Folclore – Lua

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O brasileiro recebeu de portugueses, negros e indígenas, tradições sobre a lua, respeitos e amores fiéis.

Mãe dos vegetais, preside o crescimento.

Pela magia simpática, na lua crescente realiza-se o que depende de desenvolvimento.

Cabelo cortado na lua nova aumenta logo e afina. Nota-se no olho na bananeira.

Em Portugal acredita-se na luada, o malefício lunar, meio desaparecido no Brasil, mas visível na proibição da mulher grávida dormir banhada pelo luar, porque o filho será débil mental, aluado.

Mostra-se dinheiro à lua nova para que o multiplique:

Deus te salve, lua nova
Lua que Deus acrescente
Quando fores que vierdes
Trazei-me desta semente!

Deus te salve, lua nova
Madrinha de São Vicente
Quando voltares de novo
Trazei-me desta semente!

Em Portugal, mostrando-se a moeda à lua, fazem-se súplicas, correntes no Brasil:

Lua nova
Tu bem vês
Dá-me dinheiro
Para todo mês

Benza-te Deus, lua nova
De três cousas me defendas
Dor de dente
Água corrente
Língua de má gente!

Rodney Gallop informou o que se verifica no Brasil, a lua madrinha de meninos: Em algumas partes de Portugal, as crianças às vezes recebem a lua como madrinha.

Semelhante, aludindo à brancura do astro, e associando as idéias de cabelo branco, velhice, doçura, bondade generosa nas velhas madrinhas risonhas e poderosas, há os versos tradicionais:

A benção, dindinha lua
Vem me dar tua farinha
Para eu dar à minha galinha
Que está presa na cozinha

Lua, luar
Toma teu andar
Leva esta criança
E me ajuda a criar
Depois de criada
Torna a me dar!

Os indígenas mais bravios eram devotos da lua.

Falando sobre os cariris, Pero Carrilho de Andrade (século XVII) informava: “alegram-se muito quando veem a lua nova porque são muito amigos de novidades, contam os tempos pelas luas, tem seus agouros…”

Mãe da Lua

Couto de Magalhães (O selvagem, 141-142) recolheu canções votivas de indígenas à lua cheia (cairé) e à lua nova (catiti): Eia, ó minha mãe (lua cheia)! Fazei chegar esta noite ao coração dele (amado) a lembrança de mim!… Lua nova! Lua nova! Assopra em fulano a lembrança de mim; eis-me aqui, estou em tua presença; fazei com que eu tão somente ocupe o seu coração!

Na Inglaterra existe a invocação semelhante às canções amorosas das cunhãs tupis:

Todos saúdam a ti, Lua, todos saúdam a ti!
Ó agradecido deus Lua, revele-me
Esta noite quem será minha esposa!

As norte-americanas também perguntam à lua nova pelo futuro amor:

Lua nova, lua nova, por favor me diga
Quem meu verdadeiro amante deve ser
A cor do cabelo dele
A roupa que ele vai usar
E o dia em que ele se casar comigo

No tempo em que era moda o cabelo comprido, diziam as mocinhas:

Deus te salve, lua nova
Deus te dê boa ventura
Fazei que meu cabelo cresça
Que me bata na cintura!

Um dos tabus de caça é não matar veado em noite de luar. É uma reminiscência grega. O veado, a corça, eram animais votados à Diana, Artêmia, Selene, à Lua, enfim. Talqualmente o lavrador português, o brasileiro vê no disco lunar São Jorge, combatendo o dragão.

ECLIPSE DA LUA

Já não causam o assombro de outrora, obrigando orações e promessas para a lua voltar.

Vale Cabral cita José Veríssimo, numa informação curiosa: “Durante o eclipse deste astro [a lua], em 23 de agosto de 1877, o povo da capital do Pará fez um barulho enorme com latas velhas, foguetes, gritos, bombo, e até tiros de espingarda para afugentar ou matar o bicho que queria comer a lua, como explicavam semelhante cena”.

Em Campinas (São Paulo), deu-se o mesmo fato, conforme li num jornal (Antologia do folclore brasileiro, 270). Paul Sébillot: “Muitos povos da América acreditavam que um monstro o devorava, por isso os índios atiravam flechas para o céu e gritavam para soltar a fera; até o século XVI na França, choramos na hora do eclipse”. . (Le folk-lore, III)

PROGNÓSTICOS METEOROLÓGICOS

São, porém, de uma expressão belíssima os seguintes prolóquios sobre a lua, indicados mesmo como infalíveis de certos fenômenos meteorológicos e da sua influência sobre o fluxo e refluxo das marés:

Lua nova trovejada
Oito dias é molhada
Se ainda continua
É molhada toda a lua

Lua nova de agosto carregou
Lua nova de outubro trovejou

Lua fora, lua posta
Quarto de maré na costa
Lua nova, lua cheia
Preamar às quatro e meia

Lua empinada
Maré repontada

E esses dois provérbios: Lua de janeiro, amor primeiro e Quando mingua a lua, não comeces coisa alguma (Pereira da Costa. O folclore pernambucano, 12-17).

Em Portugal as superstições meteorológicas referentes à lua são incontáveis. O espírito ocorre nas populações brasileiras do interior do país, herdeiras do português.

O Almanaque do povo para 1946, edição da Junta Central das Casas do Povo e do Secretariado Nacional da Informação, Lisboa, registrou: “Céu limpo e lua no horizonte, de lá te virá o vento. Se vires a lua vermelha, põe a pedra sobre a telha.

Lua com circo, água traz no bico. Ares turvos e lua com circo, chuva como cisco. Da lua nova arrenego, com a cheia me alegro. Nasceu-te a lua clara, para a feira te prepara. Quando minguar a lua, não comeces coisa alguma”.

A apresentação das crianças à lua será uma reminiscência possível de um ato do culto à Lucina, Diana-Lucina.

O gesto de mostrar a moeda à lua, explica Ellworthy, é ser a prata metal votivo, oferecido e consagrado à Diana na Grécia e Roma.

Elworthy regista semelhantemente ao que vemos em Portugal e Brasil: “Nós viramos nossa prata em nossos bolsos quando vemos a lua nova ou Diana pela primeira vez” (The evil eye, Londres, 1895, 350)

A LUA E OS FRUTOS

O miolo do coco (Nox nuccifera) estando solto e reduzido, diz-se coco velado ou comido pela lua.

A lua protege e é senhora dos vegetais para europeus clássicos ou indígenas do tempo do Brasil colonial.

“O povo, deparando qualquer fruta chocha, diz logo que a “lua comeu”.

Ou sejam: caju queimado pelo relâmpago ou maturi, manga escura de um lado, coco sem água, goiaba e araçá minguados, enfim, todo fruto defeituoso nas formas, ou então, e mais precisamente, sem o miolo inteiro ou em parte, outra explicação não se colhe senão aquela onde entra a “participação criminosa” do astro frio e romântico.

Até as raízes que servem de alimento para o homem não escapam ao comentário, desde que se achem defeituosas, mirradas ou finas demais, sem que haja mesmo o menor jeito de serem aproveitadas.

A cana sofre igual crítica. E, por motivo qualquer, os gomos ficam encarnados e meio azedos. Já se sabe que foi a lua quem andou por ali”.

Fonte: ifolclore.vilabol.uol.com.br

 

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