Principais Quilombos Brasileiros

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Bahia

1. Quilombo do rio Vermelho
2. Quilombo do Urubu
3. Quilombo de Jacuípe
4. Quilombo de Jaguaribe
5. Quilombo de Maragogipe
6. Quilombo de Muritiba
7. Quilombos de Campos de Cachoeira
8. Quilombos de Orobó, Tupim e Andaraí
9. Quilombos de Xiquexique
10. Quilombo do Buraco do tatu
11. Quilombo de Cachoeira
12. Quilombo de Nossa Senhora dos Mares
13. Quilombo do Cabula
14. Quilombos de Jeremoabo
15. Quilombo do rio Salitre
16. Quilombo do rio Real
17. Quilombo de Inhambuque
18. Quilombos de Jacobina até o rio São Francisco.

Nota: Stuart B. Schwartz conseguiu listar 35 quilombos na região da Bahia entre os séculos XVII, XVIII e XIX.

Sergipe

1. Quilombo de Capela
2. Quilombo de Itabaiana
3. Quilombo de Divina Pastora
4. Quilombo de Itaporanga
5. Quilombo do Rosário
6. Quilombo do Engenho do Brejo
7. Quilombo de Laranjeiras
8. Quilombo de Vila nova
9. Quilombo de São Cristóvão
10. Quilombo de Maroim
11. Quilombo de Brejo Grande
12. Quilombo de Estância
13. Quilombo de Rosário
14. Quilombo de Santa Luíza
15. Quilombo de Socorro
16. Quilombo do rio Cotinguiba
17. Quilombo do rio Vaza Barris

Pernambuco

1. Quilombo do Ibura
2. Quilombo de Nazareth
3. Quilombo de Catucá (extensão do Cova da Onça)
4. Quilombo do Pau Picado
5. Quilombo do Malunguinho
6. Quilombo de Terra Dura
7. Quilombo do Japomim
8. Quilombos de Buenos Aires
9. Quilombo do Palmar
10. Quilombos de Olinda
11. Quilombo do subúrbio do engenho Camorim
12. Quilombo de Goiana
13. Quilombo de Iguaraçu

Maranhão

1. Quilombo da lagoa Amarela (Preto Cosme)
2. Quilombo do Turiaçu
3. Quilombo de Maracaçamé
4. Quilombo de São Benedito do Céu
5. Quilombo do Jaraquariquera

Paraíba

1. Quilombo do Cumbe
2. Quilombo da serra de Capuaba
3. Quilombo de Gramame (Paratuba)
4. Quilombo do Livramento

Rio Grande do Sul

1. Quilombo do negro Lúcio (ilha dos Marinheiros)
2. Quilombo do Arroio
3. Quilombo da serra dos Tapes
4. Quilombo de Manuel Padeiro
5. Quilombo do município de Rio Pardo
6. Quilombo na serra do Distrito do Couto
7. Quilombo no município de Montenegro (?)

Nota: a interrogação posta depois do quilombo do município de Montenegro significa que as fontes informativas não são conclusivas quanto à sua existência; o quilombo de Manuel Padeiro é chamado, em algumas fontes, de Manuel Pedreiro.

Santa Catarina

1. Quilombo da Alagoa (Lagoa)
2. Quilombo da Enseada do Brito
3. Outros quilombos menores “que devem ter dado muito trabalho”

Minas Gerais

1. Quilombo do Ambrósio (Quilombo Grande)
2. Quilombo do Campo Grande
3. Quilombo do Bambuí
4. Quilombo do Andaial
5. Quilombo do Careca
6. Quilombo do Sapucaí
7. Quilombo do morro de Angola
8. Quilombo do Paraíba
9. Quilombo do Ibituruna
10. Quilombo do Cabaça
11. Quilombo de Luanda ou Lapa do Quilombo
12. Quilombo do Guinda
13. Lapa do Isidoro
14. Quilombo do Brumado
15. Quilombo do Caraça
16. Quilombo do Inficionado
17. Quilombos de Suçuí e Paraopeba
18. Quilombos da serra de São Bartolomeu
19. Quilombos de Marcela
20. Quilombos da serra de Marcília

Nota: Carlos Magno Guimarães conseguiu listar 116 quilombos em minas Gerais no século XVIII.

São Paulo

1. Quilombos dos Campos de Araraquara
2. Quilombo da cachoeira do Tambau
3. Quilombos à margem do rio Tietê, no caminho de Cuiabá
4. Quilombo das cabeceiras do rio Corumateí
5. Quilombo de Moji-Guaçu
6. Quilombos de Campinas
7. Quilombo de Atibaia
8. Quilombo de Santos
9. Quilombo da Aldeia Pinheiros
10. Quilombo de Jundiaí
11. Quilombo de Itapetininga
12. Quilombo da fazenda Monjolinhos (São Carlos)
13. Quilombo de Água Fria
14. Quilombo de Piracicaba
15. Quilombo de Apiaí (de José de Oliveira)
16. Quilombo do Sítio do Forte
17. Quilombo do Canguçu
18. Quilombo do termo de Parnaíba
19. Quilombo da freguesia de Nazaré
20. Quilombo de Sorocaba
21. Quilombo do Cururu
22. Quilombo do Pai Felipe
23. Quilombo do Jabaquara

Rio de Janeiro

1. Quilombo de Manuel Congo
2. Quilombos às margens do rio Paraíba
3. Quilombos na serra dos Órgãos
4. Quilombos da região de Inhaúma
5. Quilombos dos Campos de Goitacazes
6. Quilombo do Leblon
7. Quilombo do morro do desterro
8. Bastilhas de Campos (quilombos organizados pelos abolicionistas daquela cidade)

Região Amazônica

1. Amapá: Oiapoque e Calçoene
2. Amapá: Mazagão
3. Pará: Alenquer (rio Curuá)
4. Pará: Óbidos (rio Trombetas e Cuminá)
5. Pará: Caxiu e Cupim
6. Alcobaça (hoje Tucuruí), Cametá (rio Tocantins)
7. Pará: Mocajuba (litoral atlântico do Pará)
8. Pará: Gurupi (atual divisa entre o Pará e o Maranhão)
9. Maranhão: Turiaçu (rio Maracaçume)
10. Maranhão: Turiaçu (rio Turiaçu)
11. Pará: Anajás (lagoa Mocambo, ilha de Marajó)
12. Margem do baixo Tocantins: Quilombo de Felipa Maria Aranha

Mato Grosso

1. Quilombo nas vizinhanças do Guaporé
2. Quilombo da Carlota (denominado posteriormente Quilombo do Piolho)
3. Quilombos à margem do rio Piolho
4. Quilombo de Pindaituba
5. Quilombo do Motuca
6. Quilombo de Teresa do Quariterê

Quilombos no Brasil

Muitos escravos fugiram. Seu objetivo geralmente era chegar a um quilombo, como eram chamados os campos de refugiados, ou santuários para escravos.

quilombo mais conhecido, Palmares, foi construído no século XVII no interior da província nordestina de Alagoas. Palmares tornou-se um importante centro de resistência à escravidão.

Na época, os proprietários de terras portugueses e brasileiros estavam ocupados lutando contra os holandeses, o que os distraiu do crescente desafio que Palmares representava quando começou a prosperar como um povoado fortificado. Uma vez que os holandeses foram expulsos, as autoridades brasileiras lançaram várias expedições contra Palmares e em 1697 o assentamento foi destruído. Zumbi (1655-1695), o líder dos Palmares, fugiu e acabou sendo morto. Até hoje, no entanto, Palmares é um tema recorrente no Carnaval e Zumbi continua sendo uma figura reverenciada pelos brasileiros. A escravidão foi gradualmente reduzida no Brasil no final do século XIX e foi completamente abolida em 1888.

Principais Quilombos Brasileiros — História do Brasil

Quilombo: quilombolas brasileiros durante a escravidão

Quilombo

tráfico de escravos para as Américas, que consumiu a vida de pelo menos 12 milhões de homens e mulheres africanos, representou um dos empreendimentos comerciais e culturais mais importantes na formação do mundo moderno e elemento fundamental na criação de um sistema socioeconômico mundial. Estima-se que 40% dos africanos importados para as Américas acabaram no Brasil. Apesar do uso intensivo da mão de obra indígena (ameríndia), os africanos e seus descendentes constituíram a espinha dorsal econômica do Brasil nos primeiros quatro séculos de sua história, começando com a ocupação portuguesa no século XVI.

A escravidão africana penetrou em todos os aspectos da vida no Brasil. Além de colocar em movimento plantações, fazendas, sítios, minas, cidades, fábricas, cozinhas e refeitórios, os escravos deixaram sua marca em outros aspectos da cultura material e espiritual do país – sua agricultura, culinária, religião, língua, música, artes e arquitetura.

Onde quer que a escravidão florescia, também florescia a resistência. Mesmo sob a ameaça do chicote, os escravos tentavam abrir espaços de autonomia por meio da negociação e da rebelião aberta ou disfarçada, individual ou coletiva. Embora a lista de formas de resistência seja longa, uma era onipresente – a fuga e a formação de comunidades de escravos fugitivos, conhecidas no Brasil como quilombos ou mocambos.

A fuga de escravos, com certeza, nem sempre levou à formação de quilombos. Os fugitivos muitas vezes escapavam individualmente ou em pequenos grupos e se disfarçavam de negros livres ou libertos ou mestiços, especialmente em assentamentos urbanos maiores localizados em ou próximos a regiões de mineração e plantações. Nosso foco aqui, no entanto, é a fuga da escravidão que resultou na criação dos quilombos.

Para uma minoria significativa de grupos quilombolas nas Américas – particularmente na Jamaica e no Suriname, onde comunidades quilombolas forçaram tratados com governos coloniais, tornaram-se políticas relativamente autônomas e persistem até o presente – os estudiosos conseguiram conduzir pesquisas de dentro, empregando, entre outras coisas, a memória viva dos descendentes dos fundadores originais. No Brasil, essas memórias são pálidas (embora não totalmente apagadas de grupos conhecidos como descendentes de escravos fugitivos), e os historiadores tiveram que depender quase exclusivamente de documentos escritos por forasteiros – geralmente os encarregados de destruir fugitivos. Ao ler criticamente essas fontes, porém – lendo nas entrelinhas, levando em conta a intenção de seus autores, seguindo persistentemente pequenas pistas, e até tentando ler seus silêncios – é possível aprender muito sobre os quilombos brasileiros durante a escravidão.

Já em meados do século XVII, cronistas coloniais no Brasil escreviam sobre escravos fugitivos, e especialmente sobre Palmares, o mais famoso de todos os quilombos.

Palmares era uma federação de comunidades quilombolas cuja população foi estimada por fontes contemporâneas, variadamente, em 11.000, 16.000, 20.000 e até 30.000 pessoas.

Seus vários assentamentos constituintes localizavam-se na Serra da Barriga, uma cadeia montanhosa no sertão da então capitania de Pernambuco, no nordeste do Brasil, área que hoje pertence ao estado de Alagoas.

Em 1645, o diário do capitão Johann Blaer, que liderou uma expedição enviada pelos holandeses (que então controlavam Pernambuco), descrevia a cidade de Palmares Velho, que ele encontrou abandonada: “[O quilombo] tem 800 metros de comprimento e tem dois portões; a rua tem uma braça [2,2 metros] de largura, tendo ao centro duas fontes; um pátio onde ficava a casa do rei [é] agora uma grande praça, onde o rei fazia exercícios [militares] com o seu povo. ” Três dias depois, o capitão holandês descreveu um Novo Palmares bem protegido, com suas 220 casas cercadas por estacas pontiagudas e seus portões selados por pesadas árvores caídas. No centro do assentamento havia um prédio que ele descreveu como uma igreja, mais quatro ferreiros e uma grande casa para “reuniões do conselho” da comunidade. O diário de Blaer também abre uma pequena janela sobre a natureza da sociedade e do poder dentro do quilombo, embora devamos interpretar o que ele escreve com cautela. Antes de sua chegada, escreve ele, este povoado particular de Palmares tinha “todo tipo de artesãos e seu rei governava com severa justiça, não permitindo bruxas entre seu povo e, quando alguns negros fugiam, mandava atrás deles crioulos que, quando pegos, foram mortos, e assim reinava o medo entre eles.”

Narrativas posteriores afirmam que uma espécie de escravidão temporária foi imposta aos escravos que haviam sido libertados das plantações de açúcar por invasores de quilombos.

A população de Palmares cresceu tanto pela reprodução natural quanto pela incorporação desses recém-chegados. No final da década de 1770, várias aldeias grandes e bem protegidas – incluindo Zumbi, Acotireno, Tabocas, Dambraganga, Subupira, Tabocas, Macaco, Osenga e Andalaquituche – foram identificadas por uma expedição punitiva. Além destes, segundo fontes contemporâneas, havia “outros menores que tinham menos gente”. Palmares exibiu uma complexa estrutura social e política, resistiu por quase um século às várias expedições punitivas enviadas contra ela, e acabou sendo destruída apenas em 1694-1695.

Palmares tornou-se o protótipo do quilombo na literatura histórica e antropológica brasileira. Nas décadas de 1930 e 1940, floresceu uma abordagem culturalista dos estudos quilombolas, segundo a qual a organização social dos grupos de escravos fugitivos representava resistência à aculturação europeia nas senzalas. Alguns estudiosos rotularam Palmares como “um verdadeiro estado africano no coração do Brasil colonial”, um projeto restaurador relativamente bem-sucedido. Muitas vezes involuntariamente, tais interpretações inspiraram uma versão popular dos quilombos como comunidades isoladas e alternativas que buscavam reproduzir a África nas Américas e em que todos os membros eram livres e iguais, assim como haviam sido em sua terra natal (uma África consideravelmente romantizada). Apesar dos esforços de alguns autores para documentar o intercâmbio cultural e o sincretismo em Palmares e outros quilombos, uma característica básica de tais interpretações foi a busca por “africanismos” ou “sobrevivências africanas” difíceis de detectar.

A partir do final da década de 1950, os quilombos passaram a ser objeto de interpretações marxistas, tendo como alvo principal novamente Palmares.

A sugestão de que Palmares representou uma experiência socialista pode ter sido a leitura marxista mais extrema do famoso quilombo.

A ideia era interpretar a atividade quilombola como uma espécie de luta de classes que proclamava a negação absoluta da escravidão e a criação de uma sociedade alternativa nas florestas e montanhas do interior.

Esse modelo isolacionista não era realmente tão diferente da interpretação culturalista, exceto que via fracasso onde esta via sucesso – fracasso porque os fugitivos eram incapazes de desenvolver uma estratégia política eficaz que destruísse o próprio sistema escravista. Os escravos fugitivos, argumentava, não desenvolveram uma visão revolucionária, porque careciam de consciência de classe, sendo incapazes – segundo essa interpretação marxista – de decodificar as “leis” do processo histórico.

Ao enfatizar a restauração cultural, a perspectiva culturalista evitou questões como a crioulização cultural e a formação de uma cultura e sociedade afro-brasileira.

Mas os quilombos de fato continuaram a criar novas formas de viver e de interpretar o mundo, um processo de crioulização que já havia começado na casa dos senhores e senzalas, nas minas de ouro e nos canaviais.

Nesse processo, eles certamente mobilizaram princípios gerais e visões de mundo que trouxeram da África – pois não eram tabula rasa sobre a qual mestres, padres católicos e autoridades governamentais pudessem inscrever livremente seus desígnios. Ao mesmo tempo, seria tolice acreditar que os quilombolas não tiraram das plantações, minas ou cidades e incorporaram aos quilombos uma série de aspectos da cultura local, predominantemente europeia e indígena, material e espiritual. O intercâmbio cultural entre africanos e escravos crioulos, bem como entre africanos de diferentes etnias, também foi de extrema importância e precisa ser estudado com mais cuidado, embora as fontes sejam muitas vezes omissas sobre tais questões.

O processo histórico de formação cultural ocorreu em todo o vasto território do Brasil, mas em ritmos locais variados e apresentando diferentes combinações.

Os escravos africanos africanizaram o Brasil assim como foram crioulizados no Brasil.

A interpretação marxista convencional foi muito rápida em negar que escravos, e escravos fugitivos em particular, pudessem ter desenvolvido um comportamento político específico e uma visão de mudança social.

Mas sem considerar essa possibilidade é impossível entender a luta de classes sob a escravidão sem ser anacrônico. Tendo evitado essa possibilidade e abraçado um evolucionismo muitas vezes mal disfarçado, a interpretação marxista substitui uma investigação dos significados que os próprios escravos deram às suas ações por uma lamentação por não terem alcançado o “Sentido da História” ou as “Leis do Processo Histórico” ” tão bem compreendido pelo historiador.

Uma deficiência geral dos estudos tradicionais sobre quilombos no Brasil é que eles tomam Palmares como seu único modelo. Esses estudos não conseguiram reconhecer o quão único Palmares foi na história do Brasil – excepcionalmente grande, longevo, politicamente complexo e relativamente distante dos assentamentos de plantações. Nada como Palmares voltou a ser permitido pelas autoridades coloniais, que tomaram medidas efetivas nesse sentido. Uma dessas medidas foi criar um corpo de caçadores de escravos chamados capit…es-do-mato ou “capitães do mato” que foram encontrados, às vezes com nomes diferentes, em toda a colônia.

Durante as últimas duas décadas, os estudos sobre quilombos foram renovados e atualizados no mesmo ritmo que a historiografia da escravidão em geral.

Agora fica claro que mesmo Palmares não se enquadra em um modelo de isolamento total da sociedade escravista. Como mencionado acima, seus membros frequentemente invadiam plantações costeiras, sequestravam escravos (especialmente mulheres) e roubavam gado. Eles também negociaram com comerciantes viajantes, recrutaram novos membros de grupos indígenas e incorporaram europeus que tinham problemas com a lei – os perseguidos pela Inquisição, por exemplo. E a maioria dos quilombos no Brasil dos séculos 18 e 19 estavam ainda mais integrados à sociedade em geral do que Palmares.

Estudos recentes sobre quilombos brasileiros têm apontado para as dificuldades de tentar estabelecer um modelo único para o fenômeno, além de defini-lo simplesmente como um grupo de escravos fugitivos assentados.

Tal grupo, de acordo com a lei portuguesa e mais tarde brasileira, poderia ser tão pequeno quanto quatro ou cinco membros, e poderia até incluir membros não escravos. Às vezes se estabeleceram em áreas remotas, mas também (provavelmente na maioria dos casos) estavam localizados perto de grandes centros urbanos ou perto de zonas de plantações, pecuária e mineração, de onde podiam extrair parte de sua subsistência.

Os fugitivos frequentemente se dedicavam à agricultura de subsistência, mas também vendiam seu excesso de produção em mercados locais próximos, ou realmente vendiam seu trabalho para plantadores, agricultores e mineiros locais. Cidades como Rio de Janeiro, Recife, Salvador, Porto Alegre e Vila Rica (atual Ouro Preto) eram cercadas por pequenos e grandes bandos de escravos fugitivos, cujas casas de barro, acampamentos e áreas de subsistência eram periodicamente invadidas e destruídas pelos polícia, apenas para reaparecer mais tarde.

No início do século XIX, as matas e morros da periferia de Salvador, Bahia, escondiam inúmeros pequenos quilombos que serviam de refúgio temporário para a grande população escrava urbana, que de tempos em tempos se envolvia com a escravidão. espirações e insurreições. No sul do país, os quilombolas se estabeleceram nos vales dos rios Sarapuí e Iguaçu, onde vendiam sua mão de obra para agricultores locais de cana e subsistência ou coletavam madeira para vender na cidade de corte do Rio de Janeiro, capital do Império do Brasil.

Durante a corrida do ouro do século XVIII, a região mineira de Minas Gerais foi palco da formação de dezenas de quilombos de 100 a 300 habitantes cada. Um historiador contou 162 dessas comunidades.

Além de trabalhar para pequenos garimpeiros, os fugitivos também se tornaram garimpeiros independentes e desenvolveram uma clientela de pequenos comerciantes e lojistas ávidos por comprar seu ouro ou trocá-lo por gêneros alimentícios, armas de fogo, munições e outros produtos. Isso acontecia em vários pontos da capitania, inclusive na capital, Vila Rica.

Mas os quilombos também foram fundados em regiões mais remotas do Brasil. Localizados próximos a Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso foram em grande parte colonizados na esteira do boom da mineração no século XVIII e seguiram um padrão semelhante. Algumas das novas áreas de mineração nessas regiões foram de fato abertas por escravos fugitivos que se tornaram – especialmente no caso de Mato Grosso – instrumentos da expansão colonial portuguesa para o oeste.

Foi justamente o deslocamento dos quilombos para o interior do Brasil que propiciou os encontros – ora pacíficos, ora hostis – entre escravos fugitivos e grupos indígenas.

Quando o quilombo da Carlota foi atacado no Mato Grosso em 1795, as autoridades coloniais encontraram índios e mestiços de negros e índios vivendo juntos. Em Goiás, durante o século XVIII, índios Xavante e quilombolas se envolveram inicialmente em conflitos, mas posteriormente estabeleceram comunidades nas quais conviviam. Palmares havia sido destruído por um grande exército de índios sob o comando de capitães de guerra brancos e caboclos, que lutavam contra outros índios e caboclos que encontravam entre a maioria negra dentro da paliçada que protegia a quilombo.

Enquanto o sertão brasileiro presenciava encontros cada vez mais frequentes entre índios e quilombolas, as regiões litorâneas vivenciavam um fluxo constante desses encontros.

Batalhões indígenas lutaram e desmantelaram diversos quilombos na Bahia do século XVIII e início do XIX, como o Buraco do Tatu em 1764 e o quilombo Oitizeiro em 1806, tanto no litoral quanto nas proximidades de áreas de plantio – – a primeira a menos de um dia de marcha de Salvador, a outra próxima a Ilhéus. Também na Bahia, os quilombolas hausa, em 1814, planejaram uma revolta nas proximidades de Salvador que incluiria índios aliados a quem os conspiradores haviam prometido devolver terras “roubadas deles pelos brancos”.

As plantações eram o clássico cadinho para os quilombos do Brasil, com frequentes rebeliões de escravos e quilombolas organizando ou se envolvendo diretamente em novas revoltas nas plantações.

Embora os detalhes precisos permaneçam obscuros, o próprio Palmares foi originalmente criado no final do século XVI por escravos rebeldes de uma grande plantação de açúcar perto de Porto Calvo, no litoral de Pernambuco. Histórias semelhantes cobrem a longa história da escravidão no Brasil do começo ao fim. Os fugitivos geralmente matavam ou maltratavam senhores, capatazes e membros de suas famílias; campos queimados; e roubou armas, munições e alimentos antes de fugir para os bosques, pântanos ou montanhas. Em 1789, após matar o feitor, um grupo de escravos da fazenda Santana, na Bahia, levou uma roca e instrumentos necessários para operar o engenho de açúcar para um quilombo que haviam estabelecido em terras pertencentes à fazenda.

Os fugitivos às vezes planejavam e executavam revoltas em colaboração com os escravos das plantações e urbanos. Em 1826, os quilombolas iorubás da periferia de Salvador planejaram – com a ajuda de conterrâneos que viviam em cativeiro na cidade – uma revolta que se desenrolaria na véspera de Natal. Alertados sobre a conspiração, os capitães do mato foram mandados atrás dos quilombolas, que resistiram e os repeliram até serem finalmente vencidos por um destacamento policial. As alianças entre quilombolas e escravos às vezes eram mais bem-sucedidas, ou pelo menos causavam mais problemas ao sistema escravista. Em 1876, por exemplo, na vila de Viana, localizada na província nortenha do Maranhão, fugitivos desciam de um quilombo (chamado de São Benedito em homenagem a um santo negro católico muito popular) e ocupavam vários fazendas, exigindo o fim da escravidão. O sistema, é claro, não entrou em colapso até 1888, mas esses rebeldes desfrutaram do sabor da vitória por alguns dias.

A formação de quilombos nem sempre significou uma retirada completa do cativeiro.

Muitos escravos rebeldes se organizaram em quilombos para negociar a partir de uma posição de força para obter melhores condições de trabalho e viver sob escravidão. Os quilombolas da fazenda Santana, na Bahia, chegaram a produzir um minucioso “tratado de paz”, como o chamavam, composto por diversas demandas relativas à rotina de trabalho.

Mas também pediram que se destinasse mais terra para suas hortas de subsistência, que o fazendeiro lhes fornecesse um barco para levar o excesso de produção ao mercado, que lhes fosse dada voz na nomeação de capatazes e que lhes permitissem cantar e cantar dançar a qualquer hora que eles escolheram. Seu mestre não assinou o tratado.

Perto do fim da escravidão, os escravos fugitivos muitas vezes conseguiam convencer os senhores a negociar os termos de sua escravidão. Além do acesso às hortas de subsistência e outros direitos consuetudinários, no Rio de Janeiro exigiam que os membros da família não fossem separados por venda e que os capatazes indesejados fossem demitidos.

Os quilombos tardios eram geralmente formados por escravos da mesma fazenda que ocupavam terras dentro de seu perímetro. Os assentamentos desse tipo eram numerosos, mas geralmente de curta duração, durando algumas semanas ou menos; vários, no entanto, conseguiram resistir por meses e até anos.

A formação de uma economia camponesa acompanhou a formação de muitos quilombos, alguns dos quais sobreviveram para se tornarem comunidades camponesas negras que perduram até o presente.

É o caso de várias aldeias do baixo vale do Amazonas originadas de quilombos formados no fim da escravidão. Ali, os habitantes conseguiram, por gerações, transmitir os segredos dos rios e da selva, de onde vinham coletando peixes, madeira, frutas silvestres, folhas medicinais etc. Infelizmente, esses descendentes de rebeldes quilombolas da Amazônia representam um dos poucos exemplos no Brasil de comunidades negras rurais que ainda guardam alguma memória – embora bastante vaga em muitos aspectos – da época da escravidão.

Entre Palmares e os quilombos organizados às vésperas da abolição, os escravos produziram uma emocionante história de liberdade no Brasil. Os rebeldes quilombolas ocuparam montanhas e florestas, se estabeleceram em torno de aldeias e plantações, exploraram minas e trabalharam o solo. Eles formaram grupos grandes e pequenos, atacaram plantações e se protegeram contra ataques de capitães do mato.

Alguns buscaram uma ruptura completa com a escravidão, outros tentaram barganhar por melhores termos de escravidão. Estudos recentes sobre quilombos mostraram que a história dos quilombos é cheia de armadilhas e surpresas, de passos para frente e para trás, de conflitos e compromissos – uma história desprovida de sentido linear; uma que torna a experiência do Brasil com a escravidão (quase 400 anos de sua história) muito mais complexa do que pensávamos.

Fonte: www.terrabrasileira.net/memory.loc.gov/www.culturalsurvival.org/t5z6q4c2.rocketcdn.me

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