Dogmatismo

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Dogmatismo – O que é

Do grego dogma (doutrina estabelecida), o dogmatismo é a posição epistemológica segundo a qual relação entre o sujeito cognoscente e o objeto cognoscível é não só pressuposta, mas também inquestionável.

Desse modo, o dogma assume o status de uma verdade aceita, de forma irrefletida,por um determinado grupo de modo a não importar o quanto tal “verdade” é, de fato, verídica haja vista não haver esse processo de análise quer seja a priori ou a posteriori se há uma correspondência entre o juízo emitido e o fato.

Hessen, ao referir-se à posição dogmática, é bastante incisivo quando diz: “A possibilidade e a realidade do contato entre sujeito e objeto são pura e simplesmente pressupostas. É auto evidente que o sujeito apreende seu objeto, que a consciência cognoscente apreende aquilo que está diante dela. Esse ponto de vista é sustentado por uma confiança na razão humana que ainda não foi acometida por nenhuma dúvida”.

Esse trecho de Hessen de sua obra Teoria do Conhecimento traz informações importantes para compreendermos o estatuto o dogmático. Ele afirma que o dogmático não questiona a possibilidade do conhecimento, simplesmente o pressupõe. Noutros termos, os sujeitos podem apreender os objetos e não há, para isso, um limite seja ele material ou abstrato que inviabilize tal apreensão.

Nesse sentido, a um dogmático as questões do tipo: quais os limites e possibilidades na intelecção dos entes metafísicos, abstratos seria uma pergunta destituída de sentido em si mesma haja vista o conhecimento ser sempre possível, o que o difere do cético seja ele relativo ou absoluto.

Bazarian distingue três tipos de dogmatismo.

São eles:

O dogmatismo ingênuo: a realidade é assim por que não poderia ser de outra forma;
O dogmatismo racional: entende a razão como o suprassumo capaz de sozinha, isto é, sem o auxílio da experiência e dos sentidos, conhecer toda a realidade cognoscente;
O dogmatismo irracional: a crença de que é possível obter conhecimento por meio da intuição, da revelação, da fé, ou seja, por meios não racionais, mas predominantemente afetivos, emocionais.

É bastante provável que você já tenha se deparado com a célebre afirmação: “política, futebol e religião não se discutem”. Essa afirmação, é profundamente dogmática uma vez que faz pressupor que os conteúdos valorativos dessas ações não possam ser questionados haja vista possuírem um pressuposto status inquestionável, de opinião pessoal do indivíduo que não possa ser reavaliada pela comunidade na qual ele expressou tal juízo.

Contrários ao dogmatismo afirmamos: “política, futebol e religião se discutem” tendo em vista a avaliação dos nossos posicionamentos e, quando necessário, a reformulação para não ferir os direitos dos demais ainda que sejam adversos aos meus princípios.

Dogmatismo e Dogmática – Definição

Dogmatismo

Etimologia: do grego dogma, opinião, com o sufixo -ismo, usado para formar palavras correspondentes a uma atitude, um comportamento, uma doutrina, um dogma, uma ideologia ou uma teoria.

Dogmatismo é a característica de doutrinas que apresentam suas afirmações como verdades fundamentais, incontestáveis ​​e intangíveis, sem espírito crítico. Na maioria das vezes, no domínio político ou religioso (dogmas), essas doutrinas podem, em certos casos, ser impostas pela força.

Na filosofia, o dogmatismo afirma a possibilidade do homem chegar a certezas, a verdades. Ele se opõe ao ceticismo.

Por extensão e com sentido pejorativo, dogmatismo é a propensão a dar aos próprios princípios, opiniões ou raciocínios um caráter afirmativo, imperioso, peremptório, rígido, não admitindo discussão.

O adjetivo dogmático é aquele que diz respeito a dogmas, é usado para qualificar certa rigidez de princípios ou raciocínios.

Dogmatismo – Filosofia

Na filosofia, o dogmatismo foi primeiramente oposto ao ceticismo ou pirronismo (nomeado em homenagem a Pirro de Eleia, o primeiro dos grandes céticos gregos, ~365-~275). Neste sentido, atestado por Diógenes Laércio (século III), o dogmatismo designa toda doutrina segundo a qual é possível chegar a certezas;

O ceticismo consiste, ao contrário, em professar que a mente humana, apesar de suas ambições especulativas, não tem meios de atingir verdades de ordem geral, de demonstrá-las e deve, consequentemente, abster-se de afirmar, abster-se de negar, refugiar-se em uma dúvida prudente e reservada e deixar todo julgamento em suspenso.

O dogmatismo opunha-se então à crítica; ou melhor, desde Kant (1724-1804), a filosofia “crítica” declarou-se contrária ao dogmatismo: tratava-se de substituir o “sono dogmático” pelo despertar crítico. A filosofia crítica se definiu como um exame preliminar da maneira como conhecemos, em vez de considerar os objetos conhecidos desde o início; e ela chamou de dogmática (num sentido pejorativo) a pretensão de estabelecer princípios ou extrair deles conhecimento sem antes questionar o direito à afirmação, suas condições de possibilidade e seus limites de exercício.

Na religião, o dogmatismo designa a disposição de crer em dogmas, isto é, verdades religiosas cujas credenciais não dependem de uma apreciação subjetiva, mas de uma autoridade transcendente (a do deus que se revela; a da sociedade religiosa que confessa, proclama, atesta que a tradição da qual vive tira suas garantias de uma objetividade sui generis, de uma experiência do sagrado que considera como um a priori fundador).

Foi o cristianismo helenístico, e mais precisamente o cristianismo bizantino, que forjou o vocabulário de um dogma de fé relacionado às Escrituras e às tradições provenientes da comunidade apostólica. Desde o primeiro concílio ecumênico (Nicéia, 325), qualquer definição de uma crença por meios conciliares, isto é, deliberada e decretada em uma assembleia plenária (representando a Igreja universal), depois elevada à ortodoxia oficial, à lei estadual por um decreto imperial, tem sido chamada de “dogma”.

Hoje em dia, com o poder da Igreja Católica concentrado nas mãos de um sumo pontífice e emancipada do poder civil, o surgimento de um dogma só requer promulgação pelo papa (por ocasião de um concílio ou após consulta ao episcopado). No início do século XX, teólogos e filósofos cristãos questionaram longamente a natureza epistemológica dos dogmas cristãos (não verdades especulativas obtidas pelo raciocínio dialético, mas fórmulas mistas – muitas vezes compromissos – onde um fato positivo, retirado do texto bíblico ou da fé tradicional, recebe uma certa elaboração racional; no entanto, a declaração dogmática deriva seu valor, não de sua estrutura lógica, mas do consentimento da sociedade eclesial, dona de seus documentos e de sua interpretação).

De 1893 a 1913, Maurice Blondel e Lucien Laberthonnière defenderam um “dogmatismo moral”: com isso eles queriam dizer, tanto na religião quanto na filosofia, uma doutrina em que o acesso à certeza só é proporcionado se pensamento e ação, crítica e prática, reflexão intelectual e comprometimento moral estiverem associados, interpenetrados, equilibrados no mesmo julgamento.

Na política, o perigo do dogmatismo (tirania, totalitarismo, fascismo, corporalismo) é duplo: ele vem do déspota ou do ideólogo.

O déspota, ou o autocrata, é aquele cujo poder é imposto porque é poder: não é regulado por nenhuma carta (nenhuma Constituição), não admite partilha (nem associados nem intermediários), nem contestação (nem controlo institucional nem censura pela opinião pública); é absoluto, evidente e só pode ser abolido ou reprimido pela força, por uma força maior.

O ideólogo, especialmente o ideólogo político, o pseudoteórico do poder, é aquele cujas ideias se desenvolvem no abstrato, ignoram a economia, as situações reais, o estado de necessidades, o equilíbrio de poder e não compreendem o que condiciona profundamente o social e o pensamento do social. Esse tipo de ideologia é ilusório e pernicioso porque é irrealista (na verdade, é realista à sua maneira; suas ilusões refletem inconscientemente interesses particulares que prejudicam o interesse geral, mas que, mesmo assim, existem).

Contudo, a mais astuta das ideologias é aquela que se convence de que nada tem de ideológico, aquela que renova e agrava o erro do cientificismo. Sob o pretexto de que a ciência é objetiva (quando se sustenta em seu próprio terreno, quando permanece desinteressada, quando consegue ser explicativa e operacional sob condições de experiência precisas e cuidadosamente delimitadas), apresenta-se a ideia de que o domínio da sociedade global é desejável, desejável e que é possível por meios estatais, científicos e técnicos.

O resultado não é apenas um projeto tecnocrático (que poderia continuar sendo um sonho), mas também um controle concreto sobre todas as atividades de uma nação: aquele que vemos em ação nos países avançados e que resulta do conluio entre poder público, poder financeiro, poder militar, poder tecnológico (“Estado ou complexo militar-industrial apoiado pelo Estado”). Esse novo dogmatismo é o do tempo presente. Ele acredita em uma ciência “neutra”, expurgada de qualquer elemento ideológico, estranha a qualquer mitologia (filosófica ou teológica). O paradoxo, como nos lembrou Jürgen Habermas, é que as democracias que afirmam ter uma cultura crítica não percebem que até mesmo a tecnologia, até mesmo a ciência, são capazes de funcionar como ideologia.

Fonte: Colégio São Francisco/Fábio Guimarães de Castro/www.toupie.org/www.universalis.fr

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