito embora…

Oh!, mas noutro hás-de sonhar

Os sonhos de oiro encantados

Que o mundo chamou amores.

E eu réprobo… eu se o verei?

Se em meus olhos encovados

Der a luz de teus ardores…

Se com ela cegarei?

Se o nada dessas mentiras

Me entrar pelo vão da vida…

Se, ao ver que feliz deliras,

Também eu sonhar …Perdida,

Perdida serás – perdida.

Oh!, vai-te, vai, longe, embora!

Que te lembre sempre e agora

Que não te amei nunca… ai!, não:

E que pude a sangue-frio,

Covarde, infame, vilão,

Gozar-te – mentir sem brio,

Sem alma, sem dó, sem pejo,

Cometendo em cada beijo

Um crime… Ai!, triste, não chores,

Não chores, anjo do Céu,

Que o desonrado sou eu.

Perdoar-me, tu?… Não mereço.

A imundo cerdo voraz

Essas pérolas de preço

Não as deites: é capaz

De as desprezar na torpeza

De sua bruta natureza.

Irada, te há-de admirar,

Despeitosa, respeitar,

Mas indulgente… Oh!, o perdão

É perdido no vilão,

Que de ti há-de zombar.

Vai, vai… para sempre adeus!

Para sempre aos olhos meus

Sumido seja o clarão

De tua divina estrela.

Faltam-me olhos e razão

Para a ver, para entendê-la:

Alta está no firmamento

De mais, e de mais é bela

Para o baixo pensamento

Com que em má hora a fitei;

Falso e vil o encantamento

Com que a luz lhe fascinei.

Que volte a sua beleza

Do azul do céu à pureza,

E que a mim me deixe aqui

Nas trevas em que nasci,

Trevas negras, densas, feias,

Como é negro este aleijão

Donde me vem sangue às veias,

Este que foi coração,

Este que amar-te não sabe

Porque é só terra – e não cabe

Nele uma ideia dos Céus …

Oh!, vai, vai; deixa-me adeus!

III – Quando eu sonhava

Quando eu sonhava, era assim

Que nos meus sonhos a via;

E era assim que me fugia,

Apenas eu despertava,

Essa imagem fugidia

Que nunca pude alcançar.

Agora, que estou desperto,

Agora a vejo fixar…

Para quê? – Quando era vaga,

Uma ideia, um pensamento,

Um raio de estrela incerto

No imenso firmamento,

Uma quimera, um vão sonho,

Eu sonhava – mas vivia:

Prazer não sabia o que era,

Mas dor, não na conhecia …

IV – Aquela noite!

Era a noite da loucura,

Da sedução, do prazer,

Que em sua mantilha escura

Costuma tanta ventura,

Tantas glórias esconder.

Os felizes… e ai!, são tantos…

Eu, por tantos os contava!

Eu, que o sinal de meus prantos

Do aflito rosto lavava –

Os felizes presunçosos

Iam nos coches ruidosos

Correndo aos salões doirados

De mil fogos alumiados,

Donde em torrentes saía

A clamorosa harmonia

Que à festa, ao prazer tangia.

Eu sentia esse ruído

Como o confuso bramar

De um mar ao longe movido

Que à praia vem rebentar:

E disse comigo: «Vamos,

Os lutos d’alma dispamos,

À festa hei-de ir também eu!»

E fui: e a noite era bela,

Mas não vi a minha estrela

Que eu sempre via no céu:

Cobriu-a de espesso véu

Alguma nuvem a ela,

Ou era que já vendado

Me levava o negro fado

Onde a vida me perdeu?

Fui; meu rosto macerado,

A funda melancolia

Que todo o meu ser revia,

Qual o ataúde levado

A egípcio festim, dizia:

«Como vós fui eu também;

Folgai, que a morte aí vem!»

Dizia-o, sim, meu semblante,

Que, onde eu chegava, o prazer

Cessava no mesmo instante;

E o lábio, que ia a dizer

Doçuras de amor, gelava;

E o riso, que ia a nascer

Na face linda, expirava.

Era eu – e a morte em mim,

Que só ela espanta assim!

Quantas mulheres tão belas

Ébrias de amor e desejos,

Quantas vi saltar-lhe os beijos

Da boca ardente e lasciva!

E eu, que ia chegar-me a elas…

Para logo a fronte esquiva

De recatos se envolvia

E, toda pudor, tremia.

Quantas o seio anelante,

Nu, ardente e palpitante

Andavam como entregando

À cobiça mal desperta,

Gasta já e desdenhosa,

Dos que as estavam mirando

Com vaga luneta incerta

Que diz: «Aquela é formosa,

Não se me dava de a ter.

E esta? É só baronesa,

Vale menos que a duquesa:

Não sei a qual atender.»

E a isto chamam prazer!

A grande ventura é esta?

Vale a pena vir à festa

E vale a pena viver.

Como então quis à tristura

Do meu viver isolado!

Fique-se embora a ventura,

Que eu quero ser desgraçado.

Levantei alto a cabeça,

Senti-me crescer – e a frente

Desanuviar-se contente

Do feio negrume espesso

Que assustava aquela gente.

Logo os sorrisos caíram

Para o meu lado também;

Já como um dos seus me viam,

Que em mim não viam ninguém.

Eu, de olhos desencantados,

A elas, como as eu via!

Meus entusiasmos passados,

Oh!, como deles me ria!

Frio o sarcasmo saía

De meus lábios descorados,

E sem dó e sem pudor

A todas falei de amor…

Do amor bruto, degradante,

Que no seio palpitante,

Na espádua nua se acende…

Amor lascivo que ofende,

Que faz corar… elas riam

E oh, que não, não se ofendiam!

Mas o orquestra bradou alta:

«Festa, festa!, e salta, salta!»

os seus guizos delirantes

Sacode louca a Folia…

Adeus, requebros de amantes!

Suspiros, quem nos ouvia?

As palavras meias ditas,

Meias nos olhos escritas,

Voavam todas perdidas

Dispersas, rotas no ar;

Que se foram almas, vidas,

Tudo se foi a valsar.

Quem é esta que mais voltas

Gira, gira sem cessar?

Como as roupas leves, soltas,

Aéreas leva a ondular

Em torno à forma graciosa,

Tão flexível, tão airosa,

Tão fina! – Agora parou,

E tranquila se assentou.

Que rosto! Em linhas severas

Se lhe desenha o profil;

E a cabeça, tão gentil,

Como se fora deveras

A rainha dessa gente,

Como a levanta insolente!

Vive Deus!, que é ela… aquela,

A que eu vi na tal janela,

E que triste me sorria

Quando passando me via

Tão pasmado a olhar para ela.

A mesma melancolia

Nos olhos tristes – de luz

Oblíqua, viva mas fria;

A mesma alta inteligência

Que da face lhe transluz;

E a mesma altiva impaciência

Que de tudo, tudo cansa,

De tudo o que foi, que é,

E na erma vida só vê

O raio da vaga esp’rança.

«Pois isto sim, que é mulher»,

Disse eu – «e aqui há que ver».

Já vinha a pálida aurora

Anunciando a manhã fria,

E eu falava e eu ouvia

O que até àquela hora

Nunca disse, nunca ouvi…

Toda a memória perdi

Das palavras proferidas…

Não eram destas sabidas,

Nem quais eram não no sei …

Sei que a vida era outra em mim,

Que era outro ser o meu ser,

Que uma alma nova me achei

Que eu bem sabia não ter.

E daí? – Daí, a história

Não deixou outra memória

Dessa noite de loucura,

De sedução, de prazer…

Que os segredos da ventura

Não são para se dizer.

V – O Anjo caído

Era um anjo de Deus

Que se perdera dos Céus

E terra a terra voava.

A seta que lhe acertava

Partira de arco traidor,

Porque as penas que levava

Não eram penas de amor.

O anjo caiu ferido,

E se viu aos pés rendido

Do tirano caçador.

De asa morta e sem ‘splendor

O triste, peregrinando

Por estes vales de dor,

Andou gemendo e chorando.

Vi-o eu, o anjo dos Céus,

O abandonado de Deus,

Vi-o, nessa tropelia

Que o mundo chama alegria,

Vi-o a taça do prazer

Pôr ao lábio que tremia…

E só lágrimas beber.

Ninguém mais na Terra o via,

Era eu só que o conhecia…

Eu que já não posso amar!

Quem no havia de salvar?

Eu, que numa sepultura

Me fora vivo enterrar?

Loucura! ai, cega loucura!

Mas entre os anjos dos Céus

Faltava um anjo ao seu Deus;

E remi-lo e resgatá-lo

Daquela infâmia salvá-lo

Só força de amor podia.

Quem desse amor há-de amá-lo,

Se ninguém o conhecia?

Eu só. – E eu morto, eu descrido,

Eu tive o arrojo atrevido

De amar um anjo sem luz.

Cravei-a eu nessa cruz

Minha alma que renascia,

Que toda em sua alma pus.

E o meu ser se dividia,

Porque ela outra alma não tinha,

Outra alma senão a minha…

Tarde, ai!, tarde o conheci,

Porque eu o meu ser perdi,

E ele à vida não volveu…

Mas da morte que eu morri

Também o infeliz morreu.

VI – O Álbum

Minha Júlia, um conselho de amigo;

Deixa em branco este livro gentil:

Uma só das memórias da vida

Vale a pena guardar, entre mil.

E essa n’alma em silêncio gravada

Pelas mãos do mistério há-de ser;

Que não tem língua humana palavras,

Não tem letra que a possa escrever.

Por mais belo e variado que seja
De uma vida o tecido matiz ,

Um só fio da tela bordada,

Um só fio há-de ser o feliz.

Tudo o mais é ilusão, é mentira,

Brilho falso que um tempo seduz,

Que se apaga, que morre, que é nada

Quando o sol verdadeiro reluz.

De que serve guardar monumentos

Dos enganos que a esp’rança forjou?

Vãos reflexos de um sol que tardava

Ou vãs sombras de um sol que passou!

Crê-me, Júlia: mil vezes na vida

Eu coa minha ventura sonhei;

E uma só, dentre tantas, o juro,

Uma só com verdade a encontrei.

Essa entrou-me pela alma tão firme,

Tão segura por dentro a fechou,

Que o passado fugiu da memória,

Do porvir nem desejo ficou.

Toma pois, Júlia bela, o conselho:

Deixa em branco este livro gentil,

Que as memórias da vida são nada,

E uma só se conserva entre mil.

VII – Saudades

Leva este ramo, Pepita,
De saudades portuguesas;

É flor nossa; e tão bonita

Não na há noutras devesas.

Seu perfume não seduz,

Não tem variado matiz,

Vive à sombra, foge à luz,

As glórias d’amor não diz;

Mas na modesta beleza

De sua melancolia

É tão suave a tristeza,

Inspira tal simpatia!…

E tem um dote esta flor

Que de outra igual se não diz:

Não perde viço ou frescor

Quando a tiram da raiz.

Antes mais e mais floresce

Com tudo o que as outras mata;

Até às vezes mais cresce

Na terra que é mais ingrata.

Só tem um cruel senão,

Que te não devo esconder:

Plantada no coração,

Toda outra flor faz morrer.

E, se o quebra e despedaça

Com as raízes mofinas,

Mais ela tem brilho e graça,

É como a flor das ruínas.

Não, Pepita, não ta dou…

Fiz mal em dar-te essa flor,

Que eu sei o que me custou

Tratá-la com tanto amor.

VIII – Este inferno de amar

Este inferno de amar – como eu amo! –

Quem mo pôs aqui n’alma … quem foi?

Esta chama que alenta e consome,

Que é a vida – e que a vida destrói –

Como é que se veio a atear,

Quando – ai quando se há-de ela apagar?

Eu não sei, não me lembra: o passado,

A outra vida que dantes vivi

Era um sonho talvez… – foi um sonho-

Em que paz tão serena a dormi!

Oh!, que doce era aquele sonhar …

Quem me veio, ai de mim!, despertar?

Só me lembra que um dia formoso

Eu passei… dava o Sol tanta luz!

E os meus olhos, que vagos giravam,

Em seus olhos ardentes os pus.

Que fez ela?, eu que fiz? – Não no sei;

Mas nessa hora a viver comecei …

IX – Destino

Quem disse à estrela o caminho

Que ela há-de seguir no céu?

A fabricar o seu ninho

Como é que a ave aprendeu?

Quem diz à planta «Florece!»

E ao mudo verme que tece

Sua mortalha de seda

Os fios quem lhos enreda?

Ensinou alguém à abelha

Que no prado anda a zumbir

Se à flor branca ou à vermelha

O seu mel há-de ir pedir?

Que eras tu meu ser, querida,

Teus olhos a minha vida,

Teu amor todo o meu bem…

Ai!, não mo disse ninguém.

Como a abelha corre ao prado,

Como no céu gira a estrela,

Como a todo o ente o seu fado

Por instinto se revela,

Eu no teu seio divino .

Vim cumprir o meu destino…

Vim, que em ti só sei viver,

Só por ti posso morrer.

X – Gozo e dor

Se estou contente, querida,

Com esta imensa ternura

De que me enche o teu amor?

– Não. Ai!, não; falta-me a vida,

Sucumbe-me a alma à ventura:

O excesso de gozo é dor.

Dói-me alma, sim; e a tristeza

Vaga, inerte e sem motivo,

No coração me poisou,

Absorto em tua beleza,

Não sei se morro ou se vivo,

Porque a vida me parou.

É que não há ser bastante

Para este gozar sem fim

Que me inunda o coração.

Tremo dele, e delirante

Sinto que se exaure em mim

Ou a vida – ou a razão.

XI – Perfume da rosa

Quem bebe, rosa, o perfume

Que de teu seio respira?

Um anjo, um silfo? Ou que nume

Com esse aroma delira?

Qual é o deus que, namorado,

De seu trono te ajoelha,

E esse néctar encantado

Bebe oculto, humilde abelha?

– Ninguém? – Mentiste: essa frente

Em languidez inclinada,

Quem ta pôs assim pendente?

Dize, rosa namorada.

E a cor de púrpura viva

Como assim te desmaiou?

E essa palidez lasciva

Nas folhas quem ta pintou?

Os espinhos que tão duros

Tinhas na rama lustrosa,

Com que magos esconjuros

Tos desarmaram, ó rosa?

E porquê, na hástia sentida

Tremes tanto ao pôr do Sol?

Porque escutas tão rendida

O canto do rouxinol?

Que eu não ouvi um suspiro

Sussurrar-te na folhagem?

Nas águas desse retiro

Não espreitei a tua imagem?

Não a vi aflita, ansiada…

– Era de prazer ou dor? –

Mentiste, rosa, és amada,

E tu também tu amas, flor.

Mas ai!, se não for um nume

O que em teu seio delira,

Há-de matá-lo o perfume

Que nesse aroma respira.

XII – Rosa sem espinhos

Para todos tens carinhos,

A ninguém mostras rigor!

Que rosa és tu sem espinhos?

Ai, que não te entendo, flor!

Se a borboleta vaidosa

A desdém te vai beijar,

O mais que lhe fazes, rosa,

É sorrir e é corar.

E quando a sonsa da abelha,

Tão modesta em seu zumbir,

Te diz: «Ó rosa vermelha,

» Bem me podes acudir:

» Deixa do cálix divino

» Uma gota só libar…

» Deixa, é néctar peregrino,

» Mel que eu não sei fabricar …»

Tu de lástima rendida,

De maldita compaixão,

Tu à súplica atrevida

Sabes tu dizer que não?

Tanta lástima e carinhos,

Tanto dó, nenhum rigor!

És rosa e não tens espinhos!

Ai !, que não te entendo, flor.

XIII – Rosa pálida

Rosa pálida, em meu seio

Vem, querida, sem receio

Esconder a aflita cor.

Ai!, a minha pobre rosa!

Cuida que é menos formosa

Porque desbotou de amor.

Pois sim… quando livre, ao vento,

Solta de alma e pensamento,

Forte de tua isenção,

Tinhas na folha incendida

O sangue, o calor e a vida

Que ora tens no coração.

Mas não eras, não, mais bela,

Coitada, coitada dela,

A minha rosa gentil!

Coravam-na então desejos,

Desmaiam-na agora os beijos…

Vales mais mil vezes, mil.

Inveja das outras flores!

Inveja de quê, amores?

Tu, que vieste dos Céus,

Comparar tua beleza

Às filhas da natureza!

Rosa, não tentes a Deus.

E vergonha!… de quê, vida?

Vergonha de ser querida,

Vergonha de ser feliz!

Porquê?… porquê em teu semblante

A pálida cor da amante

A minha ventura diz?

Pois, quando eras tão vermelha

Não vinha zângão e abelha

Em torno de ti zumbir?

Não ouvias entre as flores

Histórias dos mil amores

Que não tinhas, repetir?

Que hão-de eles dizer agora?

Que pendente e de quem chora

É o teu lânguido olhar?

Que a tez fina e delicada

Foi, de ser muito beijada,

Que te veio a desbotar?

Deixa-os: pálida ou corada,

Ou isenta ou namorada,

Que brilhe no prado flor,

Que fulja no céu estrela,

Ainda é ditosa e bela

Se lhe dão só um amor.

Ai!, deixa-os, e no meu seio

Vem, querida, sem receio

Vem a frente reclinar.

Que pálida estás, que linda!

Oh!, quanto mais te amo ainda

Dês que te fiz desbotar.

XIV – Flor de ventura

A flor de ventura

Que amor me entregou,

Tão bela e tão pura

Jamais a criou:

Não brota na selva

De inculto vigor,

Não cresce entre a relva

De virgem frescor;

Jardins de cultura

Não pode habitar

A flor de ventura

Que amor me quis dar.

Semente é divina

Que veio dos Céus;

Só n’alma germina

Ao sopro de Deus.

Tão alva e mimosa

Não há outra flor;

Uns longes de rosa

Lhe avivam a cor;

E o aroma… Ai!, delírio

Suave e sem fim!

É a rosa, é o lírio,

É o nardo, o jasmim;

É um filtro que apura,

Que exalta o viver,

E em doce tortura

Faz de ânsias morrer.

Ai!, morrer… que sorte

Bendita de amor!

Que me leve a morte

Beijando-te, flor.

XV – Bela d’amor

Pois essa luz cintilante

Que brilha no teu semblante

Donde lhe vem o ‘splendor?

Não sentes no peito a chama

Que aos meus suspiros se inflama

E toda reluz de amor?

Pois a celeste fragrância

Que te sentes exalar,

Pois, dize, a ingénua elegância

Com que te vês ondular

Como se baloiça a flor

Na Primavera em verdor,

Dize, dize: a natureza

Pode dar tal gentileza?

Quem ta deu senão amor?

Vê-te a esse espelho, querida,

Ai!, vê-te por tua vida,

E diz se há no céu estrela,

Diz-me se há no prado flor

Que Deus fizesse tão bela

Como te faz meu amor.

XVI – Os cinco sentidos

São belas – bem o sei, essas estrelas,

Mil cores – divinais têm essas flores;

Mas eu não tenho, amor, olhos para elas:

Em toda a natureza

Não vejo outra beleza

Senão a ti – a ti!

Divina – ai!, sim, será a voz que afina
Saudosa – na ramagem densa, umbrosa,

Será; mas eu do rouxinol que trina

Não oiço a melodia,

Nem sinto outra harmonia

Senão a ti – a ti!

Respira – n’aura que entre as flores gira,

Celeste – incenso de perfume agreste.

Sei… não sinto: minha alma não aspira,

Não percebe, não toma

Senão o doce aroma

Que vem de ti – de ti!

Formosos – são os pomos saborosos,

É um mimo – de néctar o racimo:

E eu tenho fome e sede …sequiosos,

Famintos meus desejos

Estão… mas é de beijos,

É só de ti – de ti!

Macia – deve a relva luzidia
Do leito – ser por certo em que me deito.

Mas quem, ao pé de ti, quem poderia

Sentir outras carícias,

Tocar noutras delícias

Senão em ti – em ti!

A ti! , ai, a ti só os meus sentidos
Todos num confundidos,

Sentem, ouvem, respiram;

Em ti, por ti deliram.

Em ti a minha sorte,

A minha vida em ti;

E quando venha a morte,

Será morrer por ti.

XVII – Rosa e lírio

A rosa
É formosa;

Bem sei.

Porque lhe chamam – flor

D’amor,

Não sei.

A flor,

Bem de amor

É o lírio;

Tem mel no aroma – dor

Na cor

O lírio.

Se o cheiro

É fagueiro

Na rosa,

Se é de beleza – mor

Primor

A rosa,

No lírio

O martírio

Que é meu

Pintado vejo: cor

E ardor

É o meu.

A rosa

É formosa,

Bem sei …

E será de outros flor

D’amor…

Não sei.

XVIII – Coquette dos prados

Coquette dos prados,
A rosa é uma flor
Que inspira e não sente

O encanto d’amor.

De púrpura a vestem

Os raios do Sol;

Suspiram por ela

Ais do rouxinol:

E as galas que traja

Não as agradece,

E o amor que acende

Não o reconhece.

Coquette dos prados

Rosa, linda flor,

Porquê, se o não sentes,

Inspiras amor?

XIX – Cascais

Acabava ali a Terra

Nos derradeiros rochedos,

A deserta árida serra

Por entre os negros penedos

Só deixa viver mesquinho

Triste pinheiro maninho.

E os ventos despregados

Sopravam rijos na rama,

E os céus turvos, anuviados,

O mar que incessante brama…

Tudo ali era braveza

De selvagem natureza.

Aí, na quebra do monte,

Entre uns juncos mal medrados,

Seco o rio, seca a fonte,

Ervas e matos queimados,

Aí nessa bruta serra,

Aí foi um Céu na Terra.

Ali sós no mundo, sós,

Santo Deus!, como vivemos!

Como éramos tudo nós

E de nada mais soubemos!

Como nos folgava a vida

De tudo o mais esquecida!

Que longos beijos sem fim,

Que falar dos olhos mudo!

Como ela vivia em mim,

Como eu tinha nela tudo,

Minha alma em sua razão,

Meu sangue em seu coração!

Os anjos aqueles dias

Contaram na eternidade:

Que essas horas fugidias,

Séculos na intensidade,

Por milénios marca Deus

Quando as dá aos que são seus.

Ai!, sim, foi a trapos largos,

Longos, fundos que a bebi

Do prazer a taça – amargos

Depois… depois os senti

Os travos que ela deixou…

Mas como eu ninguém gozou.

Ninguém: que é preciso amar

Como eu amei – ser amado

Como eu fui; dar, e tomar

Do outro ser a quem se há dado,

Toda a razão, toda a vida

Que em nós se anula perdida.

Ai, ai!, que pesados anos

Tardios depois vieram!

Oh!, que fatais desenganos,

Ramo a ramo, a desfizeram

A minha choça na serra,

Lá onde se acaba a Terra!

Se o visse… não quero vê-lo

Aquele sítio encantado.

Certo estou não conhecê-lo,

Tão outro estará mudado,

Mudado como eu, como ela,

Que a vejo sem conhecê-la!

Inda ali acaba a Terra,

Mas já o céu não começa;

Que aquela visão da serra

Sumiu-se na treva espessa,

E deixou nua a bruteza

Dessa agreste natureza.

XX – Estes sítios!

Olha bem estes sítios queridos,

Vê-os bem neste olhar derradeiro…

Ai!, o negro dos montes erguidos,

Ai!, o verde do triste pinheiro!

Que saudades que deles teremos …

Que saudade!, ai, amor, que saudade!

Pois não sentes, neste ar que bebemos,

No acre cheiro da agreste ramagem,

Estar-se alma a tragar liberdade

E a crescer de inocência e vigor!

Oh!, aqui, aqui só se engrinalda

Da pureza da rosa selvagem,

E contente aqui só vive Amor.

O ar queimado das salas lhe escalda

De suas asas o níveo candor,

E na frente arrugada lhe cresta

A inocência infantil do pudor.

E oh!, deixar tais delícias como esta!

E trocar este céu de ventura

Pelo inferno da escrava cidade!

Vender alma e razão à impostura,

Ir saudar a mentira em sua corte,

Ajoelhar em seu trono à vaidade,

Ter de rir nas angústias da morte,

Chamar vida ao terror da verdade…

Ai!, não, não… nossa vida acabou,

Nossa vida aqui toda ficou.

Diz-lhe adeus neste olhar derradeiro,

Dize à sombra dos montes erguidos,

Dize-o ao verde do triste pinheiro,

Dize-o a todos os sítios queridos

Desta ruda, feroz soledade,

Paraíso onde livres vivemos…

Oh!, saudades que dele teremos,

Que saudade!, ai, amor, que saudade!

XXI – Não te amo

Não te amo, quero-te: o amar vem d’alma.

E eu n’alma – tenho a calma,

A calma – do jazigo.

Ai!, não te amo, não.

Não te amo, quero-te: o amor é vida.

E a vida – nem sentida

A trago eu já comigo.

Ai!, não te amo, não.

Ai!, não te amo, não; e só te quero

De um querer bruto e fero

Que o sangue me devora,

Não chega ao coração.

Não te amo. És bela, e eu não te amo, ó bela.

Quem ama a aziaga estrela

Que lhe luz na má hora

Da sua perdição?

E quero-te, e não te amo, que é forçado,

De mau feitiço azado

Este indigno furor.

Mas oh!, não te amo, não.

E infame sou, porque te quero; e tanto

Que de mim tenho espanto,

De ti medo e terror …

Mas amar… não te amo, não.

XXII – Não és tu

Era assim, tinha esse olhar,

A mesma graça, o mesmo ar,

Corava da mesma cor,

Aquela visão que eu vi

Quando eu sonhava de amor,

Quando em sonhos me perdi.

Toda assim; o porte altivo,

O semblante pensativo,

E uma suave tristeza

Que por toda ela descia

Como um véu que lhe envolvia,

Que lhe adoçava a beleza.

Era assim; o seu falar,

Ingénuo e quase vulgar,

Tinha o poder da razão

Que penetra, não seduz;

Não era fogo, era luz

Que mandava ao coração.

Nos olhos tinha esse lume,

No seio o mesmo perfume ,

Um cheiro a rosas celestes,

Rosas brancas, puras, finas,

Viçosas como boninas,

Singelas sem ser agrestes.

Mas não és tu… ai!, não és:

Toda a ilusão se desfez.

Não és aquela que eu vi,

Não és a mesma visão,

Que essa tinha coração,

Tinha, que eu bem lho senti.

XXIII – Beleza

Vem do amor a Beleza,

Como a luz vem da chama.

É lei da natureza:

Queres ser bela? – ama.

Formas de encantar,

Na tela o pincel

As pode pintar;

No bronze o buril

As sabe gravar;

E estátua gentil

Fazer o cinzel

Da pedra mais dura…

Mas Beleza é isso? – Não; só formosura.

Sorrindo entre dores

Ao filho que adora

Inda antes de o ver

– Qual sorri a aurora

Chorando nas flores

Que estão por nascer –

A mãe é a mais bela das obras de Deus.

Se ela ama! – O mais puro do fogo dos céus

Lhe ateia essa chama de luz cristalina:

É a luz divina

Que nunca mudou,

É luz… é a Beleza

Em toda a pureza

Que Deus a criou.

XXIV – Anjo és

Anjo és tu, que esse poder

Jamais o teve mulher,

Jamais o há-de ter em mim.

Anjo és, que me domina

Teu ser o meu ser sem fim;

Minha razão insolente

Ao teu capricho se inclina,

E minha alma forte, ardente,

Que nenhum jugo respeita,

Covardemente sujeita

Anda humilde a teu poder.

Anjo és tu, não és mulher.

Anjo és. Mas que anjo és tu?

Em tua frente anuviada

Não vejo a c’roa nevada

Das alvas rosas do céu.

Em teu seio ardente e nu

Não vejo ondear o véu

Com que o sôfrego pudor

Vela os mistérios d’amor.

Teus olhos têm negra a cor,

Cor de noite sem estrela;

A chama é vivaz e é bela,

Mas luz não tem. – Que anjo és tu?

Em nome de quem vieste?

Paz ou guerra me trouxeste

De Jeová ou Belzebu?

Não respondes – e em teus braços

Com frenéticos abraços

Me tens apertado, estreito!…

Isto que me cai no peito

Que foi?… Lágrima? – Escaldou-me

Queima, abrasa, ulcera… Dou-me,

Dou-me a ti, anjo maldito,

Que este ardor que me devora

É já fogo de precito,

Fogo eterno, que em má hora

Trouxeste de lá… De donde?

Em que mistérios se esconde

Teu fatal, estranho ser!

Anjo és tu ou és mulher?

XXV – Víbora

Como a víbora gerado,

No coração se formou

Este amor amaldiçoado

Que à nascença o espedaçou.

Para ele nascer morri;

E em meu cadáver nutrido,

Foi a vida que eu perdi

A vida que tem vivido.

Livro Segundo

I

Barca Bela

Pescador da barca bela,

Onde vás pescar com ela,

Que é tão bela,

Ó pescador?

Não vês que a última estrela

No céu nublado se vela?

Colhe a vela,

Ó pescador!

Deita o lanço com cautela,

Que a sereia canta bela …

Mas cautela,

Ó pescador!

Não se enrede a rede nela,

Que perdido é remo e vela

Só de vê-la,

Ó pescador.

Pescador da barca bela,

Inda é tempo, foge dela,

Foge dela,

Ó pescador!

II

A Coroa

Bem sei que é toda de flores

Essa coroa d’amores

Que na frente vais cingir.

Mas é coroa – é reinado;

E a posto mais arriscado

Não se pode hoje subir.

Nesses reinos populosos

Os vassalos revoltosos

Tarde ou cedo dão a lei.

Quem há-de conter, domá-los,

Se são tantos os vassalos

E um só o pobre do rei?

Não vejo, rainha bela,

Para fugir essa estrela

Que os reis persegue sem dó,

Mais que um meio – falo sério:

É pôr limites ao império

E ter um vassalo só.

III

Sina

Por todas quantas estrelas

Tem o céu que possam mais,

Pelas flores virginais

De que se c’roam donzelas,

Pelas lágrimas singelas

Que o primeiro amor derrama,

Por aquela etérea chama

Que a mão de Deus acendeu

E que na Terra alumia

Quanto há na terra do Céu!

Por tudo quanto eu queria

Quando eu sabia querer,

E por tudo quanto eu cria

Quando me era dado crer!

Bem-fadada seja a vida

Que por estas folhas brancas

Sua história há-de escrever!

Que as dores lhe venham mancas

E com asas o prazer!

Esta sina que lhe dou,

Bruxa não na adivinhou,

Nem duende ma ensinou:

Li-a eu por meu condão

Em seus olhos inocentes,

Transparentes – transparentes

Até dentro ao coração.

IV

Ai, Helena!

Ai, Helena!, de amante e de esposo

Já o nome te faz suspirar,

Já tua alma singela pressente

Esse fogo de amor delicioso

Que primeiro nos faz palpitar! …

Oh!, não vás, donzelinha inocente,

Não te vás a esse engano entregar:

E amor que te ilude e te mente,

É amor que te há-de matar!

Quando o Sol nestes montes desertos

Deixa a luz derradeira apagar,

Com as trevas da noite que espanta

Vêm os anjos do Inferno encobertos

A sua vítima incauta afagar.

Doce é a voz que adormece e quebranta,

Mas a mão do traidor …faz gelar.

Treme, foge do amor que te encanta,

É amor que te há-de matar.

V

The rose – A Sigh

If this delicious, grateful flower,

Which blows but for a little hour,

Should to the sight so lovely be,

As from it’s fragrance seems to me,

A sigh must then it’s colour show,

For that is the softest joy I know.

And sure the rose is like a sigh,

Borne just to soothe and then – to die.

V

A Rosa – Um suspiro

Se esta flor tão bela e pura,

Que apenas uma hora dura,

Tem pintado no matiz

O que o seu perfume diz,

Por certo na linda cor

Mostra um suspiro d’amor:

Dos que eu chego a conhecer

É este o maior prazer.

E a rosa como um suspiro

Há-de ser; bem se discorre:

Tem na vida o mesmo giro,

É um gosto que nasce e – morre.

VI

Retrato

(Num álbum)

Ah!, despreza o meu retrato

Que lhe eu queria aqui pôr!

Tem medo que lhe desfeie

O seu livro de primor?

Pois saiba que por despique

Eu sei também ser pintor:

Co’esta pena por pincel,

E a tinta do meu tinteiro,

Vou fazer o seu retrato

Aqui já de corpo inteiro.

Vamos a isto. – Sentada

Na cadeira moyen âge,

O cabelo en châtelaines,

As mangas soltas. – É o traje.

Em longas pregas negras

Caia o veludo e arraste;

De si com desdém régio

Com o pezinho o afaste …

Nessa atitude! Está bem:

Agora mais um jeitinho;

A airosa cabeça a um lado

E o lindo pé no banquinho.

Aqui estão os contornos, são estes,

Nem Daguerre lhos tira melhor.

Este é o ar, esta a pose, eu lho juro,

E o trajar que lhe fica melhor.

Vamos agora ao difícil:

Tirar feição por feição;

Entendê-las, que é o ponto,

E dar-lhe a justa expressão.

Os olhos são cor da noite,

Da noite em seu começar,

Quando inda é jovem, incerta,

E o dia vem de acabar;

Têm uma luz que vai longe,

Que faz gosto de queimar:

É uma espécie de lume

Que serve só de abrasar.

Na boca há um sorriso amável.

Amável é… mas queria

Saber se é todo bondade

Ou se meio é zombaria.

Ninguém mo diz? O retrato

Incompleto ficará,

Que nestas duas feições

Todo o ser, toda a alma está.

Pois fiel como um espelho

É tudo o que nele fiz,

E o que lhe falta – que é muito,

Também o espelho o não diz.

VII

Lucinda

Ergue a frente, lírio,

Ergue a branca frente!

O astro do delírio

Já surgiu no oriente.

Vês, o sol ardente

Lá caiu no mar;

A frente pendente

Ergue a respirar!

Alvo é o luar,

Teu alvor não cresta;

A hora de gozar,

De viver é esta.

Longa foi a sesta,

Longo o teu dormir;

Ergue a branca testa,

Tempo é de surgir!

Já se abre a sorrir

Tua boca linda…

Despertar, sentir

Ou sonhar é ainda?

Sonho que não finda

Será o teu sonhar,

Se a dormir, Lucinda,

Te sentes amar.

VIII

As duas rosas

Sobre se era mais formosa

A vermelha ou branca rosa,

Ardeu séculos a guerra

Em Inglaterra.

Paz entre as duas, jamais!

Reinar ambas as rivais,

Também não; e uma ceder

Como há-de ser?

Faltei eu lá na Inglaterra

Para acabar com a guerra.

Ei-las aqui bem iguais,

Mas não rivais.

Atei-as em laço estreito:

Que artista fui, com que jeito!

E oh!, que lindas são, que amores

As minhas flores!

Dirão que é cópia – bem sei:

Que todo inteiro o roubei

Meu pensamento brilhante

Do teu semblante…

Será. Mas se é tão belo

Que lhe dêem esse modelo,

Do meu quadro, na verdade,

Tenho vaidade.

IX

Voz e aroma

A brisa vaga no prado,

Perfume nem voz não tem;

Quem canta é o ramo agitado,

O aroma é da flor que vem.

A mim, tornem-me essas flores

Que uma a uma eu vi murchar,

Restituam-me os verdores

Aos ramos que eu vi secar

E em torrentes de harmonia

Minha alma se exalará,

Esta alma que muda e fria

Nem sabe se existe já.

X

Seus olhos

Seus olhos – que eu sei pintar

O que os meus olhos cegou –

Não tinham luz de brilhar,

Era chama de queimar;

E o fogo que a ateou

Vivaz, eterno, divino,

Como facho do Destino.

Divino, eterno! – e suave

Ao mesmo tempo: mas grave

E de tão fatal poder,

Que, um só momento que a vi,

Queimar toda a alma senti…

Nem ficou mais de meu ser,

Senão a cinza em que ardi.

XI

A Délia

Cuidas tu que a rosa chora,

Que é tamanha a sua dor,

Quando, já passada a aurora,

O Sol, ardente de amor,

Com seus beijos a devora?

– Feche virgíneo pudor

O que inda é botão agora

E amanhã há-de ser flor;

Mas ela é rosa nesta hora,

Rosa no aroma e na cor.

– Para amanhã o prazer

Deixe o que amanhã viver.

Hoje, Délia, é nossa a vida;

Amanhã… o que há-de ser?

A hora de amor perdida

Quem sabe se há-de volver?

Não desperdices, querida,

A duvidar e a sofrer

O que é mal gasto da vida

Quando o não gasta o prazer.

XII

A Jovem americana

Donde é que te eu vi, donzela,

E o que eras tu nesta vida

Quando não tinhas vestida

A forma de virgem bela

Que ora te vejo trajar?

Estrela foste no céu,

Serias no prado flor?

Ou, no diáfano splendor

De que Íris faz o seu véu,

Estavas, Silfa, a bordar?

Não houve poeta ainda

Que te não visse e cantasse,

Mulher que não te invejasse,

Nem pintor que a face linda

Te não fosse copiar.

Séculos tens. – E ah!… já sei

Quem és, quem foste e hás-de

Bem te eu estava a conhecer

Quando primeiro te olhei

Sem te poder estranhar.

Com Deus e coa Liberdade

De nossas terras fugiste

Quando perdidos nos viste,

E te foste à soledade.

Do Novo Mundo acoitar.

Pois que ora piedosa vens

E nos sentes ressurgir,

Oh!, não tornes a fugir,

Que melhor pátria não tens

Nem que mais te saiba amar.

Teu natal celebraremos

Hoje e sempre: teus amigos

Somos na lealdade antigos,

E no ardor novos seremos,

No desvelo em te adorar:

Porque tu és o Ideal

Da só beleza – do Bem;

Não és estranha a ninguém,

E de ti só foge o mal

Que te não pode encarar.

XIII

Adeus, mãe!

– «Adeus, mãe!, adeus, querida

Que eu já não posso coa vida

E os anjos chamam por mim.

Adeus, mãe, adeus! … Assim,

Junta os teus lábios aos meus

E recebe o último adeus

Neste suspiro… Não chores

Não chores: aquelas dores

Já sinto acalmar em mim.

Adeus, mãe, adeus!… Assim,

Junta os teus lábios aos meus…

Um beijo – um último… Adeus!»

E o corpo desanimado

No colo da mãe caía;

E ela o corpo… só pesado,

Só mais pesado o sentia!

Não se lamenta, não chora,

E quase a sorrir, dizia:

«Que tem este filho agora,

Que tanto pesa? Não posso…»

E uma a uma, osso por osso,

Com a mão trémula tenta

As mãozinhas descarnadas,

As faces cavas, mirradas,

A testa inda morna e lenta.

«Que febre, que febre!», diz;

E em tudo pensa a infeliz,

Tudo que há mau lhe ocorreu,

Tudo – menos que morreu.

Como nos gelos do Norte

O sono traidor da morte

Engana o desfalecido

Que imagina adormecer,

Assim cansado, esvaído

De tão longo padecer,

Já não há no coração

Da mãe força de sentir;

Não tem já lume a razão

Senão só para a iludir.

Acorda, ó mãe desgraçada,

Que é tempo de despertar!

Anda ver a eça armada,

As luzes que ardem no altar.

Ouves? É a rouca toada

Dos padres a salmear!…

Vamos, que a hora é chegada,

É tempo de o amortalhar.

E os anjos cantavam:

«Aleluia!»

E os santos clamavam:

«Hosana!»

Ao triste cantar da Terra

Responde o cantar do Céu;

Todos lhe bradam: « Morreu!»

E a todos o ouvido cerra.

E os sinos a tocar,

E os padres a rezar,

E ela ainda a acalentar

Nos braços o filho morto,

Que já não tem mais conforto,

Mais sossego neste mundo

Que o jazigo húmido e fundo

Onde há-de ir a sepultar.

Levai, ó anjos de Deus,

Levai essa dor aos Céus.

Com a alma do inocente

Aos pés do Juiz Clemente

Aí fique a santa dor

Rogando à Eterna Bondade

Que estenda a imensa piedade

A quantos pecam d’amor.

XIV

Ave, Maria

Maria, doce Mãe dos desvalidos,

A ti clamo, a ti brado!

A ti sobem, Senhora, os meus gemidos,

A ti o hino sagrado

Do coração de um pai voa, ó Maria,

Pela filha inocente.

Com sua débil voz que balbucia,

Piedosa mãe clemente,

Ela já sabe, erguendo as mãos tenrinhas,

Pedir ao Pai dos Céus

O pão de cada dia. As preces minhas

Como irão ao meu Deus,

Ao meu Deus que é teu filho e tens nos braços,

Se tu, mãe de piedade,

Me não tomas por teu? Oh!, rompe os laços

Da velha humanidade;

Despe de mim todo outro pensamento

E vã tenção da Terra;

Outra glória, outro amor, outro contento

De minha alma desterra.

Mãe, oh!, Mãe, salva o filho que te implora

Pela filha querida.

De mais tenho vivido, e só agora

Sei o preço da vida,

Desta vida, tão mal gasta e prezada

Porque minha só era…

Salva-a, que a um santo amor está votada,

Nele se regenera.

XV

Os exilados

(À Sr.ª Rossi-Caccia)

Eles tristes, das praias do desterro,

Os olhos longos e arrasados de água

Estendem para aqui… Cravado o ferro

Da saudade têm n’alma; e é negra mágoa

A que lhes rala os corações aflitos,

É a maior da vida – são proscritos,

Dor como outra não há, é a dor que os mata!

Dizer eu: «Essa terra é minha… minha,

Que nasci nela, que a servi, a ingrata!

Que lhe dei… dei por ela quanto tinha,

Sangue, vida, saúde, os bens da sorte…

E ela, por galardão, me entrega à morte!»

Morte lenta e cruel – a de Ugolino!

Bem lhes quiseram dar…

Mas não será assim: sopro divino

De bondade e nobreza

Não o pode apagar

Nos corações da gente portuguesa

Esse rancor de fera

Que em almas negras, negro e vil impera.

Tu, génio da Harmonia,

Tu solta a voz em que triunfa a glória,

Com que suspira amor!

Bela de entusiasmo e de fervor,

Ergue-te, ó Rossi, tua voz nos guia:

A tua voz divina

Hoje um eco imortal deixa na história.

Inda no mar de Egina

Soa o hino de Alceu;

E atravessaram séculos

Os cantos de Tirteu.

Mais poderosa e válida

A tua voz será;

A tua voz etérea,

Tua voz não morrerá.

Nós no templo da pátria penduramos

Esta c’roa singela

Que de mirto e de rosas entrançamos

Para essa fronte bela:

Aqui, de voto, ficará pendente,

E um culto de saudade

Aqui, perenemente,

Lhe daremos no altar da Liberdade.

XVI

Preito

É lei do tempo, Senhora,

Que ninguém domine agora

E todos queiram reinar.

Quanto vale nesta hora

Um vassalo bem sujeito,

Leal de homenage e preito

E fácil de governar?

Pois o tal sou eu, Senhora:

E aqui juro e firmo agora

Que a um despótico reinar

Me rendo todo nesta hora,

Que a liberdade sujeito…

Não a reis! – outro é meu preito:

Anjos me hão-de governar.

XVII

No lumiar

Era um dia de Abril; a Primavera

Mostrava apenas seu virgíneo seio

Entre a folhagem tenra; não vencera,

De todo, o Sol o misterioso enleio

Da névoa rara e fina que estendera

A manhã sobre as flores; o gorjeio

Das aves inda tímido e infantil…

Era um dia de Abril.

E nós íamos lentos passeando

De vergel em vergel, no descuidado

Sossego d’alma que se está lembrando

Das lutas do passado,

Das vagas incertezas do porvir.

E eu não cansava de admirar, de ouvir,

Porque era grande, um grande homem deveras

Aquele duque – ali maior ainda,

Ali no seu Lumiar, entre as sinceras

Belezas desse parque, entre essas flores,

A qual mais bela e de mais longe vinda

Esmaltar de mil cores

Bosque, jardim, e as relvas tão mimosas,

Tão suaves ao pé – muito há cansado

De pisar alcatifas ambiciosas,

De tropeçar no perigoso estrado

Das vaidades da Terra.

E o velho duque, o velho homem de Estado,

Ao falar dessa guerra

Distante – e das paixões da humanidade,

Sorria malicioso

Daquele sorrir fino sem maldade,

Que tão seu era, que, entre desdenhoso

E benévolo, a quanto lhe saía

Dos lábios dava um cunho de nobreza,

De razão superior.

E então como ele a amava e lhe queria

A esta pobre terra portuguesa!

Velha tinha a razão, velha a experiência,

Jovem só esse amor.

Tão jovem, que inda cria, inda esperava,

Inda tinha a fé viva da inocência!…

Eu, na força da vida,

Tristemente de mim me envergonhava.

– Passeávamos assim, e em reflectida

Meditação tranquila descuidados

Íamos sós, já sem falar, descendo

Por entre os velhos olmos tão copados,

Quando sentimos para nós crescendo

Rumor de vozes finas que zumbia

Como enxame de abelhas entre as flores,

E vimos, qual Diana entre os menores

Astros do céu, a forma que se erguia,

Sobre todas gentil, dessa estrangeira

Que se esperava ali. Perfeita, inteira

No velho amável renasceu a vida

E a graça fácil. Cuidei ver o antigo

O nobre Portugal que ressurgia

No venerando amigo;

E na formosa dama que sorria,

O génio da subida,

Rara e fina elegância que a nobreza,

O gosto, o amor do Belo, o instinto da Arte

Reúne e faz irmãos em toda a parte;

Que afere a grandeza

Pela medida só dos pensamentos,

Do ‘stilo de viver, dos sentimentos,

Tudo o mais como fútil desprezando.

Pensei que a saudar o velho ilustre

Em seus últimos dias

E a despedir-se, até Deus sabe quando,

De nossas praias tristes e sombrias,

Vinha esse génio… Tristes e sombrias,

Que o sol lhe foge, lhe esmorece o lustre,

E onde tudo que é alto vai baixando …

O triste, o que não tem já sol que o aqueça

Sou eu talvez – que, à míngua de fé, sinto

O cérebro gelar-me na cabeça

Porque no coração o fogo é extinto.

Ele não era assim,

Ou sabia fingir melhor do que eu!

– Como o nobre corcel que envelheceu

Nas guerras, ao sentir o áureo telim

E as armas sobre o dorso descarnado,

Remoça o garbo, em juvenil meneio

Franja de espuma o freio,

E honra os brasões da casa em que foi nado.

Nunca me há-de esquecer aquele dia!

Nem os olhos, as falas, e a sincera

Admiração da bela dama inglesa

Por tudo quanto via;

O fruto, a flor, o aroma, o sol que os gera,

E esta vivaz, veemente natureza,

Toda de fogo e luz,

Que ama incessante, que de amar não cansa,

E contínua produz

Nos frutos o prazer, na flor a esp’rança.

Ali as nações todas se juntaram,

Ali as várias línguas se falaram;

A Europa convidada

Veio ao festim – não ao festim, ao preito.

Vassalagem rendida foi prestada

Ao talento, à beleza,

A quanto n’alma infunde amor, respeito,

Porque é deveras grande – que a grandeza

Os homens não a dão; Põe-na por sua mão

Naqueles que são seus,

Nos que escolheu – só Deus.

Oh!, minha pobre terra, que saudades

Daquele dia! Como se me aperta

O coração no peito coas vaidades,

Coas misérias que aí vejo andar alerta,

À solta apregoando-se! Na intriga,

Na traição, na calúnia é forte a liga,

É fraca em tudo o mais…

Tu, sossegado

Descansa no sepulcro; e cerra, cerra

Bem os olhos, amigo venerado,

Não vejas o que vai por nossa terra.

Eu fecho os meus, para trazer mais viva

Na memória a tua imagem

E a dessa bela Inglesa que se esquiva

De nós entre a folhagem

Dos bosques de Parténope. Cansado,

Fito nesta miragem

Os olhos d’alma, enquanto que, arrastado,

Vai o tardio pé

Por este que inda é,

Que cedo não será, bem cedo – em mal!

O velho Portugal.

XVIII

A um amigo

Fiel ao costume antigo,

Trago ao meu jovem amigo

Versos próprios deste dia.

E que de os ver tão singelos,

Tão simples como eu, não ria:

Qualquer os fará mais belos,

Ninguém tão d’alma os faria.

Que sobre a flor de seus anos

Soprem tarde os desenganos;

Que em torno os bafeje amor,

Amor da esposa querida,

Prolongando a doce vida

Fruto que suceda à flor.

Recebe este voto, amigo,

Que eu, fiel ao uso antigo,

Quis trazer-te neste dia

Em poucos versos singelos.

Qualquer os fará mais belos,

Ninguém tão d’alma os faria.

FIM

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