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Finalmente, a idéia de um amálgama pacífico de diferentes grupos nas regiões montanhosas da Palestina para explicar as origens de Israel tem como defensores especialistas como Baruch Halpern, William Dever, Thomas Thompson e Donald Redford.
A opinião de R. K. Gnuse, que aqui se alinha, é de que este grupo de pesquisadores prevalecerá sobre os outros, por considerar melhor os pressupostos teóricos do debate atual[24].
Baruch Halpern foi um dos primeiros a descrever o processo de assentamento como uma complexa interação de diferentes grupos nas montanhas: poucos habitantes dos vales, muitos habitantes da região montanhosa, um grupo vindo do Egito com a experiência do êxodo, grupos vindos da Síria…
O grupo do Egito trouxe Iahweh, enquanto o grupo sírio, de agricultores despossuídos, trouxe a circuncisão e a proibição da criação do porco e criou o nome ‘Israel’ no século XIII a.C. Todos estes grupos foram reunidos pela necessidade de manter rotas de comércio abertas com a ausência do Egito na região.
Progressivamente controlaram também as planícies, levando ao surgimento da monarquia. Halpern sublinha ainda que o Israel histórico não é o Israel da Bíblia Hebraica, mas foi o Israel histórico que produziu o Israel bíblico.
William Dever já foi simpatizante do modelo da revolta de Gottwald, das propostas de Coote & Whitelam e do modelo de simbiose de Fritz. Hoje ele vê o surgimento de Israel entre as populações que praticavam a agricultura na Palestina e rejeita a dicotomia cananeu/israelita, dizendo que a distinção entre urbano e rural explica as diferenças, que são funcionais e não étnicas.
Para Dever Israel se formou de refugiados das cidades, ‘bandidos sociais’ (social bandits), alguns revolucionários, uns poucos nômades, mas, principalmente, cananeus saídos das cidades. Na região das montanhas eles progressivamente criaram uma identidade que os diferenciou dos cananeus das planícies.
Thomas L. Thompson, um dos mais polêmicos ‘minimalistas’ é ferrenho defensor de uma História da Palestina escrita somente a partir dos dados arqueológicos e crítico de qualquer história e arqueologia bíblicas.
Thompson observa que a população da Palestina permaneceu inalterada durante milênios, movendo-se os grupos entre as cidades das planícies e os povoados das montanhas segundo as estratégias de sobrevivência exigidas pelas mudanças climáticas, principal fator de transformação social e política da região. A população das montanhas era formada por nativos da região, que se misturaram com gente que veio das planícies, pastores de outras áreas e imigrantes da Síria, Anatólia e do Egeu.
A unidade política de Israel só aparece na época das interferências assírias na região, no século VIII a.C., no que diz respeito a Samaria, e no século VII a.C., quando Jerusalém, após a destruição de Lakish por Senaqueribe, torna-se líder da região sul, como cidade cliente da Assíria. Toda a ‘estória bíblica’ do império davídico-salomônico e dos reinos divididos de Israel e Judá é, para Thompson, pura ficção pós-exílica.
Por fim, Donald Redford, egiptólogo, defende que existe uma diferença entre os habitantes das planícies e os habitantes das montanhas. Ele sugere que o núcleo da população nas montanhas era formado por pastores que se sedentarizaram, mas que pastores shasu vindos de Edom, e trazendo consigo o culto a Iahweh, também ali se assentaram, dando início ao futuro Israel, para ele, distinto dos cananeus.
Conclusão
a. Qual é o modelo mais aceito na atualidade?
O modelo da instalação pacífica (de ALT/NOTH) sempre foi muito considerado. O modelo de MENDENHALL/GOTTWALD, de uma revolta de camponeses marginalizados que somam suas forças aos recém-chegados hebreus do êxodo foi o mais discutido até a década de 90. Outros, como o de LEMCHE, de uma evolução progressiva, ainda não conseguiram espaço nos manuais, mas são, hoje, os mais discutidos entre os especialistas.
b. Existe algum acordo mínimo sobre a questão?
O consenso dos especialistas tende a crescer na seguinte direção:
1. A arqueologia é importantíssima para definir o modo como Israel ocupou a região da Palestina
2. Os dados arqueológicos apóiam cada vez menos a versão da conquista tal como está no livro de Josué ou nas explicações dos norte-americanos
3. O elemento cananeu cresce em importância na explicação das origens de Israel.
c. Um modelo apenas explica tudo ou devemos recorrer a vários modelos?
Parece que não se pode usar um só modelo para explicar a ocupação de todo o território de Canaã, já que o processo de instalação parece ter sido diferenciado conforme as regiões e as circunstâncias. Parece provável que em cada região tenha havido um processo social específico que deve ser explicado.
d. Quais recursos devem ser usados para se elaborar um modelo explicativo?
Certamente a arqueologia, a análise minuciosa dos textos bíblicos (exceto para alguns ‘minimalistas’) e as ciências sociais. A contribuição da antropologia é cada vez maior para explicar estes mecanismos sociais antigos.
De qualquer modo, existe uma certeza: ainda surgirão muitos modelos explicativos para as origens de Israel e é possível que a solução definitiva esteja bem distante…
Fonte: www.airtonjo.com
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