Costa do Ouro e da Prata

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No século XV os territórios descobertos e conquistados pelos portugueses eram batizados com os nomes das principais mercadorias que podiam ser obtidas na região, desta forma surgiram as designações Costa do Marfim, Costa da Malagueta, Costa dos Escravos e Costa da Mina, por isto Dom João III em 20 de Novembro de 1530 chamou ao Paço de Évora o fidalgo Martins Afonso de Souza para uma reunião onde foi elaborado os planos para a missão de descobrir uma misteriosa serra de prata e tentar conquistar o territorio do lendário rei branco, com trinta anos de idade Martins Afonso de Souza até então nunca tinha sido incumbido de missão tão importante quanto aquela para a qual estava sendo designado, que seria a Costa do Ouro e da Prata.

Ao longo de três décadas que se seguiram à descoberta do Brasil, os lusos tinham deixado virtualmente abandonado as suas terras pois estavam mais interessados em conquistar a Índia e em manter em funcionamento as varias feitorias instaladas na Costa Ocidental da África, porém com o assédio dos traficantes franceses de pau-brasil ao desguarnecido litoral do nordeste do Brasil que cada vez mais estava se tornando mais ostensivos, por isto a coroa portuguesa percebeu que seria preciso enfrentar imediatamente o inimigo.

Porém o principal objetivo da expedição era muito mais ousado e ambicioso do que a mera expulsão dos franceses, pois a partir de 1515 com João de Lisboa e em 1516 com Juan Diaz de Solis estes navegadores haviam dado noticia na Europa que em um certo lugar do oeste da América do Sul havia um riquíssimo reino indígena, em um estuário que foi batizado com o nome de Rio de Santa Maria e logo a seguir passou a ser chamado de Rio da Prata e que os portugueses passaram a chamar as porções meridionais do litoral sul americano de Costa do Ouro e da Prata.

Se a costa do Brasil não despertava o interesse dos portugueses, o inverso ocorreu com a misteriosa Costa do Ouro e da Prata cuja conquista se tornou uma obsessão para Portugal e Espanha.

Apesar de o Rio da Prata ter sido descoberto por João de Lisboa, coube a integrantes da expedição de Juan Diaz de Solis obter a confirmação da descoberta, Solis fora morto pelos nativos logo ter chegado ao Estuário do Prata e quando as duas caravelas que ele comandava iniciaram a viagem de volta a Europa, um dos navios naufragou na ponta sul da Ilha de Santa Catarina, onde os sobreviventes se instalaram em um pequeno vilarejo que ficou conhecido como Porto dos Patos.

DOM JOÃO III

Costa do Ouro e da Prata
DOM JOÃO III

Rei de Portugal que nasceu em 1502 em Lisboa onde faleceu em 1557 era filho de Dom Manoel I subiu ao trono em 1521 decidido a colonizar o Brasil com o objetivo de extrair dessa colônia, através da agricultura os lucros que não mais conseguia obter com o comercio da Índia, sem recursos financeiras suficientes para o financiamento de novas expedições colonizadoras, ele tomou a decisão de aplicar no Brasil em 1534 o sistema de Capitania Hereditária e no ano de 1548 criou o sistema de Governo Geral para o Brasil

Costa do Ouro e da Prata

E em 1524 um dos sobreviventes o português Aleixo Garcia acompanhado por cerca de duzentos indígenas realizou uma expedição por uma antiga trilha indígena chamada Peabirco até o planalto boliviano onde atacaram e saquearam as cidades fronteiriças do Império Inca, a expedição comprovou que o rei branco de fato existia e chamava-se Huayana Capac e na viagem de volta a Santa Catarina, Aleixo Garcia foi morto as margens do Rio Paraguai pelos temíveis Payagua, e no ano de 1526 o navegador veneziano Sebastião Caboto junto com o naufrago Henrique Montes viajaram durante dois anos percorrendo a bacia do prata e nada encontraram e no ano de 1528 Diego Garcia junto com navegador Sebastião Cobato subiram o Rio Paraná guiados pelo português Gonçalo da Costa onde foram atacados pelos nativos; lutaram contra as correntes, as febres palustres e a fome e não acharam nada de valor por isto em 1529 Diego Garcia resolveu desistir e iniciar sua jornada de volta a Europa, quando aportou em Sevilha em companhia de Henrique Montes derrotado pelo fracasso obtido a sua chegada repercutiu intensamente em Lisboa pois a sua evidente derrota foi saudada por Simao Afonso que era um agente português que se encontrava em Sevilha, que escreveu para Dom João III relatando que Sebastião Cobato havia desembarcado muito desbaratado e pobre, sem ouro e prata ou qualquer coisa de proveito para os que haviam armado sua esquadra, porem assegurava que os sobreviventes da expedição de Sebastião Caboto continuavam acreditando que a região era muito rica em prata e ouro, por isto recomendava que o rei Dom João III tratasse de enviar o mais breve possível uma expedição para o Prata.

Em Portugal o Rei Dom João III desde 1529 já havia iniciado o projeto para o envio de uma expedição ao Brasil e ao ser informado que as explorações de Sebastião Caboto e Diego Garcia haviam sido feitas sob a orientação de náufragos e degredados portugueses, por este motivo determinou que Simao Afonso atraísse Gonçalo da Costa e Henrique Montes para Lisboa.

É em Outubro de 1530 Gonçalo da Costa se avistou com o Rei Dom João III para que guiasse uma expedição à região, apesar dos oferecimentos do rei, acabou não havendo acordo entre o monarca e o degredado, porém em Novembro de 1530 Henrique Montes que já havia morado por mais de quinze anos em Porto dos Patos aceitou a oferta de Dom João III, por isto foi feito Cavaleiro da Casa Real e o nomeou como Provedor da Armada de Martins Afonso de Souza.

Ao longo de todo o segundo semestre de 1530 Dom Antônio de Ataide – Conde de Castanheira conduziu tensas negociações diplomatas com os representantes do Rei Francisco I da França sobre os assédios dos traficantes franceses no Brasil, e tendo se convencido de que a ação dos contrabandistas não iria cessar apenas em função dos frágeis acordos diplomatas que fora capaz de obter, Dom Antônio Ataide por isto empenhou-se em convencer Dom João III a enviar uma poderosa armada com a missão de vigiar e punir os invasores franceses.

Francisco I estava de tal forma disposta a ignorar as estipulações do Tratado de Tordesilhas que ele nunca se preocupou em reprimir o trafico do pau-brasil que era um vultoso negocio que tinha como principal financiador o mercador Jean Ango o poderoso Visconde de Dieppe, e o choque de interesses precipitara-se em fins de 1529 quando a barca e um galeão de Jean Ango foram capturados pela armada portuguesa nos Açores, em vista disto o Visconde de Dieppe ameaçou declarar pessoalmente guerra a Portugal e bloquear o porto de Lisboa, e para isto em 27 de Junho de 1530 devido as pressões exercidas por Jean Ango sobre o rei Francisco I ele acabou recebendo uma autorização oficial para o exercício da atividade corsária onde poderia atacar embarcações lusos até se ressarcir do seu prejuízo.

A atitude do Rei Francisco I deixou Dom João III indignado por isto em Julho de 1530 ele escreveu para o Rei da França uma carta na qual manifestou que considerava a concessão da carta de marca ao Visconde de Dieppe uma guerra manifesta, e aproveitando a estada de Dom Antônio Ataide na França para assistir o casamento de Dona Leonor com o Rei Francisco I e em companhia de Dom Diogo de Gouveia, Dom Antônio de Ataide manteve inúmeras reuniões com os representantes do Rei da França a respeito do litigo entre as duas coroas e após quase um ano de negociações, ele conseguiu contornar o litígio com Jean Ango lhe indenizando o prejuízo causado pela apreensão de seus barcos e na ocasião subornou o Almirante Phillipe Chabot que era o comandante da frota francesa do Atlântico do qual obteve a promessa de que os traficantes de pau-brasil não mais iriam empreender viagens do Brasil e em Novembro de 1530 Martins Afonso de Souza recebeu no Paço de Évora das mãos de Dom João III a carta que lhe concedia amplos poderes para a realização de sua missão que constituíam a autorização a doar terras em sesmarias para os fidalgos que o acompanhava estava encarregado de nomear tabeliães e oficiais de justiça, lavrar autos e tomar posse de todo o territorio brasileiro situado dentro da linha demarcatoria de Tordesilhas.

Gonçalo da Costa após recusar o oferecimento de tomar parte na expedição que estava sendo armada em Lisboa, ao chegar na Espanha relatou as dimensões da expedição a Imperatriz Dona Isabel que de imediato enviou os seus protestos formais ao seu irmão o Rei Dom João III, pois a região da prata estava localizada dentro da zona espanhola da demarcação estabelecida em Tordesilhas.

Costa do Ouro e da Prata

Enquanto as duas coroas travavam uma guerra diplomática a respeito da expedição de Martins Afonso de Souza a mesma partia de Lisboa para o Brasil em Dezembro de 1530 com duas naús, duas caravelas um galeão e mais de quatrocentos homens.

Com objetivo de combater os franceses, fundar fortalezas e explorar o Rio da Prata e de enviar uma missão de reconhecimento ao imenso e misterioso rio que os espanhóis haviam descoberto no norte do Brasil que o havia chamado de Maranon no ano de 1500 e que Francisco de Orellana foi capaz de navegar da nascente à foz e que reabitou de o Rio das Amazonas.

Entre os homens que se fizeram ao mar trinta dois eram fidalgos e muitos mercenários e aventureiros alemães, franceses e italianos e entre eles estava o Capitão Pero Lopes de Souza irmão mais moço de Martins Afonso de Souza em era o responsável pelo diário da expedição, João de Souza, Pero Lobo, Diogo Leite, Baltazar Gonçalves e Vicente Loureço e outros.

A travessia do Atlântico transcorreu sem nenhum incidente, com a expedição fazendo as escadas habituais nas Canárias e na Ilha do Sal onde aportou em 25 de Dezembro de 1530 e neste porto do arquipélago de Cabo Verde Martins Afonso de Souza deparou com duas embarcações espanholas que se dirigiam para o Rio Maranón, o comandante exortou os tripulantes a desistirem da missão afirmando que aquele rio ficava dentro da demarcação do Rei de Portugal e em 31 de Janeiro de 1531 após ter cruzado o oceano Martins Afonso de Souza e seus homens puderam vislumbrar os verdejantes contornos do litoral do Brasil, o Cabo de Santo Agostinho em Pernambuco onde Duarte Coelho viria fundar a Vila de Olinda e também avistaram dois navios franceses que Martins Afonso de Souza tratou de dar combate aos intrusos, sendo que um foi apresado e outro apreendeu fuga para o norte, e sendo perseguido por Pero Lopes que ao amanhecer do dia 2 de Fevereiro após violento combate noturno que avariou seriamente o seu navio, Pero Lopes pode capturar os franceses que se renderam após terem ficado sem munição.

Depois da refrega Pero Lopes quis desembarcar para se reabastecer, porem foi impedido pelos índios Potiguar que eram grandes aliados dos franceses, por isto seguiu para o sul e encontrou-se com Martins Afonso de Souza que estava ancorado na feitoria de Igaraçu que fora fundada em 1516 pelo Guarda Costa Cristóvão Jaques, e que fora saqueada pelos franceses que colocaram em fuga o feitor responsável, os iramos Souza reergueram o entreposto e deixaram ali, os homens que tinha, sido feridos em combates durante a captura das naus francesas junto com alguns índios Tabajara que eram muitos aliados dos portugueses se restabelecendo, e em Fevereiro um dos capitães da frota João de Souza foi enviado de volta para Portugal, a bordo de uma das naus tomadas aos franceses que levou em seus porões cerca de trinta contrabandistas aprisionado e dois mil setecentos sessenta oito toras de pau-brasil que eles haviam recolhidos no Brasil e no inicio de Junho de 1531 a frota aportou em Portugal aonde as toras de pau-brasil foram a leilão e os traficantes franceses encarcerados na prisão de Limoeiro em Lisboa.

E se aproveitando da situação Dom Diogo de Gouveia o principal representante diplomático de Portugal na França enviou uma carta para o Rei Dom João III intercedendo pela liberação daqueles homens, de modo a facilitar suas negociações com o Rei de França Francisco I.

No mesmo dia em João de Souza partira para o reino levando os traficantes franceses como prisioneiros, Martins Afonso de Souza determinou que o Capitão Diogo Leite zarpasse para o norte com a missão de explorar o Rio Maranón na chamada Costa Leste-Oeste que se estendia desde o Cabo São Roque no Rio Grande até a Ilha de Marajó no Pará, e em Março de 1531 após ter enviado Diogo Leite em direção ao Amazonas e João de Souza de volta a Portugal, Martins Afonso de Souza deu prosseguimento a sua missão, ele que já havia lutado contra os franceses na Costa do pau-brasil e iniciado a exploração da Costa Leste-Oeste e agora iria percorrer a Costa do Ouro e da Prata a bordo do Galeão São Vicente e em 13 de Março entrou na Baia de Todos os Santos que era freqüentada por naus francesas e espanhola.

Costa do Ouro e da Prata

E tão logo puseram os pés em terra, Martins Afonso de Souza e seus soldados encontraram um misterioso homem branco a quem os nativos o chamavam de Caramuru e que há mais de vinte anos vivia entre os índios Tupinambas fornecendo viveres e auxilio a traficantes franceses e a exploradores espanhóis.

Essa ligação era tão explicita que em 1528, Caramuru interrompeu seu exílio tropical para visitar a França junto com o italiano Girolamo Verrazano que era comandante de um dos navios de Jean Ango – Visconde de Dieppe.

Uma vez na França Diogo Alvares “Caramuru” se casou com Paraguaçu que era filha que era filha do Cacique Itaparica o líder dos Tupinambas, que logo após ser batizada recebeu o nome de Catarina no dia 30 de Julho de 1528 na cerimonia realizada pelo vigário Lancet Ruffer em Saint Malô. Por um mês, Martins Afonso de Souza permaneceu na Bahia, onde os indígenas o receberam muito bem, devido a solida aliança entre Caramurú e os Tupinambas, ainda assim o capitão-mor quando partiu em 27 de Março em prosseguimento de sua jornada rumo à Costa do Ouro e da Prata se limitou em deixar poucos homens, e após um mês de luta permanente contra o mau tempo e as correntes contrarias, a frota de Martins Afonso de Souza entrou na Baia da Guanabara, embora soubesse que o Rio de Janeiro se localizava ao norte da região que deveria explorar Martins Afonso de Souza decidiu estabelecer ali sua primeira base no Brasil com uma Casa Forte, um estaleiro rudimentar e uma ferraria no mesmo local onde antes funcionara a Feitoria da Carioca que fora fundada por Gonçalo Coelho em 1504 e desativada por Cristóvão Jaques em 1516.

Enquanto o novo forte era construído, os marinheiros fabricavam um bergantim e o Provedor da Armada Henrique Montes foi encarregado de obter mantimentos suficientes para uma viagem prevista para durar mais de dois anos, enquanto Henrique Montes convencia aos nativos a fornecer grandes quantidades de alimentos, Martins Afonso de Souza decidiu enviar um pequeno destacamento com a missão de explorar o interior da região, que após uma árdua jornada de sessenta léguas pelas escarpadas de uma grande serra os expedicionários chegaram a uma aldeia de um grande rei que recebeu os estrangeiros com grandes honras e concordou em acompanha-los na jornada de volta até ao Rio de Janeiro, e que ao ser apresentado com todas as formalidades a Martins Afonso de Souza, o chefe indígena deu preciosas informações de que no Paraguai havia muito ouro e prata, e após três meses de permanência no Rio de Janeiro, Martins Afonso de Souza zarpou para o sul ao raiar do dia 1 de Agosto de 1531 e que por sugestão de Henrique Montes, seus navios fundearam em frente a Ilha de Cananeia no litoral sul de São Paulo quase na fronteira com o Paraná, onde o marujo Pedro Annes que vivia de longo data no Brasil foi enviado para vistoriar a região e que após alguns dias retornou trazendo para bordo da nau-capitaneia o misterioso Bacharel de Cananeia e alguns de seus homens que haviam desertado da expedição comandada por Dom Rodrigo de Acuña em 1526.

E do encontro entre Martins Afonso de Souza e os homens do Bacharel de Cananeia, um marinheiro espanhol chamado Francisco Chaves assegurou ao Comandante Martins Afonso de Souza que caso lhe fossem fornecido alguns homens, ele voltaria para aquele porto com alguns escravos carregados de prata e ouro, assim sendo em 1 de Setembro de 1531 Francisco Chaves partiu de Cananeia pela trilha de Peabiru em busca das riquezas do Império Inca em uma expedição chefiada pelo Capitão Pero Lobo.

Costa do Ouro e da Prata

E logo após a partida da expedição Martins Afonso de Souza mandou colocar um padrão de pedra que eram usados pelos portugueses para sinalizar a posse de territórios conquistados em além mar e partiu de Cananeia em direção ao Rio da Prata que em viagem cruzaram ao largo com o Porto dos Patos e passaram por Porto de Dom Rodrigo e após suplantar as correntes traiçoeiras a frota ancorou no Cabo de Santa Maria, onde se estabelece o inicio do Estuário do Prata onde a armada permaneceu ancorada durante oito dias e dali a expedição segui viagem através do Rio do Prata onde encontrou inúmeras dificuldades devido as terríveis tormentas meridionais que abateram sobre os navios, a naú-capitaneia na qual viajava Martins Afonso de Souza veio a naufragar matando vários homens e perdendo muitas armas e os mantimentos armazenados em seus porões que seriam suficientes para a exploração da Bacia do Prata, porém o infortúnio o forçou a modificar os seus planos, pois ao depararem com um bergantim de cedro que pertencera a expedição de Sebastião Caboto encalhado na praia e de terem recebido auxilio e mantimentos dos nativos Charrua, Martins Afonso de Souza reuniu seus principais pilotos e assessores e decidiu que apenas um pequeno grupo subiria o Rio da Prata sob o comando de Pero Lopes onde ali deveria fincar dois padrões de pedra.

Costa do Ouro e da Prata
Rota da Expedição de Martins Afonso ao Brasil

E ao longo da espera do retorno da expedição de Pero Lopes, Martins Afonso de Souza explorou o Estuário do Prata percorrendo a vasta extensão de praias baixa e arenosas quando realizou uma serie de medições astronômicas, e quanto Martins Afonso de Souza explorava a inóspita Costa do Uruguai e do Rio Grande do Sul, Pero Lopes subia o Rio da Prata com seus homens guiados por Henrique Montes até as nascentes do Rio Paraná onde ficaram dois padrões de pedra com os Brasões de Portugal, a jornada de retorno foi muito atribulada, devido as cheias de verão que tinham deixado o rio caudaloso e com muitos redemoinhos que em um dado momento lançou o bergantim em que viajavam contra os rochedos, depois de resgatarem o barco com muita dificuldade, e com um grande atraso em relação ao prazo combinado Pero Lopes reencontrou Martins Afonso de Souza e o restante da expedição em 27 de Dezembro na Ilha das Palmas na foz do estuário de onde partiram de volta para o litoral do Brasil, passando ao largo de Imbituba no sul de Santa Catarina e aportaram em Cananeia e após duas semanas ancorados zarparam para o norte prontos para concretizarem aquela que iria se tornar a principal realização de sua expedição.

Em 22 de Janeiro de 1532 Martins Afonso de Souza chegou em um vasto lagamar, em meio ao qual havia diversas ilhas e onde desaguavam vários rios, ali ficava o Porto dos Escravos em São Vicente um ponto estratégico da costa brasileira já há muito conhecido por exploradores portugueses e espanhóis e alguns náufragos e degredados portugueses que viviam explorando o tráfico de escravos que na maioria eram da nação Carijó e prisioneiros de guerra dos Tupiniquim, grandes aliados dos portugueses que chamavam São Vicente de Tumiaru ou lugar de mantimentos em Tupi.

E assim que desembarcou na Ilha de São Vicente, Martins Afonso de Souza foi recebido por dois homens brancos que se chamavam João Ramalho e o outro Antônio Rodrigues e de alguns guerreiros bem armados que entre eles se encontravam três caciques Tibiriça e Caiubi que de imediato firmaram uma aliança com Martins Afonso de Souza e de Piquerobi que se manteve arredio e desconfiado com os estrangeiros, eles eram lideres de cerca de vinte e cinco mil Tupiniquim (Tupim-iki ou parentes dos Tupi) cujo territórios tribal se estendiam desde os arredores de Cananeia até Bertioga, Tibiriça o líder da tribo vivia na aldeia de Piratininga na confluência do Córrego Anhangabaú com o Riacho Tamanduatei, Caiubi liderava a aldeia de Jerubatuba ao sul de Piratinga e a leste ficava Ururai a aldeia comandada por Piquerobi e por seu filho Jaguaranho.

Líder de uma vasto exercito particular, destemido e desafiador João Ramalho por isto passou a ser consultado por Matins Afonso de Souza e seus assessores a respeito de todo territorio e de todas tribos indígenas que partiam de São Vicente e de Cananeia, e da lenda do Rei Branco e da Serra da Prata.

Martins Afonso de Souza junto com Antônio Rodrigues e João Ramalho partiram a bordo de bergantim em Tumiaru ingressando no vasto lagamar de Morpion até aportarem no ancoradouro de Piaçaguera de Cima na raiz da Serra de Paranapiacaba de onde deram inicio à uma jornada árdua na subida da serra pela trilha dos Tupiniquim até chegarem às nascentes do Rio Tamanduateí sempre guiados por João Ramalho e seus batedores indígenas chegaram à colina no topo da qual se erguia Piratinga; a aldeia de Tibiriçá.

E no retorno de Martins Afonso de Souza para São Vicente ele já estava determinado não só a fundar uma vila à beira mar como a estabelecer um posto avançado no topo do planalto justamente em Piratinga na aldeia de seu aliado Tibiriçá de onde ele pretendia atingir o território do Rei Branco, e para primeira tentativa de implantar a lei e a ordem lusitana no territorio, ele fez diversas distribuição de terras entre os seus homens para constituírem fazendas, criou uma vila na Ilha de São Vicente e outra dentro do sertão e fez nelas oficias e pôs tudo em boa obra de justiça, também iniciou a distribuição de amplas sesmarias tanto no litoral como no sertão cuja cerimônias de doação foram feitas com toda a formalidade.

Apesar de, naquele momento estarem sendo destituídos de largas porções de seus primitivos territórios tribais, Martins Afonso de Souza mandou erguer uma fortaleza na Barra de Bertioga no recanto dos Macacos, exatamente nos domínios dos Tupiniquim onde se confrontavam com o territorio dos Tamoios, seus inimigos tradicionais que eram aliados dos franceses.

São Vicente e Piratinga não foram apenas as principais vilas fundadas pelos portugueses no Brasil; foram também os dois primeiros estabelecimentos construídos pelos Europeus na América ao Sul do Equador, suas localizações eram estrategicamente perfeita era a porta de entrada para o sertão, elas ficavam na demarcação de Portugal, quase no limite com a zona que pertencia a Castela e ao fundar Martins Afonso de Souza estava lançando a base a partir da qual os portugueses poderiam tentar a conquista da Costa do Ouro e da Prata

Costa do Ouro e da Prata
Fundação de São Vicente, SP

E em 22 de Maio de 1532 após quatro meses ajudando Martins Afonso de Souza a se estabelecer em São Vicente e fundar Piratinga – Pero Lopes foi autorizado a iniciar a viagem de voltar para Portugal; assim sendo com um galeão e uma naú e cinqüenta e seis homens a bordo Pero Lopes partiu de São Vicente e em 25 de Maio a pequena frota chegou ao Rio de Janeiro e dali seguiu para a Baia de Todos os Santos de onde rumou para a Ilha de Santo Aleixo no litoral de Pernambuco em frente a foz do Rio Sirinhaém, que ao chegar avistou fundeada entre aquela ilha e o continente a qual foi imediatamente atacada, e após cinco horas de intensos combates, Pero Lopes venceu o inimigo que ao serem capturados revelaram que um outro grupo de traficantes franceses de pau-brasil haviam tomado e se instalados na Feitoria de Iguaraçu em ação comandada por Jean Duperet comerciante e capitão da naú Peregrina, que na verdade se chamava São Tomé, que havia sido roubada do armador português André Afonso em fins de 1530 na Costa da Guiné e agora pertencia ao nobre francês Berttrand d`Ornesan, Barão de Saint Blanchard, almirante que chefiava a esquadra francesa do mediterrâneo e que estava indignado por ter sido deixado de fora das propinas que o Barão Saint Blanchard obtivera do Rei Francisco I, e no dia 11 de Agosto Pero Lopes chegou à feitoria ocupada pelos franceses onde por três semanas combateu e venceu fragosamente o inimigo, e que logo após tomar o forte mandou enforcar o capitão francês, o Senhor de La Motte sendo que os seus vinte e os quarenta e sete sobreviventes foram levados como prisioneiros para Portugal.

Enquanto Pero Lopes e os franceses combatiam ferozmente em Pernambuco, e a naú Peregrina estava sendo aprisionada no Mar do Mediterrâneo pela frota de Antônio Correia, e devido a estes fatos Portugal suspendeu as negociações diplomáticas que mantinha com a França a respeito ao Brasil, e com as noticias enviadas pelo Bispo Dom Martinho para o Rei Dom João III e para Dom Antônio de Ataide relatando-lhe todo o caso da captura da naú Peregrina, deixaram os dois principais mandatários de Portugal indignados e por isto concluíram que nem subornos e ameaças, nem a compra das Cartas de Corso eram artifícios fortes e bastante para impedir o assédio dos franceses no litoral brasileiro, para isto parecia restar uma única solução: Colonizar o Brasil.

CRISTÓVÃO JACQUES

Nasceu em 1480 no Algarve, navegante português, fidalgo da Casa Real do Rei Dom Manoel I, em 1516 foi encarregado do policiamento das costas brasileiras em Pernambuco fundou a Feitoria de Itamaracá em Novembro de 1516 quando aportou em uma grande baia ele deu o nome de Baia de Todos os Santos, no Rio da Prata combateu venceu e aprisionou grande número de franceses, foi nomeado por Dom João III como Governador das Partes do Brasil, em 1527 aprisionou três galeões franceses no recôncavo e devido a selvajaria praticada contra os prisioneiros, acabou lhe causando grandes embaraços junto ao Rei Dom João III.

Fonte: www.geocities.com

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