Haja Pau

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Gerou-se de um rapaz filho de uma rica viúva fazendeira que foi ao campo numa Sexta-feira da Paixão.

A velha reclamou-o e ele disse: vou, nem que haja pau.

Chegando no campo, correu atrás de um boi.

Este, adiante, no descer de uma ladeira, caiu.

O cavalo caiu por cima e o cachorro também.

E ai morreram os quatro (boi, vaqueiro, cavalo e cachorro), todos de pescoço quebrado.

Aí a alma do rapaz transformou-se em duende em forma de pássaro.

E à noite, especialmente noite de inverno, canta: Haja pau! Haja pau! Haja pau!

Haja Pau – História

Haja Pau era uma narrativa comumente contada no município de Canguaretama e em toda a região do litoral sul do Rio Grande do Norte com características claras das tradições indígenas tupis adaptada às necessidades da sociedade patriarcal.

O enredo ocorre dentro do que seria uma família tradicional de agricultores, mas com uma característica pouco comum, que era ter apenas um filho.

Geralmente as famílias possuíam muitas crianças entre seus membros.A narrativa começa com a mãe pedindo ao filho para que fosse levar o almoço para o pai, que estava trabalhando em um roçado afastado de casa.

Tomado de grande preguiça, o filho se recusava em servir à mãe e tentava se livrar do serviço, mas, com muita insistência, aceitou ajudar.

As instruções da mãe são claras: o filho deveria levar a comida, mas estaria proibido de comer antes que o pai se servisse, como era o costume da época.

Seguindo pelo caminho, o filho sentiu fome e não respeitou o pedido da mãe, resolvendo comer a refeição que era destinada ao pai. Depois de satisfeito, organizou as sobras na vasilha e seguiu seu destino como se nada tivesse acontecido.Ao sentar-se para comer, o pai percebeu que só havia restos para sua refeição e questionou o filho sobre o que significava aquilo.

No entanto, o filho nada esclareceu e disse apenas que trazia o que a mãe tinha lhe entregado.

O pai possesso de raiva, largou a enxada, deixou o serviço e voltou para casa para tirar satisfação com a mãe. Sem dar chance para a mulher se explicar, começou a castigá-la violentamente. Impotente, a mãe apanhava sem se defender.

O filho, vendo a situação, ria da mãe e gritava debochadamente: Haja pau, haja pau… A mãe, em sua triste posição, praguejou contra o filho, pedindo que ele fosse castigado.

Desta forma, o filho foi transformado numa ave de canto triste que vive no fundo das matas a repetir o que dizia o garoto: Haja pau, haja pau…Existem várias versões da história do Haja Pau e numa delas, a mãe é assassinada pelo pai. Isso teria feito o filho cair em grande tristeza pelo ocorrido e, sentindo-se culpado por ter causado tal situação. Teria, então, fugindo para a mata e ninguém nunca mais teve noticia dele.

Na mata, o garoto, teria se encantado para se transformar na ave que canta cheia de remorso: Haja pau, haja pau, haja pau haja pau…

Em outra versão, o filho já teria nascido vadio e malcriado, adorava maltratar os animais e destruir as plantas. Conta também que ele foi de má vontade e mentiu para o pai para se vingar da mãe, pois não queria obedecê-la. Teria dito, então, que mãe comeu o almoço com um homem que visitava a casa enquanto o pai trabalhava.Como características das narrativas míticas, o Haja Pau teria uma função pedagógica importante para ensinar padrões de comportamento para os jovens. A narrativa indica normas de conduta a serem seguidas na época, como o direito do pai de se servir primeiro.

O papel pedagógico das narrativas eram muito forte, pois era assim que as crianças aprendiam as regras sociais de seu tempo. Entre as normas aprendidas estariam a necessidade de obedecer aos pais, a divisão do trabalho por idade e sexo, e o temor de castigos sobrenaturais.

Essas histórias ajudavam a manter uma coesão social e criava relações de hierarquia dentro da família. É também uma narrativa que mostra a memória de uma época passada.

Há semelhanças com os enredos orais dos europeus como João e o pé de feijão e João e Maria, que relatam implicitamente as dificuldades que as famílias teriam em garantir a alimentação de todos os seus membros.

Fonte: ifolclore.vilabol.uol.com.br/historiadecanguaretama.blogspot.com.br

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