Orfismo

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No mundo grego antigo, assim como em diversas outras civilizações, a religião teve um papel decisivo tanto na formação moral e/ou espiritual de seus cidadãos quanto para consolidar um código legal e dogmático a ser seguido.

Em se tratando de religiosidade grega, duas expressões religiosas se tornaram de fundamental importância no mundo antigo: a religião pública, que se baseou muito nos poemas homéricos (Ilíada e Odisseia) e de Hesíodo (Teogonia) e os mistérios órficos. O objetivo desse texto é justamente compreender as origens, características e especificidades desse mistério em particular que teve sua origem no poeta trácio Orfeu.

Embora a religião pública fosse a oficial na Grécia Antiga, Reale comenta que nem todos os gregos estavam satisfeitos com o corpo doutrinário da Religião Pública daí, nos círculos restritos, começar a surgir uma nova expressão religiosa com crenças específicas que ressignificavam muitas das práticas da religião pública. Essa nova expressão religiosa recebeu o nome de Mistérios Órficos.

O Orfismo, segundo os historiadores da filosofia Reale e Antiseri, “introduz na civilização grega um novo esquema de crenças e uma nova interpretação da existência humana”. Essa nova interpretação, adversa à tradição da religião pública, como ainda expõe os historiadores: “proclama a imortalidade da alma e concebe o homem segundo um modelo dualista que contrapõe o corpo à alma”.

Orfismo

Características do Orfismo

Imortalidade da alma: Diferente do que proclamava a religião pública, os órficos acreditavam na imortalidade da alma, isto é, após a putrefação biológica do corpo, a alma (independente da matéria) permaneceria viva e com a missão de expiar todas as culpas. Isso representou uma inovação para o pensamento religioso grego, ampliando e ressignificando a vida para os adeptos desses mistérios. Desse modo, se antes a vida acabaria com a morte da matéria corporal, agora é possível pensar na continuidade dessa vida em outros corpos numa sequência de renascimentos.Após purificada a alma, põe-se fim aos sucessivos ciclos de reencarnação e a alma voltaria para junto dos deuses;

Metempsicose: transmigração da alma de um corpo a outro visando expiar a culpa original e as culpas adquiridas ao longo da existência terrena pelo indivíduo;

Dualidade substancial entre corpo e alma: O corpo representaria uma espécie de cárcere temporário da alma, essa considerada princípio divino da existência.

Importância do Orfismo

Reale e Antiseri, após analisar as características dos mistérios órficos e a importância que eles representaram para o mundo grego antigo chegam à conclusão de que: “sem Orfismo não se explicaria Pitágoras, nem Heráclito, nem Empédocles e, sobretudo, não se explicaria uma parte essencial do pensamento de Platão e, depois, de toda a tradição que deriva de Platão, o que significa que não se explicaria uma grande parte da filosofia antiga”. Com essa citação dos historiadores italianos podemos entender com muito mais clareza a importância do Orfismo não apenas para a espiritualidade grega antiga, mas inclusive para possibilitar o pensamento de vários filósofos antigos que, bebendo nas fontes do Orfismo elaboraram teorias das mais diversas para explicar o funcionamento da natureza e do cosmos.

Fábio Guimarães de Castro

Referências Bibliográficas

ANTISERI, Dario; REALE, Giovanni. História da Filosofia (vol. I). 8. ed. São Paulo: Paulus, 2007.

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