Método Científico

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Neste texto, abordaremos a Filosofia da Ciência. E temos como meta responder às seguintes questões: O que define um conhecimento científico? Desde quando datam as reflexões científicas? Será que elas surgem apenas na modernidade ou podemos ver vestígios seus desde a antiguidade oriental e ocidental? Quais são os filósofos e suas contribuições para o pensar científico? Para solucionar essas e outras questões, traçaremos um breve panorama da história do pensamento científico com ênfase na cosmologia e ciência do século XVI, XVII e XX.

O que é ciência?

Para além duma univocidade conceitual, o termo ciência adquiriu plurissignificações nos diversos teóricos que dela fizeram uso. Desse modo, a definição que aqui pormos será, sem dúvida, apenas um ver perspectivo acerca da ciência que não quer jamais legitimar uma definição dentre as inúmeras possíveis.

Numa primeira definição podemos entender ciência como uma prática sistemática e metódica, orientada por uma intencionalidade prévia, para a aquisição de conhecimentos minimamente plausíveis acerca dos fenômenos naturais e humanos. E é nesse sentido que contrapomos a ciência às outras formas de obtenção de conhecimento: mitologia, religião, senso comum, filosofia, etc.Todavia, contrapor não quer dizer expressar relação de superioridade, mas antes mera diversidade metodológica na apreensão do mundo.

Desse modo, cumpre ressaltar com veemência que embora a ciência desempenhe papel fundamental na apreensão do mundo, ela não é o único meio de obtenção de conhecimentos. E o desenvolvimento da história humana comprova isso.

Desde a antiguidade clássica greco-romana, as mitologias cumpriam papel satisfatório na apreensão de parte da realidade cognoscível cosmogônica e cosmológica; ou ainda as mais diversas religiões politeístas ou monoteístas do mundo que até hoje objetivam desvelar os fenômenos sobrenaturais e suas relações com seres transcendentes; ou ainda osenso comumque, embora baseie-se na observação pouco cuidadosa, no achismo, nas experiências individuais, é sem dúvida uma forma de apreensão espetacular do mundo que todas as sociedades usaram e continuam a usar para entender a realidade circundante; ou ainda a Filosofia que, devido à sua especificidade, instiga o ser humano a ver o real para além de uma mera superficialidade e a atingir a totalidade do real.

Método Científico

Datação da Ciência

Na Antiguidade Clássica, destacam-se os filósofos Pré-Socráticos que embora não tivessem uma ciência sob os moldes que temos desde a modernidade já buscavam explicações acerca dos fenômenos naturais: a origem do cosmo e das coisas.Construíam assim explicações racionais, baseadas na elaboração de hipóteses, o que os aproxima e muito da perspectiva científica atual, claro que guardadas as devidas proporções para não cometermos anacronismo semântico. Dentre esses filósofos cumpre citar: Tales de Mileto, Pitágoras, Leucipo e Demócrito (base da atual teoria atomística na química) e inúmeros outros.

É importante frisar que até o século XVII ciência e filosofia compartilhavam dos mesmos métodos e investigações e é, dentre outras razões, que todo currículo de Filosofia das escolas trazem reflexões sobre o pensamento científico como: seus limites e possibilidades na apreensão dos fenômenos naturais e humanos.

Ciência Séculos XVI e XVII

É nesse contexto que temos as bases para o que posteriormente chamaremos de ciência moderna iniciada pela revolução copernicana que contestará as ciências antiga e medieval e proporá uma nova visão de universo, não mais baseada na intervenção de forças sobrenaturais, nem na mera teorização do universo, mas na evidência da observação rigorosa, metodológica; a verdade racional. E é nesse contexto que destacamos o surgimento dos métodos científicos propostos pela física essencialista aristotélica e a ptolomaica, bem como a importância de filósofos como: Leonardo Da Vinci, Nicolau Copérnico, Giordano Bruno, Galileu Galilei, Kepler, etc.

A física aristotélico-ptolomaica, conhecida largamente pelo geocentrismo, propunha o imobilismo da Terra no centro da órbita dos planetas. Embora estivesse errada essa teoria ela perdurou inquestionável por mais de 1400 anos na história, pois fora baseada na matemática e tinha o apoio dogmático da Igreja o que desencorajava a muitos intelectuais da época tentar objetar tal teoria, basta lembrarmos do contexto sócio-político medieval que toda e qualquer contraposição às ideias da Igreja eram punidas com tortura, fogueira, prisão domiciliar.

Contrário à metodologia e conclusão a que chegaram Aristóteles e Ptolomeu em suas físicas, Nicolau Copérnico, por meio da chamada Revolução Copernicana, modifica o pensamento europeu da época: liberta o pensamento da filosofia escolástica, retira a Terra da órbita dos planetas e coloca o Sol como centro orbital. É necessário dizer que Copérnico enfrentou dificuldades grandes para que o seu sistema prevalecesse na ciência, haja vista ele ter todo o ambiente intelectual da época contrário à sua teria heliocêntrica.

Outro pensador importantíssimo foi o Giordano Bruno, que embora fosse também padre criticou vorazmente o dogmatismo cristão e propunha a infinitude do universo, além de propagar a leitura filosófica do Heliocentrismo copernicano; motivos mais que suficientes para a Igreja da época querer calá-lo. Por preferir a morte a renunciar ao seu credo filosófico, foi condenado à fogueira em praça pública. Por isso, Giordano Bruno é considerado por muitos: “mártir da ciência”.

Leonardo Da Vinci, além de ser pintor renomado teve grande importância na elaboração do método científico nascente. Propunha um método não mais baseado apenas na teorização e observação da realidade, mas acreditava que esses passos deveriam ser seguidos pela experimentação rigorosa o que representará um grande salto qualitativo na ciência moderna se comparada à ciência antiga e medieval.

Galileu Galilei fazendo uso dos progressos que a ciência obteve até o seu momento histórico avança na produção do conhecimento científico. Para tanto, recorre às lentes criadas pelos holandeses em 1609 e as aperfeiçoa intencionando potencializar a precisão na observação dos fenômenos. Todavia, para além do mero aperfeiçoamento das lentes holandesas, Galilei introduz o uso da luneta tornando-a instrumento de pesquisa científica num contexto em que todo e qualquer objeto que fosse além da visão natural, presente divino, seria considerado instrumento de enganação.

Com essa invenção e uso da luneta como instrumento de pesquisa, Galileu trará grandiosas contribuições para a humanidade como: a descoberta de que a superfície da lua não é polida, mas antes esburacadas; as estrelas fixas independem da luz solar, pois possuem luz própria, etc. Por afrontar a autoridade constituída da Igreja, dos teólogos, Galileu foi condenado questionado pela Santa Inquisição e ao renegar suas ideias cumpriu prisão perpétua domiciliar.

A Ciência do Século XX

As reflexões sobre o método científico ganharão corpo na posteridade em filósofos do século XX como: Karl Popper, Thomas Kuhn, Paul Feyerabend, dentre outros que com métodos ora distintos ora complementares moldam o pensamento científico da atualidade.

Karl Popper: Crítica à Indução

Karl Popper, um dos expoentes da filosofia da ciência do século XX, a partir do chamado racionalismo crítico trata dos problemas da indução e da demarcação na ciência. Para entendermos os problemas aos quais Popper irá dedicar o seu empreendimento filosófico é preciso antes retroceder para posteriormente avançar.

Anterior a Popper, a comunidade científica acreditava veementemente que o único método de obtenção confiável de conhecimento científico era a indução.Dessa forma, o cientista ao desenvolver o seu trabalho de observação da realidade deveria partir sempre de experiências particulares e chegar a leis universais. Noutras palavras, é como se eu pudesse afirmar a necessidade lógica de o sol vir a nascer amanhã apenas porque ele nasceu repetidamente por 4,5 bilhões de anos. Assim sendo, desprezavam toda e qualquer teoria não baseada no método indutivo de observação dos fenômenos.

Popper, averso ao método indutivo, propõe que o método científico deva ser o hipotético dedutivo e estabelece ainda o falseacionismo como critério de demarcação (cientificidade)de uma teoria.Em posse do falseacionismo, o filósofo estabelece o caráter provisório e conjectural das teorias científicas, haja vista a impossibilidade humana de testar todos os casos particulares de um dado fenômeno no passado, presente e futuro. Desse modo, uma teoria permaneceria aceita enquanto as experiências atuais fossem capazes de corroborá-la. O que, no limite, levaria a ciência para cada vez mais próxima da verdade não sendo as refutações critério de descrença na teoria científica, mas antes a crença de que ela está se aproximando da verdade.

Thomas Khun: Troca de Paradigmas

Thomas Kuhn, filósofo e físico americano, pensa o método científico diferente de Popper e mostra que a ciência se desenvolve não por causa do falseacionismo, mas antes pelas revoluções científicas que marcam trocas de paradigmas. Exemplo claro de troca de paradigmas citamos neste texto quando falamos da revolução copernicana que altera o paradigma do geocentrismo aristotélico-ptolomaico por outro paradigma: o heliocentrismo copernicano.

A você que está perguntando o que é um paradigma, uma possível definição seria: verdades aceitas e partilhadas pela comunidade científica e intelectual de uma sociedade a ponto de se tornarem modelos para se pensar sobre aqueles fenômenos.

Paul Feyerabend: Anarquismo Epistemológico

Contrário a uma infinidade de filósofos que propuseram inúmeros métodos de investigação científica, Feyerabend propõe o que poderíamos chamar de anarquismo epistemológico. Em outras palavras, o filósofo propunha que ao realizar a sua investigação científica o cientista abrisse mão de todo e qualquer método científico universal e fizesse uso de recursos metodológicos próprios, não sistematizados, em vista do desenvolvimento da própria ciência.

Fábio Guimarães de Castro

Referências Bibliográficas

ANTISERI, Dario; REALE, Giovanni. História da Filosofia (vol. II e III). 8. ed. São Paulo: Paulus, 2007.

CHALMERS, Alan F. O que é ciência afinal? Brasiliense: 1993.

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