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Aristotelismo – Vida e Obra
Aristóteles, nascido em Estagira, preceptor de Alexandre O Grande, é um dos maiores filósofos da Antiguidade Grega. O filósofo estagirita fundou o Liceu – também chamado de Perípatos – daí os seus seguidores serem chamados de peripatéticos.
Sua sede de conhecimento é imensa: ele se interessa por diversas disciplinas, como lógica, ética, política, física, etc., e lança as primeiras bases de algumas delas. Ele foi tutor de Alexandre, o Grande. Sua obra teve grande posteridade e foi transmitida pela tradição árabe e depois cristã.
Seu corpus teórico divide-se em exotéricos (ao grande público) e esotéricos (aos iniciados). E aqui é importante o destaque para os prefixos -eso e -exo que, embora semelhantes, modificam completamente o significado para o que se quer dizer.
Nesse sentido, as obras esotéricas são as destinadas aos iniciados na reflexão filosófica aristotélica (seus seguidores), portanto destinada a grupos restritos e por isso o filósofo não ter como preocupação a acessibilidade ao grande público. E as obras exotéricas, por oposição, são as destinadas ao grande público, sem a necessidade de iniciação para uma primeira aproximação à obra devido ao seu caráter mais acessível.
As obras esotéricas foram as que chegaram até nós em maior volume e abordam normalmente duas temáticas: as filosóficas (metafísica, ética, política, estética e lógica) e as das ciências naturais (física).
A cerca da evolução dos escritos aristotélicos, os filósofos italianos Reale e Antiseri dizem: “A história espiritual de Aristóteles seria a história de uma ‘desconversão’ do platonismo e da metafísica e uma conversão ao naturalismo e ao empirismo”. Desse modo, podemos concluir que Aristóteles fora discípulo de Platão. Todavia, a palavra discípulo aqui para além de significar um mero seguidor, faz referência ao indivíduo que partindo das ideias de seu mestre vai além na busca de superar as limitações do mestre e produzir algo novo sem, contudo, negá-lo plenamente.
Aristotelismo é a doutrina de Aristóteles (c. 385–322 a.C.), derivada das obras sobreviventes de Aristóteles, publicadas por Andrônico de Rodes no primeiro século a.C. Essas obras, compostas de notas de aula escritas pelo autor, mas não destinadas à publicação, formam uma coleção que se presta à descrição um tanto abusiva de “sistema”. Nascida, de fato, da crítica à doutrina platônica das Ideias, esta obra abrange todas as disciplinas filosóficas, desde a dialética e a lógica até a filosofia moral e política e até a estética, passando pela física, biologia e psicologia.

A dialética, em particular, tal como concebida por Aristóteles nos Tópicos, está intimamente ligada à crítica da teoria platônica das Ideias.
Longe de criar, de fato, termos universais que usamos na discussão de realidades que transcendem o mundo sensível, como o platonismo afirma de uma forma ou de outra, ele os considera como “predicáveis”, isto é, como atributos que aplicamos ao sujeito em questão, e isso de várias maneiras: como definição, como gênero, como diferença, como próprio, como acidente. Dessa forma, Aristóteles levou muito a sério os vários modos de discussão, cujo estudo é para ele preparatório para o da ciência propriamente dita.
Da própria ciência, a dialética, como parte da lógica, constitui o organon, isto é, o instrumento.
Lógica
Para Aristóteles, a linguagem não se confunde, portanto, com o ser; É a ferramenta que a ciência utiliza para que esta possa afirmar corretamente o que é o ser, propriamente falando. Daí a importância do tratado sobre Categorias, pelo qual devemos entender as várias maneiras pelas quais a linguagem apreende o ser, seja como substância, como quantidade, como qualidade, como relação, como situação, como ação ou paixão, como posição espacial ou temporal, como posse. Esses são os dez “predicamentos”, que vemos que se distinguem dos “predicáveis” porque visam às divisões do ser em si, e não às distinções usadas na discussão. É importante, de fato, saber em quais setores do ser a ciência pode ser aplicada.
Mas também é importante saber como a ciência lida com esse ser que ela apreende. É isso que a obra Sobre a Interpretação desenvolve, ao mostrar os tipos de proposições gerais (universais ou particulares) que a ciência deve utilizar, e como ela pode mostrar sua verdade ou sua falsidade, porque a ciência tende ao conhecimento verdadeiro. A ciência também deve se concentrar no que é necessário. É por isso que deve adotar um tipo de raciocínio que Aristóteles chamou de silogismo categórico. Segundo esse raciocínio, de duas premissas postas como verdadeiras, pode-se necessariamente deduzir uma conclusão verdadeira, observando as regras muito rígidas que regem nas premissas a atribuição do termo chamado “meio” aos dois termos chamados “maior” e “menor”, que serão o atributo e o sujeito da conclusão. A teoria formal do silogismo categórico é apresentada na Primeira Analítica, enquanto sua aplicação às ciências propriamente ditas, em particular à matemática, é tratada na Segunda Analítica, onde Aristóteles também trata da indução. Este último é o processo essencial para passar de uma experiência mais ou menos particular para a posição dos princípios da ciência.
A Classificação das Ciências
A classificação aristotélica das ciências parte do princípio de que o conhecimento científico deva ser estruturado a partir da natureza própria da coisa investigada.O filósofo chegou a essa conclusão após ter notado que o seu mestre Platão teria feito uma confusão entre os saberes teoréticos e práticos. Levando isso em conta, o filósofo estagirita distinguiu as ciências em três grandes ramos que teriam finalidades e objetos distintos.
São elas:
Ciências Teoréticas: Essas, marcadamente especulativas, desvinculadas das necessidades materiais; buscam o saber pelo saber. E têm como finalidade explicar a realidade, a natureza e o mundo. São exemplos: a metafísica (Filosofia Primeira), a matemática e as ciências naturais (física).
Ciências Práticas: O saber visa a perfeição moral. Procede-se à análise dos problemas sociais a partir da a ética (homem como indivíduo) e da política (homem enquanto coletivo) visando atingir o fim supremo ao qual todos os homens aspiram: felicidade.
Ciências Produtivas (Poiéticas): Essas, marcadamente produtivas, buscam o saber visando a fabricação/produção de determinados objetos. São exemplos: as artes e técnicas.
Ato e Potência
Objetivando explicar o movimento, a transformação dos seres, o filósofo Estagirita cunha os termos ato e potência. Esse, pensa o vir a ser do ser. Aquele, faz referência à realidade momentânea do que existe. Esses conceitos podem, num primeiro momento, aparentar ser incognoscíveis, mas siga atento à leitura e verá que é possível sim compreendê-los ao menos minimamente.
Para facilitar a compreensão dos conceitos de ato e potência podemos recorrer aos elementos da natureza que nos cerca. E na natureza, a semente pode ser uma árvore em potência e isso ocorre, pois dentro do envoltório tem-se o óvulo maduro contendo um embrião que uma vez germinada a semente rompe com esse envoltório possibilitando o crescimento do embrião que se tornará uma árvore. Essa árvore, uma vez formada, deixa de ser potência para concretizar-se em ato.
Mas não pense que o ciclo de ato a potência termina aqui ele ocorrerá de formas sucessivas infinitamente. Essa árvore em ato é em potência madeira para construção civil. Essa madeira é em potência os móveis, portas, janelas, esculturas criadas pelo marceneiro. Esses móveis são em potência outros móveis que podem ser fabricados pela reciclagem dos móveis anteriores, num ciclo infinito. Em resumo, o ato é aquilo que é e a potência a possibilidade que algo pode vir a adquirir. O ato é o presente, a potência o futuro.
Tripartição da Alma
Em sua tripartição da alma o filósofo Estagirita introduz a distinção entre as almas: vegetativa, sensitiva e intelectiva que, com funções distintas, podem diferenciar os seres animados dos seres inanimados. E nisso, tem-se uma espécie de hierarquia entre os seres e suas respectivas almas.
Alma Vegetativa: As plantas possuiriam apenas a alma vegetativa com funções reduzidas às biológicas de nascimento, nutrição e crescimento. Nesse sentido, a alma vegetativa, por ser a mais elementar da vida, estará presente em todos os seres vivos; mas será desprovida de sensibilidade e razão, que transcendem ao caráter vegetativo do ser.
Alma Sensitiva: Num nível logo acima, teríamos os animais irracionais que além de possuírem a alma vegetativa possuem a alma sensitiva e isso lhes impõe uma superioridade impar sobre as plantas no reino.
Alma Intelectiva: E no topo da hierarquia teríamos o ser humano, que para se constituir enquanto tal faz uso das almas vegetativa, sensitiva e intelectiva. No limite, o homem seria hierarquicamente superior às plantas e aos demais animais, pois possui algo que lhe é exclusivo: o uso da racionalidade.
Ética Como Justo Meio
Aproximando-se muito de Sócrates e Platão, Aristóteles entende que a virtude se adquire a partir do hábito, da repetição das ações consideradas virtuosas. Desse modo, se quero tornar-me mais empático em situações de conflito devo constantemente e sem ressalvas colocar-me no lugar dos outros antes de julgá-los de forma indiscriminada. Isso, no limite, aperfeiçoaria em mim a empatia de modo que ela se torne, pela repetição, uma virtude.
No entanto, nessa busca por ser virtuoso o homem não pode, sob nenhum pretexto, exceder-se ou deixar a desejar. A razão deve orientar sempre para o justo meio, para a mediania. Em outras palavras, para que uma ação seja considerada como sendo virtuosa ou não,se parte à análise do quanto ela se adequa entre o excesso e a falta.
Para entendermos essa ética como mediania proposta pelo Estagirita podemos pensar no que seria uma pessoa empática. Essa, agiria de modo a estar entre a antipatia que é a recusa absoluta da compreensão das ações de alguém e a aceitação plena e impensada de tudo o que o outro diz e faz. Em outras palavras, a empatia, para ser entendida enquanto virtude, não pode pecar pela falta ou excesso de compreensão, ambos destruiriam o caráter ético da empatia.
Desse modo, a empatia será considerada uma virtude quando o indivíduo praticante da ação, ao avaliar as ações de outrem, se posicionar entre o excesso e a falta de compreensão de modo a sentir o que ele sente sem, contudo, praticar seus atos ou condená-lo indiscriminadamente.
Dica de Vídeo
Fonte: Colégio São Francisco/Fábio Guimarães de Castro/www.universalis.fr
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