Sem Rumor

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VIERA de longe, o trêmulo velhinho,
Sacola ao ombro, recurvado o busto,
Pelas encostas agras do caminho,
Arrimado ao bordão, subira a custo.

Assentou-se ao portal, olhos cansados,
Um desânimo infindo a encher-lhe o rosto…
Toda a extensão dos plainos dilatados
Tinha a suave poesia do sol posto.

Caía a tarde aos poucos… Mariquinhas,
Recostada à janela, o olhar incerto,
Seguia o leve ondear das andorinhas,
Alto, no céu de róseos tons coberto.

Viu o pobre velhinho e o seu aspecto
Consternado, o tremor dos membros lassos,
A fadiga do gesto, o choro quieto,
E a lividez tristíssima dos traços.

E enoiteceu-lhe o rosto estranha mágoa,
Uma infinita pena, um vago anseio;
A comoção encheu-lhe os olhos d’água
E fez-lhe palpitar célere o seio.

Foi procurar Mamãe, e, após, radiosa,
Olhos nadando em celestial deleite,
Voltou, trazendo, mansa e cautelosa,
Uma caneca a transbordar de leite.

Desceu a escada rústica, abafando
Os passos, sem rumor, leve e macia
Vinha, nos ares límpidos, cantando
O nostálgico som da Ave-Maria…

E ela, sorrindo, os olhos cheios d’água,
Aliviou a fome do mendigo,
E, compassiva, ungiu-lhe a ignota mágoa
Na doçura da voz, no gesto amigo.

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