Epicurismo

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Epicurismo – O que é

Epicurismo é uma das três grandes escolas filosóficas do período helenístico. Período marcado por grandes turbulências morais, daí a ética surgir como uma resposta à crise moral do mundo grego antigo dando esperança aos indivíduos que mesmo diante da desordem social a felicidade é sim possível.

Na consciência comum, o epicurismo sofre de um mal-entendido. Seria por excelência uma filosofia do prazer, um hedonismo, e o epicurista um hedonista, na melhor das hipóteses um bon vivant, na pior das hipóteses um homem depravado. Ora, se ele elogia o prazer, é no quadro de um ascetismo racional. Uma análise rigorosa dos verdadeiros prazeres levou Epicuro (341-270 a.C.) a julgar que “nem bebedeiras e banquetes contínuos, nem o prazer de rapazes e mulheres […] geram uma vida feliz, mas o raciocínio sóbrio […] afasta as opiniões pelas quais a maior perturbação se apodera das almas” (Carta a Meneceu).

A busca pela felicidade move o epicurista. Agora, uma vida feliz é, antes de tudo, uma vida livre de dor e desprovida de preocupações (ataraxia). Devemos fazer de tudo para evitar o sofrimento, ou melhor, ficarmos incomodados. Somente o indivíduo é verdadeiro em suas sensações imediatas de prazer e desprazer.

Todo o resto é vão e não existe propriamente: o passado e o futuro, as suposições da razão, as ilusões da imaginação, as ilusões do desejo. Nesse sentido, sabedoria é sempre seguir a natureza e não buscar nada além dela. Ora, a física (ou o conhecimento da natureza) ensina-nos que existem apenas átomos, capazes pelo seu movimento de se combinarem para constituir corpos; com o vazio infinito, eles produzem os dois princípios suficientes de qualquer explicação naturalista. O resto é quimera, e dessa convicção é possível deduzir uma ética da felicidade como prazer.

“O grito da carne: não ter fome, não ter sede, não ter frio. “O verdadeiro prazer segundo Epicuro é antes de tudo a sensação de bem-estar de alguém que, satisfeito, não sente necessidade. “Imóvel” ou “em repouso”, corresponde a um equilíbrio fisiológico, a um “grau zero de sensibilidade” (Paul Valéry). O homem sábio que quer escapar das preocupações e inquietações limita seus desejos àqueles que são “naturais e necessários”. Elas são muito limitadas e a natureza as supre facilmente. Contentar-se com o mínimo, beber para não sentir sede, comer apenas o suficiente para não sentir fome, dormir em qualquer condição, isso é suficiente. A sexualidade se enquadra em outra categoria de necessidades, “naturais, mas não necessárias” ao indivíduo, se não à espécie; assim que se torna causa de inconveniência ou problema, devemos aprender a controlá-lo, ou melhor ainda, a viver sem ele. Paixões que visam apenas satisfazer infinitamente necessidades imaginárias são naturalmente banidas. “Não é o estômago que é insaciável, mas a opinião errada sobre ele!” Contudo, não somos convidados a viver como animais saciados. A tranquilidade de uma vida natural e frugal é humanizada pela importância dada à amizade e à beleza. No Jardim de Epicuro, o sábio, conversando com seus amigos, sabe aproveitar a deliciosa beleza do momento que passa.

O resto, todas as “vãs imaginações”, especialmente superstições sobre deuses e morte, devem ser severamente reprimidas; Eles causam ansiedade desnecessária. Os deuses existem, mas sua natureza feliz implica total impassibilidade e, portanto, sua indiferença para conosco.

Quanto à morte, é preciso estar vivo para se preocupar com ela: “Tolo é aquele que diz temer a morte, não porque sofrerá quando ela chegar, mas porque sofre pelo que ela deve acontecer. […] Assim, o mais terrível dos males, a morte, não é nada comparado a nós, pois, quando existimos, a morte não existe, e, quando existe, não existimos mais.

Embora, “seguindo os passos de Epicuro”, como ele mesmo disse, o poeta latino Lucrécio (século I d.C.) tenha escrito um tratado admirável – De natura rerum – a posteridade conservou menos dessa terapia austera e rigorosa da alma – não há deus a temer; a morte está além de toda sensação; a felicidade é acessível; podemos suportar – esse “materialismo” e a suposta apologia do prazer. Embora tenham pouca relação com seus homônimos modernos, os átomos epicuristas propõem uma física sem metafísica e sem teologia, mesmo que não seja ateísta. Também conhecemos o sucesso que o epicurismo, revisitado por Lucrécio, obteve no século XVII, com Gassendi, e especialmente no século XVIII, com La Mettrie, Helvétius e d’Holbach. Mas os famosos “porcos de Epicuro” (Cícero) caluniam uma sabedoria cuja regra de vida se assemelha mais a um monaquismo severo do que à vida dos sibaritas. Devido a algumas fórmulas desligadas de sua doutrina, essa reputação foi obra principalmente dos latinos (Satyricon de Petrônio, inscrições de Pompéia) e depois de alguns libertinos modernos. “Todo homem que quisesse apenas viver, viveria feliz”: a fórmula epicurista de Rousseau foi retomada em maio de 1968. A crise contemporânea da ética traz um retorno a Epicuro como moralista. De Michel Foucault a Michel Onfray, a convicção de que um bom uso dos sentidos e uma moralidade dos prazeres podem levar à felicidade razoável no momento presente não deixa de repercutir poderosamente.

Epicurismo – Princípios

epicurismo, uma filosofia antiga, mas ainda relevante, enfatiza a busca da felicidade autêntica por meio de prazeres moderados e da evitação do sofrimento. Esta escola de pensamento incentiva você a cultivar sabedoria em suas escolhas de vida, abraçar a simplicidade e buscar serenidade. Explore aqui alguns princípios fundamentais que orientam o epicurismo e podem ajudar você a levar uma vida mais plena.

Epicurismo – Definição

Doutrina de Epicuro e seus discípulos, especialmente Lucrécio.

epicurismo é baseado em uma física materialista segundo a qual somente o vazio e os átomos existem. Eles compõem corpos e mundos que se agregam e se desintegram de maneiras imprevisíveis. O conhecimento é baseado na sensação produzida pelo encontro dos átomos do corpo sensível com os átomos periféricos, chamados simulacros, do objeto sentido. A alma, ela própria composta de átomos, é mortal. Os deuses, cujos átomos não podem se dissociar, são imortais e vivem nos intermundos, indiferentes ao destino dos homens. Sabedoria é viver no presente, não temer a morte ou os deuses, suportar a dor e alcançar a felicidade buscando satisfazer desejos naturais e necessários (como beber água ou comer pão) para experimentar os prazeres estáveis ​​que uma vida saudável proporciona.

Do ponto de vista moral, o epicurismo é um hedonismo ascético, isto é, uma busca de prazeres (hedonè) que se praticam (askesis) selecionando de tal forma que sejam vivenciados sem excessos.

Criticado pelos estóicos que, caricaturando seu pensamento, tratavam os epicuristas como “porcos” (porque o prazer vem do estômago), o epicurismo, eclipsado pelo cristianismo, reapareceu durante o Renascimento com Erasmo e Montaigne.

No século XVII, a física atômica de Epicuro foi adotada por Gassendi, um oponente dos cartesianos. Durante o Iluminismo, Diderot e d’Holbach foram inspirados por seu materialismo, assim como Marx no século XIX, que escreveu sua tese de doutorado sobre a filosofia da natureza de Demócrito e Epicuro. Finalmente, no século XX, Francis Ponge, um poeta fenomenológico, afirmou ser seguidor de Lucrécio.

Epicuro – Vida e Obra

Epicurismo

Epicuro (341 – 271 a.C.) semelhante a outros filósofos antigos também fundou uma espécie de academia chamada de O Jardim aberta a todo e qualquer indivíduo grego. E a palavra indivíduo, nesse sentido, é de extrema importância porque a escola filosófica de Epicuro não impunha restrições quanto a ser ou não cidadão para ter acesso ao Jardim e consequentemente às discussões filosóficas que lá aconteciam.

Em seu projeto filosófico encontramos respostas a três grandes áreas do pensamento filosófico: a Física, a Lógica e a Ética; vertentes comuns nas discussões da filosofia helenística.

A Física Epicurista

Recebeu forte influência do atomismo de Leucipo e Demócrito; o que inclusive lhe rendeu algumas críticas como a de que a sua física seria uma mera reprodução do atomismo desses filósofos pré-socráticos. Todavia, para além de fazer meras investigações de caráter puramente físico o filósofo tem como intenção fazer da física um trampolim para a ética. Isso ficará mais claro quando vermos a ética epicurista.

A Lógica Epicurista

Nesse quesito, o filósofo distanciando-se do intelectualismo platônico-aristotélico, pensa a adequação do sujeito cognoscente ao objeto dando grande relevância à atuação dos sentidos na obtenção do conhecimento.

Desse modo, não é que os sentidos possam nos conduzir ao engano, mas antes que as nossas faculdades intelectivas não apuram, como deviam, os dados sensoriais recebidos.

A Ética Epicurista

Baseando-se no movimento dos átomos e a sua possibilidade de desviar-se espontaneamente,o filósofo pensa o desvio espontâneo do destino feito pelo indivíduo visando romper com determinismo fatalista de uma vida sem sentido e possibilitando almejar a autêntica felicidade ainda que imerso numa situação caótica de instabilidade social semelhante a que estavam vivendo os gregos do período helenista. Em outras palavras, a ética epicurista surge como uma resposta à crise do mundo grego propondo a possibilidade de ser ainda feliz aconteça o que acontecer.

Se buscássemos uma chave de leitura para a ética epicurista essa seria, sem dúvida,a busca do prazer como meio e não finalidadepara se atingir a felicidade. Nesse sentido, o prazer é compreendido a partir da ausência de dor física ou espiritual, bem como o estado de impertubabilidade do espírito. Todavia, atenção para as comparações apressadas e errôneas da busca pelo prazer da ética epicurista com o hedonismo da Escola Cirenaica.

Pensando os prazeres, Epicuro encontra neles alguns desejos:

Naturais e necessários: Seriam os desejos básicos de sobrevivência associados à alimentação, nutrição do corpo biológico sem, contudo, exagerar.
Naturais, mas desnecessários: ainda poderíamos pensar na alimentação, na bebida, mas aqui elas não têm a finalidade de apenas proporcionar a nutrição. Seria o caso, por exemplo, eu preferir tomar suco de uva Rubi Romana (uva mais cara do mundo) a tomar suco de uva Niágara (uma das mais vendidas no Brasil e de baixo custo). Perceba que o consumo do suco da uva mais cara do mundo pode ser natural, mas jamais seria necessário.
Nem naturais, nem necessários: Esses prazeres deveriam ser abolidos, erradicados desde a raiz, pois não conduzem o ser humano à felicidade. Seriam os desejos de riqueza, domínio.

Dito isto, as virtudes essenciais da ética epicurista são a moderação e a ataraxia. Essa, é entendida como a um estado de imperturbabilidade do espírito mediante a ausência plena de dor. Aquela, compreendida como a correspondência harmoniosa entre os desejos visando o ideal moral que é a felicidade.

Dica de Vídeo

Fonte: Colégio São Francisco/Fábio Guimarães de Castro/www.philomag.com/www.universalis.fr

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