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Demagogia – O que é
O dicionário Aurélio descreve como um dos possíveis significados para o termo demagogia: “Conjunto de processos políticos hábeis tendentes a captar e utilizar, com objetivos menos lícitos, a excitação e as paixões populares”.
Embora aparentemente nebulosa a definição, dada pelo dicionário, o termo é bastante comum ao nosso cotidiano; utilizado largamente no plano político para designar ações de diferentes representantes do povo que, com objetivos pouco lícitos, arquitetam discursos visando manipular a consciência popular a aderir a suas propostas.
Demagogia – Definição
Etimologicamente, demagogia é a arte de liderar o povo, de saber falar com ele e encantá-lo. Originalmente, não tinha uma conotação pejorativa, como acontece muito frequentemente hoje em dia.
Demagogia é uma atitude política e retórica que visa tentar dominar o povo, garantindo seu favor e fingindo apoiar seus interesses.
Declarações demagógicas são feitas com o objetivo de ganhar apoio do grupo apelando às paixões e exacerbando frustrações e preconceitos populares. Para isso, o demagogo usa discursos deliberadamente simplistas, sem nuances, distorcendo a verdade e demonstrando excessiva complacência. Ele apela, assim, à facilidade, até mesmo à preguiça intelectual, propondo análises e soluções que parecem óbvias e imediatas. Não apela à razão e não busca verdadeiramente o interesse geral.
A demagogia, que surgiu com a democracia grega, é encontrada em todas as democracias, especialmente em vista das eleições.
Natureza e formas da demagogia
Demagogia
A palavra “demagogia” faz parte do vocabulário político mais básico e, ainda assim, é frequentemente usada apenas para insultos. Um ou outro de seus adversários políticos será criticado por sua “demagogia”, termo que designa a natureza insignificante e frívola de seus argumentos, sugerindo também que mentiras e má-fé fazem parte de sua estrutura. A intenção de enganar seria o objetivo e a função do discurso demagógico. Se tudo se reduzisse a esta observação, não seria necessário dedicar várias páginas ao assunto.
No entanto, quando refletimos sobre esse termo, vemos que a demagogia é como a ideologia: é sempre “o discurso do outro”, para usar uma frase usada por Paul Ricoeur. Assim como a ideologia, a demagogia questiona nossa relação com a realidade. Entre uma promessa e seu cumprimento, há sempre uma margem de incerteza. É nisso que se desenrola sua operação.
A característica de uma noção polêmica é que ela é relativa a um contexto.
É mais uma arma do que um argumento. Tentar compreender o fenômeno da demagogia não é, portanto, evidente e é bem possível considerar que esse fenômeno não é em si interessante (que não é um objeto filosófico).
O fato é que a reflexão sobre a política nem sempre procurou identificar a demagogia, embora a palavra seja usada várias vezes por dia na esfera mediática[1]. Como podemos defini-lo?
Para ir direto ao ponto, não há demagogia sem linguagem: falar em público continua sendo uma condição de sua existência. Falaremos de demagogia em relação a uma atitude corporal? É difícil seguir nessa direção.
Um gesto ou uma encenação do corpo pode ter uma infinidade de significados, mas não pode ser acusado de demagogia. Uma atitude é provocativa, expressa uma emoção, mas não pode lisonjear a mente, mesmo que, por outro lado, possa despertar o desejo.
Falaremos de demagogia na vida familiar ou privada?
Um pai pode mentir para os filhos, mas a demagogia pressupõe um público que deve ser seduzido: se as relações de autoridade às vezes se referem à sedução como meio, elas nunca se baseiam nela. Eles assumem uma hierarquia livremente aceita que torna o progresso possível. Um pai demagógico cai numa espécie de perversão, pois considera seus filhos como eleitores. É verdade que a família pode ser concebida como um bem público e que se torna, através de costumes democráticos, um lugar de debate, mas ainda não chegamos à prática da eleição para designar o chefe da família.
Se não há demagogia sem falar em público e sem sedução, não há demagogia sem conhecimento preciso daqueles a quem se dirige. É neste sentido que este último é tanto um saber-fazer quanto um saber-fazer.
A demagogia exige certo talento e qualidades como orador e ator. Se devemos examinar primeiro o pensamento grego, é sobretudo porque esse vínculo entre linguagem e poder político é compreendido e ganha forma pela primeira vez.
Um texto tão comentado quanto o Górgias de Platão por si só estabelece uma tradição que marca o pensamento ocidental: ser um bom conversador não confere competência e ainda representa um grande risco para a justiça na cidade. Mais pragmático, Aristóteles entende que a arte de falar não é boa nem má em si mesma; seu uso e fim pretendido determinam seu valor moral e político. Segundo a tradição grega, o demagogo é um líder de homens. Isto não é para ser pejorativo. Ele sabe como liderar a cidade, seu poder é inquestionável. De fato, nessa oposição entre Platão e Aristóteles, foi escrita uma página de reflexão política que ainda hoje repercute. O demagogo sabe falar, colocar-se em cena, seduzir, mas a opinião pública também lhe dá crédito por saber agir para o bem de todos. Um dos mistérios do fenômeno demagógico reside, portanto, nessa ambivalência; O demagogo seduz tanto quanto assusta ou irrita.
Do ponto de vista histórico, é preciso ficar surpreso com essa mudança de tom: como passamos de um valor relativamente positivo em Aristóteles para uma denúncia moderna e desenfreada?
A demagogia só existe num mundo democrático. Em monarquias absolutas ou tradicionais, ela existe apenas na forma de bajulação devida ao príncipe ou rei. O demagogo não é uma figura da era clássica, ele é um personagem do mundo grego e do mundo moderno. Ela surge quando o cidadão é reconhecido como entidade autônoma e política, existe quando uma parcela de poder se espalha por todo o corpo social. Quando a sociedade não tem existência política, a prática da demagogia não parece ser uma necessidade.
O exame, num segundo momento, de algumas teses de Raoul Frary, autor do século XIX, que ao escrever o Manual do Demagogo faz uma análise irônica do fenômeno, lança luz sobre a prática da demagogia em um mundo político construído em torno da eleição. Republicano convicto, mas tentado por um discurso pessimista sobre a decadência da nação, Frary aprecia as falhas da democracia parlamentar, sem questionar seus fundamentos. Outros serão mais radicais e cairão num antiparlamentarismo que levará à rejeição pura e simples da República. Assim, na década de 1930, Georges Batault publicou um panfleto intitulado O Pontífice da Demagogia, Victor Hugo, buscando na obra do poeta os grandes temas da demagogia que devem ser combatidos com democracia. A denúncia do demagogo torna-se então uma das figuras impostas do pensamento reativo ou reacionário.
Essa observação, no entanto, leva a uma pergunta simples: qualquer denúncia de demagogia é fundamentalmente antidemocrática? A resposta para essa pergunta não é fácil de dar. Será, portanto, oportuno examinar, diretamente, a ligação entre democracia e demagogia, mas também compreender a persistência deste fenômeno no discurso totalitário.
A definição de demagogia leva confusamente de volta à noção de realidade. Se o demagogo mente, se manipula consciências, ele só o faz em relação a um referente. Assim, o julgamento feito sobre a noção de demagogia é sempre feito com base em uma realidade que nos permite decidir sobre a exatidão de uma afirmação. É essa brincadeira com a realidade que estabelece uma forma de feitiço que deve ser decifrada.
O Bem-Amado de Dias Gomes
Na literatura brasileira um grande exemplo de demagogo pode ser encontrado na farsa sócio-política O Bem-Amado de Dias Gomes. Nela, o leitor tem conhecimento das estratégias adotadas pelo homem público, corrupto e demagogo político, Odorico Paraguaçu, candidato à Prefeito de Sucupira, que à semelhança dos corruptos políticos brasileiros não hesita esforços para se eleger ainda que isso custe enganar seu eleitorado com promessas inatingíveis e desnecessárias para a realidade sócio-política local ou fazer uso de meios ilícitos para atingir e manter o apoio popular. Caso tenha interesse na obra sugerimos a sua leitura, que inclusive, recorrentemente, é cobrada no exame Enem e em diversos vestibulares do país.
Demagogia
Características dos Demagogos:
Os demagogos embora possam ser diversos haja vista às multiplicidades de possíveis circunstâncias de sua prática demagógica, é comum que esses apresentem as seguintes características:
Pessoas públicas com grande aceitação popular;
Flexibilidade moral e ética para ajustá-las aos seus interesses, normalmente políticos;
Valem-se de argumentos apelativos, emocionais e falaciosos visando estrito convencimento do seu público-alvo;
Mostram-se conservadores ou progressistas a depender da necessidade momentânea, sem posicionamentos claros e coerentes em sua prática, a menos que tais posicionamentos sejam essenciais para a conquista de seu objetivo.
Demagogia: degeneração da Democracia
O filósofo grego Aristóteles apontou a demagogia como sendo uma degeneração da democracia. Em que alguém, com certo apoio popular, consegue manipular a consciência das massas e redirecionar os desejos e vontades coletivas para a concretização dos interesses pessoais do demagogo. Nesse sentido, o demagogo aproveita das vantagens do regime democrático, mas desvirtua suas finalidades de modo a adequá-las aos seus objetivos, tal qual faz o personagem Odorico Paraguaçude O Bem-Amado.
Fonte: Colégio São Francisco/Fábio Guimarães de Castro/www.toupie.org/shs.cairn.info
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