Corre sem vela e sem leme (1595)

Redondilhas de Luís Vaz de Camões

Labirinto

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do Autor a queixar-se do mundo

Corre sem vela e sem leme

o tempo desordenado,

dum grande vento levado;

o que perigo não teme

é de pouco exprimentado.

As rédeas trazem na mão

os que rédeas não tiveram:

vendo quando mal fizeram

a cobiça e ambição

disfarçados se acolheram.

A nau que se vai perder

destrue mil esperanças;

vejo o mau que vem a ter;

vejo perigos correr

quem não cuida que há mudanças.

Os que nunca sem sela andaram

na sela postos se vêm:

de fazer mal não deixaram;

de demónio hábito têm

os que o justo profanaram.

Que poderá vir a ser

o mal nunca refreado?

Anda, por certo, enganado

aquele que quer valer,

levando o caminho errado.

É para os bons confusão

ver que os maus prevaleceram;

posto que se detiveram

com esta simulação,

sempre castigos tiveram.

Não porque governe o leme

em mar envolto e turbado,

quem tem seu rumo mudado,

se perece, grita e geme

em tempo desordenado.

Terem justo galardão

e dor dos que mereceram,

sempre castigos tiveram

sem nenhüa redenção,

posto que se detiveram.

Na tormenta, se vier,

desespere na bonança

quem manhas não sabe ter.

Sem que lhe valha gemer

verá falsar a balança.

Os que nunca trabalharam,

tendo o que lhes não convém,

se ao inocente enganaram

perderão o eterno bem

se do mal não se apartaram.

Fonte: www.bibvirt.futuro.usp.br

 

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