Livro do Desassossego

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INTERVALO DOLOROSO ESTÉTICA DO ARTIFÍCIO

Fernando Pessoa

1.

"O coração, se pudesse pensar, pararia." "Considero
a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência
do abismo. Não sei onde me levará, porque não sei nada.
Poderia considerar esta estalagem uma prisão, porque estou compelido
a aguardar nela; poderia considerá-la um lugar de sociáveis,
porque aqui me encontro com outros. Não sou, porém, nem impaciente
nem comum. Deixo ao que são os que se fecham no quarto, deitados moles
na cama onde esperam sem sono; deixo ao que fazem os que conversam nas salas,
de onde as músicas e as vozes chegam cómodas até mim.
Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons
da paisagem, e canto lento, para mim só, vagos cantos que componho
enquanto espero.

Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência.
Gozo a brisa que me dão e a alma que me deram para gozá-la,
e não interrogo mais nem procuro. Se o que deixar escrito no livro
dos viajantes puder, relido um dia por outros, entretê-los também
na passagem, será bem. Se não o lerem, nem se entretiverem,
será bem também."

* * *

6.

"Escrevo, triste, no meu quarto quieto, sozinho como sempre tenho sido,
sozinho como sempre serei. E penso se a minha voz, aparentemente tão
pouca coisa, não encarna a substância de milhares de vozes, a
fome de dizerem-se de milhares de vidas, a paciência de milhões
de almas submissas como a minha ao destino quotidiano, ao sonho inútil,
à esperança sem vestígios. Nestes momentos meu coração
pulsa mais alto por minha consciência dele. Vivo mais porque vivo maior."

* * *

7.

"Prefiro o Vasques homem meu patrão, que é mais tratável,
nas horas difíceis, que todos os patrões abstractos do mundo."
"Tenho ternura, ternura até às lágrimas, pelos meus
livros de outros em que escrituro, pelo tinteiro velho de que me sirvo, pelas
costas dobradas do Sérgio, que faz guias de remessa um pouco para além
de mim. Tenho amor a isto, talvez porque não tenha mais nada que amar
– ou talvez, também, porque nada valha o amor de uma alma, e, se temos
por sentimento que o dar, tanto vale dá-lo ao pequeno aspecto do meu
tinteiro como à grande indiferença das estrelas."

* * *

8.

"Vejo-o [o patrão Vasques], vejo os seus gestos de vagar enérgico,
os seus olhos a pensar para dentro coisas de fora, recebo a perturbação
da sua ocasião em que lhe não agrado, e a minha alma alegra-se
com o seu sorriso, um sorriso amplo e humano, como o aplauso de uma multidão."

* * *

9.

"Ah, compreendo! O patrão Vasques é a Vida. A Vida, monótona
e necessária, mandante e desconhecida. Este homem banal representa
a banalidade da Vida. Ele é tudo para mim, por fora, porque a Vida
é tudo para mim por fora.

E, se o escritório da Rua dos Douradores representa para mim a vida,
este meu segundo andar, onde moro, na mesma Rua dos Douradores, representa
para mim a Arte. Sim, a Arte, que mora na mesma rua que a Vida, porém
num lugar diferente, a Arte que alivia da vida sem aliviar de viver, que é
tão monótona como a mesma vida, mas só em lugar diferente.
Sim, esta Rua dos Douradores compreende para mim todo o sentido das coisas,
a solução de todos os enigmas, salvo o existirem enigmas, que
é o que não pode ter solução."

* * *

10.

"Tudo me interessa e nada me prende. Atendo a tudo sonhando sempre;
fixo os mínimos gestos faciais de com quem falo, recolho as entoações
milimétricas dos seus dizeres expressos; mas ao ouvi-lo, não
o escuto, estou pensando noutra coisa, e o que menos colhi da conversa foi
a noção do que nela se disse, da minha parte ou da parte de
com quem falei. Assim, muitas vezes, repito a alguém o que já
lhe repeti, pergunto-lhe de novo aquilo a que ele já me respondeu;
mas posso descrever, em quatro palavras fotográficas, o semblante muscular
com que ele disse o que me não lembra, ou a inclinação
de ouvir com os olhos com que recebeu a narrativa que me não recordava
ter-lhe feito. Sou dois, e ambos têm a distância – irmãos
siameses que não estão pegados."

* * *

12.

"Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir.
O que confesso não tem importância, pois nada tem importância.
Faço paisagens com o que sinto." "De resto, com que posso
contar comigo? Uma acuidade horrível das sensações, e
a compreensão profunda de estar sentindo…Uma inteligência aguda
para me destruir, e um poder de sonho sôfrego de me entreter…Uma vontade
morta e uma reflexão que a embala, como a um filho vivo…"

* * *

14.

"Tenho fome da extensão do tempo, e quero ser eu sem condições."

* * *

24.

"Uns governam o mundo, outros são o mundo."

* * *

25.

"Há em olhos humanos, ainda que litográficos, uma coisa
terrível: o aviso inevitável da consciência, o grito clandestino
de haver alma." "Sinto um frio de doença súbita na
alma"

* * *

29.

"Tinha-me levantado cedo e tardava em preparar-me para existir."
"Era a ocasião de estar alegre. Mas pesava-me qualquer coisa,
uma ânsia desconhecida, um desejo sem definição, nem até
reles. Tardava-me, talvez, a sensação de estar vivo. E quanto
me debrucei da janela altíssima, sobre a rua para onde olhei sem vê-la,
senti-me de repente um daqueles trapos húmidos de limpar coisas sujas,
que se levam para a janela para secar, mas se esquecem, enrodilhados, no parapeito
que mancham lentamentamente."

* * *

36.

"São as pessoas que habitualmente me cercam, são as almas
que, desconhecendo-me, todos os dias me conhecem com o convívio e a
fala, que me põem na garganta do espírito o nó salivar
do desgosto físico. É a sordidez monótona da sua vida,
paralela à exterioridade da minha, é a sua consciência
íntima de serem meus semelhantes, que me veste o traje de forçado,
me dá a cela de penitenciário, me faz apócrifo e mendigo."

* * *

39.

"Pesa-me, realmente me pesa, como uma condenação a conhecer,
esta noção repentina da minha individualidade verdadeira, dessa
que andou sempre viajando sonolentamente entre o que sente e o que vê."
"E, por fim, tenho sono, porque, não sei porquê, acho que
o sentido é dormir." * * * 40.

"A humanidade tem medo da morte, mas incertamente."

* * *

41.

"E não sei o que sinto, não sei o que quero sentir, não
sei o que penso nem o que sou." "Verifico que, tantas vezes alegre,
tantas vezes contente, estou sempre triste." "Não vejo, sem
pensar." "Não há sossego – e, ai de mim!, nem sequer
há desejo de o ter."

* * *

42.

"Assim como lavamos o corpo deveríamos lavar o destino, mudar
de vida como mudamos de roupa – não para salvar a vida, como comemos
e dormimos, mas por aquele respeito alheio por nós mesmos, a que propriamente
chamamos asseio.

Há muitos em quem o desasseio não é uma disposição
da vontade, mas um encolher de ombros da inteligência. E há muitos
em quem o apagado e o mesmo da vida não é uma forma de a quererem,
ou uma natural conformação com o não tê-la querido,
mas um apagamento da inteligência de si mesmos, uma ironia automática
do conhecimento.

Há porcos que repugnam a sua própria porcaria, mas se não
afastam dela, por aquele mesmo extremo de um sentimento , pelo qual o apavorado
se não afasta do perigo. Há porcos de destino, como eu, que
se não afastam da banalidade quotidiana por essa mesma atracção
da própria impotência. São aves fascinadas pela ausência
de serpente; moscas que pairam nos troncos sem ver nada, até chegarem
ao alcance viscoso da língua do camaleão.

Assim passeio lentamente a minha inconsciência consciente, no meu
tronco de árvore do usual. Assim passei o meu destino que anda, pois
eu não ando; o meu tempo que segue, pois eu não sigo."
* * * 46.

"Releio passivamente, recebendo o que sinto como uma inspiração
e um livramento, aquelas frases simples de Caeiro, na referência natural
do que resulta do pequeno tamanho de sua aldeia. Dali, diz ele, porque é
pequena, pode ver-se mais do mundo do que da cidade; e por isso a aldeia é
maior que a cidade…

"Porque eu sou do tamanho do que vejo E não do tamanho da minha
altura." Frases como estas, que parecem crescer sem vontade que as houvesse
dito, limpam-me de toda a metafísica que espontaneamente acrescento
à vida. Depois de as ler, chego à minha janela sobre a rua estreita,
olho o grande céu e os muitos astros, e sou livre com um esplendor
alado cuja vibração me estremece no corpo todo.

"Sou do tamanho do que vejo!"Cada vez que penso esta frase com
toda a atenção dos meus nervos, ela me parece mais destinada
a reconstruir consteladamente o universo. "Sou do tamanho do que vejo!"
Que grande posse mental vai desde o poço das emoções
profundas até às altas estrelas que se reflectem nele e, assim,
em certo modo, ali estão.

E já agora, consciente de saber ver, olho a vasta metafísica
objectiva dos céus todos com uma segurança que me dá
vontade de morrer cantando. "Sou do tamanho do que vejo!" E o vago
luar, inteiramente meu, começa a estragar de vago o azul meio-negro
do horizonte.

Tenho vontade de erguer os braços e gritar coisas de uma selvageria
ignorada, de dizer palavras aos mistérios altos, de afirmar uma nova
personalidade larga aos grandes espaços da matéria vazia.

Mas recolho-me e abrando-me. "Sou do tamanho do que vejo!" E a
frase fica sendo-me a alma inteira, encosto a ela todas as emoções
que sinto, e sobre mim, por dentro, como sobre a cidade por fora, cai a paz
indecifrável do luar duro que começa largo com o anoitecer."

* * *

48.

"A solidão desola-me; a companhia oprime-me. A presença
de outra pessoa descaminha-me os pensamentos; sonho a sua presença
com uma distracção especial, que toda a minha atenção
analítica não consegue definir."

* * *

49.

"O isolamento talhou-me à sua imagem e semelhança. A
presença de outra pesoa – de uma só pessoa que seja – atrasa-me
imediatamente o pensamento, e, ao passo que no homem normal o contacto com
outrem é um estímulo para a expressão e para o dito,
em mim esse contacto é um contra-estímulo." "Os meus
hábitos são da solidão, que não dos homens";
não sei se foi Rousseau, se Senancour, o que disse isto. Mas foi qualquer
espírito da minha espécie – não poderia talvez dizer
da minha raça."

* * *

52.

"O vento levantou-se…Primeiro era como a voz de um vácuo…um
soprar no espaço para dentro de um buraco, uma falta no silêncio
do ar. Depois ergueu-se um soluço, um soluço do fundo do mundo,
o sentir-se que tremiam vidraças e que era realmente vento. Depois
soou mais alto, urro surdo, um chocar sem ser ante o aumentar nocturno, um
ranger de coisas, um cair de bocados, um átomo de fim do mundo."

* * *

59.

"Os Deuses, se são justos em sua injustiça, nos conservem
os sonhos ainda quando sejam impossíveis, e nos dêem bons sonhos,
ainda que sejam baixos."

* * *

63.

"Cada um tem a sua vaidade, e a vaidade de cada um é o seu esquecimento
de que há outros com alma igual. A minha vaidade são algumas
páginas, uns trechos, certas dúvidas…

Releio?Menti! Não ouso reler. Não posso reler. De que me serve
reler? O que está ali é outro.

Já não compreendo nada…"

* * *

65.

"Ah, mas como eu desejaria lançar ao menos numa alma alguma
coisa de veneno, de desassossego e de inquietação. Isso consolarme-ia
um pouco da nulidade de acção em que vivo. Perverter seria o
fim da minha vida. Mas vibra alguma alma com as minhas palavras? Ouve-as alguém
que não só eu? * * * 66.

"Dói-me qualquer sentimento que desconheço; falta-me
qualquer argumento não sei sobre o quê; não tenho vontade
nos nervos. Estou triste abaixo da consciência. E escrevo estas linhas,
realmente mal-notadas, não para dizer isto, nem para dizer qualquer
coisa, mas para dar um trabalho à minha desatenção. Vou
enchendo lentamente, a traços moles de lápis rombo – que não
tenho sentimentalidade para aparar – , o papel branco de embrulho de sanduíches,
que me forneceram no café, porque eu não precisava de melhor
e qualquer servia, desde que fosse branco. E dou-me por satisfeito."
* * * 68.

"A consciência da inconsciência da vida é o mais
antigo imposto à inteligência."

* * *

71.

"Aquilo que, creio, produz em mim o sentimento profundo, em que vivo,
de incongruência com os outros, é que a maioria pensa com a sensibilidade,
e eu sinto com o pensamento.

Para o homem vulgar, sentir é viver e pensar é saber viver.
Para mim, pensar é viver e sentir não é mais que o alimento
de pensar."

* * *

75.

"Correr riscos reais, além de me apavorar, não é
por medo que eu sinta excessivamente – perturba-me a perfeita atenção
às minhas sensações, o que me incomoda e despersonaliza.

Nunca vou para onde há risco. Tenho medo a tédio dos perigos."

* * *

79.

"Leve, como uma coisa que começasse, a maresia da brisa pairou
sobre o Tejo e espalhou-se sujamente pelos princípios da Baixa. Nauseava
frescamente, num torpor frio de mar morto.

Senti a vida no estômago, e o olfacto tornou-se-me uma coisa por detrás
dos olhos. Altas, pousavam em nada nuvens ralas, rolos, num cinzento a desmoronar-se
para branco falso. A atmosfera era de uma ameaça de céu cobarde,
como a de uma trovoada inaudível, feita de ar somente.

Havia estagnação no próprio voo das gaivotas; pareciam
coisas mais leves que o ar, deixadas nele por alguém. Nada abafava.
A tarde caía num desassossego nosso; o ar refrescava intermitentemente.

Pobres das esperanças que tenho tido, saídas da vida que tenho
tido de ter! São como esta hora e este ar, névoas sem névoa,
alinhavos rotos de tormenta falsa. Tenho vontade de gritar, para acabar com
a paisagem e a meditação. Mas há maresia no meu propósito,
e a baixa-mar em mim deixou descoberto o negrume lodoso que está ali
fora e não vejo senão pelo cheiro.

Tanta inconsequência em querer bastar-me! Tanta consciência
sarcástica das sensações supostas! Tanto enredo da alma
com as sensações, dos pensamentos com o ar e o rio, para dizer
que me dói a vida no olfacto e na consciência, para não
saber dizer, como na frase simples e ampla do livro de Job, "Minha alma
está cansada de minha vida!"

* * *

80.

INTERVALO DOLOROSO

"Tudo me cansa, mesmo o que não me cansa. A minha alegria é
tão dolorosa como a minha dor.

Quem me dera ser uma criança pondo barcos de papel num tanque de
quinta, com um dossel rústico de entrelaçamentos de parreira
pondo xadrezes de luz e sombra verde nos reflexos sombrios da pouca água.

Entre mim e a vida há um vidro ténue. Por mais nitidamente
que eu veja e compreenda a vida, eu não posso lhe tocar.

Raciocinar a minha tristeza? Para quê, se o raciocínio é
um esforço? e quem é triste não pode esforçar-se.
Nem mesmo abdico daqueles gestos banais da vida de que eu tanto quereria abdicar.
Abdicar é um esforço, e eu não possuo o de alma com que
esforçar-me.

Quantas vezes me punge o não ser o manobrante daquele carro, o cocheiro
daquele trem! qualquer banal Outro suposto cuja vida, por não ser minha,
deliciosamente se me penetra de eu querê-la e se me penetra até
de alheia! Eu não teria o horror à vida como a uma Coisa. A
noção da vida como um Todo não me esmagaria os ombros
do pensamento.

Os meus sonhos são um refúgio estúpido, como um guarda
chuva contra um raio.

Sou tão inerte, tão pobrezinho, tão falho de gestos
e actos.

Por mais que por mim me embrenhe, todos os atalhos do meu sonho vão
dar a clareiras de angústia.

Mesmo eu , o que sonha tanto, tenho intervalos em que o sonho me foge. Então
as coisas aparecem-me nítidas. Esvai-se a névoa de quem me cerco.
E todas as arestas visíveis ferem a carne da minha alma. Todas as durezas
olhadas me magoam o conhêce-las durezas. Todos os pesos visíveis
de objectos me pesam por a alma dentro.

A minha vida é como se me batessem com ela."

* * *

84.

"Meditei hoje, num intervalo de sentir, na forma de prosa de que uso.
Em verdade, como escrevo? Tive, como muitos têm tido, a vontade pervertida
de querer ter um sistema e uma norma. É certo que escrevi antes da
norma e do sistema; nisso, porém, não sou diferente dos outros.

Analisando-me à tarde, descubro que o meu sistemade estilo assenta
em dois princípios, e imediatamente, e à boa maneira dos bons
clássicos, erijo esses dois princípios em fundamentos gerais
de todo estilo: dizer o que se sente exactamente como se sente – claramente,
se é claro; obscuramente, se é obscuro; confusamente, se é
confuso – ; compreender que a gramática é um instrumento, e
não uma lei."

* * *

85.

"Fazer qualquer coisa completa, inteira, seja boa ou seja má
– e, se nunca é inteiramente boa, muitas vezes não é
inteiramente má – , sim, fazer uma coisa completa causa-me, talvez,
mais inveja do que outro qualquer sentimento. É como um filho: é
imperfeita como todo o ente humano, mas é nossa como os filhos são.

E eu, cujo espírito de crítica própria me não
permite senão que veja os defeitos, as falhas, eu, que não ouso
escrever mais que trechos, bocados, excertos do inexistente, eu mesmo, no
pouco que escrevo, sou imperfeito também. Mais valeram pois, ou a obra
completa, ainda que má, que em todo o caso é obra; ou a ausência
de palavras, o silêncio inteiro da alma que se reconhece incapa de agir."

86.

"Sumir-me-ei entra a névoa, como um estrangeiro a tudo, ilha
humana desprendida do sonho do mar e navio com ser supérfluo à
tona de tudo."

* * *

87.

"Na falta de saber, escrevo; e uso os grandes termos da Verdade alheios
conforme as exigências da emoção. Se a emoção
é clara e fatal, falo, naturalmente, dos deuses e assim a enquadro
numa consciência do mundo múltiplo. Se a emoção
é profunda, falo, naturalmente, de Deus, e assim a engasto numa consciência
una. Se a emoção é um pensamento, falo, naturalmente,
do Destino, e assim a encosto à parede."

* * *

88.

"Quando ponho de parte os meus artifícios e arrumo a um canto,
com um cuidado cheio de carinho – com vontade de lhes dar beijos – os meus
brinquedos, as palavras, as imagens, as frases – fico tão pequeno e
inofensivo, tão só num quarto tão grande e tão
triste, tão profundamente triste!…

Afinal eu quem sou, quando não brinco? Um pobre órfão
abandonado nas ruas das sensações, tiritando de frio às
esquinas da Realidade, tendo que dormir nos degraus da Tristeza e comer o
pão dado da Fantasia. De meu pai sei o nome; disseram-me que se chamava
Deus, mas o nome não me dá idéia de nada. Ás vezes,
na noite, quando me sinto só, chamo por ele e choro, e faço-me
uma idéia dele a que possa amar…Mas depois penso que o não
conheço, que talvez ele não seja assim, que talvez seja nunca
esse o pai da minha alma…

Quando acabará isso tudo, estas ruas onde arrasto a minha miséria,
e estes degraus onde encolho o meu frio e sinto as mãos da noite por
entre os meus farrapos? Se um dia Deus me viesse buscar e me levasse para
a sua casa e me desse calor e afeição…Ás vezes penso
isto e choro com alegria a pensar que o posso pensar…Mas o vento arrasta-se
pela rua fora e as folhas caem no passeio…Ergo os olhos e vejo as estrelas
que não têm sentido nenhum…E de tudo isto fico apenas eu, uma
pobre criança abandonada, que nenhum Amor quis par seu filho adoptivo,
nem nehuma Amizade para seu companheiro de brinquedos.

Tenho frio de mais. Estou tão cansado no meu abandono. Vai buscar,
ó Vento, a minha Mãe.

Leva-me na Noite para a casa que não conheci…Torna a dar-me, ó
Silêncio imenso, a minha ama e o meu berço e a minha canção
com que eu dormia…"

* * *

91.

"O sonhador não é superior ao homem activo porque o sonho
seja superior à realidade. A superioridade do sonhador consiste em
que sonhar é muito mais prático que viver, e em que o sonhador
extrai da vidaum prazer muito mais vasto e muito mais variado do que o homem
de acção. Em melhores e muito mais directas palavras, o sonhador
é que é o homem de acção.

Sendo a vida essencialmente um estado mental, e tudo, quanto fazemos ou
pensamos, válido para nós na proporção em que
o pensamos válido, depende de nós a valorização.
O sonhador é um emissor de notas, e as notas que emite correm na cidade
do seu espírito do mesmo modo que as da realidade."

* * *

92.

"Ah, não há saudades mais dolorosas do que as das coisas
que nunca foram!"

* * *

93.

"Em mim foi sempre menor a intensidade das sensações
que a intensidade da consciência delas. Sofri sempre mais com a consciência
de estar sofrendo que com o sofrimento de que tinha consciência.

A vida das minhas emoções mudou-se, de origem, para as salas
do pensamento, e ali vivi sempre mais amplamente o conhecimento emotivo da
vida.

E como o pensamento, quando alberga a emoção, se torna mais
exigente que ela, o regime de consciência, em que passei a vive o que
sentia, tornava-se mais quotidiana, mais epidérmica, tornava-se mais
titilante a maneira como sentia."

* * *

95.

"Somos quem não somos e a vida é pronta e triste."
"Quantos somos! Quantos nos enganamos! Que mares soam em nós,
na noite de sermos, pelas praias que nos sentimos nos alagamentos da emoção!
Aquilo que se perdeu, aquilo que se deveria ter querido, aquilo que se obteve
e satisfez por erro, o que amamamos e perdemos e, depois de perder, vimos,
amando por tê-lo perdido, que o não havíamos amado; o
que julgávamos que pensávamos quando sentíamos; o que
era uma memória e críamos que era uma emoção;
e o mar todo, vindo lá, rumoroso e fresco, do grande fundo de toda
a noite, a estuar fino na praia, no decurso nocturno do meu passeio à
beira-mar …

Quem sabe sequer o que pensa ou o que deseja? Quem sabe o que é para
si-mesmo?"

* * *

101.

"Tão supérfluo tudo! Nós e o mundo e o mistério
de ambos."

* * *

104.

" O pensamento colectivo é estupído porque é colectivo:
nada passa as barreiras do colectivo sem deixar nelas, como real de água,
a maior parte da inteligência que traga consigo.

Na mocidade somos dois: há em nós a coexistência da
nossa inteligência própria, que pode ser grande, e a da estupidez
da nossa inexperiência, que forma uma segunda inteligência inferior.

Só quando chegamos a outra idade se dá em nós a unificação.
Daí a acção sempre fruste da juventude – devida, não
à sua inexperiência, mas à sua não-unidade."
* * * 107.

" Sou daquelas almas que as mulheres dizem que amam, e nunca reconhecem
quando encontram, daquelas que, se elas as reconhecessem, mesmo assim não
as reconheceriam. Sofro a delicadeza dos meus sentimentos com uma atenção
desdenhosa. Tenho todas as qualidades, pelas quais são admirados os
poeta românticos, mesmo aquela falta dessas qualidades, pela qual se
é realmente poeta romântico. Encontro-me descrito (em parte)
em vários romances como protagonista de vários enredos; mas
o essencial da minha vida, como da minha alma, é não ser nunca
protagonista." "O cais, a tarde, a maresia entram todos, e entram
juntos, na composição da minha angústia.

As flautas dos pastores impossíveis não são mais suaves
que o não haver aqui flautas e isso lembrar-mas."

* * *

110.

" Cada qual tem o seu álcool. Tenho álcool bastante em
existir. Bêbado de me sentir, vagueio e ando certo. Se são horas,
recolho ao escritório como qualquer outro. Se não são
horas, vou até o rio fitar o rio, como qualquer outro. Sou igual. E
por detrás de isso, céu meu, constelome às escondidas
e tenho o meu infinito."

* * *

112.

" Nunca amamos alguém. Amamos, tão-somente, a ideia que
fazemos de alguém. É a um conceito nosso – em suma, é
a nós mesmos – que amamos.

Isto é verdade em toda a escala do amor. No amos sexual buscamos
um prazer nosso por intermédio de um corpo estranho. No amor diferente
do sexual, buscamos um prazer nosso dado por intermédio de uma ideia
nossa. O onanista é objecto, mas, em exacta verdade, o onanista é
a perfeita expressão lógica do amoroso. É o único
que não disfarça nem se engana.

As relações entre uma alma e outra, através de coisas
tão incertas e divergentes como as palavras comuns e os gestos que
se empreendem, são matéria de estranha complexidade. No próprio
ato em que nos conhecemos, nos desconhecemos. Dizem os dois «amo-te»
ou pensamno e sentem-no por troca, e cada um quer dizer uma ideia diferente,
uma vida diferente, até, porventura, uma cor ou um aroma diferente,
na soma abstracta de impressões que constitui a actividade da alma."
"É de compreender que sobretudo nos cansamos. Viver é não
pensar."

* * *

113.

"Para o esteta, as tragédias são coisas interessantes
de observar, mas incomodas de sofrer. O próprio cultivo da imaginação
é prejudicado pelo da vida. Reina quem não está entre
os vulgares.

Afinal, isto bem me contentaria se eu conseguissepersuadir-me que esta teoria
não é o que é, um complexo barulho que faço aos
ouvidos da minha inteligência, quase para ela não perceber que,
no fundo, não há senão a minha timidez, a minha incompetência
para a vida."

* * *

114.

ESTÉTICA DO ARTIFÍCIO

" A vida prejudica a expressão da vida. Se eu tivesse um grande
amor nunca o poderia contar.

Eu próprio não sei se este eu, que vos exponho, por estas
coleantes páginas fora, realmente existe ou é apenas um conceito
estético e falso que fiz de mim próprio. Sim, é assim.
Vivo-me esteticamente em outro. Esculpi a minha vida como a uma estátua
de matéria alheia ao meu ser. Às vezes não me reconheço,
tão exterior me pus a mim, e tão de modo puramente artístico
empreguei a minha consciência de mim próprio. Quem sou por detrás
desta irrealidade? Não sei. Devo ser alguém. E se não
busco viver, agir, sentir, é – crede-me bem – para não perturbar
as linhas feitas da minha personalidade suposta. Quero ser tal qual quis ser
e não sou. Se eu cedesse destruir-me-ia. Quero ser uma obra de arte,
da alma pelo menos, já que do corpo não posso ser. Por isso
me esculpi em calma e alheamento e me pus em estufa, longe dos ares frescos
e das luzes francas – onde a minha artificialidade, flor absurda, floresça
em afastada beleza."

* * *

115.

"Assim organizar a nossa vida que ela seja para os outros um mistério,
que quem melhor nos conheça, apenas nos desconheça de mais perto
que os outros. Eu assim talhei a minha vida, quase que sem pensar nisso, mas
tanta arte institiva pus em fazê-lo que para mim próprio me tornei
uma não de todo clara e nítida individualidade minha."

* * *

116.

"A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a
vida."

* * *

117.

"A maioria da gente enferma de não saber dizer o que vê
e o que pensa. Dizem que não há nada mais difícil do
que definir em palavras uma espiral: é preciso, dizem, fazer no ar,
com a mão sem literatura, o gesto, ascendemente enrolado em ordem,
com que aquela figura abstracta das molas ou de certas escadas se manifesta
aos olhos. Mas, desde que nos lembremos que dizer é renovar, definiremos
sem dificuldade uma espiral: é um círculo que sobe sem nunca
conseguir acabar-se. A maioria da gente, sei bem, não ousaria definir
assim, porque supõe que definir é dizer o que os outros querem
que se diga, que não o que é preciso dizer para definir. Direi
melhor: uma espiral é um circulo virtual que se desdobra a subir sem
nunca se realizar: Mas não, a definição ainda é
abstracta. Buscarei o concreto, e tudo será visto: uma espiral é
uma cobra sem cobra enroscada verticalmente em coisa nenhuma.

Toda a literatura consiste num esforço para tornar a vida real. Como
todos sabem, ainda quando agem sem saber, a vida é absolutamente irreal,
na sua realidade directa; os campos, as cidades, as ideias, sao coisas absolutamente
fictícias, filhas da nossa complexa sensação de nós
mesmos. Sâo intransmissíveis todas as impressões salvo
se as tornarmos literárias. As crianças são muito literárias
porque dizem como sentem e não como deve sentir quem sente segundo
outra pessoa. Uma criança, que uma vez ouvi, disse, querendo dizer
que estava à beira de chorar, não «Tenho vontade de chorar»,
que é como diria um adulto, isto é, um estúpido, senão
isto: «Tenho vontade de lágrimas». E esta frase, absolutamente
literária, a ponto de que seria afectada num poeta célebre,
se ele a pudesse dizer, refere absolutamente a presença quente das
lágrimas a romper das pálpebras conscientes da amargura líquida.

«Tenho vontade de lágrimas»! Aquela criança pequena
definiu bem a sua espiral."

* * *

120.

" Sinto perante o rebaixamento dos outros não uma dor, mas um
desconforto estético e uma irritação sinuosa. Não
é por bondade que isto acontece, mas sim porque quem se torna ridículo
não é só para mim que se torna ridículo, mas para
os outros também, e irrita-me que alguém esteja sendo ridículo
para os outros, dói-me que qualquer animal da espécie humana
ria à custa de outro, quando não tem direito de o fazer. De
os outros se rirem à minha custa não me importo, porque de mim
para fora há um desprezo profícuo e blindado.

Mais terrível de que qualquer muro , pus grades altíssimas
a demarcas o jardim do meu ser, de modo que, vendo perfeitamente os outros,
perfeitissimamente eu os excluo e mantenho outros.

Escolher modos de não agir foi semrpre a atenção e
o escrúpulo da minha vida.

Não me submeto ao estado nem aos homens; resisto inertemente. O estado
só me pode querer para uma açcão qualquer. Não
agindo eu, ele nada de mim consegue. Hoje já não se mata, e
ele apenas me pode incomodar; se isso acontecer, terei que blindar mais o
meu espírito e viver mais longe adentro dos meus sonhos. Mas isso não
aconteceu nunca. Nunca me apoquentou o estado. Creio que a sorte soube providenciar."

* * *

122.

" Tenho da vida uma náusea vaga, e o movimento acentua-ma."
"A vida, para mim, é uma sonolência que não chega
ao cérebro. Esse conservo eu livre para que nele possa ser triste."

* * *

123.

"Que me pode dar a China que a minha alma me não tenha já
dado? E, se a minha alma mo não pode dar, como mo dará a China,
se é com a minha alma que verei a China, se a vir? Poderei ir buscar
riqueza ao Oriente, mas não riqueza de alma, porque a riqueza de minha
alma sou eu, e eu estou onde estou, sem Oriente ou com ele." "Somos
todos míopes, excepto para dentro. Só o sonho vê com o
olhar." "Transeuntes eternos por nós mesmos, não há
paisagem senão o que somos. Nada possuímos, porque nem a nós
possuímos. Nada temos porque nada somos. Que mãos estenderei
para que universo? O universo não é meu: sou eu."

* * *

124.

"A ânsia de compreender, que para tantas almas nobres substitui
a de agir, pertence à esfera da sensibilidade. Substitui a Inteligência
à energia, quebrar o elo entre a vontade e a emoção,
despindo de interesse todos os gestos da vida material, eis o que, conseguido,
vale mais que a vida, tão difícil de possuir completa, e tão
triste de possuir parcial.

Diziam os argonautas que navegar é preciso, mas que viver não
é preciso. Argonautas, nós, da sensibilidade doentia, digamos
que sentir é preciso, mas que não é preciso viver."

* * *

125.

"Arcaram os vossos argonautas com monstros e medos. Também,
na viagem do meu pensamento, tive monstros e medos com que arcar. No caminho
para o abismo abstracto, que está no fundo das coisas, há horrores,
que passar, que os homens do mundo não imaginam e medos que ter que
a experiência humana não conhece; é mais humano talvez
o cabo para o lugar indefinido do mar comum do que a senda abstracta para
o vácuo do mundo."

* * *

127.

"Não me indigno, porque a indignação é
para os fortes; não me resigno, porque a resignação é
para os nobres; não me calo, porque o silêncio é para
os grandes. E eu não sou forte, nem nobre, nem grande. Sofro e sonho.
Queixo-me porque sou fraco e, porque sou artista, entretenho-me a tecer musicais
as minhas queixas e a arranjar meus sonhos conforme me parece melhor a minha
ideia de os achar belos.

Só lamento o não ser criança, para que pudesse crer
nos meus sonhos." "Eu não sou pessimista, sou triste."

132.

"Omnia fui, nihil expedit – fui tudo, nada vale a pena."

* * *

133.

"Para mim, se considero, pestes, tormentas, guerras, são produtos
da mesma força cega, operando uma vez através de micróbios
inconscientes, outra vez através de raios e águas inconscientes,
outra vez através de homens inconscientes."

* * *

138.

"Há uma erudição do conhecimento, que é
propriamente o que se chama erudição, e há uma erudição
do entendimento, que é o que se chama cultura. Mas há também
uma erudição da sensibilidade." "Condillac começa
o seu livro célebre, «Por mais alto que subamos e mais baixo
que desçamos, nunca saímos das nossas sensações».
Nunca desembarcamos de nós. Nunca chegamos a outrem, senão outrando-nos
pela imaginação sensível de nós mesmos. As verdadeiras
paisagens são as que nós mesmos criamos, porque assim, sendo
deuses delas, as vemos como elas verdadeiramente são, que é
como foram criadas. Não é nenhuma das sete partidas do mundo
aquela que me interessa e posso verdadeiramente ver; a oitava é a que
percorro e é a minha."

* * *

139.

"Há muito tempo que não escrevo. Têm passado meses
sem que viva, e vou durando, entre o escritório e a fisiologia, numa
estagnação íntima de pensar e de sentir. Isto, infelizmente,
não repousa: no apodrecimento há fermentação."

* * *

144.

"É domingo e não tenho que fazer. Nem sonhar me apetece,
de tão bem que está o dia. Gozo-o com uma sinceridade de sentidos
a que a inteligência se abandona. Passeio como um caixeiro liberto.
Sinto-me velho, só para ter o prazer de me sentir rejuvenescer."

* * *

148.

"O homem perfeito do pagão era a perfeição do
homem que há; o homem perfeito do cristão a perfeição
do homem que não há; o homem perfeito do budista a perfeição
de não haver homem." "Tudo quanto o homem expõe ou
exprime é uma nota à margem de um texto apagado de todo. Mais
ou menos, pelo sentido da nota, tiramos o sentido de que havia de ser o do
texto; mas fica sempre uma dúvida, e os sentidos possíveis são
muitos."

* * *

149.

"Não é fácil distinguir o homem dos animais, não
há critério seguro para distinguir o homem dos animais. As vidas
humanas decorrem da mesma íntima inconsciência que as vidas dos
animais. As mesmas leis profundas, que regem de fora os instintos dos animais,
regem, também, de fora, a inteligência do homem, que parece não
ser mais que um instinto em formação, tão inconsciente
como todo instinto, menos perfeito porque ainda não formado.

«Tudo vem da sem-razão», diz-se na Antologia Grega."
"A Ironia é o primeiro indício de que a consciência
se tornou consciente. E a ironia atravessa dois estádios: o estádio
marcado por Sócrates, quando disse «sei só que nada sei»,
e o estádio marcado por Sanches, quando disse «nem sei se nada
sei». O primeiro passo chega àquele ponto em que duvidamos de
nós dogmaticamente, e todo o homem superior o dá e atinge. O
segundo passo chega àquele ponto em que duvidamos de nós e da
nossa dúvida, e poucos homens o têm atingido na curta extensão
já tão longa do tempo que, humanidade, temos visto o sol e a
noite sobre a vária superfície da terra."

* * *

152.

"Pasmo sempre quando acabo qualquer coisa. Pasmo e desolo-me. O meu
instinto de perfeição deveria inibir-me de acabar; deveria inibir-me
até de dar começo. Mas distraio-me e faço. O que consigo
é um produto, em mim, não de uma aplicação de
vontade, mas de uma cedência dela. Começo porque não tenho
força para pensar; acabo porque não tenho alma para suspender.
Este livro é a minha cobardia."

* * *

155.

"Escrevo demorando-me nas palavras, como por montras onde não
vejo, e são meios-sentidos, quase-expressões o que me fica,
como cores de estofos que não vi o que são, harmonias exibidas
compostas de não sei que objectos. Escrevo embalando-me, como uma mãe
louca a um filho morto."

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