Pedro Álvares Cabral

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Nascimento: 1467, Belmonte, Portugal.

Falecimento: 1520, Santarém, Portugal.

Nacionalidade: Português.

Ocupação: Explorador.

Pedro Álvares Cabral – Descoberta do Brasil

Pedro Álvares Cabral
Pedro Alvares Cabral

Pedro Alvares Cabral foi o primeiro europeu a descobrir o Brasil e também estabeleceu uma rota marítima de sucesso para a Índia e foi um líder na expedição comercial..

Pedro Alvares Cabral levou a segunda expedição Português para a Índia e ao longo do caminho descobriu o Brasil.

Pedro Alvares Cabral nasceu na vila de Belmonte, no centro de Portugal, perto da fronteira espanhola, em 1467.

Na idade de 17, ele foi enviado para servir na corte Portuguesa e parece ter aumentado rapidamente na estima dos dois monarcas que serviu.

Foi durante os anos de Cabral em tribunal que o Português estavam fazendo as grandes descobertas que estavam a abrir as rotas oceânicas entre a Europa e Ásia.

Bartolomeu Dias tinha dobrado o Cabo da Boa Esperança, no extremo sul da África em 1488, e Vasco da Gama chegou à Índia em 1498.

No regresso de Vasco da Gama a Portugal em Setembro de 1498, o rei Português decidiu enviar outra expedição imediatamente para a Índia para tirar proveito das novas oportunidades comerciais que tinham sido abertas. Apesar da Gama teria sido a escolha lógica para conduzir tal empreendimento, ele aparentemente ainda precisava para se recuperar de sua recente viagem e, talvez por sua sugestão, Cabral foi escolhido em seu lugar.

Pedro Alvares Cabral saiu de Lisboa em 09 de março de 1500 à frente de uma frota de 13 navios, muito grande do que a de Vasco da Gama.

Chegaram as Ilhas de Cabo Verde ao largo da costa da África em 22 de março.

Seguindo o conselho de da Gama Cabral em seguida, rumou para o oeste mais distante para evitar marasmo e correntes contrárias que tem atormentado a expedição anterior.

Como resultado, em 22 de Abril, a quarta-feira antes da Páscoa, ele avistou a terra Brasil.

No dia seguinte a essa terra firme Pedro Alvares Cabral enviou um barco em terra, e o Português tomou posse do que viria a se tornar a maior colônia de seu império e uma das grandes nações do mundo.

Devido a isso, Pedro Alvares Cabral é geralmente creditado com a descoberta do Brasil, apesar do fato de que os exploradores espanhóis Alonso de Ojeda, Amerigo Vespucci, e Vicente Yáñez Pinzón tinham avistado terra ao longo do que é hoje a costa norte da República do Brasil.

A afirmação de Pedro Alvares Cabral depende do fato de que ele avistou terra no que viria a ser o centro do país (no estado atual da Bahia), que não era uma extensão da costa norte já visitado por vários exploradores, e que ele e os seus homens, na verdade, foi em terra.

O que é muito menos certo é se Cabral foi surpreendido ao encontrar a terra onde ele fez. Na verdade, a terra que ele encontrou já tinha sido dado a Portugal.

Logo após o retorno de Cristóvão Colombo, Espanha e Portugal assinaram o Tratado de Tordesilhas, em junho 1494 que dividiu as novas descobertas que eles estavam fazendo entre eles.

Ele dividiu o mundo em dois: Portugal, essencialmente, tem África e na Ásia, e a Espanha tomou as Américas.

Mas a linha divisória foi fixada em um ponto a 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde. Por causa da corcunda que o Brasil faz, que era, na verdade, na esfera Português. Será que os Portugueses já sabiam?

Tinha Cabral foi enviado para encontrar a terra que o Português já sabia que existia? Não há uma resposta definitiva, mas o consenso parece ser que sua descoberta foi acidental.

Cabral ficou na costa do Brasil a partir de 22 de abril de 1500 até 2 de maio.

A posse de cerimônia que teve efetivamente lugar em 1º de Maio, e Cabral nomeou a terra Vera Cruz, terra de Vera Cruz.

Ele rapidamente se tornou conhecido como o Brasil, porque sua primeira exportação foi pau-brasil, um produto da floresta que foi usado para fazer a tintura vermelha.

Quando Cabral deixou em 2 de maio, ele deixou para trás dois condenados portugueses que foram deve ficar e informar sobre a terra e as pessoas. Eles nunca foram ouvidas de novo.

Após Cabral deixar o Brasil, a sua frota foi atingido por uma tempestade em 24 de maio no Atlântico Sul que se afundou quatro de seus navios, incluindo um capitaneado por Bartolomeu Dias. O resto foram separadas e navegou durante 20 dias em caso de tempestade, incapaz de levantar as velas.

Cabral navegou para o sul do Cabo da Boa Esperança e, finalmente, tocou terra em Sofala, em Moçambique, com apenas dois outros navios restantes em sua frota. Eles se encontraram com mais três em 20 de julho no porto de Moçambique. Eles, então, navegaram até a costa leste da África, parando nos portos comerciais de Kilwa em 26 de julho de 1500 (onde eles foram tratados como piratas) e Malindi em 2 de agosto (onde foram recebidos).

A partir de Malindi a frota Portuguesa navegou através do Oceano Índico para a pequena ilha de Anjediva na costa sudoeste da Índia.

Eles chegaram lá em 22 de agosto e permaneceu por 15 dias, descansando e fazendo a reparação de seus navios. Eles, então, rumaram em direção ao sul para o grande centro de comércio de Calicut (Kozhikode), onde chegaram em 13 de Setembro ..

Os mercadores de Calicut não foram de todo satisfeito com a chegada dos portugueses, porque a nova rota de comércio ameaçava o monopólio que tinham no comércio de especiarias com a Europa.

Após os portugueses construirem um posto comercial na terra, ele foi atacado e 50 homens foram mortos.

Cabral, em seguida, apreendeu 10 navios árabes e bombardearam a cidade com suas armas. Ele ele ainda não tinha negociado os bens que ele queria, ele partiu para o sul para o porto de Cochin (atual Kozhikode). Cochin era um inimigo do Calicut, por isso, seus habitantes foram felizes em receber os comerciantes portugueses. Eles foram capazes de encher os seus navios com mercadorias e deixaram a cidade no início de janeiro 1501.

Na viagem de regresso, um dos navios de Cabral foi perdido ao largo da costa da África, e eles se encontraram com um outro navio que havia sido separado durante a tempestade do Atlântico.

Os navios da expedição de Cabral voltaram ao porto de Lisboa durante junho e julho de 1501.

A mercadoria que eles trouxeram de volta foi extremamente valiosa, ea expedição provou que havia uma forma de comércio com a Ásia através do Atlântico e Índico.

O rei enviou outra expedição em fevereiro de 1502, desta vez, mais uma vez sob o comando de Vasco da Gama.

Pedro Alvares Cabral se retirou para gerenciar uma pequena propriedade perto da cidade portuguesa de Santarém.

Casou-se em 1503 e tiveram seis filhos.

Ele morreu, provavelmente em 1520, e foi enterrado em um monastério em Santarém.

Pedro Álvares Cabral – Navegador

Pedro Álvares Cabral
Pedro Alvares Cabral

Pedro Álvares Cabral, navegador português, nascido em Belmonte, por 1467-68, e a quem D. Manuel I confiou o comando da segunda armada que mandou à Índia.

Partiu Cabral de Lisboa em 9 de Março de 1500, e, como se tivesse desviado a sua rota para descobrir novas terras, não tardou a encontrar o Brasil, a 3 de Maio de 1500, no dia de Santa Cruz. Daí seguiu para a Índia.

No seu regresso, D. Manuel concedeu-lhe muitas honras, mas nunca mais utilizou os seus serviços.

Pedro Álvares Cabral morreu esquecido em Santarém, uns dizem em 1520, outros em 1526. Foi-lhe erigido um monumento no Rio de Janeiro e outro em Lisboa, na Avenida que tem o seu nome.

Pedro Álvares Cabral – Biografia

Acredita-se nascido em Belmonte, na Beira Baixa, Portugal. Foi o terceiro filho de Fernão Cabral, governador da Beira e alcaide-mor de Belmonte, e de Isabel de Gouveia de Queirós. Assim, seu nome original teria sido Pedro Álvares Gouveia, pois geralmente apenas o primogênito herdava o sobrenome paterno.

Posteriormente, com a morte do irmão mais velho, teria passado a ser Pedro Álvares Cabral. A 15 de fevereiro de 1500 – quando recebeu de D. Manuel I (1495-1521) a carta de nomeação para capitão-mor da armada que partiria para a Índia – já usava o sobrenome paterno.

Páginas portuguesas dizem de sua nobreza, que remontaria a um terceiro avô, Álvaro Gil Cabral, alcaide-mor do Castelo da Guarda sob os reis D. Fernando (1367-1383) e D. João I (1385-1433), da dinastia de Avis. Teria recebido por mercê as alcaidarias dos castelos da Guarda e Belmonte, com transmissão à descendência. Eram terras fronteiras da Espanha, de pastorícia, origem dos símbolos das cabras passantes do escudo de armas da família Cabral.

Aos 11 anos de idade mudou-se para o Seixal (onde ainda hoje existe a Quinta do Cabral), estudando em Lisboa: literatura, história, ciência como, por exemplo, cosmografia, aptidões marinheiras, além de artes militares. Na corte de D. João II (1481-1495), onde entrou como moço fidalgo, aperfeiçoou-se em cosmografia e marinharia.

Com a subida ao trono de D. Manuel I (1495-1521) foi agraciado com o foro de fidalgo do Conselho do Rei, o hábito de cavaleiro da Ordem de Cristo e uma tença, pensão em dinheiro anual. Casou-se com D. Isabel de Castro, sobrinha de Afonso de Albuquerque, aumentando sua fortuna – pois a de seu pai devia dividir com os dez irmãos.

A viagem de 1500

Em 1499, D. Manuel o nomeou capitão-mor da primeira armada que se dirigiria à Índia após o retorno de Vasco da Gama. Teria então cerca de 33 anos. Foi a mais bem equipada do século XV, integrada por dez naus e três caravelas, transportando de 1.200 a 1.500 homens, entre funcionários, soldados e religiosos.

Deveria desempenhar funções diplomáticas e comerciais junto ao Samorim, reerguendo a imagem de Portugal, instalando um entreposto comercial ou feitoria e retornar com grande quantidade de mercadorias.

Integrada por navegadores experientes, como Bartolomeu Dias e Nicolau Coelho, a armada partiu de Lisboa a 9 de março de 1500. A 22 de abril, após 43 dias de viagem e tendo-se afastado da costa africana, avistou o Monte Pascoal no litoral sul da Bahia. No dia seguinte, houve o contato inicial com os nativos. A 24 de abril, seguiu ao longo do litoral para o norte em busca de abrigo, fundeando na atual baía de Santa Cruz Cabrália, nos arredores de Porto Seguro, onde permaneceu até 2 de maio, a chamada “Semana de Cabrália”.

Cabral tomou posse, em nome da Coroa portuguesa, da nova terra, a qual denominou de Terra de Vera Cruz, e enviou uma das embarcações menores com as notícias, inclusive a famosa carta de Caminha, de volta ao reino. Retomou então a rota de Vasco da Gama rumo às Índias. Ao cruzar o cabo da Boa Esperança, quatro de seus navios se perderam, entre os quais, ironicamente, o de Bartolomeu Dias, navegador que o descobrira em 1488.

Chegaram a Calicute a 13 de setembro, depois de escalas no litoral africano. Cabral assinou o primeiro acordo comercial entre Portugal e um potentado na Índia.

A feitoria foi instalada mas durou pouco: atacada pelos muçulmanos em 16 de dezembro, nela pereceram cerca de 30 portugueses, entre os quais o escrivão Pero Vaz de Caminha. Depois de bombardear Calicute e apresar barcos árabes, Cabral seguiu para Cochim e Cananor, onde carregou as naus com especiarias e produtos locais e retornou à Europa. Chegou em Lisboa a 23 de junho de 1501. Foi aclamado como herói, não obstante o fato de, das 13 embarcações, terem regressado apenas seis.

O fim da vida

Convidado para comandar nova expedição ao Oriente, desentendeu-se com o monarca acerca do comando da expedição e recusou a missão, vindo a ser substituído por Vasco da Gama. Não recebeu mais nenhuma outra missão oficial até ao fim da vida. Faleceu esquecido e foi sepultado na Igreja da Graça cidade de Santarém, segundo alguns em 1520, e outros, em 1526.

Casou-se em 1503 com D. Isabel de Castro, sobrinha de Afonso de Albuquerque, deixando descendência. Em 1518, era cavaleiro do Conselho Real. Foi senhor de Belmonte e alcaide-mor de Azurara.

Cabral, lembrado pelos brasileiros como aquele que “descobriu” o Brasil, não recebeu do rei as mesmas honrarias outorgadas a Vasco da Gama. No Brasil, é o grande homenageado a cada dia 22 de abril.

Foram-lhe erguidos um monumento na cidade do Rio de Janeiro e outro em Lisboa, na avenida que tem o seu nome; de igual modo, sua terra natal o homenageou com uma estátua, bem como a cidade onde está sepultado, Santarém.

Pedro Álvares Cabral – Vida

Pedro Álvares Cabral
Pedro Alvares Cabral

Pedro Álvares Cabral nasceu em Belmonte, à volta do ano 1467/68. Filho de Isabel de Gouveia (filha de João de Gouveia, alcaide-mor do Castelo Rodrigo) e de Fernão Cabral (alcaide-mor dos castelos de Belmonte e da Guarda).

Teve berço abastado numa casa, onde lhe incendiaram decerto, não só o orgulho de fidalgo, mas tanto ou mais que isso: a contemplação dos feitos de seu pai e a lembrança dos seus antepassados.

Um grande exemplo de bravura e coragem fora, sem dúvida, o seu bisavô Luís Álvares Cabral que fora, segundo se crê, o primeiro membro da família investido na alcaidaria-mor de Belmonte. E que, em 1415, tivera uma ativa participação na primeira campanha marroquina, a da conquista de Ceuta, como um dos combatentes incorporados no grupo chefiado pelo Infante D. Henrique.

Outro, fora o seu avô, Fernão Álvares Cabral que se contava que tendo também participado na expedição da Conquista de Ceuta, não pudera por doença combater, mas tendo permanecido nessa cidade marroquina nos seguintes anos, ajudara a defendê-la, quando dos cercos a ela postos pelos mouros em 1418.

Mais tarde, em 1437, na fracassada tentativa de conquista de Tânger, perdera a vida em combate.

E finalmente o seu pai, Fernão Álvares, cuja participação nas conquistas marroquinas se apresentavam para o pequeno Pedro como romances de aventuras.

Devido também ao rigor com que exercia as suas funções militares e judiciais de alcaide-mor de Belmonte e corregedor da comarca da Beira, foi cognominado de O Gigante da Beira.

Como era costume da época, à volta de 1478, Pedro Álvares Cabral foi mandado para a corte com a finalidade de receber uma educação própria da elevada classe social. Esta consistia em alguma instrução literária e científica de ordem geral, bem como no uso de armas e sociabilidade cortesã. Já ali o precedera o seu irmão mais velho, João Fernandes Cabral.

Segundo Damião Peres, da vida de Pedro Álvares Cabral, desde a sua chegada à corte até ao fim do século, nada de concreto se sabe além de que, jovem ainda, desposou D. Isabel de Castro, prima do Marquês de Vila Real e sobrinha daquele que viria a ser o maior governador de Índia, Afonso de Albuquerque.

Dos navios da frota de Vasco de Gama regressados a Portugal, o primeiro foi a nau Bérrio, que ancorou no Tejo a 10 de Julho de 1499. Logo se conheceu o sucesso da empresa descobridora do caminho marítimo para a Índia. Esta ideia foi confirmada algumas semanas depois, à vista das especiarias trazidas, embora em pouca quantidade, por outra nau da mesma frota, S. Gabriel, o que causou grande entusiasmo entre a população lisboeta.

Quando no limiar do Outono, Vasco da Gama regressou a Portugal (após ter passado pelos Açores para sepultar o seu irmão Paulo da Gama), contou ao rei as suas dificuldades em comerciar com os povos orientais, visto que, aos olhos duma civilização tão avançada, os nossos presentes de homenagem pareciam-lhes insignificantes.Assim, o rei concluiu que convinha aparecer nos mares da Índia com maior aparato de força e melhor brilho de ostentação humana. Pois, pensava ele, os moradores daquelas partes pensariam que o reino de Portugal era muito poderoso para prosseguir com aquela empresa e que, vendo gente luzida e com riqueza, quereriam a sua amizade.

Com esta intenção, e sob o estímulo do interesse e do entusiasmo geral, começou-se sem demora a organizar uma nova armada, esta agora, bem mais “poderosa em armas e em gente luzida”, isto é, capaz de obter, por persuasão ou pela força, os resultados que, Vasco da Gama, com a escassez dos seus meios militares-navais, não conseguira alcançar. No comando supremo desta armada, composta por treze navios, foi investido Pedro Álvares Cabral através da carta Régia de 15 de Fevereiro de1500.

Sobre o que levou o monarca a fazer esta escolha (segundo Damião Peres) não há certezas, só hipóteses. Por um lado, o prestígio da sua ascendência e a influência de alguns parentes por afinidade, tais como, Afonso de Albuquerque e principalmente o Marquês de Vila Real. Finalmente, aqueles seus desconhecidos “feitos e merecimentos” a que aludira a carta régia de 1497 e a sua categoria de fidalgo da casa real.

Assim, um dos propósitos do rei estava concluído. Pois, Pedro Álvares Cabral, que com o comando geral acumulava a capitania do navio-chefe, juntamente com os demais capitães – Nicolau Coelho, Bartolomeu Dias, Diogo Dias, Sancho de Tovar, Simão de Miranda de Azevedo, Aires Gomes da Silva, Pedro de Ataíde, Vasco de Ataíde, Simão de Pina, Nuno Leitão da Cunha, Gaspar de Lemos e Luís Pires – de igualmente portentosa ascendência, constituíam um bom núcleo daquela “gente luzida” com que o monarca pretendia mostrar ao Oriente os melhores brilhos de Portugal.

Porém, a par deste aspecto, o outro, o de a armada ser “poderosa em armas”, fora igualmente tratado, pois além de abundantemente provida de artilharia e demais armamento – tudo do melhor que se conseguiu arranjar -, a armada transportava 1500 homens, dos quais 1000 eram combatentes. Estes são bem esclarecedores quando comparados com os da frota de Vasco da Gama, cujos tripulantes, incluindo mareantes e combatentes, rondavam os 150 homens.

Outro aspecto importante era o de converter ao cristianismo “os mouros e as gentes idólatras daquelas partes” – como dizia o próprio rei. Para isso, este embarcou alguns sacerdotes para os serviços religiosos da armada e eventual fixação de um pequeno grupo de Franciscanos no Oriente.

Finalmente, os meios de navegação e a rota a seguir foram também cuidadosamente assentes, recorrendo-se, quanto a esta, a instruções régias cujas normas foram sugeridas por Vasco da Gama. Em cada navio ia um piloto e, pelo menos nos maiores, um sota-piloto. O único piloto conhecido atualmente é Pedro Escobar, a quem também chamavam Pero Escolar. O fato de Pero Escolar ter pilotado, entre outras, uma caravela de Diogo Cão, outra de Gonçalo de Sousa e também a Bérrio, da armada de Vasco da Gama , juntamente com alguns pormenores sobre a sua competência profissional, faziam dele um piloto exemplar.

Assim, esta grandiosa armada, parecia estar disposta a cumprir a todo o custo, a sua missão no Oriente.

Concluídos todos os preparativos, o rei fixou a data da partida: 8 de Março de 1500, devendo pomposamente realizar-se o embarque na praia do Restelo que, nesse tempo, ficava perto da Ermida de Nossa Senhora de Belém.

Desde a madrugada que devem ter convergido para os extensos areais de Belém, com as suas famílias, os soldados e marinheiros que iam embarcar. Aqui e além, brotavam algumas lágrimas, talvez de medo da separação ou de terror dos mares desconhecidos. Era um Domingo, dia de preceitual assistência à missa, celebrada, nesse dia, na Ermida do Restelo. Acabada a cerimonia religiosa, e depois de beijar a mão ao monarca D. Manuel I, Pedro Álvares Cabral, com a bandeira portuguesa na mão, entrou com os demais capitães, para os batéis onde já os aguardavam os demais tripulantes. O cenário era fantástico. Todo o povo de Lisboa tumultuava perante um tão grandioso espetáculo, no Tejo vogavam os batéis repletos de gente e toda a esplendorosa armada.

Animando tudo isto, ouvíam-se, em terra e no Tejo, os sons melodiosos de vários instrumentos musicais, tais como: trombetas, tambores, flautas e pandejos.

Porém, o único a faltar, foi o vento, levando a armada a um inesperado adiamento da largada. Mas não foi grande a enervante espera, pois logo no dia seguinte um vento favorável de norte ou nordeste, tornou possível a partida. Erguidas as velas, a armada rumou à barra iniciando-se uma viagem de sucessos inesperados.Por fim, ao anoitecer do dia 9 de Março de 1500, a grandiosa armada transpunha a barra do Tejo e cortava finalmente a águas do Atlântico.

A bordo da nau-capitânia viajava o famosa escrivão, antigo mestre da Balança da Casa da Moeda do Porto, Pero Vaz da Caminha que começava a escrever os primeiros incidentes da viagem e que, mais tarde, enviaria numa carta ao rei D. Manuel. Essa carta. Enviada do Brasil, é o documento principal que permite aos historiadores atuais saber o que se passou na primeira parte da viagem. As instruções náuticas, inspiradas, como já disse, por Vasco da Gama, diziam que a armada se devia dirigir à ilha de S. Nicolau, no arquipélago de Cabo Verde, em vez de se dirigir à ilha de Santiago pois esta contraía-se uma epidemia que era preciso evitar. Mas, se tivesse água necessária para quatro meses, não precisaria de aí fazer escala. Deveria então remar a sul, sem perda de tempo, enquanto o vento fosse favorável. A seguir deveria fazer a volta do largo a fim de atingir a latitude necessária para dobrar o cabo da Boa Esperança.

Iniciando essa marcha, a frota lançou-se ” por este mar de longo”, como escreveu Pêro Vaz de Caminha, aí permanecendo, virado a sudoeste, por quase um mês.

Desfalcada pela perda da nau de Vasco de Ataíde que, tresmalhada, nunca mais fora vista, no mar ou em terra, tendo sido “engolida pelo mar”, como dizia a tripulação.

Durante esses dias, nada de aliciante se passou, que despertasse a curiosidade de Pêro Vaz de Caminha, que se limitou a descrever as tarefas banais de bordo, abrindo uma excepção no dia 19 de Abril, visto que se tratava das celebrações da Páscoa. Porém, dois dias depois (dia 21 de Abril), começou a haver alvoroço entre a tripulação. Embora sabendo que viajavam longe da costa Africana, os marinheiros começaram a ver umas algas boiantes, que, segundo os mais experientes, indicavam que havia terra por perto. Nas primeiras horas do dia seguinte, dia 22 de Abril, o aparecimento de aves, veio confirmar as suspeitas. E finalmente, ao entardecer desse dia, começaram-se a distinguir, embora muito mal devido à névoa, os contornos de montanhas. E, à medida que a frota ia avançando foram-se distinguindo, segundo escreveu Caminha, ” um grande monte, mui alto e redondo, e outras serras mais baixas, e terra chã, com muitos arvoredos; ao qual monte o capitão deu o nome de Monte Pascoal e à terra, Terra de Vera Cruz”. Era a primeira visão daquilo que atualmente se chama Brasil.

Ao crepúsculo desse dia, embora ainda a umas seis léguas da costa, a frota ancorou. O entusiasmo duma descoberta tão inesperada , não permitia adiamentos. A falta de fontes históricas comprovadoras, não nos permite saber se este fato foi casual ou intencional. Conhece-se, é verdade, um regulamento minucioso sobre o que Pedro Álvares Cabral iria fazer durante o percurso, assim como as instruções de Vasco da Gama. Infelizmente, esses arquivos estavam tão incompletos quando chegaram aos nossos dias, que as informações àcerca deste problema, não vieram acrescentar muito ao que já se sabia. Até ao séc. XIX, pensava-se que a descoberta tinha sido meramente casual e, a certa altura, já era tal a fantasia que se diziam coisas, completamente contraditórias aos relatos de Pero Vaz de Caminha. Como por exemplo, nos livros estava escrito que a frota, ao passar pelas ilhas de Cabo Verde presenciara uma terrível tempestade que fizera desaparecer a nau de Vasco de Ataíde. Enquanto Pero Vaz de Caminha diz : ” E Domingo, 22 do dito mês (Março), (…) houvemos vista das ilhas de Cabo Verde (…). Na noite seguinte, segunda-feira, se perdeu a nau de Vasco de Ataíde sem haver motivo vento forte ou contrário, para que tal acontecesse.”

Porém, formada a lenda da tempestade e da casualidade do descobrimento, deveu-se a um brasileiro, em 1854, sócio do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, a primeira hipótese da sua intencionalidade. De fato, não era necessário fazer um tão grande desvio para sudoeste se se queria apenas dobrar o Cabo da Boa Esperança. Desde então, esta tese tem tido tantos defensores como contraditores.

Intencional ou não, este descobrimento foi o ponto de partida para três séculos de desenvolvimento das terras sul-americanas sob aspectos de fusão nacional, aproximação humana, valorização econômica e criação espiritual, que iria formar, a grande e independente nação: o Brasil dos nossos dias. Na manhã seguinte, dia 23, Nicolau Coelho foi a terra e, embora deslumbrado com a originalidade das populações, estabeleceu os primeiros contatos com os povos indígenas daquelas terras.

No dia seguinte, toda a tripulação, desembarcou, umas 10 léguas a norte. Ficaram completamente deslumbrados com o clima, a paisagem, as plantas, os animais e sobretudo, as gentes ” pardos e todos nus”, como disse Pero Vaz de Caminha na carta que escreveu ao rei, a contar a descoberta.

Após uma semana no Brasil, a nau de Gaspar de Lemos, regressou a Lisboa, com a carta de Pero Vaz de Caminha. As outras, seguiram o seu destino para a Índia. Porém, a segunda parte da viagem, foi terrível. À passagem do Cabo da Boa Esperança, houve uma tão violenta tempestade que dissipou a armada afundando várias naus com as suas tripulações, incluindo, o grande descobridor daquele cabo, Bartolomeu Dias, o seu irmão, Diogo Dias (que foi ter a uma grande ilha, a atual Madagáscar) e muitos outros.

As restantes chegaram à Índia e estabeleceram contatos com vários reinos locais: Cochim, Cananor e Coulão. Regressaram a Lisboa a 23 de Julho de 1501 carregadas de riquezas.

Pedro Álvares Cabral – Descobridor

Pedro Álvares Cabral
Pedro Alvares Cabral

Pedro Álvares Cabral (1467?-1520?) nasce na região de Belmonte.

Com cerca de 10 anos foi para a corte. Veio a casar com uma sobrinha de Afonso de Albuquerque. Sabe-se que D. João II lhe concedeu uma tença, embora se ignorem os motivos.

Depois do regresso de Vasco da Gama da Índia, em 1499, Pedro Álvares Cabral é nomeado comandante de uma frota de treze navios que partem em Março de 1500 com destino à Índia.

Filho de Fernão Cabral e Isabel Gouveia, Pedro Álvares Cabral nasceu no castelo de Belmonte e pouco se sabe de sua vida até o final do século, além de que foi educado na Corte de D. João II. Em 1499, D. Manuel o nomeou capitão-mor da armada que faria a primeira expedição à Índia após o retorno de Vasco da Gama.

Com treze navios e cerca de 1.200 homens, a maior frota até então organizada em Portugal, Cabral partiu de Lisboa em 9 de março de 1500, com a missão de fundar uma feitoria na Índia. Dela participavam navegadores experientes, como Bartolomeu Dias e Nicolau Coelho.

Em 22 de abril, após 43 dias de viagem e tendo-se afastado da costa africana, a esquadra avistou o monte Pascoal no litoral sul da Bahia. No dia seguinte houve o contato inicial com os indígenas.

Em 24 de abril, a frota seguiu ao longo do litoral para o norte em busca de abrigo, fundeando na atual baía Cabrália, em Porto Seguro, onde permaneceu até 2 de maio. Em seguida, um dos navios retornou a Lisboa com as notícias da descoberta, enquanto o resto da frota seguia para Calicute, lá chegando em 13 de setembro, depois de escalas no litoral africano.

A feitoria ali instalada durou pouco: saqueada em 16 de dezembro, nela morreram 30 portugueses, entre os quais o escrivão Pero Vaz de Caminha. Depois de bombardear Calicute e apresar barcos árabes, Cabral seguiu para Cochim e Cananor, onde carregou as naus com especiarias e produtos locais e retornou à Europa. Chegou a Lisboa em 23 de junho de 1501.

Convidado para comandar nova expedição ao Oriente, desentendeu-se com o monarca e recusou a missão. Casou-se em 1503 com D. Isabel de Castro, sobrinha de Afonso de Albuquerque, deixando descendência. Em 1518, era cavaleiro do Conselho Real. Foi senhor de Belmonte e alcaide-mor de Azurara.

Descoberta ou Achamento do Brasil

Segue a rota indicada por Vasco da Gama, mas ao passar por Cabo Verde sofre um desvio maior para sudoeste, atingindo, a 22 de Abril de 1500, a costa brasileira. Manda um navio a Portugal com a nova da descoberta e segue para a Índia, chegando a Calecut em 13 de Setembro de 1500.

Vários barcos se perderam, entre eles o de Bartolomeu Dias, que naufragou perto do Cabo da Boa Esperança, que ele próprio dobrara anos antes pela primeira vez. Depois de cumprir a sua missão no Oriente, Pedro Álvares Cabral regressa em 1501 e vai fixar-se nos seus domínios, na zona de Santarém, onde vem a falecer em 1520.

Cronologia de Pedro Álvares Cabral

1467(?): Nasce, talvez em Belmonte. Filho segundo do fidalgo Fernão Cabral. Datas incertas: Por serviços vários de natureza militar é agraciado com tença por D. João II. Casa com D. Isabel de Castro, sobrinha de Afonso de Albuquerque.
1500: Segunda expedição portuguesa à Índia: armada de 13 navios, com 1500 homens. D. Manuel I entrega o comando a Pedro Álvares Cabral. Este larga de Lisboa a 9 de Março. Descobre as Terras de Vera Cruz (Brasil) em 22 de Abril. Naufrágios de quatro naus mas chega a Calecute a 13 de Setembro. Não consegue a submissão do Samorim
1501: Regressa ao Reino apenas com 5 navios, embora transportando avultada carga de especiarias.
1502: Recusa comandar outra expedição à Índia.
1509: Afastado do Paço, vive nas suas propriedades de Santarém.
1515: Finalmente é-lhe atribuída tença como prémio pela sua descoberta do Brasil que começa a ser colonizado.
1518: Nova tença, pelo mesmo motivo.
1520 (?): Morre em Santarém.

SEGUNDA EXPEDIÇÃO À ÍNDIA

Pedro Álvares Cabral
“Desembarque no Porto Seguro”, óleo do pintor brasileiro Óscar Pereira da Silva

Guerreiro. Nobre, porém filho segundo. Honrarias? Só as alcançadas por valor e esforço próprios, que não por nascimento. D. João II já lhe dera tença por bons serviços militares prestados à Coroa. Agora D. Manuel I confia-lhe o comando da segunda expedição à Índia, 13 naves, 1500 homens. Terá que submeter o Samorim de Calecute, o qual tanto afrontara Vasco da Gama. Terá que lançar a primeira pedra do império lusitano do Oriente.

Bem sabe que o mundo é guerra e perfídia. Mas coisas que o ódio nega, o temor as concede. Também sabe que há sinas e maldições a perseguir os fortes. Pedro Álvares Cabral tudo enfrenta, é homem de um só desígnio, antes quebrar que torcer.

Honras e pompas em Sta. Maria de Belém e a 9 de Março de 1500 fazem-se ao largo. Antes, El-rei D. Manuel falara-lhe de terra que, frente à África, existirá a ocidente do Mar Oceano. Que a descobrisse, se pudesse. Talvez por ela D. João II tenha insistido em transferir o meridiano divisor do Tratado de Tordesilhas de 100 para 370 léguas a oeste de Cabo Verde.

Na armada, entre outros seguem Pero Vaz de Caminha, cronista d’El-rei. E ainda Bartolomeu Dias, o primeiro a dobrar o Cabo da Boa Esperança. Também o seu irmão Diogo Dias e Nicolau Coelho, que foi um dos comandantes da expedição de Vasco da Gama.

Primeira maldição: nas águas de Cabo Verde desaparece uma das naus. Ninguém saberá dela, nunca mais. Das 13 ficam 12.

Frente à Guiné tomam barlavento. Américo Vespúcio não entende a manobra, resmunga que os portugueses nada sabem de navegação… Deixá-lo resmungar, o italiano é bom marinheiro, tem direito a um resmungo… Tocadas por sueste, as naus são empurradas para ocidente. Girará depois o vento para sudoeste e tornará a armada à costa d’África, porém em latitudes bem mais ao sul. Abaixo do Equador descreverá assim um amplo arco de círculo no Mar Oceano.

Mas grandes surpresas esperam Cabral, homem que, em nome d’El-rei de Portugal, navega disposto a enfrentar tudo e todos.

VERA CRUZ

21 de Abril, 3ª feira. A Páscoa foi no domingo passado. Nas ondas surgem ervas compridas. Próxima já ficará a terra aventada por El-rei.
22 de Abril.
De manhã surgem bandos de pássaros a voar para ocidente. Vasco da Gama também dera conta deles. A meio da tarde, muito ao longe, avistam terra: um monte redondo e alto, muito arvoredo na terra chã. Ao monte, o Capitão-mor chama Pascoal e à terra dá o nome de Vera Cruz. Anoitece e resolve ancorar a seis léguas da costa.
23 de Abril.
Avançam até meia légua da terra, direitos à boca de um rio. Sete ou oito homens pela praia. Cabral manda Nicolau Coelho a terra. Quando vara o seu batel, já correm para ele cerca de vinte homens pardos. Todos nus, sem nada que cubra as suas vergonhas. Setas armadas, cordas tensas, chegam dispostos ao combate. Mas Nicolau Coelho, por gestos, faz sinal que pousem os arcos em terra e eles os pousam.

E o Capitão-mor pergunta-se: que gente é esta que, até por gestos, aceita a mansidão? Ingenuidade ou malícia? Ingenuidade será excessiva. Será malícia, certamente. É preciso ficar em guarda.

O quebra-mar é forte. Mal se podem entender marinheiros e nativos. Mas Nicolau dá-lhes ainda um barrete vermelho e um sombreiro preto e, por troca, recebe um colar de conchinhas e um sombreiro de penas de ave, com plumas vermelhas, talvez de papagaio. E com isto se torna à nau, porque é tarde e a maré está a puxar muito.

Ao anoitecer começa a ventar de sueste com muitos chuviscos e Cabral resolve mandar levantar ferro e rumar para norte, em busca de enseada onde se possam abrigar e então repara que na praia já correm e gesticulam cerca de sessenta a setenta homens. O que estarão eles a conspirar?

24 de Abril. Acham uma angra e antes do sol-posto lançam ferro e àquele lugar o Capitão-mor dá o nome de Porto Seguro. Depois faz muitas recomendações a Afonso Lopes, que nunca baixe a guarda, que não se deixe apanhar desprevenido e manda-o a terra num esquife. E o piloto, que é homem destro, com muita amizade e gentileza consegue recolher dois daqueles mancebos que em terra corriam e, com muito prazer e festa, a bordo são recolhidos.

Espantado continua o Capitão-mor. O mundo é guerra e perfídia. Como podem ser tão confiantes aqueles nativos? Alguma traição andam eles a tramar, a astúcia como escudo, a crueza como lança…

A feição deles é serem pardos, à maneira de avermelhados, de bons rostos e narizes bem feitos. Andam nus sem nenhuma cobertura e estão acerca disso em tanta inocência como estão em mostrar o rosto. Trazem ambos os beiços furados e metidos por eles uns ossos brancos da grossura de um fuso de algodão. Os cabelos são corredios e andam tosquiados de tosquia alta. E um traz, de fonte a fonte, por detrás, uma cabeleira de penas de aves, que lhe cobre o toutiço e as orelhas. Sobem à nau e não fazem menção de cortesia nem sequer ao Capitão-mor. Mas um deles põe olho no colar de ouro que do pescoço traz pendurado ao peito e começa a acenar com a mão para terra e depois para o colar, como que a dizer que há ouro naquela terra. Mas isso o tomam os portugueses por assim o desejarem, mas se o nativo quer dizer que deseja levar o colar para terra, isso não o querem eles entender… Cabral mostra um papagaio que trouxe de África. Os nativos logo o tomam e apontam para a costa, como que a dizer que aquela será terra de papagaios. Os navegantes mostram depois um carneiro. Os nativos não fazem dele menção. Mostram-lhes uma galinha, ficam receosos e temem meter-lhe mão. A seguir, dão-lhes de comer pão, peixe cozido, mel, figos passados e vinho por uma taça. Não querem comer ou beber daquilo quase nada e alguma coisa, se a provam, logo a lançam fora. Dão-lhes água por uma botelha. Tomam dela o seu bocado, mas somente lavam as bocas e logo lançam fora. No convés, estiram-se então de costas, sem terem nenhuma maneira de cobrir suas vergonhas, as quais não são fanadas. O Capitão-mor manda deitar-lhes um manto por cima e eles consentem e descansam e adormecem.

Será possível que possa haver mundo diverso daquele que o Capitão-mor viveu e sabe? Sem guerras, nem perfídia, nem traições? Será possível a fraternidade entre os homens e a comunhão dos seus interesses? Existe ainda na Terra o Paraíso que Adão e Eva perderam por malícia da Serpente?

O PARAÍSO

Ao sábado pela manhã o Capitão-mor manda Nicolau Coelho, Pero Vaz de Caminha e Bartolomeu Dias levar a terra os dois mancebos. E muitos homens os cercam e falam e gritam mas tudo sempre em jeito de amizade. Também algumas moças muito moças e gentis, com cabelos muito pretos e compridos a tombar pelas espáduas e suas vergonhas tão altas e cerradinhas que delas vergonha não pode haver.

No domingo de Pascoela determina o Capitão-mor que Frei Henrique cante missa num ilhéu que há na entrada daquele porto, a qual é ouvida com devoção, Cabral empunhando a bandeira de Cristo que trouxera de Belém. E durante a missa muitos nativos se aproximam em suas canoas feitas de troncos escavados.

Alguns juntam-se aos navegantes tocando trombetas e buzinas. Os restantes saltam e dançam o seu bocado.

Metem-se depois os navegantes terra adentro e junto a uma ribeira que é de muita água, encontram palmas não muito altas. Colhem e comem bons palmitos.

Então Diogo Dias, que é homem gracioso e de prazer, leva consigo um gaiteiro e mete-se a dançar com todo aquele povo, homens e mulheres, tomando-os pelas mãos, com o que eles folgam e riem muito ao som da gaita.

Não há vestígio nem de guerra, nem de traição, nem de perfídia, nem sequer de receio. Já vacila o Capitão-mor na sua desconfiança.

Na 6ª. feira opina irem à cruz que chantaram encostada a uma árvore junto ao rio. Manda que todos se ajoelhem e beijem a cruz. Assim o fazem e, para uns doze nativos que mirando estão, acenam que assim façam. Eles ajoelham-se e assim o fazem.

Ao Capitão-mor já lhe parece aquela gente de tal inocência que, se fosse possível entendê-los e fazer-se entender, logo seriam cristãos. Não têm crença alguma, ao que parece. Os degredados que hão-de ali ficar, hão-de aprender a sua fala e não duvida o Capitão-mor que bem conversados logo sejam cristãos, porque esta gente é boa e muito simples. E Nosso Senhor, que lhes deu bons corpos e bons rostos, como a bons homens, ao trazer cristãos àquela terra, Cabral crê que não foi sem causa.

Ainda nesta mesma 6ª. feira, dia primeiro de Maio, indo os navegantes pelo rio abaixo, os sacerdotes à frente, cantando em jeito de procissão, setenta ou oitenta daqueles nativos metem-se a ajudá-los a transportar e a chantar a cruz junto à embocadura. E quando, já na praia, Frei Henrique canta a missa, todos eles se ajoelham como os portugueses. E quando vem a pregação do Evangelho, levantam-se os portugueses e com eles levantam-se os nativos. E os cristãos erguem as mãos e os nativos erguem as suas. E quando Frei Henrique levanta a Deus, outra vez se ajoelham os navegantes e com eles os nativos. Já acha o Capitão-mor que a inocência desta gente é tal que a de Adão não seria maior.

Esta terra será imensa, dela não se vê o fim. De ponta a ponta é toda praia chã, muito formosa. E os arvoredos, com muitas aves coloridas, correm para dentro a perder de vista. Alguns dos paus são de madeira avermelhada, cor de brasa. Os ares são muito bons e temperados. As fontes são infindas. Querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem. Mas o melhor fruto, a principal semente, pensa Cabral, será a de salvar o seu povo que tão gentilmente ali vive em estado natural.

Manda Pero Vaz de Caminha escrever novas do achamento. Depois manda Gaspar de Lemos levar a carta a El-rei e ele parte, com a sua nau, rumo a Lisboa.

Das 13 agora restam 11. Abalam de Vera Cruz a 2 de Maio. Em terra ficam dois degredados para aprender a fala do povo. Mais dois grumetes que, por vontade própria, faltaram ao embarque. Os rapazes são cativos das nativas, seus cabelos muito pretos e compridos a tombar pelas espáduas, suas vergonhas tão altas e cerradinhas que delas vergonha não pode haver…

Abalando do Paraíso, corroído de inocência, lá vai o Capitão-mor. Será maleita perigosa a diluir-lhe o ímpeto guerreiro, pois tem agora que enfrentar as guerras e perfídias do Inferno.

O INFERNO

Cabral, no Mar Índico, é bem recebido em Melinde. E, entretanto, o que está a acontecer no resto do mundo?

Para castigar o Samorim, Cabral bombardeia Calecute. E, entretanto, o que está a acontecer no resto do mundo?

Tocados por sudoeste, perto do Cabo da Boa Esperança súbita tempestade afunda quatro naus. Entre elas, a de Bartolomeu Dias, o descobridor do Cabo deveras Tormentoso. É a segunda maldição. Chegando estão eles à porta do Inferno. Das 13 sobram 7.

Porto de Sofala, 16 de Julho. Agora, das 13 sobram apenas 6. Falta mais uma. Falta a nave de Diogo Dias, o irmão de Bartolomeu. Terceira maldição.

As naus desconjuntadas, os companheiros mortos, o desalento. O Capitão-mor trata de animar a todos. Ninguém arreia, ninguém desiste, ninguém recua, ninguém arreda pé, antes quebrar que torcer, há missão para cumprir. Consertam as naus e outra vez fazem-se ao mar.

Sobem a costa oriental da África. Avistam dois navios. Um foge e vara em terra. Outro é abordado e tomado. Fica então Cabral a saber que Foteima, o comandante, é tio do rei de Melinde. Por isso devolve-lhe a nave e presta-lhe honras, o que muito espanta o mouro. Serão depois bem recebidos em Moçambique. Talvez por temor das gentes, talvez por influência de Foteima que até ali os acompanha. Fazem aguada, reparam as naus, outra vez partem.

Recomendara El-rei D. Manuel que estabelecessem feitoria em Quiloa, reino que tem parte ativa no comércio do ouro de Sofala. Mas o rei negoceia entendimentos. Quisera o Capitão-mor dar-lhe batalha, mas poucos já são eles para enfrentar os muitos homens do Samorim de Calecute. Largam sem nada assentar.

Outra vez são os portugueses bem recebidos em Melinde. O rei cede-lhes dois pilotos que os levam à Índia. Fazem-se ao mar a 7 de Agosto.

Para abastecimento, a 23 de Agosto escalam a ilha de Angediva. A população recebe-os com amizade. Mas preocupado já anda o Capitão-mor com o que virá depois.

A 13 de Setembro chegam por fim a Calecute. Negociações difíceis, desconfianças. Encontra-se Cabral com o Samorim num estrado de madeira lavrada, levantado à beira-mar. Mas antes recolhe a bordo, como reféns, seis notáveis do reino. Nenhuma conclusão se alcança e os reféns, assustados, atiram-se ao mar.

Três conseguem fugir mas os outros são recapturados. São eles a garantia dos homens e fazenda que os portugueses em terra têm. E assim se vai convertendo a paz em guerra. Cabral reúne concelho com os seus capitães. Opinam colocar a armada em posição de fogo. E o Capitão-mor, enquanto ameaça mouros e Samorim, saudades sente da inocência daquele povo de Vera Cruz… Faz progressos a maleita, corroído anda ele.

Dobra-se o Samorim. É ele quem manda recado para novo encontro. E encontram-se. E ele cede aos portugueses umas casas à beira-mar onde instalarão a feitoria. Aires Correia ocupa-as como feitor de El-rei D.Manuel I. Com ele Frei Henrique que tentará evangelizar aqueles infiéis. Cerca de 60 homens, no total.

Singrará o comércio português em Calecute? Oxalá, mas tem dúvidas, o Capitão-mor. Verifica que aparece muita gente para ver a fazenda, mas ninguém para trocar, ou comprar, ou vender. Malhas dos mouros que dominam o comércio da cidade…

Junto do Samorim há feiticeiros a encantar serpentes com umas flautas, mas será ele o próprio encantador da Serpente, traições e logros. Aires Correia é um dos enganados e com ele o Capitão-mor. Um e outro andam pasmados de inocência, maleita de Vera Cruz. Que vinha aí uma nau carregada com um elefante e especiarias de Ceilão. Pertença de mercadores de Meca mas rivais do Samorim. Que os portugueses a tomem e ofereçam o elefante ao Samorim. E eles a tomam. Mas especiarias não há, apenas sete elefantes e pertence a nau a mercadores não de Meca, mas de Cochim, cujo rei é amigo dos portugueses e ao qual terão que indemnizar e pedir desculpas muitas.

E logo voltam a cair noutra armadilha, inocência por demais deslocada às portas do Inferno… Tardam as naus portuguesas a serem carregadas com especiarias.

É-lhes dito que o mesmo acontece com as naus de Meca fundeadas no porto. Mas suspeitam que uma delas, ancorada perto deles, é abastecida, às escondidas, durante a noite. Reclamam junto do Samorim. E ele diz que tomem então a carga dessa nau. E eles a tomam, abordagem. Mas afinal, a bordo, só há carga de mantimentos. É quanto basta para o povo de Calecute se levantar contra os portugueses, os mouros à cabeça da multidão. Chacinados são marinheiros pelas ruas, também a guarnição da feitoria. Entre os quarenta assassinados estão Aires Correia e Pero Vaz de Caminha. Frei Henrique, muito ferido, consegue alcançar uma das naus. Será o Samorim a própria Serpente encantadora mas desta vez desfaz-se o encanto e os portugueses afundam quinze naves de Meca surtas no porto e durante dois dias não param de bombardear a cidade. E o Capitão-mor, enquanto vai ordenando fogo e medindo os estragos em Calecute, saudades sente da inocência daquele povo de Vera Cruz…

AMIGOS POR INTERESSE

Levantam ferro, abandonam Calecute, rumam para Cochim. Recebe-os o rei, mas receoso, por causa do incidente da nau dos elefantes. O Capitão-mor dá-lhe as devidas explicações, recompensas e desculpas. Consegue ganhar a sua confiança. Aliás, o reizinho deseja emancipar-se de Calecute. Aliar-se aos inimigos do Samorim vai ao encontro do seu desejo. Por sua influência, e pelos mesmos motivos, os portugueses estabelecem ainda relações amigáveis com os reinos de Coulão e Cananor. Em Cochim e Craganor, em vinte dias carregam as naus com pimenta e outra drogas. Rumam depois para Cananor a completar a carga com gengibre. Levando a bordo embaixadores desses reinos que amigos se dizem de Portugal, abalam da Índia a 16 de Janeiro de 1501.

Ao sul de Melinde mais um desastre: afunda-se outra nau. E o Capitão-mor, enquanto medita em todas estas maldições; enquanto esconjura todo este Inferno, saudades sente da inocência daquele povo de Vera Cruz…

TENÇA TARDIA

Ao receber tença tardia, Cabral teme pelos índios do Brasil. E, entretanto, o que está a acontecer no resto do mundo?

Campos de Santarém, à beira-Tejo. Dos lados da ribeira dois cavaleiros avançam sobre Pedro Álvares Cabral. Um deles é seu vassalo, reconhece-o. O outro, pelo trajar, será escudeiro d’El-rei D. Manuel I. Apeiam-se, saúdam. Cabral responde com gentileza. El-rei manda-lhe recado, que vá ao Paço. É homem esquecido há muito pela Corte. Qual o motivo de tal convite?

Assopra o escudeiro que El-rei pretenderá atribuir-lhe tença anual.

Tença? Agora, em 1515, quando os seus feitos datam de 1500? Passados quinze anos, por que se lembra hoje El-rei de si?

Mais vale tarde do que nunca, diz-lhe o escudeiro. Será prémio pela sua descoberta da Terra de Vera Cruz. Martim Afonso de Sousa, da capitania de S. Vicente, escreveu carta a El-rei louvando a muita riqueza que nela parece haver.

Pedro Álvares Cabral despede-os, vão-se. Prefere ficar sozinho a remoer.

A muita riqueza que nela parece haver… Cobiça, é só cobiça… E quando dessa terra houverem novas, cobiçosas hão-de ser outras nações. Mas nem a portuguesa, nem as outras, irão atentar na sua riqueza-mor, qual seja a inocência do povo que ali vive em estado natural. De inocência deslumbrado, como poderia ele desenlear-se depois das malícias do Samorim?

Perdeu 6 das 13 naves. El-rei não gostou. Mas quando, dos seus navios, muita especiaria despejou para os armazéns da Ribeira, logo El-rei olvidou o desastre de Cabral. Ganância, é só ganância…

Em 1502 El-rei organizou terceira expedição à Índia. Chegou mesmo a convidá-lo mas exigiu que outrem consigo partilhasse o comando da armada. Era ofuscar a sua estrela, foi grande afronta. Recusou, retirou-se, foi esquecido. E agora outra vez El-rei se lembra de si. E agora outra vez se lembra ele de tudo quanto passou, a viagem ao Paraíso, a viagem ao Inferno.

Tença real? Seja então! Mas já teme que Martim Afonso de Sousa, ou outros por ele, tentem levar ao cativeiro o povo de cuja inocência é ele cativo.

REQUIEM

Em 1518 Pedro Álvares Cabral recebe segunda tença pela sua descoberta da Terra de Vera Cruz que muito proveito está dando à Coroa. Morrerá talvez em 1520. Será sepultado em Santarém, dentro da Igreja da Graça. Campa rasa. Fernando Correia da Silva

Fonte: ic.galegroup.com/br.geocities.com/web.educom.pt/www.vidaslusofonas.pt

 

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