José do Patrocínio

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Nascimento: 9 de outubro de 1854, Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro.

Falecimento: 29 de janeiro de 1905, Rio de Janeiro.

José do Patrocínio – Vida

José do Patrocínio
José do Patrocínio

José do Patrocínio, jornalista, orador, poeta e romancista, ativista, e farmacêutico, brasileiro e entre os defensores mais conhecidos da abolição da escravatura.

Nasceu em Campos, RJ, em 9 de outubro de 1853, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 29 de janeiro de 1905.

Compareceu às sessões preparatórias da instalação da Academia Brasileira de Letras e fundou a Cadeira nº 21, que tem como patrono Joaquim Serra.

Era filho natural do Padre João Carlos Monteiro, Vigário da paróquia e orador sacro de grande fama na capela imperial, e de “tia” Justina, quitandeira.

Passou a infância na fazenda paterna da Lagoa de Cima, onde pôde observar, desde criança, a situação dos escravos e assistir a castigos que lhes eram infligidos.

Por certo nasceu ali a extraordinária vocação abolicionista. Tinha 14 anos quando, tendo recebido apenas a educação primária, foi para o Rio de Janeiro.

Começou a trabalhar na Santa Casa de Misericórdia e voltou aos estudos no Externato de João Pedro de Aquino, fazendo os preparatórios do curso de Farmácia.

Ingressou na Faculdade de Medicina como aluno de Farmácia, concluindo o curso em 1874.

Sua situação, naquele momento, se tornou difícil, porque os amigos da “república” de estudantes voltavam para suas cidades de origem, e ele teria que alugar outra moradia. Foi então que seu amigo João Rodrigues Pacheco Vilanova, colega do Externato Aquino, convidou-o a morar em São Cristóvão, na casa da mãe, então casada em segundas núpcias com o Capitão Emiliano Rosa Sena.

Para que Patrocínio pudesse aceitar sem constrangimento a hospedagem que lhe era oferecida, o Capitão Sena propôs-lhe que, como pagamento, lecionaria aos seus filhos. Patrocínio aceitou a proposta e, desde então, passou também a freqüentar o “Clube Republicano” que funcionava na residência, do qual faziam parte Quintino Bocaiúva, Lopes Trovão, Pardal Mallet e outros.

Não tardou que Patrocínio se apaixonasse por Bibi, sendo também por ela correspondido.

Quando informado dos amores de sua filha com Patrocínio, o Capitão Sena sentiu-se revoltado, mas, afinal, Patrocínio e Bibi se casaram.

Já nesse tempo Patrocínio iniciara a carreira de jornalista, na Gazeta de Notícias, e sua estrela começava a aparecer. Com Dermeval da Fonseca publicava Os Ferrões, quinzenário que saiu de 1º. de junho a 15 de outubro de 1875, formando um volume de dez números.

Os dois colaboradores se assinavam com os pseudônimos Notus Ferrão e Eurus Ferrão.

Dois anos depois, Patrocínio estava na Gazeta de Notícias, onde tem a seu cargo a “Semana Parlamentar”, que assinava com o pseudônimo Prudhome.

Em 1879 iniciou ali a campanha pela Abolição.

Em torno dele formou-se um grande coro de jornalistas e de oradores, entre os quais Ferreira de Meneses, na Gazeta da Tarde, Joaquim Nabuco, Lopes Trovão, Ubaldino do Amaral, Teodoro Sampaio, Paula Nei, todos da Associação Central Emancipadora. Por sua vez, Patrocínio começou a tomar parte nos trabalhos da associação.

Em 1881, passou para a Gazeta da Tarde, substituindo Ferreira Meneses, que havia morrido. Na verdade, ele tornou-se o novo proprietário do periódico, comprado com a ajuda do sogro. Patrocínio tinha atingido a grande fase de seu talento e de sua atuação social. Fundou a Confederação Abolicionista e lhe redigiu o manifesto, assinado também por André Rebouças e Aristides Lobo.

Em 1882, foi ao Ceará, levado por Paula Ney, e ali foi cercado de todas as homenagens. Dois anos depois, o Ceará fez a emancipação completa dos escravos.

Em 1885, visitou Campos, onde foi saudado como um triunfador. Regressando ao Rio, trouxe a mãe, doente e alquebrada, que veio a falecer pouco depois.

Ao enterro compareceram escritores, jornalistas, políticos, todos amigos do glorioso filho. Em setembro de 1887, deixou a Gazeta da Tarde e passou a dirigir a Cidade do Rio, que havia fundado.

Ali se fizeram os melhores nomes das letras e do periodismo brasileiro do momento, todos eles chamados, incentivados e admirados por Patrocínio.

Foi de sua tribuna da Cidade do Rio que ele saudou, em 13 de maio de 1888, o advento da Abolição, pelo qual tanto lutara.

Em 1899, Patrocínio não teve parte na República e, em 1891, opôs-se abertamente a Floriano Peixoto, sendo desterrado para Cucuí.

Em 93 foi suspensa a publicação da Cidade do Rio, e ele foi obrigado a refugiar-se para evitar agressões.

Nos anos subseqüentes a sua participação política foi pouca. Preocupava-se, então, com a aviação. Mandou construir o balão “Santa Cruz”, com o sonho de voar. Numa homenagem a Santos Dumont, realizada no Teatro Lírico, ele estava saudando o inventor, quando foi acometido de uma hemoptise em meio ao discurso.

Faleceu pouco depois, aos 51 anos de idade, aquele que é considerado por seus biógrafos o maior de todos os jornalistas da Abolição.

Obras

Os Ferrões, quinzenário, 10 números. Em colaboração com Dermeval Fonseca (1875);
Mota Coqueiro ou A pena de morte, romance (1887);
Os retirantes, romance (1879);
Manifesto da Confederação Abolicionista (1883);
Pedro Espanhol, romance (1884);
Conferência pública, feita no Teatro Politeama, em sessão da Confederação Abolicionista de 17 de maio de 1885;
Associação Central Emancipadora, 8 boletins. Artigos nos periódicos da época. Patrocínio usou os pseudônimos: Justino Monteiro (A Notícia, 1905);
Notus Ferrão (Os Ferrões, 1875);
Prudhome (A Gazeta de Notícias, A Cidade do Rio).

José do Patrocínio – Biografia

José do Patrocínio
José do Patrocínio

Se toda a propriedade é roubo, a propriedade escrava é um roubo duplo, contrária aos princípios humanos que qualquer ordem jurídica deve servir.” Não se tratava apenas de uma retórica inflamada de nítida inspiração socialista, nem de um mero exercício de propagandismo desabusado que se poderia esperar de um dos jornalistas mais famosos do pais.

Filho de um padre com uma escrava que vendia frutas, José do Patrocínio (1853 – 1905) sabia do que estava falando: senhor por parte de pai, escravo por parte de mãe, vivera na pele todas as contradições da escravatura.

Nascido em Campos (RJ), um dos pólos escravagistas do país, mudou-se para o Rio de Janeiro e começou a vida como servente de pedreiro na Santa Casa de Misericórdia do Rio. Pagando o próprio estudo, formou-se em farmácia. Em 1875, porém, descobriu a verdadeira vocação ao um jornal satírico chamado “Os Ferrões” Começava ali a carreira de um dos mais brilhantes Jornalistas brasileiros de todos os tempos. Dono de um texto requintado e viril, José do Patrocínio – que de início assinava Proudhon — se tornou um articulista famoso em todo o país. Conheceu a princesa Isabel, fundou seu diário, a “Gazeta da Tarde” virou o “Tigre do Abolicionismo”. Em maio de 1883, criou, junto com André Rebouças, uma confederação unindo todos os clubes abolicionistas do país. A revolução se iniciara. “E a revolução se chama Patrocínio», diria Joaquim Nabuco.

Pouco depois de a princesa Isa­bel assinar a Lei Áurea, sob uma chuva de rosas no paço da cidade, a campanha que, por dez anos, Patrocínio liderara enfim parecia encerrada. “Minha alma sobe de joelhos nestes paços”, diria ele, curvando-se para beijar as mãos da “loira mãe dos brasileiros”. Aos 35 anos in­completos, era difícil difícil supor que, a partir dali, Patrocínio veria sua carreira ir ladeira abaixo.

Mas foi o que aconteceu: seu novo jornal, “A Cidade do Rio” (fundando em 1887), virou porta-voz da monarquia – em tempos republicanos. Patrocínio foi acusado de estimular a formação da “Guarda Negra”, um bando de escravos libertos que agiam com violência nos comícios republicanos. Era um “isabelista”.

Em 1889, aderiu ao movimento republicano: tarde demais para agradar aos adeptos do novo regime, mas ainda em tempo para ser abandonado pelos ex-aliados.

Em 1832, depois de atacar o ditador de plantão, marechal Floriano, Patrocínio foi exilado na Amazônia. Rui Barbosa o defendeu, num texto vigoroso. “Que sociedade é essa, cuja consciência moral mergulha em lama, ao menor capricho da força, as estrelas de sua admiração?” Em 93, Patrocínio voltou ao Rio, mas, como continuou o “Marechal de Ferro”, seu jornal foi fechado. A miséria bateu-lhe à porta e Patrocínio mudou-se para um barracão no subúrbio.

Por anos, dedicou-se a um projeto delirante: construir um dirigível de 45 metros de comprimento. A nave jamais se ergueria do chão.

No dia 29 de janeiro de 1905, José do Patrocínio sentou-se em frente da sua pequena escrivaninha no modesto barracão em que vivia no bairro de Inhaúma, no Rio de Janeiro.

Começou a redigir: “Fala-se na organização de uma sociedade protetora dos animais. Tenho pelos animais um respeito egípcio. Penso que eles têm alma, ainda que rudimentar, e que têm conscientemente revoltas contra a injustiça humana. Já vi um burro suspirar depois de brutalmente espancado por um carroceiro que atulhava a carroça com carga para uma quadriga, e que queria que o mísero animal a arrancasse do atoleiro…” Não terminou a palavra nem a frase – Um jato de sangue jorrou-lhe da boca. O “Tigre do Abolicionismo” – pobre e desamparado – morria, imerso em dívidas e mergulhado no esquecimento.

Ele morreu em 1905, durante um discurso em homenagem a Alberto Santos-Dumont, devido a uma hemoptise.

José do Patrocínio – História

José do Patrocínio
Militares e civis deportados para a Amazônia. José do Patrocínio é o terceiro da esquerda para a direita

Natural de Campos, no Rio de Janeiro, José do Patrocínio nasceu em 8 de outubro de 1854.

Era filho de pai branco, padre, e mãe negra, escrava.

Freqüentou a Faculdade de Medicina e se formou aos 20 anos de idade, mas sua principal atuação foi como jornalista.

Começou na Gazeta de Notícias, em 1875, e quatro anos depois juntou-se a Joaquim Nabuco, Lopes Trovão, Teodoro Sampaio, entre outros, na campanha pela abolição do regime escravocrata.

Em 1881, tornou-se proprietário de um jornal, a Gazeta da Tarde, e fundou a Confederação Abolicionista, para a qual elaborou um manifesto junto com André Rebouças e Aristides Lobo.

Assim como Rui Barbosa, foi contra o governo de Floriano Peixoto, o que o obrigou a ser desterrado e tirou de circulação seu jornal, o Cidade do Rio, fundado em 1887.

Com isto, afastou-se da vida política e terminou por falecer no Rio de Janeiro, em 30 de janeiro de 1905.

José do Patrocínio – Abolicionista

QUANDO TUDO ACONTECEU…

1853: Em 9 de Outubro José Carlos do Patrocínio nasce em Campos dos Goitacazes (Província do Rio de Janeiro), filho natural do padre João Carlos Monteiro e de Justina, escrava africana.
1868:
Patrocínio começa a trabalhar na Santa Casa de Misericórdia, no Rio de Janeiro.
1871:
É aprovada a Lei do Ventre Livre.
1874:
Na Faculdade de Medicina, Patrocínio conclui o curso de Farmácia.
1875:
Com Demerval Ferreira publica o primeiro número do quinzenário satírico OS FERRÕES.
1877:
Entra na GAZETA DE NOTÍCIAS, onde se encarrega de A Semana Parlamentar.
1879:
Casa com Maria Henriqueta Sena, a Bibi. Inicia a campanha pela Abolição da escravatura.
1881:
Ingressa na GAZETA DA TARDE, acabando por se tornar proprietário do periódico.
1882:
A convite de Paula Nei desloca se ao Ceará em campanha pró Abolição; dois anos mais tarde o Ceará será a primeira Província brasileira a dar a emancipação aos escravos.
1883:
Patrocínio redige o Manifesto da Confederação Abolicionista.
1884:
Publica o romance Pedro Espanhol.
1885
: É aprovada a Lei dos Sexagenários. José do Patrocínio visita Campos, onde é saudado como um triunfador. No Rio de Janeiro o funeral de “tia” Justina, mãe de José do Patrocínio, transforma se num grandioso comício de repúdio à escravidão.
1886:
É eleito vereador da Câmara do Rio.
1887:
Deixa a GAZETA DA TARDE, funda e passa a dirigir A CIDADE DO RIO. Publica o romance Mota Coqueiro ou A pena de morte.
1888:
A 13 de Maio a Princesa Isabel assina a Lei Áurea que extingue a escravidão no Brasil; José do Patrocínio beija as mãos da Princesa.
1889:
Patrocínio publica o romance Os Retirantes. Incentiva e coordena a violenta ação da Guarda Negra do isabelismo. A 15 de Novembro a República é implantada no Brasil.
1892:
José do Patrocínio traz de França o primeiro automóvel que irá circular no Brasil. Por ter atacado, no seu jornal, o Marechal Floriano Peixoto, ditador de plantão, Patrocínio é desterrado para a Amazónia.
1893:
Proibida a publicação do periódico A CIDADE DO RIO, Patrocínio fica na miséria.
1905:
Numa homenagem a Santos Dumont, ao discursar, José do Patrocínio sofre uma hemoptise; falece pouco depois, a 30 de Janeiro.

José do Patrocínio
Feitor Castigando Negro

A MÃE É ESCRAVA, O PAI É PADRE

Campos dos Goitacazes, perto do Rio de Janeiro, a Capital do Império brasileiro. Dona Emerenciana Ribeiro do Espírito Santo, senhora de terras e de escravos, é a proprietária de Justina, uma pretinha caçada em Mina, na costa de África. Dona Emerenciana empresta Justina ao Cónego João Carlos Monteiro.

E tão carinhosamente o Cónego trata Justina que, aos 15 anos, ela dá à luz um mulatinho; o qual, na pia baptismal, recebe o nome de José Carlos do Patrocínio. Corre o ano de 1853.

O Cónego não reconhece a paternidade. Aliás, sem provocar escândalo, não poderia reconhecê

la. É axioma por todos aceite, embora nele ninguém acredite, que um sacerdote é sempre um homem casto…

Mas se, por um lado, paternidade não reconhece, por outro o Cónego não empurra o filho para a senzala. Benza o Deus, que ainda lhe sobram uns restos de ternura…

Zezinho passa a infância na fazenda paterna da Lagoa de Cima. Escravo não é, porém vai assistindo à penosa vida dos escravos e aos castigos que lhes são impostos. Sofre por eles, em surdina pragueja muito, revolta a germinar…

NO RIO DE JANEIRO

Patrocínio, depois de concluir o curso de Farmácia, dá aulas aos filhos do capitão Sena. Entretanto, o que está a acontecer no resto do mundo? Consulta a Tábua Cronológica.

Em Campos, Zezinho aprende as primeiras letras, instrução primária. Aos 14 anos pede e o pai autoriza que vá para o Rio de Janeiro.

Na Capital, em 1868 arranja um emprego de servente de pedreiro na Santa Casa da Misericórdia. Transitará depois para um emprego na Casa de Saúde do Dr. Batista Santos. Seduzido pelo combate contra a doença, começa a estudar Farmácia, na Faculdade de Medicina. Ajudas poucas, do pai nenhuma; basicamente é ele quem paga o próprio estudo.

Terminado o curso em 1874, logo surge um tormentoso problema financeiro: dissolvida a “república” onde vivia com vários condiscípulos, José do Patrocínio terá de alugar moradia e dinheiro para isso não tem. Muito menos para se estabelecer como farmacêutico.

O seu amigo e colega Pacheco Vilanova deita lhe a mão: convida o a morar no bairro de São Cristóvão, na casa de sua mãe que estava casada em segundas núpcias com o capitão Emiliano Rosa Sena, homem rico, dono de terras e imóveis. Para deixar Patrocínio à vontade, o capitão propõe lhe hospedagem gratuita contra o trabalho de dar aulas particulares a seus filhos. Patrocínio respira fundo, aceita a proposta. E passa também a frequentar o “Clube Republicano” que funciona na casa do capitão, e do qual fazem parte homens que irão deixar marcas no tempo, tais como Lopes Trovão e Quintino Bocaiúva.

A MINHA FILHA VAI CASAR COM UM MULATO?

Entre uma lição e outra, José do Patrocínio apaixona se por Maria Henriqueta, a Bibi, uma das filhas do capitão Sena. E é correspondido. Apaixonadamente, como ele quer e gosta, não sabe outra forma de estar na vida.

Quem se opõe ao romance é o capitão Sena: “A minha filha vai casar com um mulato? Nem pense nisso!…” Contudo a impetuosa Bibi não desiste do matrimónio e José entretanto arranjara um outro emprego que lhes garantirá autonomia financeira. Mais não é preciso para casarem. E casam, em 1879 os apaixonados casam, escândalo, diatribes…

PATROCÍNIO E O JORNALISMO

Em três jornais, Patrocínio faz a campanha pró Abolição. Entretanto o que está a acontecer no resto do mundo? Consulta a Tábua Cronológica.

Um outro emprego? De 1 de Junho a 15 de Outubro de 1875, de parceria com Demerval Ferreira, Patrocínio escrevera e editara OS FERRÕES, quinzenário satírico. Em 1877 Ferreira de Araújo, proprietário do jornal abolicionista GAZETA DE NOTÍCIAS, admite José do Patrocínio como redator. A seu cargo fica a “Semana Parlamentar”, que assina com o pseudónimo Prudhome. Em 1879 (o ano do casamento com Bibi…), na mesma gazeta inicia a sua campanha pela Abolição. Incêndio, vulcão verbal que reúne à sua volta jornalistas e tribunos, entre os quais Ferreira de Meneses (proprietário da GAZETA DA TARDE), Joaquim Nabuco, Teodoro Sampaio, Paula Nei e muitos, muitos outros. Todos da Associação Central Emancipadora, à qual Patrocínio adere e onde passa a trabalhar graciosamente, voluntariado.

Ferreira de Meneses morre em 1881 e José do Patrocínio assume a direção da GAZETA DA TARDE.

Melhor dizendo: torna se o novo proprietário do jornal. Como, se dinheiro não tem? Mas dinheiro não falta ao sogro, com o qual se reconciliara recentemente. É quanto basta…

Escreve artigos vibrantes; mas, a partir da Redação, José do Patrocínio também trata de coordenar a campanha prática para a libertação dos negros, preparando e auxiliando a fuga de escravos e angariando fundos para as alforrias.

Promove espetáculos ao vivo: comícios em teatros, manifestações em praça pública.

Ainda em 81 Patrocínio funda a CONFEDERAÇÃO ABOLICIONISTA e redige o respectivo manifesto que André Rebouças e Aristides Lobo também assinam.

Em 82, a convite de Paula Nei, Patrocínio visita o Ceará. É festejado como o grande líder dos oprimidos. Em 84 aquela será a primeira Província brasileira a conceder a emancipação completa aos escravos.

Em 87 Patrocínio desiste da Gazeta da Tarde. Outra vez com o dinheiro do sogro funda e passa a dirigir A Cidade do Rio. Para o novo periódico conta com o apoio dos mais prestigiados jornalistas e oradores pró Abolição.

Patrocínio é também seduzido pela criação romanesca. Em 83 publicou o romance Pedro Espanhol. Em 87 o romance Mota Coqueiro ou A Pena de Morte. E em 89 publicará o romance Os Retirantes, inspirado na inclemência da seca sobre cearenses e outros nordestinos.

A MORTE DE JUSTINA

Em 1885 José do Patrocínio visita Campos dos Goitacazes. Embora prossiga o combate pela Abolição, na sua terra natal o povo já o festeja como grande vencedor.

Patrocínio regressa ao Rio e leva consigo Justina, sua mãe, velha, exausta, adoentada. Pelo menos impede que, para sobreviver, ela continue a vender fruta pelas esquinas.

Em finais do mesmo ano, no Rio, morre a velha Justina do Espírito Santo. Funeral imponente, comentado em toda a Capital.

Seguram as alças do caixão o Ministro Rodolfo Dantas, o jurista Rui Barbosa e dois futuros presidentes da República que será implantada um dia: Campos Sales e Prudente de Morais. Funeral que é um público repúdio à escravidão e homenagem ao grande abolicionista José do Patrocínio.

VERBO, INCÊNDIO, VULCÃO…

Em França, Proudhon, o teórico do anarquismo, afirmara:

A propriedade é um roubo.

No Brasil, José do Patrocínio avança um passo:

Se toda a propriedade é roubo, a propriedade escrava é um roubo duplo, contrária aos princípios humanos que qualquer ordem jurídica deve servir.

Condensa o seu pensamento no grito de guerra Escravidão é Roubo. Máxima que não se cansa de atirar à cara dos escravistas, infiltrados que eles andam pelos lugares mais inesperados.

Quem pensa encontrar apenas escravistas entre os conservadores, engana-se, pois entre eles surge um desassombrado abolicionista que é o Visconde de Rio Branco. Quem pensa encontrar apenas abolicionistas entre os liberais, também se engana, pois entre eles surgem empedernidos escravistas como Martinho Campos e racistas como Sílvio Romero. Algo de semelhante ocorre com monárquicos e republicanos.

Alguém diz que a abolição é uma batata quente a saltar de mão em mão, e inesperadas são as mãos que a recebem e as mãos que a repudiam… Contudo, nas suas lutas, os abolicionistas foram conseguindo algumas vitórias.

Em 1871 foi aprovada a Lei do Ventre Livre (iniciativa do Visconde de Rio Branco), que reconhece como livres as crianças nascidas de mães escravas. E em 1885 foi aprovada a Lei dos Sexagenários que concede a liberdade aos escravos com idade igual ou superior a 65 anos. Mas os abolicionistas não se contentam com migalhas, exigem a libertação total e imediata de todos os escravos, sem qualquer indemnização aos escravocratas.

Nada consegue deter a enxurrada verbal de Patrocínio; nomeadamente contra a ilegal escravatura de africanos recém chegados ao Brasil.

Nem sequer a figura do seu pai o sustém (talvez até o atice mais):

Agora mesmo (…) quis Deus que eu fosse vítima de uma dor profunda. Fui rever uma lista de africanos livres, confiados à guarda de pessoas da maior excepção; africanos que, tendo sido aprisionados, tinham pelo Estado garantida a sua liberdade. Não é a primeira vez que folheio este tristíssimo documento, em que estão os nomes de pessoas de grande vulto em nossa história. Mas um nome me havia escapado. Era o nome de um sacerdote de Jesus Cristo, de um cónego honorário e pregador da Capela Imperial, condecorado com as ordens da Rosa e do Cristo, vigário da vara de Campos, examinador sinodal do bispado do Rio de Janeiro e, na época, deputado provincial por esta província, o bacharel João Carlos Monteiro. Este é o nome do meu pai! Pois bem, eu declaro (…) que estes africanos foram reduzidos à escravidão. (…) Deles proveio a escravatura de meu pai, que subiu a 92 pessoas. Estes desgraçados, por morte do senhor, foram vendidos para pagar as dívidas do homem que os havia escravizado!

Patrocínio pretende ocupar uma tribuna de prestígio para dilatar a agitação dos seus discursos.

Consegue-a: em 1886 é eleito vereador da Câmara do Rio, votação maciça no seu nome.

Comentário do seu contemporâneo Américo Palha:

Patrocínio pode olhar para testemunhar e defender o sofrimento da raça crucificada. Só ele pode chamar, gritar, ameaçar. O sangue desta raça, derramado nas senzalas, exige solidariedade humana. Exige repressão, exige justiça. Patrocínio fala pelos mártires de sua cor.

Diz Carolina Nabuco:

Ele não faz discursos, interpreta os com uma força extraordinária, mas têm ardor comunicativo e espontaneidade vibrante, o que ameniza a dramatização exagerada…

Conclui Oswaldo Orico:

Patrocínio é o Tigre da Abolição!

E Joaquim Nabuco reforça:

Patrocínio é a própria revolução!

A LEI ÁUREA

Nos princípios de 1888 o Imperador D. Pedro II viaja até à Europa; a Princesa Isabel, sua filha, assume a Regência.

No Rio, a polícia reprime com violência vários comícios dos abolicionistas. Angustiada com as atrocidades cometidas, a Princesa força o Governo de Cotegipe a demitir se. A 7 de Março convida João Alfredo Corrêa de Oliveira a formar novo Governo.

Ferreira Viana, o recém empossado ministro da Justiça, aceita reunir se com líderes abolicionistas. Informa os que a intenção do novo Gabinete é extinguir a escravidão sem qualquer indemnização aos escravocratas. Entusiasmo, aplausos, correm lágrimas pelo rosto de Patrocínio.

A sessão parlamentar começa a 3 de Maio. Das janelas do Senado, Rui Barbosa, Rodolfo Dantas e José do Patrocínio discursam para a multidão que enche as ruas.

No dia 4 de Maio a Princesa convida 14 negros fugidos para almoçarem com a família imperial.

No dia 8 é apresentado no Parlamento o projeto final da Abolição. Resistência feroz dos parlamentares escravistas.

No dia 13 a oposição dos escravistas é vencida e a Lei Áurea (assim lhe chamam) é aprovada. Grande agitação na Capital. A Princesa vem de Petrópolis para assinar a Lei. No Paço, chuva de rosas que ela vai pisando lentamente.

Começa a ser lido o texto:

A princesa imperial regente em nome de Sua Majestade o imperador, o senhor D. Pedro II, faz saber a todos os súbditos do Império que a Assembleia Geral decretou e ela sancionou a lei seguinte:

Art. 1°: É declarada extinta desde a data desta lei a escravidão no Brasil.

Art. 2°: Revogam se as disposições em contrário.

Etc.

A Princesa assina a lei, gritos e vivas da multidão que enche as galerias. José do Patrocínio irrompe, ninguém consegue detêlo.

Atira se aos pés da Princesa, beija lhe as mãos, declama:

Minha alma sobe de joelhos nestes Paços.

Guarda Negra

A José do Patrocínio diz lhe um amigo, no dia seguinte, 14 de Maio:

Ontem, assinando a Lei Áurea, a Princesa Isabel evitou a guerra civil.

Ela é a Redentora da minha raça responde Patrocínio

Talvez não seja, José, talvez não seja… Repare que sem reformas sociais e económicas estruturais, como a distribuição de terras aos ex escravos, a Princesa está a condenálos à miséria extrema.

A Princesa é a loira mãe de todos os brasileiros.

De todos os brasileiros? Será? Eu acho que ela só quis antecipar o amanhã para salvar a Monarquia. A mão de obra escrava, brutal, besta de carga, já estava superada. Que o digam os prósperos cafeicultores de São Paulo que, em vez de comprarem escravos africanos, preferem comprar máquinas agrícolas e contratar mão de obra qualificada de emigrantes europeus. Mas nem com esse gesto a Princesa vai conseguir salvar a Monarquia.

Não vai? Porquê?

Só a República poderá fazer as reformas sociais e económicas que o Brasil precisa e os monárquicos rejeitam e entravam.

Os republicanos não mexeram uma palha pela Abolição e não assinaram a Lei Áurea. Quem mexeu e assinou foi a Princesa Isabel. Sou fiel à Redentora, ela pode contar comigo. Para sempre!

O isabelismo passa a avassalar José do Patrocínio e também milhares de africanos recém libertos. Vêem na Princesa a única e abnegada senhora que os redimira da escravidão. Arregimentados e orientados por José do Patrocínio, em várias cidades do Brasil organizam se em Guarda Negra que dissolve, pela violência, comícios e manifestações de republicanos. Pensam mostrar assim eterna gratidão à Princesa…

O isabelismo converte a razão apaixonada de José do Patrocínio em paixão irracional… Mas nada impede (nem sequer a Guarda Negra) que em 15 de Novembro de 1889 a República seja implantada no Brasil.

DECADÊNCIA

A CIDADE DO RIO é convertida em porta voz da monarquia e José do Patrocínio é apontado como organizador da GUARDA NEGRA. Depois do 15 de Novembro de 1889, seduzido pelas novas propostas de reestruturação da sociedade brasileira, outra vez tenta aderir aos ideais republicanos mas é enxotado pelos adeptos do regime recém implantado. Ao mesmo tempo os monárquicos berram que ele é um troca-tintas.

Em 92 Patrocínio vai a França e traz o primeiro automóvel que irá circular no Brasil. Um automóvel a vapor, barulho a espantar os transeuntes…

No mesmo ano, n’ A CIDADE DO RIO, Patrocínio afronta o marechal Floriano Peixoto, ditador de plantão.

Consequência: é desterrado para Cacuí, na Amazónia. Rui Barbosa ainda sai a público a defendê-lo, mas a ordem de desterro é mantida.

Em 93 Patrocínio regressa discretamente ao Rio. O seu jornal tinha sido fechado pelo “Marechal de Ferro”. A miséria bate à porta de Patrocínio e ele muda se para um barracão no subúrbio.

Desiludido com a política decide se por uma nova carreira: a de inventor. Continua a querer subir alto, mas desta vez fisicamente, e dedica se a tentar construir um dirigível de 45 metros de comprimento e 1200 quilos de peso, o “Santa Cruz”, que jamais levantará voo.

Fome e, por arrasto, a tuberculose. Nos primeiros dias de 1905, no Teatro Lírico, numa sessão de homenagem a Santos Dumont, ao iniciar o seu discurso de saudação ao aviador, Patrocínio sofre uma hemoptise e cai para o lado. Morrerá dias depois, a 30 de Janeiro.

A 13 de Maio de 1898, já depois de assinada a Lei Áurea, quando José do Patrocínio era delirantemente aclamado pela multidão, disse lhe o seu amigo José Marques:

Que belo dia para morreres, Patrocínio!

Piada macabra? Sem dúvida! Mas se fosse um certeiro vaticínio poupar-se-iam 17 anos de inglório sofrimento a José do Patrocínio, o Tigre da Abolição…

Fonte: www.academia.org.br/www.ibge.gov.br/www.vidaslusofonas.pt

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