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O contexto histórico que apoiaria a teoria é o seguinte:
Os hicsos conquistam o Egito por volta de 1670 a.C. e o dominam durante um século. Sua capital é Avaris. Mas são expulsos por Amósis (1580-1558 a.C.), faraó da décima oitava dinastia que transforma o Egito na maior potência mundial. A capital volta a Tebas. Tutmósis III, também da décima oitava dinastia, levou o Egito ao auge de seu poder, estendendo seu domínio até o Eufrates.
À décima oitava dinastia pertencem ainda: Amenófis IV (1372-1354 a.C.) – também conhecido como Akhenaton, o faraó do culto a Aton -, que construiu nova capital, Akhetaton, arqueologicamente conhecida como El-Amarna; Tutankhamon, que é o último faraó desta dinastia e que volta ao antigo culto a Amon e traz a capital de novo para Tebas.
A XIX dinastia teve alguns nomes famosos:
Ramsés II, o faraó do êxodo
Merneptah, seu filho, que cita Israel em estela de 1220 a.C.
Estela de Merneptah
Os príncipes estão prostrados dizendo: paz. Entre os Nove Arcos nenhum levanta a cabeça. Tehenu [=Líbia] está devastado; o Hatti está em paz. Canaã está privada de toda a sua maldade; Ascalon está deportada; Gazer foi tomada; Yanoam está como se não existisse mais; Israel está aniquilado e não tem mais semente; O Haru [=Canaã] está em viuvez diante do Egito.
Ramsés II é quem fez a aliança de paz com os hititas, deixando um vazio político na Palestina. Sob a XX dinastia, a última do reino novo, o Egito vai progressivamente perdendo toda a sua influência na Ásia.
Vale citar aqui um longo trecho de J. G. Echegaray, O Crescente Fértil e a Bíblia: “Em 1286 a.C. aconteceu a célebre batalha de Cades, espetacular confrontação militar de Ramsés II com seu rival hitita Muwatalli. O exército egípcio compunha-se de quatro divisões que levavam nomes religiosos. A primeira, chamada divisão de Amon, na qual ia o faraó, induzida por um deficiente serviço de ‘inteligência’ que garantia que as tropas hititas ainda estavam longe, acampou ao norte da cidade de Cades. Atrás, a uma grande distância, aproximavam-se escalonadamente as divisões Rá, Ptah e Suteh. Então o exército hitita, ocultando-se, rodeou a cidade pelo sul e, saindo de um bosque, atacou a divisão Rá que acabava de atravessar o arroio Sabtuna (hoje El-Mukadiyeh).
A divisão foi desarticulada e posta em fuga. Alguns se refugiaram no acampamento de Ramsés, que foi objeto de ataque imediato. Embora a divisão Amon se defendesse valentemente com seu rei à frente, não teria podido resistir se não fosse a intervenção inesperada de um corpo expedicionário de cavaleiros ‘amorreus’ procedentes da costa, que vinham para se unir ao exército egípcio na qualidade de aliados. A chegada pouco depois da divisão Ptah pôs o exército hitita em fuga, que teve de se retirar às pressas e se refugiar na cidade de Cades. A última divisão egípcia, Suteh, que ainda não atravessara o Orontes, não chegou a intervir na contenda.
À vista dos acontecimentos, Ramsés II desistiu de tomar a cidade, abandoando sua missão de pacificar o país, deixando quase inteiro o exército inimigo encerrado na fortaleza, retirou-se ordenadamente para a Palestina. Não tinha sido uma verdadeira vitória, mas também não podia ser contado como uma derrota; o faraó, porém, a fez passar por um ressonante triunfo, que mandou gravar nas paredes dos templos de Tebas. A batalha na realidade fora um confronto entre as duas maiores potências do mundo. O exército egípcio era composto por cerca de 25.000 homens, mas só tinha 1.500 carros de combate. Pelo contrário, o exército hitita possuía 3.500 carros de combate”[15].
Os hicsos invadem o Egito e a Palestina, ocupando na região de Canaã, como bases centrais, Jericó e Siquém.
Bem, os hicsos introduziram na Palestina o uso do carro de combate, modificando todas as táticas de guerra então em uso. As populações locais (cananéias) tiveram que reforçar a defesa de suas cidades e abrigar em seu interior as populações mais atacadas pelos invasores.
Para rechaçar os hicsos, os egípcios da XVIII dinastia davam condições de defesa à Palestina, uma espécie de “feudo” seu: interesses estratégicos, comerciais (produtos do Líbano e rotas caravaneiras) etc levaram o Egito a estabelecer guarnições na Palestina e a cobrar tributo dos senhores, príncipes das cidades-estado cananéias.
As populações de baixa condição, vivendo ao abrigo das cidades e de seus exércitos locais, estava assim submetida ao príncipe cananeu, que estava submetido ao faraó egípcio. A espoliação se dava em dois níveis.
Quando o controle egípcio era menor, as cidades cananéias diminuíam ou interrompiam o pagamento do tributo, procuravam aumentar seus domínios a expensas de seus vizinhos e rivais etc. Mas a liberdade das cidades não era repassada para a população marginalizada!
Assim é descrita a situação nas cartas de Tell el-Amarna, escritas pelos governantes das cidades cananéias à corte egípcia de Amenófis III e de seu filho Amenófis IV (são 377 cartas escritas em acádico vulgar, com muitos cananeísmos, descobertas a partir de 1887).
Nos conflitos entre as cidades cananéias, seus governantes se acusam, nas cartas, da ajuda, feita pelo inimigo, aos hapiru: estes estariam conquistando cidades em Canaã e provocando revoltas[16]. Os hapiru revoltavam-se contra seus opressores cananeus e libertavam-se de seu controle.
Quando os israelitas do grupo de Moisés chegam a Canaã esta é a situação: confrontos generalizados entre as cidades, confronto entre os marginalizados e as cidades, vazio de poder egípcio porque Ramsés II não conseguiu vencer os hititas e foi obrigado a fazer um acordo com este povo da Ásia Menor.
Unidos pela esperança javista os recém-chegados juntam-se aos revoltosos, formando com eles uma mesma identidade social. Constituem um “governo” tribal, uma aliança tribal, e ocupam as regiões montanhosas, onde os cananeus, senhores das cidades, tinham perdido o controle.
Realmente, o livro de Gottwald suscitou uma grande polêmica e polarizou as atenções dos especialistas durante muito tempo. O modelo da retribalização ou da revolta camponesa passou a ser citado como uma alternativa bem mais interessante do que os modelos anteriores e fez surgir outras tentativas de explicação das origens de Israel. Muitas críticas também foram formuladas a Gottwald, sendo a de maior consistência a do dinamarquês Niels Peter Lemche, que em Early Israel. Anthropological and Historical Studies on the Israelite Society before the Monarchy, analisa longamente os fundamentos do modelo de Gottwald[17].
Segundo Lemche, Gottwald fundamenta suas teorias no estudo de Morton Fried, The Evolution of Political Society, New York, Random, 1967, mas faz um uso eclético de outras teorias e autores, de uma maneira que dificilmente qualquer um deles aprovaria. Mas a birra principal de Lemche com estes autores e suas teorias é que, segundo ele, os modelos derivados da corrente antropológica do “evolucionismo cultural” desconsideram a variável chamada Homem (enquanto indivíduo livre e imprevisível em suas ações) por não ser controlável.
Entretanto, um dos problemas do ecletismo de Gottwald é que embora se reporte às vezes a Marx, faz uma leitura do Israel pré-monárquico segundo a tradição durkheimiana. Nas palavras de A. D. H. Mayes: “Existem, porém, boas razões, para ver Gottwald neste contexto [durkheimiano] antes do que na tradição de conflito a que pertence Marx. As características distintivas da teoria de conflito, que entende a sociedade dentro do quadro da interação de diversas classes ou grupos de status, estão inteiramente ausentes do estudo de Gottwald: nele Israel surge como unidade harmoniosa e indiferenciada. Gottwald adota enfoque funcionalista da sociedade israelita, que tem certamente raízes na teoria social de Durkheim, e enfatiza sua dimensão estrutural sincrônica, antes que sua dimensão histórica diacrônica”
Teoria da Evolução Pacífica e Gradual
Quanto a esta teoria, vale a pena olharmos alguns autores que procuraram avançar a partir e além de Mendenhall e Gottwald. Como nos lembra R. K. Gnuse, as descobertas arqueológicas dos últimos anos encorajaram os pesquisadores na elaboração de novas maneiras de compreender as origens de Israel. As escavações de localidades tais como Ai, Khirbert Raddana, Shiloh, Tel Quiri, Bet Gala, Izbet Sarta, Tel Qasileh, Tel Isdar, Dan, Arad, Tel Masos, Beer-Sheba, Har Adir, Horvart Harashim, Tel Beit Mirsim, Sasa, Giloh, Horvat ‘Avot, Tel en-Nasbeh, Beth-Zur e Tel el-Fûl, deixaram os arqueólogos impressionados com a continuidade existente entre as cidades cananéias das planícies e os povoados israelitas das colinas. A continuidade está presente sobretudo na cerâmica, nas técnicas agrícolas, nas construções e nas ferramentas[19].
O crescente consenso entre os arqueólogos é de que a distinção entre cananeus e israelitas no primeiro período do assentamento na terra é cada vez mais difícil de ser feito, pois estes parecem constituir um só povo. As diferenças entre os dois aparecem apenas mais tarde. Por isso, os arqueólogos começam a falar cada vez mais do processo de formação de Israel como um processo pacífico e gradual, a partir da transformação de parte da sociedade cananéia. “A teoria sugere que, de alguma maneira, cananeus gradualmente tornaram-se israelitas, acompanhando transformações políticas e sociais no começo da Idade do Bronze”[20].
Os defensores deste ponto de vista argumentam com o declínio cultural ocorrido no Bronze Antigo, com a deterioração da vida urbana causada pelas campanhas militares egípcias, com a crescente tributação, e, talvez, com mudanças climáticas. Mas o processo de evolução pacífica de onde surgiu Israel é descrito de maneira diferente pelos especialistas, de modo que R. K.
Gnuse prefere classificar as teorias em quatro categorias, que são:
Retirada pacífica
Nomadismo interno
Transição ou transformação pacífica
Amálgama pacífico.
Fonte: www.airtonjo.com
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