Obras Literárias

abril, 2017

  • 26 abril

    Noites de Inverno – Raimundo Correia

    Raimundo Correia Enquanto a chuva cai, grossa e torrencial, Lá fora; e enquanto, ó bela! A lufada glacial Tamborila a bater nos vidros da janela; Dentro, esse áureo torçal Do cabelo que, rico, em ondas se encapela, Deslaça; e o alvor ideal Do teu corpo à avidez do meu olhar …

  • 26 abril

    Na Tasca – Raimundo Correia

    Raimundo Correia Dentro, na esconsa mesa onde fervia Fulvo enxame de moscas sussurrantes Num raio escasso e tremulo do dia Espanejando as azas faiscantes. Vi-o; bêbado estava e, inebriantes E capitosos vinhos mais bebia, Em tédio, como os fartos ruminantes A boca larga e estúpida movia. Eu pensativo, eu pálido, …

  • 26 abril

    Na Penumbra – Raimundo Correia

    Raimundo Correia Raiava, ao longe, em fogo a lua nova, Lembras-te?… apenas reluzia a medo, Na escuridão crepuscular da alcova O diamante que ardia-te no dedo… Nesse ambiente tépido, enervante, Os meus desejos quentes, irritados, Circulavam-te a carne palpitante, Como um bando de lobos esfaimados… Como que estava sobre nós …

  • 26 abril

    Marília – Raimundo Correia

    Raimundo Correia Ó Marília! Ó Dirceu! Eram dois ninhos Os vossos corações, ninhos de flores; Mas, entre os quais, sentíeis os rigores Lacerantes de incógnitos espinhos; Tremiam, como em flácidos arminhos, Promiscuamente, neles os amores, As saudades, os cânticos, as dores, Como uma multidão de passarinhos… O sulco profundíssimo que …

  • 26 abril

    Mal Secreto – Raimundo Correia

    Raimundo Correia Se a cólera que espuma, a dor que mora N’alma, e destrói cada ilusão que nasce, Tudo o que punge, tudo o que devora O coração, no rosto se estampasse; Se se pudesse o espírito que chora Ver através da máscara da face, Quanta gente, talvez, que inveja …

  • 26 abril

    Luiz Gama – Raimundo Correia

    Raimundo Correia A Raul Pompéia Tantos triunfos te contando os dias, Iam-te os dias descontando e os anos, Quando bramavas, quando combatias Contra os bárbaros, contra os desumanos; Quando a alma brava e procelosa abrias Invergável ao pulso dos tiranos, E ígnea, como os desertos africanos Dilacerados pelas ventanias… Contra …

  • 26 abril

    Julieta – Raimundo Correia

    Raimundo Correia A loura Julieta enamorada, Triste, lânguida, pálida, abatida, Aparece radiante na sacada Dos raios brancos do luar ferida. Engolfa o olhar na sombra condensada, Perscruta, busca em torno… e na avenida Surge Romeu; da valerosa espada Esplende a clara lâmina polida… Sente-se o arfar de sôfregos desejos, Estoura …

  • 26 abril

    Job – Raimundo Correia

    Raimundo Correia Quem vai passando, sinta Nojo embora, ali pára. Ao princípio era um só; Depois dez, vinte, trinta Mulheres e homens… tudo a contemplar o Job. Qual fixa boquiaberto; Qual à distância vê; qual se aproxima altivo, Para olhar mais de perto Esse pântano humano, esse monturo vivo. Grossa …

  • 26 abril

    Epístola ao Bardo Muniz

    Raimundo Correia Cala-te, esdrúxulo lírico; Teu estro é bandulho hidrópico! Olha as garras de um satírico! Cala-te, esdrúxulo lírico! Teu verso ao leitor empírico Fere de tópico em tópico… Cala-te, esdrúxulo lírico; Teu estro é bandulho hidrópico! (…) Nos teus preitos esquipáticos Citas tanto bardo, — Hipócrates! Citas autores dramáticos …

  • 26 abril

    Fetichismo – Raimundo Correia

    Raimundo Correia Homem, da vida as sombras inclementes Interrogas em vão: – Que céus habita Deus? Onde essa região de luz bendita, Paraíso dos justos e dos crentes? Em vão tateiam tuas mãos trementes As entranhas da noite erma, infinita, Onde a dúvida atroz blasfema e grita, E onde há …