Sobre a Guerra

Lima Barreto

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As últimas proezas de cruzadores alemães bombardeando as costas da Inglaterra é de molde a provocar a seguinte reflexão: a esquadra inglesa não é lá essas coisas.

Numerosíssima, quase toda acumulada diante das costas germânicas, ela não pôde evitar que tal se desse.

De resto, há ainda a notar que, se ela imobilizou a frota germânica, por sua vez ficou imobilizada, não podendo fazer nada de eficiente para o aniquilamento dos vasos alemães.

O seu sábio preparo anterior, as suas constantes manobras não lhe deram, com o poder numérico, a superioridade esmagadora que era de esperar possuísse.

Da mesma forma, o exército alemão até agora tem andado muito abaixo de sua fama.

O seu violento efetivo, automatismo que adquiriu com manobras, exercícios e trenagens constantes, faziam esperar que ele esmagasse facilmente a França.

Entretanto, tal não se deu e a Alemanha confessa que não tinha esse poder esmagador, quando deixou de invadir a França pelas fronteiras que tinha com esse país, e violou a neutralidade belga para derrotar o país de Joana d’Arc.

Com esse procedimento deu sobejas mostras de que não se fiava muito na eficiência do seu exército, apesar do mata-mouros do canhão 42, diante dos fortes franceses de Saona e Belfort.

Para fazer a velha guerra lenta, de sítios e trincheiras, para ter a vitória assim duvidosa, não valia a pena, penso eu, levar a Alemanha tantos anos a adestrar um exército numeroso, a dotá-lo de material aperfeiçoado, custosos maquinismos e gastar as fabulosas somas que gastou.

Um exército tão famoso, tão poderoso, tão cheio de ff e rr, que chega a poucos quilômetros de Paris e tem que recuar precipitadamente, concordemos, não é essa formidável máquina de guerra que os nossos militaristas queriam que imitássemos.

A orgia militar, a que a Alemanha desde muito se vinha entregando, tirava o sono ao mundo, era o seu constante pesadelo.

Obrigou todos os países a estabelecerem esse crime contra a liberdade, contra a independência, essa violência aos temperamentos individuais que é o serviço militar obrigatório.

Agora, parece, a Alemanha ficará por muito tempo diminuída e os seus idiotas partidos guerreiros que se crêem eleitos e com a missão de dominar o mundo, não encontrarão na massa de camponeses homens em que se apóiem, com auxilio de amuletos patrióticos; e os homens que criam o futuro, poderão agir.

Correio da Noite, 19-12-1914

 

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