Simbolismo

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O que foi o Simbolismo?

O Simbolismo é uma das escolas literárias que acontece durante a segunda metade do século XIX. Acompanhado do movimentos como o Realismo, Naturalismo e Parnasianismo, o Simbolismo é o movimento que retoma uma das principais características do Romantismo: o subjetivismo. Isso o difere das suas antecessoras e é justamente essa característica que o faz trabalhar com símbolos que moldarão a interpretação dos poemas. Além disso, o Simbolismo é anti-parnasiano e surge na França com Charles Baudelaire e o poema “As flores do mal”.

Contexto histórico

O contexto histórico continua sendo o mesmo do Realismo: fracasso da Revolução Francesa, poder tomado pela burguesia, Segunda Revolução Industrial, luta de classes, etc. Isso ocorre porque ainda é a segunda metade do século XIX.

Características do Simbolismo

  • Misticismo e esoterismo: é a característica que representa que os poemas simbolistas mostram o que não pode ser compreendido pelo real, que eles negam a realidade e buscam o “eu” através do sonho, da fé e da transcendência;
  • Subjetividade: a subjetividade do Simbolismo é sobre pessimismo e dor. Apesar de retomar o Romantismo com essa característica, a abordagem aqui é diferente da segunda fase romântica. Os simbolistas estão mais preocupados com o “eu” do que com a questão do amor;
  • Imprecisão e intuição: os poemas desse movimento literário sempre trabalharão com símbolos, o que faz com que eles sugiram imagens para que o leitor possa compreende-la de acordo com a sua experiência de mundo. É a forma como o inconsciente aparece;
  • Condensação: é a condensação de imagens poéticas através dos símbolos. Isso causa a alegoria (significação) das imagens insólitas para a compreensão da poesia simbolista;
  • Musicalidade do poema: o ritmo da poesia é muito bem marcado, principalmente através das figuras de linguagem;
  • Sinestesia: é a relação de dois sentidos fisiológicos. Por exemplo, relacionar a visão às cores; o paladar aos sabores; o tato aos toques; o olfato aos aromas; a audição aos sons, etc. São formas de contribuir ao caráter simbolístico da poesia.

É evidente que não é um poema fácil de ser lido devido a sua carga simbólica!

Autores principais

Cruz e Sousa com poemas como “Acrobata da dor” e “Cavador o infinito” e Alphonsus Guimaraens.

Por Amanda Abreu

Simbolismo – Definição

O Simbolismo é a prática de dar um significado especial para objetos, coisas, relacionamentos ou eventos.

Simbolismo é o uso de símbolos para significar idéias e qualidades, dando-lhes significados simbólicos que são diferentes do seu sentido literal

Simbolismo pode assumir diferentes formas. Geralmente, é um objeto que representa o outro para dar um significado inteiramente diferente que é muito mais profundo e mais significativa.

Às vezes, porém, uma ação, um evento ou uma palavra falada por alguém pode ter um valor simbólico.

Por exemplo, “sorriso” é um símbolo de amizade. Da mesma forma, a ação de alguém sorrindo para você pode ficar como um símbolo do sentimento de afeição que essa pessoa tem para você.

Em nossa vida diária, podemos facilmente identificar objetos, que podem ser tomadas como exemplos de símbolo, como o seguinte:

A pomba é um símbolo da paz.
Uma rosa vermelha ou cor vermelha representa o amor ou romance.
O preto é um símbolo que representa o mal ou a morte.
Uma escada pode ficar como um símbolo para uma ligação entre o céu ea terra.
Um espelho quebrado pode simbolizar separação

Exemplos simbolismo na Literatura: Para desenvolver simbolismo em seu trabalho, um escritor utiliza outras figuras de linguagem, como metáforas, símiles, alegoria, como ferramentas.

Simbolismo no Brasil

A publicação de Broquéis e Missal (1893), de João da Cruz e Souza, inaugura este movimento, que se caracteriza por melancolia, gosto dos ritmos fluidos e musicais, incluindo o uso de versos livres; uso de imagens incomuns e ousadas. O cuidado na evocação das cores e de seus múltiplos matizes mostra, também, uma influência do Impressionismo.

Alphonsus de Guimaraens (Câmara ardente) é um outro grande nome desse período. O simbolista tardio Guilherme de Almeida (Eu e você) funciona como uma ponte entre essa fase e o pré-modernismo. Uma figura isolada é Augusto dos Anjos (Eu e outras poesias), fascinado pelo vocabulário e os conceitos da ciência e da filosofia, que faz uma poesia de reflexão metafísica e de denúncia da injustiça social.

João da Cruz e Souza (1861-1898), filho de escravos libertos, luta pelo abolicionismo e contra o preconceito racial. Muda-se de Santa Catarina para o Rio de Janeiro, onde trabalha na Estrada de Ferro Central e colabora no jornal Folha Popular. A sua poesia é marcada pela sublimação do amor e pelo sofrimento vindo do racismo, da pobreza, da doença. Renova a poesia no Brasil com Broquéis e Missal. Em Últimos sonetos trata a morte como a única forma de alcançar a liberação dos sentidos.

Teatro

A exemplo do realismo, tem seu auge durante a segunda metade do século XIX. Além de rejeitarem os excessos românticos, os simbolistas negam também a reprodução fotográfica dos realistas. Preferem retratar o mundo de modo subjetivo, sugerindo mais do que descrevendo. Para eles, motivações, conflitos, caracterização psicológica e coerência na progressão dramática têm importância relativa.

Autores simbolistas – Os personagens do Pelleas e Melisande, do belga Maurice Maeterlinck, por exemplo, são mais a materialização de idéias abstratas do que seres humanos reais. Escritores como Ibsen, Strindberg, Hauptmann e Yeats, que começam como realistas, evoluem, no fim da carreira, para o simbolismo.

Além deles, destacam-se o italiano Gabriele d’Annunzio (A filha de Iorio), o austríaco Hugo von Hofmannsthal (A torre) e o russo Leonid Andreiev (A vida humana).

Auguste Strindberg (1849-1912) nasce em Estocolmo, Suécia, e é educado de maneira puritana. Sua vida pessoal é atormentada. Divorcia-se três vezes e convive com freqüentes crises de esquizofrenia. Strindberg mostra em suas peças – como O pai ou A defesa de um louco – um grande antagonismo em relação às mulheres. Em Para Damasco cria uma obra expressionista que vai influenciar diversos dramaturgos alemães.

Espaço cênico simbolista – Os alemães Erwin Piscator e Max Reinhardt e o francês Aurélien Lugné-Poe recorrem ao palco giratório ou desmembrado em vários níveis, à projeção de slides e títulos explicativos, à utilização de rampas laterais para ampliar a cena ou de plataformas colocadas no meio da platéia. O britânico Edward Gordon Craig revoluciona a iluminação usando, pela primeira vez, a luz elétrica; e o suíço Adolphe Appia reforma o espaço cênico criando cenários monumentais e estilizados.

Simbolismo – História

O Simbolismo – que também foi chamado de Decadentismo, Impressionismo, Nefelibatismo – surgiu na França, por volta de 1880, e de lá difundiu-se internacionalmente, abrangendo vários ramos artísticos, principalmente a poesia. O período era de profundas modificações sociais e políticas, provocadas fundamentalmente pela expansão do capitalismo, na esteira da industrialização crescente, e que convergiram para, dentre outras conseqüências, a I Guerra Mundial. Na Europa haviam germinado idéias científico-filosóficas e materialistas que procuravam analisar racionalmente a realidade e assim apreender as novas transformações; essas idéias, principalmente as do positivismo, influenciaram movimentos literários como o Realismo e o Naturalismo, na prosa, e o Parnasianismo, na poesia.

No entanto, os triunfos materialistas e científicos não eram compartilhados ou aceitos por muitos estratos sociais, que haviam ficado ao largo da prosperidade burguesa característica da chamada “belle époque”; pelo contrário, esses grupos alertavam para o mal-estar espiritual trazido pelo capitalismo. Assim, como afirmou Alfredo Bosi, “do âmago da inteligência européia surge uma oposição vigorosa ao triunfo da coisa e do fato sobre o sujeito – aquele a quem o otimismo do século prometera o paraíso mas não dera senão um purgatório de contrastes e frustrações”. A partir dessa oposição, no campo da poesia, formou-se o Simbolismo.

Simbolismo – Movimento

O movimento simbolista tomou corpo no Brasil na década de 1890, quando o país passava também por intensas e radicais transformações, ainda que diversas daquelas vivenciadas na Europa. O advento da República e a abolição da escravatura modificaram as estruturas políticas e econômicas que haviam sustentado a agrária e aristocrática sociedade brasileira do Império. Os primeiros anos do regime republicano, de grande instabilidade política, foram marcados pela entrada em massa de imigrantes no país, pela urbanização dos grandes centros – principalmente de São Paulo, que começou a crescer em ritmo acelerado -, e pelo incremento da indústria nacional.

Nas cidades, a classe média se expandiu, enquanto a operária começou a tornar-se numerosa. No campo, aumentaram as pequenas propriedades produtivas e o colonato. A jovem república federativa, que ainda definia os limites de seu território, conheceu a riqueza efêmera da borracha na Amazônia e a prosperidade trazida pela diversificação da produção agrícola no Rio Grande do Sul. Mas era o café produzido no Centro-Sul a força motriz da economia brasileira, e de seus lucros alimentou-se a poderosa burguesia que determinava o destino de grande parte dos projetos políticos, financeiros e culturais do país.

No Brasil ainda sustentado pela agricultura e dependente de importações de produtos manufaturados, máquinas e equipamentos, a indústria editorial engatinhava.

O público leitor era reduzido, já que a maior parte da população era analfabeta. As poucas editoras existentes concentravam-se no Rio de Janeiro e lançavam autores de preferência já conhecidos do público, em tiragens pequenas, impressas em Portugal ou na França, e mal distribuídas. Era principalmente nas páginas de periódicos que circulavam as obras literárias, e onde se debatiam os novos movimentos estéticos que agitavam os meios artísticos. Foi por meio do jornal carioca Folha Popular que formou-se o grupo simbolista liderado por Cruz e Souza, provavelmente o mais importante a divulgar a nova estética no país.

Também por força dessas circunstâncias, muitos autores do período colaboraram como cronistas para jornais e revistas, atividade que contribuiu para a profissionalização do escritor brasileiro. Raul Pompéia, ficcionista ligado ao Realismo, foi um deles, e abordou importantes acontecimentos e debates da época em suas crônicas, como a questão do Voto Feminino e Voto Estudantil ou os problemas da Viação Urbana. Além dos periódicos, as conferências literárias eram outra fonte de renda e de divulgação para os autores brasileiros, que também costumavam freqüentar salões artísticos promovidos por membros da elite, como a Vila Kyrial de José de Freitas Vale, senador, mecenas e autor de versos simbolistas que posteriormente patroneou autores modernistas.

Os simbolistas contribuíram muito para a evolução do mercado de periódicos, pois lançaram grande número de revistas, em vários estados brasileiros. Ainda que os títulos durassem, na maioria das vezes, apenas alguns números, o que é também indicativo da fragilidade do mercado editorial e da cena literária, representaram grande avanço no setor, notavelmente pelo apuro gráfico. Dentre os periódicos simbolistas destacam-se as cariocas Rio-Revista e Rosa-Cruz, as paranaenses Clube Curitibano e O Cenáculo, as mineiras Horus e A Época, a cearense A Padaria Espiritual, a baiana Nova Cruzada, entre muitas outras. No começo do século XX, foram publicadas revistas que ficariam famosas pela qualidade editorial e gráfica, como Kosmos e Fon-Fon!. As inovações formais e tipográficas praticadas pelos simbolistas, como os poemas figurativos, as páginas coloridas, os livros-estojo exigiam grande requinte técnico e, por conseqüência, terminaram por ajudar a melhorar a qualidade da indústria gráfica no país.

Características Gerais

Os poetas simbolistas acreditavam que a realidade é complexa demais pra ser apreendida e descrita de maneira objetiva e racional, como pretendiam os realistas e parnasianos. Eles voltaram-se para o universo interior e os aspectos não-racionais e não-lógicos da vida, como o sonho, o misticismo, o transcendental. Propunham o exercício da subjetividade contra a objetividade – retomando, de modo diferente, o individualismo romântico.

É preciso diferenciar, todavia, poesia simbolista de poesia simbólica. Como afirma o crítico Afrânio Coutinho, “nem toda literatura que usa o símbolo é simbolista.

A poesia universal é toda ela na essência simbólica”.

O Simbolismo, para Coutinho, “posto não constituísse uma unidade de métodos, antes de ideais, procurou instalar um credo estético baseado no subjetivo, no pessoal, na sugestão e no vago, no misterioso e ilógico, na expressão indireta e simbólica. Como pregava Mallarmé, não se devia dar nome ao objeto, nem mostrá-lo diretamente, mas sugeri-lo, evocá-lo pouco a pouco, processo encantatório que caracteriza o símbolo.”

No Brasil, onde o Parnasianismo dominava o cenário poético, a estética simbolista encontrou resistências, mas animou a criação de obras inovadoras. Desde o final da década de 1880 as obras de simbolistas franceses, entre eles Baudelaire e Mallarmé, e portugueses, como Antonio Nobre e Camilo Pessanha, vinham influenciando grupos como aquele que se formou em torno da Folha Popular, no Rio, liderado por Cruz e Souza e integrado por Emiliano Perneta, B. Lopes e Oscar Rosas. Mas foi com a publicação, em 1893, de Missal, livro de poemas em prosa, e Broquéis, poemas em versos, ambos de Cruz e Souza, que principiou de fato o movimento simbolista no país – embora a importância desses livros e do próprio movimento só tenha sido reconhecida bem mais tarde, com as vanguardas modernistas.

Entre as inovações formais que caracterizam o Simbolismo estão a prática do verso livre, em oposição ao rigor do verso parnasiano, e o uso de “uma linguagem ornada, colorida, exótica, poética, em que as palavras são escolhidas pela sonoridade, ritmo, colorido, fazendo-se arranjos artificiais de parte ou detalhes para criar impressões sensíveis, sugerindo antes que descrevendo e explicando”, de acordo com Afrânio Coutinho.

Traços formais característicos do Simbolismo são a musicalidade, a sensorialidade, a sinestesia (superposição de impressões sensoriais). O antológico poema Antífona, de Cruz e Souza, é exemplar nesse sentido; sugestões de perfumes, cores, músicas perpassam todo o poema, cuja linguagem vaga e fluida é plena de recursos sonoros como aliterações e assonâncias. Há também em Antífona referências a elementos místicos, ao sonho, a mistérios, ao amor erótico, à morte, os grandes temas simbolistas.

Ainda com relação à forma, o soneto foi cultivado pelos simbolistas, mas não com a predileção manifestada pelos parnasianos, nem com sua paixão descritiva. Em sonetos como Incenso, de Gilka Machado, e Acrobata da Dor, de Cruz e Souza, está presente a linguagem que sugere, em lugar de nomear ou descrever, além de elementos como o questionamento da razão, a dor da existência, o interesse pelo mistério, a transcendência espiritual, que são característicos do Simbolismo.

Lembre-se a propósito, também, do poema O Soneto, de Cruz e Souza, em que a linguagem poética simbolista transfigura e recria a forma da composição soneto.

É importante lembrar que as correntes simbolistas e parnasianas coexistiram e se influenciaram mutuamente; assim, há na obra de adeptos do Simbolismo traços da estética parnasiana e, do mesmo modo, impregnações simbolistas na obra de poetas ligados ao Parnasianismo, como Francisca Júlia.

O Simbolismo e o Parnasianismo, segundo José Aderaldo Castello, projetaram-se nas primeiras décadas do século XX, “deixando importante legado para herdeiros que se fariam grandes poetas do Modernismo”. O Simbolismo, porém, “mais do que os adeptos da poesia ‘científico-filosófica’ e realista, provocou o debate, aguçando o confronto de gerações.”

Os principais autores simbolistas brasileiros são Cruz e Souza e Alphonsus de Guimaraens, mas merecem destaque também Gilka Machado e Augusto dos Anjos.

Cruz e Souza é considerado o maior poeta simbolista brasileiro, e foi mesmo apontado pelo estudioso Roger Bastide como dos maiores poetas do Simbolismo no mundo. Para a crítica Luciana Stegagno-Picchio, “ao firme, sapiente universo do parnasiano, à estátua, ao mármore, mas também ao polido distanciamento e ao sorriso, o simbolista Cruz e Souza contrapõe seu universo sinuoso, mal seguro, inquietante, misterioso, alucinante”. Negro, o poeta sofreu preconceitos terríveis, que marcaram de diversos modos sua produção poética. Os críticos costumam indicar a “obsessão” pela cor branca em seus versos, repletos de brumas, pratas, marfins, linhos, luares, e de adjetivos como alva, branca, clara. Mas Cruz e Souza também expressou as dores e injustiças da escravidão em poemas como Crianças Negras e Na Senzala.

A obra de Alphonsus de Guimaraens é fundamentada pelos temas do misticismo, do amor e da morte. Em poemas como A Catedral e A Passiflora, repletos de referências católicas, a religiosidade é o assunto principal. O poeta também voltou-se para outro tema caro aos simbolistas, o interesse pelo inconsciente e pelas zonas profundas e desconhecidas da mente humana. Ismália, talvez seu poema mais conhecido, tematiza justamente a loucura. O amor, em sua poesia, é o amor perdido, inatingível, pranteado, como em Noiva e Salmos da Noite; reminiscências da morte prematura da mulher que amou na juventude.

Gilka Machado “foi a maior figura feminina de nosso Simbolismo“, segundo o crítico Péricles Eugênio da Silva Ramos. Seus poemas, de intenso sensualismo, chegaram a causar escândalo, mas revelaram novas maneiras de expressar o erotismo feminino. Emiliano Perneta também imprimiu forte sensualismo em seus versos, característicos além disso pelo satanismo e decadentismo.

Sua poesia, para Andrade Muricy, é “a mais desconcertante e variada que o simbolismo produziu entre nós”. Já a obra de Augusto dos Anjos – extremamente popular, diga-se de passagem – é única, e há grande dificuldade entre a crítica para classificá-la. Seus poemas, que chegam a ser expressionistas, recorrem a uma linguagem cientifista-naturalista, abundante de termos técnicos, para tematizar a morte, a destruição, o pessimismo e mesmo o asco diante da vida.

Simbolismo – Literatura

Nenhum movimento cultural é globalizante. Não se pode imaginar que todos os setores e pessoas da sociedade viveram da mesma forma em determinado momento. Por isso, pode-se dizer que em certas épocas há uma ideologia predominante, porém não globalizante.

No final do século passado, por exemplo, ao mesmo tempo que ainda vigorava a onda de cientificismo e materialismo que deu origem ao Realismo e ao Naturalismo, já surgia um grupo de artistas e pensadores que punha em dúvida a capacidade absoluta da ciência de explicar todos os fenômenos relacionados ao homem.

Já não se crê mais no conhecimento “positivo”, que levaria a humanidade para um estágio evoluído. Acredita-se que, assim como a ciência é limitada, igualmente a linguagem não pode pretender representar a realidade dentro como ela de fato é. Pode-se, no máximo, sugerí-la.

No final do século XIX, a literatura que representou essa nova forma de ver o mundo foi o Simbolismo. Os Simbolistas, insatisfeitos com a onda de cientificismo e materialismo a que esteve submetida a sociedade industrial européia na segunda metade do século passado, representam a reação da intuição contra a lógica, do subjetivismo contra a objetividade científica, do misticismo contra o materialismo, da sugestão sensorial contra a explicação racional.

O Simbolismo começa por ser, portanto, uma negação do materialismo, do positivismo, do determinismo e outras atitudes científico-filosóficas que embasaram a estética Realista/Naturalista/Parnasiana. É, por outro lado, um retorno ao subjetivismo romântico, ao predomínio do “eu”, da imaginação e da emoção, ainda de modo mais profundo e radical. É também uma volta à atitude conflitual tensa do Barroco e ao espiritualismo e religiosidade da era medieval.

Para saber mais sobre o Simbolismo sugere-se: conhecer a obra de pintores impressionistas e pós-impressionistas como Renoir, Manet, Cézanne, Van Gogh, Gaughin, Toulouse-Lautrec e Klimt; ouvir a música de Claude Debussy e pesquisar sobre as relações entre o Simbolismo e o Romantismo, principalmente a 2° geração da poesia romântica e a tendência gótica.

A linguagem da música

Nenhuma arte é inteiramente objetiva.

Até uma fotografia, por exemplo, que se aproxima bastante da realidade, depende da seleção que o fotógrafo faz: o que fotografar, de que ângulo, a que distância, com que luz, em que momento. Essas variantes estão sujeitas às intensões do fotógrafo; são, portanto, subjetivas e podem modificar o resultado final, a foto.

Os simbolistas não acreditavam na possibilidade de a arte e a literatura poderem fazer um retrato total da realidade. Duvidavam também das explicações “positivas” da ciência, que julgava poder explicar todos os fenômenos que envolvem o homem e conduzi-lo a um caminho de progresso e fartura material.

Assim, os simbolistas representam um grupo social que ficou à margem do cientificismo do século XIX e que procurou resgatar certos valores românticos varridos pelo Realismo, tais como o espiritualismo, o desejo de transcendência e de integração com o universo, o mistério, o misticismo, a morte, a dor existencial (sem, contudo, cair na afetação sentimental romântica.)

A ciência, até a pouco dona da verdade, passa a ser questionada, impondo um forte desencanto, pois à ela, que a tudo enquadrava nuna forçada relação de causalidade, mostrava-se impotente, deixando incocadas as grandes questões da vida, que continuavam como um profundo mistério. É exatamente esse mistério que vai seduzir alguns filósifos e artistas desse período, na busca, muitas vezes, de um modo supra-racional de conhecimento. Este caminho é o “coração” de Pascal (“O coração tem razões que a própria razão desconhece”) e logo será, para muitos pensadores, a “intuição”, ou aquilo que, há muito tempo, têm experimentado os místicos, sem nenhuma explicação concreta e provável.

Essa reação antimaterialista situa-se num contexto mais amplo da vivido pela Europa no último quarto do século XIX, a forte crise espiritual a que sem tem chamado de decadentismo do final do século, ou ainda mal do século.

Conceito e âmbito

O símbolo sempre existiu na Literatura, mas somente no século XIX é que seu emprego se difundiu e se tornou moda com a denominação de Simbolismo.

Restringindo-nos a um ciclo histórico mais próximo, verificamos que o Simbolismo deita raízes no Romantismo e que alguns ideais românticos, sobretudo os mais vagos, tiveram que aguardar o Simbolismo para realizar-se de forma mais ampla. Nesse sentido, o Simbolismo para realizar-se de forma mais ampla. Neste sentido, esse movimento pode ser considerado um prolongamento ou uma etapa mais avançada da concepção do mundo e dos homens inaugurada pelos românticos, transfigurando-a e levando-a às últimas consequências. Em suma, o Simbolismo só se compreende quando inscrito no contexto sócio-cultural decorente da Revolução Francesa e da implantação das doutrinas romântico-liberais.

Contrariamente aos românticos, os simbolistas propuseram que “a poesia não é somente emoção, amor, mas a tomada de consciência desta emoção; que a atitude poética não é unicamente afetiva, mas ao mesmo tempo afetiva e cognitiva”. Por outras palavras, a poesia carrega em si uma certa maneira de conhecer.

Na busca do “eu profundo”, os Simbolistas iniciam uma viagem interior de imprevisíveis resultados, ultrapassando os níveis de razoabilidade em que, afinal de contas, se colocavam os românticos, mesmo os mais descabelados e furiosos.

Imergindo nas esferas inconscientes, acbaram por atingir os estratos mentais anteriores à fala e à lógica, tocando o universo íntimo de cada um, onde reina o caos e a anarquia, em decorrência de ali vegetare as vivências vagas e fluídas, pré-lógicas e inefáveis, e que não se revelam ao homem comum senão por recursos indiretos como o sonho, a alucinação ou a psicanálise.

Mais do que tocar os desvãos do inconsciente, pretendiam sentí-los, examiná-los.

O problema mais difícil era o de como transportar as vivências abissais para o plano no consciente a fim de comunicá-las a outrem. Como proceder? Como exprimi-las? Como represent-alas sem esvaziá-las ou destruí-las? A gramática tradicional, a sintaxe lógica, o vocabulário comum, petrificado nas várias denotações de dicionário, enfim o material linguístico e gramatical corriqueiro eram insuficientes para comunicar os achados insólitos da sensibilidade, antes desconhecidos ou apenas inexpressos.

Era necessário inventar uma linguagem nova, recuperando expressões consideradas obsoletas, ivificando outras cujo lastro semântico ia sofrendo desgaste ou cristalização. Essa nova linguagem estaria fundamentada numa sintaxe e gramática “psicológicas”, num vocabulário adequado à comunicação de novidades estéticas, pela recorrência a neologismos, inesperadas combinações vocabulares, emprego de arcaísmos e de termos exoóticos ou litúrgicos, e ainda de recursos gráficos de várias ordens (o uso de maiúsculas alegórizantes, das cores na impressão dos poemas ou partes de livros, de formas arcaicas, etc…)

Trata-se pois de uma revolução da expressão literária e, não obstante conectado com as outras artes, o Simbolismo é antes e acima de tudo Literatura e nenhuma escola foi mais literária, no sentido de “uma estética que se aproximou de pura, vacinada contra todo o contátio nõa estético, ou que, sendo estético, atentasse contra suas prerrogativas literárias. (Massaud Moisés, “O Simbolismo”, A literatura Brasileira, vol. IV, Cultrix, SP, 1973).

Características da Poesia Simbolista

Como movimento antimaterialista e anti-racionalista, o Simbolismo buscou uma linguagem que fosse capaz de sugerir a realidade, e não retratá-la objetivamente, como queriam os realistas. Para isso, faz uso de símbolos, imagens, metáforas, sinestesias, além de recursos sonoros e cromáticos, tudo com a finalidade de exprimir o mundo interior, intuitivo, antilógico e anti-racional. Podem ser encontrados esses traços em poetas e pensadores pré-Simbolistas, que acabaram por dar as origens dessa escola.

São eles:

Charles Baudelaire

poeta francês pós-romântico e precursor do movimento simbolista, para quem a poesia é a expressão da correspondência que a linguagem é capaz de estabelecer entre o concreto e o abstrato, o material e o ideal. Coube a ele desmistificar a poesia, trazendo-a para o plano do homem já então angustiado por uma existência sem deuses ou mitos válidos. Sua poesia satânica, irreverente e cáustica, impulsionada por uma ânsia trágica de libertação e narcisamento, influenciou nõa só o âmbito ético-literário, mas revolucionou o próprio campo da expressão, graças à sua Teoria das Correspondências, expressa no trecho abaixo.

Como longos ecos que de longe se confundem
numa tenebrosa e profunda unidade.
Vasta como a noite e como a claridade,
os perfumes, as cores e os sons se correspondem.

A Teoria das Correspondências porpõe um porocesso cósmico de aproximação entre as realidades físicas e as metafísicas, entre os seres, as cores, os perfumes e o pensamento ou a emoção, que se expressa através da Sinestesia, um tipo de metáfora, que consiste na tranferência (ou “cruzamento”) de percepção de um sentido para outro, ou seja, a fusão, num só ato de percepção, de dois sentidos ou mais. É o que ocorre em “ruído aspero” (audição e tato); “música doce” (audição e gustação); “som colorido” (audição e visão); “noite de veludo” (visão e tato).

Essas correspondências entre os campos sensorial e espiritual envolvem obrigatoriamente a sinestesia.

Sinestesia é o cruzamento de campos sensoriais diferentes: por exemplo, tato e visão, como nas imagens “noite de veludo”, “amarelo quente”, “cinza frio”.

Em termos de ideologia, o Parnasianismo e o Simbolismo são movimentos diametralmente opostos, já que aquele pregava uma poesia objetiva, racionalista, e voltada a temas universais. Apesar disso, ambos apresentam em comum uma preocupação intensa com a linguagem e certo refinamento formal. Isso talvez possa ser explicado pelo fato de ambas as tendências terem nascido juntas, na França, na revista Parnasse Contemporain, em 1866. Cruz e Souza, o principal simbolista brasileiro, apresenta influências parnasianas em alguns de seus poemas.

Características da linguagem simbolista

As características da linguagem simbolista podem ser assim esquematizadas:

Linguagem vaga, fluida, que prefere sugerir a nomear. Utilização de substantivos abstratos, efêmeros, vagos e imprecisos
Presença abundante de metáforas, comparações, aliterações, assonâncias, paronomásias, sinestesias
Subjetivismo e teorias que voltam-se ao mundo interior
Antimaterialismo, anti-racionalismo em oposição ao positivismo
Misticismo, religiosidade, valorização do espiritual para se chegar à paz interior
Pessimismo, dor de existir
Desejo de transcendência, de integração cósmica, deixando a matéria e libertando o espírito
Interesse pelo noturno, pelo mistério e pela morte, assim como momentos de transição como o amanhecer e o crepúsculo
Interesse pela exploração das zonas desconhecidas da mente humana (o inconsciente e o subconsciente) e pela loucura.

Observação: Na concepção Simbolista o louco era um ser completamente livre por não obedecer às regras. Teoricamente o poeta simbolista é o ser feliz.

Contexto Histórico

O movimento simbolista surge no último quarto do século XIX, na França, e representa a reação artística à onda de materialismo e cientificismo que envolvia Europa desde a metade do século.

Tal qual o Romantismo, que reagiria contra o racionalismo burguês do século XVIII (o Iluminismo), o Simbolismo rejeita as soluções racionalistas, empíricas e mecânicas trazidas pela ciência da época e busca valores ou ideais de outra ordem, ignorados ou desprezados por ela: o espírito, a transcendência cósmica, o sonho, o absoluto, o nada, o bem, o belo, o sagrado dentre outros.

A origem dessa tendência espiritualista e até mística situa-se nas camadas ou grupos da sociedade que ficaram à margem do processo de avanço tecnológico e científico do capitalismo do século XIX e da solidificação da burguesia no poder. São setores da aristocracia decadente e da classe média que, não vivendo a euforia do progresso material, da mercadoria e do objeto, reagem contra ela. Propõem a volta da supremacia do sujeito sobre o objeto, rejeitanto desse modo o desmedido valor dado às coisas materiais.

Assim, os simbolistas procuraram resgatar a relação do homem com o sagrado, com a liturgia e com os símbolos. Buscam o sentimento de totalidade, que se daria numa integração da poesia com a vida cósmica, como se ela, a poesia, fosse uma religião.

Sua forma de tratar a realidade é radicalmente diferente da dos realistas. Não aceitam a separação entre sujeito e objeto ou entre objetivo e subjetivo. Partem do princípio de que é impossível o retrato fiel do objeto; o papel do artista, no caso seria o de sugeri-lo, por meio de tentativas, sem querer esgotá-lo. Desses modo, a obra de arte nunca é perfeita ou acabada, mas aberta, podendo sempre ser modificada ou refeita.

Os malditos

Essa concepção da realidade e da arte trazida pelos Simbolistas suscita reações entre setores positivistas da sociedade. Chamados de malditos ou decadentes, os simbolistas ignoram a opinião pública, desprezam o prestígio social e literário, fechando-se numa quase religião da palavra e suas capacidades expressivas.

O Simbolismo

Com as propostas de inovação, oposição e pesquisa trazidas pela geração de Verlaine, Rimbaud e Mallarmé – não sobrevive muito. O mundo presencia a euforia capitalista, o avanço científico e tecnológico. A burguesia vive a belle époque, um período de prosperidade, de acumulação e de prazeres materiais que só terminaria com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914.

Nesse contexto, o Simbolismo desaparece. Mas deixa ao mundo um alerta sobre o mal-estar trazido pela civilização moderna e industrializada, além de códigos literários novos, que abrirão campo para as correntes artísticas do século XX, principalmente o Expressionismo e o Surrealismo, também preocupados com a expressão e com as zonas inexploradas da mente humana, como o inconsciente e a loucura.

O Simbolismo no Brasil

Ao contrário do que aconteceu na Europa, onde o Simbolismo se sobrepôs ao Parnasianismo, no Brasil o Simbolismo foi quase inteiramente abafado pelo movimento parnasiano, que gozou de amplo prestígio entre as camadas cultas até as primeiras décadas do século XX. Apesar disso, a produção simbolista deixou contribuições significativas, preparando terreno para as grandes inovações que iriam ocorrer no século XX, no domínio da poesia.

As primeiras manifestações simbolistas já eram sentidas desde o final da década de 80 do século XIX. Apesar disso, tradicionalmente se tem apontado como marco introdutório do movimento simbolista brasileiro a publicação.

Em 1893, das obras Missal (prosa) e Broquéis (poesia), de nosso maior simbolista: Cruz e Souza.

Além de Cruz e Sousa, destacam-se, dentre outros, Alphonsus de Guimaraens e Pedro Kilkerry (recentemente descoberto pela crítica).

Cruz e Sousa: O Cavador do Infinito

Cruz e Sousa (1862 – 1898), filho de escravos, foi amparado por uma família aristocrática, que o ajudou nos estudos. Ao transferir-se para o Rio, sobreviveu trabalhando em pequenos empregos e sempre foi alvo do preconceito racial. Na juventude, teve uma grande decepção amorosa ao apaixonar-se por uma artista branca. Acabou casando-se com Gravita, uma negra, que mais tarde ficaria louca. De quatro filhos que o casal teve, apenas dois sobreviveram. Cruz e Souza morreu com 36 anos, vítima de tuberculose. Suas únicas obras publicadas em vida foram Missal e Broquéis.

Hoje Cruz e Souza é considerado o mais importante poeta simbolista brasileiro e um dos maiores poetas nacionais de todos os tempos. Seu valor, contudo, só foi reconhecido postumamente, depois que o sociólogo francês Roger Bastide colocou-o entre os maiores poetas do Simbolismo universal. Sua obra apresenta diversidade e riqueza.

De um lado, encontram-se aspectos noturnos do Simbolismo, herdados do Romantismo: o culto da noite, certo satanismo, pessimismo, morte, etc.

Observa-se algumas dessas características nesses versos do poema “Inexorável”:

Ó meu Amor, que já morreste,
Ó meu Amor, que morta estás!
Lá nessa cova a que desceste
Ó meu Amor, que já morreste,
Ah! Nunca mais florescerás?

Ao teu esquálido esqueleto,
Que tinha outrora de uma flor
A graça e o encanto do amuleto
Ao teu esquálido esqueleto
Não voltará novo esplendor?

De outro lado, há certa preocupação formal que o aproxima dos parnasianos: a forma lapidar, o gosto pelo soneto, o verbalismo requintado, a força das imagens; de outro, ainda, a inclinação à poesia meditativa e filosófica, que o aproxima da poesia realista portuguesa, principalmente de Antero de Quintal.

A forma encontrada pelos Simbolistas de suspender a dor seria a música. Daí advém a tentativa de produzir textos tão melodiosos e ritmados. Um exemplo claro é um dos mais belos textos de Cruz e Sousa. Ao le-lo, deve-se ficar atento à musicalidade das palavras e construções.

Violões que choram: Cruz e Souza

Ah! plangentes violões dormente, mornos,
Soluços ao luar, choros ao vento…
Tristes perfis, os mais vagos contornos,
Bocas murmurejantes de lamento.

Noites de além, remotas, que eu recordo,
Noites de solidão, noites remotas
que nos azuis da Fantasia bordo,
Vou constelando de visões ignotas.

Sutis palpitações à luz da lua,
Anseio dos momentos mais saudosos
Quando lá choram na deserta rua
As cordas vivas dos violões chorosos.

Quando os sons dos violões vão soluçando,
Quando os sons dos violões nas cordas gemem,
E vão dilacerando e deliciando,
Rasgando as almas que nas sombras tremem.

Harmonias que pungem, que laceram,
Dedos nervosos e ágeis que percorrem
Cordas e um mundo de dolências geram
Gemidos, prantos, que no espaço morrem…

E sons soturnos, suspiradas mágoas,
Mágoas amargas e melancolias,
No sussurro monótono das águas,
Noturnamente, entre ramagens frias.

Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias dos violões, vozes veladas,
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.

Tudo nas cordas dos violões ecoa
E vibra e se contorce no ar, convulso…
Tudo na noite, tudo clama e voa
Sob a febril agitação de um pulso.

Que esses violões nevoentos e tristonhos
São ilhas de degredo atroz, funéreo,
Para onde vão, fatigadas do sonho,
Almas que se abismaram no mistério.

Poesia metafísica e dor de existir

Juntamente com o poeta realista português Antero de Quental e o pré-modernista brasileiro Augusto dos Anjos, Cruz e Sousa apresenta uma das poéticas de maior profundidade em língua portuguesa, quanto à investigação filosófica e à angústia metafísica.

O drama da existência, em sua obra, revela uma provável influência das idéias pessimistas do filósofo alemão Shopenhauer, que marcaram o final do século passado. Além disso, certas posturas de sua poesia – o desejo de fugir da realidade, de transcender a matéria e integrar-se espiritualmente no cosmo – parecem originar-se não apenas do sentimento de opressão e mal-estar trazido pelo capitalismo, mas também pelo drama racial e pessoal que vivia.

A trajetória de sua obra parte da consciência e da dor de ser negro, em Broquéis, à dor de ser homem, em busca da transcendência, em Faróis e Últimos sonetos, obras póstumas.

Observa-se a dor existencial por exemplo, em versos de “Cárcere de Almas”:

Ah! Toda alma num cárcere anda presa
Soluçando nas trevas entre as grades
Do calabouço olhando imensidades
Mares, estrelas, tardes, natureza.

Ó almas presas, mudas e fechadas
Nas prisões colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouço atroz, funéreo!

As características mais importantes da obra de Cruz e Sousa são:

No plano temático: a morte, a transcendência espiritual, a integração cósmica, o mistério, o sagrado, o conflito entre a matéria e espírito, a angústia e a sublimação sexual, a escravidão e uma verdadeira obsessão por brilhos e pela cor branca (“Ó Formas alvas, brancas, Formas claras / De luares, de neves, fluídas, cristalinas….”).
No plano formal: destacam-se as sinestesias (cruzamento de campos sensoriais diferentes: tato e visão como em “noites de veludo ou visão e olfato como “cheiro das cores”), as imagens surpreendentes, a sonoridade das palavras, a predominância de substantivos e utilização de maiúsculas, com a finalidade de dar um valor absoluto a certos termos.

Alphonsus de Guimaraens

Alphonsus de Guimaraens (1870 – 1921) nasceu em Ouro Preto, estudou Direito em São Paulo e foi durante muitos anos juiz em Mariana, cidade histórica, vizinha de Ouro Preto.

Marcado pela morte da prima Constança – a quem amava e contava apenas 17 anos -, sua poesia é quase toda voltada ao tema da morte da mulher amada, que aconteceu apenas dois dias antes de seu casamento. Todos os outros temas que explorou, como natureza, arte e religião, estão de alguma forma relacionados àquele.

A exploração do tema da morte abre ao poeta, por um lado, o vasto campo da literatura gótica ou macabra dos escritores ultra-românticos, recuperada por alguns simbolistas; por outro lado, possibilita a criação de uma atmosfera mística e litúrgica, em que abundam referências ao corpo morto, ao esquife, às orações, às cores roxa e negra, ao sepultamento, conforme exemplifica a estrofe a seguir:

Mãos de finada, aquelas mãos de neve
De tons marfíneos, de ossatura rica,
Pairando no ar, num gesto brando e leve
Que parece ordenar mas que suplica.

O conjunto da poesia de Alphonsus de Guimaraens é uniforme e equilibrado. Temas e formas se repetem e se aprofundam, no decorrer de quase trinta anos produção literária, consolidando uma de nossas poéticas mais místicas e espiritualistas.

O crítico Alfredo Bosi considera que “de Cruz e Sousa para Alphonsus de Guimaraens sentimos uma descida de tom”, isto porque a universalidade, a dor da existência e as sensações de vôo e vertigem que caracterizam a linguagem simbolista de Cruz e Sousa ganham limites mais estreitos na poesia de Alphonsus de Guimaraens, presa ao ambiente místico da cidade de Mariana e ao drama sentimental vivido na adolescência.

Formalmente o poeta revela influências árcades e renascentistas, sem contudo, cair ao formalismo parnasiano. Embora preferisse o verso decassílabo, Alphonsus chegou a explorar outras métricas, particularmente a redondilha maior, de longa tradição popular, medieval e romântica.

Fontes Filosóficas seguidas pelo Simbolismo

Como já foi dito, o Simbolismo representou uma negação do materialismo, do Positivismo e do Determinismo, ou seja, das atitudes científico-religiosas dos estilos Naturalista e Realista.

É também uma volta à atitude conflitual e tensa do Barroco e ao espiritualismo da Idade Média.

O Simbolismo seguiu algumas correntes filosóficas em voga no fim do Século XIX.

São elas:

Intuicionismo, por Henry Bergson

Tinha como objetivo a busca de novas realidades interiores. No entanto, essas realidades interiores, o “eu” profundo, serão praticamente incomunicáveis, por constituirem um mundo extremamente vago, complexo e corrompido à simples tentativa de ser traduzido em palavras, já que a própria consciência e natureza dessas realidades são irredutíveis à fala, colocando-se fora de todo controle do pensamento e da razão.

Os poetas apelam então para a evocação, para a sugestão, a fim de buscar a tradução do “eu” profundo. Apenas sugere os conteúdos sentimentais e emotivos, sem narra-los ou descreve-los.

Bergson reconhece porém que a maioria dos homens vive apenas num “eu” de superfície, atravessando a existência sem jamais experimentar a verdadeira liberdade, que só seria alcançada ao romperem-se as barreiras da moral e da religião.

Teorias de Arthur Schopenhauer

Em “O Mundo Como Vontade e Representação”, Schopenhauer afirma que por mais maciço e imenso que seja este mundo, sua existência depende, em qualquer momento, apenas de um fio único e delgadíssimo: a consciência em que aparece. Assim, para o autor, o mundo não passa de uma representação, ou melhor, é igual à nossa percepção. Por isso, não chegamos jamais à essência em si, ao Absoluto.

Por outro lado, o espírito ou a nossa psiquê corresponde à vontade, e essa é que seria real. Isto significaria dizer que no fundo de todo ser ou coisa viveria a vontade. A filosofia do autor sustenta ainda que o real em si é mesmo cego e irracional, enquanto vontade. As formas racionais não passariam de ilusórias aparências e a essência de todas as coisas estaria alheia à razão.

Há nessa teoria um pessimismo extremo, já que a vontade é sem meta e gera dor. A felicidade seria apenas uma interrupção temporária de um processo de infelicidade maior, pois não existiria satisfação durável.

Em suma: viver significaria sofrer.

Teorias de Soren Kierkegaerd

Definem o homem como uma síntese de infinito e finito; de temporal e eterno; de liberdade e de necessidade. Kierkegaerd entende que qualquer opção do ser humano conduz ao desespero pela impossibilidade de conciliar a finitude e a infinitude; a transcendência e a existência.

Filosofia oriental

De acordo com essa filosofia, a forma mais completa de salvação para o homem estaria na renúncia ao mundo e suas solicitações, na mortificação dos instintos, na auto-anulação da vontade e na fuga para o nada, para o nirvana dos filósofos budistas.

Teorias de Nicolal Von Hartamn

Em sua Teoria do Inconsciente, Von Hartamn cria o inconsciente, entidade desconhecia que existe por trás de tudo e que é totalmente inalcançável.

O inconsciente daria explicação aos fenômenos, mas essa explicação não chegaria ao conhecimento do homem. O sentimento de impotência diante do enigma do Universo, essa incógnita, gera o pessimismo.

Resumo das características do Simbolismo

Conteúdo relacionado com o espiritual, o místico e o subconsciente: idéia metafísica, crença em forças superiores e desconhecidas, predestinação, sorte, introspecção.

Esse maior pelo particular e individual do que pelo geral e Universal: valorização máxima do eu interior, individualismo.

Tentativa de afastamento da realidade e da sociedade contemporânea:

Valorização máxima do cosmos, do misticismo, negação à Terra. Os textos comumente retratam seres efêmeros (fumaça, gases, neve…). Imagens grandiosas (oceanos, cosmos…) para expressar a idéia de liberdade.
Conhecimento intuitivo e não-lógico.
Ênfase na imaginação e na fantasia.
Desprezo à natureza: as concepções voltam-se ao místico e sobrenatural.
Pouco interesse pelo enredo e ação narrativa: pouquíssimos textos em prosa.
Preferência por momentos incomuns: amanhecer ou entardecer, faixas de transição entre dia e noite.
Linguagem ornada, colorida, exótica, bem rebuscada e cheia de detalhes: as palavras são escolhidas pela sua sonoridade, num ritmo colorido, buscando a sugestão e não a narração.

Simbolismo – Período

O simbolismo dividiu com aquele estilo o espaço cultural europeu entre o final do século XIX e o início do século XX.

O período que vai de 1890 a 1915 é marcado por inúmeras tendências literárias e filosóficas, representando, no geral, a superação das teses centrais divulgadas pela geração de 70. Aliás, muitos autores realistas já não endossam mais aquelas idéias radicais, como se pode ver pelo modo como Antero de Quental e Eça de Queirós, por exemplo, revêem suas posições intelectuais.

Surgem movimentos renovadores de cunho antimaterialista e antipositivista. A filosofia do espírito ressurge e idéias nacionalistas começam a ganhar terreno na literatura.

Cumpre destacar que a agitação política contra a monarquia tornava-se cada vez mais intensa, vindo a culminar, em 1910, com a instauração da república. O movimento nacionalista vinha, pois, fomentar a exaltação de valores nacionais e, se por vezes pecou por um sentimentalismo excessivo, constituiu um fator importante na restauração psicológica de uma sociedade em crise.

Sobre essa renovação espiritual, assim se manifesta o crítico Antonio Soares Amora : “O movimento de reabilitação do espírito foi mais longo ; sem cogitar de p6or em dúvida as verdades e as possibilidades cognoscentes das ciências positivas, no que respeita a matéria, impôs a convicção de que as verdades sobre o mundo exterior, afirmadas por todas as manifestações da espiritualidade do homem, não são menos verdades que as apura a inteligência com métodos científicos.

Deste modo, reabilitaram-se as verdades do idealismo, as verdades morais e sentimentos, as verdades da imaginação, as verdades do subconsciente, enfim, as verdades da alma, que nos dão a realidade objetiva com uma natureza e com uma significação muito diferente de tudo o que nos oferece o racionalismo científico e materialista. ”

A esse ressurgir da filosofia do espírito e do nacionalismo, junta-se a reação ao Realismo com a proposta de uma literatura mais cvoltada para as forças interiores do homem, para sua dimensão psicológica e transcendental, beirando o místico e o irracional. Essa tendência literária recebeu influência direta do Simbolismo francês, que em 1886 já lançara suas bases.

Contudo, vemos que, em Portugal, esse período de 1890 a 1915, ainda que receba o nome geral de Simbolismo, está longe de esgotar-se apenas nessa direção.

Para melhor o compreendermos, temos que ter presente a de intermediários para as novas posições que serão assumidas a partir da década de 20, inaugurando o Modernismo.

No Brasil, esse início se seu com a publicação, no mesmo ano (1893), dos livros Missal e Broqueis, de autoria de Cruz e Souza, nosso melhor poeta simbolista.

Nos dois países ( Portugal / Brasil), considera-se geralmente que o início dos respectivos movimentos modernistas representou o surgimento de novas alternativas literárias: 1915, em Portugal e 1922, no Brasil. a crítica literária brasileira por vezes opta pela escolha do ano de 1902 para demarcar o fim da era parnasiano-simbolista, porque foi então que se deu a publicação do livro Os sertões, de Euclides da Cunha, representativo de um nova preocupação social que, ausente nos estilos anteriores, passaria a dominar a literatura nacional.

A Poesia

Contrariamente aos preceitos realistas, a poesia do Simbolismo valorizou o subjetivismo e o inconsciente, tornando-se um meio de sondagem do mundo interior do “eu”lírico. Essa introspecção gerou caminhos diversos nos muitos poetas simbolistas, levando tanto a um intimismo saudosista, à expressão dos desencontros da vida como à angústia diante do destino e da morte.

Na linguagem, os simbolistas abandonaram o vocabulário filosófico dos realistas e utilizaram-se abundantemente das metáforas inusitadas, dos termos “sugestivos “, das analogias, das sinestesias. Ao tom incisivo do Realismo opuseram a musicalidade, mais adequada à expressão dos vários matizes da vida psicológica. Essas características subjetivas, que, por vezes, deságuam num sentimentalismo de mau gosto, marcaram também a prosa da época.

Dentre os numerosos poetas de tendências simbolistas, devem ser mencionados Camilo Pessanha, Eugênio de Castro ( cuja obra O aristos assinala, em 1890, o início do Simbolismo português ), Antônio Nobre, Florbela Espanca e Teixeira de Pascoaes.

A prosa de ficção

Embora as características típicas do Simbolismo privilegiassem a poesia como meio de expressão mais adequado, a prosa também foi bastante cultivada nesse período e, ainda que com menor intensidade, revela influências do subjetivismo e do espiritualismo dominante nos poetas.

Sem deixar de considerar o contexto social, os ficcionistas, entretanto, analisaram suas personagens de modo bem mais pessoal e introspectivo do que o fizeram os realistas. Mergulhando no interior do ser humano, daí extraíram dramas de consciência e angústias existenciais que geraram páginas de grande densidade psicológica, traço que vai influenciar a geração dos prosadores modernos.

A linguagem ganha em plasticidade e, não raro, os limites entre prosa e poesia não serão facilmente identificados em obras de autores dessa época, dentre os quais merecem citação Raul Brandão, Teixeira Gomes, Carlos Malheiro Dias, Antero de Figueiredo, entre outros.

Outros gêneros

O teatro não acompanhou a riqueza da prosa e da poesia, e daqueles que se dedicaram a escrever obras para o palco, o único que se tornou mais conhecido foi Júlio Dantas (1876-1962) e, mesmo assim, em função apenas de uma obra sentimental : A Ceia dos cardeais, de 1902.

Por outro lado, a cultura portuguesa viu-se enriquecida com o surgimento de uma geração de críticos e historiadores importantes, como Antônio Sérgio e Fidelino de Figueiredo.

Características

A literatura simbolista surgiu, em parte, como reação ao espírito racionalista e cientificista do Realismo-Naturalismo e do Parnasianismo. Nesse sentido, seguindo correntes filosóficas e artísticas de sua época, negou o poder absoluto de explicação do mundo que se atribuía àquele espírito, fundamentando sua arte na rejeição do racionalismo e do cientificismo.

O espiritismo funcionava, assim, como forma de abordagem de um mundo que se supunha existir para além da realidade visível e concreta. No Brasil, o vocabulário litúrgico ( isto é, repleto de referências a celebrações religiosas ) foi largamente usado como expressão dessa espiritualidade.

Os objetos, as figuras humanas, enfim toda a realidade era focalizada através de imagens vagas e imprecisas, que propositadamente dificultavam sua compreensão e interpretação.

A inovação na combinação de expressões conhecidas conduziu naturalmente os simbolistas à criação de neologismos, isto é,novas palavras.

Os procedimentos técnicos mais ligados ao Simbolismo são a sinestesia e a musicalidade.

A sinestesia corresponde à mistura de sensações, provocada exatamente para acionar no leitor uma série de sentidos: “Tardes como músicas de violinos ” ( Emiliano Perneta ).

A musicalidade é obtida com a exploração da camada sonora dos vocábulos. A poesia desenvolveu, desde o final da época trovadoresca, formas particulares de obtenção da sonoridade, que sempre foram utilizadas.

A musicalidade está presente na estética simbolista em dois procedimentos básicos: a aliteração (repetição de consoantes: “Fujamos, flor ! à flor destes floridos fenos. “- Eugênio de Castro) e a assonância ( repetição de vogais: “amarguras do fundo das sepulturas”- Cruz e Souza ).

Autores

PORTUGAL

Camilo Pessanha
Eugênio de Castro
Antônio Nobre

BRASIL

Cruz e Souza
Alphonsus de Guimaraens

Simbolismo – Movimento

O Simbolismo foi um movimento que se desenvolve nas artes plásticas, na literatura e no teatro no fim do século XIX. Surgido na França, depois se espalha pela Europa e chega ao Brasil. Caracteriza-se por subjetivismo, individualismo e misticismo. Rejeita a abordagem da realidade e a valorização do social feitas pelo Realismo e pelo Naturalismo. Palavras e personagens possuem significados simbólicos.

O poeta francês Charles Baudelaire é considerado precursor do Simbolismo por sua obra As Flores do Mal, de 1857. Mas só em 1881 a nova manifestação é rotulada, com o nome Decadentismo, substituído por Simbolismo em manifesto publicado em 1886.

Para os simbolistas, a arte deve ser uma síntese entre a percepção dos sentidos e a reflexão intelectual. Buscam revelar o outro lado da mera aparência do real.

Em muitas obras enfatizam a pureza e a espiritualidade dos personagens. Em outras, a perversão e a maldade do mundo. A atração pela ingenuidade faz com que vários artistas se interessem pelo primitivismo. Entre os representantes do movimento estão os franceses Gustave Moreau (1826-1898) e Odilon Redon (1840-1916). Paul Gauguin também passa por uma fase simbolista. A partir de 1890, o Simbolismo difunde-se por toda a Europa e pelo resto do mundo.

Na Áustria ganha a interpretação pessoal do pintor Gustav Klimt (1862-1918). O norueguês Edvard Munch concilia os princípios simbolistas a uma expressão trágica que depois faz dele representante do Expressionismo. Na França destacam-se os pintores Maurice Denis (1870-1943) e Paul Sérusier (1864-1927), além do escultor Aristide Maillol (1861-1944).

A literatura manifesta-se na poesia, com versos que exploram a sonoridade. As obras usam símbolos para sugerir objetos, por exemplo, a cruz para falar de sofrimento. Também rejeita as formas rígidas do Parnasianismo. Difere do Romantismo pela expressão da subjetividade ausente de sentimentalismo.

Os principais expoentes na França são Paul Verlaine, Arthur Rimbaud e Stéphane Mallarmé. Em Portugal sobressaem Eugênio de Castro (1869-1944), autor de Oaristos, Antônio Nobre (1867-1900), que escreve Só, e Camilo Pessanha (1867-1926), autor de Clépsidra.

Como o movimento rejeita a abordagem da vida real, no palco os personagens não são humanos. Constituem a representação de idéias e sentimentos. A forte relação com os impressionistas faz com que o som, a luz, a cor e o movimento tenham destaque nas encenações.

Um dos principais textos teatrais é Pelléas et Mélisande, do belga Maurice Maeterlinck (1862-1949). Em cena, os personagens materializam expressões poéticas sobre a brevidade e a falta de sentido da vida.

Outros dramaturgos importantes são o italiano Gabriele D”Annunzio; o norueguês Henrik Ibsen; na fase final de sua carreira; o irlandês William Yeats; e os portugueses João da Câmara (1852-1908) e Raul Brandão (1867-1930).

No Brasil, nas artes plásticas, o movimento influencia parte das pinturas de Eliseo Visconti e Lucílio de Albuquerque (1877-1939). É muito marcante nas obras de caráter onírico de Alvim Correa (1876-1910) e Helios Seelinger (1878-1965).

Na literatura, o primeiro manifesto simbolista é publicado em 1891, no jornal Folha Popular. As primeiras obras literárias são Missal e Broquéis (1863), de Cruz e Souza. O autor aborda mistérios da vida e da morte com uma linguagem rica, marcada pela musicalidade. Outro representante do movimento é Alphonsus de Guimaraens (1870-1921), autor de Câmara Ardente e Kiriale, cuja poesia é marcada pela religiosidade e pela melancolia.

O teatro simbolista começa a ser escrito e encenado no início do século XX. A produção de textos é pequena. Falam da sociedade carioca da época. Os principais dramaturgos são Roberto Gomes (1882-1922), que escreve O Canto sem Palavras e Berenice, e Paulo Barreto (1881-1921), autor de Eva. Em 1933, Paulo Magalhães (1900-1972) monta A Comédia do Coração, que põe no palco personagens simbólicos, como Dor, Paixão e Ciúme.

Distantes da preocupação com a realidade brasileira, mas muito identificados com a arte moderna e inspirados pelo Dadá, estão os pintores Ismael Nery e Flávio de Carvalho (1899-1973). Na pintura merecem destaque ainda Regina Graz (1897-1973), John Graz (1891-1980), Cícero Dias (1908-) e Vicente do Rego Monteiro (1899-1970).

Di Cavalcanti retrata a população brasileira, sobretudo as classes sociais menos favorecidas. Mescla elementos realistas, cubistas e futuristas, como em Cinco Moças de Guaratinguetá. Outro artista modernista dedicado a representar o homem do povo é Candido Portinari, que recebe influência do Expressionismo. Entre seus trabalhos importantes estão as telas Café e Os Retirantes.

Os autores mais importantes são: Oswald de Andrade e Mário de Andrade, os principais teóricos do movimento.

Destacam-se ainda Menotti del Picchia e Graça Aranha (1868-1931). Oswald de Andrade várias vezes mescla poesia e prosa, como em Serafim Ponte Grande. Outra de suas grandes obras é Pau-Brasil. O primeiro trabalho modernista de Mário de Andrade é o livro de poemas Paulicéia Desvairada. Sua obra-prima é o romance Macunaíma, que usa fragmentos de mitos de diferentes culturas para compor uma imagem de unidade nacional. Embora muito ligada ao simbolismo, a poesia de Manuel Bandeira também exibe traços modernistas, como em Libertinagem.

Heitor Villa-Lobos é o principal compositor no Brasil e consolida a linguagem musical nacionalista. Para dar às criações um caráter brasileiro, busca inspiração no folclore e incorpora elementos das melodias populares e indígenas. O canto de pássaros brasileiros aparece em Bachianas Nº 4 e Nº 7. Em O Trenzinho Caipira, Villa-Lobos reproduz a sonoridade de uma maria-fumaça e, em Choros Nº 8, busca imitar o som de pessoas numa rua. Nos anos 30 e 40, sua estética serve de modelo para compositores como Francisco Mignone (1897-1986), Lorenzo Fernandez (1897-1948), Radamés Gnattali (1906-1988) e Camargo Guarnieri (1907-1993).

Ainda na década de 20 são fundadas as primeiras companhias de teatro no país, em torno de atores como Leopoldo Fróes (1882-1932), Procópio Ferreira (1898-1979), Dulcina de Moraes (1908-1996) e Jaime Costa (1897-1967). Defendem uma dicção brasileira para os atores, até então submetidos ao sotaque e à forma de falar de Portugal. Também inovam ao incluir textos estrangeiros com maior ousadia psicológica e visão mais complexa do ser humano.

Simbolismo – O que é

Entende-se aqui por Simbolismo, não o conjunto de manifestações espiritualistas do último quartel do séc. XIX e o primeiro quartel do séc. XX (como têm entendido alguns), mas, num sentido mais especificamente histórico-literário, uma escola ou corrente poética (incluindo a poesia em prosa e a poesia teatral), que se afirma sobretudo entre 1890 e 1915 e que se define por um conjunto de aspectos, aliás variáveis de autor para autor, que dizem respeito às atitudes perante a vida, à concepção da arte literária, aos motivos e ao estilo. Sem dúvida esta corrente literária insere-se na atmosfera mental, antipositivista, de fins do séc. XIX; mas certos caracteres de técnica literária, de forma, são inerentes ao conceito de Simbolismo aqui adoptado.

Entretanto, há ainda um conceito mais restrito: o daqueles que, tomando como pontos de referência paradigmáticos Mallarmé e Claudel, definem o Simbolismo pela busca obstinada duma verdade metafísica, demanda cujo instrumento de descoberta seria o símbolo.

Com efeito, se teimássemos em definir o Simbolismo tão-só pela visão do Universo como teia de analogias, floresta de misteriosas «correspondências» (na acepção baudelairiana) que o poeta se propõe desvendar, então não teria havido Simbolismo autêntico em Portugal: os poetas portugueses dessa época ter-se-iam limitado a copiar grosseiramente gestos cujo sentido profundo não alcançavam. Mas os próprios autores considerados representantes do Simbolismo francês, de que o nosso deriva (Baudelaire, Rimbaud, Verlaine, Mallarmé, Laforgue, Régnier, A. Samain, Valéry, etc.), seguiram caminhos divergentes, a ponto de Johansen afirmar que discordavam uns dos outros em quase tudo excepto quanto à existência dum ideal em poesia e na aguda consciência do estilo.

Tendo em conta os aspectos inovadores que dão à poesia portuguesa, no período atrás indicado, certa fisionomia comum, serão simbolistas os poetas que participam de todas, ou quase todas, as seguintes características: revivescência do gosto romântico do vago, do nebuloso, do impalpável; amor da paisagem esfumada e melancólica, outoniça ou crepuscular; visão pessimista da existência, cuja efemeridade é dolorosamente sentida; temática do tédio e da desilusão; distanciamento do Real, egotismo aristocrático, e subtil análise de cambiantes sensoriais e afectivos; repúdio do lirismo de confissão directa, ao modo romântico, expansivo e oratório, e preferência pela sugestão indecisa de estados de alma abstraídos do contexto biográfico, impersonalizados; mercê de fina e vigilante inteligência estética (sob dado ângulo, os simbolistas são os herdeiros do Parnasianismo pelo exigente culto da Beleza e pelo papel atribuído à vontade na realização do poema), combinação muito hábil de «inspiração» (abandono aos acenos do inconsciente, às associações espontâneas) e «lucidez» (comando e aproveitamento desses elementos irracionais), com resultados inteiramente novos em poesia; larga utilização, não só do símbolo tipicamente simbolista, polivalente e intraduzível, mas da alegoria, da imagem a que deliberada e claramente se confere um valor simbólico, da comparação expressa ou implícita, da sinestesia (sobreposição de sensações, como «som branco», etc.), da imagem simplesmente decorativa; linguagem concreta ou mesmo impressionista, na medida em que o estado de alma se comunica através de imagens fragmentárias da Natureza exterior, ou impregna de elementos anímicos a paisagem que descreve (ocorre falar aqui de panteísmo, de pampsiquismo); carácter fugaz, dinâmico, da imagem, pronta a dissolver-se na tonalidade afectiva e no fluir musical do poema; musicalidade que não se reduz ao jogo de sonoridades do verso, antes, como observa Marcel Raymond, se prolonga em ressonância interior até para além da leitura do texto; libertação de ritmos; vocabulário rico de palavras complexamente evocativas, ou graças à própria expressividade fonética, ou mediante um jogo subtil de incidências dumas palavras sobre as outras (lição de Mallarmé: «rendre un sens plus pur aux mots de la tribu»).

Outros caracteres da poesia entre 1890 e 1915 serão acidentais, ou acessórios, ou de cunho mais precisamente «decadentista»; assim o gosto dos cenários exóticos, luxuosos, que vem dos parnasianos, o amor das fulgurações barrocas e dos malabarismos rítmicos – típicos sobretudo de E. de Castro e discípulos menores.

Admitido este conceito de Simbolismo, não será difícil averiguar os sinais precursores do movimento em Portugal. Por um lado, o Simbolismo radica num espiritualismo, numa ânsia de absoluto, cujo reverso é o ódio a este mundo vulgar e tangível, o tédio, a desistência, um pessimismo haurido nomeadamente em Schopenhauer – e tudo isto se descobre nos sonetos de Antero de Quental, ora confiado num optimismo metafísico, ora niilista, taciturno, suspeitoso de que, para além das formas transitórias, há apenas um «vácuo tenebroso», o abismo do Não-Ser. […]

Fonte: literarydevices.net/www.conhecimentosgerais.com.br/www.itaucultural.org.br/www.geocities.com/www.profabeatriz.hpg.ig.com.br

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