Movimentos Nativistas

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Movimentos Nativistas – O que foi

Os movimentos nativistas aconteceram na segunda metade do século XVII e primeira metade do século XVIII. Foram movimentos locais que não visavam a separação política.

Protestavam apenas contra abusos do pacto colonial, como a criação de novos impostos ou aumento dos antigos.

O primeiro deles foi a Revolta de Beckman que aconteceu no Maranhão em 1684 e foi provocada pela rivalidade que se estabeleceu entre os colonos e os jesuítas em razão da escravização dos índios.

Os colonos queriam escravizá-los, os jesuítas, por outro lado, pregavam sua catequese nas missões enquanto os utilizavam como mão-de-obra na coleta das drogas do sertão cujo comércio realizavam e pelos os abusos da Companhia de Comércio do Estado do Maranhão.

A companhia havia sido criada para monopolizar o comércio com a região. Deveria trazer produtos de Portugal, assim como escravos negros, vendendo-os a preços mais reduzidos. Em troca, compraria a produção do Maranhão. Entretanto, os produtos vindos da Metrópole eram caros e de baixa qualidade, os negros em número insuficiente e vendidos por preços abusivos. Quanto à produção local, os comerciantes portugueses queriam pagar preços abaixo do mercado.

Insatisfeitos com a situação, os irmãos Beckman, grandes proprietários rurais, sentindo-se prejudicados lideraram uma revolta. Os jesuítas foram expulsos do Maranhão, os armazéns da companhia foram fechados e o governo tomado. Portugal, entretanto, não demorou a sufocar o movimento. Enquanto Tomás Beckman foi chamado à Corte para fornecer explicações, Manuel Beckman, considerado o principal chefe, foi enforcado.

Guerra dos Emboabas foi um conflito que teve lugar em Minas Gerais em 1709 e 1710 e consistiu em choques armados, pelo direito de explorar as minas de ouro, entre paulistas e os que eram considerados forasteiros, apelidados de emboabas. Os paulistas foram expulso de grande parte do território onde estava sendo praticada a mineração e os os “emboabas “aclamaram o português Manuel Nunes Viana, governador das minas de ouro.

O emboaba Bento do Amaral Coutinho acabou por assassinar um grande número de paulistas que estavam encurralados num capão de mato. O episódio, o Capão da Traição, levou os paulistas a se organizarem para a vingança. Para Portugal não interessava um conflito armado na região mineradora,motivo pelo qual tratou de acalmar os ânimos, tanto de paulistas, como dos emboabas, criando a Capitania de São Paulo e das Minas do Ouro, separada da Capitania de São Vicente. Os paulistas foram reintegrados nas regiões de onde haviam sido expulsos. Entretanto, muitos dirigiram-se aos atuais estado de Goiás e Mato Grosso, descobrindo novas jazidas.

Guerra dos Mascates que aconteceu em Pernambuco de 1710 a 1714 foi causada pela rivalidade existente entre os moradores de Olinda e os de Recife.

Em Olinda viviam os senhores de engenho, decadentes, em razão da queda na produção do açúcar e em Recife, ricos comerciantes portugueses. Os olindenses que chamavam os comerciantes portugueses, pejorativamente, de mascates, deviam-lhes grandes somas que se somavam aos impostos atrasados, uma vez que os reinóis cuidavam de sua arrecadação. A rivalidade vinha sendo acentuada porque, enquanto Recife, em razão de seu excelente porto, progredia a olhos vistos.

O próprio governador da capitania, havia se mudado de Olinda para Recife. Apesar de próspero e de possuir um intenso comércio, Recife era comarca de Olinda e não possuía Câmara Municipal. Como comarca, Recife era subordinada à Olinda, que era vila. O conflito estourou quando o povoado de Recife foi elevado à vila e ganhou autonomia administrativa. Inconformados, os olindenses cercaram Recife.

A guerra durou quatro anos e terminou com a chegada do novo governador da capitania. Recife, entretanto, continuou sendo vila, tornando-se, inclusive, sede da capitania.

Movimentos pela libertação da colônia

Os movimentos que estouraram no final do século XVIII e início do XIX, já possuíam, claramente o ideal de independência. Foram movimentos regionais, que contestavam o pacto colonial como um todo e visavam a libertação de uma capitania ou de toda a colônia.

Esses movimentos aconteceram numa época em que o Antigo Regime entrava em declínio na Europa. As idéias iluministas pregavam o liberalismo político e econômico, a Revolução Industrial decretara o fim do mercantilismo, os Estados Unidos haviam realizado a sua independência em 1776 e a Revolução Francesa seria responsável pelo fim do absolutismo monárquico.

Inconfidência Mineira (1789)

De todos os movimentos, é considerado o mais importante, porque foi o primeiro a propor a separação política com a criação de uma República e por possuir idéias bastante avançadas para a época.

Foi um movimento da elite, causado pelos altos impostos cobrados sobre a mineração, pelas medidas tomadas pela rainha D. Maria I que proibira a instalação de manufaturas em Minas Gerais e pela derrama, que deveria ser decretada pelo Visconde de Barbacena, o novo governador da capitania, para receber os impostos em atraso. Segundo consta, os impostos em atrasados perfaziam a soma de 596 arrobas de ouro.

O movimento era inspirado nas idéias iluministas e na independência dos Estados Unidos.

Os inconfidentes pertenciam à uma elite intelectual e financeira.

Eram poetas, juristas, mineradores, militares e padres: Thomás Antônio Gonzaga, Claúdio Manuel da Costa, Inácio José de Alvarenga Peixoto, Tenente-Coronel Francisco de Paula Freire, José Álvarez Maciel Rolim, José Carlos Corrêa e Luís Vieira da Silva.

Ao que consta, a única pessoa que pertencia a uma categoria social inferior, era o alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes( é importante dizer que Tiradentes não era pobre, tanto é que ele tinha 4 escravos …que na época era muito caro)

Os inconfidentes pretendiam libertar Minas Gerais( não o Brasil ), proclamar a República( a capital deveria ser São João del Rei ), estabelecer uma Universidade em Vila Rica, instalar fábricas, conceder ajuda de custo às familias numerosas e serviço militar obrigatório.

Quanto à libertação dos escravos afirmavam que não deveria acontecer ( inclusive Tiradentes ).

Haviam escolhido uma bandeira para Minas independente. Tratava-se de um retângulo com um triângulo e a frase em latim ” Libertas quae sera tamen “( Liberdade ainda que tardia ).

O movimento, que deveria estourar quando Barbacena publicasse a derrama, fracassou, devido à traição de Silvério dos Reis e de outros inconfidentes, como Brito Malheiros e Corrêa Pamplona.

Ao tomar conhecimentos do que estava sendo tramado e que a revolta aconteceria quando publicasse a derrama, Barbacena suspendeu a cobrança dos impostos, que estava prestes a ser decretada e ordenou a prisão dos implicados. Conduzidos ao Rio de Janeiro, responderam por crime de inconfidência, ou seja, falta de fidelidade à rainha.

A sentença, somente concluída em 1792, determinava que Tiradentes ( que assumira a culpa do movimento e era o único de condição social mais baixa ) seria enforcado e esquartejado.

Os demais inconfidentes deveriam ser exilados para as colônias portuguesas da África e para as ilhas do Atlântico, em degredo temporário ou perpétuo

Movimentos Nativistas – Brasil

Movimentos Nativistas

Diversos movimentos nativistas se registraram no Brasil.

O que caracterizou esses movimentos foi a repulsa aos abusos do físico português, sem contestar, no entanto, o domínio luso. Ao contrário, havia uma convivência harmoniosa entre a aristocracia colonial e a da metrópole. As revoltas relacionavam-se à defesa de interesses locais e regionais.

Fatores que determinavam a ocorrência dos mesmos foram:

As contradições internas: exploração e desenvolvimento.
A política colonial portuguesa após a Restauração.
As idéias iluministas: liberdade, igualdade, fraternidade.
A Revolução Industrial e o liberalismo econômico.
A Revolução Francesa (1789).
A crise da mineração e o arrocho na cobrança de tributos pela metrópole.

Principais Movimentos

Revoltas de Beckman

Durante vários momentos e em diversos locais da colônia, os interesses de colonos e missionários se chocaram. Um exemplo desse choque de interesse ocorreu no Maranhão em fins do século XVII.

A capitania do Maranhão não era rica, pois o cultivo da cana em suas terras não era viável.

A possibilidade dos colonos de comprarem escravos, muito caros, eram pequenas, por outro lado, os jesuítas também não permitiam a escravização dos índios, pois eles próprios exploravam o trabalho indígena.

Para agravar a situação, a Companhia Geral do Comércio do Estado do Maranhão, que defina o controle da região, também descontentava os colonos.

Revoltados com a situação, em fevereiro de 1684, os colonos, liderados pelo rico fazendeiro Manuel Beckman, prenderam o Capitão-Mor do Maranhão e tomaram os armazéns da Companhia do Maranhão.

Com a deposição das autoridades, formaram um governo provisório, expulsaram os jesuítas e pediram providências a Portugal.

Portugal agiu rapidamente e, aproveitando-se da falta de consistência do movimento, arrasou com a revolta, sendo Manuel Beckman e Jorge Sampaio, outro líder, executados.

A rebelião ocorreu contra a Companhia Geral de Comércio do Maranhão, que não cumpriu os acordos feitos com os colonos, e contra a Companhia de Jesus, que era contrária à escravização indígena.

Guerra dos Emboabas

Estudamos anteriormente que a descoberta das minas de ouro mudou os rumos da economia colonial. Milhares de pessoas abandonaram suas religiões para procurar ouro, atraindo, inclusive, muitos portugueses para a região.

Essa migração no início do século XVIII desagradou aos paulistas, que descobriram as minas e aos quais um ato real de 1694 garantia o direito de posse das terras. No entanto, a grande quantidade de pessoas que chegava á região das minas tornou praticamente impossível o controle da posse das terras.

Já vimos também que a descoberta do ouro levou a um grande desenvolvimento da agricultura e da pecuária. O comércio desses produtos era praticamente monopolizado pelos baianos, que determinavam os preços desses produtos a valores altíssimo. Também se tornou comum o contrabando de metais preciosos, controladores pelos emboabas, apelido dado aos baianos e portugueses ricos.

Essas discrepâncias criaram um clima de hostilidade entre paulistas, baianos e portugueses. Após alguns pequenos atritos e intrigas, estourou um conflito. Os emboabas, liderados pelo fazendeiro Manuel Nunes Viana, conseguiam expulsar os paulistas da região. Nunes Viana foi então empossado como governador das Minas Gerais. Os paulistas retornaram à região e reiniciaram os conflitos. Nessa ocasião, cerca de 300 paulistas foram encurralados e rendidos e, após terem largado as armas, foram dizimados. Esse fato ficou conhecido como “Capão da Traição”. Em abril de 1709, os paulistas, comandados por Amador Bueno da Veiga, retornaram às Minas e, em pouco tempo, foram obrigados a se retirar, pois chegaram reforços aos emboabas.

Para resolver o impasse e encerrar o conflito, Portugal criou a capitania de São Paulo e das Minas. Em 1720 foi criada a capitania das Minas Gerais.

Muitos paulistas, no entanto, abandonaram a região e partiram para a busca de ouro em outras localidades, iniciando assim a exploração de ouro nas regiões do Mato Grosso e de Goiás.

Revolta de Vila Rica

No período da mineração, havia muita sonegação e contrabando de ouro. Consciente, a Coroa restaurou a cobrança do quinto através das casas de Fundição e criou várias delas na região das minas.

A revolta de Felipe dos Santos foi uma revolta contra mais essa cobrança de impostos.

Felipe dos Santos liderou uma multidão e se dirigiu à Vila de Ribeirão do Carmo (atual Mariana) para exigir do governador de Minas o fechamento da Casa de fundição e a redução dos impostos.

O conde prometeu atender às reivindicações. Depois de já acalmadas os ânimos, o governador desencadeou a repressão.

As tropas portuguesas tomaram Vila Rica, prendendo várias pessoas. Felipe dos Santos, o principal responsável pela rebelião, foi executado e esquartejado.

Guerra dos Mascates

Desde fins do século XVIII, Olinda, capital de Pernambuco, demonstrava nítidos sinais de decadência. Em contrapartida, Recife apresentava um excelente desenvolvimento comercial.

A posse do novo governador da capitania em 1707, Sebastião de Castro e Caldas, garantia a realização dos interesses dos recifenses. Em 1709, foi aprovado um projeto que tornava Recife uma Vila.

As pretensões econômicas de Recife também estavam sendo atendidas, o que descontentou muito Olinda e seus aristocratas, que enxergavam a possibilidade de terem seus interesses econômicos esquecidos por Portugal.

Em Olinda, a ordem era não acatar à nova determinação. Em 10 de outubro de 1710, houve uma tentativa de assassinato contra Sebastião de Castro e Caldas, que rapidamente agiu e mandou prender o Capitão-Mor.

A reação em Olinda foi violenta e obrigou o governador a fugir para a Bahia. Após a fuga de Castro Caldas, os olindenses invadiram Recife. Um novo governador foi então empossado, o Bispo Bernado Vieira Melo.

O novo governador se encontrava claramente a favor de Olinda, e rapidamente tomou providências para impedir a reação de Recife.

Recife possuía sua frente de resistência, formada por seus comerciantes, apelidados de mascates.

Diversos conflitos ocorreram entre as duas cidades até a nomeação de D. Félix José Machado de Mendonça, mandado por Portugal para resolver os problemas. Sua posição era favorável a Recife, que novamente subiu à categoria de Vila e se tornou capital. A reação de Olinda foi imediata mas rapidamente sufocada, culminando com a prisão de vários aristocratas e o desterro do Bispo Bernardo.

Movimentos Nativistas – Nativismo

nativismo foi um movimento de natureza anti estrangeira e anticatólica. O movimento começou com um aumento de imigrantes alemães e irlandeses para a América nas décadas de 1820 e 30, muitos dos quais eram católicos. Naquela época, a maioria dos americanos era protestante e via o catolicismo como uma grande ameaça ao seu modo de vida.

Os protestantes acreditavam que os católicos juravam lealdade principalmente ao papa e esse tipo de lealdade era visto como supressor do livre pensamento e uma ameaça à democracia.

Nas décadas de 1830 e 40, muitos nativistas estavam entrando na cena política nacional e localmente em plataformas que se opunham ao “romanismo”.

A fim de proteger a República Protestante, os nativistas buscavam estender o período de naturalização para vinte e um anos, eleger apenas cidadãos nativos para cargos e rejeitar a interferência estrangeira em todas as instituições: sociais, religiosas e políticas.

Escritos nativistas também começaram a aparecer nessa época. Samuel F. B. Morse (1791-1872), inventor do Código Morse, escreveu comentários sobre os perigos das comunidades estrangeiras.

Ele e outros nativistas viam as comunidades imigrantes unidas como prova de modos “clânicos” e como uma tentativa de resistir à “americanização”.

Um sermão escrito por Thomas Brainerd (1804-1866), um pastor na Filadélfia, intitulado Our Country Safe from Romanism, demonstra o sentimento anticatólico sentido por nativistas e protestantes:

As doutrinas reconhecidas do romanismo são inconsistentes com a Bíblia e o senso comum – que sua organização e seus usos são hostis à liberdade religiosa, à elevação da sociedade e à salvação das almas.
Se nossas liberdades civis e religiosas estão prestes a ser aniquiladas – se a luz do cristianismo protestante está aqui piscando na tomada – se a Bíblia está prestes a ser retransmitida para as teias de aranha dos conventos, e as névoas que retornam do meio as eras estão ameaçando re-envolver em trevas e escuridão, o glorioso sol da justiça, então o alarme não pode soar muito alto ou por muito tempo.

Não surpreendentemente, vários conflitos surgiram entre católicos e nativistas durante esse período. Um dos mais perturbadores ocorreu em 10 de agosto de 1834 em Charlestown, Massachusetts, quando uma multidão protestante enfurecida incendiou e destruiu um convento e uma escola das Ursulinas. Os historiadores debatem sobre a causa exata do incidente, mas uma combinação de discursos anticatólicos ocorridos na área, juntamente com uma falsa crença dos nativistas de que as freiras do convento estavam agindo de forma imoral, provavelmente incitaram o ato violento.

Todos os julgados foram absolvidos do atentado e não foi concedida qualquer indemnização para reconstruir o convento, demonstrando assim uma aceitação subjacente do sentimento anticatólico.

Pouco depois, em 1836, foi publicado um livro sensacional intitulado Divulgações horríveis do convento do Hotel Dieu de Montreal.

O livro supostamente detalha a fuga ousada da autora de um convento onde ela foi abusada por padres e viu freiras assassinadas. O livro era provavelmente fictício, mas ainda acrescentou combustível ao fogo do movimento nativista. Também foi um enorme sucesso, vendendo três milhões de cópias em 1860.

Movimentos Nativistas – Governo

A procura do ouro constituía a ansiedade incentivadora de todos os espíritos. Entretanto, desde o princípio do século, o governo espanhol havia providenciado quanto à organização do Código Mineiro para o Brasil e, desde 1608 a 1617, quando a direção da colônia se achava repartida entre as cidades de Salvador e do Rio de Janeiro, já D. Francisco de Sousa guardava o título pomposo de Governador e Intendente das Minas.

Contudo, somente mais tarde as bandeiras audaciosas, iniciadas com a coragem paulista, rasgaram os véus espessos do cipoal da mata virgem, descobrindo os vastos lençóis de uma infinita riqueza.

Muitos lustros decorreram sem que nada mais se observasse, senão os movimentos espantosos das correntes migratórias através dos sertões, procurando o ouro da terra desconhecida e encontrando, muitas vezes, nos seus caminhos a aflição, a angústia e a morte. O próprio Conselho Ultramarino, em Lisboa, expunha mais tarde à autoridade da Coroa a necessidade de se reprimirem os excessos dessas migrações incessantes, para que o próprio reino não se despovoasse.

Por essa época, multiplicavam-se as emboscadas e a sede da posse turvava todas as consciências. Cidades futurosas se levantavam ao longo das estradas desertas e ermas; mas, seus alicerces, a maior parte das vezes, se constituíam com o sangue e com a morte. Em toda a colônia, pairam ameaças de confusão e desordem. A lenda dos tesouros fabulosos, guardados no coração das selvas imensas, incendiava todos os ânimos e enfraquecia o ascendente da lei em todos os espíritos. Os índios experimentam, amarguradamente, a atuação dessas forças contrárias à sua paz, que se concentravam à procura das riquezas da terra, e é com inauditos esforços de perseverança e de paciência que os caridosos jesuítas juntam suas aldeias ao Norte, com doçura fraterna, conquistando todo o Amazonas para a comunidade dos portugueses.

A esse tempo, no extremo norte convulsiona-se o Maranhão, sob os ímpetos revolucionários de Manuel Beckman, contra a Companhia de Comércio, que monopolizara os negócios da importação e exportação da capitania, e contra os jesuítas, cujo espírito de fraternidade se interpunha entre os colonizadores e os índios, no sentido de se manterem estes últimos dentro da liberdade que lhes competia. Os amotinados prendem todos os elementos do governo e, organizando uma junta com elementos do clero, da nobreza e do povo, consideram extinto o monopólio e providenciam o imediato banimento dos protetores dos indígenas.

Festas extraordinárias assinalam, no Maranhão, semelhantes feitos, inclusive Te-Deum na Catedral de São Luís. A notícia de tão singulares quão inesperados episódios provoca as apreensões da corte de Lisboa, que não desconhece as pretensões da França no tocante ao vale do Amazonas, nem ignora o ascendente moral dos franceses sobre os elementos indígenas.

A expedição que deverá restaurar a lei na capitania não se faz esperar e a Gomes Freire de Andrada, estadista notável pelo seu talento militar e político, cabe a direção do movimento restaurador.

As providências da contra-revolução no extremo norte são adotadas sem dificuldade. Gomes Freire procede com magnanimidade para com os revoltosos, sem, contudo, poder agir com a mesma liberalidade para com Manuel Beckman, que foi preso e sentenciado à morte. Sua fortuna teve-a ele confiscada, mas o grande oficial que comandara a expedição, dentro das tradições da generosidade portuguesa, arrematou todos os bens do infeliz, em hasta pública, e os doou à viúva e aos órfãos do revolucionário.

Em 1683, a Bahia se conflagra, depois de assassinar o alcaide-mor da colônia, Francisco Teles de Menezes, que excitara as antipatias dos habitantes do Salvador.

E os derradeiros anos do século XVII testemunham as atividades da colônia, nesse período de transição dos movimentos nativistas. A sede do ouro penetra o século seguinte, que, mais intensamente, ia acender a febre da ambição em todas as cidades. Em 1710, as lutas se fixam na capitania de Pernambuco, que fazia questão de cultivar o sentimento de sua autonomia, desde os tempos da ocupação holandesa, com a qual fizera novas aquisições no que se referia aos patrimônios de sua independência. Os brasileiros de Olinda abrem luta com os portugueses de Recife, em razão das rivalidades entre as duas grandes cidades pernambucanas, que não se toleravam politicamente. As emboscadas ocasionam ali dolorosas cenas de sangue.

Um ano inteiro de choques e sobressaltos assinala o período da guerra dos mascates. Antes, porém, desses movimentos revolucionários em Pernambuco, os paulistas e os emboabas lutavam na região aurífera dos sertões de Minas Gerais, disputando-se a posse do ouro, que abrasava a imaginação do país inteiro.

A felonia e a traição constituem o código dessas criaturas insuladas nas matas desconhecidas e inóspitas.

Pela mesma época, a França, que sempre custou a resignar-se com a influência portuguesa no Brasil, envia Du Clerc para investir o porto do Rio de Janeiro com mil homens de combate.

A metrópole portuguesa não podia proteger, de pronto, a cidade, e o Governador Francisco de Castro Morais, deixando-se dominar pela timidez, permitiu o desembarque das forças francesas, que, todavia, foram rechaçadas pela população carioca. Estudantes e populares lutaram contra o invasor. Algumas dezenas de franceses foram barbaramente trucidados.

Fizeram-se ali mais de quinhentos prisioneiros e o Capitão Du Clerc acabou assassinado em trágicas circunstâncias. O governo do Rio não providenciou quanto ao processo dos criminosos, a fim de punir os culpados e definir as responsabilidades pessoais, provocando com isso a reação dos franceses, que voltaram a assediar a maior cidade brasileira.

Duguay-Trouin vem à Baía de Guanabara acompanhado de cerca de cinco mil combatentes. O governador foge com quase todos os elementos da população, deixando o Rio à mercê do corsário que se üustrara sob a proteção de Luís XIV. Depois do saque, que absorve muitos milhões de cruzados da fortuna particular, paga ainda a cidade fabuloso resgate.

Enquanto se desenrolavam os últimos acontecimentos, governava em Portugal D. João V, o Magnânimo, em cujo reinado ia o Brasil espalhar pela Europa os seus fabulosos tesouros. Nunca houve, ali, um soberano que mostrasse tamanho descaso pelas possibilidades econômicas do povo. O ouro e os diamantes do Brasil iam acender no seu trono as estrelas efêmeras do seu fastígio e da sua glória.

A fortuna amontoada pela ambição e pela cobiça ia ser espalhada pelas mãos insensatas do rei, imprevidente e incapaz da autoridade de um trono. Dentro do luxo assombroso da sua corte, o Convento de Mafra se ergue ao preço de cento e vinte milhões de cruzados. Mais de duzentos milhões seguiriam para as arcas do Vaticano, dados pelo monarca egoísta, que desejava forçar as portas do céu com o ouro iníquo da terra. Em vez de auxiliar a evolução da indústria e da agricultura de sua terra, D. João V levanta igrejas e mosteiros, com extrema prodigalidade, e, enquanto todas as cortes da Europa felicitavam o rei perdulário pelo descobrimento dos diamantes na sua afortunada colônia e se celebram Te-Dewns em Lisboa, em homenagem ao auspicioso acontecimento, pelo Brasil todo se alastravam movimentos nativistas, exaltando os sentimentos generosos da liberdade e preparando, assim, sob a inspiração de Ismael e de suas falanges devotadas, o futuro glorioso dos seus filhos.

A Revolução Nativista de 1817 e os maçons

O conflito interno mais grave ocorrido durante o período de D. João 6º no Brasil foi a chamada Revolução Pernambucana de 1817. Movimento autonomista de inspiração republicana e maçônica, foi fruto do forte sentimento nativista e separatista que grassava em Pernambuco desde a expulsão dos holandeses em 1654. Em 6 de março de 1817, um grupo de revolucionários assumiu o poder na Província, declarando-a república separada do resto do Brasil. O novo regime só durou até maio, quando tropas portuguesas invadiram Recife e debelaram o movimento. Seus três principais líderes, todos maçons, (entre eles o padre Miguelinho) foram fuzilados.

O desejo de República era arraigado e isso acontecia principalmente no meio maçônico. Com a instalação do regime republicano, dos países do centro e sul-americanos, onde a participação maçônica foi fundamental e decisiva, tanto antes como depois da independência, surgiram diversos movimentos autonomistas regionais, no Brasil, e todos eles com a finalidade de implantar a República.

A revolução pernambucana de 6 de março de 1817, está na linha das reações nativistas, que se vinham fazendo sentir no Brasil desde o século XVII. Agora, com maior extensão e profundidade, estavam presentes as idéias de liberdade, autodeterminação dos povos, de república, inerentes ao século.

O revolucionário Capitão-Mor de Olinda Domingos José Martins , o popular Suassuna, natural da capitania do Espírito Santo, após excursão pela Bahia, Pernambuco e Ceará, partiu para a Europa.

O companheiro de ideais, Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque, tomou o rumo da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. Ambos eram maçons.

A Maçonaria, sociedade de grande influência na vida brasileira, fomentava discussões políticas, e pregava abertamente idéias novas: liberdade, república.

Um incidente na festa da Estância, celebrada, anualmente, para comemorar a derrota holandesa, tumultuava o ambiente de paz. Um alferes do Regimento dos Henriques, miliciano preto, surrara um português que injuriava brasileiros. Duvidou-se da fidelidade dos oficiais brasileiros, à Coroa. Caberia ao marechal José Roberto a prisão dos civis e, aos chefes dos regimentos, a prisão dos militares.

Os civis e o ajudante Teixeira, presos facilmente.

O brigadeiro Manoel Joaquim Barbosa, português, atravessado a espada pelo capitão Domingos e tenente Cavalcanti. O governador recebeu aviso dos oficiais portugueses do regimento de artilharia.

O ajudante de ordens, enviado para abafar o motim, também morreu quando tentou penetrar no quartel de Paraíso. Domingos Martins, o capitão Domingos e outros oficiais, uma vez soltos, começaram a agir para a implantação da nova ordem política. O governador, com grande contingente de soldados, alguns elementos da oficialidade e abundante munição, refugiou-se no Forte do Brum.

Em um conselho de cidadãos brasileiros, proclamou-se ao povo a legitimidade da insurreição. Organizou-se o ataque a essa fortificação, e destacou-se um contingente de trinta soldados, comandados pelo capitão Amaro Francisco de Moura, para Olinda. O capitão Domingos, à frente de 800 homens, assediou o forte. Este capitulou. O Governador, sem qualquer resistência, embarcou para o Rio de Janeiro.

Sete de março, a revolução vencera!

Elegeu-se então um governo provisório, de caráter republicano, nos moldes do que ocorrera na França: padre João Ribeiro Pessoa classe eclesiástica; capitão Domingos  militar; Manoel Correa de Araújo agricultura; José Luís de Mendonça magistratura; e Domingos José Martins comércio. Uma proclamação ao povo, em linguagem veemente e precisa, procurou unir brasileiros e portugueses, apelando para a pátria nova que nascia… Pátria, nossa mãe comum… sois portugueses, sois americanos, sois brasileiros, sois pernambucanos.

Resplandecia o espírito nativista.

O espírito liberal, tipo Revolução Francesa, dominava. Tratou-se, por fim, de estender o domínio republicano a toda a capitania, e às vizinhas. Alastra-se o ideal republicano.

Enquanto D.João VI preparava a repressão, propagava-se a revolução pelo interior da capitania: Itamaracá e comarca de Alagoas. Na Paraíba, o capitão André Dias de Figueiredo e Manuel Clemente Cavalcante, partindo de Itabaiana, via Vila do Pilar, marcharam sobre a capital, onde o governo ficou em mãos do coronel Amaro Gomes e do tenente-coronel Estevão Carneiro, os quais, 14 de março, proclamaram a república e hastearam a bandeira da liberdade. Dia seguinte, dois mil homens, comando do sargento-mor Antônio Galdino Alves da Silva, receberam aclamação na capital. No Rio Grande do Norte, André de Albuquerque Maranhão, à frente de cinqüenta soldados paraibanos, proclamou, a 29, a república, sem o interesse do povo.

Desejosos de angariar recursos e novas adesões, e apressar o reconhecimento do Brasil novo pelas nações amigas, os chefes pernambucanos enviaram emissários: ao Ceará, subdiácono José Mariano de Alencar, à Bahia, Padre Roma; no dia 29 de março de 1817, o Conde dos Arcos, representando os Braganças, mandou fuzilar o maçom Padre Roma  José Ignácio de Abreu e Lima, no Campo da Pólvora, em Salvador, onde foi preso, quando levava aos baianos a notícia da Revolução de 6 de março que oferecia uma pátria aos brasileiros, sob o regime republicano.

Nenhuma derrota abateu o ânimo dos revolucionários.

O chefe de cada regimento jurava, naquele dia, defendê-la até a morte.

O governo provisório não se mostrou á altura da gravidade do momento. Tentou, pelo uso da guerrilha conter o movimento da contra-revolução. Inútil. Do ponto de vista militar, nada pôde conseguir.

Os insucessos eram constantes.

A tropa reuniu-se no Engenho Velho do Cabo, onde se deu a assunção do comando. Acompanhava-a, como secretário, revolucionário Frei Joaquim do Amor Divino Caneca. Pertencia à Ordem carmelita. Integrava o quadro da Acadêmica de Suassuna, a qual, segundo historiadores era uma Loja Maçônica e na qual o frei havia sido iniciado.

Organizaram-se duas expedições republicanas: uma pelo interior, comando do capitão José Francisco de Paula Cavalcanti  e outra, de Domingos José Martins , pelo litoral.

Fácil, batê-los por partes. Contra Martins , duas companhias de infantaria, duas de pardos de Penedo e a de cablocos de Atalaia. Em Engenho Pindoba, próximo ao rio Merepe, ocorreu chacina. Domingos José Martins, preso.

A 13 de maio. Engenho Trapiche, Paula Cavalcanti  enfrentou os realistas.

Possuíam vantagemquatro por um. Pânico: abandonou-se toda a artilharia, munições, bagagens, caixa militar, 300 prisioneiros, além de mortos e feridos.

Acabou-se a liberdade. Com a chegada de Cavalcanti à Recife, o governo, sem mais capacidade de manter-se buscou salvar-se na rendição. Espalhou-se que todos os europeus seriam degolados e Recife arrasada, se a capitulação não fosse concedida. Rodrigo Lobo exigiu a prisão dos autores da revolta, governadores e comandantes, entre eles Frei Caneca, permaneceu preso por 4 anos nos calabouços.

Esmorecera o governo, que, por fim, dissolveu-se, assumindo Domingos Teotônio Jorge plenos poderes. Tarde demais. A reação já não se podia executar com êxito. Recife, abandonada.

A força naval ocupara a cidade. Iniciou-se a punição dos revolucionários. Falhara a experiência republicana.

Fonte: www.geocities.com/exhibits.library.villanova.edu/Exército Brasileiro/www.robertomacedo.com

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