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Folclore – O que é
O folclore é a expressão da cultura de um povo: artesanato e danças e brincadeiras e costumes, histórias e história oral, lendas, músicas, provérbios, superstições e outros comuns a uma população específica, incluindo as tradições dessa cultura, subcultura ou grupo social, também chamado frequentemente da mesma forma que o estudo dessas questões.
O folclore é o nosso DNA cultural. Inclui a arte, histórias, conhecimentos e práticas de um povo. Enquanto o folclore pode estar ligado à memória e às histórias, o folclore também está ligado a tradições vivas vibrantes e expressão criativa hoje.
Mas houve muitas discordâncias sobre o que exatamente o Folclore continha: alguns falavam apenas de histórias e crenças e outras festividades também incluídos e vida comum.
Mas se você pensar um pouco diferente, o folclore é e faz muito mais!
Do ponto de vista das pessoas que estudam o folclore e fazem parceria com as comunidades para apresentá-lo e preservá-lo, o folclore é uma das muitas maneiras de comunicar quem somos. Muitas vezes – mas certamente nem sempre – enraizado no passado, o folclore é uma das maneiras de compartilharmos uns com os outros as coisas que consideramos vitais e importantes.
É uma parte central da vida cotidiana e como entendemos o mundo hoje, e está no coração de todas as culturas – incluindo qualquer cultura que chamamos de nossa – em todo o mundo.
O folclore é uma parte fundamental do que significa ser humano.
O Folclore abrange uma ampla gama de tópicos, incluindo questões nas notícias, como notícias falsas, criptozoologia, lendas, feriados, memes da internet, música tradicional e mundial e o sobrenatural.
Os folcloristas são ativos em todas as áreas da nossa sociedade, estudando temas como educação, saúde, pobreza e imigração.
O folclore pode ser encontrado no seu trabalho (brincadeiras de bebedouro ou na época certa para plantar e colher), em sua casa (na caixa de receitas da sua família ou na colcha do seu sofá), ou na internet (os memes que você percorre ou os emojis você usa em vez de palavras).
Cada grupo com um senso de sua própria identidade compartilha, como parte central dessa identidade, tradições folclóricas – as coisas que as pessoas aprendem a fazer em grande parte através da comunicação oral e pelo exemplo: acreditar (costumes religiosos, mitos de criação, feitiços de cura), fazer (dançar, fazer música, costurar roupas), saber (como construir uma barragem de irrigação, como cuidar de uma doença, como preparar churrasco), fazer (arquitetura, arte, artesanato, música) e dizer (histórias de experiências pessoais, enigmas, letra da música).
Essas formas de acreditar e conhecer circulam entre pequenos grupos de pessoas. O conhecimento local geralmente responde, aumenta e preenche as lacunas entre seu próprio entendimento e o conhecimento criado por grupos maiores, mais dominantes ou dominantes. O folclore afirma a identidade do grupo, desafia as normas culturais e fornece exemplos de maneiras de viver uma boa vida.
A palavra “folclore” nomeia uma dimensão enorme e profundamente significativa da cultura.
Folclore – História
O conceito de folclore desenvolveu-se como parte da ideologia do nacionalismo romântico do século XIX, levando à reformulação das tradições orais para servir aos objetivos ideológicos modernos; somente no século 20 os etnógrafos começaram a tentar registrar o folclore sem objetivos políticos evidentes. Os Irmãos Grimm, Wilhelm e Jakob Grimm, coletaram contos alemães transmitidos oralmente e publicaram a primeira série como Kinder-und Hausmärchen (“Contos de Crianças e Domésticos”) em 1812.
O termo foi cunhado em 1846 por um inglês, William Thoms, que queria usar um termo anglo-saxão para o que era então chamado de “antiguidades populares”.
Johann Gottfried von Herder primeiro defendeu o registro deliberado e a preservação do folclore para documentar o autêntico espírito, tradição e identidade do povo alemão; a crença de que pode haver tal autenticidade é um dos princípios do nacionalismo romântico que Herder desenvolveu. A definição mais amplamente aceita pelos estudiosos atuais do campo é “comunicação artística em pequenos grupos”, cunhada por Dan Ben-Amos, um estudioso da Universidade da Pensilvânia, e o termo, e o campo de estudo associado, agora incluem formas de arte e práticas costumeiras.
Embora o folclore possa conter elementos religiosos ou míticos, também se preocupa com as tradições às vezes mundanas da vida cotidiana.
O folclore frequentemente liga o prático e o esotérico em um pacote narrativo. Muitas vezes tem sido confundido com mitologia, e vice-versa, porque se supõe que qualquer história figurativa que não pertença às crenças dominantes da época não tem o mesmo status dessas crenças dominantes. Assim, a religião romana é chamada de “mito” pelos cristãos.
Dessa forma, mito e folclore tornaram-se termos genéricos para todas as narrativas figurativas que não correspondem à estrutura de crença dominante. Às vezes, o “folclore” é de natureza religiosa, como os contos do galês Mabinogion ou os encontrados na poesia escáldica islandesa.
Muitos dos contos da Lenda Áurea de Jacob de Voragine também incorporam elementos folclóricos em um contexto cristão: exemplos dessa mitologia cristã são os temas tecidos em torno de São Jorge ou São Cristóvão. Neste caso, o termo “folclore” está sendo usado em sentido pejorativo. Ou seja, embora os contos de Odin, o Andarilho, tenham um valor religioso para os nórdicos que compuseram as histórias, por não se enquadrarem em uma configuração cristã, não são considerados “religiosos” pelos cristãos que podem se referir a eles como “folclore”. ”
Os contos populares são um termo geral para diferentes variedades de narrativa tradicional. A narração de histórias parece ser um universal cultural, comum às sociedades básicas e complexas.
Mesmo as formas que os contos populares assumem são certamente semelhantes de cultura para cultura, e estudos comparativos de temas e formas narrativas têm sido bem sucedidos em mostrar essas relações.
Também é considerado um conto oral a ser contado para todos.
Por outro lado, o folclore pode ser usado para descrever com precisão uma narrativa figurativa, que não tem conteúdo sagrado ou religioso. Na visão junguiana, que é apenas um método de análise, pode pertencer a padrões psicológicos inconscientes, instintos ou arquétipos da mente. Esse conhecimento pode ou não ter componentes do fantástico (como magia, seres etéreos ou a personificação de objetos inanimados). Esses contos populares podem ou não surgir de uma tradição religiosa, mas, no entanto, falam de questões psicológicas profundas. O folclore familiar, “Hansel and Gretel”, é um exemplo dessa linha tênue. O propósito manifesto do conto pode ser principalmente uma instrução mundana sobre segurança na floresta ou, secundariamente, um conto de advertência sobre os perigos da fome para famílias numerosas, mas seu significado latente pode evocar uma forte resposta emocional devido aos temas e motivos amplamente compreendidos, como “A Terrível Mãe”, “Morte” e “Expiação com o Pai”. Pode haver um escopo moral e psicológico para o trabalho, bem como um valor de entretenimento, dependendo da natureza do narrador, do estilo da narrativa, das idades dos membros da platéia e do contexto geral da performance. Os folcloristas geralmente resistem a interpretações universais de narrativas e, sempre que possível, analisam versões orais de narrativas em contextos específicos, em vez de fontes impressas, que muitas vezes mostram o trabalho ou o viés do escritor ou editor.
Narrativas contemporâneas comuns no mundo ocidental incluem a lenda urbana. Existem muitas formas de folclore que são tão comuns, no entanto, que a maioria das pessoas não percebe que são folclore, como enigmas, rimas infantis e histórias de fantasmas, rumores (incluindo teorias da conspiração), fofocas, estereótipos étnicos e costumes e vida de férias -rituais de ciclo.
Folclore – Categorias
VAQUEIRO MISTERIOSO
Por todo o Nordeste brasileiro contam histórias sobre um vaqueiro muito humilde, aparentemente frágil, mal vestido, montado num cavalo velho, com um chapéu gasto a lhe ocultar o rosto. Não se sabe de onde vem, nem seu verdadeiro nome. Ninguém lhe dá atenção nem dá nada por ele.
Quando se oferece para participar de vaquejadas ou outros certames com gado, zombam e caçoam do forasteiro. Acontece, porém, que na hora das disputas ele se revela um vaqueiro hábil como ninguém, conhecedor de grandes segredos. Seu cavalo torna-se então, um veloz e belígero ginete. Ele reúne todo o gado, no curral, sozinho e em pouco tempo. Domina facilmente os mais ferozes touros. Nas vaquejadas, não há novilho, não há garrote, que escape à derrubada do vaqueiro misterioso. Enfim, acaba sendo ele o grande campeão.
Terminados os torneios e as festas, ele, alegre, bom garfo e grande bebedor, recusa os sedutores convites das mulheres, assim como as ofertas dos fazendeiros de bem remunerados trabalhos; apenas recebe os prêmios e se vai, para reaparecer depois em outras paragens. Câmara Cascudo o registrou como mito (Mitos Brasileiros); Alceu Maynard Araújo, como lenda (20 Lendas Brasileiras).
VITÓRIA-RÉGIA
Era uma vez uma jovem e muito bonita índia, chamada Naiá, que se apaixonou pela lua ao ouvir as histórias de que esta era um belíssimo e poderoso guerreiro que, quando se enamorava de alguma índia, levava-a consigo para o céu e a transformava numa linda estrela.
Naiá, depois de se apaixonar pela lua, passou a não se interessar por nenhum dos seus inúmeros pretendentes, mantendo-se fiel a seu sonhado guerreiro. Numa das noites em que vagava pelas matas, ao ver a imagem da lua refletida num lago, acreditando ser o seu amado, atirou-se nas águas profundas do lago e morreu afogada.
A lua, então, que não fizera de Naiá uma estrela no céu, transformou-a numa estrela das águas, fazendo com que seu corpo de índia se tornasse uma imensa e linda flor, cujas pétalas à noite se abrem, para que o luar ilumine sua corola rosada. Essa flor é a vitória-régia.
DANÇAS
Das mais remotas manifestações culturais da humanidade, a dança, nos primórdios, era integrante de rituais religiosos e mágicos, de cuja prática existem milenares registros arqueológicos.
Ainda hoje, verifica-se o uso da dança como manifestação de devoção, com caráter religioso, a exemplo de algumas que logo veremos no decorrer deste artigo. Com o tempo, a dança deixou de ter apenas motivação religiosa e passou a adquirir função recreativa e estética, fazendo-se presente em todas as sociedades humanas. Atualmente, é usada inclusive com finalidade terapêutica.
DANÇA FOLCLÓRICA
Diversamente das danças “da moda”, fomentadas pelos meios de comunicação de massa, ou da dança clássica, erudita, a dança folclórica caracteriza-se por se situar e se desenvolver dentro da cultura espontânea, informal, ou seja, é aprendida pela observação e imitação direta, pela repetição e pela tradição, sem a intervenção da cultura erudita, sem a direção de coreógrafos.
Os estudiosos do tema classificam-nas de diversas maneiras.
Alguns as enfeixam em três grupos: danças “religiosas” (São Gonçalo, por exemplo), “guerreiras” (Quilombo, Maculelê) e “profanas” (Lundu, Coco). Outros o fazem, segmentando-as de acordo com sua “forma” (par solto ou unido, fileiras, roda); “possível origem” ou influência (européia, indígena); e sua “finalidade” (de intenção religiosa ou profana).
Outras formas de sistematização são também apresentadas, tais como, “quanto ao período em que são celebradas”; “quanto ao espaço de realização” (dança de salão, dança de terreiro); “quanto indumentária”; “quanto à área geográfica”, entre outras.
FOLGUEDOS
“Considerados pelos estudiosos como a principal característica das festas tradicionais, religiosas ou não, os folguedos populares englobam brincadeiras, diversões, artes e artesanato, danças e bailes, músicas e cantorias, jogos e sortes, o comércio de artigos regionais, os autos e as representações teatrais (…), as pantomimas e os teatros de bonecos, entre muitos outros”, ensina Emília Biancardi, em “Raízes Musicais da Bahia” (pág. 55, grifamos).
O termo “folguedo” tem, portanto, várias acepções, mas a tendência entre a maior parte dos folclo-ristas é de usá-lo restritivamente, num sentido mais específico, para designar as manifestações em que existe alguma representação dramática, com personagens definidos.
Segundo Maria de Lourdes Borges Ribeiro, a dança folclórica “é a manifestação de um grupo de estrutura simples, apenas mestre e dançadores, com coreografia própria, sem texto dramático, com ou sem indumentária determinada”; “o grupo de folguedo tem uma estrutura complexa, com mestre, dançadores, per¬sonagens com hierarquia e atuação definida, indumentária determinada, elementos tradicionais, ensaios, parte dramática” (em “Folclore”, Biblioteca Educação e Cultura, MEC).
Veríssimo de Melo, por sua vez, diverge, considerando equivalentes os termos danças e íolguedos populares, apresentando uma outra distinção entre folguedos e autos): “Entre as danças folclóricas, em geral, há que se separar os autos populares ou danças dramáticas (…) das outras danças ou folguedos populares. Os autos apresentam um enredo, uma estória. Os folguedos circunscrevem-se à coreografia, ritmo e música” (“Folclore Brasileiro – Rio Grande do Norte”).
Muitos folcloristas, entretanto, referem-se ao “bumba-meu-boi”, por exemplo, como auto ou como folguedo, indistintamente. São, enfim, amplas a diversificação terminológica e as distinções entre os fenômenos denominados. Usam-se “dança dramática”, “auto”, “folgança”, “bailado”, “cortejo”.
Para Maria Amália Corrêa Giffoni em “Experiência de Pesquisa e Aplicação Didática de Danças Folclóricas”, folguedos, ou bailados, danças-dramáticas e autos constituem denominações diferentes do mesmo fato folclórico, incluindo cortejo, danças, cantorias e declamação (Anuário do 28° Festival do Folclore).
Não obstante as divergências, é oportuno ressaltar que a grande mai¬oria dos autores utiliza os termos “danças” e “folguedos” quando tratam do assunto.
Do mesmo modo, consta do Capítulo IX do texto resultante da “Releitura” da Carta do Folclore Brasileiro, produzido no VUI Congresso Brasileiro de Folclore, em dezembro de 1995, em Salvador, Bahia: “Grupos Parafolclóricos – São assim chamados os grupos que apresentam folguedos e danças folclóricas (…)”.
Poderíamos, então, estabelecer esta distinção: a existência de dramatização e de personagens específicos, presentes no folguedo, o distingue da dança. Há, no entanto, manifestações em que a dança é apenas parte, mas não essencial, de determinado “folguedo”, podendo inclusive nem ocorrer, assim como, em alguns “Bois”, por exemplo, o episódio da morte e da ressurreição do animal pode também não ser encenado.
Sendo assim, consideramos oportunas as conceituações de Américo Pellegrini Filho, segundo o qual Dança Folclórica é “forma de expressão tradicionalmente popular que se baseia em movimentos rítmicos do corpo ou parte dele (especialmente os pés), em geral acompanhados por música e canto, e aprendida de modo informal por contatos interpessoais” (“Danças Folclóricas”, pág. 26, 2a edição, Ed. Esperança); e Folguedo é “forma folclórica com estrutura, personagens e às vezes enredo, incluindo comumente danças ou coreografias reduzidas.
E integrado, geralmente, por pessoas mais ou menos constantes que mantêm um tema central tradicional. Pode não ocorrer a representação teatral (o desenvolvimento de um enredo), mas pelo menos se observam a organização de cortejo, a estrutura coletiva, os trajes especiais. Desse modo, o folguedo popular é uma forma folclórica mais ampla e complexa que a dança e chega mesmo a incluir danças” (op. cit. pág. 27).
PARAFOLCLORE
O termo “parafolclore”, formado pelo prefixo grego para (“perto de”, “ao lado de”) e folclore (cultura popular), foi criado para designar o aproveitamento de produtos da cultura popular pelos meios eruditos.
Nesta modesta abordagem do assunto, trataremos apenas superficialmente da utilização das danças folclóricas com propósito estético.
GRUPOS PARAFOLCLÓRICOS
Dança parafolclórica é aquela baseada ou inspirada em uma dança folclórica, diferenciando-se desta por ser desenvolvida por dançarinos profissionais ou estudantes, sob a direção de um coreógrafo, com motivação estética e propósito artístico-espetacular. (Esse é o conceito comum, mormente entre os mais tradicionalistas. No entanto, há que se ressaltar a existência de grupos parafolclóricos que têm também outros propósitos, especialmente no sentido de difundir tradições folclóricas para fins didáticos).
São apresentadas pelos denominados Grupos Parafolclóricos, que pesquisam e reelaboram as danças e folguedos folclóricos, adaptando-os, a seu critério, para apresentá-los nos palcos.
A dança é artisticamente reinterpretada. O figurino é enriquecido. A coreografia é reelaborada. Modificam-se alguns passos das danças tradicionais, acrescentam-se outros, tudo em conformidade com os efeitos cênicos almejados. E o folclore “estilizado”.
Alguns grupos parafolclóricos orgulham-se de serem “o mais fiéis possível ao ‘autêntico’”. Outros discordam, argumentando que, se o objetivo for simplesmente imitar e copiar passo a passo a manifestação que se pretende projetar, nada de artístico se lhe acrescentará.
Também é usada a expressão “projeção folclórica”, preferida por alguns folcloristas.
“Uma dança folclórica é folclore autêntico quando executada pelo grupo folk que a guarda em seu contexto cultural. Executada por alunos de um estabelecimento, respeitado o modelo folclórico, é folclore aplicado.
Apresentada em teatro, por profissionais, modificada num ou noutro ponto para satisfação estética de uma determinada clientela, é projeção do folclore”, ensina Maria de Lourdes Borges Ribeiro (op. cit).
Rogers Ayres, referindo-se aos diversos eventos de que participou como Balé Folclórico de Alagoas – Grupo Transart, declara que em todos eles “a marca do novo estava presente. Estudiosos, coreógrafos, professores e ensaiadores estão dando um novo formato desses eventos para que eles sobrevivam. Renovar para se eternizar. E isso o que fazemos quando restauramos uma obra de arte”.
“Os parafolclóricos surgiram para homenagear os folclóricos de raiz. Os grupos nascem nas escolas, nas academias e também nas comunidades simples ou ricas para continuarem uma tradição que não deverá desaparecer totalmente” (Anuário do 40a Festival do Folclore, pág. 31).
Segundo o Capítulo IX do texto resultante da “Releitura” da Carta do Folclore Brasileiro, produzido no VIII Congresso Brasileiro de Folclore, em dezembro de 1995, em Salvador, Bahia:
“(…) GRUPOS PARAFOLCLÓRICOS”
1.São assim chamados os grupos que apresentam folguedos e danças folclóricas, cujos integrantes, em sua maioria, não são portadores das tradições representadas, organizam-se formalmente e aprendem as danças e os folguedos através do estudo regular, em alguns casos, exclusivamente bibliográfico e de modo não espontâneo.
2.Recomenda-se que tais grupos não concorram em nenhuma circunstância com os grupos populares e que, em suas apresentações, seja esclarecido aos espectadores que seus espetáculos constituem recriações e aproveitamento das manifestações folclóricas.
3.Os grupos parafolclóricos consti¬tuem uma alternativa para a prática de ensino e para a divulgação das tradições folclóricas, tanto para fins educativos como para atendimento a eventos turísticos e culturais”.
Bastante oportunos os comentários de Gustavo Cortes sobre o item 2 do Capítulo IX da Releitura da Carta do Folclore Brasileiro: “O que me parece mais importante é refletir o parafolclore como questão relacionada à arte e à educação.
Por se tratar também de manifestação artística na forma e conteúdo, o artista que utilizar da projeção folclórica terá a liberdade de expressar o seu trabalho com caráter único, pois a visão da arte é específica e vai de acordo com as experiências vividas pelo seu autor.
Contudo, a expressão artística deverá ter o cuidado de ser baseada em estudos que não agridam a manifestação autêntica, sendo coerente com a pesquisa realizada, sem perder a particularidade na criação do trabalho.
Se a intenção da projeção folclórica for apenas copiar o fato existente, não trará nada a acrescentar em termos de arte.
E importante ficar claro para o público qual o tipo de trabalho a que ele irá assistir. Assim, não haverá a ocorrência de competição entre as manifestações que já são diferentes entre si, como ficou registrado no 2a item da carta” (Boletim da Comissão Mineira de Folclore n° 25).
Vejamos alguns folguedos e danças, ecoando antes, as sábias palavras do eminente Alceu Maynard Araújo, segundo o qual “uma das mais sérias dificuldades encontradas em nosso país, com referência aos estudos da demopsicologia, é a denominação dada às danças, às cerimônias religiosas populares e aos instrumentos musicais, pois variam de região para região” (“Folclore Nacional”, Vol. II, “Danças * Recreação * Música”, pág. 231, Ed. Melhoramentos).
BOI
Animal cultuado pelo mundo e também entre nós, em torno da fi¬gura do boi (uma importante fonte de trabalho e de renda), existem lendas e outras narrativas que marcaram no Brasil sua presença em nosso folclore.
Uma das versões sobre sua origem é a de que estaria relacionada a um antigo culto ao deus egípcio da fertilidade (Apis), representado por um boi, que morria e ressuscitava, também praticado em outras regiões da Africa. Esse culto então teria sido trazido ao Brasil pelos escravos africanos.
O auto do boi apresenta um enredo básico em quase todo o país: a negra Catirina, grávida, com desejo de comer língua de boi, mas a do mais belo da fazenda. Seu marido, o “Pai Francisco” ou “Pai Chico”, trabalhador na fazenda, mata o animal pertencente a seu patrão para atendê-la. O boi é morto.
O patrão por ele reclama, e depois de muitos entre¬meios de personagens caricaturados da sociedade, que vêm opinar sobre o ocorrido, o criminoso é descoberto. Rezas, rituais má¬gicos e remédios se seguem.
O boi ressuscita e tudo vira festa.
Das diversas formas em que esse folguedo é apresentado em todas as regiões brasileiras, exemplifiquemos com os seguintes:
BOI-DE-MÁSCARA
Essa difere dos tradicionais bois do Norte brasileiro por seu ritmo e pelo uso de máscaras e “cabeções” pelos dançarinos. Não há a encena¬ção do enredo.
Teria surgido no município paraense de São Caetano de Oliva.
BOI-BUMBA de Parintins, Amazonas
Megaevento, dos maiores do país, a festa do boi-bumbá de Parintins, Amazonas, é ali realizada há mais de oito décadas, no mês de junho, atualmente no “Bumbó-dromo”, a grande arena onde ocorrem as apresentações.
Há um destaque maior para a presença de elementos indígenas, que o distingue do Bumba-meu-boi mara¬nhense (ressalte-se, porém, que o boi-bumbá é filho direto do bumba-meu-boi do Nordeste).
Também se diferencia de outros bois pelo ritmo, pela indumentária, pela coreografia e personagens utilizados. Monumentais carros alegóricos e ricos figurinos fazem parte das apresentações, nas quais são evocados fatos, lendas e qualidades da Amazônia.
Uma acirrada disputa se trava entre os bois “Garantido”, em que prevalece a cor vermelha, e “Caprichoso”, em que predomina a cor azul.
BUMBA-MEU-BOI
Do Nordeste, especialmente no Maranhão, onde é um dos maiores festejos brasileiros, o Bumba-meu-boi prima pela riqueza e diversidade do figurino e dos elementos rítmicos e coreográficos. É usado o termo “sotaque” para as músicas que acompanham os bois maranhenses.
O que os distingue são os instrumentos musicais utilizados e a cadência do ritmo imprimido a cada espécie. Dentre as figuras se destacam o Pai Francisco, a Catirina, Dona Maria (mulher do amo), pajé, índios, vaqueiros, cazumbás (espé¬cies de palhaços, mascarados). Em outros Estados nordestinos, há variantes como o Boi-de-Reis, no Rio Grande do Norte, e o “Cavalo- Marinho”, especialmente em Pernam¬buco e Paraíba.
Neste último, além da figura do boi, se destaca, entre várias outras, a do Cavalo-Marinho, espécie em torno da qual o povo criou diversas lendas. No Boi-de-Reis, há também outras, como os Galantes (ricamente vestidos, adornados com fitas coloridas e espe¬lhos); os Mascarados (trajando rou¬pas surradas, com os rostos pinta¬dos de tisna) e outras figuras de bi¬chos e assombrações.REIS-DE-BOI
E um folguedo que homenageia os Santos Reis, no qual se realiza o auto do boi, de grande ocorrência no Estado do Espírito Santo, especialmente nos municípios de Conceição da Barra e de São Mateus, estendendo-se a alguns do sul da Bahia. Compõe-se de vários elementos: o Boi, personagem principal, o Vaqueiro, Pai Francisco e a Catirina, João Mole (um boneco desengonçado), um grupo de marujos e outras figuras representando animais, monstros e fantasmas.
BOI DO NATAL
Na região Centro-Oeste, ocorre também o folguedo chamado “Boi do Natal”, com o mesmo tema dos outros “bois”, qual seja, o animal morto e ressuscitado. O que muda são alguns personagens, informa Carlos Felipe de Melo Marques, havendo lugar “para um caboclo, o Gregório; para um negro, o Mateus; e para um índio, o Caipora. Entre cantos, danças e palavras, o boi e seus companheiros, a mulinha, o cavalo de fogo e o jacaré brincam no meio do povo” (“O Grande Livro do Folclore”, pág. 197, 2a Edição, Ed. Leitura).
BOI-DE-MAMÃO
Na região sul, especialmente em Santa Catarina, o “Boi” é o Boi-de-mamão. O conhecido enredo é encenado, mas outras figuras são nele introduzidas, como as de bonecos gigantes e outros animais. O nome “boi-de-mamão”, segundo alguns autores, se referiria a um mamão verde que teria sido usado, às pressas, na confecção da figura do boi para mostrá-la a umas crianças.
MARUJADA
Antigo folguedo, de origem portuguesa, que retrata tanto os dramas enfrentados pelos marujos como os seus heróicos feitos em alto-mar, descobrindo terras, vencendo batalhas, em especial contra os mouros.
Esse folguedo conserva vestígios dos antigos autos portugueses da Nau Catarineta (antigo romance oral, de origem ibérica, cuja narrativa trata do desaparecimento de um navio português regressando de colônias).
Vários personagens fazem parte desse folguedo: o Almirante, o Capitão-de-mar-e-guerra, Capitão-de-fragata, marujos, cristãos, mouros, entre outros.
O figurino dos membros do grupo lembra o dos antigos marinheiros.
A denominação varia ao longo das regiões em que aparece no Brasil:
Marujada, Marujos, Fragata, Barca, Chegança, Chegança de Marujos. No Nordeste, alguns se denominam, curiosamente, “Fandango”, o qual, segundo Rogers Ayres, diretor do Balé Folclórico de Alagoas – Grupo Tran-sart, “corresponde Marujada de outros Estados brasileiros”. Rogers acrescenta que “o único grupo existente atualmente em Alagoas está localizado no Pontal da Barra e é dirigido pelo mestre Aminadab”.
Em Minas Gerais, informa Gustavo Cortes, há os “Marujos”, que se apresentam nas festividades de Nossa Senhora do Rosário, de São Benedito e de Santa Efigênia, vestidos com os trajes típicos de marinheiros, ostentando o ro¬sário de lágrimas na cintura.
A Marujada de Bragança/PA, no entanto, muito difere dos demais folguedos existentes no Brasil. E composta por mulheres, às quais cabe o comando e a organização da festividade; os homens são apenas acompanhantes e tocadores. Não há muitas personagens além da Capitoa e da Sub-capitoa. As marujas vestem blusa branca, toda rendada e saia comprida rodada, vermelha ou azul.
Usam uma fita, a tiracolo, azul ou encarnada, de acordo com a cor da saia, bem como um chapéu cheio de plumas e de fitas de várias cores. E realizada no dia de São Benedito, no dia de Natal, no mês de dezembro e no dia Ia de janeiro. Não há dramatização na Marujada de Bragança nem alusões à Nau Catarineta oú a feitos marítimos.
PAU-DE-FITA
Considerada uma dança universal, é a sobrevivência de antigos rituais de cultos às árvores. Muitos povos dançaram em torno delas, que são símbolos de fertilidade, adornando-as de várias cores. Um dia, alguém a enfeitou com fitas. Mais tarde, alguém tomou dessas fitas enquanto dançava. O exemplo foi imitado e a coordenação de movimentos deu origem à dança.
Do topo de um mastro de cerca de três metros de comprimento, partem fitas coloridas. Os dançadores, em torno do mastro, cada um segurando uma fita, vão trançando-as, formando figuras.
O número de dançantes deve ser sempre par para que as “tramas” ou “tranças” possam ser levadas a bom termo.
Dançada em quase todas as regiões do Brasil, recebe diferentes nomes, conforme o local: Tipiti, Dança-das-fitas, Dança de trançar, Folguedo-da-trança, Trança-fitas, entre outros.
QUADRILHA
Típica de festejos juninos, a Quadrilha surgiu como dança aristocrática, proveniente dos salões da França, divulgada depois entre os europeus. Introduzida no Brasil como dança de salão, ela foi apropriada e reelaborada ao sabor popular.
Dos salões nobres, foi levada à zona rural, de cujas festividades é normalmente parte. Propagou-se pelas cidades e hoje é tradicionalmente dançada nas festas juninas. Há competições de Quadrilhas nas grandes festas.
Um “casamento na roça” é às vezes encenado.
Várias são as figurações que os dançarinos desenvolvem, sob o comando de um mestre, o “marcante” ou “marcador”:
CANA-VERDE
E uma dança proveniente da província portuguesa do Minho, Portugal, que por aqui muito se disseminou. Encontram-se diferentes versões dessa dança em vários Estados brasileiros, quanto à coreo¬grafia e à música.
Também chamada Caninha-verde.
Outros folcloris-tas discordam, a exemplo de Alceu Maynard Araújo (op. cit, pág. 182), que cita também Corné¬lio Pires, para os quais “não se deve confundir a dança portuguesa da ‘Caninha-verde’ com a nossa ‘Cana-verde’”.
Entretanto, a confusão já está feita. Na “Caninha-verde” do Ceará, único local em que a dança se apresenta da forma a seguir descrita, a indumentária, aliás, se baseia em trajes da corte portuguesa no Brasil, mas com um exagero carnavalesco bem próprio dos brasileiros.
No decorrer da coreografia, os “nobres” saem dançando, envolvidos pelos súditos, todos muito festivos, “a cantar” e “a dançar” ao som de pandeiros, bandolim, violão e cavaquinho. Na Cana-verde gaúcha, a dança é mais lenta, predominando a alternância de passos de juntar e de recuo, com giros dos cavalheiros e damas, ora com seus respectivos braços direitos entrelaçados, ora com os esquerdos (frentes dos corpos ao contrário), ao som da conhecida música “Eu plantei a cana-verde, sete palmos de fundura (…) não levou nem sete dias, a cana estava madura”. Da “Cana-verde de passagem”, paulista, trataremos oportunamente, no rol das danças da região Sudeste.
XOTE
E uma dança de salão, aristocrática, que saiu das “altas rodas”, incorporando-se aos bailes populares. São usuais as pronúncias xote e xotes. Alguns dizem que a origem dessa dança é alemã; outros, escocesa; outros, ainda, holandesa. Alceu Maynard preferiu dizer que é de origem européia (schotisch).
No Norte do Brasil, há o Xote Bragantino (de Bragança Paraense, Pará), que também faz parte da Marujada em Bragança, dançado por pares, sempre em roda, em meio a volteios e batidas fortes dos pés contra o chão, na cadência da música, cujo passo principal é a saudação entre os cavalheiros e as damas (estas, com os braços esticados, sustém levemente, com as pontas dos dedos, parte de seus vestidos, próxima barra, fazendo uma ligeira genuflexão; aqueles fazem uma flexão de tronco, frente delas, cumprimen-tando-as).
No Nordeste, região do país em que é mais executado, ao som das sanfonas ou foles nos bailes populares, o xote é dançado de diversas maneiras, havendo muitas variantes: xote pé-de-serra, xote batido, xote pé-de-parede. Xote, aliás, é um dos ritmos de forró na região mais festeira do Brasil, valendo lembrar que não há um tipo especial de música denominada “forró”; este termo designa o local e a reunião de dançadores, onde são tocados xotes, xaxa-dos, baiões, entre outros ritmos.
No Rio Grande do Sul, onde se amoldou à instrumentação típica, mormente a “cordeona”, há também algumas variantes, dentre as quais se destacam o Xote-carreirinho variante cuja maior característica é um movimento coreográfico em que os pares, enlaçados, dão passos ligeiramente “arrastados” e sapateados, numa “cor-ridinha” bem como uma outra muito curiosa, o “Xote de duas damas”.
Nessa última modalidade coreográfica “realmente excepcional”, “não só no meio rio-grandense, como no meio universal”, no dizer de Paixão Cortes e Barbosa Lessa cada cavalheiro dança com duas damas, executando os passos da dança, ladeado por cada uma delas, de mãos dadas os peões segurando, com cada uma das suas, as respectivas mãos, direita e esquerda, de suas “duas damas” elevadas próximo à altura de seus ombros.
Segundo referidos autores, não se sabe “por que milagre veio surgir entre os gaúchos” essa variante do xote. “Influência dos platinos, através do ‘palito’?. Ou influência dos imigrantes alemães, numa reminiscência das antigas danças germânicas desse gênero?”, indagam eles em “Manual de Danças Gaúchas” (pág. 91, Irmãos Vitale Editores).
CIRANDA
Essa dança de origem portuguesa também apresenta variações pelo Brasil afora. “Ciranda” é designação para as rodas infantis em diversas partes do Brasil. Em outras, não é especificamente dança de crianças.
No Nordeste, em especial nos Estados de Pernambuco e Paraíba, é dança de roda em que os dançarinos se dão as mãos e balançam o corpo enquanto se movimentam em sentido anti-horário, dando passos para dentro e para fora do círculo, ao som de músicas produzidas com o uso de instru¬mentos de percussão, como tarol, bumbo, ganzá, e de sopro (pistons, trombone).
Na região do Tapajós, Pará, existe a “Ciranda do Norte”, que se distingue pela mistura de vários ritmos, como o xote, a valsa e outros, que tornam a dança ora suave, ora acelerada. É dançada ao som de banjo, flauta, curimbós, maracás, reco-recos, seguindo-se a marcação do compasso feita pelo pandeiro, violão e apito.
FANDANGO
Usa-se o termo “Fandango” para designar uma série de danças populares. Em São Paulo, no litoral, informa Caseia Frade, Fanpescadores, realizadas na faixa litorânea do Estado.
Vejamos mais alguns folguedos e danças, doravante segmentados de acordo com as regiões do país.
DANÇA DE SÃO GONÇALO
Dança de intenção religiosa, praticada geralmente em cumprimento de promessa, por devoção a São Gonçalo. E repleta de variantes pelo Brasil. No Mato Grosso, por exemplo, é dançada aos pares, e a imagem do santo é passada de mão em mão; em São Paulo, em forma de cortejo, uma fileira de mulheres, outra de homens; em Goiás, dançam apenas homens; em Minas Gerais, só mulheres, portando arcos, com apenas um homem representando o santo.
Dango compreende uma série de danças de pares mistos; no interior, é uma dança que muito se aproxima da catira ou cateretê, por causa do sapateado, dançada só por homens, que usam chapéu e lenço ao pescoço e botas com chilenas de duas rosetas. No Nordeste, como vimos, é o nome que em algumas localidades se dá à Marujada.
Na região Sul, significa festa que reúne diversas danças regionais. No Paraná, especificamente, merecem relevo o conjunto de “marcas”, nome com que se designam as danças apresentadas em estas típicas de caboclos e da Região Norte.
LUNDU MARAJÓ
Trata-se de uma autêntica representação coreográfica de uma conquista amorosa, empreendida com sedutores passos e movimentos. De origem africana, essa é a mais sensual das nossas danças populares.
Na música que a acompanha, predominam instrumentos de sopro e atabaque, num ritmo lento e cadenciado. Chegou a ser proibida pelo governo federal, que cedeu às instâncias da Igreja Católica, que a considerava imoral.
Não é mais mostrada como no passado, em que as negras a dançavam com os seios à mostra. As dançarinas usam blusas curtas e saias rodadas e os homens, sem camisa (dependendo do local) ou com calças curtas.
SÍRIA
O nome é apócope de “Sirial”, denominação dada pelos negros ao local em que recolhiam siris. Essa dança provém da região de Cametá, Pará. Os movimentos coreográficos _ lentos inicialmente, acelerando-se do meio para o final _ evocam os que os pescadores executam para a coleta de siris. Os dançarinos usam grandes chapéus de palha, a exemplo dos pescadores da referida localidade.
CARIMBO
Expressão máxima das danças folclóricas paraenses, o Carimbo é de origem indígena, dos Tupinam-bás, com marcante influência negra e portuguesa. Aos tambores so¬mam-se outros instrumentos como banjo, maracás, reco-recos, flautas e pandeiros, numa mistura de sons que imprime ao ritmo uma característica singular.
O nome, de origem tupi, deriva do principal instrumento utilizado (um atabaque grande), o curimbó (curi – pau e m’bó – oco ou furado). Merece destaque a brincadeira do lenço desenvolvida na dança, em que os dançarinos vão se abaixando, com as pernas abertas e esticadas, para pegar com a boca o lenço deixado no chão por uma dançarina, sem tocar a mão ou qualquer outra parte do corpo no chão.
RETUMBÃO
E uma das manifestações que integram a Marujada de Bragança Paraense. As mulheres saem em cortejo pelas ruas da cidade, acompanhadas pelos homens e tocadores. E uma dança comandada pelas mulheres, por meio da Capitoa, que ostenta em suas mãos um bastão de madeira, ornado de flores, usado para indicar as mudanças de direção e de passos.
As vestimentas do Retumbão são as mesmas usadas na Marujada. O ritmo da dança é determinado pelo tambor, o “bagre”. Dizem que o nome da dança provém das narrativas da região, segundo as quais eram “retumbantes” os sons dos tambores, fazendo-se ouvir a grandes distâncias.
CHULA MARAJOARA
É uma dança que louva divindades como São Benedito e Nossa Senhora do Rosário, em cujas festividades, na Ilha do Marajó, é bastante freqüente. E dançada apenas por mulheres, descalças e com roupas estampadas, representando uma alegre forma de louvação.Os trajes usados nessa dança, lembrando a roupa característica do vaqueiro dessa região, cujos movimentos em seu trabalho são coreo-graficamente imitados.
MARABAIXO
Do Estado do Amapá, é uma dança de origem negra, cujo ritmo é cadenciado por toscos tambores de madeira. Trata-se de um folgue¬do de maior ocorrência no Sábado de Aleluia e Domingo da Páscoa.
As mulheres usam vestidos estampados e os homens, calças brancas, camisas bordadas e chapéus de palha. Alguns dos movimentos dos dançarinos fazem lembrar um pouco os da capoeira.
Mas no Ma-rabaixo não se segue uma coreografia básica; a improvisação é comum nessa dança.
DESFEITEIRA
Do Amazonas e do Pará, é uma dança lúdica, de origem portuguesa. Os pares vão dançando livremente. Há uma súbita parada da música executada pelo conjunto musical. O par que diante deste se encontra, no momento, é obrigado a declamar algum verso. Caso não o faça, é vaiado e deve pagar uma prenda.
Fecha-se o círculo de dançadores, homens e mulheres são posicionados alternadamente, de mãos dadas, com força, ou de braços entrelaçados, e o solista tenta escapar do cerco. Ao conseguir, é substituído.
E corrente nos povoados próximos ao Rio Madeira, em Antazes e em Novo Aripuanã.
Folclore da região Nordeste
CAPOEIRA
Capoeira é dança, é jogo, é contenda. Antes, uma arma dos negros por sua liberdade; hoje, uma luta dançante, ao som de pandeiros, agogôs, atabaques e berimbaus. Foi introduzida no Brasil pelos escravos africanos, mas o nome é de origem tupi (Kapu’era), segundo o Novo Dicionário da Língua Portuguesa, de Aurélio Buarque de Holanda, significando “terreno em que o mato foi roçado ou queimado para o cultivo da terra ou para outro fim”. E muito corrente na Bahia, mas há vários estilos de capoeira por todo o Brasil.
VAQUEIRO DO MARAJÓ
Típica da Ilha do Marajó, Pará, onde há o maior rebanho de búfalos do país, esta dança retrata a lida dos vaqueiros do Norte do Brasil.
Os dançarinos portam um laço para pegar gado e o giram acima de suas cabeças, simulando o preparo de uma laçada.
JACUNDÁ
Dança amazonense cujos passos se inspiram nos belos movimentos de nado do homônimo peixe. Os dançadores, em roda, giram no sentido anti-horário. Num dado momento, um solista fica no centro, dançando; é o “Jacundá”.
BACAMARTEIROS OU BATALHÃO DE BACAMARTES
Conjunto de homens portando armas rudimentares denominadas “bacamartes”, com pólvora de fabricação caseira, cujos tiros são disparados em manifestações populares como procissões, quermesses e outros festejos. Ao proceder aos tiros, em diversas posições, sem deixar cair o “bacamarte”, os baca-marteiros demonstram sua destreza e habilidade.
O grupo Bacamarteiros de Carmópolis, Sergipe, surgiu no início do século XIX. Desse grupo, fazem parte 40 homens e 20 mulheres, todos com roupas típicas do ciclo junino, que, após os tiros, dançam um samba de roda.
PARAFUSOS
Os parafusos representam uma referência coreográfica aos furtos cometidos por escravos fugitivos, que, em horas mortas, nas noites de lua cheia, saíam de seus mocambos (refúgios) nas matas e vestiam as anáguas das sinhás deixadas ao sereno, umas sobre as outras, até cobrir o pescoço.
Assim, saíam pelas ruas, dando pulos, fazendo assombração. O medo dos assombrados era maior que o impulso de tentar a recuperação de seus pertences, pois acreditavam que estavam sendo vítimas de almas de outro mundo.
Alforriados, os escravos festejaram vestidos tal qual faziam antes, para zombar de seus antigos senhores.
O grupo folclórico “Parafusos”, de Lagarto Sergipe faz uma festiva referência a esses fatos que ali teriam se sucedido. Os integrantes usam turbantes, com o rosto pintado de branco, e, vestidos com anáguas, dançam, girando, fazendo lembrar a imagem de um parafuso.
MACULELÊ
Dança guerreira de origem africana, em que os participantes, geralmente apenas homens, dançam ao som de atabaques e agogôs. Os escravos dançavam o Maculelê nos canaviais com pedaços de cana (a roxa, mais resistente).
Conta-se que em ocasiões de tentativa de fuga de algum escravo, o Maculelê era dançado, para distrair os feitores, facilitando a evasão. E proveniente de Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano.
O entrechoque de bastões e facões, pelos integrantes dos grupos, marcam essa manifestação, que teria também recebido influência indígena, segundo alguns folcloristas.
TAIEIRAS
Grupo de senhoras que acompanhavam a festa de Nossa Senhora do Rosário, na celebração de São Benedito, no dia 6 de janeiro, dançando e cantando, em Lagarto, Sergipe, terra natal de Silvio Romero, que fez registro dessa manifestação, vestidas com roupas similares às tradicionais das baianas. Originalmente, o grupo era composto de mulatas que seguiam a procissão. Essa tradição é mantida em Lagarto, Sergipe, onde é ampla a participação das Taieiras em eventos comemorativos religiosos.
REISADO
É do chamado ciclo natalino (período de celebração ao nascimento de Jesus Cristo). Atribui-se a São Francisco de Assis o surgimento de autos natalinos. Ele teria promovido uma representação de um presépio, com personagens da Bíblia, em 1223.
De origem portuguesa, é um folguedo nordestino que celebra o nascimento de Jesus e os três Reis Magos que o visitaram na ocasião, tal como as Folias de Reis do Sudeste, de que logo trataremos, das quais, aliás, diferem principalmente pelo figurino, pois, no Reisado, o traje é mais diversificado e colorido, com o uso de chapéus representando torres ou fachadas de igrejas.
COCO
De origem negra, essa dança surgiu nos engenhos, no período da escravidão. Os escravos, para amenizar as dores decorrentes dos esforços empreendidos para quebrar cocos secos com os pés, faziam deles instrumentos musicais, cantavam e dançavam a dança de roda, às vezes com palmas e sapateados. Tamancos às vezes são usados para lembrar o barulho da quebra dos cocos. Teria surgido em Alagoas, mas se difundiu por todo o Nordeste, sendo também dançada, com variações, pelo Brasil.
QUILOMBO
É um folguedo alagoano de origem africana, surgido após o malogro dos quilombolas dos Palmares. Evoca as ferrenhas e sanguinárias lutas travadas entre os escravos fugitivos e os implacáveis capatazes.
Outros autores defendem que não há vínculo entre esse folguedo e o referido acontecimento histórico, argumentando que se trata de uma reinterpretação erudita de danças brasileiras e européias, representando lutas ora entre negros e brancos, ora entre mouros e cristãos, ora entre negros e índios ou caboclos.
O conjunto musical é o Terno de Zabumba. A coreografia é uma simulação de luta, com o uso de foices pelos negros e de arcos e flechas pelos caboclos.
PASTORIL
Folguedo também pertencente ao “ciclo natalino”, o Pastoril faz referência à adoração dos pastores ao Menino Jesus, por ocasião de seu nascimento. As “pastoras” (como são chamadas as integrantes desse folguedo) dividem-se em dois “cordões”, o Azul e o Encarnado. Usam saias, blusas, aventais, portando pandeiros.
Da indumentária das pastoras pertencentes a cada um desses cordões, faz parte alguma peça da respectiva cor, azul ou encarnada. Há bailados, cantos, recitativos e diálogos homenageando o nascimento do Messias.
E um folguedo muito conhecido no Nordeste, cultivado com mais evidência no Estado de Alagoas.
GUERREIRO
O Guerreiro deriva de reisados alagoanos. Mas a riquíssima indumentária e um número maior de figurantes e episódios imprimem ao “Guerreiro” uma característica mais moderna em comparação aos antigos reisados.
Destaca-se no Guerreiro o uso de grandes chapéus, em formato de igreja, chamados “capelas”, que são enfeitados com pedras e espelhos (que, dizem, devolvem o mau-olhado a quem o lança).
Os personagens são rei, rainha, contramestre, embaixadores, general, lira, índio Peri e seus vassalos, Mateus, dois palhaços, sereia, estrela de ouro, estrela brilhante, estrela republicana, a banda da lua e as figuras.
As vezes, o tradicional “boi” e a Catirina também surgem no final.
BAIANAS ou BAIANA
Originária de Pernambuco, nessa dança se apresentam mulheres trajadas com vestes tradicionais de baianas, que dançam e fazem evoluções ao som de instrumentos de percussão.
E considerada uma adaptação rural dos maracatus pernambucanos, mesclada com músicas que fazem lembrar o canto dos negros nas senzalas e a coreografia por eles criada nos terreiros da Casa Grande.
Quentes e voluptuosos são os movimentos e os ritmos que acompanham a dança.
FREVO
Máxima expressão do carnaval pernambucano, embora se tenha espraiado por todo o Nordeste, Frevo é uma dança que ganha as ruas e os salões no ciclo carnavalesco. É dançada individualmente.
Acelerados e energéticos são os passos dos dançarinos, que, em rápidos movimentos, se abaixam e se alteiam, esticando e dobrando suas pernas.
E uma dança que deriva da capoeira. Gustavo Cortes informa que “das lutas de capoeira surgiram os passos geométricos e ritmados que compõem a dança. (…) As sombrinhas, que eram utilizadas como arma no passado, viraram adereços coloridos, servindo para dar equilíbrio e graça aos eletrizantes passos e tornando-se tradicional nos malabarismos executados pelos dançarinos” (“Dança, Brasil”, pág. 87, Ed. Leitura).
Mário de Andrade via no guarda-chuva dos passistas “uma desinência decadente (generalizada pelo auxílio de equilíbrio que isso pode dar) dos pálios dos reis africanos, até agora permanecidos noutras danças folclóricas nossas”, citado por Alceu Maynard Araújo (op. cit, pág. 254), o qual, por sua vez, assim se refere ao frevo: “dança alucinatória do carnaval pernambucano”.
A música, ditada por trombones e pistões, em que, segundo ele, está a grande força dessa dança, “dá oportunidade para que a coreografia se enriqueça ao máximo com o frenesi dos seus praticantes” (op. cit., pág. 253). O nome vem de “ferver”, “fervura”. Para a gente simples do povo, “frevura”, que culminou em “frevo”.”
XAXADO
E uma dança proveniente do sertão pernambucano que se espraiou por todo o Nordeste, divulgada pelo cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva, o “Lampião”, e seu bando, os quais, dizem, também seriam seus autores. “E dança de cangaceiro, dos cabras do Lampião”, canta-se. Inicialmente, era dançada apenas por homens, em festas e em preparativos para combates.
Atualmente, já se verifica a participação feminina no Xaxado. Há passos rápidos, em que o pé direito cruza o outro, num sapateio deslizante e célere. Batidas no chão com os rifles ou fuzis, cujos tiros são às vezes disparados, também constituem uma marcação na coreografia. Do ruído das alpercatas (xá-xá-xá) usadas pelos “cabras”, derivou o nome “Xaxado”.
MARACATU
Tal como as Congadas do Sudeste, o Maracatu relembra a coroação, pelos escravos, de seus reis, as chamadas coroações dos reis-de-congo. É característico de Pernambuco, mas recentemente também foi constatada sua forte presença no Ceará.
Para alguns autores, o nome deriva de maracá, instrumento musical utilizado nesse folguedo. Para outros, é resultado do barulho produzido por determinado ritmo com tambores que os negros utilizavam como senha para avisar a proximidade da polícia. O som lembraria o vocábulo “ma-ra-ca-tu”. Vê-se, no Maracatu, rico e colorido figurino, com bijuterias, espelhos e outros adereços cintilantes.
Com a libertação dos escravos, o Maracatu passou a integrar o carnaval. Em muitos deles também se fazem presentes figuras representativas dos orixás do Candomblé. Do cortejo, fazem parte rei e rainha, dançarinas com roupas típicas de baianas, o porta-estandarte, e, entre outros, a dama-do-paço, que porta uma boneca chamada “calunga”.
CABOCLINHOS
“Caboclinho é uma dança de origem indígena, como o próprio nome indica. No Nordeste, a palavra caboclo é utilizada para designar o índio ou, no máximo, o cruzamento de índio com o branco. E caboclinhos são os filhos dos caboclos” (Carlos da Fonte Filho, em “Espetáculos Populares de Pernambuco”, Edições Bagaço).
Dos mais antigos bailados de que se tem notícia no Brasil, foi registrado pela primeira vez em tribos indígenas nordestinas, em 1854, por Fernão Cardim, informa Gustavo Cortes. “Atualmente, são grupos fantasiados de índios que, ao som de pequenas flautas e bandas de pífanos, saem pelas ruas das cidades do Nordeste, no período carnavalesco. Executam um bailado ritmado, em séries de saltos e bate-pés, marcado pelos estalidos secos das preacas (espécie de arco e flecha)” (op. cit., pág. 92). Os dançarinos, que executam essa ágil coreografia, usam saias de penas, colares e cocares repletos de plumas e adornos cintilantes, em meio a outros adereços.
ARARUNA
Do Rio Grande do Norte (também dançada na Paraíba) é uma dança que faz referência a um pássaro preto chamado araruna, proveniente do Pará, muito comum na região. Ele é uma ameaça constante aos arrozais.
Quando despontam os pendões de arroz, essas aves passam a comêlos avidamente. Se não são contidas, devoram toda a plantação. Para garantir a colheita, então, há que se afugentar essas aves.
E desse tanger das ararunas que se originaram a dança e a letra da música: “Xô, xô, xô, Araruna Os movimentos se dão para frente, para trás e para os lados. São passos alusivos ao próprio pássaro.
Uma variante no Amazonas é chamada Iraúna, na qual há uma pequena encenação. Uma solista representa essa ave; um outro brincante, um caçador, que tenta capturá-la; quando consegue, assume o lugar do pássaro.
TOREM
“Dança de terriro, de influência ameríndia, lúdico-imitativa. Os participantes, de mãos dadas, formam uma grande roda. Ao centro, o tocador de aguaim (maracá) agita-o, solando a dança que é imitada pelos demais participantes.
E uma dança agitada, com movimentos de corpo, requebros, batidas de pés no solo e imitação de animais de seu convívio: a cobra caninana, o guaxinim, a jaçanã, conhecidíssimos no Ceará.
Cantam em coro em que, de permeio, ouvem-se vocábulos indígenas. Tomam mocorocó, bebida fermentada de suco de caju”, explica Alceu Maynard Araújo (op. cit., pág. 259)
MANElRO–PAU
Também chamada Mineiro-pau, é originária da região de Cariri e de Juazeiro do Norte, no Ceará, onde os empregados das fazendas lutavam, em treinamento, com pedaços de madeira.
Dança de roda em que os participantes portam um ou dois bastões que se entrechocam, maneira das espadas, sendo percutidos, ora grupalmente, ora entre um e outro dançarino, em revezamento, numa ordem na qual há duas, três ou mais batidas.
Carlos Felipe de Melo informa que é uma dança também encontrada no interior dos Estados do Rio de Janeiro, de São Paulo e da Zona da Mata de Minas. “Com uniformes coloridos e apresentando-se muito no período pré-carna-valesco, a dança costuma ter, na festa, personagens como o boi, a mulinha e o jaraguá” (op. cit., pág. 118).
TAMBOR DE CRIOULA
Típica do Maranhão, com alguma presença no Piauí, é uma dança cujo ritmo é obtido por meio de três tambores feitos de tronco, escavados a fogo.
A coreografia é executada individualmente e consiste em sapateios e remelexos voluptuosos com o corpo inteiro dos dançarinos em formação circular. E dança de terreiro, sem data fixa para ser apresentada.
A variedade no comprimento dos tambores, segundo Caseia Frade, “sugere denominações específicas: o tambor grande é chamado Socador; o médio, Crivador ou Meão; o pequeno, Perenga ou Pirerê” (em “Folclore”, pág. 65, 2a edição, Ed. Global).
Folclore da Região Centro-Oeste
CAVALHADA
Reminiscência das tradições da Cavalaria Medieval, a Cavalhada é um folguedo que rememora as históricas batalhas travadas entre os mouros invasores da Península Ibérica e os cristãos, que lutavam pela reconquista desse território, sob a liderança de Carlos Magno.
Os fatos históricos, permeados por várias lendas, tiveram ampla repercussão no Brasil no século XVIII, com a tradução portuguesa do Livro “História do Imperador Carlos Magno e os Doze Pares da França”.
Realiza-se ao ar livre, em espaços amplos. Formam-se dois grupos, posicionados em pontos opostos, representando os mencionados adversários.
Luxuosamente vestidos (de azul, os cristãos, e de vermelho, os mouros, todos com capas bordadas e adornos cintilantes), portam espadas, lanças e pistolas. São vários os compo¬nentes, chegando, eventualmente, a quase uma centena de figurantes.
Insultos e ameaças são trocados entre as partes em conflito, até que iniciam a simulação dos combates, fazendo-se uso das já mencionadas armas. Os mouros terminam subjugados, convertidos ao Cristianismo. Após, a parte lúdica se inicia, na qual os cavaleiros exibem sua destreza.
CATIRA
E uma dança mais típica de Goiás, da zona rural, mas que também se propagou em outros Estados, como Minas Gerais e São Paulo, onde também é chamada Cateretê. E uma dança masculina, embora eventualmente se encontre alguma “catira feminina”, de projeção folclórica, a exemplo da Catira Feminina do Distrito de Baguaçu, Olímpia/SP. Posicionados em duas fileiras opostas, os catireiros.
DANÇA DOS MASCARADOS
Encontrada no município de Po-coné, em Mato Grosso, é dançada só por homens que, em um “cordão”, vestem-se como tais e, em outro, como mulheres. Usam máscaras, roupas de chitão estampado e chapéus adornados com plumas, espelhos e outros adereços.
É muito apreciada nas festas de São Benedito e do Espírito Santo. O ápice da dança é a “trança-fitas”, em que violeiros, sapateiam, pulam, batem palmas, fazem meia volta e trocam de lugar uns com os outros.
Para alguns autores, a origem da dança seria portuguesa, derivando da carretem, praticada em Portugal, no século XVI. Para outros, seria indígena, já que cateretê é palavra proveniente do tupi-guarani.
RECORTADO
É uma variante de cateretê, mais movimentada, dançada em fileiras opostas que se tornam uma roda no decorrer da dança. Em meio aos sapateados, os dançarinos executam meneios físicos que fazem lembrar a umbigada do Batuque. E uma dança predominantemente masculina, mas, em vários lugares da região, há também a participação feminina.
SERRA MORENINHA
Famosa no Estado de Goiás, é um bailado simples em que se formam duas fileiras de homens e mulheres. Posicionados frente a frente, os pares dão-se as mãos e executam vários passos, imitando os movimentos de dois serradores cortando madeira. Alceu Maynard Araújo já noticiava sua ocorrência também no Rio Grande do Sul, com o nome de “Serrote” (op. cit., pág. 191).
CURURU
De origem indígena, essa dança inicialmente só era apresentada por homens, o que, aliás, continua ocorrendo, especialmente no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. E comum em festas religiosas.
Embora o vocábulo cururu corresponda a “sapo”, na língua nheengatu, não há nessa dança nenhum movimento coreográfico que faça alusão àquele bicho.
Formam-se duas alas, uma defronte da outra. Iniciado o ritmo, as duas fileiras dão dois passos para a esquerda e para a direita, movimentando-se de maneira a formar uma roda, à medida que cresce a animação dos dançantes. Quem entoa os versos é chamado de “cururuzeiro”, e os versos entoados denominam-se “carreiras”. Ao som da viola-de-cocho, típico instrumento da região e de reco-recos, ento¬am-se versos improvisados. Não há indumentária específica.
VOLTA-SENHORA
E uma curiosa mistura de quadrilha com a dança do Vilão, explica Carlos Felipe de Melo. “Os pares, ao som da viola, tocada por um violeiro que vai lembrando ou improvisando versos, vão executando passos diferentes. O cavalheiro segura a ponta de um grande lenço, enquanto a dama segura a outra ponta, e durante a coreografia, eles não podem soltar o pano.
Com isso, alguns passos tornam-se muito difíceis, mas apresentam, por outro lado, belos momentos coreográficos, como na execução do ‘moinho’, em que as mãos direitas dos dançadores na roda se entrelaçam formando um eixo, enquanto as esquerdas continuam segurando os lenços. Conhecida em todo o Centro-Oeste, a volta-senhora é, às vezes, dançada com um bastão em vez de lenço. Quando isso acontece, é comum, ao final, os bastões serem entrelaçados. Os dançantes então os abaixam para que o violeiro, literalmente, suba em cima daquele feixe, sem parar de tocar. Eles, então, o levantam no ar, numa bela apoteose” (op. cit., pág. 200).
ENGENHO DE MAROMBA
Realizada em praticamente todo o Centro-Oeste, em especial na região nordeste de Mato Grosso do Sul, chamada “Bolsão”, a coreografia dessa dança faz lembrar os movimentos do engenho de cana.
Duas fileiras de homens e mulheres são formadas, as quais giram em direções contrárias entre si. Geralmente, é executada aos finais dos bailes da região, como despedida.
SIRIRI
Da região pantaneira do Centro-Oeste brasileiro, é uma das mais antigas e populares no Mato Grosso. E presença marcante em festejos religiosos. Dizem alguns que o nome “Siriri” deriva do verbo siriricar (“pescar com siririca, espécie de anzol”). E dançada em roda e em fileira, geralmente ao som do cracaxá (espécie de reco-reco), viola-de-cocho, ganzá e o mocho (tipo de tambor), em álacre e célere coreografia. Não há traje específico.
MARIMBONDO
E uma dança de roda, às vezes de desafio, de coreografia livre. Ao som de cuíca e pandeiros e, eventualmente, também de viola caipira, um dos participantes entra no meio da roda e executa seus passos, tendo sobre a cabeça um pote de água com uma cuia boiando na superfície. Não pode deixá-los cair. Pode desafiar outro dançador a fazer igual ou melhor, por meio de alguma saudação, ajoelhando-se e entregando-lhe “o campo” ou “o pote”, como dizem. Se o desafiado se recusar, deve pagar uma rodada de bebida. E de maior ocorrência no interior goiano.
RASQUEADO
Segundo o grupo parafolclórico “Chalana” (Cáceres/MT) o Rasquea-do é “dança popular (arrasta-pé), resultado da influência fronteiriça, exercida pelo Paraguai sobre o Mato Gros¬so, através da miscigenação e interação na vida dos ribeirinhos. E uma mistura da Polca paraguaia e do Siriri mato-grossense”. Rasqueado significa “arrastar as unhas ou um só polegar sobre as cordas, sem ponteá-las”.
Folclore da Região Sudeste
FOLIAS DE REIS
Dentre os mais representativos folguedos do ciclo natalino, encontram-se as Folias de Reis, também conhecidas por Companhias de Reis. E na região Sudeste que esse folguedo pode ser mais apreciado.
De origem portuguesa, derivam elas dos festejos realizados no Dia dos Reis Magos, tendo sido introduzidas no Brasil, no século XIX.
Celebram o nascimento de Jesus Cristo e a visita que lhe fizeram os Três Reis Magos. Entre 24 de dezembro e 6 de janeiro (dia dos Reis Magos), as Companhias de Reis, visitam as casas da redondeza em busca de donativos para a realização da festa, no dia 6 de janeiro, levando consigo a bandeira dos Santos Reis. Sendo aceita a visitação, os membros passam com a bandeira por todos os cômodos da residência, para que os Santos Reis a abençoem e os que nela habitam.
Essa é a chamada “peregrinação”. A indumentária dos integrantes das Folias de Reis é, em geral, mais simples. São trajes comuns, usados uniformemente pelos membros das Companhias. Destacam-se os “palhaços”, que usam máscaras que lhes ocultam todo o rosto e chapéus em forma de cone, enfeitados com fitas e flores.
A presença desses palhaços tem origem em muitas estórias. Uma delas conta que eles representariam os Reis Magos, que se disfarçaram na ocasião da visita ao menino Jesus, para fugirem à perseguição do Rei Herodes. Cânticos em louvor a Deus, a Jesus e aos Santos Reis são entoados ao som de violas, violão, cavaquinho, pandeiros, entre outros.
Os participantes são chamados foliões e o grupo recebe as seguintes denominações: Folia de Reis, Folia de Santos Reis, Companhia de Reis, Companhia de Santos Reis, Terno de Santos Reis, Terno de Reis ou Tripulação de Reis. Quase todos têm denominação específica, como Companhia de Reis “Magos do Oriente”. Alguns preferem ser chamados “Companhias de Reis”, por considerarem depreciativa a palavra “folia”.
CONGADA
Congada, Congado ou Congo é folguedo de formação afro-brasileira. E uma reminiscência da antiga coroação dos “Reis-do-Con-go”, praticada pelos escravos no Brasil, e incentivada pelas autoridades para tranqüilizar um pouco as senzalas, promovendo a coroação de seus reis negros. E uma reminiscência dessa prática na região Sudeste, onde o folguedo é mais difundido.
Antigamente, as Congadas também rememoravam as lutas entre mouros e cristãos, nas denominadas “embaixadas”, que hoje são raras. Algumas ainda exibem coreografias, representando manobras guerreiras, com o uso de espadas, mas atualmente prevalece o aspecto religioso, a louvação aos santos católicos, especialmente Nossa Senhora do Rosário e São Benedito. Os grupos são chamados “Ternos de Congada”, “Ternos de Congo”, “Guardas de Congos”, entre outros. Há uma grande diversidade entre os grupos com relação à indumentária utilizada, aos cantos e às danças.
Alguns até se vestem de marinheiros. Muitos grupos usam chapéus com fitas coloridas, geralmente ornados com espelhos, que devolveriam eventual mau-olhado recebido. Em cada localidade em que é cultivada, a dança apresenta-se com características diversas. Há informações de sua existência desde 1711.
MOÇAMBIQUE
“Dança popular em São Paulo, Minas Gerais e Brasil Central”, informa Câmara Cascudo (“Dicionário do folclore Brasileiro”), que prossegue citando Renato Almeida: “… bailado conhecido em São Paulo, Minas e no Brasil central, em geral, é o dos Moçambiques, que dizem ter sido levado pelos escravos negros que foram trabalhar na mineração do ouro”.
Tornou-se também dança de intenção religiosa, que louva santos católicos.
A exemplo das Congadas, não há uniformidade entre os grupos com relação ao figurino, aos cantos, às danças e também aos personagens. Destaca-se a presença “dos reis, da bandeira e de diversos outros personagens que variam conforme o grupo e a localidade em que se exibem, como mestre, contramestre, caixeiro, capitão, general, tocadores e dançadores”, informa Gustavo Cortes (op. cit., pág. 146). Muitos grupos usam lenço na cabeça, trazendo atados em seus tornozelos latas com chumbos que produzem um alto barulho quando dançam os moçambiquei-ros. De um local para outro, características diferentes se apresentam nessa manifestação.
TICUMBI
Espécie de versão espírito-san-tense da Congada, este folguedo é encontrado no Norte do Espírito Santo, especialmente nos municípios de Conceição da Barra e de São Mateus.
Os protagonistas são o Rei-de-Congo e o Rei- de-Bamba, que se distinguem pelo traje: usam roupas brancas, coroas, feitas de papelão ricamente ornamentadas com flores, papel dourado, fitas e espelhos, e longas capas de cetim lamê cintilante. Portam espadas nas mãos, ou atadas à cintura. Os guerreiros e vassalos de ambas as nações também se vestem de branco; usam japona ou batas longas ornadas de fitas coloridas.
As majestades, com suas respectivas cortes, travam uma “guerra” pela prerrogativa de comandar a realização da Festa de São Benedito. Uma batalha verbal se inicia entre os representantes das nações.
Sucede-se outra, em que se usam espadas na representação, até que o Rei-de-Bamba é derrotado pelo Rei-de-Congo, e, juntamente com seus liderados, batizados por este. O folguedo se encerra, então, com a música e a dança do Ticumbi, em que se reproduzem alguns passos da batalha com as espadas.
DANÇA-DE-SANTA-CRUZ
Ponto alto da Festa de Santa Cruz, realizada na primeira semana de maio em Carapicuíba/SP, é uma dança realizada após as louvações e reverências à cruz, possivelmente de origem indígena, cujos movimentos basicamente se executam em roda, girando numa e noutra direção. O dia 3 de maio foi escolhido para celebrar a descoberta da verdadeira Cruz de Cristo, em Jerusalém, pela mãe do imperador Constantino, a imperatriz Helena, que iniciou as comemorações em 326 d.C.
CAIAPOS
E um folguedo popular cujos integrantes se fantasiam de índios, trajando roupa de capim-bar-ba-de-bode e muitos adereços, inclusive penas de aves, como galinha ou peru. Pintam o rosto com uma tinta azul.
As evoluções, sob o comando da figura do “pajé”, são executadas ao som de cuícas, tambores, pandeiros, violões, entre outros.
O grupo não canta. Alguns grupos apresentam um enredo, sem cantoria, em que se encena o rapto de uma bugrinha (alusão ao rapto de uma bugrinha por portugueses, no período da colonização, segundo a tradição oral indígena). Há duas bugrinhas, uma de roupa azul (batizada), outra de vermelho (pagã). Os “Cai-após”, então, em algazarra, representam a busca da bugrinha e do raptor. Grupos de Caiapós são encontrados em São Paulo e em Minas Gerais.
BATUQUE
Batuque é um vocábulo com que os portugueses designavam genericamente as danças de origem africana, acompanhadas de cantorias e de instrumentos de percussão. O Batuque se realiza em uma grande roda, em cujo centro os dançarinos improvisam passos, individualmente ou em dupla. O remelexo dos quadris é fortíssimo. Ao som de atabaques e tambores, os participantes batem pés e palmas e estalam os dedos rapidamente, como castanholas.
O passo mais marcante do Batuque é a “umbigada”, movimento também presente em outras danças, no qual os dançadores _ barriga pra frente, peito pra trás _ batem ventre contra ventre.
Realizada entre homens e mulheres, a umbigada indica o momento de substituição do dançarino solo ou o encerramento da apresentação, se se tratar de um par de dançantes.
Muito conhecido em Olímpia é o Batuque de Piracicaba, que sempre participa do nosso Festival do Folclore.
Há dançadores de batuque em várias localidades paulistas: Botucatu, Capivari, Itu, Laranjal, Limeira, Pereiras, Porto Feliz, Rio Claro, São Pedro, Tatuí e Tietê.
Emilía Biancard, ao tratar do samba-de-roda, informa que neste “a pessoa entra no meio do círculo dos participantes e dança solo.
O próximo dançarino é escolhido quando o bailarino central dele se aproxima e faz um encontrão de barriga com barriga. Na Bahia, em todo o Estado e durante todo o ano, o samba-de-roda tem tido uma grande variedade de interpretações e redenominações.
O samba-de-roda chulado só pode ser tocado com o uso de duas violas, sendo assim os únicos instrumentos manuais para essa dança. Nos dias de hoje, em Cachoeira, no Recôncavo Baiano, podem-se encontrar guitarras substituindo violas. Neste caso, as guitarras são tocadas como se fossem violas.
O samba de roda corrido, por outro lado, é o que se pode chamar de ‘dança espontânea’, onde os instrumentos usados podem ser qualquer tipo de material que produza ritmo para essa dança, incluindo um simples bater de mãos” (op. cit, pág. 282). Alceu Maynard Araújo já afirmava “samba é umbigada” (op. cit., pág. 256).
SAMBA-LENÇO
É uma dança em louvor a São Benedito, introduzida pelos negros no Estado de São Paulo. Um único grupo a preserva, em Mauá, cidade paulista. Branca e vermelha são as cores predominantes no figurino.
Os homens vestem camisas xadrezes, das referidas cores e calças brancas, chapéus de palha e lenços no pescoço.
As mulheres usam vestidos longos com babados nas barras, decotes e mangas, acompanhados de anáguas, nas cores vermelha e branca, às vezes xadrezes, às vezes não. Usam chapéus comuns ou bordados (naquelas cores), lenço na cabeça, anéis, colares, brincos, broches, pulseiras. Membrano-fones e idiofones marcam o ritmo do samba-lenço, que, enquanto é dançado, apresenta melodias breves, simples, repetitivas e cantadas em coro pelos que assistem à apresentação do grupo. Muito querido pelo Mestre José Sanfanna, o Samba-lenço de Mauá/SP se apresenta no Festival do Folclore de Olímpia desde 1966.
CANA-VERDE DE PASSAGEM
E uma das mais difundidas no Estado de São Paulo, especialmente no meio rural. Formam-se duas filas laterais, uma de rapazes, outra de moças. Os rapazes ficam batendo palmas, enquanto as moças se dão as mãos, formando um “cordão”, passando depois, em ziguezague, sob os “arcos” formados pelos braços erguidos e mãos dadas dos rapazes, após o que, cada uma vai parando diante de seu par.
Os pares, então, se enlaçam e dançam, girando em torno de si próprios. Formam-se duas rodas concêntricas, uma girando no sentido contrário ao da outra. Há trocas de pares, bailados soltos, formação de duas fileiras em cruz, entre outros movimentos.
JONGO
O Jongo, de proveniência africana, tem algumas semelhanças com o Batuque e teria surgido em regiões de cultivo de café. No Estado de Minas Gerais, é denominada de “caxambu”, termo que também designa um dos instrumentos (um tambor grande) utilizado na dança. Os participantes revezam-se no meio da roda, fazendo evoluções marcantes, com grande remelexo.
O ritmo, ora é lento, ora é célere. Há versos improvisados, que chamam de “pontos”, muitos deles, aparentemente, sem muita unidade e propósito. Não há trajes específicos nem período próprio para sua prática.
Os jon-gueiros, pelo que constatou Alceu Maynard Araújo, “gozam de uma auréola de mágicos e feiticeiros” (op. cit. pág. 221).
BALAINHA
E uma dança paulista, da qual só participam mulheres, portando arcos ornados de fitas e flores ou envoltos em papel crepom, a exemplo da variante mineira da dança de São Gonçalo.
O principal momento da coreografia é aquele em que os arcos são unidos pelas dançarinas, formando a balainha. E muito apresentada em festas juninas.
TAMBORIL
Muito bem apresentada pelo GODAP – Grupo Olimpiense de Dan¬ças Parafolclóricas “Cidade Meni-na-Moça”, é, segundo o grupo, “dança dos ex-escravos em homenagem a São Benedito. E do ciclo de maio, mês em que se deu a libertação negra no Brasil. E uma dança graciosa e muito ligeira. A indumentária é confeccionada de papel crepom em variadas cores. E dançada em Minas Gerais e em São Paulo”.
CAFÉ
No século XIX, o café se expandia pelo Brasil, enquanto se reduzia a capacidade das minas, principalmente nas searas que futuramente se denominariam região Sudeste (“civilização do café”).
Os movimentos coreográficos dessa dança imitam os que os lavradores executam ao colher, mexer, sacudir e amontoar o café. As peneiras, indispensáveis ao exercício dessas funções, são também usadas pelos dançarinos na apresentação.
CORDAO-DE-BICHOS DE TATUÍ/SP
E um folguedo muito interessante que foi idealizado pelos operários de uma fábrica, de famílias nordestinas que fixaram residência em Tatuí/SP. Inicialmente, denominou-se “Arca de Noé” e se apresentava apenas no carnaval, com seus componentes usando máscaras de aves e outros bichos. Posteriormente, passando por transformações, a denominação foi alterada para “Cordão- de-Bi-chos”.
São mais de cinqüenta componentes e diversas figuras: sapos, tartarugas, aranhas, bois, tigres, porcos, tatus e outras figuras humanas caricaturadas.
DANÇA DO BAMBU
E uma dança de origem indígena, proveniente da América Central, praticada por ocasião das chuvas. E popular em São Paulo, especialmente na cidade paulista de Ibitinga, onde já era dançada em remotas épocas, nas festas juninas. A Professora Maria Aparecida de Araújo Manzolli, coordenadora do GODAP – Grupo Olimpiense de Danças Parafolclóricas “Cidade Menina-Moça”, pesquisou essa dança na década de 60, estilizou-a e a integrou no rol das danças apresentadas pelo grupo.
Oito bambus de cerca de quatro metros são estendidos no chão. Quatro pares de dançarinos, cada um posicionado entre dois bambus, iniciam a dança. Os dançarinos se revezam, trocando de pares, movimentando-se entre os bambus, portando tochas acesas em uma posterior etapa da dança.
CARNEIRO
Dança proveniente do norte de Minas Gerais, é inspirada nas festividades natalinas que ali se realizam. Os movimentos coreográficos, nos quais os dançarinos homenageiam o Menino Jesus, lembram as marradas dos carneiros. E uma simulação coreográfica de uma briga entre esses animais. Segundo o grupo parafolclórico Sa-randeiros (Belo Horizonte/MG), “o nome Carneiro parece estar relacionado ao cordeiro de Deus, em alusão a Jesus Cristo”.
CALANGO
E uma dança típica de Minas Gerais, porém, também é encontrada com alguma similaridade no norte do Rio de Janeiro. O Calango é um bailado de movimentos simples, mas que em alguns momentos se mostra um pouco semelhante à catira, pelo sapateado e palmeado. As vezes, versejadores repentistas se apresentam em meio à dança.
Folclore da Região Sul
CHULA
A chula gaúcha é uma dança masculina, de desafio. Uma vara de madeira, chamada “lança”, é estendida no chão. Em cada um de seus extremos, posicionam-se os dançarinos desafiantes. Um deles começa o desafio, executando complicada série de sapateados, passando de um a outro lado da lança, sem tocá-la, recuando e avançando de sua posição inicial, até que a ela retorne e pare, ao terminar sua performance.
Ato contínuo, o outro desafiante deve imitar-lhe os passos; se não conseguir, se deslocar a lança, ou destoar do ritmo da música, é desclassificado. Se tiver êxito, apresenta nova série de sapateados, os quais, após concluídos, devem ser reproduzidos pelo oponente e assim sucessivamente. Os desafiantes se revezam, enquanto as prendas acompanham a disputa, incentivando e ovacionando.
MAÇANICO
Proveniente de Santa Catarina e de origem aparentemente portuguesa, segundo alguns autores, o Maçanico ganhou notoriedade e cor própria entre os gaúchos, em especial pela utilização de seus típicos instrumentos.
Um dos versos cantados é muito conhecido: “Quem não dança o Maçanico, não arruma namorado”. A dança desenvolve-se em meio a sapateados, sarandeios, giros e movimentos em fila que evocam as formações dos antigos minuetos do Velho Continente. O nome dessa dança é corruptela de “maçarico”, ave do sul do Brasil.
TIRANA DO LENÇO
De origem espanhola, essa famosa dança chegou ao Brasil em fins do século XVIII e por aqui logo se espalhou, a desdobrar-se em muitas variantes, vindo a adquirir, no entanto, fortes nuanças locais no Rio Grande do Sul.
A dança retrata as fases de uma apaixonante história amorosa: paquera, conquista, namoro, percalços e um belo final feliz. Inicia-se com os recíprocos cumprimentos dos peões (homens) e das prendas (mulheres). Eles aproximam-se delas e inclinam levemente a cabeça. Elas correspondem, flexionando os joelhos. Num primeiro momento, a saudação é cerimoniosa; num outro, explicitamente romântica, dando, assim, início à veemente gestualísti-ca amorosa que marca a coreografia da Tirana.
As figuras se sucedem, em meio a recuos e aconchegos, representando amor e desavença entre os pares, que, ora estão juntos, ora se afastam. Há cenas de sorrisos cativantes e de olhares desafiadores. A Tirana “foge” do peão, que parte em seu encalço, ela sarandeando e ele sapateando, até que ele lança mão de seu lenço e o agita garbosamente, atraindo-a. Em outra figura, o peão lhe demonstra indiferença (não sapateia ao sarandeio da prenda). Ela, então, “saca” seu lenço e o atrai.
O desfecho da dança mostra uma feliz reconciliação: os pares nos braços uns dos outros.
ROSEIRA
Muito conhecida no Rio Grande do Sul, a Roseira bem demonstra a galhardia dos peões gaúchos para com suas prendas. Os movimentos coreográficos dessa dança, que evocam o abrir e fechar das pétalas de uma rosa, são marcados por garbosos floreios dos dançarinos (sapateados dos peões e graciosos sarandeios das prendas), feitos de maneira a figurar uma tentativa de se impressionarem mutuamente.
O mais forte momento da Roseira é chamado “Namoro”, no qual, ao som de gaitas, as prendas param, como que encantadas pelos peões, que vão lentamente andando em derredor delas, olhando-lhes nos olhos, num recíproco embeveci-mento. E uma dança de amantes com perfume de rosas.
TATU
O maior protagonista de fábulas indígenas contadas na seara gaúcha inspirou o nome dessa dança cuja característica prevalente é a maior liberdade de movimentação a seus praticantes, que podem “florear” em seus sapateados ao sabor de suas habilidades. Os versos da canção são chamados “décima” ou “moda de bicho”.
Os dançarinos, sapateando, posicionam-se paralelamente num primeiro momento e as damas ficam sarande-ando; noutro, de mão dadas, executam alguns passos, até que se posicionam de maneira a permitir que a prenda gire em torno de si mesma. A exemplo da “Tirana”, o lenço é de grande relevância no “Tatu”, representando também gestos de namoro entre os dançarinos.
CHIMARRITA
É uma popular dança portuguesa (Açores e Ilha da Madeira), trazida ao Brasil pelos colonizadores no século XVIII. A coreografia recebeu fortes influências locais e foi modificada por aqui. No início, os pares dançavam-na enlaçados, num misto de valsa e xote.
Hodiernamente, predomina a modalidade em que os dançarinos bailam soltos, numa e noutra direção, em fileiras ou em círculo. Nos países platinos, é denominada chamamé. No sul do Brasil, onde se fixou, é conhecida por chimarrita.
Dizem alguns que esse nome é variante de uma referência à evocação de uma personalidade feminina (Chama-Rita). E também chamada pelos gaúchos de “limpa banco”, pois, quando sua melodia começa, quase todos se levantam para dançá-la. Do Rio Grande do Sul, difundiu-se para outros Estados (Santa Catarina, Paraná e São Paulo).
PEZINHO
O romantismo pueril, ingênuo, a graciosa e infantil faceirice, são as grandes marcas dessa dança popular cuja música é quase um outro hino dos gaúchos “ai bota aqui, ai bota aqui o seu pezinho … bem juntinho com o meu”, melodia trazida pelos colonizadores, que, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, adquiriu características próprias dessas localidades ao ser executada ao som da “cordeana”, típica do sul brasileiro.
Uma marcação de pés ocorre na primeira seqüência coreográfica, em movimentos em que os pés dos cavalheiros e das damas se aproximam, após a qual os dançarinos entrecruzam seus respectivos braços direitos, girando em torno de si próprios. Essa dança é belissimamente apresentada pelo grupo infantil do GODAP – Grupo Olimpiense de Danças Parafolclóricas “Cidade Menina Moça”. O Pezinho, aliás, já ultrapassou as fronteiras pátrias, sendo já dançado no exterior como dança típica brasileira.
BALAIO
“O Balaio é brasileiro da gema e procede do Nordeste”, na assertiva de Augusto Meyer em seu “Guia do Folclore Gaúcho”, com o que estão concordes Barbosa Les-sa e Paixão Cortes, segundo os quais, nas estrofes de seu canto não falta sequer um redundante “não quero balaio, não”, “bastante estranho ao linguajar gauchesco” (op. cit., pág. 113). No entanto, no Rio Grande do Sul, a dança ganhou aspectos próprios dessa localidade, sendo muito dançada entre os gaúchos.
O nome tem origem na efêmera aparência de cestos que as saias usadas pelas dançarinas adquirem quando estas giram e se abaixam. Dois círculos concêntricos se formam, um de mulheres, outro de homens, que se movem em sentidos contrários, nos intervalos que se dão aos sapateados (dos peões) e aos sarandeios (das prendas), movimentos estes que predominam na coreografia.
CARANGUEJO
Essa dança já foi popular em todo o Brasil, sobre a qual se encontram referências desde o século XIX. Na atualidade, entretanto, verifica-se que se concentrou na região Sul, na qual é apresentada por vários autores como dança “grave”, “de pares dependentes”, derivada do minueto e de suas variações platinas, segundo Gustavo Cortes, que acrescenta: “o caráter maneiroso da dança é acentuado por cumprimentos entre dançarinos e balances, evolução originária da quadrilha européia que permite à prenda demonstrar graciosidade em seus sarandeios, como são chamados os passos executados por ela. Na coreografia, cada par, tomado pela mão direita, evolui passos-de-marcha, de modo a completar uma volta em torno de si mesmo” (op. cit. pág. 177).
“CUA-FUBA”
É uma dança do Fandango pa¬ranaense, que representa coreo-graficamente o “coar” do fubá. Dançada apenas por mulheres, que batem forte no chão com suas tamancas, tendo nas mãos uma peneira, de maneira a simbolizar o peneirar do fubá. E dançada com a música do mesmo nome da dança, “CUÁ-FUBÁ”, do folclore paranaense.
VILÃO DE FITAS
“Dança de salão, que era dançada aos pares nos antigos salões paranaenses, ganhando depois o gosto popular. Também era denominada de ‘Vilão de Lenço’.
Os pares seguram uma fita ou um lenço de cores diferentes. O folgador segura numa extremidade do lenço e a folgadeira na outra. Braços levantados, forma-se assim um túnel de fitas ou de lenço, as duas filas são formadas pelos dançarinos alternando um homem, uma mulher.
A indumentária, baseada no ano de 1940, era composta de saias na altura das panturrilhas com saiotes armados e blusas de babados com cintos largos para as mulheres; para os homens, calcas com bainha à italiana, camisas de mangas longas, lenço no pescoço e faixa na cintura. São fundamentais as tamancas; sem elas, não se dança o Fandango”, informa a Profª Sueli Alves de Souza, diretora e coreógrafa do grupo parafol-clórico “Fogança”, o qual espetacularmente apresenta essa dança e a belíssima canção que acompanha a coreografia (“…Quero ver o meu amor, se não eu morro de saudade…”).
Fonte: www.brasilfolclore.hpg.ig.com.br/ifolk.vilabol.uol.com.br/whatisfolklore.org/www.memoriaviva.org/www.cs.mcgill.ca/www.analgesi.co.cc
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