Governo Hermes da Fonseca

1910 – 1914

PUBLICIDADE

Ao vencer as eleições de 1910, derrotando o candidato liberal Ruy Barbosa, o marechal Hermes da Fonseca marcou o retorno de um militar à Presidência da República após 16 anos de governos civis.

Governo Hermes da Fonseca
Hermes da Fonseca

A vitória foi obtida com o apoio dos novos setores, questionadores da política café com leite, que souberam controlar os resultados eleitorais apesar da alta popularidade de Ruy Barbosa. A ascensão de uma nova oligarquia com base na política gaúcha, sob o comando do senador Pinheiro Machado, foi denominada de política das salvações; tinha por objetivo questionar a liderança de São Paulo e Minas Gerais mas mantinha o regime oligárquico, sem propor maior democratização da política brasileira.

Quintino Bocaiúva, também ligado às forças militares desde o início da República, foi outro importante representante da política das salvações. Devido à forte contestação popular, a administração de Hermes da Fonseca foi caracterizada pela utilização quase constante do estado de sítio.

Hermes Rodrigues da Fonseca ( Hermes da Fonseca ) 1910 – 1914

Militar, nasceu em São Gabriel, Rio Grande do Sul, em 1855, e era sobrinho de Marechal Deodoro da Fanseca.

Em 1889, Hermes da Fonseca participou da Revolta Republicana com Marechal Deodoro.

De quem foi ajudante – de – campo e secretário militar.

Dirigiu o Arsenal da Guerra da Bahia, fundou e dirigiu a Escola dos Sargentos, durante o governo de Floriano Peixoto.

A 15 de novembro de 1910 venceu a campanha civilista que apoiava Rui Barbosa e assumiu a Presidência da República.

Logo após sua posse várias revoltas eclodiram e foram combatidas pelas tropas governamentais.

Ainda durante o seu governo iniciou-se a política de “salvações iniciais”, sério de intervenções militares nos Estados, visitando ao expurgo de elementos da oposição, cujo prestígio combatia com a autoridade da Presidência.

Depois de deixar a Presidência, foi eleito senador pelo Parido Republicano Conservador ( PRC ), mais não assumiu.

Em 1922 envolveu-se na Revolta do Forte de Copacabana, sendo preso por seis meses, ao fim dos quais retirou-se para Petrópolis, onde morreu em 9 de setembro de 1923.

Período presidencial

Hermes da Fonseca foi o primeiro militar eleito à presidência através de um pleito nacional. Sua eleição expressou a falta de acordo entre as lideranças paulistas e mineiras, e a emergência no cenário político da aliança do Rio Grande do Sul com os militares, rompendo assim a “política do café com leite”. A influência do presidente do senado Pinheiro Machado no governo perdurou desde a sugestão de indicação da canditadura de Hermes da Fonseca até o fim do período presidencial.

No início do governo, eclodiu a Revolta da Chibata, levante de marinheiros que se opunham ao regime de castigos físicos em vigor na Marinha. A chibata era o instrumento utilizado pelos oficiais para açoitar os marinheiros que cometiam faltas consideradas graves. Após a punição do marinheiro Marcelino Rodrigues, que recebeu 250 chibatadas, assistida por toda a tripulação do encouraçado Minas Gerais, desencadeou-se a revolta liderada por João Cândido Felisberto, que ficou conhecido como Almirante Negro. Durante esse movimento, uma esquadra composta por três encouraçados chegou a voltar seus canhões em direção à cidade do Rio de Janeiro.

Em seu governo, Hermes da Fonseca utilizou-se das tropas federais para garantir a política de intervenção nos estados, denominada “política das salvações”, apoiando os canditados favoráveis ao governo central.

Em 12 de setembro de 1912, foi deflagrada uma rebelião de caráter messiânico, na região de litígio entre os atuais estados do Paraná e Santa Catarina, conhecida como zona do Contestado. As tropas do governo do Paraná iniciaram o primeiro confronto na cidade de Irani. Entre os 23 sertanejos mortos, estava o beato José Maria, líder do movimento que pretendia fundar uma “monarquia celestial” na região. Na área sob a sua influência não era aceita a cobrança de impostos nem permitida a propriedade da terra. Após vários conflitos armados, nos quais morreram cerca de vinte mil pessoas, a rebelião foi liquidada em 1915, já no governo de Venceslau Brás.

Em 16 de março de 1913, o governo assistiu, na capital federal, à manifestação de cerca de dez mil pessoas contra a deportação de sindicalistas, em cumprimento à nova lei que determinava a expulsão do país de estrangeiros envolvidos em greves. Em maio, ocorreram manifestações operárias em vários estados. Em 8 de outubro, a pedido do presidente, foi decretado o estado de sítio na capital federal, na tentativa de conter a onda de greves e de controlar o movimento operário. Nesse mesmo ano, em dezembro, Hermes da Fonseca decretou o estado de sítio no Ceará, em decorrência da revolução em Juazeiro do Norte, movimento que se originou da aliança formada entre o padre Cícero e os opositores ao governo de Franco Rabelo, indicado pelo governo federal.

Resumo

Sexto Período de Governo Republicano – 15.11.1910 a 15.11.1914

Nascimento: São Gabriel – RS, em 12.05.1855
Falecimento: Petrópolis- RJ, em 09.09.1923
Profissão: Militar (Marechal)
Período de Governo: 15.11.1910 a 15.11.1914 (04a)
Idade ao assumir: 55 anos
Tipo de eleição: direta
Votos recebidos: 403.867 (quatrocentos e três mil oitocentos e sessenta e sete)
Posse: em 15.11.1910, em sessão solene do Congresso Nacional presidida pelo Senhor Quintino Bocaiúva

Fonte: www.senado.gov.br /www.geocities.com

Governo Hermes da Fonseca

1910 – 1914

Juntamente com Hermes da Fonseca, nas eleições de 1o. de março de 1910, o Vice-presidente eleito foi Venceslau Brás.

Funcionara bem o sistema das oligarquias estaduais conjuntamente com a pressão militar.

Segundo relatos, era um homem bom, porém indeciso; o novo Presidente da República deixou-se influenciar pelos políticos que o cercaram.

O barão do Rio Branco foi mantido no ministério do Exterior; para o ministério da Guerra foi convidado o general Dantas Barreto. A Pasta do Interior e Justiça foi ocupada pelo rio-grandense Rivadávia Correia, leal correligionário do influente político Pinheiro Machado. (Pinheiro Machado, consoante avaliação da historiografia, possuía um poder enorme, chegando-se a dizer que era ele quem governava o país durante esses anos.)

Política das Salvações

Apoiado no Rio Grande do Sul pelo governador Borges de Medeiros e prestigiado pela maioria dos governadores dos outros Estados, Pinheiro Machado foi o político de maior influência na primeira fase do governo de Hermes da Fonseca. Uma grande modificação política, porém, sacudiu o país. Muitas oligarquias estaduais foram substituídas, ocorrendo conflitos, principalmente na Bahia, em Pernambuco e no Ceará.

Surgiram assim as “salvações” e muitas, como por exemplo a de Dantas Barreto em Pernambuco, e de J. J. Seabra na Bahia, eram francamente hostis à dominância política de Pinheiro Machado. Com muita razão disse o historiador José Maria Bello que, “instalados nos governos que haviam conquistado pela violência, mas com o apoio das massas populares fatigadas do longo domínio das oligarquias, os ‘novos salvadores’ montaram as suas máquinas locais, ainda mais intransigentes do que as antigas”.

Revolta da Chibata (1910)

Logo nas primeiras semanas do Hermes da Fonseca, os marinheiros dos maiores navios da esquadra amotinaram-se revoltados contra o regime de castigos corporais ainda vigente na Marinha. Ameaçando bombardear a cidade foram anistiados pelo governo, que, escarmentado, puniu, posteriormente, com excessiva severidade, os implicados em uma nova revolta surgida a 9 de dezembro entre os fuzileiros do quartel da Ilha das Cobras e a tripulação do “scout” Rio Grande do Sul.

A Revolta do Contestado

O Hermes da Fonseca teve de enfrentar um problema semelhante ao de Canudos. Nas regiões limítrofes do Paraná e Santa Catarina, o fanático João Maria, apelidado o Monge, instalara-se na região do Contestado, zona disputada pelos dois Estados. Em pouco tempo milhares de sertanejos sulinos congregaram-se em torno do Monge, repetindo-se o drama dos sertões da Bahia. Diversas expedições militares foram enviadas, sem resultado, para combater os fanáticos.

Somente no quadriênio seguinte é que uma divisão composta de mais de 6 000 soldados, sob o comando do general Setembrino de Carvalho, conseguiria dispersar, matando ou expulsando, os seguidores de João Maria. A área era cobiçada por empresas estrangeiras, devido à riqueza em madeira e em erva-mate.

Economia e Política

O desenvolvimento econômico do país sofreu seriamente os efeitos da instabilidade política. Retraíram-se os capitais europeus. O Norte sofreria, impotente, a concorrência da borracha asiática, encerrando-se a efêmera fase do progresso que vivera a Amazônia. Com suas receitas diminuídas, sem exportações, viu-se o governo na contingência de negociar um novo “funding loan”, empréstimo que comprometeria ainda mais as abaladas possibilidades financeiras do país.

Uma reforma de ensino assinala a atuação de Rivadávia Correia na Pasta do Interior e Justiça que abrangia também os assuntos da intrução pública. Deu-se a mais ampla liberdade e autonomia às escolas superiores, que se multiplicaram então desordenadamente, agravando-se o problema de profissionais incompetentes.

Durante todo seu governo contou Hermes da Fonseca com o apoio de Pinheiro Machado. Em troca, dera-lhe tal prestígio, que o velho político gaúcho, líder no Senado, transformara-se, apesar da rebeldia de algumas salvações, no “supremo coronel” de todo todos os coronéis políticos do país.

Pacto de Ouro Fino

Os paulistas e os mineiros, que se haviam confrontado na eleição presidencial anterior, pactuam um novo acordo, superando a primeira crise da política do Café-com-Leite.

Ao terminar o quadriênio presidencial de Hermes da Fonseca rebentara a 1a Guerra Mundial (1914-1918). O mundo iria atravessar dias difíceis. O Brasil também.

Fonte: elogica.br.inter.net

Governo Hermes da Fonseca

1910 – 1914

Nascido em São Gabriel, Rio Grande do Sul, no dia 12 de maio de 1855, Hermes Rodrigues da Fonseca, sobrinho de Deodoro da Fonseca, ingressou na Escola Militar aos 16 anos. Quando se formou, passou a servir o Império como ajudante de ordens de Conde D’Eu. Com a república foi convidado pelo tio para ajudante-de-campo e secretário militar. Passou a acumular cargos administrativos até alcançar o Ministério do Exército e o Supremo Tribunal Federal no governo de Campos Salles.

Com Afonso Pena no poder, Hermes da Fonseca manteve seu cargo no ministério até pedir demissão devido à discussão na Câmara sobre a participição dos militares na vida política do país. Lançou sua candidatura em oposição a Rui Barbosa e pela primeira vez no regime republicano se instalou um clima de campanha eleiotoral com a disputa entre civilistas e hermistas. Com o convite de Nilo Peçanha para que retornasse ao cargo no ministério, Hermes da Fonseca se fortaleceu e venceu as eleições de 1910.

Chegou ao poder com grande popularidade, mas o primeiro grave problema de sua gestão, a Revolta da Chibata, veio fragilizar a sua imagem. Para conter o movimento ordenou o bombardeio aos portos. Logo outra revolta veio conturbar o seu governo, a Revolta do Contestado, que não chegou a ser debelada até o final de seu governo. O mandato de Hermes da Fonseca, que terminou em 1914, caracterizou-se no quadro político principalmente pela política das salvações.

Elegeu-se senador pelo Rio Grande do Sul, mas renunciou antes de iniciar o mandato, partindo para a Europa de onde retornaria em 1920.

Durante o governo de Epitácio Pessoa, foi preso como presidente do Clube Militar devido a uma conspiração militar feita contra o governo, sendo solto seis meses depois.

O marechal Hermes da Fonseca morreu em 9 de setembro de 1923, em Petrópolis, Rio de Janeiro.

Fonte: www.agbcuritiba.hpg.ig.com.br

Governo Hermes da Fonseca

Governo Hermes da Fonseca
Hermes da Fonseca

Hermes Rodrigues da Fonseca (1855 – 1923)

Presidente da república brasileira (1910-1914) nascido em São Gabriel RS, que como ministro da Guerra no governo Afonso Penainstituiu o serviço militar obrigatório no Brasil.

Sobrinho do marechal Deodoro da Fonseca, ingressou na Escola Militar (1871), onde foi aluno de Benjamin Constant, de quem herdaria seu pensamento positivista.

Como capitão participou do movimento de 15 de novembro pela proclamação da república ao lado do tio (1889) e por ocasião darevolta da esquadra (1893), destacou-se na defesa do governo de Floriano Peixoto.

Comandou a Brigada Policial do Rio de Janeiro (1899-1904), quando assumiu o comando da Escola Militar do Realengo.

Promovido a marechal pelo presidente Rodrigues Alves, foi ministro da Guerra no governo seguinte, de Afonso Pena.

Nesse ministério reformou os serviços técnicos e administrativos e instituiu o serviço militar obrigatório.

Após regressar de uma viagem à Alemanha (1908), e numa disputa contra Rui Barbosa, foi eleito e empossado como o sexto presidente da república.

Logo no início do governo enfrentou  a revolta dos marinheiros (1910), seguida de um levante no batalhão de fuzileiros navais.

Restabelecida a ordem pública e apoiado pelo Partido Republicano Conservador, liderado por Pinheiro Machado, retomou o esquema das administrações anteriores, porém teve que “administrar” o surto militarista que visava a derrubada das oligarquias que dominavam as regiões Norte e Nordeste e colocar militares na chefia dos estados, em substituição aos políticos.

Em política externa promoveu uma aproximação com os Estados Unidos e no plano interno prosseguiu o programa de construção de ferrovias e de escolas técnico-profissionais, delineado no governo Afonso Pena.

Concluiu as reformas e obras da Vila Militar de Deodoro e do Hospital Central do Exército, entre outras, além das vilas operárias, no Rio de Janeiro, no subúrbio de Marechal Hermes e no bairro da Gávea.

Após deixar a presidência, em novembro, foi eleito senador pelo Rio Grande do Sul (1915), mas não assumiu a cadeira, em virtude do assassinato de Pinheiro Machado, no dia em que deveria ser diplomado, em setembro daquele ano.

Viajou para a Europa e só retornou ao Brasil seis anos depois, quando iniciava-se uma nova campanha presidencial.

Na presidência do Clube Militar, apoiou a candidatura de Nilo Peçanha, no movimento reação republicana.

Sua prisão foi então decretada pelo presidente Epitácio Pessoa e, seis meses depois, foi libertado graças a um habeas corpus.

Doente, retirou-se para Petrópolis, RJ, onde morreu.

Fonte: www.dec.ufcg.edu.br

Governo Hermes da Fonseca

1910 – 1914

Hermes Rodrigues da Fonseca nasceu na Vila de São Gabriel, na Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, a 12 de maio de 1855, sendo seus pais o Capitão Hermes Ernesto da Fonseca e D. Rita Rodrigues Barbosa da Fonseca.

Em maio de 1866, com onze anos de idade, veio para o Rio de Janeiro em companhia da mãe e dos irmãos.

Na capital do Império foi matriculado, em 1867, no Colégio Saint-Louis do padre Jules Janrard, permanecendo apenas um ano neste educandário, já que, no ano seguinte, ingressava no Imperial Colégio Pedro II.

Com o consentimento do pai, sentou praça no 1 º Batalhão de Artilharia a Pé, para, em 1872, ingressar na Escola Militar da Praia Vermelha, cujo curso completou, “ com serena regularidade e nos padrões comuns”. FAGUNDES, Umberto Peregrino Seabra. Justiça Histórica ao Marechal Hermes da Fonseca. In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, julho/setembro de 1984, p.69.

A 17 de dezembro de 1877, casou-se com sua prima, D. Orsina Francione da Fonseca, filha de seu tio o Cel. Pedro Paulino da Fonseca, união que perdurou até 30 de novembro de 1912, quando a mulher faleceu.

Sua carreira militar foi rápida e brilhante.

Em 1876, recebeu as insígnias de 2 º Tenente, posto em que permaneceu até 1879, quando foi promovido a 1 º Tenente, contando antigüidade para ser elevado a Capitão, em 1881. Nove anos mais tarde, ou seja, em 1890, foi promovido a Major por serviços relevantes e, em outubro do mesmo ano, a Tenente Coronel por merecimento, ascendendo ao posto de Coronel quatro anos mais tarde, a General de Divisão, em 1905 e a Marechal em 6 de novembro de 1906, por ato do Presidente Rodrigues Alves.

Hermes da Fonseca ocupou muitos cargos de grande responsabilidade durante sua carreira militar.

Assim, foi Ajudante de Ordens de Sua Alteza o Conde D’Eu, durante a Comissão de que este foi incumbido pelo governo Imperial, nas Províncias do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Comentando sua nomeação para tão alto cargo, assim se pronunciou Seabra: “Não a faria o Conde D’Eu sem ter para isso motivos especiais, ligados à personalidade do oficial sobre o qual incidia” . FAGUNDES, Umberto Peregrino Seabra. Op. Cit., p.69.

Durante a preparação do movimento de 15 de novembro de 1889 e após a instalação da República, foi Ajudante de Campo e Secretário Militar de seu tio, o Marechal Deodoro da Fonseca, figurando entre seus colaboradores mais ativos, sensatos e leais.

Por ocasião da Revolta da Armada (1893), participou dos combates, como comandante da artilharia na Ponta da Armação, em Niterói, contribuindo decisivamente para que ela não fosse conquistada pela esquadra rebelde.

Em 1896, no governo de Prudente de Morais, foi convidado pelo Vice-Presidente Manuel Vitorino, então no exercício da presidência, para ocupar o cargo de Chefe da Casa Militar da Presidência, em substituição ao Cel. Luís Mendes de Morais, permanecendo no exercício da função, mesmo depois que Prudente de Morais reassumiu o governo.

A 24 de dezembro de 1904, foi designado comandante do 4 º Distrito Militar, elaborando, na ocasião um vasto programa de remodelação e reorganização do Exército, realizando, em meados de 1905, em Santa Cruz, as primeiras manobras do Exército, as quais despertaram grande entusiasmo nos meios civis e militares.

Referindo-se às manobras e às que se seguiram, informa Fonseca Filho: “Jamais em anos próximo a 1904, houve movimento tão vivificador do espírito militar, de preparo de tropa tão intenso”. FONSECA FILHO, Hermes da. Marechal Hermes. Rio de Janeiro, I.B.G.E. – Serviços Gráficos, 1961, p.59.

Sua brilhante atuação no comando do 4 º Distrito Militar, levou o Presidente Afonso Pena, cujo governo iniciou-se em 15 de novembro de 1906, a convidá-lo para a Pasta da Guerra.

Como Ministro da Guerra, teve o Marechal Hermes iniciativa pioneiras, como a introdução da Aeronáutica na organização militar brasileira e o envio da chamada “Missão Indígena”, constituída de 20 oficiais que foram mandados estagiar no Exército alemão. Além disso, criou, em caráter permanente, as Grandes Unidades, então representadas pelas chamadas Brigadas Estratégicas, tipo de organização adequada à realidade brasileira; instituiu o Serviço Militar Obrigatório; criou os Tiros de Guerra; modernizou o ensino militar; dotou o Exército de um armamento mais adequado, como o fuzil Mauser, modelo 1908, para a Infantaria, e com o material Krupp, de tiro rápido, para a Artilharia. Todos estes serviços redundaram em benefício de sua classe, da qual sempre foi um dedicado defensor.

Por ocasião da sucessão do presidente Afonso Pena, este desejava que fosse indicado à sua sucessão seu ministro Davi Campista. Contra esta candidatura se levantou Pinheiro Machado, chefe do Partido Republicano Conservador, que juntamente com outros homens públicos, como Lauro Müller, José Mariano, Francisco Sales, Francisco Glicério, defendiam a candidatura do Marechal Hermes da Fonseca, numa tentativa de “estabelecer um equilíbrio pacificador entre os grupos mais fortes do país – São Paulo e Minas…” BASBAUM, Leôncio. História Sincera da República. São Paulo, Edições LB, 1962, vol. 2, p.275.

A bem da verdade, o Marechal Hermes não ambicionava nenhuma posição política. Na pasta da Guerra da presidência de Afonso Pena, “mostrava-se completamente alheio a qualquer ambição ou a qualquer outra forma de paixão política”. BELLO, José Maria. História da República. São Paulo. Companhia Editora Nacional, 1959, p.237.

Assim, relutando muito em aceitar sua candidatura à Presidência, acabou cedendo às pressões dos grupos políticos que o apoiavam.

Contra sua candidatura, com o apoio dos Estados de São Paulo e Bahia, ergueu-se a de Rui Barbosa, que acabara de chegar de Haia, onde, por sua brilhante atuação, conquistara enorme popularidade.

Apesar de desenvolver uma campanha eleitoral como jamais se vira no Brasil, os “civilistas”, partidários do grande jurista, foram vencidos pelos “hermistas”, partidários de Hermes da Fonseca que obteve 403.000 votos contra 222.000 concedidos a Rui Barbosa.

Apesar de sua política conciliatória, o novo presidente teve que enfrentar, logo no início de seu mandato, a Revolta da Chibata, quando alguns navios da Esquadra, entre os quais os encouraçados São Paulo e Minas Gerais, revoltaram-se sob a liderança do marinheiro João Cândido, que chegou a ameaçar bombardear a cidade do Rio de Janeiro. Pouco depois sublevava-se o Batalhão Naval, assenhoreando-se de toda a Ilha das Cobras.

No campo econômico, não eram menores as dificuldades com a desvalorização simultânea dos produtos básicos de nossa exportação – o café, a borracha e o açúcar, sendo necessário um novo acordo, um novo “funding-loan” com os credores estrangeiros.

No campo político, a chamada “Política das Salvações” propiciou intervenções armadas nos Estados que, embora permitidas pelo artigo 6 º da Constituição, provocaram grande mal-estar e tiveram como resultado a derrubada de algumas oligarquias locais, permitindo a ascensão das oposições ao poder.

Apesar de todas estas dificuldades, o governo do Marechal Hermes não deixou de ser rico em realizações administrativas e iniciativas pioneiras.

Em seu governo, a rede ferroviária nacional ganhou cerca de 4.500 quilômetros de trilhos; a cultura do trigo, praticamente abandonada, ganhou novo alento com a criação de uma Estação Experimental de Trigo, em Bagé e com as variedades Rio Negro e Frontana, conseguidas pelo geneticista sueco Ivar Beckman; foi criada, em 1913, a Escola Brasileira de Aviação, uma iniciativa pioneira que permitiu ministrar instrução de pilotagem a oficiais do Exército, da Marinha, e a civis; foram construídas as Vilas Operárias, com a entrega de casas populares, elevando o nível social e o padrão de vida das classes trabalhadoras.

O Marechal Hermes da Fonseca dando continuidade à tradição de veraneio dos Presidentes no Palácio Rio Negro, esteve em Petrópolis nos verões de 1913 e 1914, dando seqüência à prática dos despachos no referido Palácio.

Muito preocupado com os conflitos no Ceará, onde as disputas coronelísticas se agravaram, quando o Padre Cícero Romão Batista, forte aliado do coronel Floro Bartolomeu, resolveu participar dos mesmos, realizou no Rio Negro importantes reuniões para tratar do assunto, com o Senador Pinheiro Machado e o Deputado Fonseca Hermes.

Numa delas, preocupado com a evolução dos acontecimentos naquele Estado, enviou um telegrama ao General Torres Homem, Inspetor da 4 ª região militar, “concitando-o a envidar esforços no sentido conciliatório e pacificador, para impedir que se generalizasse a conflagração já existente naquele Estado”. Tribuna de Petrópolis, 21 de dezembro de 1913.

No verão de 1913, num de seus passeios a cavalo, pelas estradas de nossa cidade, conheceu D. Nair de Teffé , filha do Barão de Teffé, com a qual se casou a 8 de dezembro do mesmo ano, em cerimônia realizada no Palácio Rio Negro.

A respeito do importante acontecimento, a Tribuna de Petrópolis teceu os seguintes comentários: “A cerimônia civil do casamento foi presidida pelo Sr. Ticiano Teixeira Tocantins, 1 º juiz de paz, tendo como escrivão o Sr. Ten. Cel. José Caetano dos Santos, oficial do registro civil e realizou-se no salão de recepções do Palácio.

A cerimônia religiosa foi celebrada pelo Sr. Cardeal Dom Joaquim Arcoverde, Arcebispo do Rio de Janeiro, coadjuvado pelos Monsenhores Theodoro Rocha e Macedo da Costa e realizou-se no salão de despachos do Palácio, onde fora armada uma capela, ricamente ornamentada…

Foram padrinhos, no civil e religioso a Sra. Álvaro de Teffé, o senador Pinheiro Machado, o deputado Fonseca Hermes, por parte do noivo e a Sra. Pinheiro Machado e os Senhores Álvaro e Oscar Teffé, por parte da noiva.

Os noivos recepcionaram os convidados com serviços de Buffet e Buffette, fornecidos pela Confeitaria Paschoal, enquanto nos jardins do Palácio faziam-se ouvir as bandas do 55º Batalhão de Caçadores e do Corpo de Marinheiros Nacionais…”. Tribuna de Petrópolis, 26 de agosto de 1954.

Este foi na realidade o maior acontecimento social ocorrido no Palácio Rio Negro, com extraordinária repercussão a nível nacional e internacional.

Após deixar a Presidência, fixou residência em Petrópolis, instalando em sua casa uma oficina de artesanato, onde, após seus passeios matinais, se distraia, trabalhando em madeira e em couro, pequenos objetos para adorno.

A 9 de setembro de 1923, vítima de uma síncope cardíaca, falecia o Marechal Hermes da Fonseca, na residência de seus sogros, à rua Silva Jardim, em Petrópolis.

Noticiando o infausto acontecimento, a Tribuna de Petrópolis assim se pronunciou: “Com o seu desaparecimento perdeu o Exército Nacional a sua figura mais representativa dos últimos vinte anos e o Brasil um filho que sempre soube honrar o seu país… Como chefe da Nação, não levou para o poder nenhum ressentimento. O seu governo respeitou os direitos dos adversários da véspera e preocupou-se em atender às necessidades do país. Houve erros, mas estes foram resgatados pelos benefícios praticados… Não fez testamento porque nada tinha para deixar. Sua viúva ficou apenas com a pensão do seu soldo”. Tribuna de Petrópolis, 11 de setembro de 1923.

Antes de falecer, dispensou todas as honras militares a que tinha direito. Segundo seu desejo, foi sepultado à paisana, tendo o corpo coberto com a bandeira do Brasil, de seda bordada a ouro, que as senhoras do Estado do Amazonas lhe haviam ofertado, quando, na qualidade de Ministro da Guerra, inaugurou a Linha de Tiro de Manaus, em 1908.

Jeronymo Ferreira Alves Netto

Fonte: www.ihp.org.br

Governo Hermes da Fonseca

1910 – 1914

Os acontecimentos que levaram à candidatura de Hermes da Fonseca, foram antes o resultado de um “trapalhada” aprontado pelo próprio presidente Afonso Pena, ao apresentar o nome de seu jovem ministro, Davi Moretzson Campista como candidato oficial do governo, sem fazer antes qualquer sondagem às forças que lhe davam sustentação. Maior prudência seria necessária, não apenas em atenção aos seus aliados, mas porque Campista era egresso do Jardim de Infância e tal indicação ia bater de frente contra a bancada controlada pelo seu opositor, Pinheiro Machado, provocando um terremoto no Congresso.

Ainda em tempo de recuar, Afonso Pena insistiu em manter essa indicação, e não foi por falta de aviso. Consultado, Rui Barbosa expôs sua opinião com franqueza e clareza, alertando o Presidente sobre a imaturidade do candidato, além do que este não tinha tradição para conseguir se impor às correntes políticas nos vários Estados. Tentou o chefe do governo obter apoio de São Paulo e Minas mas só recebeu evasivas. Consultando Rio Branco, este escusou-se diplomaticamente a se envolver no assunto. Que mais faltava, a guisa de sinalização, para indicar ao Presidente que o caminho escolhido era incerto e perigoso, e deveria ser abandonado? Pois o recuo, lamentavelmente, não estava em seus planos, e aconteceu o previsível.

No Congresso, Pinheiro Machado, que era militar, começou, então, a articular a candidatura do Ministro da Guerra, marechal Hermes da Fonseca, o que levou Carlos Peixoto Filho a renunciar à presidência da Câmara, perdendo o Presidente a sua já precária base parlamentar. No Exército, militares saudosos do florianismo, lançaram a candidatura do marechal como representativa das Forças Armadas, dando-lhe, pois, um caráter militarista, mal disfarçado com o nome do civil Venceslau Brás, apontado para vice.

Civilismo versus militarismo

Forma-se, então, um movimento oposicionista, com a candidatura civil de Rui Barbosa, tendo como vice o ex-governador de São Paulo, Albuquerque Lins, ambos sustentados, em sua campanha, com o dinheiro dos cafeicultores paulistas e, portanto, sujeitos a um esquema político pré definido. Viajando pelo Brasil, Rui Barbosa se atirou à sua pregação com um fervor missionário, levantando multidões, ao denunciar a máquina política montada desde os primórdios da República, que impunha nomes, controlava a votação e, como se não bastasse, fraudava as atas, para garantir a eleição de seu escolhido.

Procurando isentar-se de qualquer preconceito contra o Exército, Rui Barbosa, em carta a Hermes da Fonseca, deixa claro que “…a farda de que veste [o marechal] não constitui objeção ao exercício dessa magistratura suprema. Nada exclui, entre nós, o militar, de servir ao país nesse posto, uma vez que ele se não confira ao militar, mas ao cidadão. (…) Assim, se o honrado marechal saísse do Congresso, do seio de um partido, ou de um passado político para a situação de chefe do Poder Executivo, o fato seria natural e a sua candidatura teria sido acolhida com o meu imediato assentimento”.

Posta nestes termos, a campanha deixava de ser um embate entre dois candidatos à presidência, transformando-se claramente em confronto entre o civilismo, representado por Rui Barbosa, e o militarismo, na pessoa do marechal Hermes da Fonseca. Assim se desenvolveu a propaganda, e a pregação de Rui deu origem ao chamado Movimento Civilista, que levantou o país durante todo o ano de 1909, até as eleições de 1910.

O Movimento Civilista

Um dos pontos positivos da candidatura Hermes foi a reação do Movimento Civilista que, pela primeira vez, na História da República, levou o povo às ruas, pelo país afora, ouvindo e aplaudindo a oratória brilhante de Rui Barbosa e criando um divisor de águas na política nacional. Como o voto era facultativo e sabidamente fraudado, o alistamento da classe média era insignificante, já que ninguém se propunha a entrar num jogo de cartas marcadas, referendando um processo inválido.

A situação não mudou e o próprio Rui antecipava isso nas campanhas, deixando claro que a possibilidade de ganhar nas urnas e ser validado pelo pela Comissão Verificadora era praticamente nula, mas, a voz que não se conseguia ouvir nas urnas, tinha agora a possibilidade de se fazer ouvir nas ruas. Os eternos ausentes, desta vez, se alistaram e incentivaram outros a fazê-lo. A classe média começou a exercer sua função na política nacional, como formadora de opiniões e multiplicadora de idéias.

E Rui Barbosa lançou o seu Credo Político, como base de sustentação ao governo, que vale à pena ler:

“Creio na Liberdade onipotente, criadora das nações robustas; creio na Lei, a primeira das suas necessidades; creio que, neste regime, soberano é só o Direito, interpretado pelos tribunais; creio que a República decai porque se deixou estragar, confiando-se às usurpações das forças; creio que a Federação perecerá se continuar a não acatar a justiça; creio no Governo do povo pelo povo; creio, porém, que o Governo Popular tem a base da sua legitimidade na cultura da inteligência nacional, pelo desenvolvimento nacional do ensino, para a qual as maiores liberdades do erário constituirão sempre o mais reprodutivo emprego da riqueza comum; creio na Tribuna sem fúrias, e na Imprensa sem restrições; porque acredito no poder da razão e da verdade; Creio na moderação e na tolerância, no progresso e na tradição; no respeito e na disciplina, na impotência fatal dos incompetentes e no valor insuprível das capacidades.” [as letras capitais e os grifos foram acrescentados.]

E Hermes ganhou a eleição…

Tudo aconteceu direitinho como Rui antecipara em sua campanha. Em 1º de março de 1910 um novo eleitorado foi às urnas para registrar a sua vontade e, mais uma vez, a escolha popular foi fraudada, deste o sufrágio até a confirmação pela Comissão Verificadora.

A principal concentração eleitoral do país estava nas capitais e foi nelas que Rui conseguiu arregimentar a maior quantidade de novos eleitores. No interior, o voto de cabresto e o poder sem fim dos coronéis impediam maior avanço da oposição. Pois foi nas capitais que as sessões eleitorais, na sua maioria, não se abriram, seja pela falta de mesários, ou por conflitos que impediram seu funcionamento. O próprio Rui Barbosa e seus assessores passaram o dia procurando por uma sessão que estivesse aberta e na qual pudessem votar.

Durante a apuração, as fraudes ocorreram de um lado e do outro. Partidários da oposição, tal qual seus adversários, souberam bem manipular as atas, falseando-as em proveito próprio. O jornal O País fez vazar uma circular endereçada aos chefes civilistas, na qual se recomendava que, ao preencher as atas nas sessões eleitorais sob seu controle, fizessem diminuir 20 por cento no total de votos de Hermes, acrescentando-os ao total de votos de Rui.

Rui Barbosa ganhou, com pequena vantagem, no Distrito Federal, em sua terra natal, a Bahia, e nos Estados sob o controle da oligarquia que o apoiou, como em São Paulo e Minas Gerais. No restante do país, o resultado a favor de Hermes da Fonseca foi acachapante. Por exemplo, no bloco de Estados formado por Amazonas, Pará, Maranhão, Piauí e Rio Grande do Norte, 95 por cento dos votos válidos foram para Hermes da Fonseca.

A luta de Rui Barbosa prosseguiu no Congresso Nacional, junto à Comissão Verificadora e, mais tarde, na Justiça, procurando provar a inelegibilidade do vencedor, já que ele era um candidato sem título de eleitor, não estando, pois, no gozo de seus plenos direitos políticos, conforme determinava a lei. O marechal era alistável (tinha direitos) mas não se alistou (perdeu esse direitos).

Toda retórica foi nula. O nome de Hermes foi homologado e, em 15 de novembro de 1910, era o marechal empossado na presidência da Republica, em substituição a Nilo Peçanha.

Quem era Hermes da Fonseca

Hermes Rodrigues da Fonseca nasceu em 1855 na cidade de São Gabriel, Rio Grande do Sul, 300 quilômetros a sudoeste de Porto Alegre. Era sobrinho do marechal Deodoro e, bem cedo, abraçou a carreira militar. Mantendo-se afastado da política, seu nome não alcançou, durante o Império e no início da República, a notoriedade do tio. Em 1906, foi ministro da Guerra do governo Afonso Pena e só então, obteve o posto de marechal do Exército.

Foi eleito Presidente em março de 1910, e como ainda faltavam mais de oito meses para a posse, aproveitou esse lapso para fazer uma tumultuada viagem à Europa. Nessa ocasião, foi convidado pelo Kaiser Guilherme 2º para visitar a Alemanha e teve oportunidade de assistir a manobras militares. Esse ato provocou protestos de seus adversários, e uma reação negativa por parte da França, pois o treinamento de nosso pessoal de Exército e Marinha era feito pela missão militar francesa, surgindo, então, a desconfiança de que o interesse de Hermes era romper o contrato vigente e assinar um acordo com a Alemanha para prosseguir na tarefa. Já em Portugal, sua visita trouxe uma infeliz coincidência, pois, quando era recepcionado pelo rei, chega a notícia de que se iniciara a revolução republicana que pôs fim ao Império.

Durante seu governo, falece-lhe a esposa, e Hermes vem a contrair núpcias com a jornalista e caricaturista Nair de Teffé, que não perdoava, na ironia de seus traços, as figuras mais representativas da política (diz uma piada que Hermes se casou com ela só para se livrar dela…) Foi uma das mais avançadas figuras femininas da primeira República. Introduziu nos salões a música popular brasileira, numa época em que nossas modinhas eram consideradas música de taverna. E não teve dúvidas em apoiar a vilipendiada compositora Chiquinha Gonzaga, levando-a para tocar e cantar no palácio. Pelos anos sessenta, já viúva, e com a parca aposentadoria que recebia dos cofres públicos, dedicou-se a criar algumas crianças que adotara. E, presente a um programa de TV, não hesitou em fazer uma caricatura do então presidente Costa e Silva.

O novo ministério ficou assim constituído: Relações Exteriores, José Maria da Silva Paranhos, Barão do Rio Branco; Justiça, Interior e Instrução Pública, Rivadávia da Cunha Corrêa; Fazenda, Francisco Antônio de Sales; Viação e Obras Públicas, J.J.Seabra; Agricultura, Pedro de Toledo; Guerra, general Emilio Dantas Barreto; Marinha, Almirante Joaquim Marques Batista de Leão.

Durante a festa, um canhonaço

No dia 22 de novembro de 1910, sete dias após a posse, quando se verificava uma recepção a bordo do navio português Adamastor, com a presença do novo Presidente e de todo o ministério, ouve-se um sonoro troar de canhão, vindo de uma das peças da esquadra brasileira, causando preocupação e alarme entre os presentes.

A mudança de governo não se fazia em clima de absoluta tranqüilidade. O Presidente , se contava com ampla cobertura das Forças Armadas, não era unanimidade entre os militares e, como já se viu, tinha uma oposição consistente, vinda de interesses contrariados e momentaneamente fora do poder. Além do mais, na formação de seu Ministério, foi afastado o nome do anterior ministro da Marinha, almirante Alexandrino de Alencar, despertando animosidade nos meios castristas.

Tudo isso passava instantaneamente pela cabeça daqueles que participavam da festividade, menos a verdadeira razão daquele tiro inusitado, que nada tinha de saudação ao novo governo. Não era a Marinha, como arma, que se revoltava, mas sim os marinheiros da esquadra, sob a chefia de João Cândido, marinheiro de primeira classe. A sedição envolvia os navios Minas Gerais (sede da revolta), São Paulo, Deodoro e Bahia, ameaçando se alastrar pelos demais vasos de guerra.

Em radiograma ao presidente da República, transmitiram suas reivindicações: queriam a abolição do castigo da chibata, humilhante, doloroso e mutilador.

A Revolta da Chibata

O castigo pela chibata (chicote com pregos) não era coisa nova e vinha, já, desde os tempos do Império. Abolido pelo Governo Provisório, foi reintroduzido por um decreto, ainda no mesmo governo, dado que os oficiais da Marinha consideravam impossível manter a ordem dentro da corporação, se não tivessem um meio eficaz de coerção à indisciplina dos marinheiros.

E não era para menos. À falta de voluntários, os marinheiros eram recrutados pelos processos mais variados e, muito à revelia dos escolhidos, para um período de serviço de quinze anos. Entre eles havia tanto gente da pior espécie, recolhida a bordo, como até meninos de doze ou treze anos, expulsos de casa pelos pais, e que iniciavam o aprendizado da profissão como grumetes. A disciplina se fazia rígida até para os padrões militares, com trabalho pesado e prolongado, e com raríssimas folgas para pisar em terra firme. Era a escravidão, abolida no fim do Império, mas que permanecia com todos os seus horrores a bordo dos navios, recebendo a chancela da lei.

Qualquer marinheiro faltoso, dependendo da gravidade de sua falta, recebia desde uma pena leve, como prisão numa solitária, por três dias, até a pena de 25 chibatadas, limite raramente respeitado, podendo a violência ser estendida até a inconsciência e a morte do infeliz. A aplicação da chibata era tão frequente que havia até mesmo carrascos designados dentro de cada navio, para a aplicação do castigo.

Os protestos dos marinheiros já vinham sendo feitos veladamente, por bilhetes anônimos, que, se descobriu, eram redigidos por um marinheiro intelectual, Francisco Dias Martins, conhecido como mão negra. Não sensibilizando os oficiais, agora, a revolta estoura com toda sua fúria, ficando o mão negra encarregado da comunicação escrita. O comando permaneceu nas mãos de João Cândido, rude marinheiro, incapaz de medir as conseqüências de cada ato e de deter as mãos assassinas que, com seus atos de barbárie, iam criando uma situação irreversível e tornando impossível a conciliação.

A vitória aparente

Para se ter idéia da violência, nenhum oficial a bordo, do mais graduado, ao mais simples, ficou vivo. Foram todos mortos e colocados em câmara-ardente.

Depois, os marinheiros, em radiogramas enviados à terra exigiam além da eliminação da chibata, também a anistia geral pelos crimes cometidos. Exigiam mais – pasmem! – a presença, a bordo, do próprio presidente da República, para completar as negociações, ameaçando destruir a cidade, se não fossem atendidos em seus desejos.

A situação era tensa. Com o poder de fogo que tinham, os rebelados podiam, de fato, destruir qualquer alvo à sua volta, dentro da baía da Guanabara. Uma reação pelas forças de terra não ajudaria muito, na medida em que muitas vidas seriam perdidas, além do que estaríamos destruindo o melhor do nosso patrimônio naval. O deputado José Carlos de Carvalho, oficial da Marinha, com autorização do Congresso, vai a bordo e constata a gravidade da situação. De lá traz para a terra o último marinheiro chicoteado, que foi estopim da revolta, deixando-o em estado grave num hospital. No depoimento do próprio deputado, “…as costas desse marinheiro assemelham-se a uma tainha lanhada para ser salgada”.

Era o dia 25 de novembro de 1910. No palácio do Governo, reúnem-se o Presidente, os ministros e gente experiente da política, analisando a situação. Foi o conselheiro Rodrigues Alves que, perguntado, deu a palavra final. Se não havia outro caminho, que então se concedesse a anistia, não porque a merecessem, mas para não mergulhar o país em tragédia ainda maior. O Congresso, a contragosto, e sob protestos de muitos, votou favoravelmente. Ao cair da tarde, o Presidente assinou a anistia, coadjuvado pelo ministro da Marinha, pelo chefe de Polícia e pelo deputado José Carlos de Carvalho.

Ainda nesse dia, a anistia foi aceita a bordo, contrariando a muitos, pois o objetivo central, que era a eliminação da chibata, não havia sido atingido.

Mesmo assim, uma mensagem enviada ao oficial da Marinha e deputado José Carlos de Carvalho, transmitia a concordância, anunciava a entrega da esquadra e fazia uma ameaça: “Entraremos amanhã ao meio-dia. Agradecemos os seus bons ofícios em favor da nossa causa. Se houver qualquer falsidade, o senhor sofrerá as conseqüências. Estamos dispostos a vender caro as nossas vidas – Os revoltosos.”

Passaram-se poucos dias e nova rebelião estoura, pela mesma razão, mas esta de menores proporções, envolvendo pessoal de base na ilha das Cobras e mais os marinheiros de um vaso de guerra. Calcularam mal, os marinheiros, os efeitos de seu movimento, pois desta vez, não envolvendo a população da cidade, o Governo sentiu-se seguro para ordenar o bombardeio contra a ilha, morrendo quase todos, dentre os seiscentos revoltosos.

A repressão severa

Para o Governo, esta nova revolta resultou em lucro. Alarmado com a reincidência e com o temor de que a situação saísse do controle, o Congresso não teve dúvidas em aprovar o Estado de Sítio. A trágica ironia era que os mesmos que antes defendiam a anistia, incluindo Rui Barbosa, agora clamavam pela necessidade de medidas excepcionais para o controle absoluto da situação. E, suprema das ironias, no bombardeio contra ilha das Cobras, foram utilizados os navios Minas Gerais, São Paulo e Deodoro, os mesmos que, dias antes, haviam bombardeado a cidade do Rio, pondo em xeque as instituições.

Amparadas pela suspensão de parte das garantias constitucionais, as forças policiais foram às ruas fazendo uma operação de varredura, na qual prenderam indiscriminadamente marinheiros e civis, criminosos ou não. Muitos dos marinheiros presos estavam garantidos pela anistia concedida anteriormente, entre eles o chefe da revolta, João Cândido. Entre os civis se achavam desocupados inconseqüentes e um punhado de prostitutas.

O navio cargueiro “Satélite” partiu, então, para a Amazônia, levando, segundo relato de bordo, uma carga de “105 marinheiros, 292 vagabundos (sic), 44 mulheres e 50 praças do Exército”. Seguindo instruções, a maior parte dos homens foi entregue à “Comissão Rondon” para trabalhos forçados. Os restantes, inaptos para o serviço, foram simplesmente abandonados na floresta, distantes um do outro, para não haver possibilidade de se reorganizarem. Os prisioneiros que ficaram no Rio de Janeiro foram, posteriormente, encerrados em uma cela solitária no presídio da ilha das Cobras, sendo que apenas dois sobreviveram, um deles, o próprio João Cândido que, mais tarde, fez a narrativa de toda a tragédia. Mas este já é um assunto que não cabe neste espaço.

Apenas um comentário final. Não se pode nem de longe inculpar Hermes da Fonseca pelos excessos cometidos. Os que conheceram o marechal, apontam-no como brando, pacífico e bondoso, voltado para sua atividade militar e pouco afeito à política e às ações repressivas. Por outro lado, João Cândido, e os demais líderes da primeira sedição, não tinham a exata noção de proporções, quando chacinaram todos os oficiais dos navios rebelados, criando uma situação de todo irreversível. Daí para diante, o espírito corporativo no seio militar esperava apenas uma oportunidade para a desforra, e esta apareceu com a suspensão das garantias constitucionais, pela decretação do Estado de Sítio. O resto, já se sabe.

A Política de Salvação Nacional

Os problemas políticos nos Estados da Federação vinham de longe, desde as últimas eleições estaduais, ocorridas há três anos, nas quais os ganhadores jubilavam e os perdedores, sentindo-se esbulhados, esperavam a hora oportuna para uma revanche. Não eram forças populares em ação, mas oligarquias que lutavam com unhas e dentes para aumentar a sua fatia de poder.

O início do Hermes da Fonseca era um complicado tabuleiro de xadrez. No Congresso, permanecia o poder de Pinheiro Machado, que se estendia aos governadores em sua órbita de influência. Havia também a presença do deputado Fonseca Hermes e do deputado capitão Mário Hermes. O primeiro era irmão do marechal e líder da maioria na Câmara. O segundo era filho de Hermes e líder da bancada da Bahia.

Dentro do Ministério, ponteavam, pelo menos, duas forças contrárias a Pinheiro Machado e com pretensões políticas em seus respectivos Estados. Eram o Ministro da Viação, José Joaquim Seabra, baiano, e o Ministro da Guerra, general Emilio Dantas Barreto, pernambucano. Ambos representavam correntes atuantes na capital federal, mas estavam vivendo seus momentos de ostracismo nos próprios Estados de origem.

Junte-se a tudo isso o fato de que, 1911, renovavam-se as Câmara Municipais e 1912 era o ano de eleições para renovação dos governos estaduais, assembléias legislativas e, em alguns Estados, também, do senado estadual. Envolvendo-se na política regional, o governo central interveio o quanto pôde, mudando os governos e alterando a composição de forças. Essas intervenções, referendadas pelo Congresso, receberam oficialmente o nome de re-saneamento político, mas a opinião pública, sarcasticamente, as chamou de “políticas de salvação”.

Estado do Rio de Janeiro

A primeira salvação envolveu o Estado do Rio de Janeiro, onde a presença do governador Alfredo Backer era contestada pela oposição, surgindo em conseqüência duas Assembléias Legislativas, uma de apoio ao governador empossado e outra apoiando o governador em litígio. Alfredo Backer consegue um habeas-corpus, legitimando-o no poder, mas o Ministro da Justiça envia tropas federais àquele Estado sob a alegação de que era necessário garantir o patrimônio público e o bom funcionamento das repartições. Desta forma, impôs-se pela força, e alterou o governo local, dando posse ao candidato de preferência do governo central.

Estado de Pernambuco

A política salvacionista em Pernambuco foi uma das mais complicadas, mas era também a mais compensadora, pela força que este Estado possuía no cenário nacional. O controle do Estado se achava com a família Rosa e Silva, mais particularmente nas mãos de Francisco Assis Rosa e Silva, nome de tradição e projeção, pois já fora conselheiro do Império e, na República, elegeu-se vice-presidente, junto com Campos Sales.

Político hábil, não criou dificuldades a Campos Sales em seu governo. Diplomata, era adversário de Pinheiro Machado, mas foi favorável à candidatura de Hermes da Fonseca. E, desta maneira, ficou bem com ambas as forças dominantes, tanto no Congresso como na Presidência. Sabia avançar, mas tinha o bom senso de recuar, quando a situação assim o aconselhasse. Tal flexibilidade garantia a família na proeminência da política pernambucana.

Sua superioridade passou a ser contestada, entretanto, na formação do Gabinete, quando foi nomeado para o Ministério da Guerra o general Emilio Dantas Barreto, engrandecendo Pernambuco, mas diminuindo o campo de manobra dos Rosa e Silva. Candidatando-se a governador pela oposição, com o apoio do Barão de Lucena e José Mariano, o general Dantas Barreto desequilibrou as forças, provocando o embate das duas facções, nos moldes do coronelismo, com ocorrência de arruaças e lutas de emboscada. O Ministério da Guerra passou, então, para as mãos do general Vespasiano Gonçalves de Albuquerque e Silva, e Dantas Barreto seguiu para Recife, passando ele próprio a comandar a campanha.

As eleições em Pernambuco, dentro do sistema fraudulento em voga, deram vitória a Rosa e Silva, enquanto a oposição se declarava vitoriosa com Dantas Barreto. As lutas nas ruas se intensificaram, a policia estadual se rebelou, com apoio dos praças do Exército. O governador interino, Estácio Coimbra, não tendo condições de resistir, renunciou ao governo, deixando sem base política o seu padrinho Rosa e Silva.

Foi o momento para o bote final. O Congresso Estadual (Assembléia e Senado) considerou vitorioso o general Dantas Barreto, homologando seu nome. Trocado o comando militar, assumiu o coronel Abílio de Noronha, partidário do ex-ministro da Guerra e permaneceu nesse posto até garantir a posse do general Dantas Barreto no governo do Estado. Estava, pois, concluída a segunda operação salvadora.

Estado da Bahia

A salvação na Bahia envolvia os interesses do ministro J.J.Seabra, a quem interessava reassumir o controle total da política estadual, contando com o apoio aberto do presidente da República, o qual chegou a fazer uma visita à Bahia, acompanhado de seu ministro da Viação. A reação veio por José Marcelino e Severino Vieira, que controlavam o Congresso estadual (assembléia e senado) e o governo do Estado.

Pronto para a reação, o governo do Estado aumentou seu efetivo policial, recrutando jagunços, trazidos dos sertões e até retirados da cadeia, onde cumpriam penas pelos crimes cometidos. Ou seja, gente descompromissada com a vida e disposta ao que der e vier. Eram já 4.500 militares, e mais de seiscentos policiais civis, todos de alta periculosidade.

Ocorridas as eleições municipais, em 1911, houve como de costume, divergência de resultados. Para garantir sua posição, o governo em exercício sitiou a cidade, interditando inclusive o Congresso e impedindo os parlamentares de exercer sua função. A justiça lhes concedeu o “habeas-corpus” e o governador Aurélio Viana recusou-se a cumprir a ordem judicial.

Estava aí o pretexto para a intervenção. O Governo federal ordenou que o general Sotero de Menezes pusesse suas tropas na garantia da lei, o que não aconteceu, pois o efetivo do Exército era menos de um terço do efetivo da polícia estadual. Dado que o governador insistisse em descumprir o mandado judicial, Sotero preferiu bombardear a capital, pelos fortes de São Marcelo e Barbalho, criando pânico na cidade e obrigando o governador Aurélio Viana a renunciar. No Rio de Janeiro, renunciava, também, o ministro da Marinha, em protesto pelo bombardeio. Reposto no governo, Aurélio Viana volta a renunciar, dias depois.

Realizaram-se, por último, as eleições para Governador e, contrariando a rotina, o nome do vencedor, J.J.Seabra, não foi contestado, sendo ele empossado, pacificamente, como governador da Bahia. A terceira salvação estava consumada.

Estado do Ceará

No Ceará, de há muito, a política era controlada pela família Accioly. Pressentindo que seu Estado seria o próximo a ser contemplado com a salvação, o governador Antônio Nogueira Accioly, que aspirava pela reeleição, cuidou de aumentar seu efetivo policial, nos mesmos moldes e pelo mesmo processo utilizado na Bahia. Em dezembro de 1911, desistiu da reeleição, mas impôs como candidato José Joaquim Domingues Carneiro, que lhe era obediente e continuaria a zelar pelos interesses da oligarquia que controlava o poder.

A oposição, apoiando-se no militarismo, apresentou um candidato saído dos quartéis, o coronel Marcos Franco Rabelo. A este candidato reuniram-se, também, todas as forças políticas que, por mais de vinte anos, se achavam afastadas do poder. Choques entre a polícia e a oposição passaram a ser freqüentes. Em 21 de janeiro de 1912, um domingo, a polícia dissolveu com extrema violência uma passeata de crianças e mulheres, que promoviam a campanha do coronel Rabelo.

Recusando-se, o governador, a entregar ao Exército o policiamento das ruas, foram convocados Tiros de Guerra de outras cidades para virem à capital, para participar da luta. No dia 23, se concretizava a intervenção, com as tropas federais nas ruas. O governador tentou, então outra manobra. Renunciou, entregando o governo ao sucessor legal, Mauricio Gracho Cardoso, que era seu genro. A transferência foi impugnada e, no cargo, foi investido o dr. José Boaventura Bastos, em 24 de janeiro de 1912.

Em 12 de fevereiro, contrapondo-se à candidatura oposicionista do coronel Marcos Franco Rabelo, o grupo Accioly lançou, então, outro militar, o general Bezerril Fontenelle. Não ficou nem para um, nem para outro. Marcos Franco Rabello, da oposição, ganhou, tomou posse, mas não conseguiu maioria na Assembléia.

Resultado: o grupo contrário obteve um “habeas-corpus”, instalou outra Assembléia paralela em Juazeiro e deu posse a Floro Bartolomeu, representante do Padre Cícero, que começava a despontar no cenário político. Reinou a paz no Ceará.

Estado de Alagoas

Era a família Malta que detinha o poder no Estado de Alagoas, protegida também por Pinheiro Machado e com uma solidez de concreto, que nenhuma política salvadora, aparentemente poderia derrubar. Embora o presidente da República fosse do Rio Grande do Sul, é bom que se lembre que sua família tem origem em Alagoas, onde nasceu o tio, marechal Deodoro, e onde vivia toda a sua parentela.

Foi assim que, contra a vontade de Hermes, o grupo de salvadores, que representava a oposição, à procura de um nome para governador, resolveu lançar a candidatura do general Clodoaldo da Fonseca, um primo-irmão do Presidente, pouco afeito às lides políticas, mas que não resistiu ao convite para galgar tão alto cargo.

Os Maltas não deixaram por menos, e apresentaram a candidatura do general Olímpio da Fonseca, também parente do Presidente. Ficou então uma situação curiosa, que seria divertida, se não fosse trágica. Tínhamos agora dois candidatos, os dois militares, e os dois parentes do chefe da Nação que, a esta altura, ainda que quisesse, não teria mais condições para apoiar o candidato dos salvadores.

Não durou muito a divisão. O próprio general Olímpio refletiu melhor e desistiu da candidatura, ficando a vaga em aberto. Enquanto se procurava um novo nome para substitui-lo, aconteceu que o governador Euclides Malta mandou reprimir uma manifestação de adeptos do general Clodoaldo, que se realizava na praça principal da cidade, com mortos e feridos de um e outro lado.

A reação popular a esse acontecimento foi grande e fortaleceu os oposicionistas. A essa altura, a vitória da oposição era tida como certa e ninguém queria queimar seu futuro político aceitando apresentar-se como candidato do governo, pelo que, à falta de um opositor, Clodoaldo da Fonseca foi eleito e empossado. Estava consumada outra salvação, e esta com sabor especial, por implodir a estrutura de concreto representada pela oligarquia dos Maltas.

Outras salvações

Vencida a força da inércia, o mecanismo das salvações passa a funcionar quase que automaticamente, e as oligarquias que dominavam os outros Estados foram caindo, uma a uma, sem grandes dificuldades. São Paulo livrou-se da ação salvadora, indicando para a sucessão do governador Albuquerque Lins, o respeitável nome do conselheiro Rodrigues Alves, ex-governador e ex-Presidente, contra o qual ninguém teria coragem de levantar a voz.

No Rio Grande do Sul, a presença de Borges de Medeiros, herdeiro político de Julio de Castilhos, não recomendava qualquer espécie de intervenção. Borges de Medeiros, através de sucessivas reeleições, vinha dominando o governo do Estado desde 1898 e, vamos adiantar, ainda ficará no poder até o ano de 1926, quando “blancos” e “colorados” se ajustam para um nome de consenso, o de Getúlio Dorneles Vargas. Mas isso é futuro. O importante é saber que, no Rio Grande do Sul, o status foi mantido.

O gaúcho Pinheiro Machado garantiu o prestígio no Estado natal, mas foi o grande perdedor na Política de Salvação Nacional, pois teve seu caminho cortado, passo a passo, em quase todos os Estados do país, tornando-se um gigante de pés de barro, imenso ainda, mas sem condições de se sustentar na nova ordem da política nacional.

O Hermes da Fonseca

Aos tantos problemas que atribularam o Hermes da Fonseca, ao final de mandato, pode-se acrescentar mais um, de caráter internacional, mas que viria afetar diretamente o Brasil. Em 1912, com a derrocada do Império Turco-Otomano, rebelam-se os povos iugoslavos, iniciando uma guerra local contra os turcos, numa coalizão formada por Montenegro, Macedônia, Sérvia, Grécia, Bulgária e Albânia. Derrotados os turcos, começam as lutas internas, o prenúncio da Primeira Guerra Mundial, que, em 1914, começaria bem ali, em Serajevo (Bosnia-Herzegovina).

Com o aumento da tensão internacional, os capitais externos começam a escassear, balançando a já precária situação financeira do Brasil, que se vê obrigado a recorrer a outra moratória. Os problemas econômicos se agravam com a queda na exportação da borracha, que agora enfrenta a concorrência asiática. Cai a renda proveniente da exportação do café, provocando um déficit na balança comercial. Concorrendo com a dívida externa, aumentam também os déficits orçamentários. O festival com dinheiro alheio, que começou no governo de Afonso Pena, mais precisamente a partir do Convênio de Taubaté, acabou.

Nesse quadro sombrio, nem era possível fazer uma administração grandiosa. Hermes da Fonseca se limitou a prosseguir as obras projetadas por Afonso Pena e continuadas por Nilo Peçanha, ampliando a rede ferroviária e estendendo, tanto quanto possível, a rede telegráfica. Foi em seu governo que se construiram os fortes de Copacabana, que, anos mais tarde, em 1922, viriam a ser palco de outra revolta militar, em apoio ao próprio Hermes. Também esse é um assunto para o futuro.

Terminado o mandato, e passando o governo ao seu sucessor, Hermes envolve-se, pelo menos indiretamente, nas revoltas de 1922, é preso, depois é libertado, e retira-se para Petrópolis, onde morre, em 1923. Com o marechal Hermes, termina a participação da sua família na vida política nacional.

Fonte: www.pitoresco.com.br

Governo Hermes da Fonseca

Hermes Rodrigues da Fonseca

Período de 1910 a 1914.

8º presidente

Gaúcho

Seu governo foi conturbado, vivendo em crônico estado de sitio.

As velhas oligarquias foram substituídas por outras novas, foram as “salvações”.

Principais revoltas:

Revolta de Juazeiro: conseqüências das insatisfações políticas, liderada por pe. Cícero, teve como causa a vitória eleitoral de Franco Rabello contra a família Aciolis (coronéis locais, pe. Cícero e Floro Bartolomeu). Franco Rabello renuncia e os aciolis são recolocados no poder.
Revolta da Chibata:
na marinha sob o comando do marinheiro negro João Cândido, no Rio de Janeiro, contra os abusos, excesso de trabalho, maus-tratos, baixos salários e contra a chibata que era usado para punir infratores. Fracassou…

O boom da borracha: o látex passou a ser utilizado como matéria-prima para a industria. Entre 1910 e 1912 foi o momento no qual a exportação desse produto quase ultrapassou a do café.

Três meses antes de terminar o seu mandato estourou a Primeira Guerra Mundial.

Fonte: www.cdb.br

Veja também

Questão Christie

Questão Christie

PUBLICIDADE O que foi a Questão Christie? Em dezembro de 1861 o navio príncipe de Wales, …

Revolta dos Malês

Revolta dos Malês

PUBLICIDADE Revolta dos Malês – O que foi Esta revolta ocorreu em Salvador na Bahia, …

Guerra dos Farrapos

Guerra dos Farrapos

PUBLICIDADE O que foi a Guerra dos Farrapos? O Rio Grande do Sul vivia da …

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.