Obras Literárias

junho, 2017

  • 5 junho

    A Casa

    Vinícius de Moraes Era uma casa Muito engraçada Não tinha teto Não tinha nada Ninguém podia Entrar nela não Porque na casa Não tinha chão Ninguém podia Dormir na rede Porque na casa Não tinha parede Ninguém podia Fazer pipi Porque penico Não tinha ali Mas era feita Com muito …

  • 5 junho

    A Cachorrinha

    Vinícius de Moraes Mas que amor de cachorrinha! Mas que amor de cachorrinha! Pode haver coisa no mundo Mais branca, mais bonitinha Do que a tua barriguinha Crivada de mamiquinha? Pode haver coisa no mundo Mais travessa, mais tontinha Que esse amor de cachorrinha Quando vem fazer festinha Remexendo a …

  • 2 junho

    Saudade de Manoel Bandeira

    Vinícius de Moraes Não foste apenas um segredo De poesia e de emoção Foste uma estrela em meu degredo Poeta, pai! áspero irmão. Não me abraçaste só no peito Puseste a mão na minha mão Eu, pequenino – tu, eleito Poeta, pai!, áspero irmão. Lúcido, alto e ascético amigo De …

  • 2 junho

    Samba em Prelúdio

    Vinícius de Moraes Esta história é verdade. Um tio meu vinha subindo a Rua Lopes Quintas, na Gávea — era noite — quando ouviu sons de cavaquinho provenientes de um dos muitos casebres que minha avó viúva permite nos seus terrenos. O cavaco cavucava em cima de um samba de …

  • 2 junho

    Sagitário

    Vinícius de Moraes As mulheres sagitarianas São abnegadas e bacanas Mas não lhe venham com grossuras Nem injustiças ou censuras Porque ela custa mas se esquenta E pode ser muito violenta. Aí, o homem que se cuide… – Também, quem gosta de censura! Fonte: www.viniciusdemoraes.com.br Permanent link to this post …

  • 2 junho

    Sacrifício

    Vinícius de Moraes Num instante foi o sangue, o horror, a morte na lama do chão. – Segue, disse a voz. E o homem seguiu, impávido Pisando o sangue do chão, vibrando, na luta. No ódio do monstro que vinha Abatendo com o peito a miséria que vivia na terra …

  • 2 junho

    Romanza

    Vinícius de Moraes Branca mulher de olhos claros De olhar branco e luminoso Que tinhas luz nas pupilas E luz nos cabelos louros Onde levou-te o destino Que te afastou para longe Da minha vista sem vida Da minha vida sem vista? Andavas sempre sozinha Sem cão, sem homem, sem …

  • 2 junho

    Riso

    Vinícius de Moraes Aquele riso foi o canto célebre Da primeira estrela, em vão Milagre de primavera intacta No sepulcro de neve Rosa aberta ao vento, breve Muito breve… Não, aquele riso foi o canto célebre Alta melodia imóvel Gorjeio de fonte núbil Apenas brotada, na treva… Fonte de lábios …

  • 2 junho

    Revolta

    Vinícius de Moraes Alma que sofres pavorosamente A dor de seres privilegiada Abandona o teu pranto, sê contente Antes que o horror da solidão te invada. Deixa que a vida te possua ardente Ó alma supremamente desgraçada. Abandona, águia, a inóspita morada Vem rastejar no chão como a serpente. De …

  • 2 junho

    Retrato de Maria Lúcia

    Vinícius de Moraes Tu vens de longe; a pedra Suavizou seu tempo Para entalhar-te o rosto Ensimesmado e lento Teu rosto como um templo Voltado para o oriente Remoto como o nunca Eterno como o sempre E que subitamente Se aclara e movimenta Como se a chuva e o vento …