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De Jeroboão I a Omri (cerca de 50 anos) houve muita instabilidade em Israel. Nadab foi assassinado por Baasa; seu filho Ela foi também assassinado por Zimri, que, por sua vez, se suicidou, quando viu a morte trazida pelo general Omri. Houve também vários conflitos com Judá por causa das fronteiras.
Omri, que deu um golpe militar em 885 a.C., foi um válido artífice da paz com Judá. Fez aliança com a Fenícia, casando seu filho Acab com Jezabel, filha de Etbaal, rei de Tiro. Levou vantagem no confronto com Moab e com os arameus de Damasco.
Omri construiu Samaria em 880 a.C. para capital do reino e desenvolveu bastante o país. Porém, como sempre, o progresso do país empobrecia largas camadas da população e levava a exploração classista ao máximo.
Sob Acab, filho de Omri, a situação do povo era muito difícil. O intenso comércio com a Fenícia aumentou a riqueza da classe dominante em Israel. Faltava dinheiro no país? O povo precisava de empréstimos? Os privilegiados emprestavam a juros exorbitantes. A lavoura não produzia quando a seca era forte? Os ricos vendiam mantimentos população camponesa, em “suaves prestações”…
Para termos uma idéia da situação: a partir desta época ficou muito comum o camponês se vender ao rico credor para saldar suas dívidas, trabalhando como escravo. Ou entregava seus filhos.
O rei – e sua gloriosa corte – puxava a procissão das explorações. Quem quiser conferir, leia o episódio exemplar da vinha de Nabot (1Rs 21).
Em Samaria, Acab construiu um templo para sua mulher Jezabel cultuar seu deus Baal. Até aí tudo bem. Isto era costume naquela época. Mas Jezabel arrastou a corte toda e a aristocracia atrás de si neste culto. Resultado: por todo o país proliferaram os sacerdotes de Baal.
O profeta Elias, contemporâneo de Acab, vai lutar com todas as forças contra tamanha deterioração do javismo e de seus ideais de justiça.
Originário do Galaad, Elias faz ver ao povo, segundo a interpretação deuteronomista dos livros dos Reis, que a idolatria e o abandono do javismo era um problema muito sério, de âmbito nacional e causador de todos os males que dominavam o país, o mais sério deles sendo a exploração da maioria da população.
Perseguido pela rainha Jezabel, que prontamente percebeu o perigo por ele representado contra o seu culto e os seus privilégios, Elias tornou-se no seu tempo um símbolo da fidelidade a Iahweh, como demonstra o significado de seu nome (Elias = só Iahweh é Deus). Suas ações estão narradas em 1Rs 17-22 e 2Rs 1-2, embora de forma lendária e extremamente carregadas pelas cores teológicas do Deuteronomista.
Encontrando muita oposição entre as autoridades religiosas e entre o próprio povo explorado, a dinastia de Omri vai cair de maneira violenta: Jeú, em 841 a.C., com a aprovação do profeta Eliseu, dá um golpe militar sangrento, assassinando toda a família de Jorão, o rei de turno.
Jeú e seus descendentes enfrentaram graves problemas na política externa: Jeú pagou tributo ao rei assírio Salmanasar III e perdeu a Transjordânia para Hazael, rei de Damasco.
Mas com a subida ao trono de Jeroboão II (782/1-753 a.C.) o país se recupera – também Judá, sob o governo de Ozias, cresce bastante nesta mesma época – graças a uma série de circunstâncias favoráveis.
Havia paz entre os dois reinos irmãos. A Síria fora vencida pela Assíria. Esta, por sua vez, atravessava um período de dificuldades. E então, livres de pressões maiores, os dois reinos começaram a sua expansão.
Jeroboão II, bom militar, levou a fronteira norte de seu país onde anteriormente a colocara Salomão (2Rs 14,23-29). Tomou Damasco e submeteu a Síria, inclusive as regiões da Transjordânia até Moab.
Israel controlou as rotas comerciais de então. Em Samaria os arqueólogos encontraram os restos de esplêndidos edifícios, provas da riqueza alcançada.
Porém, mais uma vez, o povo…
O sistema administrativo adotado por Jeroboão II foi aquele mesmo próspero e injusto de Salomão: concentração da renda nas mãos de poucos com o conseqüente empobrecimento da maioria da população.
Criaram-se extremos de riqueza e de pobreza. Os pequenos agricultores, endividados, viam-se nas mãos de seus credores, enquanto os tribunais, regados a bom dinheiro, só achavam a razão do lado dos ricos.
À desintegração social somou-se a religiosa. Com os santuários cheios de adoradores, bem providos do bom e do melhor, a religião javista foi sendo colocada de lado em favor de outros deuses menos exigentes quanto à justiça e à igualdade social.
Nesta época, os profetas Amós (ca. 760 a.C.) e Oséias (755-725 a.C.) destacaram-se na denúncia da situação em que se encontrava Israel.
Am 2,6-8
Assim falou Iahweh:
Pelos três crimes de Israel,
pelos quatro, não o revogarei!
Porque vendem o justo (tsaddîd) por prata
e o indigente (‘ebyôn) por um par de sandálias.
Eles esmagam sobre o pó da terra a cabeça dos fracos (dallîm)
e tornam torto o caminho dos pobres (‘anawim) ;
um homem e seu pai vão à mesma jovem
para profanar o meu santo nome.
Eles se estendem sobre vestes penhoradas,
ao lado de qualquer altar,
e bebem vinho daqueles que estão sujeitos a multas, na casa de seu deus.
Amós, com os termos tsaddîq (justo), ‘ebyôn (indigente), dal (fraco) e ‘anaw (pobre), designa as principais vítimas da opressão na sua época. Sob estes termos, Amós aponta o pequeno camponês, pobre, com o mínimo para sobreviver e que corre sério risco de perder casa, terra e liberdade com a política expansionista de Jeroboão II.
Am 6,4-6
Eles estão deitados em leitos de marfim,
estendidos em seus divãs,
comem cordeiros do rebanho
e novilhos do curral,
improvisam ao som da harpa,
como Davi, inventam para si instrumentos de música,
bebem crateras de vinho
e se ungem com o melhor dos óleos,
mas não se preocupam com a ruína de José.
Estes são, segundo Amós, os opressores de sua época. São os que vivem em palácios e acumulam (3,10), são as senhoras da alta sociedade (4,1), são os que constroem boas casas e plantam excelentes vinhas (5,11), são os que aceitam suborno na administração da justiça (5,12), são os que vivem no luxo e na boa vida (6,4-6), são os que controlam o comércio (8,4-6).
Enfim, “Amós, como outros profetas após ele, identifica os opressores com os que detêm o poder econômico, político e judicial”[2] .
Os 4,1-3
Ouvi a palavra de Iahweh, filhos de Israel,
pois Iahweh vai abrir um processo contra os habitantes da terra,
porque não há fidelidade (‘emeth) nem solidariedade (hesedh),
nem conhecimento de Deus (da’at ‘elohîm) na terra.
Mas perjúrio e mentira, assassínio e roubo,
adultério e violência,
e o sangue derramado soma-se ao sangue derramado.
Por isso a terra se lamentará, desfalecerão os seus habitantes
e desaparecerão os animais selvagens, as aves dos céus
e até os peixes do mar.
Temos aqui três categorias negativas superpostas:
a falta de conhecimento de Deus (da’at ‘elohîm), que se manifesta como ausência de fidelidade (‘emeth) e solidariedade (hesedh)
as desordens sociais, causadas pela falta de conhecimento: perjúrio, mentira, assassínio, roubo, adultério, homicídio
a morte, com a desagregação do universo. As feras, os pássaros e os peixes desaparecem. O homem fenece.
Portanto, segundo Oséias, a raiz mais profunda do mal é a falta de conhecimento de Deus. Que não é conhecimento intelectual ou cultual. É a experiência ou vivência do javismo que está em jogo. Oséias está dizendo que o problema em Israel é que não há mais espaço para os valores do javismo e isso causa a desagregação da sociedade.
Fonte: www.airtonjo.com
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