Solidão

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O que é solidão?

O escritor alemão naturalizado suíço, Hermann Hesse, define a solidão como “o modo que o destino encontra para levar o homem a si” adubando o arenoso subsolo do existir humano para fornecer-lhe os nutrientes capazes de fortificar o espírito do ser solitário e, como diria o filósofo alemão Nietzsche: “mais que a doença, demonstra, da maneira mais radical, se um homem foi criado e predestinado para a vida; ou se, como a maioria, o foi para a morte”, colocando-o diante de uma aporia, pois “na solidão, o solitário se devora a si mesmo; na multidão devoram-no inúmeros. Então escolhe”.

Todavia, há que distinguir o ermo involuntário do voluntário. Aquele, prenuncia o sofrimento, pois destrói a potencialidade humana, reduz-lhe ao excremento não absorvido pela digestão existencial, tornando-a inapta a produzir frutos deleitosos. Esse, sendo ele voluntário,nos termos do religioso dominicano Henri Lacordairi, “inspira os poetas, cria os artistas e anima o gênio” tornando-se efetiva profilaxia contra as doenças da ordem vigente que insiste em apregoar a necessária presença quando o espírito reivindica pela indispensável ausência que no fundo é apenas um modo diferente de se fazer presença na ausência.

Mas se a solidão pode ser benéfica por que tantos a repudiam? Essa pergunta conduz-me a visitar a caixa de pandora guardiã dos valores e sentidos humanos e ao abri-la de relance, por medo de contaminar-me os sentidos, percebo o quanto a solidão pode macular os valores morais, éticos, religiosos erigidos há milênios e que a um passe alguns de seus pressupostos poder-se-ão ser destruídos pela autarquia própria dos seres solitários.

Desse modo, ao isolar-se em seu mundo-próprio repleto de literaturas, discursos, imagens, sons e ficções, todos rigorosamente joeirados, o solitário clama pela transcendência de seus sentidos, pela superioridade da comunicação só entendível por aqueles aos quais fora concedido e/ou alcançado tamanho desígnio.

Contudo, essa busca colossal por solilóquios é incompreendida pela grande maioria, que ainda presa nos imperativos de a impossibilidade da alma dialogar consigo mesma introjetam no solitário a esfinge impenetrável e antissocial, incapaz de viver, existir, ser. Essa incompreensão social causa a eles sofrimento maior do que o resultante da ausência da presença de outrens.

O solitário não é um suicida, talvez um autárquico homicida da moral imposta, que ao declarar-se soberano aos que dependem exaustivamente de existires externos será, sem sombra de dúvida, aniquilado, destroçado, calado pelo rebanho de seguidores incontestáveis da ordem vigente sob a égide de que “não são ilhas para viverem isolados”. Privando-os, assim, da deliciosa e difícil aventura proporcionada pelo ermo voluntário.

Por fim, fiquemos com um pensamento de Nietzsche sobre a solidão: “Minha solidão não tem nada a ver com a presença ou ausência de pessoas… Detesto quem me rouba a solidão, sem em troca me oferecer verdadeiramente companhia”.

Solidão

“Enquanto não atravessarmos a dor de nossa própria solidão, continuaremos a nos buscar em outras metades. Para viver a dois, antes, é necessário ser um”.

Fernando Pessoa

Dica Cultural

Fábio Guimarães de Castro

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