Obras Literárias

junho, 2017

  • 8 junho

    Soneto da Separação

    (Vinícius de Moraes) De repente do riso fez-se o pranto Silencioso e branco como a bruma E das bocas unidas fez-se a espuma E das mãos espalmadas fez-se o espanto. De repente da calma fez-se o vento Que dos olhos desfez a última chama E da paixão fez-se o pressentimento …

  • 8 junho

    Soneto da Rosa

    Vinícius de Moraes Mais um ano na estrada percorrida Vem, como o astro matinal, que a adora Molhar de puras lágrimas de aurora A morna rosa escura e apetecida. E da fragrante tepidez sonora No recesso, como ávida ferida Guardar o plasma múltiplo da vida Que a faz materna e …

  • 8 junho

    Soneto da Rosa Tardia

    (Vinícius de Moraes) Como uma jovem rosa, a minha amada… Morena, linda, esgalga, penumbrosa Parece a flor colhida, ainda orvalhada Justo no instante de tornar-se rosa. Ah, porque não a deixas intocada Poeta, tu que es pai, na misteriosa Fragrância do seu ser, feito de cada Coisa tão frágil que …

  • 8 junho

    Soneto da Mulher ao Sol

    (Vinícius de Moraes) Uma mulher ao sol – eis todo o meu desejo Vinda do sal do mar, nua, os braços em cruz A flor dos lábios entreaberta para o beijo A pele a fulgurar todo o pólen da luz. Uma linda mulher com os seios em repouso Nua e …

  • 8 junho

    Soneto da Maioridade

    Vinícius de Moraes O Sol, que pelas ruas da cidade Revela as marcas do viver humano Sobre teu belo rosto soberano Espalha apenas pura claridade. Nasceste para o Sol; és mocidade Em plena floração, fruto sem dano Rosa que enfloresceu, ano por ano Para uma esplêndida maioridade. Ao Sol, que …

  • 8 junho

    Soneto da Madrugada

    (Vinícius de Moraes) Pensar que já vivi à sombra escura Desse ideal de dor, triste ideal Que acima das paixões do bem e do mal Colocava a paixão da criatura! Pensar que essa paixão, flor de amargura Foi uma desventura sem igual Uma incapacidade de ternura Nunca simples e nunca …

  • 8 junho

    Soneto da Lua

    (Vinícius de Moraes) Por que tens, por que tens olhos escuros E mãos languidas, loucas, e sem fim Quem és, quem és tu, não eu, e estás em mim Impuro, como o bem que está nos puros ? Que paixão fez-te os lábios tão maduros Num rosto como o teu …

  • 8 junho

    Soneto da Intimidade

    (Vinícius de Moraes) Nas tardes de fazenda há muito azul demais. Eu saio as vezes, sigo pelo pasto, agora Mastigando um capim, o peito nu de fora No pijama irreal de há três anos atrás. Desço o rio no vau dos pequenos canais Para ir beber na fonte a água …

  • 8 junho

    Soneto da Ilha

    Vinícius de Moraes Eu deitava na praia, a cabeça na areia Abria as pernas aos alísios e ao luar Tonto de maresia; e a mão da maré cheia Vinha coçar meus pés com seus dedos de mar. Longos êxtases tinha; amava a Deus em ânsia E a uma nudez qualquer …

  • 8 junho

    Soneto da Hora Final

    (Vinícius de Moraes) Será assim, amiga: um certo dia Estando nós a contemplar o poente Sentiremos no rosto, de repente, O beijo leve de uma aragem fria. Tu me olharás silenciosamente E eu te olharei também, com nostalgia E partiremos, tontos de poesia Para a porta de trevas, aberta em …