Carlos Drummond de Andrade

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Nascimento: 31/10/1902, Itabira, Minas Gerais, Brasil
Natural:
Itabira – MG
Morte: 17 de de Agosto de de 1987, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil (insuficiência cardíaca)
Época: Modernismo (Segunda Geração)
País: Brasil

Carlos Drummond de Andrade – Biografia

Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de Andrade

Carlos Drummond de Andrade, nascido em 31 de outubro de 1902, Itabira, Braz.

Morreu em 17 de agosto, 1987, Rio de Janeiro.

Poeta, jornalista, autor de crônicas (um gênero ficção curta-ensaio amplamente cultivada no Brasil), e crítico literário, considerado um dos poetas mais talentosos do Brasil moderno e uma grande influência sobre a poesia Brasileira. Seus experimentos com forma poética (incluindo que estabelece as bases do que mais tarde evoluiu para a poesia concreta) e seu tratamento muitas vezes irônico de temas realistas refletem sua preocupação com a situação do homem moderno, o homem urbano especialmente brasileiro, em sua luta pela liberdade e dignidade.

Depois de receber seu diploma em farmácia (1925), Carlos Drummond de Andrade voltou-se para a poesia e se juntou ao novo grupo de modernistas brasileiros que foram introduzindo uma linguagem coloquial e sintaxe pouco convencional em seus verso livres.

Ele ajudou a fundar a revista literária A revista (“comentário”), em 1925. A primeira de suas inúmeras coleções de poesia, Alguma poesia (1930; “Alguns Poesia”), demonstra tanto sua afinidade com o movimento modernista e sua própria personalidade forte poética.

Filho de agricultores de ascendência Português, Carlos Drummond de Andrade estudou na cidade de Belo Horizonte e depois com os jesuítas no Colégio Anchieta de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, de onde foi expulso por “insubordinação mental”. De volta a Belo Horizonte, ele começou sua carreira como escritor com o Diário de Minas, cujos leitores incluídos os seguidores do movimento modernista incipiente no Estado de Minas Gerais.

Em 1924 ele começou a trocar cartas com o poeta Manuel Bandeira. Ele também se reuniu com Blaise Cendrars, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e Mário de Andrade.

Sob a pressão de sua família a obter um diploma, ele estudou farmácia na cidade de Ouro Preto, graduando-se em 1925. Fundou com outros escritores, a revista, que, apesar de sua curta vida foi um importante veículo de afirmação modernismo em Minas. Ele se juntou ao serviço público e, em 1934, transferido para o Rio de Janeiro, onde foi Chefe de Gabinete de Gustavo Capanema, ministro da Educação, até 1945.

Carlos Drummond de Andrade, em seguida, trabalhou como diretor do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e se aposentou em 1962. De 1954 em diante, ele também foi um cronista no Correio da Manhã e, desde o início de 1969, no Jornal do Brasil.

Com Sentimento do Mundo (1940), José (1942) e, especialmente, A Rosa do Povo (1945), Drummond começou seu trabalho de história contemporânea e experiência coletiva, participando em questões sociais e políticas.

A série incrível de obras-primas a partir desses livros indica a plena maturidade do poeta alcançada e mantida.

Em 1965, ele publicou em colaboração com Manuel Bandeira, “Rio de Janeiro, em prosa e verso.”

Carlos Drummond de Andrade produziu algumas das obras mais significativas da poesia brasileira no século XX. Um forte criador de imagens, as suas obras têm como tema, a vida e os acontecimentos do mundo, com versos que incidem sobre os individuais, pátria, família, amigos, e as questões sociais, bem como questões sobre a existência e sobre a sua própria poesia.

Várias obras do poeta foram traduzidas para o espanhol, Inglês, Francês, italiana, alemã, espanhola, sueca e outros. Ele escreveu centenas de poemas e mais de 30 livros, incluindo aqueles para crianças ..

Ele traduziu para o Português as obras de vários autores como Balzac (Les Paysans de 1845; Os Camponeses), Choderlos de Laclos (Ligações Perigosas, 1782), Marcel Proust (Le Fugitive de 1925, García Lorca (Doña Rosita, a soltera o el lenguaje de las Flores, 1935) François Mauriac (Thérèse Desqueyroux, 1927) e Molière (Les Fourberies de Scapin, 1677).

Um alvo de admiração irrestrita, tanto para o seu trabalho e para o seu personagem como um escritor, Carlos Drummond de Andradefaleceu no Rio de Janeiro RJ, em 17 de agosto, 1987, poucos dias após a morte de sua única filha, a jornalista Maria Julieta Drummond Andrade.

Carlos Drummond de Andrade – Vida

Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de Andrade

Poeta, iniciou sua atividade literária escrevendo artigos e crônicas para o Diário de Minas, órgão do Partido Republicano Mineiro (PRM). Defensor de posições de vanguarda face à literatura vigente, colaborou nas revistas Ilustração Brasileira e Para Todos.

Em 1925, fundou, junto com João Alphonsus, Martins de Almeida e outros, A Revista, que apesar de efêmera, obteve larga repercussão por suas posições modernistas. Concluiu, ainda em 1925 o curso de farmácia em Ouro Preto. Foi redator da Revista de Ensino, órgão oficial da Secretaria do Interior de Minas Gerais, e diretor do Diário de Minas em 1926, cargo que ocuparia até 1939.

Em 1930, publicou a sua primeira obra poética: Alguma poesia. Íntimo colaborador do político mineiro Gustavo Capanema, foi seu oficial-de-gabinete na Secretaria do Interior e Justiça de Minas Gerais (1930-1932), secretário particular quando Capanema exerceu a interventoria do estado em 1933, e chefe de gabinete de 1934 a 1945, durante sua gestão no Ministério da Educação e Saúde. A carreira burocrática não o impediu de continuar a escrever seus poemas.

Entre os anos de 1934 e 1945, publicou diversos livros: Brejo das almas (poemas,1934), Sentimento do mundo (poemas, 1940), Poesias (1942), Confissões de Minas (ensaios e crônicas, 1944) e A rosa do povo (poemas, 1945).

Ainda em 1945, a convite de Luís Carlos Prestes, tornou-se co-editor da Tribuna Popular, diário do Partido Comunista Brasileiro, então Partido Comunista do Brasil (PCB). Discordando da orientação do jornal, afastou-se meses depois. No período de 1945 a 1962, atuou como chefe de seção no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Manteve-se como jornalista e poeta até a sua morte no Rio de Janeiro, em 1987.

De sua consagrada obra, merecem destaque, além dos trabalhos citados Claro Enigma (poemas, 1951), Contos de aprendiz (1951), A mesa (1951), Passeios na ilha (ensaios e crônicas, 1952), Fazendeiro do ar & poesia até agora (poemas, 1954), Lição de coisas (poemas, 1962), Cadeira de balanço (crônicas, 1966), Boitempo & A falta que ama (poemas, 1968), O poder ultrajovem (crônicas em prosa e verso, 1972), O elefante (primeiro livro infantil, 1983), Corpo (poema, 1984), O observador no escritório (memória, 1985). Como obras póstumas, destacam-se Moça deitada na grama (prosa, 1987), O avesso das coisas (aforismos, 1988), Auto-retrato e outras crônicas (1989).

Carlos Drummond de Andrade – Poeta

Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de Andrade

Nasceu em ltabira (MG) em 1902. Fez os estudos secundários em Belo Horizonte, num colégio interno, onde permaneceu até que um período de doença levou-o de novo para ltabira. Voltou para outro internato, desta vez em Nova Friburgo, no estado do Rio de Janeiro.

Pouco ficaria nessa escola: acusado de “insubordinação mental” – sabe-se lá o que poderia ser isso! foi expulso do colégio.

Em 1921 começou a colaborar com o Diário de Minas. Em 1925, diplomou-se em farmácia, profissão pela qual demonstrou pouco interesse. Nessa época, já redator do Diário de Minas, tinha contato com os modernistas de São Paulo. Na Revista de Antropofagia publicou, em 1928, o poema “No meio do caminho”, que provocaria muito comentário.

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

Ingressou no funcionalismo público e em 1934 mudou-se para o Rio de Janeiro. Em agosto de 1987 morreu-lhe a única filha, Julieta. Doze dias depois, o poeta faleceu. Tinha publicado vários livros de poesia e obras em prosa – principalmente crônica. Em vida, já era consagrado como o maior poeta brasileiro de todos os tempos.

O nome de Drummond está associado ao que se fez de melhor na poesia brasileira. Pela grandiosidade e pela qualidade, sua obra não permite qualquer tipo de análise esquemática. Para compreender e, sobretudo, sentir a obra desse escritor, o melhor caminho é ler o maior número possível de seus poemas.

De acontecimentos banais, corriqueiros, gestos ou paisagens simples, o eu-lírico extrai poesia. Nesse caso enquadram-se poemas longos, como “O caso do vestido” e “O desaparecimento de Luísa Porto “, e poemas curtos, como “Construção”.

O primeiro poema de Alguma poesia é o conhecido “Poema de sete faces”, do qual transcreve-se a primeira estrofe:

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

A palavra gauche (lê-se gôx), de origem francesa, corresponde a “esquerdo” em nosso idioma. Em sentido figurado, o termo pode significar “acanhado”, ” inepto”.

Qualifica o ser às avessas, o “torto”, aquele que está à margem da realidade circundante e que com ela não consegue se comunicar. É assim que o poeta se vê.

Logicamente, nesta condição, estabelece-se um conflito: “eu ” do poeta X realidade. Na superação desse conflito, entra a poesia, um veículo possível de comunicação entre a realidade interior do poeta e a realidade exterior.

Variantes da palavra gauche – como esquerdo, torto, canhestro – aparecem por toda a obra de Drummond, revelando sempre a oposição eu-lírico X realidade externa, que se resolverá de diferentes maneiras.

Muitos poemas de Drummond funcionam como denúncia da opressão que marcou o período da Segunda Grande Guerra.

A temática social, resultante de uma visão dolorosa e penetrante da realidade, predomina em Sentimento do mundo (1940) e A rosa do povo (1945), obras que não fogem a uma tendência observável em todo o mundo, na época: a literatura comprometida com a denúncia da ascensão do nazi-fascismo.

A consciência do tenso momento histórico produz a indagação filosófica sobre o sentido da vida, pergunta para a qual o poeta só encontra uma resposta pessimista.

O passado ressurge muitas vezes na poesia de Drummond e sempre como antítese para uma realidade presente. A terra natal – ltabira – transforma-se então no símbolo da atmosfera cultural e afetiva vivida pelo poeta. Nos primeiros livros, a ironia predominava na observação desse passado; mais tarde, o que vale são as impressões gravadas na memória. Transformar essas impressões em poemas significa reinterpretar o passado com novos olhos. O tom agora é afetuoso, não mais irônico.

Da análise de sua experiência individual, da convivência com outros homens e do momento histórico, resulta a constatação de que o ser humano luta sempre para sair do isolamento, da solidão. Neste contexto questiona-se a existência de Deus.

Nos primeiros livros de Drummond, o amor merece tratamento irônico. Mais tarde, o poeta procura capturar a essência desse sentimento e só encontra – como Camões e outros – as contradições, que se revelam no antagonismo entre o definitivo e o passageiro, o prazer e a dor. No entanto, essas contradições não destituem o amor de sua condição de sentimento maior. A ausência do amor é a negação da própria vida. O amor-desejo, paixão, vai aparecer com mais freqüência nos últimos livros.

Depois da morte de Drummond, reuniu-se no livro O amor natural uma série de poemas eróticos mantidos em sigilo e que foram associados a um suposto caso extraconjugal mantido pelo poeta. Verdadeiro ou não o caso, interessa é que se trata de poemas bem audaciosos, em que se explora o aspecto físico do amor.

Alguns verão pornografia nestes poemas; outros, o erotismo transformado em linguagem da melhor qualidade poética.

Metalinguagem: a reflexão sobre o ato de escrever fez parte das preocupações do poeta.

O tempo é um dos aspectos que concede unidade à poesia de Drummond: o tempo passado, o presente e o futuro como tema.

Toda a trajetória do poeta – qualquer que seja o assunto tratado – marca-se por uma tentativa de conhecer-se a si mesmo e aos outros homens, através da volta ao passado, da adesão ao presente e da projeção num futuro possível.

O passado renasce nas reminiscências da infância, da adolescência e da terra natal. A adesão ao presente concretiza-se quando o poeta se compromete com a sua realidade histórica (poesia social). O tempo futuro aparece na expectativa de um mundo melhor, resultante da cooperação entre todos os homens.

Obras

Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de Andrade

Poesia

Alguma poesia (1930)
Brejo das almas (1934)
Sentimento do mundo (1940)
Poesias (1942)
A rosa do povo (1945)
Claro enigma (1951)
Viola de bolso (1952)
Fazendeiro do ar (1954)
A vida passada a limpo (1959)
Lição de coisas (1962)
Boitempo (1968)
As impurezas do branco (1973)
A paixão medida (1980)
Corpo (1984)
Amar se aprende amando (1985)
O amor natural (1992)

Prosa

Confissões de Minas (1944) – ensaios e crônicas
Contos de aprendiz (1951)
Passeios na ilha (1952) – ensaios e crônicas
Fala, amendoeira (1957) – crônicas
A bolsa e a vida (1962) – crônicas e poemas
Cadeira de balanço (1970)
O poder ultrajovem e mais 79 textos em prosa e verso (1972) – crônicas
Boca de luar (1984) – crônicas
Tempo vida poesia (1986)

Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de Andrade

A morte emendou a gramática. Morreram Carlos Drummond. Não era um só. Eram tantos. Mas quem disse que Drummond morreu? E que ironia! Alguém tão cético provando que há vida após a morte! Mais do que qualquer outro gênio soube ser reconhecido enquanto vivo e não se deixar morrer mesmo negando os convites para se tornar imortal como membro da Academia Brasileira de Letras.

Tímido e recatado como bom mineiro, conta-se nos dedos as vezes que encarou uma câmera. Sua vida está em seus versos. E o hábito de sofrer, que tanto me diverte / é doce herança itabirana. Filho do fazendeiro Carlos de Paula Andrade e D. Julieta Augusta Drummond de Andrade, nascido em Itabira do Mato Dentro, Minas Gerais, a 31 de outubro de 1902, nunca foi dado aos cuidados da terra e desde muito cedo deu preferência às letras.

Foi aluno interno do Colégio Arnaldo, da Congregação do Verbo Divino, em Belo Horizonte. Interrompeu os estudos no segundo período escolar em 1916 por problemas de saúde. No ano seguinte teve aulas particulares e em 1918 foi aluno interno do Colégio Anchieta, da Companhia de Jesus, em Nova Friburgo. Em 1920 foi expulso por “insubordinação mental” e do colégio guardou o modo de andar com os braços colados às pernas e a cabeça baixa.

Cursou Farmácia em Belo Horizonte para onde a família se mudara em 1920. Em 1924 envia carta a Manuel Bandeira manifestando sua admiração pelo poeta. É também neste ano que conhece Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral.

No início dos anos 20, o jovem Drummond participava do Jornal Falado do Salão Vivacqua. Tratava-se de saraus idealizados por Mariquinhas, uma das filhas de Antônio Vivacqua. A família, natural do Espírito Santo, havia se mudado para Belo Horizonte porque o poeta Achilles, um dos filhos de Antônio, estava com tuberculose e o ar da capital mineira era recomendado para o tratamento da doença. A beleza, inteligência e senso de humor de Mariquinhas logo cativaram Drummond.

O namoro na praça era acompanhando por duas irmãs mais novas de Mariquinhas: Eunice e Dora, que anos mais tarde viria a se transformar em Luz del Fuego. O romance não foi muito longe. Em uma noite entediante, Drummond e o amigo Pedro Nava imaginaram uma forma de as irmãs Vivacqua (seis belas moças, além das três crianças Eunice, Cléa e Dora) “saírem à rua de camisola, feito libélulas esvoaçantes. Com um pedaço de papel, atearam um foguinho na seteira do rés do chão que ficava sob o quarto das moças. O fogo se alastrou, tomando conta de todo o porão da casa. Esquecidos das poéticas libélulas, os apavorados incendiários deram eles mesmos o alarme e ajudaram a apagar o incêndio” (in Luz del Fuego – A bailarina do povo, de Cristina Agostinho, Editora Best Seller). A brincadeira foi perdoada por Aquilles e Mariquinhas, mas Antônio Vivacqua proibiu os encontros da filha com Drummond.

Em 1925, Mariquinhas casou com um poeta fluminense e Drummond casou com Dolores Dutra de Morais. O poeta voltou para Itabira sem interesse pela profissão de farmacêutico e sem conseguir se adaptar à vida de fazendeiro. Dois anos depois, nasce seu filho Carlos Flávio, que só viveu por alguns instantes. Em 1928 publica na Revista Antropofagia, de São Paulo, o poema No meio do caminho, que se torna um verdadeiro escândalo literário. No mesmo ano nasce sua filha Maria Julieta. Filha única e sua grande paixão, Maria Julieta seria sua eterna musa, um verso meu, iluminando o meu nada, diria no poema A mesa. A cumplicidade entre os dois existia no mais singelo olhar e também na vocação. Escritora, Julieta jamais conseguiria destaque, sufocada pelo sobrenome famoso que carregava.

Alguma Poesia, seu primeiro livro, foi editado em 1930. Foram apenas 500 exemplares. Em 1931, morre seu pai, aos 70 anos.

Três anos depois transferiu-se para o Rio de Janeiro e não mais voltou a sua cidade natal: Itabira é apenas uma fotografia na parede. / Mas como dói!

Drummond conseguia, a um só tempo, ser Chefe de Gabinete do ministro Gustavo Capanema, do Estado Novo, e usar suas palavras para destruir o capitalismo.

Do gabinete ministerial, saiu direto para a condição de simpatizante do Partido Comunista Brasileiro.

Agnóstico, conseguia clamar aos céus uma ajuda aos irmãos necessitados numa prece bem brasileira: Meu Deus,/ só me lembro de vós para pedir,/ mas de qualquer modo sempre é uma lembrança./ Desculpai vosso filho, que se veste/ de humildade e esperança/ e vos suplica: Olhai para o Nordeste/ onde há fome, Senhor, e desespero/ rodando nas estradas/ entre esqueletos de animais.

O modernismo no estilo de Drummond levou-o, com sua linguagem em diferentes ritmos, à popularização em um país onde se lê pouco. No meio do caminho tinha uma pedra/ tinha uma pedra no meio do caminho ou E agora, José?/ A festa acabou/ a luz apagou/ o povo sumiu são versos que entraram para a História como ditos populares.

Mantêm-se presente no linguajar popular de forma excepcionalmente bela: Mundo mundo vasto mundo/ se eu me chamasse Raimundo/ seria uma rima, não seria uma solução.

A morte, assim como o humor, foi uma constante em sua obra:

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
preferiram (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

Misturou o amor e a doença que levou sua filha com seu típico humor em Versos Negros (mas nem tanto): O amor, então, é a grande solução?/ Amor, fonte de vida… Essa é que não./ Amor, meu Deus, amor é o próprio câncer.

Em 1982 completa 80 anos. São realizadas exposições comemorativas na Biblioteca Nacional e na Casa de Rui Barbosa. Recebe o título de doutor honoris causa pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. No ano seguinte declinaria do troféu Juca Pato. Em 1984 assina contrato com a Editora Record, após 41 anos na José Olympio.

A escola de samba Estação Primeira de Mangueira o homenageia em 1987 com o samba-enredo O reino das palavras e é campeã do carnaval carioca naquele ano.

No dia 5 de agosto morre a mulher que mais amou, sua amiga, confidente e filha Maria Julieta. Desolado, Drummond pede a sua cardiologista que lhe receite um “infarto fulminante”.

Apenas doze dias depois, em 17 de agosto de 1987, Drummond morre numa clínica em Botafogo, no Rio de Janeiro, de mãos dadas com Lygia Fernandes, sua namorada com quem manteve um romance paralelo ao casamento e que durou 35 anos (Drummond era 25 anos mais velho e a conheceu quando ele tinha 49 anos). Era uma amor secreto, mas nem tanto. Lygia contaria ao jornalista Geneton Moares Neto (a quem Drummond concedeu sua última entrevista) que “a paixão foi fulminante”.

O poeta mineiro deixou livros inéditos que foram publicados postumamente pela Editora Record: O avesso das coisas (1987), Moça deitada na grama (1987), O amor natural (1982) e Farewell (1996).

Carlos Drummond de Andrade – Cronologia

Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de Andrade

1902, 31 de outubro: Carlos Drummond de Andrade nasce em Itabira do Mato Dentro, Estado de Minas Gerais, filho do casal fazendeiro Carlos de Paula Andrade e Julieta Augusta Drummond de Andrade.
1910:
Aluno do grupo escolar, em Itabira.
1916:
Interno no tradicional Colégio Arnaldo, de Belo Horizonte.
1918:
Vai para Friburgo, estudar no Colégio Anchieta, dos jesuítas, onde colabora no jornal Aurora Colegial.
1920:
Muda-se para Belo Horizonte.
1921:
Publicações no jornal Diário de Minas. Freqüenta a Livraria Alves e o Café Estrela, pontos de encontro de escritores em Belo Horizonte.
1924:
Inicia correspondência com o poeta Manuel Bandeira. Conhece Blaise Cendrars, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Mário de Andrade e começa a corresponder-se com este.
1925:
Casa-se com Dolores Dutra de Morais. É um dos fundadores de A Revista, publicação modernista. Forma-se farmacêutico.
1926:
Redator do Diário de Minas.
1927:
Nasce, a 21 de março, seu primogênito, Carlos Flávio, que vive apenas meia hora.
1928:
Nasce, a 4 de março, sua filha Maria Julieta.
1930:
Publica Alguma Poesia. Com a Revolução, torna-se oficial de gabinete do amigo Gustavo Capanema, Secretário do Interior.
1934:
Publica Brejo das Almas. Transfere-se para o Rio de Janeiro, como chefe de gabinete do Ministro da Educação e Saúde Pública.
1940:
Publica Sentimento do Mundo.
1942:
A Editora José Olympio lança seu livro Poesias.
1944:
Publica Confissões de Minas.
1945:
Saem A Rosa do Povo e O gerente. É chamado por Rodrigo M. F. de Andrade para trabalhar na Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
1947:
Publica Poesia até agora.
1951:
Publica Claro enigma, Contos de Aprendiz, A mesa.
1952:
Saem Passeios na ilha e Viola de bolso.
1954
: Lança Fazendeiro do ar & Poesia até agora. Começa a colaborar no jornal Correio da Manhã.
1955:
Sai Viola de bolso novamente encordoada.
1956:
Lança os 50 Poemas escolhidos pelo autor.
1957:
Fala, amendoeira e Ciclo são publicados.
1962:
Saem Lição de coisas, Antologia Poética, A bolsa & a vida. Aposenta-se.
1963: Prêmios:
Fernando Chinaglia, da União Brasileira de Escritores e Luísa Cláudio de Souza, do PEN Clube do Brasil, pelo livro Lição de coisas.
1964:
A Editora Aguilar publica sua Obra completa.
1965:
Publica, em colaboração com Manuel Bandeira, Rio de Janeiro em prosa & verso.
1966:
Publicação de Cadeira de balanço, Versiprosa, José e Outros, da antologia Minas Gerais, na Coleção Brasil, Terra e Alma.
1968:
Boitempo e a falta que ama. Início da colaboração no Jornal do Brasil. É publicado o volume Reunião (10 livros de poesia).
1971:
Sai Caminhos de João Brandão.
1971:
Lançada a Seleta em prosa e verso.
1972:
Sai O poder ultrajovem. Por ocasião do seu 70o aniversário, vários jornais brasileiros publicam suplementos comemorativos.
1973:
Impurezas do branco, Menino antigo (BoitempoII ). Prêmio de Poesia da Associação Paulista de Críticos Literários.
1975:
Lançamento de Amor, amores.
1977:
Saem A visita, Discurso de primavera e algumas sombras e Os dias lindos. do mundo.
1978:
2a edição, corrigida e aumentada, de Discurso de primavera e algumas sombras. Publicação de 70 historinhas e O marginal Clorindo Gato.
1979:
Esquecer para lembrar (Boitempo III ).
1980:
Lançamento de A paixão medida, em edição de luxo.
1981:
Publica Contos plausíveis em edição de luxo e, com ilustrações de Ziraldo, O pipoqueiro da esquina.
1982:
Por ocasião dos 80 anos do escritor, são realizadas exposições comemorativas. Recebe o título de doutor honoris causa pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Publica A lição do amigo Cartas de Mário de Andrade a Carlos Drummond de Andrade, com notas do destinatário.
1983:
Publica Nova reunião (19 livros de poesia ) e O Elefante (infantil ).
1984:
Assina contrato com a Editora Record. Despede-se do Jornal do Brasil, com a crônica “Ciao”. Saem Boca de Luar e Corpo.
1985:
Publica Amar se aprende amando, O observador no escritório (memórias ), História de dois amores (infantil ) e Amor, sinal estranho.
1986:
Publica Tempo, vida, poesia. Escreve poemas para a edição comemorativa do centenário do poeta Manuel Bandeira.
1987:
Sua filha Maria Julieta falece, a 5 de agosto. Drummond morre a 17 do mesmo mês, deixando então inéditos O avesso das coisas, Moça deitada na grama, Poesia errante (Viola de bolso III), O amor natural, Farewell, e Arte em exposição, além de crônicas, dedicatórias em verso por ele coletadas, correspondência e um texto para espetáculo musical ainda sem título.

Fonte: www.britannica.com/allpoetry.com/www.geocities.com/www.cpdoc.fgv.br/memoriaviva.digi.com.br

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