Chiquinha Gonzaga

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Data de nascimento: 17 de outubro de 1847, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil.

Data da morte: 28 de fevereiro de 1935, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil.

Nome de nascença: Francisca Edwiges Neves Gonzaga

A figura feminina mais importante da música popular brasileira de todos os tempos, Chiquinha Gonzaga era uma mulher independente em momentos de extremo preconceito e ganhou seu dinheiro com a sua própria música.

A primeira condutora feminina brasileira, a primeira compositor do gênero marcha carnavalesca (com “Ô Abre Alas”), ela também era muito ativa nas campanhas abolicionistas e republicanas.

Suas músicas tinham enorme sucesso, dando origem a uma carreira internacional e músicas ainda comumente usadas.

Chiquinha Gonzaga – Vida

Francisca Edwiges Neves Gonzaga, compositora, pianista e regente, nasceu no Rio de Janeiro a 17 de outubro de 1847 e morreu na mesma cidade em 28 de fevereiro de 1935.

Filha de uma família do Império, aos 11 anos compôs a sua primeira música.

Casou-se aos 16 anos (5/11/1863), e, aos 18, mãe de quatro filhos (três com Jacinto Ribeiro do Amaral e uma filha com João Baptista de Carvalho), abandonou o marido (oficial da Marinha mercante) e levando consigo o filho mais velho (João Gualberto), passou a viver com um engenheiro de estradas de ferro, de quem também se separou logo depois.

Chiquinha Gonzaga
Francisca Edwiges Neves Gonzaga

Enfrentando todos os preconceitos de seu tempo, Chiquinha foi a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil. Lecionava piano para poder sustentar seus filhos. Musicou aproximadamente 77 peças de teatro.

Sua obra reúne composições nos mais variados gêneros: valsas, polcas, tangos, maxixes, lundus, fados, serenatas, músicas sacras, entre outras.

Participou ativamente do movimento pela libertação dos escravos.

Em 1998 a cantora Olívia Hime reúne músicas esquecidas da compositoras, convida conceituados poetas para lhes fazer letra e grava um CD pelo selo Quarup.

Em janeiro de 1999, estreou na rede Globo de Televisão uma minissérie sobre a sua vida, vivida, em suas respectivas fases, pelas atrizes Regina e Gabriela Duarte (mãe e filha).

Chiquinha Gonzaga – Gravações

Título da música – (Autores) – Intérprete – Ano da gravação/lançamento – Gênero

A corte na roça (Corte na Roça) (Chiquinha Gonzaga e Francisco Sodré) Odete 1903 Valsa
A corte na roça
(Chiquinha Gonzaga) Antônio Adolfo 1991 Valsa
A partida do tropeiro
(Chiquinha Gonzaga e Catulo da Paixão Cearense) Bahiano 1914 Toada sertaneja
A sertaneja
(Chiquinha Gonzaga e Viriato Corrêa) Jaime Vogeler 1932 Canção
Abre alas
(Chiquinha Gonzaga) Banda da Casa Edison 1904 Dobrado
Abre alas
(Chiquinha Gonzaga) Banda da Casa Edison, arranjo de Santos Bocot 1913 Dobrado
Abre alas
(Chiquinha Gonzaga) Linda e Dircinha Batista 1971 Marcha-rancho
Amapá
(Chiquinha Gonzaga) Clara Sverner e Paulo Moura 1986 Choro
Amapá (Chiquinha Gonzaga) Maria Tereza Madeira e Marcos Viana 1999 Valsa
Atraente (Chiquinha Gonzaga) Grupo Chiquinha Gonzaga 1914 Polca
Atraente (Chiquinha Gonzaga) Muraro (piano) 1958 Polca
Atraente – Corta-jaca (Gaúcho) (Chiquinha Gonzaga e Hermínio B. de Carvalho – Chiquinha Gonzaga) Altamiro Carrilho 1975 Choro
Baiana e capadócio (Chiquinha Gonzaga) Os Geraldos 1907 Dueto
Bione (Adeus) (Chiquinha Gonzaga) Grupo Chiquinha Gonzaga 1914 Tango
Casa de caboclo (Hekel Tavares e Luiz Peixoto sob motivos de Chiquinha Gonzaga) Gastão Formenti 1928 Canção
Casa de caboclo (Chiquinha Gonzaga, Hekel Tavares e Luiz Peixoto) Ruth Caldeira de Moura 1929 Canção
Casa de portugueses (paródia de Casa de caboclo) (Hekel Tavares e Luiz Peixoto sob motivos de Chiquinha Gonzaga e paródia de Zé Fidélis) Zé Fidélis
Casa do paulista (paródia de Casa de caboclo de Heckel Tavares e Chiquinha Gonzaga) (paródia de Ester Ferreira Vianna) Francisco Alves 1929 Cançoneta cômica
Catita (Chiquinha Gonzaga) Grupo Chiquinha Gonzaga 1914 Polca
Cordão Carnavalesco (Flor do Enxofre Vermelho ) (Ó abre alas) (Chiquinha Gonzaga) Eduardo das Neves, Mário Pinheiro e Nozinho 1909 Cômico
Corta-jaca (Chiquinha Gonzaga e Machado Careca) Os Geraldos 1906 Dueto
Corta-jaca (Chiquinha Gonzaga e Machado Careca) Pepa Delgado e Mário Pinheiro 1906 Tango brasileiro
Corta-jaca (Gaúcho) (Chiquinha Gonzaga) Banda do Corpo de Bombeiros sob reg. Maestro Albertino 1909 Tango
Corta-jaca (Chiquinha Gonzaga) Grupo Chiquinha Gonzaga 1910 Tango
Corta-jaca (O corta-jaca)
(Chiquinha Gonzaga) Jozé Gonçalves [Zé com Fome (Zé da Zilda)] 1938 Tango-brasileiro
Corta-jaca (Gaúcho)
(Chiquinha Gonzaga) Altamiro Carrilho 1975 Maxixe
Em guarda
(Chiquinha Gonzaga) Orquestra dirigida por Edson Alves 1979 Maxixe
Falena
(Chiquinha Gonzaga) Grupo Chiquinha Gonzaga 1914 Valsa
Falena (Phalena)
(Chiquinha Gonzaga) Muraro (piano) 1958 Valsa
Itararé
(Chiquinha Gonzaga) Banda do Corpo de Bombeiros 1905 Polca
Laurita
(Chiquinha Gonzaga) Banda Columbia 1910 Mazurca
Lua branca
(Chiquinha Gonzaga) Gastão Formenti 1929 Canção
Lua branca (Chiquinha Gonzaga) Onéssimo Gomes 1958 Canção
Lua branca (Chiquinha Gonzaga) Roberto Fioravanti 1963 Canção
Lua branca [Francisco Gonzaga (Chiquinha Gonzaga)] Carlos José 1967 Canção
Machuca (Chiquinha Gonzaga) Risoleta 1910 Cançoneta
Namorados da lua (Chiquinha Gonzaga) Vânia Carvalho 1979 Canção
Não Insistas rapariga (Chiquinha Gonzaga) Luiz Gonzaga Carneiro (clarinete) 1981 Polca
O diabinho (Chiquinha Gonzaga) Banda Columbia 1910 Tango
O diabinho (Chiquinha Gonzaga) Grupo Chiquinha Gonzaga 1914 Tango
O forrobodó (Chiquinha Gonzaga) Muraro (piano) 1958 Choro
O forrobodó (Chiquinha Gonzaga) Vital Lima, Antônio Adolfo e Nilson Chaves 1985 Tango
Passos no choro (Chiquinha Gonzaga) Grupo Chiquinha Gonzaga 1912 Polca
Plangente
(Chiquinha Gonzaga) Grupo Chiquinha Gonzaga 1914 Valsa
Pudesse esta paixão
(Chiquinha Gonzaga) Grupo Chiquinha Gonzaga 1912 Valsa
Recordações
[trata-se de Atraente de Chiquinha Gonzaga e adapt. de Júlio César Braga (Bandurra)] Barros 1906 Polca
Roda iaiá (Roda ioiô)
(Chiquinha Gonzaga e Ernesto de Souza) Os Geraldos 1906 Dueto
Saci Pererê
(Chiquinha Gonzaga) Os Geraldos 1909 Dueto
São Paulo
(Chiquinha Gonzaga) Muraro (piano) 1958 Tango
São Paulo
(Chiquinha Gonzaga) Grupo Nosso Choro 2000 Choro
Só na flauta
(Chiquinha Gonzaga) Grupo Chiquinha Gonzaga 1910
Sonhando
(Chiquinha Gonzaga) Grupo Chiquinha Gonzaga 1914 Habanera
Sou morena (Da opereta Jurity)
(Chiquinha Gonzaga e Viriato Corrêa) Helena de Carvalho 1930 Canção
Sultana
(Chiquinha Gonzaga) Grupo Chiquinha Gonzaga 1913 Polca
Sultana
(Chiquinha Gonzaga) Muraro (piano) 1958 Polca
Tambiquererê
(Chiquinha Gonzaga) Muraro (piano) 1958 Tango
Tambiquererê
(Chiquinha Gonzaga) Rosária Gatti e Grupo Nosso Choro 1997 Tango
Te amo
(Chiquinha Gonzaga) Grupo Chiquinha Gonzaga 1910 Tango
Trigueira
(Chiquinha Gonzaga) Almeida Cruz 1912 Fado-canção
Tupan (Tupã) (Deus do fogo)
(Chiquinha Gonzaga) Banda do Corpo de Bombeiros 1910 Tango

Chiquinha Gonzaga – História

Movida a paixões

A compositora Chiquinha Gonzaga escandalizou a sociedade ao desistir do casamento, abraçar a abolição, lutar pela República e viver do próprio trabalho

Chiquinha Gonzaga
Chiquinha Gonzaga

Chiquinha Gonzaga rompeu padrões em nome de suas paixões: pela música, por desejar mais de sua condição do que a sociedade esperava de uma mulher, por seus amores proibidos. Foi renegada pela família, mas viveu intensamente a vida. O próprio nascimento, em 17 de outubro de 1847, significou a quebra de um tabu. A mãe, Rosa, pobre e mulata, casou-se grávida com o militar José Basileu Neves Gonzaga, que, contrariando as determinações de sua família, assumiu a menina como filha.

A partir daí, Francisca Edwiges Neves Gonzaga foi criada de acordo com os costumes do Rio de Janeiro imperial. “Chiquinha foi educada em um lar tradicional e a ascendência humilde de sua mãe foi excluída de seu registro de nascimento por seu pai, para garantir-lhe um bom casamento”, explica a socióloga Edinha Diniz, autora da biografia Chiquinha Gonzaga: uma História de Vida (Rosa dos Tempos, 1999).

No meio da sala havia um piano

Assim como em toda casa de família proeminente do século 19, no lar dos Gonzaga havia um piano – símbolo de refinamento e status. A menina aprendeu a tocá-lo cedo, antes dos 10 anos de idade. Aos 11, apresentou sua primeira composição, Canção dos Pastores, em uma festa de Natal, acompanhada pelo irmão Juca e pelo tio e padrinho, Antônio Eliseu, flautista e músico popular. Cumprindo a determinação de arranjar-lhe um casamento nobre, José Basileu uniu-a ao jovem e promissor Jacintho Ribeiro do Amaral quando ela tinha 16 anos, mas “a aproximação com a música logo lhe causou problemas conjugais”, revela Edinha.

Em entrevista ao documentário Chiquinha Gonzaga: A Primeira Maestrina do Brasil, dirigido por Guilherme Fontes – e disponível no endereço eletrônico www.chiquinhagonzaga.com -, o musicólogo Ary Vasconcelos conta que o marido de Chiquinha tentou afastá-la da música, chegando a levá-la junto com ele para a Guerra do Paraguai.

“Mas isso não deteve Chiquinha. Uma vez distante do piano, ela tratou de arrumar um violão para tocar a bordo”, diz. O tumultuado casamento não foi muito longe – ao menos para os padrões da época, que previam enlaces matrimoniais até a morte. “Após cinco anos de casamento e três filhos, ela decidiu sair de casa, para o desgosto da família, que a deu como morta”, afirma Edinha. “Separação naquele tempo era sinônimo de marginalização.”

O preço da fama

Aos 22 anos, Chiquinha começa a viver do próprio trabalho, compondo e dando aulas de piano – algo impensável para uma mulher de seu nível social. É quando decide morar com o bon vivant João Batista de Carvalho, conhecido como Carvalhinho, com quem teve uma filha, Alice. Desnecessário dizer que a união provocou escândalo geral. O casal mudou-se, então, do Rio de Janeiro para o interior de Minas Gerais, em busca de sossego. Porém, pouco tempo depois, Chiquinha volta para o Rio, desiludida com Carvalhinho e convicta de que não nascera para o casamento. “Ela passa a tocar em bailes e salões”, explica a pianista e intérprete das músicas de Chiquinha, Clara Sverner. “Mas sua música, fortemente influenciada pelos ritmos europeus, começa já nessa época a se misturar com o som que vinha das ruas.”

Em 1887, veio o primeiro sucesso, a polca Atraente, vendida em edição luxuosa e com direito a retrato da artista na capa. Atraente foi exaustivamente assoviada pelas ruas do Rio de Janeiro, principal forma de popularização da música na época. Chiquinha Gonzaga se torna conhecida, provocando a ira da família, que destrói suas partituras postas à venda e a proíbe de ver a filha Maria.

O feminino de maestro

Quando o teatro de revista chegou ao Brasil, ela percebeu que podia fazer música para aquele tipo de espetáculo. No entanto, ao compor para a peça Viagem ao Parnaso, de Arthur Azevedo, no início dos anos 1880, teve seu trabalho recusado por preconceito. “O empresário do espetáculo pediu que ela usasse um pseudônimo masculino, mas Chiquinha apenas pegou suas partituras e foi embora”, explica Edinha Diniz. Acostumada a contornar as dificuldades, dois anos depois, em 1885, fez sua estréia com a peça A Corte na Roça, de Palhares Ribeiro.

Em sua segunda peça, A Filha do Guedes, uma surpresa: além de compor, ainda se atreveu a reger. Mais uma celeuma era criada em torno dela – a começar pelo fato de que, até então, ninguém conhecia o feminino da palavra maestro. “A imprensa chegou a chamá-la de ‘maestra’, até encontrar a palavra correta, maestrina”, ressalta Edinha. Em 1899, aos 52 anos, Chiquinha compôs aquela que, até hoje, é sua obra mais conhecida, a marcha carnavalesca Ó Abre Alas, dedicada ao cordão Rosa de Ouro. A canção é considerada por estudiosos como um dos grandes exemplos de sua postura vanguardista. “Ela antecipou em 18 anos o estabelecimento da marcha como ritmo oficial do Carnaval”, explica o musicólogo Jair Severino.

Naquele mesmo ano, Chiquinha conheceu o português João Batista Fernandes Lage, um jovem de 16 anos, e começou a viver com ele. Para evitar uma reação violenta da sociedade, a compositora passou uma temporada em Portugal e voltou apresentando o companheiro como filho. A relação durou até a morte da artista.

Elo perdido

O pioneirismo de Chiquinha Gonzaga extrapolou o âmbito musical e pessoal e rendeu muitas histórias. “Ela se envolveu em todas as causas sociais de seu tempo, como a abolição da escravatura e a proclamação da República”, declara Edinha. O compositor e ator Mario Lago, em entrevista ao documentário de Guilherme Fontes, conta que chegou a conhecer Chiquinha e ressalta seu lado participativo. “Ela foi pioneira em estimular a participação do artista na política”, afirma. Em 1911, a compositora se envolveu em uma nova causa, a defesa dos direitos autorais.

Ela foi despertada para o tema depois de encontrar partituras suas sendo vendidas sem crédito em Berlim e perceber que quem realmente lucrava com os espetáculos eram os empresários e não os artistas. Em 1917, é então fundada a Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (Sbat). “Chiquinha foi sua idealizadora e primeira associada”, garante a biógrafa. O episódio envolvendo o maxixe Corta Jaca também ilustra o tipo de reação que a figura e a música de Chiquinha eram capazes de provocar. Segundo Edinha, em 1914, a então primeira-dama da República, Nair de Tefé, esposa do marechal Hermes da Fonseca, resolveu incluir a composição na programação de uma recepção no Palácio do Catete, sede do governo federal.

A própria primeira-dama, numa tentativa de inserir a música popular em ambientes mais formais, executou a peça ao violão – instrumento que não era bem-visto pela sociedade no início do século 20. O então senador Rui Barbosa reagiu com virulência ao “atrevimento”, defendendo que aquele tipo de música jamais seria adequado a ambientes ditos “de respeito”. Para a socióloga, embora Chiquinha Gonzaga tenha criado 77 peças de teatro e mais de 2 mil composições, a amplitude de seu legado permanece desconhecida para o grande público. “Uma das razões de sua música não ter ficado marcada – como aconteceu com o samba, por exemplo – se deve às características dela, de ser uma transição entre ritmos europeus e brasileiros”, explica. “A marcha Ó Abre Alas nunca foi esquecida, mas muitos acham que se trata de uma composição de domínio público. Sua obra é como um ‘elo perdido’ entre a música européia e o samba, e deve ser estudada a partir dessa perspectiva.” Para o musicólogo Jairo Severino, Chiquinha e seus parceiros, Ernesto Nazaré e Anacleto de Medeiros, são responsáveis pelo ‘abrasileiramento’ da música tocada nos salões no fim do século 19. “Chiquinha compôs muitas polcas que, tocadas à moda brasileira, viraram choros”, revela. A primeira maestrina brasileira morreu em 28 de fevereiro de 1935, durante o Carnaval, no Rio de Janeiro

Chiquinha Gonzaga – Compositora

Chiquinha Gonzaga
Chiquinha Gonzaga aos 32 anos

1847: Chiquinha Gonzaga nasce a 17 de outubro no Rio de Janeiro.
1863:
Casa-se com Jacinto Ribeiro do Amaral no dia 5 de novembro.
1864:
Nasce o primeiro filho do casal, João Gualberto, no dia 12 de julho
1866:
Chiquinha e João Gualberto acompanham Jacinto no navio São Paulo durante a guerra do Paraguai.
1867/8:
Abandona o marido Jacinto e os filhos Maria e Hilário
1877:
Em fevereiro edita sua primeira composição, Atraente.
1880:
Morre, em março, seu amigo Callado.
1885:
Estreia a 17 de janeiro a primeira peça musicada pela maestrina, A Corte na Roça.
1888:
Abolição da escravatura.
1889:
Proclamação da República; compõe a primeira marcha carnavalesca, Ó Abre Alas; conhece João Batista.
1902:
Vai pela primeira vez à Europa, acompanhada por João Batista.
1912:
Estreia o grande sucesso Forrobodó.
1914:
Escândalo do tango Corta-Jaca no Palácio do Catete.
1917:
Participa na fundação da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT).
1935:
Morre em 28 de fevereiro, no Rio de Janeiro.

Chiquinha Gonzaga
Chiquinha Gonzaga

O INÍCIO

Dia 17 de outubro de 1847: Rosa Maria Lima, mestiça pobre e solteira, dá à luz uma menina. Teme que a criança não seja reconhecida pelo pai, José Basileu Neves Gonzaga, à época primeiro-tenente. De fato, a família do tenente não aceita seu envolvimento com Rosa mas, contrariando os temores da moça, ele a assume como esposa  bem como a paternidade da menina. Numa homenagem a São Francisco e Santa Edwiges, a criança recebe o nome Francisca Edwiges Neves Gonzaga, mais tarde e para sempre conhecida como Chiquinha Gonzaga.

Apesar dos parentes de alta posição social o mais ilustre é Duque de Caxias , o pai de Chiquinha não dispõe de grandes condições financeiras. Ela porém é criada como uma criança de família burguesa e educada conforme os padrões sociais vigentes. Com um professor particular toma aulas de escrita, leitura, cálculo, catecismo e idiomas, além de receber uma boa educação musical. Meninas como Chiquinha aprendem música invariavelmente ao piano, que se tornara a coqueluche da época, símbolo de status social. O instrumento foi importado para o Brasil, junto com o numeroso repertório da época a ele dedicado, como sinal de civilização.

Chiquinha demonstra gosto especial pelas aulas de música e, aos 11 anos, compõe sua primeira peça. É uma canção para a festa de Natal da família, com letra de seu irmão Juca, de nove anos. Além das aulas, Chiquinha tem contato com a música por meio de seu tio e padrinho Antônio Eliseu, flautista amador.

Nessa época o Rio de Janeiro vive a febre da polca, introduzida no Brasil em 1845. A polca torna-se uma das danças mais populares do Rio na segunda metade do século XIX. Introduzida nos salões de elite, mais tarde chegará até às casas populares, tornando-se um sucesso absoluto.

Afora a inclinação musical, Chiquinha tem uma vida rotineira. As histórias de família revelam que era moça trigueira e danada, que namorava até padre. Tinha um gênio forte e decidido, o que às vezes lhe causava atritos com o pai, nada porém que não fosse resolvido em âmbito familiar. Como era de costume, seus pais logo tratam de arranjar-lhe um bom casamento e, em 1863, aos dezasseis anos, Chiquinha casa-se com Jacinto Ribeiro do Amaral, jovem rico de vinte e quatro anos.

“NÃO ENTENDO A VIDA SEM HARMONIA”

Até o casamento, a música não motiva atritos entre Chiquinha e seus familiares. Tanto que, conhecendo o gosto da filha por música, José Basileu lhe dá um piano como dote de casamento. Mas a situação começa a dificultar-se com o marido. Em 1864 nasce João Gualberto, o filho primogênito do casal e, no ano seguinte, Maria do Patrocínio. Desde os primeiros dias da vida de casada, Chiquinha passa a enfrentar problemas. Seu comportamento independente, sua dedicação ao piano e a mania de compor valsas e polcas não agradam ao marido, e isso provoca frequentes brigas entre os dois.

1865: no mesmo ano em que nasce Maria do Patrocínio, o Brasil intervêm na Guerra do Paraguai, iniciada um ano antes. Jacinto torna-se co-proprietário acredita-se que com o Barão de Mauá de um navio, o São Paulo. Contratado pelo governo, inicia viagens ao sul como comandante da Marinha Mercante, transportando soldados na maioria escravos alforriados e material de guerra. Na tentativa de afastá-la da música e principalmente para mantê-la sob vigilância, Jacinto obriga Chiquinha a ir com ele. Ela e o filho João Gualberto acompanham-no nas viagens. Maria, recém-nascida, é deixada com a avó Rosa. A situação conjugal se agrava durante essas viagens. Chiquinha revolta-se com o tratamento dado aos negros, que estão ali como voluntários da pátria, mas são tratados de forma discriminatória e expostos nas operações mais arriscadas.

O casal vive em permanente conflito. Para distrair-se e suprir a falta que o piano lhe faz, Chiquinha consegue um violão a bordo.

Mas isso só piora o relacionamento entre ela e o marido, até que Jacinto lhe exige uma opção definitiva: ou ele ou a música. Pois, senhor meu marido, eu não entendo a vida sem harmonia, ela terá de imediato lhe respondido.

Chiquinha então retorna com João Gualberto ao Rio de Janeiro, decidida a abandonar Jacinto. Vai à casa dos pais, onde está sua filha, mas a família não lhe dá apoio.

Ela ainda pensa em resistir, mas um fato inesperado a faz reconsiderar: está novamente grávida. Chiquinha e Jacinto voltam a viver juntos por algum tempo, porém a crise conjugal não cessa, e ela decide abandoná-lo de vez.

Ela sai de casa levando apenas João Gualberto e novamente é rejeitada pela família. A filha Maria continua sendo criada pelos avós mais tarde acreditará que eles sejam seus pais, já que Chiquinha é tida como morta pela família. O recém-nascido Hilário acaba sendo criado por uma tia paterna. O fim do casamento é episódio crucial na trajetória de Chiquinha. É quando toma as rédeas de sua vida e rompe com a submissão a que estaria fadada a viver. Se até agora estivera sempre sob alguma tutela primeiro do pai, depois do marido , agora não terá mais suas vontades tolhidas por ninguém – nem pela rígida postura social imposta às mulheres do século XIX.

ALÉM DE MULHER, “PIANEIRA” E “CHORONA”

Para sustentar-se, começa a dar aulas particulares de piano. Ao mesmo tempo, aproxima-se dos músicos cariocas, principalmente de um famoso flautista, Joaquim Antônio da Silva Callado. Levada por ele, Chiquinha começa a frequentar o ambiente musical boêmio da época. Callado, além de instrumentista, é compositor conhecido e respeitado, professor do Imperial Conservatório de Música. Os dois se tornam grandes amigos, e a ela o compositor dedica sua primeira partitura editada, a polca Querida por Todos, em 1869. Mas a definitiva introdução de Chiquinha Gonzaga no meio musical carioca será adiada por conta de um caso amoroso.

O jovem João Batista de Carvalho Jr. é um alegre e galanteador engenheiro. Chiquinha conhece-o há tempos, pois ele era amigo da família Gonzaga e costumava frequentar a casa de seu ex-marido. Ao passar a viver com ele, Chiquinha desperta na sociedade a suspeita de que aquela fosse uma relação antiga. Ela enfrenta a hostilidade da cidade, onde todos sabem que abandonara o marido. Surge a oportunidade de se afastar daquele burburinho quando João Batista recebe uma proposta de trabalho na Serra da Mantiqueira. Chiquinha e João Gualberto o acompanham. Eles passam dois anos viajando, mas, quando retornam ao Rio, em 1875, ainda enfrentam rejeição. O casal resiste e, no ano seguinte, vem uma filha, Alice Maria. Chiquinha e João Batista decidem afastar-se da cidade novamente, mas a mudança de ambiente não melhora a situação, e Chiquinha ainda suspeita da infidelidade do marido. Com tudo isso, decide abandoná-lo e à pequena filha Alice. Mais uma vez foge com João Gualberto.

De volta ao Rio de Janeiro, Chiquinha instala-se num casebre em São Cristóvão. A partir daí, insere-se de vez no ambiente musical da cidade. Volta a dar aulas de piano e passa a apresentar-se com o grupo do amigo Joaquim Callado. O conjunto criado por Callado, Choro Carioca, toca em festas domésticas e é composto de flauta, cavaquinho e dois violões. A essa formação inclui-se o piano de Chiquinha. Ela se torna então uma pianeira, termo depreciativo usado na época para desqualificar esses músicos populares, distinguindo-os dos pianistas, que executam repertório erudito.

Está no nome do conjunto musical o primeiro registro da palavra choro, que designa uma forma de tocar. O grupo toca de forma chorosa tangos, polcas, valsas.

Só mais tarde é que essa forma de tocar configurará um novo gênero musical. A maneira chorosa ou chorona de tocar é uma clara intervenção nacional na execução de músicas compostas segundo formas musicais europeias. A partir do sucesso do conjunto de Callado e Chiquinha, muitos outros grupos de choro surgem, e seus integrantes passam a ser conhecidos como chorões.

O PRIMEIRO SUCESSO DA COMPOSITORA CHIQUINHA

Aos 29 anos a compositora Chiquinha Gonzaga alcança seu primeiro sucesso com a polca Atraente. Diz-se que foi composta num animado choro na casa do maestro Henrique Alves de Mesquita.

Um êxito estrondoso: publicada em fevereiro de 1877, em novembro chega à décima-quinta edição. Para a família, porém, o sucesso incomoda demais. José Basileu, o pai de Chiquinha, considera humilhante ver o nome Gonzaga gritado pelas ruas e ligado a uma música chula e indecente. Muitas partituras são danificadas por familiares enraivecidos.

O Rio de Janeiro, a essa altura, passa por um momento de efervescência cultural. Na música, surgem diversos gêneros musicais nacionais, como o tango brasileiro, o maxixe e, posteriormente, o choro.

É hoje apontado por vários estudiosos como o momento da nacionalização da música popular brasileira. Mais do que a intenção de criar uma música genuinamente brasileira, os músicos populares lutam para conquistar, por meio de uma linguagem musical com que se identificassem, seu próprio espaço na sociedade. Evidentemente, sofrem com o preconceito da elite, que tem como paradigma a música europeia e não aceita essa nova manifestação musical, apontada como um dos fatores responsáveis pelo atraso cultural do país.

Chiquinha, além de típica representante dessa nova geração de músicos populares, é mulher. Por isso recebe críticas em dobro. É inaceitável que uma mulher trabalhe para se sustentar, sobretudo numa atividade que ainda nem é reconhecida como profissão própria de boêmios e vagabundos. No início, em manifesto desprezo pela capacidade feminina, chega-se a duvidar que as composições com seu nome realmente sejam obras suas.

Ao mesmo tempo, não lhe perdoam por frequentar locais proibidos a mulheres direitas, como as confeitarias e os cafés, onde pode ser encontrada quase todas as noites. Como nota um contemporâneo seu, quem visse aquela morena faceira, cheia de vida e de entusiasmo, animando as festas do povo, metida nos teatros, discutindo como um homem e vivendo a vida a seu modo, pensaria, por certo, que tal criatura tivesse uma origem baixa e vulgar. É justamente o que pensa a maioria das pessoas.

De qualquer forma, a partir do sucesso de Atraente, Chiquinha torna-se figura popular no Rio de Janeiro. Odiada por muitos, admirada por alguns, a compositora por muitas vezes será motivo de polêmica na cidade.

MAESTRINA E COMPOSITORA ACLAMADA

Chiquinha produz intensamente. Além de tocar com os chorões, dar aulas e editar composições, passa a musicar peças para o teatro de revista. A primeira experiência, em 1883, é Viagem ao Parnaso, de Arthur Azevedo, que acaba por não ser apresentada, pois o empresário recusa-se a montar um espetáculo musicado e conduzido por uma mulher. Chiquinha não desanima e, finalmente, inicia sua carreira de maestrina em 17 de janeiro de 1885, com a revista A Corte na Roça, de Palhares Ribeiro. É uma opereta de um ato cujo enredo trata dos costumes do interior do país.

A peça e o desempenho dos atores não agradam à crítica, mas a música de Chiquinha recebe elogios entusiásticos. Verdadeiro primor de graça, elegância e frescura uma composição dessa ordem faria a reputação de um compositor em qualquer país que se apresentasse, afirma um artigo.

E havia espanto em outras manifestações: Uma peça posta em música por uma mulher!.

Em pouco tempo, Chiquinha torna-se a compositora mais requisitada para esse tipo de trabalho. Chega a ser chamada de Offenbach de saias, numa alusão ao francês Jacques Offenbach, criador da opereta que no Brasil ganha o formato de teatro de revista.

Com o sucesso das peças, as críticas a seu trabalho diminuem gradativamente, sendo substituídas por progressivo respeito. O teatro de revista representa para Chiquinha uma fonte de renda razoavelmente estável. Também lhe traz o reconhecimento como compositora e o acesso a um público maior.

UMA MUSICISTA ENGAJADA NAS CAUSAS DO SEU TEMPO

Chiquinha Gonzaga participa em comícios contra a escravatura e a monarquia. Entretanto, o que está a acontecer no resto do mundo? Consulta a TÁBUA CRONOLÓGICA.

Paralelamente às atividades musicais, Chiquinha se envolve nas causas abolicionista e republicana. Participa ativamente nos festivais artísticos destinados a arrecadar fundos para a Confederação Libertadora, que se encarrega da compra de alforrias.

Junto com figuras como Paula Nei, Lopes Trovão e José do Patrocínio, Chiquinha frequenta as reuniões e os comícios abolicionistas, que quase sempre acabam em discussões acaloradas, num café ou confeitaria, noite adentro.

Depois da vitória da campanha abolicionista, Chiquinha passa a trabalhar pela causa republicana. Faz campanha contra o regime monárquico em locais públicos, tornando-se grande companheira do militante republicano Lopes Trovão.

O empenho e entusiasmo de Chiquinha Gonzaga levam Trovão a afirmar, em 1921, no jornal A Pátria: Aquela Chiquinha é o diabo! Foi nossa companheira de propaganda na praça pública, nos cafés! Nunca me abandonou.

Mas tanto Chiquinha quanto Lopes Trovão logo se decepcionam com os rumos que toma a recém-instaurada república. Durante a Revolta da Armada, em 1893, Chiquinha escreve uma cançoneta intitulada Aperte o botão, considerada ofensiva pelo governo de Floriano Peixoto. A edição da partitura é apreendida e ela recebe ordem de prisão. Seu parentesco com pessoas ilustres e sua popularidade acabam livrando-a de maiores complicações.

“ABRE ALAS QUE EU QUERO PASSAR…”

A carreira já repleta de sucessos ganha brilho especial em 1899, quando Chiquinha compõe aquela que é hoje sua canção mais conhecida: a marcha-rancho Ó Abre Alas, feita para o cordão carnavalesco Rosa de Ouro. A maestrina morava no bairro do Andaraí, o mesmo em que se sediava o cordão.

Ao ouvir um dos ensaios, tem a inspiração para a música. Chiquinha a compõe de forma despretensiosa, nem sequer se preocupando em editar a marchinha, que considera uma composição menor. Mas o fato é que a canção cai nas graças do povo e é hoje um clássico da música popular brasileira.

Além disso, tem um papel histórico: é considerada a primeira marcha feita para o carnaval.

Na verdade, o que Chiquinha fez foi dar forma às cançonetas improvisadas que os foliões entoavam durante o carnaval. Era comum se utilizarem de uma marcha, com versos pedindo para abrir alas e apresentando o nome do cordão, afirma sua biógrafa Edinha Diniz. A música será por muitos anos a mais cantada nos carnavais, antecipando um gênero a canção carnavalesca que só se fixará vinte anos depois.

Na época da composição do Abre Alas Chiquinha conta 52 anos. Já era avó desde os 42, quando nasce Valquíria, filha de João Gualberto. Vive sozinha e tem uma vida pessoal discreta. Não admite empregados trabalhando em sua casa, assim como nunca tivera escravos.

Neste ano de 1899 conhece João Batista Fernandes Lage, jovem português de apenas 16 anos. Nasce ali um romance que durará até ao fim da vida de Chiquinha. João é sócio do clube Euterpe-Estudantina, formado por rapazes interessados em música, que organiza concertos e cursos. Chiquinha torna-se sócia honorária, e isso os aproxima.

Chiquinha e João Batista passam a viver juntos um romance que não lhes é de forma alguma confortável. Tentando camuflar a relação, ela passa a apresentá-lo como filho.

Obviamente, alguns consideram tal filiação suspeita, pois o jovem tem sotaque português e nunca se tinha ouvido falar de outro filho além dos quatro conhecidos. João assina com o sobrenome Gonzaga e, em 1939, após a morte de Chiquinha, acaba por conseguir o registro de filho legítimo dela e Jacinto, seu primeiro marido.

Nos anos que se seguem à união do casal, eles realizam três viagens à Europa. Na última, em 1906, permanecem em Portugal por quase três anos. Ela alega cansaço, mas é provável que queira se livrar de problemas que a atormentam no Rio. Suas filhas, Maria e Alice, viúvas e com vários filhos, procuram-na pela primeira vez em busca de ajuda financeira. Chiquinha se recusa a ajudá-las e ambas começam a questionar a origem de João Batista, ameaçando tornar o caso público. Ao retornar ao Rio em 1909, a maestrina retoma sua intensa atividade musical.

FORROBODÓ E UM ESCÂNDALO NO CATETE

Corta-jaca, uma composição de Chiquinha Gonzaga, provoca escândalo no Catete (palácio presidencial). Entretanto, o que está a acontecer no resto do mundo?

Para concorrer com o cinema nascente, as companhias de teatro criam os espetáculos por sessões, várias por noite, a preço de cinema. A iniciativa dá grande resultado e dinamiza o teatro. Cabe a Chiquinha musicar várias dessas peças. Uma delas, intitulada Forrobodó, só é encenada em 1912 por insistência da compositora, uma vez que os diretores teatrais não acreditam em seu êxito. Fica acertado que Forrobodó ficará em cartaz apenas por uma semana e os cenários e figurinos serão reaproveitados em outras montagens para que não se perca dinheiro.

Forrobodó passa num baile da Cidade Nova, bairro pobre do Rio. Os personagens tipos populares, coisa inusual na época. A peça, no entanto, torna-se sucesso absoluto, atingindo 1500 apresentações. As músicas do espetáculo ficam conhecidas e são cantadas por toda a cidade. É o maior sucesso teatral de Chiquinha e um dos maiores de toda a história do teatro de revista do Brasil.

Em 1914 um escândalo leva Chiquinha, ou melhor, sua música, às primeiras páginas dos jornais. Às vésperas de deixar a presidência, o marechal Hermes da Fonseca promove uma recepção, espécie de despedida do governo.

Local: Palácio do Catete, sede do governo federal. Está presente a alta sociedade do Rio, além de boa parte do corpo diplomático. A noite se inicia com alguns números musicais, que incluem Gottschalk, Arthur Napoleão e Liszt, entre outros.

Tudo muito convencional e elegante. Mas a esposa do presidente, a jovem e irrequieta Nair de Teffé, tem uma surpresa. Para terminar a seleção musical, ela apanha o violão e apresenta o Corta-Jaca, tango-brasileiro (ou maxixe) de autoria de Chiquinha Gonzaga. A repercussão é imediata. Os jornais comentam o sacrilégio com destaque imagine, um tango popular no Catete!

No dia seguinte, o senador Rui Barbosa, exasperado, comenta o acontecido no Senado. Uma das folhas de ontem estampou em fac-símile o programa da recepção presidencial em que, diante do corpo diplomático, da mais fina sociedade do Rio de Janeiro, aqueles que deviam dar ao país o exemplo das boas maneiras mais distintas e dos costumes mais reservados elevaram o corta-jaca à altura de uma instituição social.

Mas o corta-jaca de que eu ouvira falar há muito tempo, que vem a ser ele, Sr. Presidente? A mais baixa, a mais chula, a mais grosseira de todas as danças selvagens, a irmã gêmea do batuque, do cateretê e do samba. Mas nas recepções presidenciais o corta-jaca é executado com todas as honras de Wagner, e não se quer que a consciência desse país se revolte, que as nossas faces se enrubesçam e que a mocidade se ria!. O incidente fica tão conhecido que o mandato do marechal Hermes acaba apelidado de Corta-Jaca.

Outra campanha de Chiquinha se inicia por volta de 1913: a luta pelos direitos autorais. Na Europa a maestrina encontrara, numa loja musical de Berlim, uma série de partituras suas reproduzidas sem seu conhecimento. Isto a deixa indignada e ela, ajudada por João Batista, trata de descobrir quem havia autorizado a edição. Acaba chegando ao diretor da Casa Edison do Rio de Janeiro, Fred Figner. Ele tenta não levar a situação muito a sério, afinal era conhecido de Chiquinha, e além de tudo nunca se tinha brigado por questões autorais no país.

Mas ela não deixa por menos vai aos jornais, dá entrevista, cria polêmica: com que direito utilizavam sua obra sem ao menos a avisar? Acaba vencendo o impasse e recebe 15 contos de réis a título de indenização.

Além de editar partituras, Fred Figner fazia gravações de discos no país desde 1902. Muitos continham músicas de Chiquinha e outros artistas, e eles nem sequer eram mencionados. O mesmo acontecia com as composições para teatro. As peças faziam a fortuna das empresas de teatro e o compositor quase nada recebia.

A discussão em torno do assunto rende frutos: em 1916, o Congresso Nacional aprova uma lei sobre propriedade artística e literária e, em 1917, os autores teatrais se reúnem e fundam a Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT). A sociedade visa resguardar os direitos dos autores teatrais e também dos compositores musicais. Chiquinha é a sócia iniciadora, fundadora e patrona da SBAT, ocupando a cadeira n.°1. É lá que se encontra hoje seu arquivo pessoal.

“SOFRI E CHOREI”

Em 1920, aquela mulher aparentemente inabalável começa a sentir o peso da idade. Acreditando que não tardará a morrer, escreve uma espécie de despedida. A carta tem data de 16 de janeiro. Meus filhos. Sinto que não está longe a minha morte que venha, meu Deus! É o que atualmente peço a ele todos os dias e momentos!

Os desgostos me acabrunham de tal forma, que por mais resignação que peça ao Senhor de misericórdia, não tenho mais forças de sofrer. Segue dando instruções aos filhos sobre como proceder com seu enterro e determina que na cova rasa, ponham uma cruz com esse emblema Sofri e chorei.

Termina dizendo: Amanhã faz 35 anos que luto com a minha triste vida de trabalho e injustiça. Adeus!

Escrita aos setenta e dois anos, a carta em nada lembra seu ânimo habitual e suas atitudes ousadas. Ao contrário, mostra uma senhora cansada e ressentida, sem mais razões para viver. Talvez seja um sinal de que a batalha travada durante toda a vida não havia sido ganha sem deixar marcas amargas.

Chiquinha, em que pese a carta de despedida, ainda vive por mais quinze anos, recebe homenagens e torna-se nacionalmente reconhecida. Sua música, porém, já não cabe nos novos tempos.

Em outra carta, datada de janeiro de 1926 e enviada ao amigo Vicente Reis, ela comenta: Continuo sempre a trabalhar, mas aonde estão os teatros?

Procuro, e não acho, tenho escrito tantas peças, e boas, e agora tenho cinco peças lindas de bons escritores, e não tenho teatro!!! Atualmente, só representam tudo o que há de indecente, porco e nojento! Da mesma forma, a maestrina já não se mostra tão receptiva às novidades, como antes fora com as polcas, tangos e maxixes.

O que irrita a sua intolerância é, porém, a música moderna. Detestava o jazz-band, enervada com as explosões bárbaras dos instrumentos de pancadaria e afeição irreverente das peças americanas.

E, sempre que a orquestra do teatro terminava um número, ela exclamava para mim, indignada, sem querer mal aos intérpretes, mas deplorando as dissonâncias: Por favor, ora diga-me você: isto é música?, conta-nos um amigo seu.

Chiquinha vive os últimos anos recolhida em seu apartamento na Praça Tiradentes. Quando lá não está pode ser encontrada na sede da SBAT, que frequenta assiduamente.

Um colega da Sociedade de Autores deixa registradas suas impressões sobre a velha senhora: Conheci Chiquinha Gonzaga nos últimos anos de sua vida, sempre vestida de preto, com uma saia que lhe chegava aos pés, gola alta, pele encarquilhada, com quase noventa anos.

Mas aqui [ na SBAT] estava todos os dias, com esquisitices e rabugices respeitadas e toleradas por todos nós. Sentava-se numa cadeira e ficava a fiscalizar o trabalho dos nossos funcionários, como se administrasse sua própria casa. E, porventura, não era a sua casa?

Chiquinha Gonzaga morre no dia 28 de fevereiro de 1935, aos 87 anos.

Chiquinha Gonzaga – Biografia

Compositora, regente e instrumentista brasileira

Nascimento: 17 de outubro de 1847, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.

Falecimento: 28 de fevereiro de 1935, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.

Chiquinha Gonzaga
Chiquinha Gonzaga

Filha de uma mulata e de um militar de família abastada, Francisca Edwiges Gonzaga nasceu na época da escravidão e foi educada para ser uma dama. Enfrentou forte preconceito pois sua postura a colocava à frente de seu tempo, no entanto, realizou seu desejo de tornar-se compositora.

Revolucionou os costumes e a música popular da época.

Lutou pelo respeito aos direitos autorais; frequentou a vida boêmia tocando piano em grupos de choro, bailes e teatros, enquanto as mulheres daquele tempo ficavam em casa, cuidando da vida doméstica; introduziu o violão, instrumento até então considerado de malandro, nos salões do Rio de Janeiro; foi a primeira mulher a reger uma orquestra no país; e compôs a primeira música de carnaval, a marcha Ô Abre Alas (1899), que se tornou o seu maior sucesso e é tocada até hoje nos bailes carnavalescos do país.

Chiquinha Gonzaga cresceu ao som de polcas, maxixes, valsas e modinhas. Casou-se aos 16 anos, separando-se dois anos depois.

Com o filho ainda no colo, foi recebida pelo meio musical carioca. Sua primeira composição de sucesso foi a polca Atraente, de 1877, feita quando era integrante do conjunto Choro Carioca, no qual foi introduzida pelo flautista Antônio da Silva Calado.

Editada na véspera do carnaval, a música agradou ao público e levou suas composições populares para dentro dos salões cariocas. Em 1880, escreveu e musicou o libreto Festa de São João, que manteve inédito.

Em 1885, estreou como maestrina em parceria com Palhares Ribeiro, compondo a opereta em um ato A Corte na Roça. Compôs ainda A Filha de Guedes (1885), O Bilontra e a Mulher-Homem (1886), O Maxixe na Cidade Nova (1886) e O Zé Caipora (1887), entre 2 mil composições.

Chiquinha Gonzaga – Letras

Chiquinha Gonzaga
Chiquinha Gonzaga

Araripe da Chiquinha

Chiquinha Gonzaga

Eu sai do Araripe seu moço
De onde saiu o meu irmão
Trouxe a saudade no peito
E a paz no coração
A mais de cinquenta anos seu moço
Eu canto baião

Seu Januário, foi também meu professor
Foi ele quem ensinou o segredo da canção
E é por isso que eu puxo o fole pelo meio do mundo
Tenho um respeito profundo pelas coisas do sertão

Atraente

Chiguinha Gonzaga

Rebola bola e atraente vai
Esmigalhando os corações com o pé
E no seu passo apressadinho, tão miúdo, atrevidinho
Vai sujando o meu caminho, desfolhando o mau me quer

Se bem que quer, seja se quer ou não
Bem reticente, ela só faz calar
Ela é tão falsa e renitente, que até,
Atrai só o seu pensar

Como é danada
perigosa
vaidosa
desastrosa
escandalosa
rancorosa
e rancorosa
incestuosa
e tão nervosa
e bota tudo em polvorosa, quando chega belicosa
bota tudo pra perder

Amour, amour
Tu jure amour, trè bien
Mas joga fora esta conversa vã
Não vem jogar fa-flu no meu maracanã
não sou Juju balangandã

Meu coração, porém, diz que não vai
Suportar esta maldita, inenarrável solidão
Se assim for, ele vai se esbudegar
E te ver se despinguelar numa desilusão

Baião Granfino

Chiquinha Gonzaga

Quando chegou pra cidade o menino
Já tinha um nome,era Baião
Porém agora, ficou tão grã-fino
Nem liga pro sertão

Ai, ai, Baião, você venceu!
Mas no sertão, ninguém lhe esqueceu
Ai, ai, Baião, siga seu destino!
Você já cresceu, já nos esqueceu
Ficou tão grã-fino

Benzinho

Chiquinha Gonzaga

Eu tenho um benzinho tão bonitinho
Ele é moreninho queimadinho do sol
Por ser pretinho eu não injeito
Quanto mais preto melhor

Venha cá benzinho vamos dançar
Deixa esta tristeza vamos aproveitar
Chegou São João, vai ter fogueira
E muito amor no coração

Vamos acender esta fogueira
Vamos dar vivas a São João
Vai ter forró a noite inteira
Vamos dançar de pé no chão

Coração Mole

Chiquinha Gonzaga

Eu tenho o coração em festa
Eu tenho um fole velho gemedor

Eu tenho uma saudade no meu peito
Toco, canto não tem jeito
Não esqueço o grande amor

Chora coração, vai coração mole
Esquece a traição na puxada do meu fole
Vai no botequim chega e toma um gole
Voa na saudade da um jeito e escapole

Dois Corações

Chiquinha Gonzaga

Quem tiver dois corações
Tire um para me dar
Dei o meu a aquele ingrato
Que não soube me amar

Conheci duas meninas
Todas as duas eu quero muito bem
Uma mais do que a outra
Uma mais do que a outra
E a outra mais do que ninguém

Tive dois amores na vida
Um eu dei meu coração
Dei a outra o meu amor
So fiquei na ilusão

Fama de Valente

Chiquinha Gonzaga

Zé da Viola
Tinha fama de valente
Mas na hora do pagode
Se acabava a valentia
Tanto apanhava como os outros lhe batia
Era noite era dia
E o pagode tá rolando

Coitado dele, coitado do Zé
Carregaram a mulher dele
Inda bateram nele
Segura Zé, dá naquele que te deu
Aproveita, vem agora, que pegaram ele

Filha de Januario

Chiquinha Gonzaga

Sanfoneira por ai tem de porção
Tocando valsa, bolero, samba-cançao

É cada uma querendo ser a maior
Eu quero vê tocar em oito baixos só

Não é por ser nascida lá em Novo Exu
Ser filha de Januário velho macho pra xuxu
É que lá em casa em oito baixo a mulher
Quem nasceu pra sanfoneira, sanfoneira é

Minha Infancia

Chiquinha Gonzaga

Esse forró meu benzinho
Me trás recordação
Da minha infância no Exu
Do meu sertão

Meu pai tocava sanfona de oito baixo também
Eu queria tocar mamãe dizia que não
Agora eu toco e tenho fama no sertão

Nação Dos Cariris

Chiquinha Gonzaga

Moro num grão de areia
Lá no sul do ceará
Numa pequena aldeia
Longe do azul do mar
No vale do cariri
É ali o meu lugar

Lá naquela serra
Não tem guerra e nem rancor
E deus me fez poeta
Pra mostrar nosso valor
E deus me fez poeta
Pra cantar pro meu amor

Cariri esconderijo do amor
Cariri estandarte de paixão
Cariri minha terra meu abrigo
Cariri um oásis no sertão

Oh meu padim abençoe meu cariri
Oh meu padim abençoe meu cariri

Eu sou o caipira e a caipora
Eu sou um pedaço dessa história
Eu sou tudo o que sou e sou feliz
Eu sou da nação dos cariris

No Balanço

Chiquinha Gonzaga

No balanço dessa dança
Vou até o sol raiá
Todo mundo se balança
Também vou me balançá

Dança velho, dança novo
Qualquer um pode dançar
Vara a noite, ninguém cansa
Ninguém pede pra parar

Sai, sai, sai poeira do salão
Fica meu amor
Pra alegrar meu coração

Meu corpo mexe, mexe
Sem querer parar mais não
No rasgado da sanfona
Animando a multidão

Ponde Tu Vai, Luiz?

Chiquinha Gonzaga

Ponde tu vai, luiz?
Eu vou pra casa dela!
Fazer o quê, luiz?
Eu vou carregar ela!

Luiz, tu não se lembra
Da carreira que levou?
No caminho da cachoeira
Que a poeira a levantou

O pai dela é muito brabo
E a mão dela não me dá!
Vou roubar esta cabocla
E vou casar no caruá…

Luiz, tu não se lembra
Da carreira que levou?
No caminho da cachoeira
Que a poeira levantou

Meu pai diz que eu sou um pobre
Desgraçado sanfoneiro
Quem falou pra este velho
Que amor pensa em dinheiro?

Quero Ver Você Voltar

Chiquinha Gonzaga

Quando eu cheguei, meu bem
Não te achei, chorei
Até pensei que tu
Não fosse mais voltar
O que passou, passou
Não vamos mais lembrar
O que eu quero é ver você voltar

Toquei cantei
Dançei mas não chorei

Se tu voltar meu bem
Eu te darei perdão
Não posso te perder
Me dê a sua mão
O que passou, passou
Não vamos mais lembrar
O que eu quero é ver você voltar

A brasileira

(Chiquinha Gonzaga e José Sena)

Eu adoro uma morena sacudida
De olhos negros e faces cor de jambo
Lábios rubros, cabelos de azeviche
Que me mata, me enfeitiça, põe-me bambo
A cintura, Meu Deus, é delicada
O seu porte é faceiro e bem decente
As mãozinhas são enfeites, são berloques
Que fazem enlouquecer a toda gente

Ai morena a quem amo, a quem adoro
Não me sai um só momento da idéia
É faceira, dengosa e muito chique
Tem um pé… que beleza, que tetéia!

Há segredos, quem diz, naquele corpo
Tremeliques, desmaios, sensações
Que nos põe a cabeça andar à roda
Sonhando com delícias, com paixões
Seus dentes são marfim de alto preço
Sua boca um cofre perfumado
O resto do corpinho uma delícia
O melhor é não dizer, ficar calado

Ai morena a quem amo, a quem adoro
Não me sai um só momento da idéia
É faceira, dengosa e muito chique
Tem um pé… que beleza, que tetéia!

Lua branca

(Chiquinha Gonzaga)

Ó, lua branca de fulgor e desencanto
Se é verdade que ao amor tu dás abrigo
Vem tirar dos olhos meus o pranto
Ai, vem matar essa paixão que anda . comigo
Ai, por quem és, desce do céu, ó, lua branca
Essa amargura do meu peito, ó, vem, arranca
Dá-me o luar de tua compaixão
Ó, vem, por Deus, iluminar meu coração
E quantas vezes lá no céu me aparecias
A brilhar em noite calma e constelada
E em tua luz então me surpreendias
Ajoelhado junto aos pés da minha amada
E ela a chorar, a soluçar, cheia de pejo
Vinha em seus lábios me ofertar um doce beijo
Ela partiu, me abandonou assim
Ó, lua branca, por quem és, tem dó de mim

Machuca

(Chiquinha Gonzaga e Patrocínio Filho)

Sou morena bonita e galante
Tenho raios e setas no olhar
E nem pode uma lira de Dante
Os encantos que tenho cantar
Quando passo, os bilontras me olhando
De binóculo erguido com ardor
Dizem todos se bamboleando
Abrasados em chama de amor

Ai morena, morena querida
Tu nos põe a cabeça maluca
Pisa e mata, destrói essa vida
Ai morena, morena, machuca!

Eu machuco deveras a todos
Até fico contente por isso
Ao fitá-los os deixo por loucos
Pois fitando-os lhe deito o feitiço
Sou morena que quando passeio
Deixo calda de luz como um astro
É uma récua de gente que veio
Me dizendo, seguindo meu rastro

Ai morena, morena querida
Tu nos põe a cabeça maluca
Pisa e mata, destrói essa vida
Ai morena, morena, machuca!

Esses fogos que tenho nos olhos
E que tem até o dom de encantar
São na vida, no mundo os espólios
Onde os petos se vêm quebrar
Mas a culpa não é, não é minha
É dos homens que vêm com ardor
Me julgando dos céus a rainha
Me dizendo abrasados de amor

Ai morena, morena querida
Tu nos põe a cabeça maluca
Pisa e mata, destrói essa vida
Ai morena, morena, machuca!

Ó abre alas

(Chiquinha Gonzaga)

Ó abre alas
Que eu quero passar
Ó abre alas
Que eu quero passar
Eu sou da Lira
Não posso negar
Ó abre alas
Que eu quero passar
Ó abre alas
Que eu quero passar
Rosa de Ouro
É quem vai ganhar

Fonte: www.geocities.com/www.ses-sp.com

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