Teseu

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Teseu

TESEU E O MINOTAURO

Teseu era filho do rei ateniense Egeu. Ele passou a juventude na terra natal de sua mãe, no sul da Grécia.

Anos antes de Teseu ir para Atenas, uma tragédia terrível havia abalado aquela cidade. Mino, o poderoso ditador de Creta, havia perdido seu único filho, quando o jovem se encontrava em Atenas. Como vingança, Mino invadiu o país, sitiou Atenas, e declarou que destruiria completamente a cidade, a menos que a cada nove anos, sete donzelas e sete moços fossem oferecidos a ele, em tributo. Um destino assustador aguardava essas pobres criaturas. Quando chegavam a Creta, eles eram dados ao Minotauro para que os devorassem.

O Minotauro era um monstro, metade touro, metade homem, fruto do relacionamento da esposa de Mino, Pasifae, com um touro extremamente bonito. Possêidon havia dado o tal touro a Mino, para que ele o sacrificasse em sua homenagem, mas Mino não suportou sacrificá-lo e ficou com o animal. Para puni-lo, Possêidon fez com que Pasifae se apaixonasse perdidamente pelo touro.

Quando o Minotauro nasceu, Mino não o matou. Ele pediu a Dédalo, um grande arquiteto e inventor, que construísse um lugar onde o Minotauro pudesse ficar aprisionado e de onde nunca escaparia. Dédalo construiu, então, o Labirinto, que se tornou conhecido em todo o mundo.

Uma vez dentro do Labirinto, uma pessoa poderia andar exaustivamente pelos caminhos cheios de voltas, sem nunca encontrar a saída. Os jovens atenienses eram levados para esse lugar e abandonados diante do Minotauro. Não havia como escapar.

Em qualquer direção que corressem, eles poderiam estar indo exatamente em direção ao monstro; se ficassem parados, a qualquer momento o Minotauro poderia emergir do meio do labirinto.

Era essa a sentença que aguardava 14 moços e donzelas alguns dias antes de Teseu desembarcar em Atenas. Havia chegado a época de pagar novo tributo.

Imediatamente Teseu apresentou-se e se ofereceu para ser uma das vítimas. Todos gostavam dele por causa de sua bondade e o admiravam por sua nobreza, mas não sabiam que ele pretendia matar o Minotauro.

Teseu prometeu a seu pai que se seu plano desse certo, ele trocaria as velas pretas (que o navio geralmente carregava em sinal de luto pelos jovens que eram levados à Creta) por outras, de cor branca, para que Egeu soubesse com antecedência que o filho dele estava a salvo.

Quando as jovens vítimas chegaram em Creta, desfilaram diante dos habitantes da ilha, a caminho do Labirinto. A filha de Mino, Ariadne, estava entre os espectadores e se apaixonou por Teseu assim que o viu. Ela procurou Dédalo e lhe disse que precisava saber o que uma pessoa deveria fazer para conseguir sair do Labirinto. Então Ariadne procurou Teseu e disse que o ajudaria a escapar, caso ele prometesse levá-la de volta para Atenas e casar-se com ela.

Como era de se esperar, ele não recusou a proposta, e Ariadne deu a ele a dica que tinha conseguido com Dédalo: um novelo de linha, que ele deveria amarrar em uma saída, no lado de dentro da porta, e ir desenrolando à medida que fosse caminhando.

Foi o que ele fez e, certo de que seria capaz de voltar pelo mesmo caminho quando quisesse, percorreu o Labirinto, confiante, procurando pelo Minotauro. Teseu encontrou o Minotauro dormindo e o atacou, imobilizando-o no chão e – não tendo outra arma – espancou o monstro com suas mãos até a morte.

Como um carvalho que cai em uma encosta
Esmagando tudo o que encontra ao seu redor
Assim é Teseu. Ele retira lentamente a vida
A vida cruel de um animal, agora preso à morte
A cabeça deslizando no chão e os chifres sem utilidade alguma.

Quando Teseu se levantou daquela grande luta, o novelo de linha estava no mesmo lugar onde ele o havia deixado. Com o novelo em suas mãos, o caminho era claro. Os outros acompanharam tudo e, levando com eles Ariadne, abandonaram a ilha e embarcaram no navio, rumo a Atenas.

No caminho para Atenas, eles atracaram na ilha de Naxos, e o que aconteceu, então, é contado de diferentes maneiras. Uma das versões diz que Teseu abandonou Ariadne. Ela dormiu e ele foi embora sem ela, mas o deus Dionísio a encontrou e a confortou.

A outra versão é bem mais favorável a Teseu. Ariadne estava com muito enjôo por causa do movimento do mar, e ele a deixou na beira da praia para que ela pudesse se recuperar, enquanto voltou ao barco para fazer alguns reparos. Um vento muito violento carregou o barco para o mar e o manteve lá por bastante tempo. Quando Teseu voltou, encontrou Ariadne morta, e ficou completamente desesperado.

As duas histórias concordam na versão do acontecido quando eles se aproximaram de Atenas.

Teseu se esqueceu de erguer a vela branca. Ou sua alegria por causa do sucesso ou sua tristeza por Ariadne fizeram com que ele se esquecesse de todas as outras coisas. A vela de cor preta foi vista por seu pai, o Rei Egeu, da Acrópole, de onde ele tinha observado o mar por vários dias, com as vistas já cansadas.

Para ele, aquele era o sinal de que seu filho estava morto, e ele se lançou de uma elevado rochedo no mar e morreu. Desde então, o mar no qual ele caiu foi chamado de Egeu.

Teseu se tornou, então, o rei de Atenas, e foi o mais sábio e o mais desinteressado dos reis.

Fonte: www.letras.ufmg.br

Teseu

Quanto à genalogia do herói ateniense observa-se em suas veias o sangue divino de três deuses: descende longinquamente de Zeus, está “bem mais próximo” de Hefesto e é filho de Posídon.

Herói essencialmente de Atenas, Teseu é o Héracles da Ática. Tendo vivido, consoante os mitógrafos, uma geração antes da Guerra de Tróia, dois de seus filhos, Demofoonte e Ácamas, participaram da mesma.

Bem mais jovem que o filho de Alcmena, foi-lhe, no entanto, associado em duas grandes expedições coletivas: a busca do Velocino de Ouro e a guerra contra as Amazonas.

Nascimento

Como todo herói, “o filho de Posídon” teve uma origem deveras complicada. Segundo o mito, Egeu, rei de Atenas, não conseguindo ter um filho com várias esposas sucessivas, dirigiu-se a Delfos para consultar Apolo. A Pítia respondeu-lhe com um oráculo tipicamente ‘Lóxias’, proibindo-lhe “desatar a boca do odre antes de chegar a Atenas”.

Não tendo conseguido decifrar o enigma, Egeu decidiu passar por Trezena, cidade da Argólida, onde reinava o sábio Piteu. Foi no decorrer do percurso Delfos-trezena que o rei de Atenas aportou em Corinto, exatamente no momento em que Medéia, no relato de Eurípedes, Medéia, já decidida a matar Creonte, a princesa Creúsa e os próprios filhos, mas sem saber para onde fugir, resolveu tomar a decisão tremenda.

É que tendo recebido do rei de Atenas a promessa de asilo, em troca de “fazê-lo gerar uma descendência, por meio de determinados filtros”, a desventurada esposa de Jasão encontrou, afinal, a saída tão ansiosamente esperada.

Eis suas palavras de júbilo, após o juramento do soberano da cidade de Palas Atena:

Oh Zeus, ó Justiça de Zeus, ó luz de Hélio! Agora, amigas, bela vitória teremos sobre meus inimigos, e já estamos a caminho.

Agora tenho esperança de que meus adversários serão castigados: este homem surgiu quando estávamos a ponto de naufragar, como porto seguro de minhas resoluções, porto em que ataremos as cordas da popa, quando chegarmos à cidade e à acrópole de Palas.

Egeu haveria de lamentar, um pouco mais tarde, como se verá, o asilo inviolável prometido à mágica da Cólquida.

De Corinto o rei de Atenas navegou diretamente para Trezena. Piteu, após ouvir a recomendação da Pítia, compreendeu-lhe, de imediato, a mensagem. Embriagou o hóspede e, mandando levá-lo para o leito, pôs junto dele sua filha Etra.

Acontece, todavia, que na mesma noite em que passara ao lado do rei de Atenas, a princesa tivera um sonho: aparecera-lhe Atena, ordenando-lhe que fosse a uma ilha bem próxima do palácio real, a fim de oferecer-lhe um sacrifício. Ali lhe surgiu pela frente o deus Posídon, que fez dela sua mulher. Foi desse encontro, nas horas caladas da noite, que Etra ficou grávida de Teseu, que o rei de Atenas sempre pensou tratar-se de um filho seu.

Temendo seus sobrinhos, os palântidas, que lhe disputavam a sucessão, o rei, após o nascimento de Teseu, se preparou para retornar a Atenas, deixando o filho aos cuidados do avô, o sábrio Piteu e a um grande pedagogo, Cônidas, ao qual os atenienses, à época histórica, sacrificavam um carneiro, às vésperas das (Theseîa), festas solenes em honra de Teseu.

Antes de partir, entretanto, escondeu ritualmente, sob enorme rochedo, sua espada e sandálias, recomendando a Etra que, tão logo o menino alcançasse a adolescência, se fosse suficientemente forte para erguer a rocha, retirasse os objetos escondidos e o procurasse em Atenas.

P. Diel oferece, ao nosso ver, magnífica interpretação dessa primeira prova iniciática a que será submetido o furuto soberano da Ática.

Depois de ponderar que, como filho de Posídon, no plano mítico, Teseu percorria o roteiro trágico de todo herói, afirma o mestre francês:

“Teseu não seria, por conseguinte, um herói, se porventura sucumbisse sem lutar, se não tivesse uma firme disposição espiritual, se o espírito, sob forma positiva, não fosse igualmente seu pai mítico. Lega a seu filho as insígnias da sublimidade e da espiritualidade.

Obrigado a retornar a Atenas, esconde sob um rochedo sua espada (a arma do herói, combatente espiritual) e suas sandálias (cuja função, na marcha através da vida, é “armar”, proteger o pé, símbolo da alma).

Atingida a adolescência, Teseu se mostrou capaz de seguir o apelo do espírito. O entusiasmo da juventude lhe assegurou força suficiente para erguer a rocha, configuração do peso esmagador da terra (desejo telúrico). Empunhou a espada, calçou as sandálias e foi ao encontro do pai, seu “pai corporal” e igualmente seu pai mítico. O herói partiu em busca do espírito”.

Na realidade, tãologo atingiu a adolescência, após oferecer, segundo o costume, parte de seu cabelo a Apolo, em Delfos, o jovem foi informado por Etra do segredo de seu nascimento e do esconderijo das sandálias e da espada paterna. Sem dificuldade alguma, como Artur ou Sigmund, que arrancavam sua Nothung, a (espada) “necessária”, de uma pedra ou de uma árvore, o herói ateniense ergueu a rocha e retirou os objetos “necessários” para as provas que iriam começar.

Aconselhado pela mãe e pelo avô a dirigir-se a Atenas por mar, Teseu preferiu a rota terrestre, ao longo do Istmo de Corinto, infestado de bandidos, uma vez que, com o exílio de Héracles na Lídia, junto a Ônfale, salteadores e facínoras até então camuflados, haviam retomado suas atividades. Competia, pois, ao herói ático reiniciar a luta para “libertar-se” e libertar a Grécia de tantos monstros.

A Caminho de Atenas

O primeiro grande encontro foi com Perifetes, um malfeitor cruel, filho de Hefesto e Anticléia. Coxo, apoiava-se numa muleta ou clava de bronze com que atacava os peregrinos que se dirigiam a Epidauro.

Teseu o matou e fez da clava uma arma terrível na eliminação de tantos outros bandidos que encontraria pela vida.

Comentando esta primeira vitória do filho de Posídon, Paul Diel faz uma observação deveras interessante: “esta arma simbólica, a maça de Perifetes, está destinada a exercer uma função precisa na história de Teseu. É necessário lembrar que o esmagamento sob o peso da terra, de que a clava é uma forma de expressão, pode significar tanto a ruína devida à perversidade quanto sua punição legal.

A maça na mão do criminoso é a configuração da perversidade destruidora; manejada pelo herói, converte-se em símbolo da destruição e da perversidade. De posse da arma do malfeitor, Teseu a usará com mais frequência que a espada recebida de Egeu.

A clava de Perifetes, porém, não poderá jamais substituir legitimamente a arma “outorgada pela divindade”. Embora nas mãos de um herói, ela continua a ser uma transformação da brutalidade. A troca de arma é o primeiro sinal de uma transformação secreta que toma corpo na atitude do filho de Etra.

A vitória sobre o assassino de Epidauro traduz a advertência ainda latente de que a ligação filial com Posídon não tardará a manifestar-se. De outro lado, também Perifetes é filho de Posídon. Teseu vence e mata, por conseguinte, seu irmão mítico e simbólico; triunfa de seu próprio perigo, mas sua vitória permanece incompleta. Apossando-se da arma do assassino, prepara-se para exercer o papel do vencido.

A vitória sobre Pefifetes, como o próprio nome indica, é a peripécia da vida de Teseu: esse triunfo marca o princípio da ruína do herói.

O sengundo encontro vitorioso do filho de Etra foi com o perigoso e cruel gigante Sínis que, com músculos de aço, vergava o tronco de um pinheiro até o solo e obrigava os que lhe caíam nas mãos a mantê-lo neste estado.

Vencidos pela retração violenta da árvore, os infelizes eram lançados a grande distância, caindo despedaçãdos. Não raro, Sínis vergava duas árvores de uma só vez e amarrava a cabeça do condenado à copa de uma delas e os pés à outra, fazendo a vítima dilacerar-se.

Submetido à primeira prova, Teseu vergou o pinheiro com tanta força, que lhe quebrou o tronco; e depois subjugou Sínis, amarrou-o e o submeteu à segunda prova, despedaçando-o no ar.

Em honra do arqueador de pinheiros, como lhe chama Aristóteles, que era igualmente filho de Posídon, Teseu teria instituído os Jogos Istmicos, considerados como os agônes fúnebres de Sínis.

Acrescente-se que ssa personagem tinha uma filha, chamada Perigune, que se escondera numa plantação de aspargo, enquanto seu pai lutava com Teseu.

Unindo-se, depois, ao herói ateniense, foi mãe de Melanipo, que, por sua vez, foi pai de Ioxo, cujos descendentes tinham devoção particular pelos aspargos, aos quais, afinal das contas, deviam o fato de “ter nascido”.

Prosseguindo em sua caminhada, o jovem herói enfrentou a monstruosa e antropófaga Porca de Crômion, filha de Tifão e Équidna e que se chamava Féia, nome de uma velha bruxa que a criara e alimentava. O filho de Egeu a eliminou com um golpe de espada.

Consoante Chevalier e Gheerbrant, a Porca é o símbolo da fecundidade e da abundância, rivalizando, sob esse aspecto, com a vaca. Divindade selênica, a Porca é a mãe de todos os astros, que ela devora e devolve alternadamente, se são diurnos ou noturnos, para permitir-lhes viajar pela abóbada celeste.

Desse modo, engole as estrelas, ao aproximar-se a aurora e as pare novamente ao crepúsculo, agindo de maneira inversa com seu filho,o sol. Vítima predileta de Deméter, a Porca simboliza o princípio feminino, reduzido à sua única prerrogativa de reprodução.

No caso em pauta, a Porca de Crômion configura o princípio feminino devorador.

Tendo chegado às Rochas Cirônicas, Teseu enfrentou o assassino e perverso Cirão. Filho de Pélops ou Posídon, segundo alguns mitógrafos, instalou-se estrategicamente à beira-mar, nas terras de Mégara, nos denominados Rochedos Cirônicos, por onde passava a estrada, ladeando a costa; obrigava os transeuntes a lavarem-lhe os pés e depois os precipitava no mar, onde eram devorados por monstruosa tartaruga.

Teseu, em vez de lavar-lhe os pés, o enfrentou vitoriosamente e jogou-lhe o cadáver nas ondas, para ser devorado pela tartaruga gigante.

Existe uma variante, segundo a qual Cirão era filho não de Pélops ou Posídon, mas de Caneto e Heníoque, filha de Piteu. Nesse caso, Cirão e Teseu eram primos germanos. Supunha-se por isso mesmo, que, para expiar esse crime, Teseu fundara, não em honra de Sínis, mas em memória do primo, os Jogos Ístmicos.

Para Paul Diel, Cirão é um símbolo muito forte: “Esse gigante monstruoso obrigava os que lhe caíam às mãos, os viajantes (da vida), a lavar-lhe os pés, isto é, forçava-os à servidão humilhante, na qual a banalização mantém os vencidos.

O homem, escravo da banalização, é forçado a servir ao corpo, e a exigência de Cirão simboliza esta servidão em seu aspecto mais humilhante. “Lavar os pés” é um símbolo de purificação. Mas esse ato de purificar a alma morta do monstro banal (banalização – morte da alma), em vez de significar uma autopurificação, vale apenas como um trabalho insensato, simples pretexto para eliminação da vítima.

O monstro (a banalização), sentado no topo de um rochedo, enquanto sua infeliz vítima está absorvida na tarefa humilhante, precipita-a no abismo do mar profundo, onde está devorada por gigantesca tartaruga. O rochedo e os abismos marinhos são símbolos já suficientemnte explicados. Quanto à tartaruga, seu traço mais característico é a lentidão de movimentos.

Imaginada como monstruosa e devoradora, retrata o aspecto que é inseparável da agitação banalmente ambiciosa: o amortecimento de qualquer aspiração”.

A quinta e arriscada tarefa de Teseu foi a luta com o sanguinário Damastes ou Polipêmon, apelidado Procrusto, isto é, “aquele que estica”.

O criminoso assassino usava de uma “técnica” singular com suas vítimas: deitava-as em um dos dois leitos de ferro que possuía, cortando os pés dos que ultrapassavam a cama pequena ou distendia violentamente as pernas dos que não preenchiam o comprimento do leito maior.

O herói ático deu-lhe combate e o matou, preparando-se par a sexta vitória contra o herói eleusino Cércion, filho de Posídon ou de Hefesto e de uma filha de Anfíction. O gigante de Elêusis obrigava os transeuntes a lutarem com ele e, dotado de força gigantesca, sempre os vencia e matava.

Teseu o enfrentou: levantou-o no ar e, lançando-o violentamente no solo, o esmagou.

Cércion é apenas mais um primo liquidado por Teseu, mas Procrusto merece um ligeiro comentário: reduzindo suas vítimas às dimensões que desejava, o “monstro de Elêusis” simboliza “a banalização, a redução da alma a um acerta medida convencional”. Trata-se, no fundo, como asseveram, com propriedade, Chevalier e Gheerbrant, da perversão do ideal em conformismo.

Procrusto configura a tirania ética e intelectual exercida por pessoas que não toleram e nem aceitam as ações e os julgamentos alheios, a não ser para concordar. Temos, assim, nessa personagem sanguinária, a imagem do poder absoluto, quer se trate de um homem, de um partido ou de um regime político.

Vencida a primeira etapa, derrotados os monstros que a ele se opuseram, do Istmo de Corinto a Elêusis, o herói chegou aos arredores de Atenas. Com tanto sangue parental derramado, Teseu dirigiu-se para as margens do rio Cefiso, o pai de Narciso, onde foi purificado pelos Fitálidas, os ilustres descendents de um herói epônimo ateniense, Fítalo.

Coberto com uma luxuosa túnica branca e com cabelos cuidadosamente penteados, o herói foi posto em ridículo por alguns pedreiros que trabalhavam no templo de Apolo Delfínio. Sem dizer palavra, Teseu ergueu um carro de bois e atirou-o contra os operários.

Feito isso, penetrou incógnito na sede de seu futuro reino, mas, apesar de não se ter identificado, precedia-o uma grande reputação de destruidor de monstros, pelo que o rei temeu por sua segurança, pois que Atenas vivia dias confusos e difíceis.

Medéia, que se exilara na cidade, com o fito de dar a Egeu uma “bela descendência”, fizera uso de filtros diferentes: casara-se com o rei e propriamente se apossara das rédeas do governo.

Percebendo logo de quem se tratava, a mágica da Cólquida, se dar conhecimento a Egeu de quanto sabia, mas, pelo contrário, procurando alimentar-lhe o medo com uma rede de intrigas em torno do recém-chegado, facilmente o convenceu a eliminar o “perigoso estrangeiro”, durante um banquete que lhe seria oferecido.

Com pleno assentimento do marido, Medéia preparou uma taça de veneno e colocou-a no lugar reservado ao hóspede.

Teseu, que ignorava a perfídia da madrasta, mas querendo dar-se a conhecer de uma vez ao pai, puxou da espada, como se fosse para cortar a carne, e foi, de imediato, reconhecido por Egeu. Este entornou o veneno preparado pela esposa, abraçou o filho diante de todos os convivas e proclamou-o seu sucessor.

Quanto a Medéia, após ser repudiada publicamente, mas uma vez foi execrada e exilada, dessa feita para a Cólquida.

Existe uma variante, certamente devida aos trágicos, no que se refere ao reconhecimento de Teseu pelo pai. Conta-se que, antes de tentar o envenenamento do enteado, Medéia o mandou capturar o touro gigantesco que assoalva a planície de Maratona e que não era outro senão o célebre Touro de Creta, objeto do sétimo trabalho de Héracles.

Apesar da ferocidade do animal, que lançava chamas pelas narinas, o herói o capturou e, trazendo-o peado para Atenas, ofereceu-o em sacrifício a Apolo Delfínio. Ao puxar a espada para cortar os pêlos da fronte do animal, com estipulavam os ritos de consagração, foi reconhecido pelo pai.

O episódio da captura do Touro de Maratona é significativo para Diel: capturando e matando o animal, símbolo da dominação perversa, Teseu dá provas de que pode governar e, por isso mesmo, é convidado a compartilhar do trono com Egeu, “seu pai corporal, símbolo do espírito”.

Foi durante a caçada desse touro que se passou a estória de Hécale. Hécale era uma anciã, que habitava o campo e teve a honra de hospedar o herói na noite que precedeu a caçada ao Touro de Maratona. Havia prometido oferecer um sacrifício a Zeus, se Teseuregressasse vitorioso de tão arrojada empresa. Ao retornar, tendo-a encontrado morta, o filho de Egeu instituiu em sua honra um culto a Zeus Hacalésio.

Se bem que marcado, aliás como todo herói, pela Hýbris e por um índice normal de enfraquecimento, Teseu, com a captura e morte do Touro de Maratona, provará dentro em breve a todos os seus súditos que a força que subsiste nele resulta de sua timé e areté, vale dizer, de sua ascendência divina.

Com o espírito bem armado e a alma protegida, o filho de Posídon soube e saberá, graças à inocência de sua juventude, ultrapassar todas as barreiras que ameaçavam barrar-lhe a caminhada para o “trágico e para a glória”.

Uma vez reconhecido pelo pai e já compartilhando o poder, teve logo conhecimento da conspiração tramada pelos primos e, de imediato (o herói nasceu para o movimento e para as grandes e perigosas tarefas) se aprestou para a luta. Os Palântidas, que eram cinquenta, inconformados com a impossibilidade de sucederem a Egeu no trono de Atenas, resolveram eliminar Teseu.

Dividiram suas forças, como bons estrategistas, em dois grupos: um atacou a cidade abertamente e o outro se emboscou, procurando surpreender pela retaguarda.

O plano dos conspiradores foi, todavia, revelado por seu próprio arauto, Leos, e Teseu modificou sua tática: massacrou o contingente inimigo emboscado e investiu contra os demais, que se dispersaram e foram mortos.

Relata-se que, para expiar o sangue derramado de seus primos, o herói se exilou, passando um ano em Trezena. Esta é a versão seguida por Eurípedes em sua tragédia, belíssima por sinal, Hipólito Porta-Coroa.

Mas, como o poeta ateniense acrescenta que Teseu levara em sua companhia a Hipólito, o filho do primeiro matrimônio com Antíope, uma das Amazonas, já falecida, bem como a segunda esposa, Fedra, que se apaixonara pelo enteado, dando origem à tragédia, segue-se qua a “cronologia” foi inteiramente modificada por Eurípedes. Com efeito, colocar a expedição contra as Amazonas antes do massacre dos Palântidas é contrariar toda uma tradição mítica.

O Minotauro

Com a morte de Androgeu, filho de Pasífae e Minos, rei de Creta, morte essa atribuída indiretamente a Egeu, que, invejoso das vitórias doherói cregense nos Jogos que mandara celebrar em Atenas, o enviara para compatar o Touro de Maratona – eclodiu um aguerra sangrenta entre Creta e Atenas.

A morte de Androgeu se deveria, narra uma variante, não a Egeu, mas aos próprios atletas atenienses, que, ressentidos com tantas vitórias do filho de Minos, maratam-no. Haveria, por outro lado, um motivo político, pois que Androgeu teria sido assassinado por suas ligações com os Palântidas.

De qualquer forma, Minos, com poderosa esquadra, após apossar-se de Mégara, marchou contra a cidade e Palas Atena. Como a guerra se prolongasse e uma peste (a pedido de Minos a Zeus) assolasse Atenas, o rei de Creta concordou em retirar-se, desde que, anualmente, lhe fossem enviados sete moços e sete moças, que serial lançados no Labirinto, para servirem de pasto ao Minotauro.

Teseu se prontificou a seguir para Creta com as outras treza vítimas, porque, sendo já a terceira vez que se ia pagar o tributo ao rei cretense, os atenienses começavam a irritar-se contra Egeu.

Relata-se ainda que Minos escolhia pessoalmente os quatorze jovens e dentre eles o futuro rei de Atenas, afirmando que, uma vez lançados inermes no Labirinto, se conseguissem matar o Minotauro, poderiam regressar livremente à sua pátria.

O herói da Ática partiu com um basco ateniense, cujo piloto, Nausítoo, era da ilha de Salamina, uma vez que Menestres, neto de Ciro, rei desta ilha, contava-se entre os jovens exigidos por Minos. Entre eles estava também Eribéia ou Peribéia, filha de Alcátoo, rei de Mégara.

Uma variante insiste que Minos viera pessoalmente buscar o tribuo anual e na travessia para Creta se apaixonara por Peribéia, que chamou Teseu em seu auxílio.

Este desafiou o rei de Cnossos,diendo-lhe ser tão nobre quanto ele, embora Minos fosse filho de Zeus. Para provar a areté do príncipe ateniense, o rei de Creta lançou no mar um anel e ordenou ao desafiante fosse buscá-lo.

Teseu mergulhou imediatamente e foi recebido no palácio de Posídon, que lhe devolveu o anel. Mais tarde, Teseu se casou com Peribéia, que se celebrizou muito tempo depois como mulher de Télamon, pai de Ájax, personagem famosa da Ilíada e da tragédia homônima de Sófocles.

À partida, Egeu entregou ao filho dois jogos de vela para o navio, um preto, outro branco, recomendando-lhe que, se porventura regressasse vitorioso, içasse as velas brancas; se o navio voltasse com as pretas, era sinal de que todos haviam perecido.

O construtor do labirinto foi Dédalo; o que significa que Dédalo, atilado e pérfido, teceu a intriga que anulou a sabedoria de Minos. Por um enganoso racioncínio, deu respaldo aos conselhos de Pasífae, conseguindo assim vencer a resistência e as hesitações do rei.

Este raciocínio, ilusório mas aparentemente válido, é uma construção complicada, labiríntica. No labirinto do inconsciente a dominação perversa de minos, o Touro de minos, continua a viver.

O rei, no entanto, é incessantemente obrigado a opor-se à sua sabedoria, a “nutrir” sua atitude monstruosa com base em motivos falsos e a “alimentar” seu remorso obsedante, seu arrependimento não confessado, por um raciocínio ilusório, o que o torna incapaz de reconhecer seu erro e renunciar às condições infligidas aos atenienses.

As condições tirânicas realmente impostas encontram-se, nesse caso, substituídas pelo tributo simbólico destinado a alimentar o monstro: o sacrifício anual dos jovens inocentes de Atenas.

O ilogismo do mito, os símbolos “Minotauro” e “Labirinto” tornam-se assim reduzidos à verdade psicológica, à realidade, frequente e banal, de uma intriga palaciana. Essa tradução do sentido oculto do nascimento do monstro e da história de sua prisão se patenteia na medida em que se mostra válida para traduzir igualmentet o episódio central do mito, isto é, o combate do herói contra o monstro.

Teseu decide, pois combater o Minotauro, isto é, resolve opor-se à dominação exercida por Minos sobre os atenienses, abolindo a imposição tirânica.

Mas pelo mesmo fato de o Labirinto, em que está escondido o monstro simbólico, ser o inconsciente de Minos, este adquire, de per si, uma significação simbólica: retrata o “homem” mais ou menos secretamente habitado pela tendência perversa da dominação. Até mesmo o rei Minos, até mesmo o homem dotado de sabedoria (da justa medida) pode sucumbir à tentação dominadora. Esta generalização representativa estende-se igualmente ao herói convocado para lutar contra o monstro.

Teseu não se curvará à opressão provinda de outrem, mas enfrentando-a, mesmo vitoriosamente, corre o risco de se tornar prisioneiro da fraqueza banal inerente à natureza humana: a vaidade de acreditar que o descomedimento da justa medida nas relações humanas seria uma prova de força, e assim justificar a tentação de reprimir seus semelhantes com medidas injustas.

É pois muitíssimo significativo que o monstro acantonado no Labirinto do inconsciente, sendo irmão mítico de Teseu por descendência de Posídon, constitui o perigo essencial para o herói. Como todo herói que combate um monstro, Teseu, ao se defrontar com o Minotauro, luta contra sua própria flata essencial, contra a tentação perversa que o habita secretamente.

Uma vez em Creta, Teseu e os treza jovens foram, de imediato, encerrados no Labirinto, uma complicada edificação construída por Dédalo, com tantas voltas e ziguezagues, corredores e caminhos retorcidos, que, quem ali penetrasse, jamais encontraria a saída.

O amor, porém, torna todo impossível possível! Ariadne, talvez a mais bela das filhas de Minos, se apaixonara pelo herói ateniense. Para que pudesse, uma vez no intricado covil do Minotauro, encontrar o caminho de volta, dera-lhe um novelo de fios, que ele ia desenrolando, à medida que penetrava no Labirinto. Conta uma variante que o presente salvador da pincesa minóica fora não um novelo, mas uma coroa luminosa, que Dionisio lhe oferecera como presente de núpcias.

Uma terceira variante atesta que a coroa luminosa, que orientou e guiou Teseu nas trevas, lhe havia sido dada por Afrodite, quando o herói desceu ao palácio de Anfitrite para buscar o anel de Minos. Talvez a junção fio e coroa luminosa, “foi condutor de luz”, seja realmente o farol ideal para espancar trevas inferiores!

Ariadne condicionou seu auxílio a Teseu: livre do Labirinto, ele a desposaria e levaria para Atenas.

Derrotado e morto o Minotauro, o herói escapou das trevas com todos os companheiros e, após inutilizar os navios cretenses, para dificultar qualquer perseguição, velejou de retorno à Grécia, levando consigo Ariadne. O navio fez escala na ilha de Naxos. Na manhã seguinte, Ariadne, quando acordou, estava só.

Longe, no horizonte, o navio de velas pretas desaparecia: Teseu a havia abandonado.

Há variantes: uns afirmam que Teseu abandonou a filha de Minos porque amava outra mulher, Egle, filha de Panopleu. Outros acham que o herói foi forçado a deixá-la em Naxos, porque Dionisio se apaixonara por ela ou até mesmo a teria raptado durante a noite; e após desposá-la, a teria levo para o Olimpo.

Como presente de núpcias o deus lhe teria dado um diadema de ouro, cinzelado por Hefesto. Tal diadema foi, mais tarde, transformado em constelação.

Com Dionisio, Ariadne teria tido quatro filhos: Toas, Estáfilo, Enópion e Pepareto.

De Naxos Teseu navegou para a Ilha de Delos, onde fez escala, a fim de consagrar num templo uma estátua de Afrodite, com que Ariadne o havia presenteado.

Ali ele e seus companheiros executaram uma dança circular de evoluções complicadas, representando as sinuosidades do Labirinto. Tal rito subsistiu na ilha de Apolo por muito tempo, ao menos até a época clássica.

Triste com a perda de Ariadne, ou castigado por havê-la abandonado, ao aproximar-se das costas da Ática o herói se esqueceu de trocas as velas negras do seu navio, sinal de luto, pelas brancas, sinal de vitória.

Egeu, que ansiosamente aguardava na praia a chegada do barco, ao ver as velas negras, julgou que o filho houvesse perecido em Creta e lançou-se nas ondas do mar, que recebeu seu nome: “Mar Egeu”.

Relata-se ainda que o rei esperava o filho no alto da Acrópole, exatamente no local onde se ergue o templo da Vitória Áptera. Ao ver de longe o navio com as velas negras, precipitou-se do penhasco e morreu.

Consoante a interpretação simbólica de Diel, “a vitória só poderia ser difinitiva para o herói na medida em que tivesse sobrepujado seu próprio perigo, quer dizer, após a destuição do monstro existente nele próprio.

Diante de tareja tão essencial, Teseu fracassou. Triunfou tão-somente da pervesidae de Minos, atacando apenas o monstro no adversário. Um pormenor do combate simbólico, negligenciado até o momento como de pouca importância, mas capaz de sclarecer toda a situação psicológica e resumir-lhe todas as consequências, é o fato de Teseu haver liquidado o Minotauro com a clava que pertencera ao facínora Perifetes.

Este traço simbólico mosta que o herói, aceitando o auxílio de Ariadne, usa de uma arma pérfida: seu amor pela princesa é somente pretexto e cálculo, comportando-se ele próprio realmente como um facínora. A arma da vitória, a clava de Perifetes, faz prever que seu triunfo sobre o monstro não traduz um ato de coragem e nem trará benefícios.

Se o herói, graças ao poder do amor, soube derrotar a Minos, não se aproveitará, todavia, da vitória conseguida por esse poder, uma vez que este não lhe pertence. Longe de ser heróico, o triunfo sobre o Minotauro não passa de uma façanha perversa, uma traição.

Explorou o amor de Ariadne para atingir seus objetivos e logo depois a traiu. Ora, o “fio de Ariadne” deveria conduzí-lo não apenas apra fora do dédalo insconsciente de Minos, mas igualmente para fora do labirinto de seu próprio inconsciente.

Teseu se perde e esse extravio há de decidir toda sua história futura”. Seu amor pela irmã de Ariadne, Fedra, lhe trará sérias consequências.

O principe ateniense não deixa Creta como herói, mas como um bandido e traidor. Abandonando Ariadne, apesar da vitória sobre o Touro de Minos, seu Êxito se convert em derrota essencial. Em sua traição a Ariadne se acham conjugados tanto os signos da perversidade dominadora quanto os da perversão sexual.

As velas negras, sinal de luto, com que Teseu partiu, tornam-se o símbolo da perversão, insígnia das forças das trevas. O herói navegará de agora em diante sob seu império. Não penetra em Atenas como vencedor e, fato importante, de uma significação mítica profunda, o herói se esquce de içar as velas brancas, que lhe traduziriam a vitória.

Egeu, contemplando as velas negras, precipita-se no mar. O rei, enquanto pai corporal, mata-se de desespero, persuadido de que o filho havia corporalmente, perecido.

O rei, pai mítico, lançando-se nas profundezas das águas, simboliza algo de muito sério: o herói será doravante e definitivamente abandonado pelo espírito, que está introjetado nas profundezas marinhas, símbolo do inconsciente. Outro pai mítico, Posídon, passará a comandar o destino do herói.

O Rei de Atenas

Reforma

Após a morte de Egeu, Teseu assumiu o poder na Ática. Realizou o célebre (synoikismós), sinecismo, isto é, reuniu em uma só polis os habitantes até então disseminados pelo campo. Atenas tournou-se a capital do Estado. Mandou construir o Pritaneu e a Bulé, o Senado. Promulgou leis; adotou o uso da moeda; instituiu a grande festa das Panatenéias, símbolo da unidade política da Ática.

Dividiu os cidadãos em três classes: eupátridas, artesãos e camponeses. Instaurou, miticamente, em suas linhas gerais, a democracia. Conquistou a cidade de Mégara e anexou-a ao estado recém-criado; na fronteira entre a Ática e o Peloponeso, mandou erigir marcos para separar o território jônico do dórico; e reorganizou em Corinto os jogos Ístmicos, em honra a seu pai Posídon.

Executadas essas tarefas políticas, o rei de Atenas retomou sua vida “heróica”. Como Etéocles houvesse expulso de Tebas a seu irmão Polinice, este, casando-se com Argia, filha de Adrasto, rei de Argos, conseguiu organizar sob o comando do sogro a célebre expedição dos sete chefes (Adrasto, Anfiarau, Capaneu, Hipómedon, Partenopeu, Tideu e Polinice).

A expedição foi um desastre: somente escapou Adrasto, que se pôs sob a proteção de Teseu. Este, que já havia acolhido como exilado a Édido, como nos mostra Sófocles no Édipo em Colono, marchou contra Tegas e, tomando à força os cadáveres de Seis chefes, deu-lhes condigna sepultura em Elêusis.

Teseu contra as Amazonas

A tradição insiste numa guerra entre os habitantes da Ática e as Amazonas, que lhes teriam invadido o país. As orignes da luta diferem de um mitógrafo para outro. Segundo uns, tendo-se engajado, na expedição de Héracles contra as Amazonas, Teseurecebera, com prêmio de suas proezas, a amazona Antíope, com a qual tivera um filho, Hipólito.

Segundo outros, Teseu viajara sozinho ao país dessas temíveis guerreiras e tendo convidado a bela Antíope para visitar o navio, tão logo a teve a bordo, navegou a toda a vela de volta à pátria. Para vingar o rapto de sua irmã, as Amazonas invadiram a Ática. A batalha decisiva foi travada nos pés da Acrópole e, apesar da vantagem inicial, as guerreiras não resistiram e foram vencidas por Teseu, que acabou perdendo a esposa Antíope. Esta, por amor, lutava ao lado do marido contra as próprias irmãs.

Para comemorar a vitória de seu herói, os atenienses celebravam, na época clássica, as festas denominadas Boedrômias.

Existe ainda outra variante. A invasão de Atenas pelas amazonas não se deveu ao rapto de Antíope, mas ao abandono desta por Teseu, que a repudiara, para se casar com a irmã de Ariadne, Fedra. A própria Antíope comandara a expedição e tentara. à base da força, penetrar na sala do festim, no dia mesmo do novo casamento do rei de Atenas. Como fora repelida e morta, as Amazonas se retiraram da Ática.

Hipólito e Fedra

De qualquer forma, o casamento de Teseu com Fedra, que lhe deu dois filhos, Ácamas e Demofoonte, foi uma fatalidade. Hipólito, filho de Antíope e Teseu, consagrara-se a Ártemis, a deusa virgem, irritando profundamente a Afrodite. Sentido-se desprezada, a deusa do amor fez que Fedra concebesse pelo enteado uma paixão irresistével.

Repudiada violentamente por Hipólito e, temendo que este a denunciasse a Teseu, rasgou as próprias vestes e quebrou a porta da câmara nupcial, simulando uma tentativa de violação por parte do enteado. Louco de raiva, mas não querendo matar o próprio filho, o rei apelou para seu pai Posídon, que prometera atender-lhe três pedidos.

O deus, quando Hipólito passava com sua carruagem à beira-mar, tem Trezena, enviou das ondas um monstro, que lhe espantou os cavalos, derrugando o príncipe.

Este, ao cair, prendeu os pés nas rédeas e, arrastado na carreira pelos animais, se esfacelou contra os rochedos. Presa de remorsos, fedra se enforcou. Existe uma variante, segundo a qual Asclépio, a pedido de Artemis, ressuscitara Hipólito, que foi transportado para o santuário de “Diana”, em Arícia, na Itália.

Ali, o filho de Teseu fundiu-se com o deus local, Vírbio, conforme se pode ver em Ovídio, Metamorfoses.

Eurípedes compôs duas peças acerca da paixão de Fedra por Hipólito.

Na primeira Hipólito, da qual possuímos apenas cerca de cinquenta versos, a rainha de Atenas, num verdadeiro rito do “motivo putifar”, entrega-se inteira à sua paixão desenfreada, delcarando-a ela própria ao enteado. Repelida por este, caluniou-o perante Teseu, e só se enforcou após a morte trágica de seu grande amor.

Na segunda versão, Hipólito Porta-Coroa, uma das tragédias mais bem elaboradas por Eurípedes, do ponto de vista literário e psicológico, Fedra confidencia à ama sua paixão fatal e esta, sem que a rainha o desejasse, ou lhe pedisse “explicitamente”, narra-a a Hipólito, sob juramento.

Envergonhada com a recusa do jovem príncipe e temndo que este tudo revelasse ao pai, enforca-se, mas deixa um bilhete ao marido, em que mentirosamente acusa Hipólito de tentar seduzila.

A imprudente maldição de Teseu provoca a terrível desdita do filho, mas a verdade dos fatos é revedala por Artemis ao infortunado pai.

Com o filho agonizante nos braços, Teseu tem ao menos o consolo do perdão de Hipólito e a promessa de que esta há de receber horas perpétuas em Trenzena.

As jovens, antes do casamento, lhe ofertarão seus cabelos e Hipólito jamais cairá no esquecimento. “De fato, esse grande amor foi muitas vezes invocado, sobretudo na Phaedra de Lúcio Aneu Sêneca e na Phédre de Jean Racine.

Seja como for, o que se evidencia no mito transmutado em tragédia por Eurípedes é a superlativação do “páthos da paixão”.

O Rapto de Helena e Perséfone

Alguns Episódios da maturidade de Teseu estão intimamente ligados à sua grande amizade com o herói lápita Pirítoo. Conta-se que essa fraterna amizade entre o lápita e o ateniense se deveu à emulação de Pirítoo.

Tendo ouvido ruidosos comentários acerca das façanhas de Teseu, o lápita quis pô-lo à prova. No momento, porém de atacá-lo, ficou tão impressionado com o porte majestoso e a figura do herói da Ática, que renunciou à justa e declarou-se seu escravo. Teseu, generosamente, lhe concedeu sua amizade para sempre.

Com a morte de Hipodamia, Pirítoo, passou a compartilhar mais de perto das proezas de Teseu. Duas das aventuras mais sérias dessa dupla famosa no mito foram o rapto de Helena e a catábase ao Hades, no intuito de raptar também Perséfone.

Os dois episódios, aparentemente grotescos, traduzem ritos muito significativos: o rapto de mulheres, sejam elas deusas ou heroínas, fato comum na mitologia, configura, não só um rito iniciático, mas também o importante ritual da vegetação: chegados a seu termo os trabalhos agrícolas, é necessário “transferir a matriz”, a Grande Mãe, para receber a nova porção de “sementes”, que hão de germinar para a colheita seguinte. A catábase ao Hades, simboliza a anagnórisis, o autoconhecimento, a “queima” do que resta do homem velho, para que possa eclodir o homem novo.

Os dois heróis, por serem filhos de dois grandes deuses: Zeus e Posídon, resolveram que só se casariam dali em diante com filhas do pai dos deuses e dos homens e, para tanto, resolveram raptar Helena e Perséfone. A primeira seria a esposa de Teseu e a segunda, de Pirítoo. Tudo começou, portanto, com o rapto de Helena.

O herói estava “à época”, com cinquenta anos e Helena nem sequer era núbil. Assustados com a desproporção da idade de ambos, os mitógrafos narraram diversamente esse rapto famoso. Não teriam sido Teseu e Pirítoo os raptores, mas Idas e Linceu, que confiaram Helena a Teseu, ou ainda o próprio pai da jovem espartana, Tíndaro, que, temendo que Helena fosse sequestrada por um dos filhos de Hipocoonte, entregara a filha à proteção do herói ateniense.

A versão mais conhecida é aquela em que se narra a ida dos dois herói a Esparta, quando então se apoderaram à força de helena, que executava uma dança ritual no templo de Artemis Órtia. Os irmãos da menina, Castor e Pólux, saíram-lhes ao encalço, mas detiveram-se em Tegéia.

Uma vez em segurança, Teseu e Pirítoo tiraram a sorte para ver quem ficaria com a princesa espartana, comprometendo-se o vencedor a ajudar o outro no rapto de Perséfone. A sorte favoreceu o herói ateniense, mas como Helena fosse ainda impúbere, Teseu a levou secretamente para Afidna, demo da Ática, e colocou-a sob a proteção de sua mãe Etra. Isto feito, desceram ao Hades para conquistar Perséfone.

Durante a prolongada ausência do rei ateniense, Castor e Pólux, à frente de um grande exército, invadiram a Ática. Começaram a reclamar pacificamente a irmã, mas como os atenienses lhe assegurassem que lhe desconheciam o destino, tomaram uma atitude hostil.

Foi então que um certo Academo lhes revelou o lugar onde Teseu a retinha prisioneira. Eis o motivo por que, quando das inúmeras invasões da Ática, os espartanos sempre pouparam a Academia, o jardim onde ficava o túmulo de Acadmo. Imediatamente os dois herói de Esparta invadiram Afidna, recuperaram a irmã e levaram Etra como escrava. Antes de abandonar a Ática, colocaram no trono de Atenas um bisneto de Erecteu, chamado Menesteu, que liderava os descontentes, particularmente os nobres irritados com as reformas de seu soberano, sobretudo com a democracia. Muito bem recebidos por Plutão, Teseu e Pirítoo, foram, todavia, vítimas de sua temeridade.

Convidados pelo rei do Hades a participar de um banquete, não mais puderam levantar-se de suas cadeiras. Héracles, quando desceu aos Infernos, tentou libertá-los, mas os deuses somente permitiram que o filho de Alcmena “arrancasse” Teseu de seu assento, para que pudesse retornar à luz.

Pirítoo há de permanecer para sempre sentado na Cadeira do Esquecimento. Conta-se que, no esforço feito para se soltar da cadeira, Teseu deixou na mesma uma parcela de seu traseiro, o que explicaria terem o atenienses cadeiras e nádegas tão pouco carnudas e salientes.

Odsson Ferreira

Referência Bibliográfica

BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia Greva Vol III. Petrópolis, Vozes, 2004

CHEVALIER J. e GHEERBRANT, A. Op. cit., p. 980

DIEL, Paul. Op. cit., p. 188sqq

DIEL, Paul. Le Symbolisme dans la Mythologie Grecque. Paris, Payot, 1966, p. 182.

Fonte: www.mitologiagrega.templodeapolo.net

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