Poemas – Maria Alexandre Dáskalos

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Maria Alexandre Dáskalos

No temporal da revolução

No temporal da revolução
os baús de enxovais
preciosos
das raparigas casadoiras
naufragaram.
Ainda hoje me consolo
com as leituras de Marx.
E, no entanto,
perdi meu enxoval.

O garoto corria corria…

O garoto corria corria
não podia saber
da diferença entre as flores.
O garoto corria corria
não podia saber
que na sua terra há
morangos doces e perfumados,
o garoto corria corria
fugia.

Ninguém lhe pegou ao colo
ninguém lhe parou a morte.

O meu amor está triste

O meu amor está triste
e enche-me de cuidados.

Onde está a almofada dos bilros?
Já provaste os dendêns com açucar?

Não reduzas a valsa a um cheese-burguer
num pub desconhecido!

Ele disse-me – não canses os olhos nos bilros.

O meu amor está triste e enche-me de cuidados.

Onde cairá o orvalho se as pedras perderam dono

Onde cairá o orvalho se as pedras perderam dono
e história
e só as coisas torpes e destruídas
cobriram os campos e tornaram cinza o verde?

Oiço exércitos do norte do sul e do leste
fantasmas lançado o manto das trevas
os rostos exilando-se de si mesmos.
Oiço os exércitos e todo e qualquer som abafarem.
– Não ouves a chuva lá fora, a voz de uma mulher,
o choro de uma criança?
Oiço os exércitos, oiço
os exércitos.

Quero reconstruir tudo – alguém disse
e ouvimos cair as árvores.
E vimos a terra coberta de acácias
e as acácias eram sangue.

Estamos à beira de um caminho
– que caminho é este?
Inventam de novo o vôo dos
pássaros.
Aqui já se ouviu o botão da rosa a desabrochar.

Primeiro amor. Vivi aí

Primeiro amor. Vivi aí.
Casa grande de janelas abertas
para o verde, chave do nosso coração.
Meninos do bom Deus com histórias diferentes
e o mesmo temor e segurança.
Tudo tinha muita cor
como as casas pintadas de fresco
e as ruas debaixo da sombra das árvores.
Dos jardins víamos os novos modelos dos carros
dos anos setenta.
Havia concertos para piano sem orquestra.
E, às vezes, mulheres, loiras muito loiras
cantavam músicas de nós desconhecidas.

Posávamos para os fotógrafos
moças virgens esperadas à saída das aulas
e ouvíamos “if you are going to San Francisco”.
As fotografias dessa época estão em casa das tias
e os nossos olhos de terra ou de água ou de noite
não são o que eram: por isso, continuam os mesmos.

Ondulam as cortinas levemente
como a última brisa
para lá da sebe junto aos muros baixos
oiço o barulho das árvores
imensas e antigas
e lembra-me um andamento
das Fantasias de Schumann.
Primeiro amor. Vivi aí.

Resignação

Da resignação nada sei.
O mar está encapelado
sou um barco.
Guardo os sapatos, fecho as portas
passeio à chuva.
Espero o vento
há que colher os frutos.

Tu descansas serenamente
folha leve, por terra
fim de cacimbo

Os heróis não voltam.
Dormes, não queres estar vivo.

Só me restam

e agora só me restam
os poetas gregos.
O silêncio diz – esquece.
E o espinho da rosa enterrado no peito
é meu.

Os deuses não assistiram a isto.

Os anjos choram

No temporal da revolução
os baús de enxovais
preciosos
das raparigas casadoiras
naufragaram.
Ainda hoje me consolo
com as leituras de Marx.
E, no entanto,
perdi meu enxoval.

E Agora só me Restam

E agora só me restam
os poetas gregos.
O silêncio diz – esquece.
E o espinho da rosa enterrado no peito
é meu.

Os deuses não assistiram a isto.

(Do tempo suspenso)

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