Cruz e Sousa

Cruz e Sousa – Vida

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Nascimento: 24 de novembro de 1861, Florianópolis, Santa Catarina.

Falecimento: 19 de março de 1898, Antônio Carlos, Minas Gerais.

Poeta brasileiro. Um dos principais representantes do simbolismo no país.

João da Cruz e Sousa foi um poeta brasileiro, alcunhado Dante Negro e Cisne Negro. Foi um dos precursores do simbolismo no Brasil.

De formação parnasiana, da qual nunca se afastou totalmente, Cruz e Sousa aliou um grande poder verbal e imagístico à musicalidade e às preocupações espirituais, características que o incluem entre os maiores poetas simbolistas brasileiros.

João da Cruz e Sousa nasceu em Desterro, atual Florianópolis SC, em 24 de novembro de 1861. Filho de escravos, foi criado pelos antigos senhores de seus pais até 1870, quando seu protetor morreu. Terminados os estudos, dedicou-se ao magistério e publicou alguns poemas em jornais da província. Empenhado na campanha abolicionista, redigiu, durante vários anos, a Tribuna Popular. Fixou-se no Rio de Janeiro RJ em 1890, aderindo ao simbolismo.

Em Broquéis (1893), livro que deu início concreto ao simbolismo no Brasil, o poeta não realizou totalmente seu ideal estético devido aos laços com o formalismo parnasiano. Na segunda fase, representada por Faróis (1900), abandonou o esteticismo para cultivar um confissionismo revoltado. Somente na fase final, fixada em Últimos sonetos (1905), realizou o ideal simbolista de exploração do poder pleno da palavra.

Sua ânsia de infinito e verdade e seu agudo senso estético levam-no a uma poesia original e profunda. Foi também um dos primeiros que se dedicaram na literatura brasileira à prosa poética. O sociólogo Roger Bastide situou-o ao lado dos grandes simbolistas franceses, salientando, porém, a diferença da expressão da raça. Tendente à sublimação por um lado, como em “Siderações” (“Para as estrelas de cristais gelados / as ânsias e os desejos vão subindo”), o poeta negro, por outro, revela acentos sombrios de protesto, como em “Litania dos pobres” (“Ó pobres, o vosso bando / é tremendo, é formidando! / Ele já marcha crescendo / o vosso bando tremendo!”).

Conhecido como o “poeta negro”, Cruz e Sousa viveu seus últimos anos em infortúnio e miséria e sua trajetória humana e poética foi marcada por densa angústia.

Morreu em Sítio MG, onde a tuberculose o fez recolher-se, à procura de um melhor clima, em 19 de março de 1898.

Cruz e Sousa – Biografia

Cruz e Sousa

João da Cruz e Sousa nasceu a 24 de novembro de 1861 em Nossa Senhora do Desterro, capital da Província de Santa Catarina, atualmente, Florianópolis.

O nome João da Cruz é uma alusão ao Santo homenageado no dia de seu nascimento, San Juan de la Cruz. Filho dos escravos alforriados Guilherme, pedreiro; e de Eva Carolina da Conceição, cozinheira e lavadeira, João da Cruz foi criado pelo Coronel Guilherme Xavier de Sousa (que viria tornar-se Marechal) e sua esposa Clarinda Fagundes de Sousa, que não tiveram filhos. Assim, acabou por herdar o nome Sousa e obteve uma educação proporcional a dos brancos abastados de seu tempo. Com apenas 9 anos de idade já escrevia e recitava seus poemas para os familiares. Com o falecimento de seu protetor em 1870, as condições de vida tornaram-se menos confortáveis para o jovem João da Cruz.

Em 1871, entrou no Ateneu Provincial Catarinense. A partir de 1877, lecionava aulas particulares por necessidade financeira e impressionava seus companheiros de estudo pela capacidade intelectual. Conhecedor profundo de francês, chegou a ser citado numa carta do naturalista alemão Fritz Muller. Nesta carta dirigida ao próprio irmão em 1876, o naturalista citava João da Cruz como um exemplo contrário das teorias de inferioridade intelectual dos negros.

No ano de 1877, suas obras poéticas passaram a ser publicadas em jornais de Santa Catarina. Ao lado dos amigos Virgílio Várzea e Santos Lostada, João da Cruz fundou um jornal literário intitulado “O Colombo”, em 1881. No ano seguinte fundo a “Folha Popular”. Nesta mesma época, partiu em excursão pelo Brasil junto a uma companhia teatral e declamava seus poemas nos intervalos das apresentações. Também se engajou na luta social e passou a liderar conferências abolicionistas. Em 1883, foi nomeado promotor da cidade de Laguna. Mas não chegou a assumir o cargo devido ao furor preconceituoso de chefes políticos da região.

Em 1885 publica seu primeiro livro de co-autoria de Virgílio Várzea, intitulado Tropos e Fantasias. Até 1888 atuou em jornais, revistas e no centro da Imigração da Província de Santa Catarina. Neste mesmo ano, viajou para o Rio de Janeiro a convite de Oscar Rosas.

Em 1891 transferiu-se definitivamente para a então capital da República, Rio de Janeiro. A partir daí entrou em contato com novos movimentos literários vindos da França. Neste caso, João da Cruz e Sousa identificou-se especialmente com o chamado Simbolismo. O negro sulista que se enveredava pelos caminhos do Simbolismo, sofria duras críticas do meio intelectual de sua época; já que nesse momento, o Parnasianismo era a referência literária emergente.

Em novembro de 1893 casou-se com Gavita Rosa Gonçalves, também descendente de escravos africanos. Deste matrimônio nasceram quatro filhos, Raul, Guilherme, Reinaldo e João. Mas todos faleceram de tuberculose pulmonar. Sua esposa, ainda sofreu de distúrbios mentais que chegaram a refletir até mesmo nos escritos do poeta.

Ainda em 1893 publicou dois livros: Missal (influenciado pela prosa de Baudelaire) e Broquéis; obras que marcaram o lançamento do movimento simbolista brasileiro. Em 1897, concluiu um livro de prosa poética denominado Evocações. Quando preparava-se para publicá-lo, viu-se abatido pela tuberculose e partiu para Minas Gerais em busca de tratamento. Faleceu em 19 de março de 1898 aos 36 anos de idade. Seu corpo foi levado para o Rio de Janeiro num vagão para transporte de gado. O amigo José do Patrocínio pagou as despesas com o funeral e o enterro no cemitério São Francisco Xavier. No ano de sua morte ainda foi publicado Evocações. Em 1900, Faróis; e em 1905, o volume de Últimos Sonetos.

O negro que contrariou o preconceito racial e se pôs a liderança do Simbolismo brasileiro, é autor de uma obra que traz versos como: “Anda em mim, soturnamente / Uma tristeza ociosa / Sem objetivo, latente / Vaga, indecisa, medrosa” (Tristeza Do Infinito – Últimos Sonetos).

Além de: “De dentro da senzala escura e lamacenta / Aonde o infeliz / De lágrimas em fel, de ódio se alimenta / Tornando meretriz” (Da Senzala – O Livro Derradeiro). Percebe-se num primeiro momento o sofrimento de uma alma que ecoou diretamente em sua obra. Mas posteriormente, a consciência social e humanista de um cidadão. Cruz e Sousa, o Dante Negro ou Cisne Negro, foi um poeta Simbolista que ainda não obteve o reconhecimento literário devido, mas agrega em sua obra a essência única de um autor que cativa e comove por sua autenticidade.

Cruz e Sousa – Promotor Público

Cruz e Sousa
Cruz e Sousa

João da Cruz e Sousa nasceu em 21 de novembro de 1861 em Desterro, hoje Florinaopolis, Santa Catarina.

Seu pai e sua mãe, negros puros, eram escravos alforriados pelo marechal Guilherme Xavier de Sousa.

Ao que tudo indica o marechal gostava muito dessa família pois o menino João da Cruz recebeu, além de educação refinada, adquirida no Liceu Provincial de Santa Catarina, o sobrenome Sousa.

Apesar de toda essa proteção, Cruz e Sousa sofreu muito com o preconceito racial. Depois de dirigir um jornal abolicionista, foi impedido de deixar sua terra natal por motivos de preconceito racial.

Algum tempo depois é nomeado promotor público, porém, é impedido de assumir o cargo, novamente por causa do preconceito. Ao transferir-se para o Rio, sobreviveu trabalhando em pequenos empregos e continuou sendo vítima do preconceito.

Em 1893 casa-se com Gravita Rosa Gonçalves, que também era negra e que mais tarde enlouqueceu. O casal teve quatro filhos e todos faleceram prematuramente, o que teve vida mais longa morreu quando tinha apenas 17 anos.

Cruz e Sousa morreu em 19 de março de 1898 na cidade mineira de Sítio, vítima de tuberculose. Suas únicas obras publicadas em vida foram Missal e Broquéis.

Cruz e Sousa
Cruz e Sousa

Cruz e Sousa é, sem sombra de dúvidas, o mais importante poeta Simbolista brasileiro, chegando a ser considerado também um dos maiores representantes dessa escola no mundo. Muitos críticos chegam a afirmar que se não fosse a sua presença, a estética Simbolista não teria existido no Brasil. Sua obra apresenta diversidade e riqueza.

De um lado, encontram-se aspectos noturnos, herdados do Romantismo como por exemplo o culto da noite, certo satanismo, pessimismo, angústia morte etc. Já de outro, percebe-se uma certa preocupação formal, como o gosto pelo soneto, o uso de vocábulos refinados, a força das imagens etc.

Em relação a sua obra, pode-se dizer ainda que ela tem um caráter evolutivo, pois trata de temas até certo ponto pessoais como por exemplo o sofrimento do negro e evolui para a angústia do ser humano.

Livros publicados

Poesia

“Broquéis” (1893)
” Faróis” (1900)
“Ú ltimos Sonetos” (1905)
” O livro Derradeiro” (1961).

Poemas em Prosa

“Tropos e Fanfarras” (1885) – em conjunto com Virgílio Várzea
” Missal” (1893)
” Evocações” (1898)
” Outras Evocações” (1961)
” Dispersos” (1961)

Cruz e Sousa – Poeta

Cruz e Sousa
Cruz e Sousa

Nasceu na cidade de Desterro, hoje Florianópolis, Estado de Santa Catarina, a 24 de novembro de 1862 e f. em Sítio, uma vila do interior do Estado de Minas Gerais, a 19 março de 1898.

Foi o chefe do movimento simbolista no Brasil. Teve uma vida atribulada e dramática. Experimentou-os mais duros reveses e, não bastando o complexo da cor que se refletia multas vezes em seus próprios versos, Cruz e Sousa um amargurado, um infeliz. De seu consórcio nasceram-lhe quatro filhos, tendo-os visto morrer, um a um, ceifados pela tuberculose, moléstia que o levou também ao túmulo. Sua companheira de infortúnio faleceu em um hospício, e assim o poeta passou pela vida marcado por um destino adverso, ferido em todos os seus sentimentos.

Apreciando a vida do poeta negro, Ronald de Carvalho escreveu: “0 mundo girava em torno de sua dor, e, de tal maneira lhe pesava sobre a alma Insatisfeita e sofredora, que ele não soube traduzi-la senão como imprecações desesperadas e alucinantes. Não há quase um verso seu em que não haja um grito contra a opressão do ambiente que o cercava”.

“Broquéis” foi sua obra-prima, versos, publicados em 1893. Escreve após “Missal” também no mesmo ano.

Depois de seu falecimento, alguns amigos deram à publicidade os seus três últimos trabalhos: “Evocações”; “Faróis” e “Últimos Sonetos”.

Escreveu

“Missal” e “Broquéis”, 1893; “Evocações”, 1898; “Faróis”, 1900; ‘Últimos Sonetos”, 1905, as duas últimas, póstumas. A edição comemorativa do Centenário de nascimento acrescenta mais de 100 páginas do poeta em poesia e prosa, ao acervo contido na edição de 1945, promovida pelo Instituto Nacional do Livro, que por sua vez já editara 70 poesias até então não recolhidas em volume.

Cruz e Sousa foi um poeta cuja individualidade era tenazmente combatida em sua época. Alguns críticos justificam esse fato como que uma conseqüência da origem racial do vate catarinense.

Tanto assim que Ronald de Carvalho, comentando ainda o seu individualismo, escreve: “0 amargo fruto dos preconceitos que o comprimiam por todos os lados”.

É uma das vozes mais altas da Poesia Brasileira. 0 aparecimento de “Broquéis”, em 1893, praticamente inaugurou o Movimento Simbolista no Brasil. A poesia “Antífona”, constitui-se em verdadeira profissão de fé simbolista.

Procurou através de suas poesias, transbordar toda a sua mágoa, pelas humilhações que passava, motivadas pela sua cor. É considerado um dos expoentes máximos da escola simbolista, no Brasil.

Sua linguagem era impregnada de vocábulos que davam um vigoroso ritmo evocativo, seguidos de delírios constantes, como na poesia “ódio Sagrado” Abusava de aliterações, buscando uma virtuosidade musical.

Ao contrário de “Missal”, composto de poemas em prosa, Broquéis, poemas em verso, publicados em 1893, introduzem a voga do simbolismo na Literatura Brasileira. Como salienta o Professor Massaud Moisés, ( O Simbolismo) Missal e Broquéis trazem algumas das tortuosas e barroquizantes fórmulas sintáticas e alguns dos exotismos lexicais, decerto herdados desenvolvida e aperfeiçoadamente da poesia científica e realista. Apesar de aproximar sua obra dos simbolistas franceses, nota-se em sua poesia a presença do soneto, de um trabalho métrico e rímico muito próximo ao dos parnasianos.

Já em Faróis, Cruz e Sousa faz um ruptura com a seqüencialidade lógica, fugindo assim totalmente da linha parnasiana de composição. A musicalidade é seu ponto alto. É como uma área musical que apresenta um tom, um andamento diferenciado daquele claro e freqüente em Broquéis.

Para o Professor Massaud Moisés, os Últimos Sonetos traduzem a máxima depuração estética atingida pelo poeta e o apaziguamento interior, ambos imantados rumo do simbolismo sem ganga. Nesta evolução de dentro para fora, Cruz e Sousa realizava os ideais de Arte enunciados no poema Antífona, e criava algumas das peças únicas de todas a nossa poesia.

Cronologia

1861: Nasce João da Cruz, em Nossa Senhora do Desterro (hoje Florianópolis, capital do Estado de Santa Catarina), a 24 de Novembro. Filho de Guilherme da Cruz, mestre pedreiro, e Carolina Eva da Conceição, lavadeira, ambos negros e escravos, alforriados por seu senhor, o coronel Guilherme Xavier de Sousa.

Do coronel, o menino João recebeu o último sobrenome e a proteção, tendo vivido em seu solar como filho de criação.

1869: Aos oito anos, recita versos seus em homenagem a seu protetor, que voltava, promovido a marechal, da Guerra do Paraguai.

1871: Matricula-se no Ateneu Provincial Catarinense, onde estudou até o fim de 1875, tendo aprendido francês, inglês, latim, grego, matemática e ciências naturais. Essa última disciplina fora-lhe ensinada pelo naturalista alemão Fritz Müller, amigo e colaborador de Darwin e Haeckel. Além das palavras do amigo Virgílio Várzea: “Distinguiu-se acima de todos os seus condiscípulos”, Cruz e Sousa mereceu elogios de Fritz Müller, para quem a inteligência do jovem negro era a prova de que suas opiniões anti-racistas estavam corretas.

1881: Funda, com Virgílio Várzea e Santos Lostada, o jornal Colombo, no qual proclamavam adesão à Escola Nova (que era o Parnasianismo). Parte para uma viagem pelo Brasil, acompanhando a Companhia Dramática Julieta dos Santos, na função de ponto. Realiza conferências abolicionistas em várias capitais. Lê Baudelaire, Leconte de Lisle, Leopardi, Guerra Junqueiro, Antero de Quental.

1884: O presidente da província, Dr. Francisco Luís da Gama Rosa, nomeia Cruz e Sousa Promotor de Laguna. O poeta não pôde tomar posse do cargo, pois a nomeação fora impugnada pelos políticos locais.

1885: Publica Tropos e Fantasias, em colaboração com Virgílio Várzea. Dirige o jornal ilustrado O Moleque, cujo título provocativo revela o caráter crítico e contundente das idéias veiculadas. Tal jornal era francamente discriminado pelos círculos sociais da província.

1888: A convite do amigo Oscar Rosas, parte para o Rio de Janeiro. Durante os oito meses de permanência no Rio, conhece o poeta Luís Delfino, seu conterrâneo, e Nestor Vítor, que seria o grande amigo e divulgador de sua obra. Lê Edgar Allan Poe e Huysmans, entre outros.

1889: Retorna a Desterro, por não ter conseguido colocação no Rio de Janeiro. Lê Flaubert, Maupassant, os Goncourt, Théophile Gautier, Gonçalves Crespo, Cesário Verde, Teófilo Dias, Ezequiel Freire, B. Lopes. Inicia a conversão ao Simbolismo.

1890: Vai definitivamente para o Rio de Janeiro, onde obtém emprego com a ajuda de Emiliano Perneta. Colabora nas revistas Ilustrada e Novidades.

1891: Publica artigos-manifestos do Simbolismo, na Folha Popular e em O Tempo. Pertence ao grupo dos “Novos”, como eram chamados os “decadentes” ou simbolistas.

1882: Vê pela primeira vez Gavita Rosa Gonçalves, também negra, em 18 de Setembro. Colabora em A Cidade do Rio, de José do Patrocínio.

1893: Publica Missal (poemas em prosa) em Fevereiro, e Broquéis (poemas), em Agosto. Dia 09 de Novembro, casa-se com Gavita. É nomeado praticante e, posteriormente, arquivista da Central do Brasil.

1894: Nasce Raul, seu primeiro filho, a 22 de Fevereiro.

1895: recebe a visita do poeta Alphonsus de Guimaraens, que viera de Minas Gerais especialmente para conhecê-lo. A 22 de Fevereiro, nasce seu filho Guilherme.

1896: Em março, sua esposa Gavita apresenta sinais de loucura. O distúrbio mental durou seis meses.

1987: Evocações (poemas em prosa, que seriam publicados postumamente) encontra-se pronto para o prelo. Nasce Rinaldo, seu terceiro filho, a 24 de Julho. Ano de sérias dificuldades financeiras e de comprometimento da saúde.

1898: Morre a 19 de Março, em Sítio (Estado de Minas Gerais), para onde partira três dias antes, na tentativa de recuperar-se de uma crise de tuberculose. Tinha 37 anos. Seu corpo chega ao Rio de Janeiro num vagão destinado ao transporte de cavalos. José do Patrocínio encarrega-se dos funerais. O enterro realiza-se no Cemitério de S. Francisco Xavier, tendo o amigo fiel, Nestor Vítor, discursado ao túmulo. Publicação de Evocações. Nasce-lhe o filho póstumo, João da Cruz e Sousa Júnior, dia 30 de Agosto, que morreria em 1915, aos 17 anos. (Seus outros três filhos morreriam antes de 1901, ano em que morreu sua esposa Gavita). Em 1900, dá-se a publicação de Faróis, coletânea organizada por Nestor Vítor.

Cruz e Sousa – Poeta Simbolista

Foi João da Cruz e Sousa poeta de temática universal.

Teve dores pessoais; sobre estas não chorou, como faz uma notável quantidade de poetas.

Tratou da dor como situação universal, que atinge a todos os seres, emparedando-os inexoravelmente.

É notável que Cruz e Sousa aspirasse também o universal na cultura. Primeiramente a humanidade. Depois a nacionalidade. Sempre depois da globalidade, e somente depois importava a ele a etnia, ou o que quer que fosse. Neste sentido, Cruz e Sousa será o poeta do terceiro milênio, cujo universalismo já se encontra em andamento.

Foi Cruz e Sousa um perfeccionista da forma, e por isso não poderia deixar de tomar aos parnasianos, o que tinham de melhor.

Ultrapassando aos parnasianos, foi Cruz e Sousa ainda ser um simbolista, explorando portanto também o poder dos símbolos, a força das analogias, as sugestões poderosas, que pudessem conduzir mais além, como queria também a filosofia de muitos dos luminares de seu tempo.

Apesar de nascido em berço de ouro, sob a proteção de um nobre Marechal, na encantadora Ilha de Santa Catarina, foi lhe a vida curta e finalmente atribulada.

Ainda que morresse na metade do curso de sua vida, foi, mesmo assim, nosso Cruz e Sousa capaz de criar obra poética suficientemente grande, que surgiu como montanha entre as outras grandes obras do seu tempo. Imagine-se, quanto seria gigantesco, se houvesse vivido uma vida inteira!

Que é poesia?

Dizer a palavra “violão”, de tal maneira que ela faça pensar objetivamente só no objeto, ainda não é criar poesia. Está-se ainda no âmbito da prosa.

Quando a palavra é pronunciada em circunstâncias, as quais são capazes de excitar imagens, cintilando evocações, associando estados de alma, ela ultrapassa a objetividade da expressão em prosa e alcança o clima poético.

Eis a transfiguração que a linguagem assume no poeta simbolista João da Cruz e Sousa, no poema Violões que choram…

Ah! Plangentes violões dormentes, mornos,
soluços ao luar, choros ao vento…
Tristes perfis, os mais vagos contornos,
bocas murmurejantes de lamento,
Noites de além, remotas, que eu recordo.
Noites de solidão, noites remotas
que nos azuis da Fantasia bordo,
vou constelando de visões ignotas.

Sutis palpitações à luz da lua,
anseio dos momentos mais saudosos,
quando lá choram na deserta rua
as cordas dos violões chorosos.

Para a poesia as palavras têm conotações associativas. Estas conotações ocorrem sobretudo quando se indicam objetos coma Flor, Mulher, Coração, Amor, Pátria, Vitória, Sofrimento, Dor, Angústia, Violões.

Também formam clima evocador a cadência, a rima, a aliteração, a emotividade dos símbolos, Até mesmo isto ocorre com o aspecto visual do texto, inclusive das letras maiúsculas, A poesia concretista aproveita a montagem exterior, combinando elementos especificamente literários, com outros capazes de co-participar e criar associatividade, suscitando poesia par todas as maneiras.

A grande poesia, como a de João da Cruz e Sousa, é a que sabe estabelecer as evocações mais intensas e institui os recursos surpreendentes de inspiração.

O que acontece com os instrumentos mais ricos de evocação, também sucede com os temas. Na grande poesia, os temas superam o cotidiano. Os decadentes franceses, depois conhecidos por simbolistas, experimentaram esta saída para novas objetos, com recursos extraordinários, conflitando, com o naturalismo parnasiano das formas perfeitas da realidade positiva.

Já antes que o simbolismo se instalasse no Brasil em 1887, a versificação de Cruz e Sousa apresentava uma tendência para a temática ultra-significativa, com recursos que transcendiam ao extraordinário. Com a publicação de Missal (em prosa) e Broquéis (em poesia), ambos no decorrer de 1893, já era apontado como uma das principais expressões desta maneira de ver e exercer a arte.

Depois, já próximo do final do século, ao compor seus versos de Violões que choram…, publicados em 1897, o simbolismo brasileiro alcançava um dos seus instantes mais convincentes.

“Que esses violões nevoentos e tristonhos
são ilhas de degredo atroz, funéreo,
para onde vão, fatigadas do sonho,
almas que se abismaram no mistério”.

Demoram e são longas as chorosas evocações dos Violões abismados no mistério das horas, das noites compridas de meditação, inesgotáveis são, como as distâncias, as profundezas e as alturas da metafísica interminável. Porque os temas indefinidos não se esgotam, os Vio1ões do poeta continuam plangendo, sem poder terminar, em versos inúmeros.

Esta história. O apelo à expressão poética tem história, da qual recortamos um pedaço, aquele que diz respeito a João da Cruz e Sousa e ao movimento simbolista ao qual pertenceu sobretudo nos seus últimos anos.

No decurso milenar de suas manifestações, vários foram os estilos de manifestação poética, oscilando em geral entre o equilíbrio clássico e a tensão das formas intensivas, como do romantismo, simbolismo, modernismo.

Com vistas ao simbolismo brasileiro (1897-1917), seguido do modernismo de que é um dos precursores, os estudiosos concentram suas atenções em Cruz e Sousa.

Não obstante figurar como uma fase cronológica, Cruz e Sousa é um personagem com validade absoluta, o mesmo se podendo dizer de sua obra.

Divisão. No primeiro capítulo destacaremos o lado episódico do poeta, que sempre é importante para apreensão da expressão evocativa.

No segundo abordaremos em abstrato a forma artística de sua obra, o conteúdo ideológico e filosófico, em especial suas teorias estéticas.

Fontes de informação. A documentação e bibliografia é relativamente abundante sobre a obra de Cruz e Sousa.

Obtém-se em parte nos jornais e revistas daquela época. Embora em números raros, os órgãos de imprensa do final da Província ou do Império, bem como do início da República, quase todos subsistem.

Os jornais e revistas em que Cruz e Sousa escreveu se encontram nas coleções da Biblioteca Pública do Estado de Santa Catarina. Também se encontram na Biblioteca Central da Universidade Federal de Santa Catarina em Florianópolis, em parte provenientes do espólio de Lucas Boiteux). Finalmente se encontram também na Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, onde também se acham volumes das primeiras edições dos livros do poeta.

Destacam-se os seguintes jornais:

De Florianópolis,
A Regeneração;
Despertador; j
Jornal do Comércio;
Poliantea; Colombo;
Moleque; O Artista;
Do Rio de Janeiro,
Debate;
Novidades;
Ilustração Brasileira;
República;
O Pais;
O Tempo;
Cidade do Rio, sendo este o jornal em que inicialmente trabalhou Cruz e Sousa ao se transpor, definitivamente, para a Capital da República em fins de 1890.

A bibliografia, ou escritos sobre Cruz e Sousa, é abundante. A edição do centenário, 1961, arrolou 81 títulos, que até então haviam tratado do poeta. Depois surgiram outros de excelente qualidade.

São importantes os relatos contemporâneos de Cruz como os de Virgílio Várzea (Impressões da Província, em Correio da Manhã, RJ, 1907) ; de Araújo de Figueiredo (No caminho do destino, memórias deixadas inéditas, com versão A e versão B, que chegaram às mãos de R. Magalhães Júnior, o qual as estudou em Poesia e Vida de Cruz e Sousa, 3. ed., 1971); de Nestor Vitor (Introdução, de quase 60 páginas, que abre a 1? edição de Obras Completas de Cruz e Sousa, em 1923). Similar é o trabalho de Andrade Muricy, editor da edição do centenário, com respectiva Introdução(1961).

Ainda representam informação direta sobre Cruz e Sousa os seus mesmos textos. Como a Platão, que melhor se conhece pelos escritos do que pelos comentadores, a Cruz e Sousa mais se descobre pela inteligente leitura dos seus versos e de sua prosa, do que pelas informações externas.

Havendo assinado seu nome com data e lugar em muitas de suas poesias, este fato permite acompanhar o roteiro do poeta, que percorreu o país do Sul ao Amazonas, e determinar detalhes sobre os elementos que o inspiraram.

Combinando as informações com os textos, chegamos a este ensaio, sem outra pretensão que a de ter tido o prazer de haver meditado sobre um poeta, que muito tem de afim com a ocupação dos filósofos.

Fonte: br.geocities.com/www.mundocultural.com.br/www.vidaslusofonas.pt/www.cfh.ufsc.br

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