História da Língua Portuguesa

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língua portuguesa é uma das mais importantes faladas em todo o mundo hoje. Não só é a sexta língua mais falada no mundo, como também está presente em quase todos os continentes.

português desenvolveu-se na parte ocidental da Península Ibérica do latim falado trazido pelos soldados romanos desde o século III a.C..

A língua começou a diferenciar-se das outras línguas românicas depois da queda do Império Romano e das invasões bárbaras no século V. Começou a ser usada em documentos escritos cerca do século IX, e no século XV já se tinha tornado uma língua com uma literatura rica.

“A língua é ou faz parte do aparelho ideológico, comunicativo e estético da sociedade que a própria língua define e individualiza.” (Leonor Buescu)

“Só a partir da segunda metade do século XVIII é que o Brasil pode começar a ser definido como um espaço de língua dominante portuguesa, devido à conhecida política linguístico-cultural desenvolvida pelo Marquês de Pombal.

A repressão ao uso de línguas indígenas, sobretudo de base tupi tronco linguístico mais difundido na área já colonizada, desencadeada por essa orientação política, tirou o Brasil de um rumo que poderia tê-lo levado a ser um país de base linguística majoritariamente indígena.

Os dois séculos e meio de colonização que precederam a decidida política pombalina recobrem múltiplas situações de contato linguístico, entre falantes da Língua Portuguesa e centenas de línguas autóctones (continuam vivas e em uso, por minorias, é claro, ainda cerca de 180 delas) e múltiplas línguas africanas, chegadas ao Brasil desde 1538 até à extinção do tráfico no século XIX.” (Rosa Virgínia Mattos e Silva, 1995, ” O Português são dois”)

Colonização romana

Em 218 C., os romanos conquistaram a parte ocidental da Península Ibérica, composta principalmente pelas províncias romanas de Lusitânia e Galécia (atualmente, essa região compreende as regiões centro-sul de Portugal e a recentemente constituída euro-região Galiza-Norte de Portugal). Trouxeram com eles uma versão popular do Latim, o Latim Vulgar, do qual se acredita que todas as línguas latinas descendam e que contribuiu com cerca de 90% do léxico do português.

Embora a população da Península Ibérica tenha se estabelecido muito antes da colonização romana, poucos traços das línguas nativas persistiram no português moderno.

Os únicos vestígios das línguas anteriores permanecem numa parte reduzida do léxico e na toponímia da Galiza e Portugal.

Invasões bárbaras

Entre 409 A.D. e 711, enquanto o Império Romano entrava em colapso, a Península Ibérica foi invadida por povos de origem germânica, conhecidos pelos romanos como bárbaros. Estes bárbaros (principalmente os suevos e os visigodos) absorveram rapidamente a cultura e língua romanas da península; contudo, e como as escolas romanas foram encerradas, o latim foi libertado para começar a evoluir sozinho.

Porque cada tribo bárbara falava latim de maneira diferente, a uniformidade da península rompeu-se, levando à formação de línguas bem diferentes (galaico-português ou português medieval, espanhol e catalão).

Acredita-se, em particular, que os suevos sejam responsáveis pela diferenciação linguística dos portugueses e galegos quando comparados com os castelhanos. É, ainda, na época do reino Suevo que se configuram os dias da semana proibindo-se os nomes romanos. As línguas germânicas influenciaram particularmente o português em palavras ligadas à guerra e violência, tais como “Guerra”. As invasões deram-se em duas ondas principais. A primeira com penetração dos chamados bárbaros e a assimilação cultural Romana. Os “bárbaros” tiveram uma certa “receptividade” a ponto de receber pequenas áreas de terra. Com o passar do tempo, seus costumes, língua, etc. foram se perdendo, mesmo porque não havia uma renovação do contingente de pessoas e o seu grupo era reduzido.

Uma segunda leva foi mais vagarosa, não teve os mesmos benefícios dos ganhos de terra e teve seu contingente de pessoas aumentado devido a proximidade das terras ocupadas com as fronteiras internas do Império Romano.

Invasão dos mouros

Desde 711, com a invasão dos mouros na península, o árabe foi adaptado como língua administrativa nas regiões conquistadas. Contudo, a população continuou a falar latim vulgar; logo que os mouros foram expulsos, a influência exercida na língua foi pequena.

O seu efeito principal está no léxico: o português moderno ainda tem um grande número de palavras de origem árabe, especialmente relacionadas com comida e agricultura, o que não tem equivalente noutras línguas latinas. A influência árabe é também visível nos nomes de locais no sul do país, tais como “Algarve” e “Alcácer do Sal”. As palavras portuguesas que comecem por al- são de origem árabe.

O despertar da LÍNGUA PORTUGUESA

Já em época romana existiram duas províncias diferenciadas no que seriam os territórios em que se formou a língua portuguesa, a antiga província romana da Lusitânia e a província da Galécia a norte.

Língua Portuguesa desenvolveu-se principalmente no norte de Portugal e na Galiza, nos condados lucense, asturicense e bracarense da província romana da Galécia coincidentes com o território político do Reino Suevo, e só posteriormente, com a invasão da Reconquista e que foi avançando pelo que atualmente é o centro-sul de Portugal. Porém, a configuração atual da língua foi largamente influenciada por dialetos moçárabes falados no sul, na Lusitânia.

Por bastante tempo, o dialeto latino dessa província romana e depois do Reino Suevo desenvolveu-se apenas como uma língua falada, ficando o latim reservado para a língua escrita.

Os registos mais antigos de uma Língua Portuguesa distinta aparecem em documentos administrativos do século IX, mas com muitas frases em latim à mistura.

O vernáculo escrito passou gradualmente para uso geral nos séculos seguintes. Portugal tornou-se um país independente em 1143, com o rei D. Afonso I. A separação política entre Portugal e Galiza e Castela (mais tarde, Espanha) permitiu que os dois países desenvolvessem os seus latins vernáculos em direções opostas. Em 1290, o rei D. Dinis criava a primeira universidade portuguesa em Lisboa (o Estudo Geral) e decretou que o português, que então era chamado de “Língua vulgar” ou “Latim Vulgar” fosse usado em vez do Latim Clássico e conhecido como ” Língua Portuguesa “. Em 1296, o português é adotado pela Chancelaria Real. Usado agora não só em poesia, mas também quando escrevendo leis e nos notários.

Até 1350, a língua Galaico-Portuguesa permaneceu apenas como língua nativa da Galiza e Portugal; mas pelo século XIV, o Português tornou-se uma língua madura com uma tradição literária riquíssima, e também foi adoptado por muitos poetas Leoneses, Castelhanos, Aragoneses e Catalães. Durante essa época, a língua na Galiza começou a ser influenciada pelo Castelhano (basicamente o Espanhol moderno) e também se iniciou a introducção do espanhol como única forma de língua culta.

Em Portugal a variante centro-meridional iniciou o caminho da modernização da língua tornando-se progressivamente por sua vez a variante de língua culta do País.

Os descobrimentos portugueses

Entre os séculos XIV e XVI, com os descobrimentos portugueses, a língua portuguesa espalhou-se por muitas regiões da Ásia, África e América. Pelo século XVI tornou-se uma “Língua Franca” na Ásia e África, usada não só pela administração colonial e comércio, mas também para comunicação entre os oficiais locais e os europeus de todas as nacionalidades. No Ceilão (atual Sri Lanka) vários reis se tornaram falantes de português fluente, e os nobres normalmente adquiriram nomes portugueses.

O alastramento da língua foi ajudado por casamentos mistos entre portugueses e as gentes locais (algo muito comum também noutras zonas do mundo), e a sua associação com os esforços missionários católicos que levaram a que a língua fosse chamada de “Cristão” em muitos locais.

A língua continuou popular mesmo com várias medidas contra ela levadas a cabo pelos holandeses no Ceilão e Indonésia.

Algumas comunidades cristãs falantes de português na Índia, Sri Lanka, Malásia e Indonésia preservaram as suas línguas mesmo depois de se isolarem de Portugal, e desenvolveram-se pelos séculos em vários Crioulos portugueses. Também, muitas palavras portuguesas entraram no léxico de muitas outras línguas, tais como “sepatu” que vem de “sapato” em Indonésio, “keju” que significa “queijo” em Malaio e “meza” (de “mesa”) em Swahili.

A renascença

Com a Renascença, aumenta o número de palavras eruditas com origem no latim clássico e no grego arcaico, o que aumenta a complexidade do português. O fim do “português arcaico” é marcado com a publicação do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, em 1516.

Mas formas similares ao português arcaico é ainda falado por muitas populações em São Tomé e Príncipe e no Brasil e Portugal rural.

Contribuições Tupi ao Léxico Português

Embora tendo prevalecido sobre as demais línguas aqui postas em contato, o português não poderia deixar de sofrer modificações e de receber influências e contribuições.

A influência tupi é mais significativa no vocabulário, conforme se verifica nos exemplos abaixo.

Topônimos: Abaeté, Andaraí, Aracaju, Anhangabaú, Atibaia, Araxá, Baependi, Bagé, Bauru, Borborema, Butantã, Caçapava, Cabuçu, Caju, Carioca, Catete, Catumbi, Cambuquira, Gamboa, Guanabara, Guaratiba, Jacarepaguá, Jurujuba, Inhaúma, Irajá, Icaraí, Itajaí, Maracanã, Pavuna, Pará, Paraná, Paranaguá, Paranaíba, Paraopeba, Paranapanema, Tijuca, Taubaté, Tamandaré, Tabatinga, Sumaré, etc.

Antropônimos: Araci, Baraúna, Cotegipe, Caminhoá, Guaraciaba, Iracema, Iraci, Jaci, Juraci, Jurema, Jupira, Jucá, Moema, Piragibe, Sucupira, Ubirajara, Araripe, Sinimbu, Bartira, Graciema, Inaiá, Irani, Jacira, Jandira, Iara, Oiticica, etc.

Flora: Abacaxi, brejaúva, buriti, carnaúba, capim, caruru, cipó, jacarandá, jaboticaba, peroba, pitanga, canjarana, caroba, jiquitibá, mandioca, aipim, imbuia, ingá, ipê, sapé, taquara, tiririca, araticum, maracujá, caju, caatinga, etc.

Fauna: Araponga, acará, caninana, capivara, coati, curiango, curió, gambá, irara, jacu, jaburu, jararaca, juriti, lambari, nhambu, mandi, paca, piranha, sabiá, sanhaço, maitaca, saúva, tamanduá, siriema, tanajura, tatu, urubu, saracura, surubi, sucuri, sagüi, etc.

Usos, Costumes, Crenças, Moléstias: Arapuca, jacaá, pari, tipiti, urupema; moqueca, curau, mirandó; saci, caipora, curupira, cuca; sapiroca, catapora, sapiranga; pororoca, piracema, carijó, sambanga, sarambê, punga, etc.

Fraseologia: Estar ou andar na pindaíba, andar ao uatá ou atá, chorar pitanga, estar à tocaia ou de tocaia, cair na arataca, estar em arataca, ficar de bubuia, etc. As áreas linguísticas mais afetadas pela influência do negro foram a fonética e a morfologia, nas quais se nota uma tendência para a simplificação.

Os exemplos abaixo comprovam esta afirmação:

Contribuições Africanas ao Léxico Português: Embora menos acentuadamente, a área do vocabulário também apresenta alguma influência africana.

Da Língua Nagô: Ogum, Orixá, vatapá, abará, cará, acarajé, afurá, alujá, babalaô, babalorixá, Exu, orô, Oxum, Xangô, aberém, acassá, afofiê, agogô, etc.

Do Quimbundo: Moleque, cachimbo, quitanda, maxixe, samba, molambo, bangüê, banzar, caçula, cafuné, camundongo, canga, carcunda, cochilar, dengue, fubá, marimbondo, marimba, birimbau, mocambo, muxiba, quitute, senzala, sungar, xingar, etc.

A Língua Portuguesa na África

Língua Portuguesa foi levada ao continente africano devido à expansão colonial portuguesa. Imposta como língua do colonizador em Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Angola, São Tomé e Príncipe, ela conviveu sempre com uma imensa diversidade de línguas nativas, que servem, efetivamente, como instrumento de comunicação na vida diária. O português constituiu-se como a língua da administração, do ensino, da imprensa e das relações com o mundo exterior.

A partir do processo de descolonização que se seguiu à revolução de 25 de abril de 1974, as cinco repúblicas independentes estabeleceram o português como língua oficial, ao lado das inúmeras línguas tribais, de famílias linguísticas de origem africana. Oficialmente, esse “português da África” segue a norma europeia, mas no uso oral se distancia cada vez mais, aproximando-se muito do português falado no Brasil.

Ao lado dessa situação linguística, existem inúmeras línguas crioulas. São o resultado da simplificação e da reestruturação do português, feitas por populações africanas que a adotaram por necessidade — no caso, a questão da escravatura dos negros.

Os crioulos portugueses começaram a formar-se desde os primeiros contatos entre portugueses e africanos, provavelmente no século XV. Apesar de uma base lexical comum, os crioulos africanos são, hoje, muito diferentes do português na sua organização gramatical.

A Colonização do Brasil e a Implantação do Português

São os seguintes os dados históricos relativos à implantação do Português no Brasil, a Língua Portuguesa, em sua versão europeia do final do século XV, foi trazida para o território americano em 1500, quando Cabral aportou no Brasil. Caminha, o escrivão de Cabral, relatou que foi impossível “haver fala ou entendimento de proveito”, por isso trocaram impressões como mudos, gesticulando.

Datam de 1540 e 1550 as primeiras notícias sobre a língua dos índios, relatadas por europeus que a aprenderam, transformando-se em “línguas”, termo utilizado para designar os intérpretes para o português.

A Língua “Geral” de Base Tupi

Os jesuítas tiveram um importante papel nos estudos das línguas indígenas. O Padre Manuel da Nóbrega incentivou os estudos do tupi, mas nunca pôde aprendê-la, por ser gago. Numa carta datada de 1549, escreveu.

“trabalhamos de saber a língua deles, e nisto o Padre Navarro nos leva vantagem a todos. Temos determinado de ir viver às aldeias, quando estivermos mais assentados e seguros e aprender com eles a língua e il-los (sic) doutrinando pouco a pouco. Trabalhei por tirar em sua língua as orações e algumas práticas de Nosso Senhor e não posso achar língua (intérprete) que m o saiba dizer, porque são eles tão brutos que nem vocábulos têm. Espero de as tirar o melhor que puder com um homem (Diogo Álvares, o Caramuru), que nesta terra se criou de moço.”

Nessa década, falavam-se várias línguas e alguns colonos portugueses aprendiam pelo convívio, sem lições, o tupi e outras línguas indígenas e as africanas, pois os negros da Guiné já haviam sido introduzidos no Brasil, como atestam as cartas de Nóbrega.

Destaca-se, entre os jesuítas, o Padre José de Anchieta, que percebeu a existência de enorme variedade de línguas em função das diferentes nações indígenas existentes. Confirmando essa diversidade, lemos em Pero de Magalhães Gândavo, 1575.

“a língua de que usam, toda pela costa é uma, ainda que em certos vocábulos difere n algumas partes, mas não de maneira que deixem uns aos outros de entender, e isto até altura de vinte e sete graus, que daí por diante há outra gentilidade, de que nós não temos tanta notícia, que falam já outra língua. Esta de que trato, que é geral pela costa, é muito branda, e a qualquer nação fácil de tomar”. (Pero M. Gandavo, “História da Província de Santa Cruz” Ed. no Annuario do Brasil, Rio de Janeiro, 1931, p.73.)

Fernão Cardim foi o primeiro a descrever a diversidade de nações e língua:

“em toda esta província há muitas e várias nações de diferentes línguas, porém uma é a principal que compreende algumas dez nações de índios; estes vivem na costa do mar, e em uma grande corda do sertão, porém são todos estes de uma só língua, ainda que em algumas palavras discrepam e esta é a que entendem os portugueses; é fácil, e elegante, e suave, e copiosa, a dificuldade está em ter muitas composições. (…) Eram tantos os desta casta que parecia impossível poderem-se extinguir, mas os portugueses tanto os têm combatido que quase todos são mortos, e lhes têm tal medo que despovoam a costa e fogem pelo sertão adentro até trezentas ou quatrocentas léguas.” (Do princípio e origem dos índios do Brasil e de seus costumes, adoração e cerimônias”, in Tratado da terra e da gente do Brasil. São Paulo, Companhia Editora Nacional,1939).

Estes tupi da costa foram, em grande parte, subjugados e aculturados pelos portugueses; serviram-lhes de guias e aliados na marcha de penetração da terra. De acordo com os tupi, os portugueses consideravam todos os demais indígenas como “tapuias”, que era o nome para “inimigo” em tupi. A partir daí, criou-se uma dicotomia tupi-tapuia, que ficou valendo por muito tempo como uma divisão étnica e linguística.

Cardim enumera, então, os de línguas diferentes: os potiguar, os viatã, os tupinambá, os caeté, e muitos outros grupos, num conjunto de 76 diferentes nações e línguas diferentes, povos mais selvagens, distintos dos que viviam próximo ao mar. Quanto aos tapuias, dizia que “não se pode fazer conversão por serem muito andejos e terem muitas e diferentes línguas dificultosas.”(Ob.cit., pp.180-181) Consta ainda de suas anotações a informação de que “os meninos índios que frequentavam a escola de ler e escrever eram bilingües, falavam sua língua e o português”. ( Ob.cit., pp.278-279 )

Rosa Virgínia Mattos e Silva (1995), em artigo sobre a sócio-história do português brasileiro, afirma:

” Sabe-se que no Brasil se usavam para mais de mil línguas autóctones, de vários grupos linguísticos, no início da colonização. Cálculo recente leva o Prof. Aryon Rodrigues (1993:91) a propor 1.175 línguas, das quais 85% foram dizimadas no período colonial, depois e continuam a desaparecer porque isso aconteceu com seus falantes — dos cinco milhões em 1500, variados culturalmente e linguisticamente em mais de 1500 povos, calculam-se 800.000 indivíduos no final da colonização, talvez 300.000 no fim do império, cerca de 262.000 hoje, falantes de cerca de 180 línguas.”(Rosa V.M. e Silva, (1995) ” A sócio-história do Brasil e a heterogeneidade do português brasileiro: algumas reflexões”)

Anchieta, falando dos costumes do Brasil, confirma a existência de uma língua geral de origem tupi, que dominou a região do litoral brasileiro do início da colonização até meados do século XVIII: “todos os da costa que têm uma mesma língua comem carne humana.” Em outra correspondência, deu esta outra informação: “como os padres sacerdotes não sabiam a língua da terra, serviam os irmãos de intérpretes para as doutrinas e peregrinações e confissões, ainda dos mestiços, mulheres e filhos dos portugueses, principalmente nas confissões gerais, para melhor se darem a entender e ficarem satisfeitos.” Depreende-se daí que os mestiços, os filhos e mulheres (índias) dos portugueses precisavam de intérpretes, porque não falavam português. Anchieta foi o primeiro a escrever nessa língua brasílica, a ” Arte da gramática da língua mais usada na costa do Brasil”.

Os tupi do litoral, entre a Bahia e o Rio de Janeiro, formavam uma série de tribos bastante homogêneas, cultural e linguisticamente. Os dialetos que falavam foram aprendidos pelos brancos, desenvolvendo-se uma língua geral de intercurso, que era fundamentalmente o dialeto tupinambá, de um dos grupos mais importantes e mais em contato com os portugueses.

Os missionários jesuítas o estudaram, descreveram normativamente e ensinaram em tratados gramaticais, para fins especialmente de catequese. Ele servia não só para as relações com os índios tupi, mas também para os contatos com todos os índios em geral. As nações não-tupi o aprendiam com relativa facilidade (o que não acontecia com a Língua Portuguesa ). Assim se estabeleceu a língua geral tupi, ao lado do português, na vida cotidiana da colônia. Constituiu-se até como língua escrita e literária, pois os missionários traduziam para ela as orações cristãs e nela compunham hinos religiosos e peças teatrais, semelhantes aos autos da literatura hispânica.

Nessa língua indígena, de intercurso, que os brancos falavam com desembaraço, o português atuou como superstrato modificando sobretudo a fonologia tupi, adaptando para o português vogais e consoantes muito diferentes das portuguesas. Em relação às formas gramaticais, especialmente no verbo, firmaram-se noções de tempo futuro, de modo subjuntivo e assim por diante. Em contato com o português, que paralelamente se radicou na colônia, esse tupi de intercurso atuou como adstrato, pois tratava-se de duas línguas coexistindo no mesmo território.

O predomínio da língua geral firmou-se com os bandeirantes, pois todos ou quase todos falavam apenas esta língua, não sabiam o português. A respeito do papel que teve a língua geral, vale lembrar esta anotação do Padre Antonio Vieira, em carta datada de 12 de junho de 1694, informando que o uso do tupi foi de tamanha amplitude que sem ele era de certo modo impossível viver integrado ao meio social ou tirar dele qualquer benefício.

“certo que as famílias dos portugueses e índios de São Paulo estão tão ligadas hoje umas às outras, que as mulheres e os filhos se criam mística e domesticamente, e a língua que nas ditas famílias se fala é a dos índios, e a dos portugueses a vão os meninos aprender à escola.” ( Obras várias, 1856, pp.239-251)

Já no século dezessete, houve um desenvolvimento da mestiçagem étnica, cultural e linguística, com a tentativa de lusitanização do índio e a indianização do português, e ainda com a africanização dos índios e brancos, uns assimilando-se aos outros.

O historiador Sérgio Buarque de Holanda, referindo-se ao estreito contato entre portugueses e índios, escreveu com muita propriedade: “se é verdade que, sem a presença fortemente acusada do índio, os portuguesas não poderiam viver no planalto, com ela não poderiam sobreviver em estado puro. Em outras palavras, teriam de renunciar a muitos dos seus hábitos hereditários, de suas formas de vida e de convívio, de suas técnicas, de suas aspirações, e o que é bem significativo, de sua linguagem. E foi, na realidade, o que aconteceu.” (Raízes do Brasil. Rio de Janeiro, Ed. José Olympio, 1948, pp.189-191).

A Imposição do Português como Língua Nacional

Desta maneira, à variedade de línguas indígenas, que Vieira denominou babel, agregou-se a babel das línguas africanas. Diante desta multidão de línguas indígenas e africanas, o português, para impor-se, usou os mais variados recursos. Uma das primeiras medidas foi determinar que os índios fossem instruídos em Língua Portuguesa.

Mas os jesuítas, por conhecerem o tupi (reduzida por eles à língua geral) melhor que os representantes de outras ordens religiosas e melhor também que os colonos recém-chegados, mantiveram a barreira linguística como forma de manter seu domínio sobre os índios. Começa desta forma um período antijesuíta, que teve sérias consequências.

Um marco na imposição do Português como língua dominante no Brasil é a Lei do Diretório, promulgada pelo Marquês de Pombal, em maio de 1757, durante o governo de D. João VI.

Tinha como um dos principais objetivos impôr a Língua Portuguesa como língua oficial na região que abrangia os estados de Pará e Maranhão, que soma um terço do atual território brasileiro.

Um dos artigos desse diretório criticava duramente a língua geral, chamando-a de “invenção verdadeiramente abominável e diabólica”; para acabar com ela, tratou de estabelecer o uso da Língua Portuguesa, não consentindo que “meninos e meninas e todos aqueles índios, que forem capazes de instrução (…) usem língua própria das suas nações, ou da chamada geral, mas unicamente da portuguesa”. ( Artigo 6 do Diretório).

Em agosto de 1759, um Alvará renovava a lei do Diretório, datando daí o uso obrigatório da Língua Portuguesa, com todo o seu poder unificador, e, em consequência, o abandono progressivo da língua geral, que, na verdade, já se encontrava restrita, sobretudo em São Paulo, às comunidades rurais do interior.

Apesar das objeções a essa imposição, quando o Diretório foi abolido, em 1798, a Língua Portuguesa já tinha se expandido e sido adotada nas regiões tipicamente tupi do Brasil, ainda que muitos indivíduos tivessem dificuldade em usá-la.

Resumindo a questão da “vitória” da Língua Portuguesa no Brasil colonial, pode-se dizer que, durante três séculos, o português e o tupi, ou língua geral, existiram lado a lado, influenciando-se reciprocamente e cruzando-se. O tupi era a língua doméstica, familiar e corrente dos colonos, e o português, a língua oficial, que as crianças, mamelucos e também filhos de índios aprendiam nas escolas mas não falavam em casa. A realidade lingüística era muito complexa, porque, com o português, conviviam as várias línguas indígenas e as várias línguas faladas pelos negros no Brasil.

O processo cultural que impôs uma língua vitoriosa sobre as outras não foi fácil, nem sempre pacífico. Mas aprender a Língua Portuguesa se tornou quase uma questão de sobrevivência. Alguns africanos, por exemplo, aprendiam rápido, outros sofriam verdadeiros processos de adestramento, mas todos, índios e negros, tinham que aprendê-la. A variedade de tribos indígenas e africanas facilitou a obra portuguesa, que, como foi dito, preferiu, por medida de segurança, importar grupos dialetais diferentes, que não se entendiam e deviam se esforçar para buscar na fala portuguesa o meio de comunicar suas necessidades pessoais e sociais.

A guerra contra os índios e os negros, subjugando-os todos, era também uma guerra linguística e cultural, que resultava num desentendimento total, numa fragmentação de culturas e línguas.

Acrescente-se a isto o fato de que o português do Brasil e o de Portugal já se apresentavam em formas desiguais.

A “vitória” real e verdadeira se deu quando, na Assembleia Constituinte de 1823, representantes de várias províncias brasileiras falaram uns com os outros, notando as diferenças de prosódia, mas a igualdade da língua que era falada por todos. Era a primeira vez que brasileiros falavam sua própria língua, a qual se formara competindo com línguas indígenas e negras, e na qual se notavam variações provenientes dos diferentes grupos do português falado em regiões diversas. A “vitória” do português dependeu mais de fatores históricos que linguísticos.

O Português e a Língua Africana

A colônia brasileira ganhou um novo elemento desde os princípios do século XVII, quando, em escala cada vez mais crescente, se desenvolveu o tráfico de negros africanos, como escravos, para o Brasil, onde se distribuíam pelos grandes latifúndios e pelos centros urbanos.

A importância da presença negra no processo de aculturação observado na colônia se explica por dois fatores: o primeiro, de caráter geral, decorre do fato de se formar entre o senhor e o escravo um tipo de convivência mais direta do que aquela até então existente entre o colonizador e o índio; o segundo, de caráter mais específico, resulta da suposição de que, sendo os negros originários de colônias portuguesas da África, já teriam contato com a língua dos brancos.

Vieram para o Brasil negros das mais variadas nações, pois era política colonial portuguesa diversificar a composição do elemento africano para dificultar sua unidade e mantê-los submissos. Havia, portanto diferentes grupos étnicos, com uma grande variedade de línguas. Eram negros da Guiné, da Costa da Mina, de Angola, de Moçambique, do Congo, enfim, de muitas partes da África. Num documento, escrito em 1583, há informação de que havia três ou quatro mil escravos da Guiné no meio de três mil vizinhos portugueses e de oito mil índios cristianizados. (Fernão Cardim, “Narrativa epistolar”, in Tratados da terra e da gente do Brasil, Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1939).

Nina Rodrigues, o primeiro a estudar as línguas e dialetos africanos no Brasil, afirmou que “as línguas africanas faladas no Brasil sofreram para logo grandes alterações, já com a aprendizagem do português por parte dos escravos, já com a língua africana adotada como língua geral pelos negros aclimados ou ladinos. (…) De fato, ninguém iria supor que falassem a mesma língua todos os escravos pretos. (…) Em tais condições tornou-se necessidade imperiosa para os escravos negros adotar uma língua africana como geral, em que todos se entendessem.” (Nina Rodrigues. Os africanos no Brasil. Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1945, pp.205-248 )

Dentre as muitas línguas africanas faladas no Brasil, destacam-se o nagô ou ioruba na Bahia, e o quimbundo ou congoesa no norte e no sul. A língua nagô, falada como língua geral na Bahia, foi aprendida por muitos outros escravos para entenderem-se uns com os outros. No Rio de Janeiro, a grande maioria dos escravos negros era banto, daí o predomínio do quimbundo, ambundo e outras línguas.

Apesar da insuficiência de informações sobre a procedência muito variada dos negros brasileiros, sabe-se que os negros da Guiné predominaram na Bahia, enquanto os bantos preponderaram no Estado do Rio de Janeiro e em Minas Gerais, as regiões de maiores contingentes negros. Mas os da Guiné possuíam várias línguas e muitos dialetos.

A Formação do Português

Alguns fatos históricos repercutiram na formação da Língua Portuguesa a conquista romana da Península Ibérica; a invasão dos bárbaros germanos; a constituição dos impérios bárbaros, como o visigótico; o domínio árabe na Península; a luta da reconquista cristã; a formação do reino de Portugal; a expansão ultramarina.

Vamos detalhar um pouco dessa história.

Romanização na Península Ibérica

A România compreendia o conjunto de províncias do Império Romano onde o latim veio a se tornar a língua de civilização: as Gálias (França e parte da Bélgica atuais), a Península Ibérica ou Hispânica, a Líbia, ou litoral mediterrânico da África e a Dácia, nos Bálcãs (Romênia ou Rumânia atuais).

A implantação do latim na Península Ibérica constitui fator decisivo para a formação da LÍNGUA PORTUGUESA, e ocorre no século II a.C., quando as legiões de Roma, depois de longas lutas, conquistam a Hispânia (mapa da Penísula Ibérica no século III a.C.) e impõem sua civilização. Com exceção dos bascos, todos os povos da Península adotaram o latim como língua e se cristianizaram. O território da Península Ibérica (mapa I.R. século I a.C.) foi dividido, inicialmente, em duas grandes províncias, Hispânia Citerior e Hispânia Ulterior. Esta última sofreu nova divisão em duas outras províncias, a Bética e a Lusitânia, onde se estendia uma antiga província romana, a Gallaecia.

A romanização da Península não se deu de maneira uniforme, mas pouco a pouco o latim foi se impondo, fazendo praticamente desaparecer as línguas nativas.

Os povos que habitavam a Península eram numerosos e apresentavam língua e cultura bastante diversificadas.

Havia duas camadas de população muito diferenciadas: a mais antiga – Ibérica – e outra mais recente – os Celtas, que tinham seu centro de expansão nas Gálias.

Muito pouco se conservou das línguas pré-romanas. Há resquícios apenas na área do vocabulário.

Quando se deu a queda do Império Romano, a Península Ibérica estava totalmente latinizada (mapa do I.R. no século I d.C.). Nesse quadro de mistura étnica, o latim apresentava feições particulares, mesclado de elementos celtas e ibéricos, basicamente no vocabulário.

As Invasões dos Bárbaros e Árabes: O Romano Português

Por volta do século V, a Península sofreu invasão de povos bárbaros germanos – suevos, vândalos, alanos e visigodos. Com o domínio visigótico, (mapa da Europa do século V ) a unidade romana rompe-se totalmente.

Os visigodos romanizaram-se: fundiram-se com a população românica, adotaram o cristianismo como religião e assimilaram o latim vulgar. Rodrigo, o último rei godo, lutou até 711 contra a invasão árabe, defendendo a religião cristã, tendo como língua o latim vulgar na sua feição hispano-românica.

O século V marca o início do Romanço período que se estende até o começo do século IX, em que ocorre a grande diferenciação do latim em uma multiciplicidade de falares. Trata-se de uma fase de transição, que resulta no aparecimento de textos escritos nas diversas línguas românicas. Dentre esses falares intermediários, é o romanço Lusitânico, bastante inovador, o que nos interessa principalmente.

No século VIII, os povos muçulmanos invadiram a Península Ibérica ( mapa do Domínio Muçulmano no século X ). Compreendiam os árabes e os berberes e eram chamados de mouros pelos habitantes da Península, que foi totalmente dominada. O árabe era a sua língua de cultura e sua religião, o Islamismo. Tanto a língua como a religião eram muito diferentes da língua falada na região e não houve imposição de uma ou outra.

A língua árabe era a oficial, mas o latim, já bastante diferenciado, era a língua de uso.

Extremamente diversificado, o latim continuou a evoluir entre a população submetida. Como resultado da interpenetração da língua árabe e da língua popular de estrutura românica, o moçárabe era falado pela população cristã que viveu sob o domínio árabe.

Nas montanhas das Astúrias (norte da Península) tem início, então, a Reconquista Cristã – guerra militar e santa, abençoada pela Igreja e que provocou importantes movimentos de populações.

Partindo de um núcleo de resistência (restos dos exércitos hispano-visigóticos e cristãos rebeldes), o movimento foi se alastrando para o sul, recuperando os territórios perdidos.

Foi então que se formaram os reinos de Leão, Aragão, Navarra e Castela. No reinado dos reis católicos da Espanha, Fernando e Isabel, encerra-se o período de dominação dos árabes, que durou sete séculos e teve o importante papel de desencadear a formação de Portugal como Estado monárquico.

Com a finalidade de libertar o território ibérico, nobres de diferentes regiões participaram da guerra santa. D. Henrique, conde de Borgonha, pelos serviços prestados, recebeu do rei de Leão e Castela o Condado Portucalense – território desmembrado da Galiza, junto ao rio Douro. A língua desse território era a mesma da Galiza. Coube a seu filho, D. Afonso Henriques, iniciar a nacionalidade portuguesa, como primeiro rei de Portugal, reconhecido por Afonso VII, rei de Leão, e pelo papa Alexandre III. Ao se separar da Galiza, Portugal vai estendendo seus limites através de lutas contra os árabes e, com a conquista do Algarve, fixa os limites atuais de Portugal. A língua falada era o romanço galego-português, que apresentava relativa unidade e muita variedade e dá origem ao galego e ao português.

Os Primeiros Documentos do Português

Os três séculos passados entre a chegada dos bárbaros e a dos árabes à Península não deixaram documentos linguísticos. No entanto, é certo que o latim se transformava.

Somente no século IX surge um romano peculiar, do qual se teria constituído a Língua Portuguesa, em decorrência da separação do condado portucalense dos reinos de Leão e Castela.

É assim que, dos falares ibéricos ocidentais, sairá o galego-português cujos primeiros textos escritos aparecerão no século XIII – unidade linguística que conserva certa homogeneidade até início do século XIV.

Com a evolução dos dialetos românicos, três grupos linguísticos se definem, no século XII: o galego-português, o catalão e o castelhano. Quando Portugal se separou da Galiza, falava-se galego-português em toda a região da Galiza e da jovem nação portuguesa. O português originou-se, assim, do galego-português medieval, que foi levado ao sul pela Reconquista.

No início do século XIII, surgem os primeiros textos redigidos em galego-português, empregado, em toda a Península Ibérica, como veículo das cantigas trovadorescas que ali floresceram e também em forma de prosa, em documentos. Com a independência de Portugal (mapa da Europa no século XV), fatores políticos, econômicos e sociais determinaram a quebra da relativa unidade linguística galego-portuguesa.

Já separado do galego por uma fronteira política, o português, bastante diferenciado dos outros falares da região, seguiu seu curso, tornando-se a língua de Portugal, cuja capital é Lisboa.

É então que tem início a fase histórica do português, com a constituição da nova nacionalidade.

Na segunda metade do século XIII, Portugal firmou definitivamente seu território, com a conquista do Algarve aos mouros. Por esta época, a Língua Portuguesa já apresentava uma língua literária, em face do catalão e do castelhano. Era a língua poética, segundo Mattoso Câmara, “um tanto convencional, cheia de galeguismos e mesmo provençalismos.

Não representa fielmente a língua comum que realmente vigorava no território português. É a essa língua poética que cabe a denominação de galego-português.” (p. 18)

A prosa literária e a língua escrita corrente já foram mais tardias e tiveram de substituir o latim comumente usado nos textos escritos.

É na base da língua escrita que se costuma considerar, para o português, o período arcaico (até o século XV) e o período moderno. Dentro deste, os séculos XVI e XVII constituem o período clássico, os posteriores, o pós-clássico. E, como acrescenta Mattoso Câmara, “Mesmo, entretanto, do ponto de vista do português oral comum, ou língua nacional em sentido amplo, há diferenças gramaticais nítidas entre os séculos XVI e XVII, de um lado, e, de outro lado, os séculos subsequentes.” (p. 19).

Formação do Léxico Português

A história do léxico português basicamente de origem latina – reflete a história da Língua Portuguesa e os contatos de seus falantes com as mais diversificadas realidades linguísticas, a partir do romanço lusitânico.

Esse acervo apresenta um núcleo de base latina popular (resultante da assimilação e das transformações do latim pelas populações nativas ibéricas), complementado por contribuições pré-românicas e pós-românicas (de substrato, em que a população conquistada absorve a língua dos dominadores; de superstrato, em que os dominadores adotam a língua dos dominados; e de adstrato, em que as línguas coexistem, podendo haver até um bilinguismo).

Além desse núcleo, é imensa a participação de empréstimos a outras línguas (empréstimos culturais) e ao próprio latim (termos eruditos tomados ao latim clássico a partir do século XVI).

Foram os termos populares que deram feição ao léxico português, quer na sua estrutura fonológica, quer na sua estrutura morfológica.

Mesmo no caso de empréstimos de outras línguas, foi o padrão popular que determinou essas estruturas.

O vocabulário fundamental do português compreendendo nomes de parentesco, de animais, partes do corpo e verbos muito usuais é formado sobretudo de palavras latinas, de base hereditária.

Esse fundo românico usado na conversação diária constitui, assim, a grande camada na formação do léxico português.

Dentro da contribuição pré-românica (camada do substrato), destacam-se vocábulos de origem ibérica (abóbora, barro, bezerro, cama, garra, louça, manteiga, sapo, seara); céltica (bico, cabana, aminho, camisa, cerveja, gato, légua, peça, touca); grega (farol, guitarra, microscópio, telefone, telepatia); fenícia (apenas saco, mapa, malha e mata – não havendo muita clareza quanto à sua origem).

A contribuição pós-românica (camada do superstrato), que compreende palavras de origem germânica, relacionadas ao modo de vida de seu povo e à arte militar, ocorre no século V, época das invasões.

São exemplos nomes como Rodrigo, Godofredo, guerra, elmo, trégua, arauto e verbos como esgrimir, brandir, roubar, escarnecer.

Apesar de não impor religião e língua, ao conquistarem a Península Ibérica, os árabes deixaram marcas no nosso léxico.

Como camada do adstrato, as palavras de origem árabe correntes em português referem-se a nomes de plantas, de alimentos, de ofícios, de instrumentos musicais e agrícolas: alface, algodão, álcool, xarope, almôndega, alfaiate, alaúde, alicate.

Quanto aos empréstimos culturais, ou seja, os que decorrem de intercâmbio cultural, há no léxico português influências diversas de acordo com as épocas.

Segundo Cunha (1970), “A incidência de palavras de empréstimo no português data da época da constituição da língua, e as diferentes contribuições para o seu léxico reproduzem os diversos passos de sua história literária e cultural”.

Na época medieval, a poesia trovadoresca provençal influenciou os primeiros textos literários portugueses.

Porém, muitos vocábulos provençais, correntes nas cantigas dos trovadores medievais, não se incorporaram à nossa língua.

São exemplos de empréstimos provençais: balada, estandarte, refrão, jogral, segrel, trovador, vassalo…

Do século XV ao século XVIII, muitos escritores portugueses, entre eles os poetas do Cancioneiro Geral, Gil Vicente, Camões, escreviam em castelhano e português, o que se explica pelas relações literárias, políticas e comerciais entre as duas nações ibéricas. Como contribuição de empréstimos espanhóis para o léxico português, temos, entre muitas outras, palavras como bolero, castanhola, caudilho, gado, moreno, galã, pandeiro …

O latim corrente já havia contribuído para a base do léxico português, mas foi durante o Renascimento, época em que se valorizou a cultura da Antiguidade, que as obras de escritores romanos serviram de fonte para muitos empréstimos eruditos.

Por essa via, desenvolveu-se um processo de derivar palavras do latim literário, em vez de se partir do termo popular português correspondente (daí uma série de adjetivos com radical distinto do respectivo substantivo: ocular/olho, digital/dedo, capilar/cabelo, áureo/ouro, pluvial/chuva).

Esse processo é responsável pela coexistência de raízes distintas para termos do mesmo campo semântico. Houve, também a substituição de muitos termos populares por termos eruditos ( palácio/paaço, louvar/loar, formoso/fremoso, silêncio/seenço, joelho/geolho ).

A expansão portuguesa na Ásia e na África foi mais uma fonte de empréstimos.

São de origem asiática: azul, bambu, beringela, chá, jangada, leque, laranja, tafetá, tulipa, turbante …

São de origem africana: angu, batuque, berimbau, cachimbo, engambelar, marimbondo, moleque, quitanda, quitute, samba, senzala, vatapá …

Em virtude de relações políticas, culturais, comerciais com outros países, é natural que o léxico português tenha recebido (e continue recebendo) empréstimos de outras línguas modernas. Assim, incorporaram-se ao nosso léxico palavras provenientes do francês (chefe, hotel, jardim, paisagem, vitral, vitrina); do inglês (futebol, bife, córner, pudim, repórter, sanduíche, piquenique); do italiano (adágio, alegro, andante, confete, gazeta, macarrão, talharim, piano, mortadela, serenata, salame); do alemão (valsa, manequim, vermute). Nos tempos atuais, o inglês tem servido de fonte de inúmeros empréstimos, sobretudo nas áreas técnicas, o que demonstra a estreita ligação que o processo de mudança linguística tem com a história sócio-política-cultural de um povo.

Fonte: www.acd.ufrj.br/www.cra-ma.org.br/thetranslationcompany.com/www.portugueselanguageguide.com

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