Conde, cujo ilustre peito (1595)

Redondilhas de Luís Vaz de Camões

Trovas

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mandadas ao Vizo-Rei, com o mato anterior:

Conde, cujo ilustre peito

merece nome de Rei,

do qual muito certo sei

que lhe fica sendo estreito

o cargo de Vizo-Rei;

servirdes-vos de ocupar-me,

tanto contra meu planeta,

não foi senão asas dar-me,

com as quais vou a queimar-me,

como faz a borboleta.

E se eu a pena tomar

que tão mal cortada tenho,

será para celebrar

vosso valor singular,

dino de mais alto engenho.

Que, se o meu vos celebrasse,

necessário me seria

que os olhos da águia tomasse,

só para que não cegasse

no sol de vossa valia.

Vossos feitos sublimados,

nas armas dinos de glória,

são no mundo tão soados

que em vós de vossos passados

se ressuscita a memória.

Pois aquele animo estranho,

pronto para todo efeito,

espanta todo o conceito,

como coração tamanho

vos pode caber no peito.

A clemência que asserena

coração tão singular,

se eu nisso pusesse a pena,

seria encerrar o mar

em cova muito pequena

Bem basta, Senhor, que agora

vos sirvais de me ocupar,

que assi fareis aparar

a pena com que algüa hora

vos vereis ao Céu voar.

Assi vos irei louvando,

vós a mim do chão erguendo,

ambos o mundo espantando:

vós, co a espada cortando,

eu, co a pena escrevendo.

Fonte: www.bibvirt.futuro.usp.br

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