Falecimento do Jornalista Roberto Marinho

06 de Agosto

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O carioca Roberto Marinho teve uma grande missão quando o pai faleceu: levar à frente um recentíssimo jornal. Com 21 anos, assumiu o vespertino O Globo em 1925, fundado por Irineu Marinho, apenas três semanas antes de sua morte. A partir daí, contando com a ajuda do experiente jornalista Eurycles de Mattos aprendeu cada detalhe, da oficina à administração, daquela engrenagem complexa. ,

Falecimento do Jornalista Roberto Marinho

Mesmo sem máquinas próprias à época, Roberto Marinho empenhou-se desde o início da redação na rua Bittecourt Silva, no Rio de Janeiro, a fazer do veículo algo muito mais grandioso. Assim, com extrema perseverança, construiu passo a passo O Globo, modernizando-o tanto em linguagem, quanto em tecnologia.

O jornal foi um dos primeiros a apostar em matérias mais abrangentes – de fatos da comunidade até os acontecimentos internacionais. Era “uma nova maneira de ver o mundo”, como dizia.

Um dos passos decisivos foi a transferência do jornal, em 1954, para a rua Irineu Marinho, também no Rio, onde está até hoje. O Globo já estava consolidado e Roberto Marinho expandia a organização à Rádio Globo, criada em 1944 e, em 1965, à Rede Globo de Televisão. Ao longo dos anos, outros jornais e revistas agregaram-se à empresa, sendo seguidos, mais recentemente, pela TV por assinatura e a internet.

No entanto, apesar de ter sido responsável por um conglomerado da comunicação, o orgulho maior de Roberto Marinho era sua profissão de jornalista. Gostava de ser conhecido assim, mesmo que a imagem de empresário bem sucedido se destacasse através de seus inúmeros empreendimentos.

Acima de tudo, era um homem otimista, que transformou essa virtude em um dos grandes trunfos para transformar em realidade seus sonhos. Um deles era o de levar educação e cultura a um número significativo de brasileiros.

Obcecado pelo trabalho, apaixonado pela educação

Embora mantivesse uma rígida rotina de trabalho, Roberto Marinho não deixava de lado seu grande prazer: a arte. Gostava de obras de Honoré de Balzac, Machado de Assis e Eça de Queiroz, na literatura, e de Chopin e Verdi, na música. Apreciava igualmente cinema e teatro, além de ser colecionador de quadros de artistas brasileiros.

Todo este apreço pelo conhecimento conduziu-o a um ideal nobre. Surgia, assim, em novembro de 1977, a Fundação Roberto Marinho, com a meta de oferecer ao país um acesso mais facilitado de assuntos culturais e educacionais, através dos meios de comunicação.

Roberto Marinho faleceu em 2003, aos 98 anos.

Fonte: www.frm.org.br

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06 de Agosto

Biografia

Sétimo ocupante da Cadeira 39, eleito em 22 de julho de 1993, na sucessão de Otto Lara Rezende e recebido pelo acadêmico Josué Montello em 19 de outubro de 1993.

Roberto Marinho nasceu na cidade do Rio de Janeiro a 3 de dezembro de 1904 e faleceu em 6 de agosto de 2003 na mesma cidade. Filho do jornalista Irineu Marinho e de D. Francisca Pisani Marinho.

Fez seus estudos na Escola Profissional Sousa Aguiar e nos Colégios Anglo-Brasileiro, Paula Freitas e Aldridge.

Com a morte do pai, Roberto Marinho ingressou no recém-fundado vespertino “O Globo”, onde exerceu as funções de copy-desk, redator-chefe, secretário e diretor. Teve como tesoureiro do jornal o infatigável jornalista Herbert Moses, futuro presidente da Associação Brasileira de Imprensa.

No final da década de 1930 o jornal empenhou-se na campanha eleitoral, com simpatia pelos candidatos da Aliança Liberal – Getúlio Vargas e João Pessoa.

No período que se seguiu à vitória da Revolução de outubro de 1930 o jornal manteve uma linha de acomodação com o governo.

Em 1952 o jornalista Roberto Marinho integrou a delegação brasileira à VII Assembléia Geral das Nações Unidas.

Presidiu o Conselho de orientação do curso de jornalismo da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Exerceu, também, por indicação governamental, as funções de Chanceler da Ordem do Mérito, de 29 de abril de 1960 a 10 de março de 1967.

Em 1993 apresentou-se como candidato à vaga da cadeira nº 39 da Academia Brasileira de Letras, aberta pelo falecimento do também jornalista Otto Lara Resende, antigo colaborador de “O Globo”.

A cerimônia de posse na Academia foi realizada no dia 19 de outubro de 1993, sendo recebido pelo acadêmico Josué Montello.

Na ocasião declarou Roberto Marinho que devia a seu pai, Irineu Marinho, “a formação de jornalista”.

Roberto Marinho publicou, em 1992, um livro que recebeu o título de “Uma trajetória liberal”, obra que, como assinalou então Josué Montello, é integrada por “textos dispersos sobre vossas experiências e vossos testemunhos, guardando imagens vivas de figuras como Carlos Lacerda, Tancredo Neves e Luís Carlos Prestes”.

Expandindo suas atividades, Roberto Marinho criou a Fundação que leva o seu nome, uma das mais meritórias instituições com que o país já contou em diversos setores da cultura, com destaque especial no campo das Ciências, das Artes, do Patrimônio Histórico e Artístico, da Literatura e da História, além do mecenato que incluiu substancial ajuda financeira e proporcionou a recuperação de tesouros ameaçados de perecimento irremediável por carência absoluta de recursos.

Roberto Marinho faleceu no Rio de Janeiro no dia 6 de agosto de 2003.

Fonte: www.academia.org.br7

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06 de Agosto

Proprietário do maior conglomerado de comunicação do Brasil e um dos maiores do mundo, as Organizações Globo, Roberto Marinho foi um dos homens mais poderosos e influentes do país no século 20.

Em sete décadas de trabalho, atuou nas mídias de rádio, televisão, jornal, editora, produção de cinema, vídeo, internet e distribuição de sinal de TV paga e de dados. Suas empresas atravessaram a virada do século 21 com mais de 15 mil funcionários e faturamento de aproximadamente US$ 2 bilhões, tornando-se um dos homens mais ricos do mundo, segundo a revista Forbes.

Filho do jornalista Irineu Marinho Coelho de Barros e Francisca Pisani Barros, Roberto Pisani Marinho nasceu no Rio de Janeiro no dia 3 de dezembro de 1904 e teve mais quatro irmãos, dois homens e duas mulheres.

Educado na Escola Profissional Sousa Aguiar e nos colégios Anglo-Brasileiro, Paula Freitas e Aldridge, o empresário teve sua vida sempre ligada ao jornalismo. Em 1911, seu pai fundou o jornal A Noite, o primeiro vespertino moderno no Rio de Janeiro, que logo conquistou a liderança de vendas entre os vespertinos da então capital da república.

Início do Império Globo

Após vender A Noite, Irineu Marinho lançou o jornal ‘O Globo’, também vespertino, no dia 29 de julho de 1925, com uma tiragem de 33.435 exemplares. Nessa época, Roberto Marinho, com 20 anos, foi trabalhar com o pai, atuando como repórter e secretário particular.

Apenas 21 dias depois do lançamento do jornal, Irineu Marinho morreu de infarto enquanto tomava banho em sua casa. Apesar da pressão da família para assumir a direção do vespertino, Roberto Marinho preferiu deixar o comando da empresa nas mãos do jornalista Euclydes de Matos, amigo de confiança de seu pai. Enquanto isso, continuou trabalhando como copidesque, redator chefe, secretário e diretor. Somente com a morte de Euclydes de Matos é que assumiu a direção do periódico, em 1931.

Em oposição ao jornalismo partidário que ainda se praticava em outras mídias, ‘O Globo’ surgiu como um canal noticioso, defendendo causas populares e a abertura do país ao capital estrangeiro. Apesar de o jornal ser na época o principal meio de comunicação do grupo, o crescimento da empresa aconteceu com a venda de histórias em quadrinhos norte-americanas e de empreendimentos imobiliários.

No final de 1944, o empresário comprou a rádio Transmissora e lançou sua primeira emissora, a rádio Globo, que marcou o início da formação do seu conglomerado de mídia. Onze anos depois, ganhou a concessão de sua primeira estação de TV.

O início das transmissões do novo canal foi em 1965, quando o jornalista tinha 60 anos, com o início das transmissões do Canal 4, a Globo do Rio. No ano seguinte, o empresário adquiriu em São Paulo a TV Paulista, Canal 5, e começou a formar a rede de mais de 113 emissoras entre Geradoras e Afiliadas.

Dinheiro estrangeiro

Como na época não possuía o capital necessário para o novo empreendimento, Marinho se uniu ao grupo norte-americano Time-Life, para quem deu 49% de participação. O grupo trouxe investimentos estimados em US$ 25 milhões e a tecnologias avançadas, que mais tarde seria transformada no chamado “Padrão Globo de Qualidade”.

Apesar das críticas e até mesmo da criação de uma Comissão Parlamentar de inquérito para investigar a parceria com o grupo americano, o que era proibido pela constituição, a Rede Globo em apenas cinco anos ganhou projeção nacional e se tornou líder de audiência. Em pouco tempo, a emissora já obtinha mais 75% do total de verbas publicitárias destinadas à mídia televisão. Em 1977, já com o seu império de mídia consolidado, construiu uma fundação com o seu nome, destinada à promoção da cultura e educação no país.

Ao longo de sua vida, Roberto Marinho teve grandes adversários, como Assis Chateaubriand, Carlos Lacerda, Samuel Wainer e Leonel Brizola, frutos de suas conflituosas relações com o poder, o qual muitas vezes foi acusado de ser conivente, principalmente durante o período da ditadura militar, período onde ocorreu o grande crescimento de suas empresas.

Vida pessoal

Casado por três vezes, Roberto Marinho teve quatro filhos, todos frutos de seu casamento com sua primeira esposa, Stela Marinho: Roberto Irineu, José Roberto, João Roberto e Paulo Roberto.

No Réveillon de 1970, seu filho Paulo Roberto, à época com 19 anos, morreu em um acidente de carro, na região dos Lagos, no Rio de Janeiro. O jornalista também foi casado com Ruth Marinho, sua segunda mulher, e, em 1984, casou-se com Lily de Carvalho, com quem viveu o restante de sua vida.

Com a idade avançada, em 1998, Roberto Marinho se afastou do comando das empresas e dividiu com seus filhos o poder das Organizações Globo: Roberto Irineu passou a supervisionar a televisão, enquanto João Roberto passou a dirigir o jornal e José Roberto, o sistema de rádio.

Em 1993, candidatou-se à vaga da cadeira de número 39 da Academia Brasileira de Letras, que antes pertencia ao também jornalista Otto Lara Rezende, sendo eleito no dia 22 de julho de 1993. Apesar de não possuir uma carreira literária, tornou-se “imortal” pelos “serviços prestados ao rádio e à televisão brasileira”, com 34 dos 37 votos dos acadêmicos.

O jornalista Roberto Marinho morreu, aos 98 anos, no dia 6 de agosto de 2003. Ele estava em sua casa, no Cosme Velho, pela manhã, quando sofreu um edema pulmonar, provocado por uma trombose. O empresário foi, então, internado na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Samaritano, em Botafogo, mas não sobreviveu.

Fonte: www.netsaber.com.br

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06 de Agosto

Roberto Marinho nasceu na cidade do Rio de Janeiro a 3 de dezembro de 1904 e faleceu na mesma cidade em 06 de agosto de 2003, aos 98 anos.

Filho do jornalista Irineu Marinho e de D. Francisca Pisani Marinho, foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras em 22 de julho de 1993 e tomou posse a 19 de outubro do referido ano, ocupando a cadeira nº 39.

Fez seus estudos na Escola Profissional Sousa Aguiar e nos Colégios Anglo-Brasileiro, Paula Freitas e Aldridge.

Com a morte do pai, Roberto Marinho ingressaria no recém-fundado vespertino “O Globo”, onde exerceu as funções de copy-desk, redator-chefe, secretário e diretor.

Teve como tesoureiro do jornal o infatigável jornalista Herbert Moses, futuro presidente da Associação Brasileira de Imprensa.

No final da década de 1930 o jornal empenhou-se na campanha eleitoral, com simpatia pelos candidatos da Aliança Liberal – Getúlio Vargas e João Pessoa.

No período que se seguiu à vitória da Revolução de outubro de 1930 o jornal manteve uma linha de acomodação com o governo.

Expandindo suas atividades, Roberto Marinho criou a Fundação que leva o seu nome, uma das mais meritórias instituições com que o país já contou em diversos setores da cultura, com destaque especial no campo das Ciências, das Artes, do Patrimônio Histórico e Artístico, da Literatura e da História, além do mecenato que inclui substancial ajuda financeira que tem proporcionado a recuperação de tesouros ameaçados de perecimento irremediável por carência absoluta de recursos.

Faleceu, no Rio de Janeiro, em decorrência de complicações de um edema pulmonar, no dia 06 de agosto de 2003.

Fonte: Casa do Bruxo

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06 de Agosto

O jornalista Roberto Marinho construiu uma fascinante história de transformações pessoais em idades improváveis. Com apenas 26 anos, depois da morte do pai, Irineu, de quem também era secretário, assumiu o comando da redação do jornal O Globo. Aos 61, quando muitos já ensaiam a aposentadoria, criou a TV Globo. Aos 84, casou-se pela terceira vez, com Lily Monique de Carvalho, então viúva e com 67 anos. Ao longo de quase três quartos de século de ativa participação na vida política e social do Brasil, com reviravoltas numa existência que nunca foi monótona, ajudou a mudar o país. Como ele mesmo definiu numa autobiografia ainda inédita, foi ‘uma vida condenada ao sucesso’. O sucesso, se não veio por acaso, foi abruptamente acelerado com o súbito desaparecimento do pai, que o forçou a mergulhar no cotidiano de O Globo.

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NO TRABALHO 
Roberto Marinho com Pereira Rego na redação de O Globo

Irineu começara a carreira como revisor no Diário de Notícias. Fundou O Globo em 1925. Vinte e três dias depois, morreria de ataque cardíaco durante um banho. Coube a Roberto, o mais velho dos cinco filhos de Irineu e Francisca, a dona Chica, entrar pela minúscula janela do aposento sanitário para encontrar o pai estendido no chão. Recusou-se a aceitar o posto de diretor de redação do vespertino recém-criado por não se considerar apto a tamanha responsabilidade com tão pouca idade. Chica percebeu a ansiedade do primogênito. ‘Roberto, vamos vender o jornal que você é muito moço’, disse. ‘Vender o jornal coisa nenhuma’, retrucou o filho. ‘Quem vai tomar conta do jornal sou eu.’ Era preciso antes, no entanto, aprender a tocá-lo, como patrão e jornalista – e Roberto Marinho colou nos passos do diretor de redação, o experiente Euclydes Mattos. Tinha especial admiração pelas máquinas de impressão, compradas nos Estados Unidos e que pertenceram ao Exército americano na guerra de 1917.

Depois da morte prematura do pai, resolveu aprender a ser jornalista, antes de ser patrão. Colocou Euclydes de Mattos na direção da redação e trabalhou duro em todas as áreas da nova empresa

Afeito ao aspecto industrial de confecção do jornal, produziu um episódio insólito. Já no comando do diário, Roberto Marinho tentava convencer Herbet Moses, o homem encarregado das finanças, a comprar uma máquina nova para O Globo. Moses insistia: tudo corria bem, o jornal saía da gráfica com qualidade e velocidade e, portanto, não havia motivo para adquirir novo equipamento. Roberto Marinho não se convenceu. Tomou emprestada uma sala no Liceu de Artes e Ofícios, em cujo edifício, no centro do Rio de Janeiro, funcionava a redação, e ali instalou outra máquina, comprada sem o conhecimento de Moses, que, a cada edição, desfilava elogios à qualidade de impressão – como se ela pudesse ser atribuída ao maquinário original. Fora a primeira grande vitória de Roberto, num lance de inventividade que o acompanharia por toda a vida e que já o levara, em 1930, um ano antes de assumir a redação, a produzir uma notícia exclusiva. Roberto Marinho, com máquina fotográfica a tiracolo, acompanhava a movimentação diante do Palácio Guanabara, na queda do presidente Washington Luís. Naquele tempo, estava prestando serviço militar. Sagaz, conseguiu uma imagem rara, do chefe de Estado deposto rumo ao exílio, ao lado do cardeal Leme. Dera seu primeiro furo. ‘O doutor Roberto não é empresário, ele é jornalista’, disse Evandro Carlos da Andrade, diretor de redação de O Globo nos anos 70 e 80, já falecido, em depoimento ao Projeto Memória, da TV Globo. ‘Era um homem de notícia, um jornalista voltado para a cobertura dos fatos, nunca foi afeiçoado à especulação política.’

A falta de interesse por esse tipo de especulação não impediu, porém, que o crescimento do jornal, e depois o nascimento e a explosão da TV Globo, fizessem Roberto Marinho se transformar em interlocutor contumaz de todos os principais políticos brasileiros do século 20. Getúlio Vargas foi o primeiro a fasciná-lo (e vice-versa). Com Vargas, Roberto Marinho aprendeu a caminhar em terreno complicado – o das relações entre a imprensa e o poder. Para o jornalista Cláudio Mello e Souza, amigo próximo, ‘o jogo político era fundamental para a sobrevivência do jornal nos anos 30, quando Getúlio controlava os diários por meio de pressão de financiamento para esse ou para aquele’. A liberdade de imprensa dependia da simpatia e do bom humor de Vargas e de seu ministro da Fazenda, que variava sempre. A convivência com o caudilho gaúcho serviu de curso de pós-graduação numa seara repleta de armadilhas. Um a um, todos os presidentes brasileiros conviveram com Roberto Marinho (uma galeria de fotos de Roberto Marinho com vários presidentes brasileiros de seu tempo acompanha esta reportagem).

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GETÚLIO VARGAS 
Uma fascinação recíproca e muito aprendizado

Dois personagens antagônicos da história do Brasil o entusiasmavam – nem sempre pela postura política, e sim pela coragem atávica em enfrentar desafios, como se fossem espelho de si mesmo. Seus nomes: Carlos Lacerda e Luís Carlos Prestes. Lacerda, ainda deputado, nos anos 40 e 50, aproximou-se de Roberto Marinho depois que este lhe abriu espaço no Sistema Globo de Rádio. Em entrevista ao editor de livros José Mário Pereira, da Topbooks, Roberto Marinho relembrou a tarde em que, numa visita ao jornal, Lacerda ficou preso no elevador, agitadíssimo com a situação. Foi preciso quebrar a parede para liberá-lo e acalmá-lo. Os dois eram, naquela época, muito amigos. O vaivém da política os instalaria em campos opostos. Lacerda, amante das diatribes, passou a atacar a Globo e Roberto Marinho. O jornalista, irritado e ofendido, resolveu agir. Quase nunca se exaltava, mas decidiu ir à casa de Lacerda, na Praia do Flamengo, para chegar às vias de fato. Cumprimentou os seguranças, entrou no elevador e, lá em cima, foi recebido pela empregada, que o convidou a entrar. Felizmente, Lacerda tinha saído.

Ele só o conheceria pessoalmente em 1989, durante a eleição que opôs Lula e Collor no segundo turno. Embora o jornal tivesse apoiado a legendária Coluna Prestes, de 1924 a 1927, o jornalista nunca se encontrara com o líder comunista. Quando ele morreu, Roberto Marinho não só assinou um editorial simpático em O Globo como escreveu de próprio punho uma carta à viúva, dona Maria.

O relacionamento de Roberto Marinho com os comunistas foi sempre leal. No início dos anos 70, durante o regime militar inaugurado em 1964, os generais de plantão pediram uma lista de comunistas que trabalhavam em O Globo. Roberto Marinho disse a um de seus interlocutores de farda verde-oliva: ‘Olha, vem aqui que eu vou te dar a lista’. E deu. No mesmo dia, um comandante do Exército, indignado, telefonou para o jornalista e esbravejou: ‘O senhor me mandou a folha de pagamentos’. A resposta foi rápida: ‘Ué, mas quem tem de descobrir os comunistas são vocês, estão aí todos os funcionários do jornal’. Em outro episódio semelhante, em 1965, durante o governo do general Castello Branco, o ministro da Justiça, Juracy Magalhães, chamou os donos dos jornais para dizer como queria que a imprensa se comportasse e entregou à direção de O Globo uma lista com 64 nomes de profissionais que deveriam ser afastados do copidesque do jornal, o departamento em que os textos recebiam tratamento final. As autoridades acreditavam que os militantes de esquerda se infiltravam preferencialmente nesse momento da linha de montagem do jornalismo e, por mais ridícula que fosse essa informação, tinham-na como verdadeira. Na reunião com o ministro, quase todos ficaram calados ou disseram ‘sim’. Roberto Marinho preferiu o ‘não’. Recusou-se a entregar as cabeças e soltou uma frase, hoje antológica: ‘Ministro, o senhor faz uma coisa, vocês cuidam dos seus comunistas, que eu cuido dos nossos lá do Globo’.

Durante os governos militares, segundo depoimento de profissionais que trabalhavam no jornal e na TV, Roberto Marinho aos poucos percebeu que a Globo estava exageradamente vinculada ao regime. Disse Evandro Carlos de Andrade no depoimento ao Projeto Memória: ‘Ele foi se decepcionando progressivamente, mas havia o engajamento do jornal e essas coisas não se mudam da água para o vinho’. A mudança de postura de O Globo, comandada por Evandro, teve grande incentivo de Roberto Marinho. Ele sabia que era preciso mudar, e mudava nos detalhes. Em 1974, no dia em que Ernesto Geisel tomou posse como presidente da República, Roberto Marinho telefonou para a redação. Queria conversar com o chefe de plantão, responsável pelo fechamento da edição. A manchete que ele mesmo sugeria não cabia no espaço abaixo das fotos de Geisel, empossado, e de Médici, em seu derradeiro ato no governo. Roberto Marinho não vacilou, e com uma única frase definiu os novos caminhos: ‘Bota o Médici pequenininho’.

Por apegar-se a pessoas, e não às transitórias conjunturas políticas, contratava profissionais sem pensar em suas preferências ideológicas

Rápido nas decisões, tomava as iniciativas quase no faro. Para um de seus filhos, José Roberto Marinho, sua grande qualidade sempre foi a de entender as pessoas, de radiografá-las com velocidade rara. ‘Ele percebe as pessoas nas suas qualidades, nos seus defeitos, no seu temperamento, numa rapidez impressionante’, disse José Roberto. Por apegar-se a pessoas, e não a conjunturas políticas que podiam – e costumavam – ser transitórias, Roberto Marinho contratava profissionais independentemente do lado em que estivessem em outros momentos. Inimigos notórios trabalharam em O Globo com a anuência, e muitas vezes com a palavra final, do próprio jornalista. O caso mais emblemático é o de Franklin de Oliveira, que se notabilizou como secretário particular de Leonel Brizola. No início dos anos 60, como voltaria a ser nos 80, o então governador do Rio Grande do Sul era o mais empedernido dos adversários políticos de O Globo – e Franklin é quem escrevia alguns dos textos mais virulentos contra Roberto Marinho.

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HOMEM DO MUNO 
Em visita ao Brasil, Fidel Castro conversa com Roberto Marinho

‘O doutor Roberto tinha erisipela quando pensava nele’, conta o publicitário Mauro Salles. ‘Houve o golpe de 64 e Franklin de Oliveira ficou desempregado, veio do Rio Grande do Sul para o Rio, e em três ou quatro meses estava sem dinheiro, não sabia o que fazer.’ Por sugestão de Antonio Olyntho, hoje na Academia Brasileira de Letras, o nome de Franklin de Oliveira foi sugerido como editorialista a Mauro Salles, então um dos chefes do jornal. Com boas referências a respeito do caráter de Franklin, e de sua ferina inteligência, Roberto Marinho mandou contratá-lo no mesmo dia. Conquistara um inimigo. Ganhara um imenso problema com o governo. Durante uma das inúmeras Comissões de Inquérito Militares que assolavam o país na segunda metade dos anos 60, os donos de jornal foram convocados a comparecer ao Ministério da Guerra. Uma vez mais as autoridades mostravam-se preocupadas com uma suposta infiltração de esquerda na imprensa. Um dos generais iniciou uma catilinária: ‘A revolução não pode admitir que entrem nos jornais figuras infiltradas que são da revanche’. Referia-se a Franklin de Oliveira. Olhava para Roberto Marinho, que se levantou para dizer: ‘General, eu não vim aqui para ouvir isto e quero lhe esclarecer que O Globo contratou gente que serviu ao regime anterior, de João Goulart, e vai continuar contratando, e eu não tenho nenhuma satisfação a lhe dar, e boa tarde’. Levantou-se, foi embora e assim terminou a reunião. ‘As pessoas que não passaram pelo processo do regime militar não imaginam o que isso representava de coragem, hombridade e dignidade humana’, lembrou Mauro Salles, em depoimento gravado pelo Projeto Memória.

Na capa, as fotos de Geisel, empossado, e de Médici, em seu último ato de governo. Numa única frase, ele definiu os novos caminhos: ”Bota o Médici pequenininho”

Episódios como o da contratação de Franklin de Oliveira, de campo ideológico oposto ao de Roberto Marinho, contratado por suas qualidades profissionais e pessoais, foram comuns na vida do criador da TV Globo. Quando circulou a notícia de que o colunista Paulo Francis estava negociando sua ida para O Globo, uma secretária apressou-se a lembrá-lo das duras referências a ele e a suas empresas no Pasquim. Roberto Marinho não se incomodou e autorizou a contratação. Francis faleceu em 4 de fevereiro de 1997. No dia 7, segundo relato do editor José Mário Pereira, ao saber que o corpo já estava no Rio, Roberto Marinho chegou ao Cemitério São João Batista antes da família. Numa sala reservada, onde se preparam os corpos, ficou diante do caixão, calado. De volta ao carro, evitou conversar com a imprensa, mas comentou com um secretário que o acompanhava: ‘Que pena, era um rapaz ainda muito novo’. Paulo Francis tinha 65 anos.

Com o passar dos anos, é evidente, a longevidade de Roberto Marinho tornou-se lenda. Por ter atravessado o século XX e invadido o XXI, ele mesmo gostava de se vangloriar da força física e da capacidade intelectual. Não se furtava a cultivar histórias que soavam como anedotas, mas de alguma forma ajudavam a definir sua personalidade. Uma das histórias mais conhecidas, e nunca comprovadas, algumas vezes narrada pelo próprio jornalista, com sorriso nos lábios, refere-se a uma tartaruga que quiseram lhe dar de presente. Ao receber o animal, o acariciou e perguntou quanto tempo um bicho daqueles vive, em média. A resposta: ‘Uns 200, doutor Roberto’. Ele então teria replicado: ‘Não quero, não. A gente se afeiçoa ao bichinho, e é uma tristeza quando morre’. Os 98 anos de Roberto Marinho contaram uma parcela da história brasileira.

O PRECURSOR DO IMPÉRIO

Irineu Marinho botou O Globo nas ruas em 1925 e inscreveu seu nome entre os grandes empreendedores do seu tempo

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O COMEÇO DE TUDO Irineu Marinho, o primeiro à esquerda, reunido com a equipe que preparava o lançamento de O Globo

Irineu Marinho Coelho de Barros iniciou aquele que seria o maior império de comunicação do Brasil com 25 contos de réis. O dinheiro nem era dele, mas tomado emprestado para criar com amigos o primeiro vespertino carioca, A Noite, em 1911. As bobinas de papel foram compradas com dinheiro arrecadado, mas em menos de um ano a empresa já tinha equipamentos novos e era um sucesso editorial. Catorze anos depois, Irineu botava a primeira edição de O Globo nas ruas, na tarde ensolarada de 29 de julho de 1925. Estampava reportagens sobre a exploração da borracha e o aumento do número de carros no Rio de Janeiro. Não viveu o suficiente para assistir ao triunfo do jornal. Nem acompanhou o avanço da Coluna Prestes e a fuga do presidente Washington Luís do Palácio Guanabara. Menos de um mês depois do lançamento do diário carioca, Irineu tombou vítima de um infarto na banheira de sua casa. Tinha 49 anos. O suficiente para dar ao país um jornalismo mais arrojado na diagramação das páginas e na valorização das histórias do cotidiano. E para legar ao filho mais velho, Roberto, não só a coragem de sonhar, mas a ousadia de fazer.

De família modesta, o primeiro Marinho a fazer história no país nasceu em Niterói, em 19 de junho de 1876. A vocação para a imprensa surgiu ainda na adolescência, ao editar com um colega o jornal manuscrito da escola. Em 1891, iniciou a carreira jornalística como revisor do jornal Diário de Notícias, do Rio de Janeiro. Mais tarde transferiu-se para A Notícia, uma das publicações mais importantes naquele período. Trabalhou com os nomes mais ilustres de seu tempo, como Olavo Bilac, Arthur Azevedo, Emílio de Menezes e Pedro Rabelo. Passou pela Gazeta da Tarde, por A Tribuna, no qual se revelou um grande repórter, e pela Gazeta de Notícias.

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CORAGEM E TRABALHO De família modesta, Irineu começou a vida como revisor

Em 1903 casou-se com dona Francisca Pisani, uma descendente de italianos. Tiveram seis filhos: Roberto, Heloísa, Ricardo, Hilda, Helena (falecida com 1 ano de idade) e Rogério. Irineu mostrou aos herdeiros o valor do trabalho – ele só deixava a redação depois de 15 horas de batente. Também os ensinou a levar a vida com elegância. Costumava dizer a eles que uma das melhores formas de recuperar o humor era ler trechos de Pickwick Papers, de Charles Dickens.

Fonte: editora.globo.com

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06 de Agosto

Interrompemos nossa programação

Morre aos 98 anos o empresário de comunicações Roberto Marinho, que durante 78 anos comandou as Organizações Globo e fez de sua TV uma poderosa fonte de influência cultural e força política.

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Roberto Marinho nos estúdios da Globo: 74% dos televisores sintonizados no horário nobre

O jornalista e empreendedor Roberto Marinho, morto na quarta-feira passada, aos 98 anos, vítima de embolia pulmonar, foi durante um longo período da história brasileira um dos homens mais poderosos do país.

Em 1965, ao inaugurar a TV Globo, Marinho, que já amealhara considerável prestígio com sua paixão, o jornal O Globo, tornou-se ainda mais influente.

A emissora campeã de audiência no país encarna a síntese da capacidade empreendedora de Roberto Marinho e da equipe que ele montou, prestigiou e remunerou com generosidade reconhecida. Não é exagero dizer que a Rede Globo é uma espécie de Hollywood brasileira.

Suas novelas e séries especiais tiveram papel fundamental na homogeneização da cultura de massas no Brasil, país em que 90% dos lares têm pelo menos um televisor. A criação de Roberto Marinho tirou da telenovela a pecha de programação de baixo nível, promovendo-a muitas vezes a dramaturgia de impacto e prestígio internacional, exportada para 130 países. A Globo é o coração do conglomerado de comunicação que reúne três jornais, rádios, gráfica, gravadoras e canais de TV paga, internet e uma editora de revistas e livros. A Rede Globo produz 4.420 horas de programação por ano, faturou 2,5 bilhões de reais em 2002 e é a quarta colocada no ranking mundial de TVs. No horário nobre, 74% dos televisores ligados no Brasil estão sintonizados na emissora. Sua central de produções, o Projac, no Rio de Janeiro, ocupa um terreno de 1,3 milhão de metros quadrados, fabrica cenários, figurinos, cidades inteiras.

Marinho conseguiu sua primeira concessão de TV em 1957, no governo de Juscelino Kubitschek. Na época, quem dava as cartas das comunicações no Brasil era o mitológico Assis Chateaubriand, o homem que criou os Diários Associados e colocou no ar a TV Tupi, inaugurando a era da televisão no país. Foi no processo de construção da Globo que o empresário se instalou nas altas esferas do poder do país. Logo no primeiro governo militar, foi ele o emissário do presidente Castello Branco para convidar Juracy Magalhães a ocupar o Ministério da Justiça. Poucos anos mais tarde, o mesmo Juracy Magalhães ouviria, calado, a resposta de Marinho a seu pedido para que demitisse os jornalistas militantes de esquerda. “O senhor cuida dos seus comunistas. Dos meus, cuido eu”, reagiu. O pináculo de sua influência política ocorreu, sem dúvida, durante o governo Sarney. Candidatos ao Ministério das Comunicações e ao da Fazenda chegaram a ser sabatinados por Marinho, a pedido de Sarney, antes de ser efetivados no cargo. Em 1988, logo depois da demissão de Bresser Pereira do Ministério da Fazenda, Marinho foi convidado para um almoço com o presidente José Sarney. O presidente o consultou sobre a sucessão. Ele sugeriu um nome, que não vingou. Sarney solicitou ao empresário que recebesse Mailson da Nóbrega. Após o encontro, satisfeito com o que ouvira, Marinho telefonou ao presidente, que lhe pediu para anunciar o novo ministro na TV Globo. Mailson só foi comunicado da escolha depois.

Conservador na política, liberal na economia, Marinho fazia com que seus veículos de comunicação sempre tomassem posição política alinhada com seu pensamento e harmonizada com seus interesses. Não se deixou dominar pelo mito confortável da imparcialidade na imprensa. Preferiu o risco de tomar partido, o que fazia de modo transparente. Roberto Marinho se cercou de pessoas que pensavam como ele ou que, mesmo não tendo afinidades ideológicas com o chefe, agiam de modo a não contrariá-lo. Como toda organização de cultura fortemente nuclear, a Rede Globo reagia mais lentamente às mudanças. Ficou muitas vezes para trás quando os ventos sopraram mais forte na sociedade brasileira. Sua demora em começar a noticiar os megacomícios pelas eleições diretas nas capitais brasileiras em 1984 arranhou a imagem da emissora. A Globo noticiou o comício da Praça da Sé, o marco inaugural do movimento, como se fosse parte das comemorações do aniversário de São Paulo. Em compensação, derrotada a emenda pelas eleições diretas, dedicou-se à articulação da candidatura de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, contra Paulo Maluf. Em 1989, apoiou a candidatura de Fernando Collor de Mello contra Luiz Inácio Lula da Silva. Na ocasião, a Globo levou ao ar a polêmica edição do debate entre os candidatos, que é apontada como a pá de cal na primeira candidatura de Lula. Três anos depois, caudatária da indignação popular, rendeu-se com atraso ao crescimento da campanha pelo impeachment.

“Ele acreditava realmente que a imprensa é o quarto poder”, lembra o advogado carioca Jorge Serpa, seu amigo por mais de quarenta anos. Mais do que isso, porém, gostava de exercer o poder. Sua única crítica a Castello Branco, que considerava o maior presidente que o Brasil já teve, era exatamente por não compartilhar do mesmo gosto. “Ele não gostava de usar o poder. E poder a gente tem de usar para que não se esqueçam que a gente o tem”, disse certa vez a um colaborador. A máxima era exercida cotidianamente. Tanto em seus contatos com os governos quanto dentro de suas empresas. Nas Organizações Globo, o “doutor Roberto”, como era chamado por todos os funcionários, mesmo os mais graduados, exerceu o comando com mão-de-ferro.

Tamanha intimidade com os militares deu margem a uma simplificação recorrente, que atribui o crescimento exponencial do grupo empresarial de Roberto Marinho nos anos 60 e 70 exclusivamente à proximidade de seu comandante com os governos militares. Seria impossível levar a cabo tal façanha sem a visão estratégica que lhe permitiu lançar as bases da Rede Globo. Seus irmãos Rogério e Ricardo, sócios no jornal e na rádio, negaram-se a acompanhá-lo. Roberto Marinho partiu sozinho para a empreitada. Para viabilizar o investimento, fez um acordo com o grupo americano Time-Life, pelo qual conseguiu receber 4 milhões de dólares e, de quebra, lhe rendeu a instalação de uma comissão parlamentar de inquérito, resultado de uma campanha movida pelo já decadente Assis Chateaubriand.

A associação com os americanos pode ser encarada como capacidade de antecipar alguns comportamentos típicos da economia globalizada que se tornaria realidade décadas mais tarde. O ocaso de Chateaubriand e a ascensão de Roberto Marinho, aliás, retratam a transição de um Brasil recém-urbanizado e industrializado para um país moderno e crescentemente inserido no capitalismo mundial. A preocupação de Marinho era com a profissionalização. “Eu achava que tudo quanto se fazia de televisão era meio amolecado. As pessoas não tinham convicção de que aquilo era possível”, dizia. Para fazer a TV Globo, contratou Walter Clark, então o mais importante executivo da nascente televisão brasileira. Dois anos depois, integrou ao comando da emissora José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, formando a dupla responsável por uma programação de qualidade reconhecida em todo o mundo. Roberto Marinho deixa com seus três filhos – Roberto Irineu, João Roberto e José Roberto .– o comando do império que construiu. Deixa também a tarefa de superar as dificuldades financeiras surgidas nos últimos anos que levaram a Globopar, holding do grupo, a reescalonar uma dívida de 1,5 bilhão de dólares em 2002.

É mais um desafio numa história iniciada pelo empresário que constou até o ano passado no ranking da revista americana Forbes como um dos seis homens mais ricos do Brasil. Não foi sempre assim. Roberto Marinho nasceu no Estácio, um bairro de classe média baixa na Zona Norte do Rio de Janeiro. Sua vida tem outros ingredientes de cinema, além da saga da ascensão social. Em 1925, quando seu pai, o jornalista Irineu Marinho, morreu apenas três semanas após fundar O Globo, Marinho considerou que não tinha ainda maturidade para assumir o comando da publicação. Foi trabalhar na redação. Só seis anos depois tomou a frente da empresa. A rotina de trabalho de mais de doze horas por dia não o impediu de aproveitar a efervescência do Rio de Janeiro das décadas de 20 e 30. Quando solteiro, mantinha no bairro da Urca, onde funcionava o famoso cassino de mesmo nome, uma cobertura que vivia repleta de amigos e vedetes. Só aos 40 anos se casou pela primeira vez, com Stella, mãe de seus filhos, de quem se separou quase trinta anos depois para se casar com Ruth Albuquerque. Aos 84 anos, retomou com Lily de Carvalho um encantamento interrompido cinqüenta anos antes, quando a então exuberante miss França se casou com um rival, Horácio de Carvalho Junior, dono do Diário Carioca. Roberto Marinho a reencontrou viúva em 1988. Quatro meses depois ele se separou de Ruth e propôs casamento a Lily.

A partir da década de 90, Marinho cuidou pessoalmente de sua sucessão tratando de dividir com seus filhos o comando das Organizações Globo. Mas não se retirou de cena, sempre preocupado em manter-se informado sobre tudo o que se passava em suas empresas. Teve um grande momento de consagração em 1993, ao ser eleito para a Academia Brasileira de Letras. Dono de excelente forma física, praticou pesca submarina até quase os 80 anos, e só largou a equitação um pouco depois, quando durante uma competição caiu do cavalo e fraturou onze costelas.

O empresário costumava dizer que vivia muito ocupado para pensar na morte. Talvez por isso não tenha levado à frente o projeto de escrever suas memórias, previamente batizadas por ele de “Condenado ao êxito”. A exatidão do título pôde ser conferida na quinta-feira. Compareceram ao velório e ao enterro de Roberto Marinho mais de 3.000 pessoas, entre populares e mandatários. Estiveram presentes o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e José Sarney, cinco governadores, seis ministros de Estado, os presidentes do Senado e da Câmara, quase todos os empresários, políticos e artistas de alguma relevância no cenário nacional, além de adversários políticos históricos, como o ex-governador do Rio de Janeiro Leonel Brizola. Morreu como viveu. Cercado por poderosos.

Fonte: veja.abril.com.br

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