Pré-Socráticos

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Surgimento da Filosofia

A Filosofia surge na periferia grega, na cidade estado de Mileto, para só posteriormente ir em direção ao centro do pensamento que era a grandiosa cidade-estado Atenas onde a Filosofia atinge o seu máximo esplendor. A transição do mito ao logos trouxe um avanço humano inigualável se pensado em termos de desenvolvimento do pensamento ocidental: abandonou o terreno puramente sobrenatural e despertou o logos possibilitando o cultivo do pensamento racional.

Nesse texto, você terá acesso às características básicas, bem como os principais nomes dos filósofos que se destacaram no princípio do filosofar da tradição. Entender minimamente as suas abordagens facilitará em muito a compreensão de grande parte das propostas filosóficas que posteriormente serão desenvolvidas nos demais períodos da História da Filosofia.

Filósofos da Physis/Natureza

É chamado de filosofia Pré-Socrática o primeiro período da filosofia antiga em que surge a problemática naturalista, isto é, eles queriam entender qual o princípio que dá origem à realidade existente. E as respostas para esse questionamento serão diversas sempre apelando para elementos naturais: a água, o fogo, o ar etc; daí a alcunha “naturalistas”, “físicos”ou “fisiólogos” que também fora dada aos filósofos pré-socráticos.

A seguir, faremos uma breve abordagem dos principais filósofos naturalistas e suas respectivas contribuições e ao fim trataremos com mais ênfase a problemática do ser que colocou Heráclito e Parmênides em conflito.

  • Tales de Mileto: O primeiro filósofo que investigando os fenômenos naturais eleva o pensamento a um patamar acima da pura evidência empírica para pensar a partir de categorias da razão. Com isso, o filósofo grego impõe uma passagemda narrativa mitológica à investigação filosófica nascente. Observando a presença de água e umidade em tudo ao seu redor, bem como os regimes de cheias e vazantes do rio Nilo e a sua relevância para as populações que moravam sem sua proximidade o filósofo chega à conclusão que a água é o elemento primordial (arché) constituidor da realidade. Em outras palavras, a água seria o princípio vital que possibilitaria a existência de tudo.
  • Anaximandro: Fugindo um pouco dos elementos empíricos, o filósofo propõe como princípio constitutivo da realidade o ápeiron (ilimitado, indeterminado) que podendo aparecer ora como terra, água, ar ou fogo sem se reduzir a nenhum deles ampliaria o campo de possibilidades de constituição efetiva da realidade.
  • Anaxímenes: Semelhante ao seu colega naturalista, o filósofo propõe novamente um elemento natural como sendo a arché que daria origem a toda a realidade existente. Para Anaxímenes, esse princípio é o ar: invisível, ilimitado e se presta a qualquer situação sustentando toda a realidade existente. Dessa forma, há quem diga que Anaxímenes sintetiza os pensamentos de Tales de Mileto e de Anaximandro.
  • Pitágoras: Os filósofos da Escola Pitagórica, desvinculando-se da physis, veem nos números a essência do mundo. Todos os fenômenos naturais possuem formas matemáticas. Daí ele concluir que os números seriam os fundamentos últimos das realidades.
  • Empédocles: Diferente dos filósofos tidos como monistas, Empédocles juntamente com Anaxágoras e Leucipo e Demócrito integra a chamada filosofia pluralista, pois afirmam que a origem/princípio constitutivo da realidade estaria em mais de uma matéria primordial. Empédocles, diz que a arché constitutiva seriam os quatro elementos vitais: terra, água, ar e fogo que por processos de união e separação formariam todas as substâncias.
  • Anaxágoras: fugindo da materialidade estabelece o nous (espírito) como constitutivo das substâncias e responsável direto pelo movimento inicial de ordenação do cosmos.
  • Leucipo e Demócrito: os pais da atomística irão propor que a constituição do cosmos se dará pela união e separação das particulares elementares da matéria: os átomos (desconheciam os desenvolvimentos posteriores da atomística com Dalton, Thomson e Rutherford).E isso faz sentido quando paramos para analisar a constituição física da matéria que porta uma infinidade de átomos que, embora invisíveis, quando unidos e atravessados por feixes de luz permitem aos nossos olhos ver as formas constitutivas das matérias.

A Problemática do Ser

Heráclito, o filósofo obscuro, pauta a sua filosofia no eterno devir das realidades. Para ele, a permanência e a estaticidade que muitos de nós acreditamos vivenciar são meras ilusões uma vez que a única característica constante no universo é a transformação (devir). À semelhança dos demais filósofos pré-socráticos, Heráclito proporá um elemento natural considerado fundamento objetivo para tudo o que existe (chamado pelos gregos de arché). Esse elemento, a seu ver, é o fogo que cumprindo a sua função dialética governaria o universo.

Outro conceito de extrema importância no pensamento heraclitiano é a luta dos opostos que, para além de causar o caos constituiria a harmonia do universo. Desse modo, os aparentes antagonismos entre: guerra e paz, alegria e tristeza, não passam de lutas a produzir a mais perfeita harmonia universal.

Contrário à mutabilidade do ser proposta por Heráclito, Parmênides outorgará a imutabilidade do ser. Uma única letra, ortograficamente falando, mas que modifica toda uma estrutura de pensamento. Para o filósofo, as mudanças corporais, climáticas e todas as outras não passam de miragens, alucinações da nossa mente haja visto à impossibilidade de algo “ser” e “não-ser” sem entrar em contradição com o princípio lógico da não-contradição.

Em outras palavras, em termos parmenidianos, a aparente mudança que você acredita ver ao olhar para um retrato seu quando bebê e a imagem que anos após vê refletida no espelho, a ver do filósofo, não constitui uma mudança haja vista algo permanecer que possibilite a você e outras pessoas associarem ambas as imagens a uma única pessoa.

Pré-Socráticos

Nesse sentido, para Parmênides, o ser é atemporal, imutável e imóvel. O que vemos, ouvimos, tocamos não passariam de ilusões dos sentidos. No limite, o pensamento de Parmênides sobre a imutabilidade do ser conduzirá à negação de tudo o que advém dos sentidos. Prato cheio para a posterior síntese que Platão fará na sua conhecidaTeoria das Formas em que sintetiza os pensamentos de Heráclito e Parmênides.

Dica de Livro

Caso tenha interesse em se aprofundar nas discussões sobre os primeiros filósofos também chamados de Pré-socráticos, naturalistas ou físicos sugiro a leitura de um livro muito básico chamado: “Como Ler os Pré-Socráticos” da autora Cristina de Souza Agostini. Nas referências bibliográficas cito um link para um comentário à obra, feito pela própria autora, caso tenha interesse veja. O vídeo poderá enriquecer a sua compreensão acerca do tema.

Dica de Música

Para entender o conceito do eterno devir heraclitiano citado neste texto vale a pena ouvir a música: Como uma Onda do cantor, compositor e guitarrista brasileiro Lulu Santos.

Dica de Vídeo

Fábio Guimarães de Castro

Referências Bibliográficas

ANTISERI, Dario; REALE, Giovanni. História da Filosofia (vol. I). 8. ed. São Paulo: Paulus, 2007.

BURNET, J. A Aurora da Filosofia Grega. Trad. de Vera Ribeiro. RJ: Contraponto: Ed. PUC-Rio, 2006.
VÍDEO SOBRE O LIVRO: Como Ler Os Pré-Socráticos:https://www.youtube.com/watch?v=Q2RqIAiMMNw

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