Euclides da Cunha

Euclides da Cunha – Vida

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Nascimento: 20 de janeiro de 1866, Cantagalo, Rio de Janeiro.

Falecimento: 15 de agosto de 1909, Piedade.

Natural: Cantagalo – RJ

Euclides da Cunha foi um jornalista brasileiro, sociólogo e engenheiro.

Sua obra mais importante foi Os Sertões (Rebelião no Sertão), uma conta não-ficcional das expedições militares promovidos pelo governo brasileiro contra a aldeia rebelde de Canudos, conhecida como a Guerra de Canudos.

Este livro foi o favorito de Robert Lowell, que classificou-o acima de Tolstoy. Jorge Luis Borges também comentou sobre ele em seu conto “Três Versões de Judas”.

O livro foi traduzido para o Inglês por Samuel Putnam e publicado pela Universidade de Chicago Press, em 1944.

Euclides da Cunha também foi fortemente influenciado pelo naturalismo e seus defensores darwinianos. Os Sertões caracteriza a costa do Brasil como uma cadeia de civilizações enquanto o interior foi mais primitivamente influenciado.

Euclides da Cunha foi a base para o personagem de O Jornalista Mario Vargas Llosa A Guerra do Fim do Mundo.

Euclides da Cunha ocupou o sétimo presidente da Academia Brasileira de Letras desde 1903 até sua morte em 1909.

Euclides da Cunha – Biografia

Euclides da Cunha
Euclides da Cunha

Romancista. Iniciou o curso de Engenharia na Escola Central Politécnica no Rio de Janeiro, transferindo-se depois para a Escola Militar, de onde foi expulso em 1888 por motivo de rebeldia.

Positivista, antimonárquico e abolicionista, com a proclamação da República foi readmitido no Exército.

Cursou Engenharia Militar na Escola Superior de Guerra e bacharelou-se em Matemática e Ciências Naturais. Dedicou-se também à Engenharia Civil e ao Jornalismo.

Foi enviado pelo jornal O estado de s. Paulo, em 1897, para cobrir a guerra de Canudos, causada pela rebelião de fanáticos religiosos na Bahia.

Autor de Os Sertões, obra «precursora para o desenvolvimento das ciências sociais dos anos 30 e 40» (Antônio Cândido), que trouxe «para a linha de frente do pensamento nacional a indagação das razões do atraso do interior do país e deste país em relação aos outros» (Walnice Nogueira Galvão).

Foi membro da Academia Brasileira de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

Euclides da Cunha – Escritor

Euclides da Cunha
Euclides da Cunha

O engenheiro, escritor e ensaísta brasileiro Euclides Rodrigues da Cunha nasceu em Cantagalo (Rio de Janeiro) em 20 de janeiro de 1866. Órfão de mãe desde os três anos de idade, foi educado pelas tias. Freqüentou conceituados colégios fluminenses e, quando precisou prosseguir seus estudos, ingressou na Escola Politécnica e, um ano depois, na Escola Militar da Praia Vermelha.

Contagiado pelo ardor republicano dos cadetes e de Benjamin Constant, professor da Escola Militar, atirou durante revista às tropas sua arma aos pés do Ministro da Guerra Tomás Coelho.

Na ocasião, supostamente bradou as seguintes palavras:

_ Senhores! É odioso que se pretenda obrigar uma mocidade republicana e livre a prestar reverência a um lacaio da monarquia!

Euclides foi submetido ao Conselho de Disciplina e, em 1888, saiu do Exército. Participou ativamente da propaganda republicana no jornal O Estado de S. Paulo.

Proclamada a República, foi reintegrado ao Exército com promoção. Ingressou na Escola Superior de Guerra e conseguiu ser 1o. tenente e bacharel em Matemáticas, Ciências Físicas e Naturais.

Euclides casou-se com Anna Emília Ribeiro, filha do major Solon Ribeiro, um dos líderes da República.

Em 1891, deixou a Escola de Guerra e foi designado coajuvante de ensino na Escola Militar. Em 1893, praticou na Estrada de Ferro Central do Brasil. Quando surgiu a insurreição de Canudos, em 1897, Euclides escreveu dois artigos pioneiros intitulados “A nossa Vendéia” que lhe valeram um convite d’ O Estado de S. Paulo para presenciar o final do conflito.

Euclides não ficou até a derrubada de Canudos.

Mas conseguiu reunir material para, durante cinco anos, elaborar Os Sertões: campanha de Canudos (1902), sua obra-prima. Os Sertões trata da campanha de Canudos em 1897, no nordeste da Bahia.

Divide-se em três partes: “A terra”, “O homem” e “A luta”. Nelas Euclides analisa as características geológicas, botânicas, zoológicas e hidrográficas da região, os costumes e a religiosidade sertaneja e, enfim, narra os fatos ocorridos nas quatro expedições enviadas ao arraial liderado por Antônio Conselheiro.

Os Sertões valeram ao autor grande notoriedade e vagas na Academia Brasileira de Letras e no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

Em agosto de 1904, Euclides foi nomeado chefe da comissão mista brasileiro-peruana de reconhecimento do Alto Purus, com o objetivo de cooperar para a demarcação de limites entre o Brasil e o Peru. Ele partiu de Manaus para as nascentes do rio Purus, chegando adoentado em agosto de 1905. Dando continuidade aos estudos de limites, Euclides escreveu o ensaio Peru versus Bolívia, publicado em 1907.

Após retornar da Amazônia, Euclides proferiu a conferência “Castro Alves e seu tempo”, prefaciou os livros Inferno Verde, de Alberto Rangel, e Poemas e canções, de Vicente de Carvalho. Visando estabilidade, impossível na carreira de engenheiro, Euclides prestou concurso para assumir a cadeira de Lógica do Colégio Pedro II. Farias Brito venceu o concurso mas, por intermédio de amigos, Euclides foi nomeado. No dia 15 de agosto de 1909, no Rio de Janeiro, Euclides foi morto por Dilermando de Assis, amante de sua esposa.

Entre suas obras, além de Os Sertões (1902), destaca-se Contrastes e confrontos (1907), Peru versus Bolívia (1907), À margem da história (1909), a conferência Castro Alves e seu tempo (1907), proferida no Centro Acadêmico XI de Agosto (Faculdade de Direito), de São Paulo, e as obras póstumas Canudos: diário de uma expedição (1939) e Caderneta de campo (1975).

Euclides da Cunha – Autor

Euclides da Cunha
Euclides da Cunha

Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha nasceu em Cantagalo, município do Rio de Janeiro, a 20 de janeiro de 1866. Órfão, foi criado por suas tias na Bahia, onde fez os primeiros estudos.

Matricula-se, mais tarde, na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, transferindo-se depois para a Escola Militar.

Positivista e republicano, é expulso em 1888, por desacatar o então Ministro da Guerra; no ano seguinte da proclamação da República (1890), reingressa na Escola Superior de Guerra, formando-se em Engenharia Militar e Ciências Naturais.

Discordando dos rumos tomados pela república, desliga-se definitivamente do exército em 1896.

Em 1897, trabalhando como correspondente do jornal O Estado de São Paulo, é enviado a Canudos, Bahia, para cobrir a revolta que lá explodia.

Reúne então material para sua obra mais conhecida: “Os sertões” (1902), redigido enquanto o autor planejava a construção de uma ponte em São José do Rio Pardo, interior de São Paulo (Euclides da Cunha se desligara do jornal ao voltar da campanha de Canudos).

Foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 1903.

Entre 1905 e 1906, designado para tratar problemas de fronteiras no norte do país, faz profundos estudos sobre a Amazônia. Retornando ao Rio de Janiero, foi nomeado professor de Lógica do Colégio Pedro II.

Envolvido em dramático episódio familiar, foi assassinado em 15 de agosto de 1909, no Rio de Janeiro.

Embora apresente uma visão de mundo profundamente determinista, cientificista e naturalista, o autor é considerado um pré-modernista, pela denúncia que faz da realidade brasileira, ao mostrar, pela primeira vez em nossa literatura, as verdadeiras condições de vida no nordeste brasileiro. Nisto está o caratér revolucionário de “Os sertões”.

Euclides da Cunha – Jornalista

Euclides da Cunha
Euclides da Cunha

Euclides da Cunha, engenheiro, jornalista, professor, ensaísta, historiador, sociólogo e poeta, nasceu em Cantagalo, RJ, em 20 de janeiro de 1866, e faleceu no Rio de Janeiro em 15 de agosto de 1909. Eleito em 21 de setembro de 1903 para a Cadeira n. 7, na sucessão de Valentim Magalhães, foi recebido em 18 de dezembro de 1906, pelo acadêmico Sílvio Romero.

Era filho de Manuel Rodrigues Pimenta da Cunha e de Eudóxia Moreira da Cunha. Manuel Rodrigues era baiano, pertencia à geração romântica de Castro Alves e fazia versos de inspiração humanitária e social. Órfão de mãe aos três anos de idade, Euclides fez os primeiros estudos em São Fidélis. Depois de freqüentar vários estabelecimentos, concluiu o curso de humanidades no Colégio Aquino, tendo sido ali discípulo de Benjamin Constant. Com outros companheiros, fundou o jornal O Democrata, onde publicou as composições líricas das Ondas, o curioso caderno de 84 poesias, onde já se expressam as amarguras e os arroubos do seu gênio nascente.

Em 1884, matriculou-se na Escola Politécnica. Dois anos depois assentou praça na Escola Militar, às vésperas de 89. Os trabalhos da Revista da Família Militar bem revelam as inspirações daquela mocidade republicana. Em 1888, ocorreu o episódio de insubordinação que ficou famoso, no qual Euclides da Cunha lançou aos pés do ministro da Guerra, conselheiro Tomás Coelho, a sua espada de cadete. Submetido a Conselho de Guerra, foi, por seu ato de indisciplina, desligado do Exército. Mudou-se para São Paulo e iniciou, a convite de Júlio Mesquita, uma série de artigos.

Regressou ao Rio, onde assistiu à proclamação da República. Seus antigos colegas da Escola Militar, todos republicanos como ele, por iniciativa de Cândido de Rondon, foram a Benjamin Constant e solicitaram a reintegração de Euclides da Cunha no Exército. É de 19 de novembro de 1889 o ato de sua promoção a alferes-aluno. Em 1890, concluiu o curso da Escola Superior de Guerra como primeiro-tenente. Foi trabalhar na Estrada de Ferro Central do Brasil em São Paulo e Caçapava. Na revolta de 1893, foi um dos partidários veementes da legalidade. Eventos posteriores e a circunstância de ser genro do general Sólon, preso por Floriano Peixoto, tornaram Euclides da Cunha suspeito. Em 1896, deixou o Exército e volveu à engenharia civil, sendo nomeado engenheiro ajudante da Superintendência de Obras do Estado de São Paulo.

Quando irrompeu o movimento de Canudos, São Paulo colaborou com o país na repressão do conflito, mandando para o teatro da luta o Batalhão Paulista. Euclides foi encarregado pelo jornal Estado de S. Paulo para acompanhar como observador de guerra o movimento rebelde chefiado por Antônio Conselheiro no arraial de Canudos, em pleno sertão baiano. Estava ele no teatro de operações de 1o a 5 de outubro de 1897 e ali assistiu aos últimos dias da luta do Exército com os fanáticos de Antonio Conselheiro. Em Salvador, havia procedido a um profundo estudo prévio da situação no que respeita aos aspectos geográfico, botânico e zoológico da região, bem como aos antecedentes sociológicos do conflito. Documentou-se de modo exaustivo e exato, formando sobre o caso um juízo imparcial e objetivo. Enviou então para o jornal as suas reportagens, que iriam transformar-se no seu grande livro, Os sertões. Em 1898, fixou-se em São José do Rio Pardo, onde redigiu o livro, incentivado pelo seu grande amigo, Francisco Escobar. São José do Rio Pardo conserva até hoje a memória de Euclides da Cunha.

Trabalhando como engenheiro e como escritor, Euclides da Cunha realizou dois trabalhos ao mesmo tempo: quando acabou a construção de sua ponte, acabou também a composição de Os Sertões livro que foi escrito num barracão de madeira, hoje conservado como uma relíquia. Tentou inutilmente publicá-lo no Estado de S. Paulo. Afinal, trazendo uma carta de Garcia Redondo para Lúcio de Mendonça, foi ao Rio de Janeiro tratar da publicação dos Sertões. O livro saiu em 1902 e obteve êxito sem precedentes em nossa literatura, consagrado pela crítica como obra-prima. No ano seguinte, Euclides era eleito para o Instituto Histórico e para a Academia Brasileira de Letras.

Em 1904, Oliveira Lima apresentou Euclides da Cunha ao barão do Rio Branco, que o nomeia chefe da Comissão Brasileira no Alto Purus, para demarcação de fronteiras. Em Manaus era hóspede do seu velho amigo Alberto Rangel. Seguindo para o local a que se destinava, atingiu com a Comissão Mista a foz do Pucani, as últimas vertentes do Purus, realizando assim um dos atos de bandeirismo mais destemidos que se conhecem. Regressando a Manaus, redigiu o “Relatório” da Comissão. Em 1907, passou a trabalhar no Itamarati. São dessa fase os livros Peru versus Bolívia e Contrastes e confrontos, cujas páginas também resultaram de artigos anteriormente escritos para o Estado de S. Paulo. Em 1908, inscreveu-se num concurso de Lógica, no Pedro II. Foi nomeado professor após ter-se submetido à banca examinadora formada por Raja Gabaglia, Paulo de Frontin e Paula Lopes. Como professor, deu apenas 19 aulas, de 21 de julho a 13 de agosto. Na manhã de 15 de agosto de 1909, na Estação de Piedade, Estrada Real de Santa Cruz, caía, ferido por uma bala de revólver, aquele que se tornou, por uma tácita eleição da alma nacional, o gênio por excelência representativo da terra, da gente e das mais elevadas aspirações brasileiras.

A publicação de Os sertões é um marco na vida mental do Brasil. Livro único, sem igual em outras literaturas, misturando o ensaio, a história, as ciências naturais, a epopéia, o lirismo, o drama, mostra a definitiva conquista da consciência de brasilidade pela vida intelectual do país. A importância literária e científica dessa obra, reconhecida, logo de início, pela crítica autorizada de José Veríssimo e Araripe Júnior, e confirmada pelas sucessivas apreciações posteriores, explica o segundo plano em que ficaram as demais obras de Euclides da Cunha. Mas, em Peru versus Bolívia, Contrastes e confrontos e À margem da história também se encontram páginas literárias em que ficaram impressas as marcas inconfundíveis do seu estilo, a objetividade das conclusões, oriundas sempre da observação direta da realidade enfocada e de análises percucientes e honestas, expostas com a coragem de um escritor participante, que só tinha compromissos com a verdade.

Obras

Os sertões, epopéia e ensaio (1902);
Relatório da Comissão Mista Brasileiro-Peruana do Alto Purus (1906);
Castro Alves e seu tempo, crítica (1907);
Peru versus Bolívia (1907);
Contrastes e confrontos, ensaio (1907);
À margem da história, história (1909);
Cartas de Euclides da Cunha a Machado de Assis, correspondência (1931);
Canudos, diário (1939).
Obra completa, org. Afrânio Coutinho, 2 vols. (1966).

Euclides da Cunha – Cronologia

1866

A 20 de janeiro Euclides da Cunha nasce na Fazenda Saudade, em Santa Rita do Rio Negro (atual Euclidelândia ), município de Cantagalo, Rio de Janeiro, primeiro filho de Manuel Rodrigues Pimenta da Cunha e Eudóxia Moreira da Cunha

Euclides da Cunha
Manoel Rodrigues Pimenta da Cunha – Pai

Euclides da Cunha
Eudóxia Moreira da Cunha
Mãe

1869/1870

A mãe, Eudóxia Moreira da Cunha, morreu tuberculosa, deixando Euclides com 3 anos e Adélia com 1. As crianças foram morar em Teresópolis, com tia Rosinda Gouveia, casada com o Dr. Urbano Gouveia, que morreu em 1870.

1870/1876

Mudaram-se, então, para São Fidélis, morando com a tia Laura Garcez, casada com o Coronel Magalhães Garcez, na fazenda S. Joaquim. Com oito anos de idade, na cidade, Euclides estudou no excelente Colégio Caldeira, do exilado político português Francisco José Caldeira da Silva.

1877/1878

O pai, Manoel Rodrigues Pimenta da Cunha, do aplicado aluno Euclides pretendia levá-lo para o Rio de Janeiro, para continuar os estudos nos melhores colégios. Por sugestão da avó, mudou-se para a Bahia, viajando de navio e, em Salvador, foi estudar no Colégio Bahia, do Professor Carneiro Ribeiro.

Euclides da Cunha
Euclides aos 10 anos

1879

Com 13 anos, voltou ao Rio, sob os cuidados do tio, Antônio Pimenta da Cunha, estudando em quatro colégios: Anglo-Americano, Vitório da Costa, Meneses Vieira e Aquino.

1883/1884

No Colégio Aquino, foi aluno de Benjamin Constant, que muito o influenciou.

Escreveu no jornalzinho escolar “O Democrata”, defendendo, no seu primeiro artigo, a natureza e o equilíbrio ecológico – defesa que o acompanharia pela vida, inserida nos seus artigos jornalísticos, na sua conferência “Castro Alves e seu tempo”, nos seus livros: Os Sertões, Contrastes e Confrontos e À margem da História. Adolescente, ainda no Aquino, escreveu poesias numa caderneta, que titulou “Ondas”, datada de 1884, que Euclides salientava “tratar-se de obra dos quatorze anos”. Euclides, segundo alguns biógrafos, poetou dos 16 aos 30 anos.

Seu pai o elogiava por ser muito bom em Matemática, com tendências para as Ciências Exatas.

1885

Com 19 anos, optando pela Engenharia, cursou a Escola Politécnica do Rio de Janeiro, escola cara, que não condizia com as difículdades econômicas da família.

1886

Assentou praça na Escola Militar (Praia Vermelha), gratuita, que lhe daria, também, o título de engenheiro. Reencontrou, como professor, Benjamin Constant, integrando-se no movimento republicano.

Alunos da Escola Militar da Praia Vermelha. Euclides é o quinto da primeira fileira a contar da direita – 1888

Em 4 de novembro, o ministro da Guerra, Tomás Coelho, visitava a Escola. Os alunos em forma, numa revista de mostra, “fuzis perfilados em continência nos ombros”, com sabre engatado na espingarda, saudavam a autoridade monárquica. Ao passar diante do ardoroso jovem republicano, Euclides da Cunha, este atirou a arma aos pés do ministro (ou o sabre?). O fato é conhecido como “episódio do sabre”. O ato de indisciplina levou o cadete à prisão, transferido, logo depois, para o Hospital Militar do Castelo, em respeito ao laudo médico que atestava esgotamento nervoso por excesso de estudo. Diante dos juízes, o destemido Euclides confirmou sua fé republicana, sendo então transferido para a Fortaleza de São João, aguardando conselho de guerra, cujo julgamento não se realizou, pela intervenção de muitos. D. Pedro II lhe perdoou. Em 11 de dezembro, foi cancelada sua matrícula.

No final daquele 1888, o jovem Euclides estava em São Paulo. Dia 22 de dezembro, iniciou sua colaboração no jornal “A Província de S. Paulo”, escrevendo sob o pseudônimo de Proudhon (escritor francês [1809 – 1865], um dos teóricos do Socialismo que proclamou ser a propriedade privada um roubo, pregando uma revolução que igualaria os indivíduos). Colaborou até maio.

1889

Quatro dias depois de proclamada a República, em 19 de novembro de 1889, Euclides foi reintegrado na Escola Militar, graças ao empenho dos professores Rondon e Benjamin Constant. Dias depois, foi promovido a alferes-aluno.

1890

Em janeiro, matriculou-se na Escola Superior de Guerra. No mês seguinte, concluiu o Curso de Artilharia. De março a junho, teve seus artigos publicados no jornal “Democracia”, de orientação republicana. O alferes-aluno criticava o país mergulhado em interesses pessoais, opondo-se ao movimento que pretendia trazer de volta o Imperador. Atacou a imprensa católica e os programas da Faculdade de Direito, defendendo o Positivismo. Causou espanto ao apelar para a Providência Divina. Espanto, também, ao lembrar a “feição suavíssima e humana de Cristo” e confessar não ser decidido partidário de Comte.

Dia 14 de abril, foi promovido a segundo-tenente, escrevendo, neste dia, uma carta ao pai, registrando seu desencanto com os homens da República, incluindo entre eles seu ídolo: Benjamin Constant, prometendo afastar-se do jornal e de tudo mais.

Ainda em 1890, 10 de setembro, casou-se com Anna Emília Ribeiro (foto), filha do major Frederico Solon Sampaio Ribeiro, conhecido e citado como major Solon Ribeiro. Conheceu-a na sua casa durante encontros republicanos com seu pai.

Numa das visitas deixou a ela um bilhete: “Entrei aqui com a imagem da República e parto com a sua imagem.”

1891

Concluiu o Curso da Escola Superior de Guerra, “de onde saiu com o título de Bacharel em Matemática, Ciências Físicas e Naturais.”

1892

Em janeiro, foi promovido a primeiro-tenente.

De 29 de março a 6 de julho escreveu para o jornal “O Estado de S. Paulo”: coisas novas, como o Socialismo, estão claras em seus artigos, como o publicado em 1º de maio, cujo trecho se repete no final de “Um velho problema”, de 1904: “Para abalar a terra inteira basta-lhe um ato simplíssimo – cruzar os braços”. Em julho foi nomeado assistente de ensino técnico na Escola Militar da Praia Vermelha.

1893

Agosto. O presidente, marechal Floriano Peixoto, mandou chamar Euclides, oferecendo-lhe cargos e posições. Euclides apresentou-se com a farda de primeiro-tenente. “Veio em ar de guerra…não precisava fardar-se. Vocês aqui entram como amigos e nunca como soldados.” – disse-lhe o marechal, declarando que Euclides tinha direito a escolher qualquer posição.

“Ingenuamente”, o primeiro-tenente, com 27 anos, respondeu-lhe que desejava o que previa a lei para os engenheiros recém-formados: um ano de prática na Estrada de Ferro Central do Brasil!

Em setembro, a Marinha pretendeu depor Floriano Peixoto (Revolta da Armada).

1894

Um regime ditatorial se implantou no Brasil: prisões, suspensões de garantias, intervenções nos Estados. Os marinheiros da “Revolta da Armada” exigiam a renúncia de Floriano Peixoto. Uma bomba explodiu nas escadarias do jornal “O Tempo”. Boatos afirmavam que Solon Ribeiro, sogro de Euclides, deputado por Mato Grosso, estava preso e que seria fuzilado. Euclides interpelou Floriano, que silenciou.

O engenheiro-jornalista escreveu duas cartas, com o título “A Dinamite”, publicadas no jornal “Gazeta de Notícias”, em 18/2 e 20/2, contra as idéias aloucadas do senador João Cordeiro, do Ceará, que “pedia fuzilamento dos manifestantes presos, como vingança aos florianistas mortos.” Condenava a posição do senador, “não o desejando nem como companheiro de lutas”.

Seus artigos e sua posição trouxeram-lhe complicações. Em 28 de março, Euclides foi transferido para a pequena cidade mineira de Campanha para dirigir a construção de um quartel. Como um exilado, voltou-se para os livros, tendo sido encontrado, com anotações desse período, o “Teoria do Socialismo”, de Oliveira Martins.

1895

Em fevereiro recebeu a visita do pai, indo com ele para Descalvado. Em 28 de junho, era agregado ao Corpo do Estado-Maior de 1ª classe, depois do parecer de uma junta médica.

1896

Desencantado com a República e seus líderes, abandonou a carreira militar. Foi reformado como primeiro-tenente. Em 18 de setembro, foi efetivado na Superintendência de Obras Públicas do Estado de São Paulo, como engenheiro-ajudante de 1ª classe.

Foi autorizada a construção da ponte metálica em São José do Rio Pardo. Ganhou a concorrência o engenheiro Artur Pio Deschamps de Montmorency, brasileiro, nascido no Rio de Janeiro, em 1858, que concluiu os estudos de Engenharia Civil na Universidade de Gand (Bélgica), em 1879, com 21 anos, “com sólidas credenciais de competência e idoneidade”. No Brasil, trabalhou com o engenheiro Ramos de Azevedo e na Companhia Mogiana de Estradas de Ferro. Em São José, Montmorency liderou um movimento para a construção de uma pequena usina hidrelétrica, recebendo o apoio de muitos entusiasmados rio-pardenses-acionistas. Com a queda da ponte, ele foi processado e absolvido, em 1900. Dizem que, muitos anos depois, suicidou-se.

Euclides da Cunha, fiscal de obras desse distrito, veio a São José duas vezes: de 25 a 28 de agosto e em 25 de setembro.

No final de 96, já estavam prontos os dois encontros, um dos pilares, estando o outro quase pronto.

1897

A ponte metálica de São José do Rio Pardo, vinda da Alemanha, chegou em fins de fevereiro ou início de março, em três partes, para alegria dos rio-pardenses.

Os jornais de 7 de março comentaram a morte do Cel. Moreira César e o desbaratamento de 1.500 soldados pelos fanáticos do Conselheiro, que pregava contra a República.

Euclides da Cunha, preocupado com um provável movimento monarquista, escreveu dois artigos com o mesmo título: “A nossa Vendéa”, n’ “O Estado de São Paulo”, em 14 de março e 17 de julho.

Nos artigos, comparou a região francesa da Bretanha (Vendée) com os sertões da Bahia, as charnecas com as caatingas, o “chouan” (insurreto da Vendéa) com o jagunço, ressaltando o mesmo objetivo: lutar contra a República para restaurar a Monarquia.

Júlio de Mesquita, diretor de “O Estado de S. Paulo”, convidou-o a seguir como repórter de guerra para Canudos, no sertão da Bahia (área limitada pelo rio São Francisco, ao Norte e Ocidente, e pelo Itapicuru, ao Sul). Tirou licença na Superintendência para “tratar de interesses”, em 1º de agosto. Aceitou o convite, seguindo a 4 de agosto, no vapor “Espírito Santo”, acompanhando a 21ª Brigada de Divisão Auxiliar. Chegou a Canudos a 16 de setembro, um vilarejo iniciado em 1893, no sertão da Bahia, numa curva do rio Vaza

Barris, hoje submerso, coberto pelas águas da represa de Cocorobó . Viu a luta desigual, a morte de amigos, a bravura dos jagunços.

Canudos não era um foco monarquista, como dizia Artur Oscar: “Antônio Conselheiro era um monarquista por fanatismo. Seu monarquismo era meramente religioso, sem aderências à política.” Euclides viu o final da guerra, encerrada aos 5 de outubro. Voltou abalado, fazendo uma promessa: vingar o extermínio de Canudos. Os Sertões, seu livro vingador, começava a nascer. Em janeiro de 1902, de Lorena, escreveu a Francisco de Escobar: “(…) Serei um vingador e terei desempenhado um grande papel na vida – o de advogado dos pobres sertanejos assassinados por uma sociedade pulha e sanguinária.”

Uma revista francesa, a “Hachette”, de Paris, na sua resenha de 1897, citou o Conselheiro como um comunista pregando o restabelecimento da Monarquia.

Euclides voltou.

Na passagem pelo Rio de Janeiro, publicou no “Jornal do Comércio” o plano de um livro, “A nossa Vendéia”, com duas partes: a “natureza” e o “homem”.

Em 21 de outubro, estava em São Paulo.

Dia 26, publicou o último artigo da série “Diário de uma expedição”: “O Batalhão de São Paulo”, no jornal “O Estado de S. Paulo”.

Doente, Euclides foi descansar na fazenda do pai, em Descalvado.

A ponte metálica de São José do Rio Pardo, depois da prova de resistência (Montmorency e um empreiteiro atravessaram-na num trole), foi aberta ao público, sem festas, em 3 de dezembro de 1897. ( Veja “A ponte de Euclides”, à pág 25, 1.º parágrafo)

Mais festejada do que a ponte foi a inauguração da luz elétrica, no mesmo dia.

1898

Dia 18 de janeiro, o “Estado” publicou um artigo de Euclides: “Excerto de um livro inédito”, com trechos de Os Sertões.

Apresentou no Instituto Histórico de São Paulo um seu trabalho: “Climatologia da Bahia”, aproveitado em Os Sertões.

Na madrugada de 23 de janeiro de 1898, um domingo, a bela ponte metálica alemã de São José do Rio Pardo ruiu, emborcou, 50 dias depois de inaugurada. Os jornais condenaram a Superintendência de Obras e os engenheiros responsáveis. Euclides, o engenheiro-fiscal, embora em licença desde agosto de 97, sentiu-se abalado, culpado. Cinco dias depois, dia 28, estava em São José, com o diretor Gama Cochrane e o engenheiro Carlos Wolkermann. Vieram a fim de verificar “in loco” o desastre e tentar salvar a ponte metálica. Euclides pediu ao seu superior que o deixasse reconstruir aquele monumento.

Em fevereiro, Euclides já estava residindo em São José e trabalhava com afinco na desmontagem da ponte.

Dia 9 de março, Euclides solicitou o pagamento dos seus vencimentos para saldar compromissos e para as despesas da mudança e da viagem da mulher e dos dois filhos para São José do Rio Pardo.

Em março, talvez dia 14, a família já estava reunida em São José: Euclides, a esposa Anna e os dois filhos: Solon, com 6 anos, e Euclides Filho, o Quidinho, com 4. Foram morar na Treze de Maio, mas o botequim do Sílvio Dan, em frente, onde se reuniam muitos italianos para ouvir música e jogar o “jogo do morra”, acompanhado de uma gritaria infernal, perturbava. Euclides não podia escrever, nem estudar. Conta-se que certa noite, nervoso, saiu armado.

Procurou o amigo intendente (prefeito) para protestar. Dias depois, Dan mudou-se para o Bonsucesso e a família Cunha mudou-se para o sobradinho de esquina da Treze de Maio com a Marechal Floriano.

Anna Emília com os filhos Solon e Quindinho no quintal do sobradinho de esquina (hoje Casa de Cultura Euclides da Cunha ou Casa Euclidiana)

Diziam, na cidade, que Anna Emília foi muito falada. Ela abominou a cidade e não perdeu oportunidades para diminuí-la, declarando aos jornais, sem argumentos, que Os Sertões não foi escrito em Rio Pardo. Mais tarde, criticou o Grêmio Euclides da Cunha, que lhe enviava, com regularidade, os convites das festas euclidianas.

Sua filha, Judith, nascida do casamento com Dilermando de Assis, autora do livro Anna de Assis – História de um Trágico Amor, escreveu: “Enquanto a mulher do fim do século se escondia na cozinha, (…) Anna de Assis foi para a sala de visitas palestrar com um Machado de Assis, um Barão do Rio Branco (…). Mulher audaz, independente, morando numa cidadezinha pequena e provinciana como São José do Rio Pardo, teria seus momentos ímpares confundidos pela mente pequena e bitolada daqueles que não enxergavam o horizonte (…). Ali naquela cidadezinha, Anna de Assis deixou a imagem de uma mulher fútil e namoradeira. Conclusão chegada porque se postava à janela e alegre e moderna, não se escondia dos homens. (…)”.

Euclides, com a família em São José, teve momentos de grande serenidade, até aceitando o seu “triste ofício de engenheiro”. Na cidadezinha, encontrou aquele recanto de paz tão procurado, que lhe permitiu concluir a obra máxima da literatura brasileira: Os Sertões, o livro vingador, que defendeu “os pobres sertanejos assassinados por uma sociedade pulha e sanguinária.”

A ponte em reconstrução ficava perto do sobradinho de esquina onde morava. Ele descia a ladeira a pé, ou a cavalo, passando o dia à beira do rio, entre operários, cálculos e ferragens, só voltando a casa à noitinha. O preto Benjamin, britador da turma, era o encarregado de pegar seu almoço, trazendo-o numa bandeja. Foi o que declarou Atílio Piovesan ao repórter de “Gazeta do Rio Pardo”, numa entrevista publicada em 15 de agosto de 1939, cujo número, infelizmente, desapareceu da coleção. Ele falou dos operários da ponte, na maioria italianos, “fortes e rijos, vendendo saúde”, mostrando a todos que o trabalho, tão relegado por ter sido uma atividade de escravos, não era vergonha e, sim, um gerador de liberdade e progresso.

Atílio, mais tarde encarregado do vapor que movia a bomba centrífuga, citou alguns companheiros: Agostinho Rossi, encarregado do serviço dos pedreiros; Torquato

Colli que, diziam, conheceu Euclides no final da Guerra de Canudos, na Bahia, reencontrando-o no trabalho da ponte; Guido Marchi ganhou do escritor seu banco tosco, que ficava na cabana, durante a limpeza do recanto para a inauguração da ponte; nos anos 30, a família Marchi o doou a municipalidade, voltando à cabana; Mateus Volota, o guarda da ponte, calabrês, de argolinha de ouro na orelha furada, era o homem de confiança do engenheiro: foi o trabalhador citado várias vezes por Euclides nas suas cartas; morreu na epidemia de febre amarela, em 1903. D’Andrea e Garibaldi Trecoli morreram afogados durante os trabalhos.

A minúscula cabana de sarrafos e zinco foi construída sob a frondosa paineira, que morreu em 1961. Era seu escritório, onde fazia cálculos, desenhava, via e revia as plantas da ponte e escrevia nos momentos de folga, dando continuidade ao seu livro…

Em fevereiro de 1898, Euclides construiu a ponte provisória, começando o desmonte da metálica tombada.

Três meses depois, o jornal “O Estado de S. Paulo” deu notícias do trabalho: “(…) está concluído o serviço de remoção da ponte do Rio Pardo. Dia 30 de maio, à 1 hora da tarde, foi retirada a última peça.”

Serviu-se cerveja aos operários e pessoas presentes. Uma passeata comemorativa percorreu as ruas da cidade. (Veja “A ponte de Euclides”, à pág. 27, 3 últimos §).

1899

Continuavam os trabalhos de reconstrução da ponte e a redação de Os Sertões. Na “Revista Brasileira”, foi publicado um artigo de Euclides: “A Guerra do Sertão”.

Ele terminava o seu livro, ouvindo o Chico Escobar e sendo ouvido pelos seletos amigos nas tertúlias à beira-rio, ou em sua casa. O artigo abaixo comprova o fato.

Dia 1º de junho, o jornal “O Rio Pardo” publicou “De cá para lá”, de Humberto de Queiroz, o amigo mocoquense, que assinou seu trabalho com a letra Q:

“O de cá para lá de hoje, se deveria intitular – de lá para cá – pois ele é escrito sob as agradáveis impressões, que me ficaram de um dia e uma noite, passados em São José. O dia correu alegre, variado e bom, daqui para ali, dali para aqui, faltando apenas o Mauro para que fosse melhor. O Valdomiro, o Chico, o jantar cordial e alegre do meu reverendo e respeitável amigo o bom do Oliveiros (…). / À noite, (…) foi gasta, gasta não, aproveitada em casa do dr. Euclides da Cunha, onde se reuniram ele – uma inteligência fina, sagaz e cultíssima; o dr. V. S. (Valdomiro Silveira. Este parêntese e os que se seguem são meus), adorável homem de letras; o F.E. (Francisco de Escobar) um juízo e uma ilustração ‘equilibrados, fartos e matemáticos’, mais tarde o dr. J.S. (Jovino de Sylos) jurisconsulto e poeta de renome e eu que, se nada sou, gosto de admirar o que é fino e bom de verdade, cousa rara nos tempos que correm. / Depois de uma deliciosa palestra, a leitura não menos deliciosa de trechos de um livro, a ir para o prelo, proficientemente escrito pelo dr. E. C — a Guerra de Canudos. / O Mauro ( Mauro Pacheco) não quer que a gente escreva muito, razão bastante para que eu não possa dizer tudo o que ficou de sincera admiração por esse trabalho de um valor extraordinário, por esse livro que vai em breve produzir real sensação no mundo que lê. (…) / Mococa, 25-5-1899 – Q”

1900

Dia 3 de maio, e não mais em 22 de abril, em respeito ao calendário gregoriano, foi comemorado o Quarto Centenário do Brasil. Em São José, mais de duas mil pessoas participaram da passeata, com fogos, banda e discursos dos doutores Álvaro Ribeiro, Pedro A. de Aquino, José Rodolfo Nunes e Euclides da Cunha. Foi a primeira e única vez que o engenheiro-jornalista participou de uma festa e falou em público em Rio Pardo.

Talvez, querendo mostrar-se grato ao simpático jornal que, carinhosamente, tanto o citava, escreveu um artigo, e único, para “O Rio Pardo”, intitulado “O 4º Centenário do Brasil”, que “tratava das viagens de Colombo, Vasco da Gama, de Cabral”, saudando as três nações: Itália, Portugal e Brasil. O artigo foi assinado com as letras E.C..

Dizem que em maio de 1900, o livro Os Sertões estava pronto, sendo copiado, com letra legível, pelo comerciante, calígrafo e copista José Augusto Pereira Pimenta, citado por Euclides da Cunha em carta a Escobar. Passou a limpo as tiras do livro que Euclides escrevia com garranchos, afirmando que a partir de “O estouro da boiada”, o livro foi aqui escrito, cerca de 80% da obra.

As declarações de José Honório de Sylos, que também teve em mãos as primeiras tiras, são concordes com as de Pimenta..

Em junho de 1900, o povo desceu as ladeiras para chegar ao pátio de obras e ver a ponte montada num plano, em terra firme, novinha em folha, não acreditando que era a mesma que tombara e ficara toda retorcida.

Ela estava com suas medidas originais: 100,08m de comprimento, 6,60m de largura e o vão de 4,50m entre os passeios. Os visitantes admiraram, também, os fortes pilares de pedra e concluíram que era a fase final dos trabalhos.

Um mês depois, o jornal do dia 15 de julho informava que “terminou anteontem o conserto da ponte sob a inteligente e criteriosa direção do Dr. Euclides da Cunha.”

4 de novembro. “O Rio Pardo” transcreveu do jornal “Comércio de S. Paulo” um longo artigo que versava sobre a conclusão do livro “do ilustrado engenheiro Dr. Euclides da Cunha (…) sobre a dramática expedição militar do sertão da Bahia. (…) O autor, que foi testemunha presencial dos horrores que se passaram naqueles ínvios lugares, se pronuncia com independência de exposição e muito talento. Para a publicação (…) tem o Dr. Euclides da Cunha editor escolhido. Muito breve começará a impressão (…).”

(Cabe, aqui, um antecipado esclarecimento: a Editora Laemmert, do Rio de Janeiro, temerosa com insucessos, não bancou a publicação. Euclides financiou a 1ª edição, com mil volumes, pagando um conto e quinhentos. Esta edição esgotou-se em 60 dias.).

O versátil Euclides conseguiu conciliar as ciências humanas e as exatas. Escrevia, reconstruía a ponte e, ainda, dirigiu os serviços da estrada São José-Caconde (28,8 km), terminados em novembro de 1900. Elaborou um projeto para a reforma da cadeia e, a pedido do juiz de Direito, supervisionou as atividades do agrimensor, indicado por ele, na divisão da fazenda “Açudinho”, objeto de partilha.

No final do ano, preocupado com tanto trabalho, Euclides abandonou seu Os Sertões para atender a um pedido do amigo Júlio de Mesquita, diretor d’ ” O Estado de S. Paulo” que lhe solicitara um difícil trabalho de análise dos cem últimos anos das atividades humanas no Brasil.

Dia 31 de dezembro de 1900, o último dia do século XIX, o artigo foi publicado em página inteira, com o título: “O Brasil no século XIX”.

Euclides assistiu de longe às comemorações socialistas, estardalhantes. O “Clube Socialista dos Operários”, fundado por italianos em 19 de abril de 1900, realizou a grande festa do 1º de Maio, Dia do Trabalho, dias depois, com alvorada, salva de 21 tiros, passeata, bandas e discursos no salão de honra da Sociedade Italiana. Os muitos imigrantes ombreavam-se com autoridades e pessoas de renome da sociedade local. Era a nova ordem social que se iniciava na província…

Euclides chegou a São José ainda desencantado com os homens da República, sem a rebeldia do adolescente aluno da Escola Militar, sem a ousadia do redator das duas cartas publicadas em “Gazeta de Notícias” contra o florianista senador João Cordeiro, que lhe valeu o exílio em Campanha (MG)… Na cidade da Mojiana, trabalhava na ponte e continuava a escrever seu livro.

Embora com convicções socialistas, Euclides manteve-se longe de todas as manifestações. Sua posição ideológica em defesa do injustiçado, do oprimido e do explorado está em suas obras.

Em 9 de setembro de 1900, foi fundada uma nova instituição socialista: o “Clube Internacional – Filhos do Trabalho”.

Eram seus sócios os eruditos amigos de Euclides: Francisco de Escobar, Inácio de Loyola Gomes da Silva, Mauro Pacheco… O clube manteve um curso de alfabetização de adultos.

1901

Em 1º de maio de 1901, o “Clube Socialista dos Operários” se transformou em instituto de benemerência, com novo nome: “Clube dos Operários 1º de Maio – Honra e Trabalho”.

Por informações imaginosas, sem fundamento, passadas aos biógrafos, Euclides entrou na história como socialista militante em São José, fundador do partido socialista, dirigente de desfiles, colaborador d’ “O Proletário”, autor do manifesto do Partido Socialista em 1901. E essas inverdades foram transmitidas a levas de estudantes.

Coube ao promotor público, Dr. José Aleixo Irmão, sério e incansável pesquisador, no seu livro Euclides da Cunha e o Socialismo (1960), desfazer enganos e contestá-los nas obras de Francisco Venâncio Filho, Eloy Pontes, Sílvio Rabelo, Freitas Nobre, Menotti del Picchia e de outros.

O século XX chegou encontrando ponte e livro prontos.

A ponte, já com data para a inauguração: 18 de maio de 1901. O livro iria com o escritor, à procura de uma editora.

Em janeiro de 1901, Euclides foi promovido a Chefe de Distrito de Obras Públicas de São Paulo.

Dia 31 de janeiro, nasceu Manoel, o terceiro filho de Euclides, conhecido como Manoel Afonso (Afonsinho), cujo segundo nome não consta no “Livro de Nascimento” nº 14, página 120v., do Cartório de Registro Civil. Euclides, sempre ocupado, não deveria estar presente no ato, pois a declaração do nascimento e a assinatura são do Dr. Pedro Agapio de Aquino.

Dia 18 de maio, aconteceu a grande festa da inauguração da ponte. (Veja artigo “A Ponte de Euclides”, à página 29 [4 últimos §] e pág. 30).

Neste dia, seu filho de quatro meses foi batizado pelo vigário José Thomaz de Ancassuerd, com um só nome: Manoel, tendo como padrinhos o dr. Álvaro Ribeiro e dona Julieta de Souza.

Estava encerrada a missão do engenheiro em São José.

Euclides, Anna, Solon, Quidinho e Manoel deixaram a cidadezinha dias depois, cidade predestinada a proteger três monumentos: a ponte e a cabana, que seriam monumentos nacionais, e a memória de Euclides, através do euclidianismo, um traço cultural que diferencia São José do Rio Pardo das demais cidades.

Com a família, Euclides deixou São José, indo para São Carlos do Pinhal, acompanhar a construção do edifício do fórum local. Em novembro, já residia em Guaratinguetá, por estar entre Rio e São Paulo.

Euclides, pobre, levava consigo o original d’ Os Sertões, seu pedestal para a glória.

1902

Um ano depois da inauguração da ponte, maio de 1902, de Lorena, Euclides escreve a Escobar: “Sempre pensei estar aí no dia 18, 1º aniversário da ponte. Mas estarão você, o Álvaro, o João Moreira e o Jovino. Encaminhem-se para lá naquele dia, paguem uma cerveja (barbante) ao velho Mateus e recordem-se por um minuto do amigo agradecido ausente.”

Em outra carta do mesmo ano pedia a Escobar olhar o velho Mateus, pois soubera que seria despedido “com a próxima contradança municipal”.

Euclides fixou residência em Lorena. Em maio, recebeu da Editora Laemmert as primeiras páginas impressas do seu Os Sertões.

Em junho, desapontado, responde a carta de Escobar sobre o aniversário da ponte: “(…) Iludi-me apenas num ponto: os ‘numerosos’ quatro amigos de que lhe falei antes reduziram-se a dois: você e o Lafayette. Mas estes… estou satisfeitíssimo.”

Em agosto, preocupado, Euclides escreve a Escobar exigindo-lhe resposta imediata. Soube que uma fenda num dos pilares punha em perigo a segurança da ponte. Queria confirmação. A fenda nada mais era do que um risco de colher de pedreiro.

Em outubro, na Editora Laemmert, no Rio de Janeiro, Euclides encontrou erros no seu livro. Preocupado e perfeccionista, corrigiu, com paciência monacal, com canivete e tinta nanquim, 80 erros em cada um dos mil livros da 1ª edição. (Os biógrafos divergem: a tiragem da 1ª edição seria de mil ou dois mil exemplares?).

Em dezembro (ou fins de novembro), o livro Os Sertões vem à luz, com elogios dos críticos literários. A edição esgotou-se em dois meses. Sucesso.

Foram lançadas novas edições: 1903, 1904 (Euclides fez correções num volume desta 3ª edição, com uma observação: “Livro que deve servir para a edição definitiva (4ª).” (Este volume foi encontrado só depois da sua morte e as correções, com duas mil emendas, foram feitas na 5ª edição), 1911, 1914, 1923, 1924, 1925, 1926, 1927 (com prefácio), 1929. Da 6ª edição (1923) à 11ª (1929), os livros foram impressos em Paris. Em 1929, o livro Os Sertões voltou a ser impresso no Brasil, pela Livraria Francisco Alves, até a 27ª edição, em 1968, com revisão cuidadosa de Fernando Nery, com títulos e subtítulos à margem. O livro caiu em domínio público, hoje publicado por muitas editoras, como a da Editora Cultrix – edição didática, cotejada pelo nosso preclaro Professor Hersílio Ângelo. Os Sertões correu mundo, traduzido em mais de uma dezena de línguas. Com ele, São José do Rio Pardo também se projetou, muito além das suas fronteiras.

1903

Em fevereiro, estava esgotada a 1ª edição. Em julho, foi lançada a 2ª.

Em 21 de setembro, Euclides foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras e, em 20 de novembro, tomou posse no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.

1904

Em 15 de janeiro, o engenheiro-escritor foi nomeado engenheiro-fiscal das obras de saneamento de Santos. Pediu exoneração em 22 de abril. Em agosto, foi nomeado chefe da Comissão do Alto Purus, partindo dia 13, do Rio de Janeiro para o Amazonas, no vapor “Alagoas”. Chegou a Manaus em 30 de dezembro.

Euclides da Cunha
A caminho do Alto Purus. Euclides está atrás, no meio da foto

1905

Em março, reuniram-se as comissões Brasil-Peru. Em 5 de abril partiram de Manaus para as nascentes do Rio Purus, chegando em 14 de agosto. Em outubro, a comissão regressou a Manaus, concluindo os trabalhos, em 16 de dezembro.

1906

De volta ao Rio de Janeiro, em fevereiro, Euclides entregou o relatório ao Ministério do Exterior, que só foi publicado em junho. Tornou-se adido ao Gabinete de Rio Branco.

Em 18 de dezembro, Euclides tomou posse na Academia Brasileira de Letras. Lançada em Portugal a 1ª edição de Contrastes e Confrontos (artigos publicados entre 1901-1904 nos jornais “O Estado de S. Paulo”e “O País”).

1907

Publicação de Peru versus Bolívia (oito artigos escritos para o “Jornal do Comércio”). Em 2 de dezembro, proferiu a conferência “Castro Alves e seu tempo”, no Centro Acadêmico XI de Agosto (Faculdade de Direito), de São Paulo.

1908

Trabalhos no Ministério do Exterior. Prefaciou os livros

Inferno Verde, de Alberto Rangel, e Poemas e Canções, de Vicente de Carvalho. Reviu seu livro À margem da História (estudos sobre a Amazônia), só publicado depois da sua morte, em setembro de 1909.

1909

Maio, dias 17 e 26. Euclides prestou o concurso de Lógica do Colégio Pedro II, prova escrita e oral, classificando-se em 2º lugar (o primeiro foi Farias Brito). Foi nomeado professor em 14 de julho. Ministrou sua primeira aula dia 21 e a última em 13 de agosto.

Dia 15 de agosto, manhã de domingo chuvoso, foi assassinado por Dilermando de Assis. O destino encenou e encerrou uma história de um trágico amor.

Euclides viajou para a Amazônia, em dezembro de 1904, a serviço do Ministério das Relações Exteriores, para demarcar os limites entre Brasil e o Peru, no Acre. Ficaria um ano fora. Anna Emília e o caçula Manoel mudaram-se para a Pensão Monat, de madame Monat, à Rua Senador Vergueiro, 14. Solon e Quidinho estavam em colégios internos. Em 1905, Anna Emília, com 30 anos, conheceu, na pensão, o belo rapaz loiro, olhos claros, alto, de 17 anos, Dilermando de Assis (foto), cadete da Escola Militar. Apaixonaram-se. A diferença de idades não foi empecilho para o nascer daquele trágico amor. Dilermando era, apenas, quatro anos mais velho do que seu amigo Solon, o primogênito do casal Cunha. Ainda em 1905, Anna, os filhos e o jovem amante mudaram-se para a casa da Rua Humaitá, 67.

Dia 1º de janeiro de 1906, Euclides desembarcou no Rio. Voltava para “as suas quatro e enormes saudades”. Anna estava grávida. Dilermando transferiu-se para a Escola Militar do Rio Grande do Sul. Euclides não poderia ter mais dúvidas da traição da esposa. Foram muitas as cartas trocadas pelos amantes.

As de Dilermando iniciavam-se, sempre, com frases de carinho e ternura: “Minha nunca esquecida e queridinha S’Anninha”; “Minha adorada e sempre idolatrada esposinha”; “Adorada e saudosa esposinha”; ” Perene lembrança de meu coração”; “Minh’alma que tanto adoro”…

Euclides, tuberculoso, tinha crises de hemoptise.

Nasceu Mauro, em julho de 1906, registrado como filho do engenheiro-escritor. Viveu, apenas, sete dias.

No início de 1907, Dilermando voltou de férias ao Rio. Anna, novamente, engravidou. Em novembro, nasceu Luiz, que Euclides registrou, também, como seu filho, definido-o como uma “espiga de milho no meio de um cafezal”, pelos cabelos claros e olhos azuis, que contrastavam com as características físicas de seus outros filhos.

Dilermando terminou o curso no Rio Grande do Sul, foi promovido a tenente, voltou ao Rio em 1908, indo morar com o irmão Dinorah, guarda-marinha, aluno da Escola Naval, atleta, jogador de futebol do Botafogo de Futebol e Regatas, no bairro de Piedade, subúrbio carioca.

As desavenças entre Anna e Euclides cresciam num relacionamento insustentável. Dia 14 de agosto de 1909, ela abandonou o lar, hospedando-se na casa de Dilermando.

Na manhã chuvosa do dia seguinte, 15, às 10 horas, mais ou menos, Euclides batia palmas no portão da casa 214, da Estrada Real de Santa Cruz, em Piedade, sendo recebido por Dinorah. Anna e os filhos Luiz e Solon esconderam-se na despensa. Euclides entrou. Dilermando ficou num quarto.

Armado, Euclides atirou. Dinorah ficou ferido: a segunda bala se alojou na sua nuca. (O atleta, jogador de futebol, gradativamente, foi perdendo seus movimentos. Aleijado, morreu à míngua, como mendigo, suicidando-se no porto, em Porto Alegre). Dilermando recebeu tiros na virilha e no peito. Campeão de tiro ao alvo, tentou desarmar o marido traído e desequilibrá-lo, com tiros no pulso e na clavícula. Euclides dera seis tiros. A sétima bala ficou travada. Saindo da casa, o famoso homem que honrou o Brasil com seu livro e seu saber, foi atingido nas costas. Caiu. Levaram-no para dentro. Ao filho Solon, que estava naquela casa, talvez tentando convencer a mãe a voltar ao lar desfeito, o pai moribundo disse: “Perdôo-te”. Ao desafeto, “Odeio-te”. À mulher: “Honra… Perdôo-te”.

Quando o médico chegou, Euclides da Cunha estava morto.

Dilermando foi absolvido em 5 de maio de 1911, casando-se com Anna sete dias depois, em 12 de maio. Abandonou-a em 1926, com cinco filhos. Ela estava com 50 anos, ele, com 36.

1916

Solon, seu filho mais velho, delegado no Acre, foi assassinado numa tocaia, na floresta, a seis de maio.

Quidinho (Euclides da Cunha Filho), aspirante da Marinha, encontrou-se com o assassino do seu pai no Cartório do 2º Ofício da 1ª Vara de Órfãos, no Rio de Janeiro. Puxou a arma e feriu Dilermando de Assis. Este o matou com três tiros, em 4 de julho de 1916.

1937

Foi editada a obra póstuma: Canudos (Diário de uma Expedição).

1975

Publicação de Caderneta de Campo.

ORIGENS DA FAMÍLIA

Manuel da Cunha, avô de Euclides, português, traficante de escravos, homem de posses, estabelece-se na província da Bahia nos começos do século XIX.

Casa-se com uma sertaneja, Teresa Maria de Jesus, e têm um filho, Manuel Rodrigues Pimenta da Cunha, pai do escritor, que vem a mudar-se para o Rio de Janeiro.

Em sua geração, a família decai de sua condição de classe: guarda-livros, o pai de Euclides se insere na camada média da população.

Por volta da metade do século XIX, o vale do rio Paraíba, na província fluminense, assiste à expansão das lavouras cafeeiras. Manuel Rodrigues Pimenta da Cunha percorre, em função de seu ofício, as fazendas locais e assim conhece Eudóxia, filha de um pequeno proprietário de terras. Casam-se e, a 20 de janeiro de 1866, nasce o primeiro filho do casal, o futuro escritor Euclides da Cunha.

OS ANOS DE FORMAÇÃO

Órfão precoce – a mãe falece de tuberculose quando Euclides conta apenas três anos – o menino é enviado a residir, primeiramente, com a família da tia materna, Rosinda Gouveia. Falecendo esta, também, em 1870, vai morar em São Fidélis, com a irmã, Adélia, na fazenda de outra tia, Laura.

Inicia seus estudos no Colégio Caldeira, lá mesmo, em São Fidélis mas, pouco depois, é mandado à Bahia, para a casa dos avós paternos, continuando seus estudos no Colégio Bahia, do professor Carneiro Ribeiro.

Sob os cuidados do tio paterno, Antônio Pimenta da Cunha, Euclides é posteriormente matriculado no Colégio Anglo-Americano, no Rio de Janeiro, frequentando, a seguir, os Colégios Vitório da Costa e Meneses Vieira. Transferindo-se em seguida para o Colégio Aquino, publica, no jornalzinho deste estabelecimento, “O Democrata”, seus primeiros artigos.

Em março de 1885, aos 19 anos, presta exames e, aprovado, matricula-se na Politécnica. No ano seguinte assenta praça na Escola Militar da Praia Vermelha.

Nestes derradeiros anos do império, no Brasil, o ideal republicano já está disseminado entre professores e alunos do estabelecimento. A 4 de novembro de 1888, um domingo, regressa, no navio Ville de Santos, o tribuno popular republicano Lopes Trovão. Manifestações são aguardadas, inclusive de cadetes da Praia Vermelha e, para desmobilizá-las, o comandante da Escola Militar comunica a visita do Ministro da Guerra ao estabelecimento, no mesmo horário. Revoltado, Euclides, diante de todos, sai de forma, durante a cerimônia de revista de tropa e tenta quebrar a lâmina de sua arma. Não o conseguindo, dirige palavras violentas de protesto e arremessa o sabre ao chão, diante do ministro da Guerra do império. Preso, o episódio ganha as manchetes da imprensa e os debates parlamentares.

Submetido a conselho disciplinar, Euclides da Cunha faz profissão de fé republicana e é desligado do exército. Vai para São Paulo, onde colabora na imprensa, sob pseudônimo, com uma série de artigos republicanos.

OS PRIMEIROS ANOS DE VIDA ADULTA

Euclides é readmitido na Escola Militar. Entretanto, o que está a acontecer no resto do mundo?

Se as condições da família, após a morte da mãe, haviam carreado, desde cedo, um constante nomadismo ao menino Euclides, com mudanças de cidades, escolas e moradias, em diversas casas de parentes, pelo lado materno e paterno, sem pouso mais estável, ele vai ancorar-se, de certa forma, em meio a tais turbulências, na atração que, desde esta época, sente pela ciência. De temperamento arredio e um tanto quanto solitário, mas impetuoso, o futuro escritor vê transformado em feito heróico, uma vez proclamada a república, o seu gesto de rebeldia perante o ministro da guerra do império. Por ato do governo provisório, é reincluído na Escola Militar a 19 de novembro de 1889. Benjamin Constant, seu antigo professor, é agora o novo ministro da Guerra e o major Solon Ribeiro, seu futuro sogro, republicano histórico também, havia entregado em mãos ao imperador Pedro II a intimação para deixar imediatamente o Brasil, em seguida à proclamação da república.

No governo seguinte, do marechal Floriano Peixoto, o futuro escritor tem a chance, oferecida pelo próprio presidente, de escolher a posição que bem quisesse no novo regime.

Recusa, porém, a oportunidade ímpar, dizendo desejar apenas o que prevê a lei para engenheiros recém-formados, como ele: a prática, durante um ano, na Estrada de Ferro Central do Brasil.

Euclides pede ao major Solon Ribeiro a mão de sua filha, Ana, ou Saninha, como a chamará. Necessitando tratamento de saúde, pede uma licença e parte, com a mulher, para a fazenda de café de seu pai, em Belém do Descalvado. De regresso ao Rio, é promovido, no início de 1893, a primeiro-tenente do exército.

OS SERTÕES E A CAMPANHA DE CANUDOS

No sertão da Bahia, um movimento popular, de cunho religioso, desenvolve-se já faz alguns anos. Liderado por Antônio Conselheiro, tem no abandono histórico por parte dos governos e de suas políticas públicas, bem como na pobreza das populações interioranas brasileiras um de seus motores. Encarado pelos oligarcas locais e, logo, também pela opinião pública da capital federal, informada por jornais que se posicionaram contra os conselheiristas, como uma ameaça de restauração monárquica, com conexões para além do sertão baiano, o movimento de Canudos será combatido por 4 expedições militares.

Em 1896 Euclides da Cunha abandona a carreira militar e vai para São Paulo.

Em 1897, escreve artigos para “O Estado de São Paulo” sobre a luta nos sertões baianos: Canudos, então, é, para ele, “a nossa Vendéia “ um movimento semelhante ao dos camponeses franceses católicos monarquistas, um século antes, em reação à revolução de 1789. A direção do jornal paulistano envia Euclides, como correspondente de guerra, ao sertão baiano e, adido ao Estado-Maior do ministro da Guerra, marechal Machado Bittencourt, o jornalista viaja de São Paulo para o teatro das operações. Lá, ao contato mesmo com a violência que arrasaria o arraial, Euclides toma distância da perspectiva da Rua do Ouvidor, no centro elegante do Rio de Janeiro, sobre o conflito.

Sofrendo, como testemunha ocular, o impacto tremendo da carnificina, o caboclo republicano – que se definia como um misto de celta, de tapuia e grego – e futuro autor de Os Sertões regressa, doente e alquebrado, de Canudos, já com a ideia de escrever um livro vingador.

Após uma temporada de poucos meses na fazenda paterna de Belém do Descalvado, que lhe serviu de transição entre a guerra no sertão profundo e a pax urbana, Euclides que, na Bahia, havia escrito seu Diário de uma expedição, traz, na bagagem interior, as leituras que fizera, em preparação intelectual para a escrita de Os Sertões.

Será a elaboração deste livro lenta e descompassada: interrompe, várias vezes, a escrita, uma vez que é como engenheiro e chefe de família que ganha o pão de cada dia. ”Escrevo-o”, diz ele, “em quartos de hora, nos intervalos de minha engenharia fatigante e obscura “.

As circunstâncias penosas fazem o escritor que nascia habituar-se, em sua vida, desde a infância, errante, a estudar em trens em movimento, a cavalo. Chefia operários por necessidade; é homem de letras por vocação. Chega a anotar, nos punhos da camisa, as palavras estranhas que ouve.

Teodoro Sampaio, seu amigo, auxilia-o, provendo-o com informações de que necessita. Pesquisa, enquanto o engenheiro e escritor fiscaliza obras. Francisco Escobar também será outro amigo decisivo, com sua ajuda, na escrita de Os Sertões.

Dezanove dias depois de inaugurada, ruiu uma ponte, em São José do Rio Pardo. Euclides é incumbido de reconstruí-la. Passa, então, seus dias às margens do rio, em seu escritório: um barracão coberto de zinco, à sombra de uma paineira. Dali, ele não apenas comandou o soerguimento da ponte caída, mas também escreveu um livro: ponte entre as duas margens de um Brasil, – a litorânea (cujas elites o desejavam moderno, embranquecido, ocidental e que, até então timbravam em desconhecer o seu outro) e a do interior (em que esta alteridade, indígena, sertaneja, negra, parda, considerada arcaica e fadada a desaparecer, sob a batuta do progresso, resistia, de pé, ao extermínio até à morte).

O RECRUTA TRANSFORMADO EM TRIUNFADOR

Euclides lança OS SERTÕES. Entretanto, o que está a acontecer no resto do mundo?

Após uma tentativa mal sucedida de publicá-lo nas colunas de “O Estado de São Paulo”, Euclides consegue editar seu livro de estreia pela Livraria Laemmert, do Rio de Janeiro. Em 2 de dezembro de 1902, Os Sertões é lançado, tendo sido esta primeira edição paga pelo escritor, a um custo superior ao de seu salário mensal.

Exausto das correções feitas de próprio punho nos exemplares da inteira tiragem da obra, extremamente ansioso e inseguro acerca da recepção ao livro, o autor viaja do Rio de Janeiro a Lorena, no interior paulista. Cartas o esperam, no regresso, uma das quais, do editor, comunica-lhe o surpreendente êxito das vendas.

Ao abrir outra, com data de postagem anterior, Euclides depara com uma mensagem oposta, do mesmo remetente, dizendo-se arrependido de haver editado a obra, tal o fracasso e o encalhe dos exemplares. Dois meses depois, estava a primeira edição totalmente esgotada…

Na esteira deste êxito não apenas editorial mas também de crítica, Euclides é eleito para a Academia Brasileira de Letras, fundada no ano do término da guerra de Canudos. É nomeado sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

Não obstante todo o triunfo, o escritor está desempregado, indo, com a família, para o Guarujá. Para sobreviver, retoma a publicação de artigos em “O Estado de São Paulo”, a maioria dos quais será, depois, reunida em seu livro Contrastes e confrontos, publicado em 1907.

OS ÚLTIMOS ANOS E A TRAGÉDIA DA PIEDADE

Euclides na Amazônia. Entretanto, o que está a acontecer no resto do mundo?

Após o sertão, o interesse de Euclides se volta para a Amazônia. À época, ela constituía outro ponto de tensão, no Brasil, dado o conflito de fronteiras nos vizinhos Peru e Bolívia. Aproxima-se então o escritor do Barão do Rio Branco, ministro das Relações Exteriores, que o nomeia chefe de uma comissão brasileira, condição na qual viaja às remotas nascentes do rio Purus. Interessa-lhe olhar o Brasil sob a ótica do interior, oposta ao ponto de vista das elites urbanas, cujo projeto era o de implantar a modernidade no trópico, através do alargamento de avenidas, da construção de boulevards, que transformassem a capital federal numa Paris latino-americana, numa cidade de população branca, botando abaixo os cortiços populares e afastando, para os subúrbios, a população pobre, afro-descendente, negra e mestiça que, majoritariamente, os habitava.

Em 1906, Euclides da Cunha entrega o relatório de sua missão ao ministro. Passa, a convite de Rio Branco, a trabalhar como adido ao ministério, no próprio gabinete do barão.

No ano seguinte, é publicado Contrastes e confrontos, pela Livraria Chardron, do Porto, em Portugal. Sai também em livro sua coletânea de artigos, Peru versus Bolívia. Prefacia Inferno Verde, relato amazônico, de Alberto Rangel, publicado no ano seguinte.

O médico escritor Afrânio Peixoto entrega ao autor de Os Sertões, em 1908, um caderno manuscrito, com os sermões de Antônio Conselheiro: pregações sobre os mandamentos, relatos da paixão de Cristo, discurso contra a República…

Morrendo Machado de Assis, fundador e primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras, o acadêmico Euclides é o sucessor à frente da instituição por breve período, até a posse de Rui Barbosa. A 19 de dezembro, inscreve-se em concurso público para a cadeira de Lógica, do Colégio Pedro II e, a 17 de maio do ano seguinte, com outros 15 concorrentes, sob o número de inscrição 13, que considera de mau augúrio, faz a prova escrita, com o tema “Verdade e Erro”. A 7 de junho, sai o resultado do concurso, com a classificação do filósofo Farias Brito em 1o lugar, seguindo-se a de Euclides. Graças, porém, à interferência de Rio Branco e do escritor Coelho Neto junto a Nilo Peçanha, então presidente da república, é o escritor Euclides quem recebe a cadeira – e não o filósofo vitorioso no concurso – passando a lecionar no estabelecimento federal.

Entrega, em julho, as provas de À Margem da história, aos editores Lello & Irmãos. O livro será póstumo, publicado em setembro.

A 15 de agosto de 1909, um domingo chuvoso, morre Euclides da Cunha, em consequência de uma troca de tiros com o cadete Dilermando de Assis, então amante de sua esposa, na casa deste, onde o casal se abrigava, na Estrada Real de Santa Cruz, hoje Avenida Suburbana, no bairro carioca da Piedade.

Velado na Academia Brasileira de Letras, é o corpo do escritor enterrado, a 16 de agosto, no Cemitério de São João Batista, em Botafogo, Rio de Janeiro: em 15 de agosto de 1982 é transladado, juntamente com os restos mortais de seu filho Quidinho (Euclides da Cunha Filho), também alvejado por Dilermando de Assis, ao tentar vingar, anos depois, a morte do pai, para um mausoléu em São José do Rio Pardo, à beira do rio.

A OBRA (TRECHOS)

Euclides vive e escreve, escreve muito… Entretanto, o que está a acontecer no resto do mundo?

“Aquela campanha lembra um refluxo para o passado. E foi, na significação integral da palavra, um crime. Denunciemo-lo.

E tanto quanto o permitir a firmeza do nosso espírito façamos jus ao admirável conceito de Taine sobre o narrador sincero que encara a história como ela o merece: …” il s´irrite contre les démi-vérités que sont les démi-faussetés, contre les auteurs qui n´altèrent ni une date, ni une généalogie, mais dénaturent les sentiments et les moeurs, qui gardent le dessin des évenéments et en changent la couleur, qui copient les faits et défigurent l´âme: il veut sentir en barbare, parmi les barbares, et parmi les anciens, en ancien.” (Os Sertões, Nota Preliminar )

Terra ignota

Abordando-o, compreende-se que até hoje escasseiem sobre tão grande trato de território, que quase abarcaria a Holanda ( 9o 11-10o 20´de lat. E 4o- 3o de long. O R.J.), notícias exatas ou pormenorizadas. As nossas melhores cartas, enfeixando informes escassos, lá têm um claro expressivo, um hiato, Terra ignota, em que se aventura o rabisco de um ri problemático ou idealização de uma corda de serras.” (Os Sertões – A Terra )

O sertanejo

O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral.

A aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o desempeno, a estrutura corretíssima das organizações atléticas.

É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo, reflete no aspecto a fealdade típica dos fracos. O andar sem firmeza, sem aprumo, quase gingante e sinuoso, aparenta a translação de membros desarticulados. Agrava-o a postura normalmente abatida, num manifestar-se de displicência que lhe dá um caráter de humildade deprimente. A pé, quando parado, recosta-se invariavelmente ao primeiro umbral ou parede que encontra; a cavalo, se sofreia o animal para trocar duas palavras com um conhecido, cai logo sobre os estribos, descansando sobre a espenda da sela. Caminhando, mesmo a passo rápido, não traça trajetória retilínea e firme. Avança celeremente, num bambolear característico, de que parecem ser o traço geométrico os meandros das trilhas sertanejas. E se na marcha estaca pelo motivo mais vulgar, para enrolar um cigarro, bater o isqueiro, ou travar ligeira conversa com um amigo, cai logo – cai é o termo – de cócoras, atravessando largo tempo numa posição de equilíbrio instável, em que todo o seu corpo fica suspenso pelos dedos grandes dos pés, sentado sobre os calcanhares, com uma simplicidade a um tempo ridícula e adorável.” (Os Sertões – O Homem )

Profecias

“Ora, esta identidade avulta, mais frisante, quando se comparam com as do passado as concepções absurdas do esmaniado apóstolo sertanejo. Como os montanhistas, ele surgia no epílogo da Terra… O mesmo milenarismo extravagante, o mesmo pavor do Anti-Cristo despontando na derrocada universal da vida. O fim do mundo próximo…

Que os fiéis abandonassem todos os haveres, tudo quanto os maculasse com um leve traço de vaidade. Todas as fortunas estavam a pique da catástrofe iminente e fora temeridade inútil conservá-las.

Que abdicassem as venturas mais fugazes e fizessem da vida um purgatório duro; e não a manchassem nunca com o sacrilégio de um sorriso. O Juízo final aproximava-se, inflexível.

Renunciavam-no anos sucessivos de desgraças :

“… Em 1896 hade (sic) rebanhos mil correr da praia para o certão (sic ); então o certão (sic ) virará praia e a praia virará certão (sic).

“Em 1897 haverá muito pasto e pouco rasto e um só rebanho e um só pastor.

“Em 1898 haverá muitos chapéus e poucas cabeças.

Em 1899 ficarão as águas em sangue e o planeta há de aparecer no nascente com o raio do sol que o ramo se confrontará na terra e a terra em algum lugar se confrontará no céu…

“Hade (sic) chover uma grande chuva de estrelas e aí será o fim do mundo. Em 1900 se apagarão as luzes. Deus disse no Evangelho: eu tenho um rebanho que anda fora deste aprisco e é preciso que se reunam porque há um só pastor e um só rebanho!” (Os Sertões – O homem)

“ Como quer que seja, para a Amazônia de agora devera restaurar-se integralmente, na definição da sua psicologia coletiva, o mesmo doloroso apotegma – ultra iquinotialem non peccavi – que Barleus engenhou para os desmandos da época colonial .

Os mesmos amazonenses, espirituosamente, o perceberam. À entrada de Manaus existe a belíssima ilha de Marapatá – e essa ilha tem uma função alarmante. É o mais original dos lazaretos – um lazareto de almas! Ali, dizem, o recém-vindo deixa a consciência… Meça-se o alcance deste prodígio da fantasia popular. A ilha que existe fronteira à boca do Purus, perdeu o antigo nome geográfico e chama-se a “ilha da Consciência”; e o mesmo acontece a uma outra, semelhante, na foz do Juruá. É uma preocupação: o homem, ao penetrar as duas portas que levam ao paraíso diabólico dos seringais, abdica as melhores qualidades nativas e fulmina-se a si próprio a rir, com aquela ironia formidável”. (“Terra sem história “, À Margem da história)

“A expansão imperialista das grandes potências é um fato de crescimento, o transbordar naturalíssimo de um excesso de vidas e de uma sobra de riquezas, em que a conquista dos povos se torna simples variante da conquista de mercados. As lutas armadas que daí resultam, perdido o encanto antigo, transformam-se, paradoxalmente, na feição ruidosa e acidental da energia pacífica e formidável das indústrias. Nada dos velhos atributos românticos do passado ou da preocupação retrógrada do heroísmo. As próprias vitórias perdem o significado antigo. São até dispensáveis.(…) Estão fora dos lanes o gênio dos generais felizes e do fortuito dos combates. Vagas humanas desencadeadas pelas forças acumuladas de longas culturas e do próprio gênio de raça, podem golpeá-las à vontade os adversários que as combatem e batem debatendo- se, e que se afogam. Não param. Não podem parar. Impele-as o fatalismo da própria força. Diante da fragilidade dos países fracos, ou das raças incompetentes, elas recordam, na história, aquele horror ao vácuo, com que os velhos naturalistas explicavam os movimentos irresistíveis da matéria.” ( Contrastes e confrontos)

“Os antigos mapas sul-americanos têm às vezes a eloquência de seus próprios erros.

Abraham Ortelius, Joan Martines, ou Thevet, sendo os mais falsos desenhadores do Novo Mundo, foram exatos cronistas de seus primeiros dias. A figura do continente deformado, quase retangular, com as suas cordilheiras de molde invariável, rios coleando nas mais regulares sinuosas e amplas terras uniformes, ermas de acidentes físicos, cheias de seres anormais e extravagantes – é, certo, incorretíssima. Mas tem rigorismos fotográficos no retratar uma época. Sem o quererem, os cartógrafos, tão absorvidos na pintura do novo typus orbis, desenhavam-lhe as sociedades nascentes; e os seus riscos incorretos, gizados à ventura, conforme lhos ditava a fantasia, tornaram-se linhas estranhamente descritivas. Num prodígio de síntese, valem livros.” (Peru versus Bolívia )

Fonte: en.wikipedia.org/www.euclides.site.br.com/www.culturabrasil.pro.br/www.cervantesvirtual.com

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Um comentário

  1. Imitava sem o saber. Imitava muito forte usando ou abusando das cobiças de seu coração, mas imitava sem o saber. Assim apareceu 1900 anos depois nos confins da América do Sul um engenheiro que gostava de escrever, escrevendo imitando – sem o saber – o maior bandeirante do evangelho, o turco de Tarsus, o antigo Saulo…o homem que em dobro um dia emprestou seu nome ao Brasil: São Paulo!…:)

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