Vincent Van Gogh

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Nascimento: 30 de março de 1853, Zundert, Países Baixos.

Morte: 29 de julho de 1890, Auvers-sur-Oise, França.

Período: Pós-impressionismo.

Vincent Van Gogh – Vida

Vincent Van Gogh
Vincent Van Gogh

Vincent van Gogh é considerado o maior pintor holandês depois de Rembrandt, embora ele permaneceu pobre e praticamente desconhecido ao longo de sua vida.

Vincent van Gogh nasceu em 30 de março de 1853, em Groot-Zundert, Holanda.

Van Gogh foi um pintor pós-impressionista, cujo trabalho, notável por sua beleza, emoção e cor, altamente influenciado arte do século 20.

Ele lutou com uma doença mental, e manteve-se pobre e praticamente desconhecido ao longo de sua vida.

Van Gogh morreu na França em 29 de julho de 1890, aos 37 anos, a partir de uma ferida de bala auto-infligido.

Vincent Van Gogh – Biografia

Vincent Van Gogh
Vincent Van Gogh

Vincent Van Gogh, nascido em 30 de março de 1853, é considerado um dos maiores pintores holandeses ao lado de Rembrandt. No entanto, Van Gogh não vi nenhum sucesso, enquanto ele estava vivo. Ele criou em torno de 2.000 peças de arte, que inclui 900 pinturas e 1100 desenhos e esboços. Foi apenas alguns anos após sua morte, em 1901, que Van alcançou fama e nome.

Van Gogh nasceu em Zundert, Holanda. Seu pai era um pastor protestante. Ele tinha outros irmãos, uma irmã e um irmão chamado Theo. Vincent e Theo estavam muito próximos um do outro.

Inicialmente Van Gogh queria se tornar um pastor como seu pai e espalhar a palavra do evangelho. Ele não achava que ele iria se tornar um pintor. Ele ainda passou algum tempo pregando na região mineira, na Bélgica.

Quando Van Gogh tinha 16 anos, ele começou a trabalhar para uma firma de comerciante de arte em Haia. Em 1873, ele foi transferido para Londres e depois para Paris. No entanto, Van Gogh foi demitido da empresa em 1876, devido à falta de motivação. Ele então se mudou para a Inglaterra onde se tornou assistente de ensino. Em 1877, Van Gogh retornou para a Holanda para estudar teologia em Amsterdã. No entanto, ele não terminou os seus estudos. Em vez disso ele se mudou para Borinage, uma região de mineração, na Bélgica, onde se tornou um pregador. Foi durante este tempo, que Van Gogh começou a desenhar. Ele iria fazer desenhos a carvão do povo da comunidade local.

Era irmão Theo Van Gogh, que sugeriu, em 1880, para que ele tome a pintura. Durante um curto período Vincent teve aulas de pintura de Anton Mauve em Haia. Vincent e Anton decidiu se separar porque eles tinham opiniões diferentes sobre a arte.

Em 1881, Vincent propostas para Kee Vos, seu primo, que era viúva. No entanto, ela rejeitou a proposta. Mais tarde, ele foi morar com uma prostituta e também considerado casar com ela. No entanto, tanto Senior Van Gogh e Theo foram contra esse relacionamento.

Van Gogh ficou impressionado com o pintor Jean-François Millet, e concentrou-se na pintura de cenas rurais e camponeses. Ele primeiro mudou-se para Drenthe e depois para Nuenen, ambos na Holanda. Foi em Nuenen que Van Gogh começou a pintar a sério. Isso foi em 1885.

De 1885 a 1886, Van Gogh frequentou a Academia de Arte localizados em Antuérpia, na Bélgica. No entanto, ele foi demitido da academia, alguns meses depois. Na academia, Vincent foi retomada pela arte japonesa, como ele gostava da maneira artistas japoneses usavam cores brilhantes, o espaço da tela ea forma como as linhas foram utilizados nas fotos.

Em 1886, Van Gogh se mudou para Paris para viver com seu irmão. Aqui ele fez amizade com outros pintores como Edgar Degas, Camille Pissarro, Henri de Toulouse-Lautrec e Paul Gauguin. Foi com esses pintores Van Gogh, que descobriu sobre o impressionismo.

No entanto, em 1888, Van Gogh se cansou da vida da cidade e se mudou para Arles. Ele gosta da paisagem local tanto que ele decidiu fundar uma colônia de arte aqui. Ele convidou Paul Gauguin vir a Arles tanto como pintores admirava muito uns aos outros. No entanto, houve um problema entre os dois depois de Gauguin chegou a Arles, e terminou com a orelha esquerda de corte famoso incidente. Gauguin deixou Arles em dezembro de 1888, quando Van Gogh estava internado em um asilo depois de ter cortado a orelha.

Em Maria, 1890, Vincent Van Gogh deixou o asilo em Saint Remy, e foi para Paris para se encontrar com o Dr. Paul Gachet, que havia sido recomendado a ele por Pissarro. Entretanto, a depressão de Van Gogh passou de mal a pior, e em 27 de julho de 1890, ele deu um tiro no peito. Dois dias depois ele morreu com seu irmão mais novo a seu lado.

Van Gogh foi colocado para descansar Auvers-sur-Oise cemitério. Theo coração foi quebrada depois da morte de seu irmão, e 6 meses depois, ele também morreu. Theo foi enterrado ao lado de seu irmão.

Vincent Van Gogh – Estilo

Vincent Van Gogh
Vincent Van Gogh em 1866

1. Marchand de arte

O interesse de Van Gogh pela pintura começa quando ele consegue seu primeiro emprego na casa Goupil, como marchante de arte. É neste momento que ele entra em contato com as criações pictóricas dos artistas mais reconhecidos.

Sua admiração por pintores como Rembrandt, Millet ou pelas estampas japonesas nasce nesse momento. Mas ele demora alguns anos ainda para se dedicar à pintura. Primeiro seu emprego e mais tarde a sua repentina vocação religiosa lhe impedem descobrir seus dotes artísticos. Para penetrar no estilo e na personalidade do pintor é necessário reproduzir alguns dos fragmentos de Cartas a Théo. Este livro, no qual se recopilam os escritos que Van Gogh envia a seu irmão, é um documento imprescindível para o estudo deste artista.

Trabalhando para a Casa Goupil ele tem a oportunidade de residir nas principais capitais européias. Sua estadia em Londres e em Paris lhe permitirá conhecer os quadros dos grandes gênios da pintura. Vincent, ademais, é um estudioso nato de tudo aquilo que lhe interessa. A análise exaustiva das obras de arte, da literatura ou da teologia são alguns exemplos da capacidade intelectural deste polifacético pintor.

Observando os primeiros quadros naturalistas de Van Gogh, é possível se falar de um realismo social com fortes deformações expressionistas. A influência de Millet se faz sentir ao longo de sua obra. As cenas de trabalho ou suas representações da humanidade faminta e cansada lhe servem para se esmerar neste realismo. “Sim, o quadro de Millet, O Ângelus do Anoitecer, ‘é algo’, é magnífico, é poesia.” Deste pintor, o que mais lhe surpreende é sua forma de representar os personagens trabalhando. As figuras que aparecem em seus quadros encarnan o camponês, o agricultor. Esta faceta é especialmente chamativa para um pintor que vai dedicar, uma parte importante de sua vida, a ajudar as classes trabalhadoras. Como complemento de Millet, os livros de Zola são uma fonte de primeira mão na descrição da sociedade de sua época.

Com Rembrandt ele não só comparte seu fervor religioso, como também os mesmos materiais. Enegrece o bisel à maneira chinesa e empequenece seus personagens para despi-los de qualquer pretensão maneirista. Durante estes anos, o pintor se dedica a recortar e a colar num álbum fotofrafias e reproduções dos quadros que mais lhe fascinam.

A influência oriental lhe atinge quando os mercados da estampa japonesa são abertos ao Ocidente. Estando em Paris, ele descobre esta lâminas, tão refinadas em seu esquematismo, graças à obra de autores como Hiroshigue ou Hokusai.Van Gogh extrai de seus modelos um estranho orientalismo. Como exemplo, o retrato de “Père” Tanguy, a quem ele desenha com marcados traços achinesados e ao fundo as xilografias nipônicas, que Vincent expõe na loja daquele, em Paris. Em A Ponte sob a Chuva, os traços que definem os pequenos personagens que aparecem e as cores planas indicam elementos próprios da arte oriental. Na cópia das estampas japonesas, o pintor imprime seu próprio estilo. Alarga as margens, escreve lendas com signos nipônicos que ele nem sequer entende. Van Gogh não se limita a reproduzir o que observa, intui também uma idéia da realidade pictórica e assimila elementos de outros autores e outros estilos.

Em Londres, suas visitas aos museus lhe permitem descobrir Constable, Reynolds e Turner.

Desde a cidade britânica, em 1873, ele descreve assim suas impressões: “A arte inglesa não me atraia ao princípio, é preciso se acostumar a ela. Há, no entanto, aqui, pintores hábeis: entre eles, Millais, que fez Hugonte, Ofélia, etc…”

Sua estadia em Inglaterra não se prolonga muito tempo e na primavera de 1875 ele se transfere para Paris. Na capital francesa ele conhece a produção de pintores pelos quais mostra grande interesse. Visita uma exposição na qual ele tem a oportunidade de contemplar os quadros de Corot, autor a quem ele continua estudando o resto de sua vida. Nas horas que ele dedica ao Louvre fica entusiasmado com as obras de Rembrandt e Ruisdael.

2. O pintor das Missões

A obsessão religiosa e o misticismo do pintor levam-no a abandonar seu trabalho na Casa Goupil, ao mesmo tempo que ele inicia o estudo de latim e grego, a fim de ser admitido na Faculdade de Teologia Protestante de Amsterdã. Seus esforços não se vêem recompensados. Após uma breve preparação num centro de Bruxelas, ele solicita uma vaga de predicador na região belga de Borinage. É na cidade de Wasmes onde Van Gogh, como missioneiro evangelista, ajuda os mineiros, durante 1879. Neste lugar, o pintor contempla a natureza com um olhar diferente do resto dos mortais. Quando observa uma árvore ele estuda com detalhe sua textura, sua inclinação e sua densidade. Ele é capaz de transformar o cotidiano em protagonista de seus quadros.

Assim descreve Théo a sensação que experimenta nesta fria e escura região: “Você deve saber que não há quadros em Borinage, onde, em geral, ninguém sabe nada sobre o que é um quadro.

Mas isso não impede que a região tenha características muito pitorescas. Tudo fala, isto é, tudo está cheio de caráter. Estes últimos dias, os dias sombrios que antecedem o Natal, nevou. Tudo recordava os quadros medievais de Breughel, o camponês, e de tantos outros que lograram expressar, de uma maneira tão impressionante, o efeito característico do vermelho e do verde, do preto e do branco. O que se vê aqui me faz pensar sempre na obra, por exemplo de Thijs Maris, de Alberto Durero.

Há aqui caminhos profundos, cobertos de sarças e de velhas árvores torcidas com raízes fantásticas que parecem muito com esse caminho de uma água-forte de Durero: O Cavalheiro e a Morte.”

A natureza é um ponto de referência para o pintor, mas a partir de uma ótica diferente. Neste caso, ele inverte a máxima e recorda as palavras de Oscar Wilde, ao afirmar que “a natureza imita a arte.” A pequena cidade de Wasmes limita cada vez mais o artista. A literatura é, neste momento, uma via de escape para ele.

Um de seus autores preferidos é Shakespeare, que ele considera misterioso chegando até a comparar suas palavras com “um pincel trêmulo de febre e de emoção.”

Daumier é outro dos pintores que mais lhe entusiasmam. De sua obra destaca a humanidade com que aborda alguns temas, junto com a força e a expressividade de seus desenhos.

3. Millet e os mineiros

O fervor com que Vincent se entrega ao doentes e a austeridade com que ele vive, levam-no a cair doente e a entrar em discordância com seus superiores.

Em 1880, ele regressa a Etten e inicia seus primeiros esboços, tinha 27 anos. Estas obras estão inspiradas na vida dos mineiros. Influenciado pelos quadros de Mille, A Hora da Jornada e O Semeador, ele esboça grandes desenhos.Van Gogh sente necessidade de estudar a fundo os desenhos de Breton, Brion ou de Boughton.

Para ele a faceta humana tem um interesse fora do normal, inclusive ele pensa que os carvoeiros e os tecedores são homens com algo especial que ele gostaria de pintar algum dia. As normas mais básicas do desenho, as leis das proporções, o domínio das luzes e das sombras chegam a ser uma obsessão que perturbam o pintor, razão pela qual ele começa a realizar esboços de anatomia do corpo humano e também de animais.

A medida que ele vai se aperfeiçoando no ofício, tudo adquire interesse para Vincent: paisagens, instrumentos da lavoura e uma extensa galeria de personagens.

Ele repete as mesmas cenas muitas vezes a diferentes horas do dia.

Num fragmento, extraido de Cartas a Théo, ele disse algo realmente bonito sobre a natureza, que ajuda a compreender o conceito dinâmico que ele tinha desta:

“A natureza começa sempre fazendo resistência ao desenhista, mas aquele que assume sua tarefa realmente a sério não se deixa dominar por esta resistência, ao contrário, esta se torna um excitante e, no fim das contas, a natureza e o desenhista sincero entram num acordo. Mas a natureza é intangível, A questão sempre será dominá-la, captá-la, e isso só poderá ser feito por alguém que tenha mão firme. E depois de se ter enfrentado e lutado algum tempo contra a natureza, esta termina por ceder e se entrega docilmente.”

4. Tosco e Austero

Um ano mais tarde, Vincent continua desenhando e começa a pintar com aquarelas. Suas primeiras obras se caracterizam pela sobriedade com a qual ele interpreta a classe trabaladora e o esquematismo de suas paisagens. Os quadros conservam tonalidades escuras e sombrias. Nestes anos ele ainda não pinta nenhum auto-retrato, só desenha os gestos e atidudes das figuras que ele considera mais interessantes. Os estudos que ele faz de um velho chorando e de um camponês sentado numa cadeira diante do fogo são um exemplo disso.

Aconselhado por seu primo Mauve, também pintor, ele trabalha a carvão, ainda que se desespera ao encontrar grandes dificuldades para se desenvolver nesta técnica. Mauve anima-o para que pinte uma natureza-morta, na qual os alimentos se misturem com uns velhos sapatos. Este é o primeiro quadro a óleo deVan Gogh. As cores escuras, que dominam na cena, só se vêem apaziguadas pelos matizes amarelos de um repolho.

No mês de março de 1883, seu tio Cornelis encomenda-lhe doze paisagens de Haia, a pena de cana de bambu. Este e outros alicientes incentivam Vincent no seu trabalho. Para desenhar ele utiliza um lápis de carpinteiro e carvão. “Com o carvão molhado em água se pode fazer coisas notáveis, pude ver na casa de Waissenbruch, o azeite serve de fixador e o negro fica mais cálido e mais profundo.”

O autor continua obsessionado com a figura humana. Espera com impaciência que passe o frio para poder trabalhar com modelos. A estes não lhes exige poses acadêmicas. Sua intenção é refletir o movimento do trabalhador, do camponês ou da costureira, à maneira de Millet.

Os matizes e os tons incentivam-no. Após o estudo das cores primárias e complementárias ele compreende que as possibilidades de diferentes tonalidades são infinitas. A medida que se familiariza com a pintura, descobre as possibilidades que lhe oferecem as cores para expressar sensações e estados de ânimo.

“Só se trata de uma questão de cor e de tom, do matiz da gama de cores do céu, no princípio, uma bruma lilás na qual o sol vermelho esta meio coberto por um matiz violeta escuro com uma faixa resplandecente; perto do sol, reflexos de vermelhão, mas mais acima uma franja amarela que se torna vermelha e azulada por cima: o chamado cerulean blue, e depois aqui e ali, nuvenzinhas e pontos cinzentos que captan os reflexos do sol.

O solo está escuro como se estivesse forrado de verde-cinza-moreno, mas cheio de matizes e de “formigamentos”. E neste solo colorido brilha a água do arroio.

“Uma fila de chorões-salgueiro, o caminho que rodeia sua casa e um campo de batatas, são alguns dos estudos que prepara nesta época. Nestes anos, a técnica que ele emprega se caracteriza pelo uso de muita quantidade de tinta. Ele aplica as cores com o tubo diretamente sobre a tela, para modelá-los depois com o pincel.

As aquarelas e os pincéis continuam sendo os materais que acompanham o pintor na busca de novas formas. Desenhar grupos de pessoas, o problema da luz e a perspectiva são problemas que preocupam o holandês constantemente. Quando ele emprega aquarelas descobre que é preciso trabalhar com rapidez.

Como afirma Whisther: “É verdade, eu fiz esta obra em duas horas, mas trabalhei anos para poder fazê-la em duas horas.”

Em 1883 se sente enfermo e pede ajuda a Théo. Vincent se muda para Drenth, em setembro desse mesmo ano. Lá o pintor recupera a confiança em si mesmo e torna a sentir vontade de pintar ao ficar maravilhado com a paisagem e as pessoas do lugar.Van Gogh se questiona constantemente sobre sua capacidade e seu valor como pintor.

Dois meses mais tarde se transfere para Nuenen, onde permanece até 1885. Nesta localidade, ele estuda as criações de Manet. Vincent envia a seu irmão esboços de todos os trabalhos que realiza. Théo se torna seu principal crítico, embora o artista nem sempre aceite estes conselhos com humildade. Por outra parte, Théo mantem Van Gogh informado sobre os pintores que mais sobressaem nesse momento e sobre as últimas tendências artísticas, como o Impressionismo. O pintor ainda não conhece este movimento e por isso mantém uma atitude prudente a respeito.

5. As Cores da miséria

A cor e o domínio do desenho continuam sendo sua meta de aperfeicionamento, junto com as obras de seus antecessores. De Millet ele adota a atitude dos personagens que representa em suas telas.

De Rembrandt, a cor e a composição: “Diante da obra de Rembrandt A Lição de Anatomia,… A verdade é que ainda continuo enfeitiçado. Recorda as cores da carne: são cor de terra; sobretudo os pés.” De autores como Frans Hal, o Veronês, Rubens, Delacroix ou Velasquez destaca sua capacidade para aplicar as cores.

Em novembro de 1885 parte para Amberes. Nesta cidade, ele satisfaz o desejo de conhecer em profundidade os quadros de Rubens, a teatralidade e a maginitude de suas obras. Os tons, a luz e o movimento com os quais este pintor impregna seus quadros são os elementos que mais atraem Van Gogh. Durante sua estadia em Amberes ele ingressa na Academia de Belas Artes. Lá ele comprova que sua técnica é correta, mas logo entra em conflito com as doutrinas clássicas dos professores. Seu posterior traslado a Paris implicaria uma transformação radical no seu estilo.

6. Uma nova concepção Artistica

O avanço da ciência e as transformações sociais se vêem refletidos imediatamente no âmbito das artes. A ruptura com a tradição é radical. Os artistas deste momento se questionam sobre “como devem pintar” e sobre a função social de suas obras. Adotam posturas inovadores e surge uma nova concepção, segundo a qual a arte é concebida como uma investigação aberta que dá respostas a todo tipo de questões. Na segunda metade do século XIX, uma série de indícios levam a pensar que se está gestando uma nova orientação na pintura européia. Os tons claros, uma execução mais solta e a tendência a utilizar a natureza como fundo arquitetônico, são algumas das transformações mais significativas.

A paixão pelos exteriores, junto com uma nova valorização do espaço e composições diferentes, opõem-se às normas tradicionais. Os impressionistas investigam novos temas frente à teatralidade das composições clássicas. Paisagens rurais ou urbanas, interiores, festas e todo tipo de personagens despertam o interesse destes pintores. A qualidade da luz e uma tonalidade luminosa de cores constitui outro fundamento desta tendência, o que se complementa com uma técnica solta e leve, na qual se misturam pinceladas vigorosas e curtas com abundante pasta pictórica. O objetivo principal do pintor é conseguir um efeito imediato e que a obra se converta num objeto autônomo. Todas estas circunstâncias têm como conseqüência uma renovação do conceito figurativo. O grande mérito do Impressionismo foi ter situado o artista em contato direto com a realidade, liberando-o do academicismo, a favor de uma explosão do colorido.

A postura do espectador, diante destas transformações, já não é passiva, agora ele faz parte do quadro e da técnica. Assim, a tela aparece como algo inacabado, como uma impressão imediata da realidade. A pessoa que admira a obra deve reconstrui-la mentalmente.

Edouard Manet é o precursor deste movimento. Suas obras oscilam entre o Realismo e o Impressionismo. Com O Banho (Le dejeneur sur l’herbe), exposta no Salão dos Rechaçados, ele faz grande sucesso. Grandes manchas de cor, o forte contraste entre diversos tons e a pincelada solta, definem este quadro. Dentro desta corrente, Claude Monet é um dos pintores que mais caminho percorrem, ao viver, desde sua fundação até a sua decadência. O trabalho de Renoir é também significativo. Sua contribuição mais importante é o movimento da figura humana e a cor. A formação acadêmica de Degas é um fator presente em suas criações. Os interiores e a luz artificial que rodeiam suas bailarinas são um sinal de sua educação pictórica. O movimento dos personagens dentro do enquadramento espacial é importante em suas obras.

Vinte anos depois da gestação do Impressionismo se produzem sintomas de cansaço e se anunciam novas correntes. No meio deste panorama, surge o Neoimpressionismo que se interessa pelos problemas óticos como a luz e a cor, criando-se um ambiente propício para a introdução de novos valores estéticos.

O Neoimpressionismo cumpre um papel contraditório na história da arte. Sua meta é chegar a uma arte construida. A partir desta premissa são abertos caminhos para as correntes abstratas e científicas do século XX. Os artistas seguem seus objetivos pessoais. Toulouse-Lautrec acentua a idéia de relacionar a arte e a comunicação com seus cartazes. As cores planas e arbitrárias de Paul Gauguin reconstroem o conceito da natureza. As composições de Cèzanne são o resultado da simplificação e síntese da realidade. Finalmente, dentro desta nova tendência,Van Gogh inaugura uma nova relação entre o espectador e o mundo exterior tem do como mediador seus quadros.

EVOLUÇÃO ARTISTICA

1. A cidade das luzes

Van Gogh comunica-lhe a Théo, numa carta, sua intenção de realizar uma viagem a Paris. Sua solidão se torna cada dia mais insuportável. Em março de 1886, ele chega à cidade das luzes. Lá instala seu ateliê na Rue Lepic e realiza freqüentes visitas ao Louvre para estudar a obra dos pintores que admira.Van Gogh descobre a luminosidade que caracteriza as obras impressionistas. Para ele os quadros de Delacroix, Monticelli e dos artista japoneses passam a ser matéria de estudo e seus autores, mestres a imitar. Nesta época, Vincent conhece Toulouse-Lautrec, Emile Bernard, Gauguin, Seurat, Signac, Pissarro e Cèzanne, entre outros. Além disso, entra em contato com Père Tanguy, um vendedor de material de pintura com quem ele mantém uma sincera amizade. Com Loutrec e Gauguin comparte sua paixão pela arte. O holandês logo que conhece Gauguin, fica assombrado com a circunspecção e a serenidade que ele transmite, e chega até a confessar-lhe a admiração que sente por suas criações.

2. O ateliê de luz

A palheta do pintor se afasta daquelas tonalidades escuras que predominavam em suas primeiras obras e se enche dessa luminosidade que tantas vezes ele tratou de arrancar da natureza. Enquanto isso, em Paris, respiram-se as últimas tendências artísticas. Ao mesmo tempo, tem lugar a oitava e última exposição dos impressionistas, ao mesmo tempo que os representantes desta corrente triunfam com uma mostra que se celebra em Nova York.

Vincent não desiste e continua estudando detalhadamente tudo que tem que ver com a técnica. Prova novos procedimentos que lhe recomendam seus colegas de ofício. Acude às margens do Sena para buscar novos temas que pintar; alguns de seus quadros o ratificam. Apesar de viver rodeado de outros pintores e de compartilhar com eles suas impressões, na sua obra não se percebe influências de outros autores. Ainda que ele assimile elementos que lhe resultam gratificantes para o seu estilo pessoal.

Durante sua estadia na capital francesa, Tanguy decora sua loja com algumas telas do holandês, a fim de vendê-las. Por outro lado, o pintor trata de organizar uma exposição, mas não tem sucesso nesta tentativa. Este e outros fracassos terminam por afetar profundamente o seu caráter. Sua aventura em Paris finaliza em seguida, e ele empreende uma nova viagem. As razões que o levam a adotar esta repentina decisão são diversas. A idéia de viver a custa de seu irmão não o entusiasma. A rivalidade entre pintores, a indiferença com que lhe recebem e o alvoroço da cidade grande são as razões que o levam a viajar para o sul. Cada dia que passa seu trabalho se torna mais intenso e sua saúde, mais precária. Seu desejo de chegar a um lugar no qual o brilho do sol impregne as cores luminosas da natureza conducem-no ao sul da França. Toulouse-Lautrec tem muito que ver com esta decisão já que foi ele que lhe aconselhou ir para a Povença, onde ele disfrutaria das cores desta região, os campos de trigo, das oliveiras…

Após pensar muito sobre isso, Vincent comunica-lhe a Théo seu desejo: “E depois me retirarei a qualquer parte do sul, para não ver tantos pintores que me causam asco como homens.”

3. No “Midi” Francês

Vincent Van Gogh chega a Arles em 1888. Lá ele descobre o sol do “midi” francês. Gente simples, flores e paisagens vão ocupar um lugar destacado nas suas telas. Mas além das formas plásticas, o pintor busca a entidade do ser. Todas estas preocupações ficam refletidas na sua obra, junto ao estudo metódico do desenho.

As hortas floridas enchem-lhe de felicidade e ele pinta sem descanso. Sua exaltação cresce a medida que passam os dias e sua pintura é um culto ao sol, luz e à natureza. Na busca do seu próprio eu, Van Gogh encontra o gosto pelo detalhe expressivo, pelo Expressionismo. Este estilo se alimenta da aparência da realidade e da expressão de seu conteudo. O detalhe fica em segundo plano, e o que prevalece é uma realidade deformada.

Através de um pedido que realiza é possível conhecer as cores que ele emprega: branco-prata, branco-zinco, verde-veronês, amarelo-crômio, limão, vermelhão, laca-gerânio, carmim, azul-da-Prússia, cor-de-laranja e verde-esmeralda.

Van Gogh começa a pensar na possibilidde de fazer retratos e observa as pessoas da cidade às quais ele considera muito pitorescas: “Vi aqui figuras certamente tão belas como as de Goya e Velásquez. Elas sabem dar um toque rosa num vestido preto, ou bem confeccionar uma roupa branca, amarela, rosa ou um verde e rosa ou azul e amarelo, onde não há nada que modificar do ponto de vista estético.” A influência das estampas orientais se materializam em suas obras mais importantes. Ele extrai traços nipônicos da paisagem provençal. Uma mostra disso são os elementos orientais que ele mimetiza em quadros como A Ponte sob a Chuva ou no Retrato do “Père” Tanguy.

No anos de vida que lhe restam, o pintor vive às custas do dinheiro que lhe manda regularmente seu irmão. Em troca, envia-lhe quadros e estudos de diversos tipos a fim de que os coloque no mercado. Não se deve esquecer que Théo é antes de tudo, marchante de arte e como tal está em permanente contato com possíveis compradores.

A personalidade de Van Gogh é mutante e às vezes enfermiça. Ora artravessa momentos críticos, ora eufóricos. Estes altos e baixos repercutem no seu trabalho.

Em Paris seus estilo havia adquirido um acentuado caráter expressionista. Este elemento é intensificado cada vez mais em suas pinturas, tratando sempre de exagerar o essencial e deixar num segundo plano as partes de menor importância. Vergéis, trigais e outros lugares do povoado ocupam grande parte dos ensaios e estudos que ele realiza nesta época. Sua obsessão por melhorar seu trabalho obriga-o a repetir os esboços várias vezes. Estes estudos ajudam-no a cultivar o gênero do retrato. O carteiro Roulin posará para o pintor. Este personagem não só é um dos escassos amigos que ele chega a ter em Arles, como também uma das poucas pessoas que aceita posar como modelo. Também pertencem a esta época seus primeiros estudos do interior da taverna que ele freqüenta e estudos sobre flores do estilo de Monticelli.Van Gogh tem dúvidas em relação a sua capacidade para desenhar como este pintor, a quem, por outra parte, tanto admira.

A insegurança é uma constante da sua personalidade, o que lhe conduz a uma incessante tarefa de investigação. Ainda que seu afã por trabalhar não decaia, sua saúde é delicada.

4. O sol – um disco amarelo

O olhar especial do holandês conserva a habilidade de transformar uma paisagem num quadro de Corot, ou de encontrar no lugar menos esperado os cinzas com os quais Velásquez impregnava suas telas.

Mas o que mais lhe apaixona é o sol da Provença: “Um sol,uma luz, que por falta de outra coisa melhor não posso chamar mais que amarelo, amarelo de enxofre pálido, limão pálido, ouro. Que belo é o amarelo! Esta cor, que para o pintor tem um significado especial, dota de vida a maioria de suas obras. Espirais e grandes discos amarelos servem-lhe para modelar o sol da Carmague.

A meados de agosto de 1888, ele começa a pintar Os Girassóis e prepara três esboços sobre este motivo. No primeiro, desenha grandes flores numa jarra verde sobre um fundo claro. Três flores, uma em semente e outra desfolhada, e um botão sobre fundo azul-real ocupam o segundo estudo. Finalmente, um terceiro desenho no qual aparecem doze flores e botões numa jarra amarela. Para Vincent este é o melhor dos três. Seu empenho não esmorece e ele realiza um quarto quadro de girassóis. Desta vez quatorze flores sobressaem sobre um fundo amarelo. Deste tema ele chega a realizar mais de dez mostras.

O retrato é outro gênero de vital importância para o holandês, já que lhe permite desenvolver profundamente seu ofício.Van Gogh concebe o retrato como uma forma de buscar a verdade e de expresá-la através de seus quadros. “Eu gostaria de dizer alguma coisa que fosse consolador como uma música. Eu gostaria de pintar os homens ou as mulheres com um não sei quê de eterno, do qual, em outro tempo, a auréola era símbolo, e que nós buscávamos pelo seu brilho cintilante, pela vibração de nossos coloridos.” No entanto, os escassos recursos econômicos dos quais ele dispõe não lhe permitem pagar modelos.

O pensamento do pintor enfrenta o estudo da cor como um elemento capaz de expressar estados de ânimo, sensações ou sentimentos. Os tons, as harmonias, as cores complementárias e um sem fim de matizes ocupam a mente de Van Gogh. Na busca de novas tinturas ele descobre as cores da noite e realiza Café Noturno. “Tratei de expressar com o vermelho e o verde as terríveis paixões humanas. A sala é vermelho-sangue e amarelo-limão com um resplendor alaranjado e verde. Há por todas as partes um confronto e um contraste entre os verdes e os vermelhos mais diferentes (…) O vermelho-sangue e o verde-amarelado do billar, por exemplo, contrastam com o leve verde suave Luis XV do balcão, onde há um ramo rosáceo. A roupa branca do patrão, que está tomando conta, num canto, perto do forno, torna-se amarelo-limão, verde-pálido, luminosa…”

O prodigioso pintor manifesta em numerosas ocasiões sua insatisfação por quadros como O Semeador ou Café Noturno, dos quais ele opina que são “atrozmente feios e maus”. Mas quando muda de humor considera-os os estudos mais sérios que já realizou na sua vida. Sua inestabilidade emocional é a causa destas contradições.

Sua capacidade de trabalho é inesgotável: ele realiza uma média de três quadros por semana; assim se explica como, em só dez anos, sua produção artística tenha alcançado quase os mil quadros.

A falta de modelos redunda num certo atraso em seus progressos, por isso ele compra um espelho para poder trabalhar sobre o seu rosto com todos os detalhes.

Os auto-retratos são uma prova de sua evolução artística e espiritual. Embora, a medida que o tempo passe, ele vá clariando os tons, os traços do rosto adquirem maior intensidade e seu olhar transmite grande inquietação. Um dos quadros mais impressionantes, dentro deste gênero, é aquele no qual ele aparece com a orelha tapada após tê-la cortado. A realização dos auto-retratos atinge maior soltura com o passar dos anos.

O momento do dia que mais lhe atrai é a noite. Na escuridão, a natureza adquire um matiz e uns tons diferentes, que o artista expressa com um vigor surpreendente. Vincent passeia pelas ruas de Arles com um chapéu rodeado de velas, para poder anotar as impressões que provocará a escuridão, nas suas telas.

Neste período ele inicia o primeiro ensaio de O Quarto de Arles. A composição, as cores e a harmonia são uma parte essencial para oferecer uma sensação de repouso e descanso. Pelo menos esta é a intenção que o autor busca com a execução deste quadro, onde nada é casual mas sim é resultado de uma profunda reflexão.

5. Gauguin mestre de Van Gogh

A solidão e a escassez de recursos inquietam o pintor, por isso ele propõe a Gauguin que se transfira a Arles.

Quando comenta a Théo sua intenção, escreve-lhe:” Se Gauguin quisesse se unir a nós, creio que teríamos dado um passo adiante. Isto nos definiria claramente como exploradores do sul, sem que ninguém pudesse replicar-nos.”

Gauguin, após seus insistentes convites, decide se instalar na Provença em outubro de 1888. Para pagar a hospitalidade do holandês envia a Théo um quadro todos os meses. Sua chegada impõe um novo rumo à vida de Vincent. Não só faz com que ele reorganize seus hábitos de vida, como também leva-o a decidir que os dois juntos podem preparar suas telas e o seus bastidores. O trabalho e as discussões sobre pintura definem o encontro entre os dois pintores, mas em pouco tempo prevalecem os enfrentamentos. “Gauguin e eu falamos muito sobre Delacroix, Rembrandt, etc… A discussão é de uma eletricidade excessiva; acabamos, às vezes, com a cabeça fatigada como uma bateria elétrica depois da descarga.”

As diferenças cada vez são mais evidentes. Mas o temor à solidão lhe impede aceitar a partida de Gauguin. O mesmo dia que escreve a Théo intimida a Gauguin com uma navalha. A mesma arma que lhe serve para cortar a sua orelha isquerda. Este fato obriga-o a ingressar no hospital.

Quinze anos depois, Gauguin recorda aqueles dias num artigo:

“Quando cheguei a Arles, Vincent estava em plena escola neoimpressionista e andava totalmente perdido, o que lhe fazia sofrer, não porque esta escola, como todas as demais, fosse má, mas sim porque não casava bem com sua natureza, tão pouco paciente e independente. Com todos esses amarelos sobre violetas, todo esse trabalho desordenado, por certo, ele só conseguia harmonias suaves, incompletas e monótonas.” Neste escrito, Gauguin insiste em considerar que seus ensinamentos foram um fator decisivo na curta vida deVan Gogh. Desde esta perspectiva, destaca-se a capacidade de aprendizagem do holandês que não tinha nenhum “temor ao próximo nem era pertinaz diante de outras idéias diferentes das suas.”

Ainda que os intercâmbios em matéria de pintura sejam mútuos, enquanto permanecem sob o mesmo teto, em nenhum deles se percebe influências do outro.

6. Os quadros da loucura

Durante o tempo em que está no hospital nunca deixa de pintar, especialmente nos momentos de lucidez. Seus quadros, cheios de cores, estão dominados por uma pincelada ondulante e frenética. Nestes dias ele sente especial predileção por reproduzir quadros de outros autores como A Ressurreição de Lázaro e O Bom Samaritano, segundo Delacroix. No dia 7 de fevereiro ele regressa à Casa Amarela em Arles, mas logo volta a sofrer alucinações e tornam a interná-lo.

A esta época pertencem obras como o Retrato do Doutor Rei, O Pátio do Hospital de Arles, a janela do seu quarto ou O Campo de Amapolas. Nos momentos críticos ele fica obsessionado pelo trabalho e sua insegurança na arte de pintar se torna uma constante. “Tenho, infelizmente, um ofício que não conheço suficientemente a ponto de não poder expressar-me tão bem como eu desejaria.” Esta afirmação é decisiva para se compreender suas preocupações e encontrar a raiz de sua genialidade. A falta de prepotência e de confiança em seu trabalho converteram-no num autêntico analista da pintura. Depois de passar uma longa temporada em Arles ele pede a Théo que lhe ingresse no hospital de Saint-Remy. O autor aceita sua loucura como uma enfermidade como outra qualquer. Em maio, instala-se em sua nova residência. Lá ele dispõe de dois quartos, num ele pinta e no outro ele dorme. Assim que ele chega, prepara seus pincéis para começar a pintar sem descanso.

Sua primeira obra: Os Lírios. Este tema ele descobre no jardim do manicômio.

7. A Essência da Arte

Em sua evoluão artística Van Gogh se questiona sobre a essência da arte. Esa idéia recorda-lhe a arte egípcia.

Aqui está a resposta: segundo Van Gogh, os artista daquele país tinham a capacidade de se expressar em suas obras tudo aquilo que se pudesse sugerir, mas que implicasse grande dificuldade na hora de plasmá-lo. Através de sábias curvas e perfeitas proporções podiam representar a serenidade, a bondade e a majestuosidade dos faraós. O segredo, portanto, estava na concordância entre o quê e o como da obra. Deste modo, a entidade desta permanece no tempo.

Para Van Gogh a busca da verdade continua sendo uma meta para dotar seus quadros de permanência.

Em novembro, Octave Maus, secretário dos XX, propõe ao pintor que exponha alguns de seus quadros no oitavo Salão, que se organizaria em Bruxelas. O pintor aceita que suas obras sejam contempladas nesta exposição, junto com as de Cèzanne, Forain, Lautrec, Renoir e Sisley. Esta e a publicação de um artigo no Mercure de France sobre sua obra serão as únicas notícias agradáveis desta época.

O artigo elogia o trabalho do holandês: “Este artista robusto e verdadeiro, que tem tanta raça, com suas mãos brutais de gigante, o nervosismo de uma mulher histérica, a alma iluminada, tão original e tão marginal no meio de nossa lastimosa arte de hoje, gozará algum dia do reconhecimento, dos lisonjeios arrependidos da fama? Talvez. ” A única venda que ele faz na vida, realiza-a neste momento. Anne Boch paga quatrocentos francos por A Videira Vermelha.

8 . Cena de uma morte anunciada

A solidão do pintor se faz cada vez mais dura e ele já não aguenta mais tempo no hospício de Saint-Remy. Sua transferência para Auvers-sur-Oise é imediata. Lá ele espera o Doutor Gachet, a quem ele retrata num de seus quadros mais bonitos. Nele fica patente a confiança e a estreita relação que ele mantém com este médico, que esteve a seu lado até os últimos dias. Testemunho de sua amizade é o magnífico retrato que deixa do Doutor Gachet, no qual a melancolia se une à expressividade de seu rosto. As Casas em Cordeville, o castelo e os campos de Auvers, são motivos que ele transfere para seus quadros durante este período.

A última tela de Van Gogh é um trigal agitado pelo vento, sobre o qual voam pássaros negros. A casualidade ou o destino fazem com que esta tela anuncie um triste presságio. No dia 27 de julho se dá um tiro que lhe provoca a morte. Emile Bernard, o “Père” Tamguy, Pissarro, Lauzet, Audries Bonger e o Doutor Gachet acompanham Théo no enterro. Meio ano mais tarde morre seu irmão Théo. A obra de Van Gogh, que pasas às mãos da cunhada, é valorizada em dois mil florins. Muitas pessoas aconselham à viúva de Théo que a destrua, mas ela continua com o projeto de seu marido de organizar uma exposição com os melhores quadros do pintor holandês. Em pouco tempo, sua obra começa a ocupar as salas de exposições. Um século depois seus quadros se cotizam como os mais caros do mercado da arte.

RECONHECIMENTO AO PINTOR

1. Vocação Tardia

Hoje em dia a obra de Van Gogh é inconfundível. A violência na aplicação da cor e a pincelada sinuosa são alguns dos traços que identificam suas criações. As telas são como um espelho que refletem seu estado de ânimo. Dentro do espaço pictórico tudo está integrado, sem que nenhum elemento fique fora do conjunto.

Sua paixão pelos impressionistas leva-o a Arles, onde ele recolhe a luz do sul da França que tanto lhe entusiasma. Libera-se de suas depressões através da pintura. O motivo a representar se converte em seu drama interior. Auto-retratos, paisagens e figuras adquirem um caráter expressionista, no qual os pequenos detalhes ficam relegados a um segundo plano.

Em poucas palavras estes são os elementos mais notáveis que definem a obra do pintor, no entanto, estas peculiaridades não englobam a totalidade de suas criações.

2. A pose do trabalhador

As obras da etapa holandesa têm pouco em comum con suas obras mais conhecidas. Quando se inicia na arte da pintura, seus primeiros desenhos evocam a vida dos mineiros e das clases trabalhadoras. A influência de Millet é decisiva. A vida do povo constitui a temática mais repetida nos seus estudos. O desenho sóbrio e tosco marca as primeiras criações deste autor. “Fiz o rascunho de um desenho que representa uns mineiros indo para a mina, de manhã, na neve, por um caminho cercado por uma sebe de espinhos, sombras que passam vagamente discerníveis no crepúsculo. Ao fundo se confundem com o céu, as grandes construções das minas de carvão.” Utiliza o lápis para desenhar paisagens esquemáticas e austeras.

Desde o primeiro momento Vincent não confia no ensino das academias. Ele pensa que pode trabalhar com um artista e a seu lado aprender as leis da proporção, a perspectiva e a iluminação. Para ele não tem nenhum interesse trabalhar sobre gesso confeccionando estatuinhas clássicas, que os centros de ensino propõem para conhecer a anatomia humana.

Por intermédio de Théo, ele aprende os conceitos básicos com Van Rappard, um pintor rico que lhe ensina a perspectiva e lhe empresta lâminas de anatomia.

Quando este vai-se embora, o holandês começa a estudar o Tratado de Aquarela de Cassagne. A partir deste momento ele emprega a pena, além do lápis. Seu esforço por conhecer os segredos da pintura leva-o a desenhar durante jornadas inteiras. Em poucos meses sua evolução é evidente. “Fiz muitos rascunhos de aradores, de semeadores, de homens e mulheres. Trabalho muito, por agora, com carvãozinho; também tentei a sépia e a têmpera.” Seu primo Mauve será outro dos mestres que guiarão os primeiros passos do pintor. “Sou um trabalhador à maneira de Millet. O seus modelos não adotam poses acadêmicas. A postura do camponês que ara a terra ou da costureira que remenda a roupa são as atitudes que exige o pintor.” Os conselhos de Mauve com o tempo se tornam discussões.Van Gogh se nega a pintar um corpo de mulher de estilo clássico, com o qual a ruptura entre os dois é iminente.

No ano de 1883, ele realiza sua primeira litografia: Sorrow.

As cenas que incluem personagens do povo se convertem numa obsessão para o pintor. No primeiro estudo de Os Comedores de Batatas,Van Gogh esboça em grandes linhas suas pretensões. A influência de Rembrandt e Hals levam-no a desenhar um interior escuro rico em matizes. Neste quadro, que é sua primeira obra importante, ele evoca o trabalho dos camponeses que comem aquilo que semeam.

3. As cores da provença

A austeridade e sobriedade dos trabalhos iniciais do pintor sofrem uma transformação radical quando ele chega a Paris. A obra dos impressionistas surte efeito na palheta de Van Gogh. Neste momento ele adota a luminosidade que os representantes deste movimento empregam em seus quadros. Uma das obras mais representativas que pertencem à etapa parisiense é o Retrato de “Père” Tanguy. Na tela, a figura simétrica do vendedor contrasta com o fundo composto por xilografias japonesas. O conjunto acusa a falta de perspectiva e profundidade. Na cidade das luzes, ele acolhe com entusiasmo a nova teoria e a nova técnica, pensando em todas as possibilidades que ofrece este movimento. No entanto, esta tendência não termina de satisfazer suas metas. Sua intenção é criar uma forma de arte com a qual possa expressar o susbstancial. “Meu grande desejo é aprender a fazer deformações ou inexatitudes ou mutações do verdadeiro; meu desejo é que saiam, se for necessário, até mentiras, mas mentiras que sejam mais verdadeiras que a verdade literal.”

O Semeador é um dos seus estudos mais importantes, neste se aprecia perfeitamente a diferença entre seus primeiros quadros de camponeses e os que ele realiza posteriormente na Carmargue, ainda que a influência de Millet permance presente. Em junho de 1888, pinta Zuavo Sentado, o primeiro retrato depois do de “Père” Tanguy. A peculiaridade deste quadro, que representa um soldado de infantaria argelino, radica em que ele cria uma ilusão ótica frente a falta de relevo.

As cores que cobrem o vestido do personagem contrastam com a tonalidade pastosa do fundo. O Carteiro Roulin, Eugênio Boch e A Arlesiana, retrato de Madamme Ginoux, são alguns dos escassos personagens que o pintor reflete nas suas telas, durante sua estadia em Arles. Em seus retratos ele quer encarnar, segundo suas próprias palavras, “a eternidade, o que em outro tempo simbolizava a auréola dos santos e que nós tratamos de representar com a luminosidade das cores.” A insegurança de Vincent leva-o a repetir diferentes estudos de cada retrato, Do carteiro Roulin ele realiza seis telas. Os traços mais característicos dos personagens que Van Gogh pinta nesta época se concentram no rosto, um dos poucos aspectos que o pintor trata de plasmar com rigor. Com a postura, a vestimenta, o emprego da cor e a composição, o pintor pretende conseguir um efeito decorativo. O resultado final de suas obras está diretamente relacionado com o fato de que estes retratos não tenham sido feitos por encomenda e, sendo assim, a liberdade de criação é absoluta.

Quando pinta a óleo A Arlesiana, ele faz esta descrição:

“Tenho finalmente uma arlesiana; uma figura esboçada em uma hora; fundo limão pálido, a cara cinza, o vestido preto, preto, preto, de azul-da-Prússia completamente cru. Apoia-se sobre uma mesa verde e está sentada numa poltrona de madeira laranja…”

O último retrato que ele pinta é o do Doutor Gachet. A serenidade de seu rosto expressa a bondade deste personagem, que, por outro lado, era conhecido como grande admirador dos impressionistas.

4. Vicent descreve van gogh

O auto-retrato é um dos gêneros mais importantes para conhecer a evolução artística do pintor. Vincent não começa a recriar sua imagem na tela até passados uns anos de seus primeiros estudos no campo do desenho. Seus auto-retratos mais precoces datam do ano 1885. Com um lápis preto ele se desenha a si mesmo sobre papel, de perfil e com um boné na cabeça. Os retratos que pertencem primeira época estão pintados com cores e tons neutros. Na maior parte deles se retrata com um cachimbo na boca e de perfil, em outros alude a seu trabalho, com a palheta em uma das mãos diante do cavalete. Com uma pincelada cada vez mais solta e livre ele assume uma expressão severa e triste.

Só depois de uma breve estadia em Paris e residindo já em Arles, é que ele clareia as tonalidades. Ao falar das cores é importante tornar a insistir no signifacado real que têm para o pintor. Ele entende a gama cromática como uma forma de representar uma atitude. “Expressar o pensamento de um rosto, pelo resplendor de um tom claro sobre um fundo escuro.” Com o passar do tempo, cada vez ele emprega tons mais claros, ainda que seus traços ganhem em expressividade e seu olhar transmita maior desassossego.

Numa carta que ele envia a Théo, descreve para ele o trabalho empregado na realização de um de seus auto-retratos:

“Acabo de pintar meu retrato, que tem o mesmo colorido cinzento, e a não ser que o tivesse feito a cores, como o fiz não transmite mais que uma idéia um pouco semelhante. Justamente como tinha me custado um trabalho terrível para encontrar a combinação de tons cinzentos e rosa-cinza, não gostei da sua realização em preto. Por acaso Germinie Lacerteux seria Germinie Lacerteux sem a cor? É claro que não. Como eu gostaria de ter pintato retratos de nossa família!”

Enquanto Vincent mora em Arles, a falta de dinheiro impede-lhe pagar modelos, por isso o número de auto-retratos que ele realiza nesta época é impressionante.

Para realizar um estudo exaustivo de seu rosto ele compra um bom espelho, ao considerar que é imprescindível para um bom pintor a análise da face humana.

Um dado curioso é que Van Gogh posa para vários contemporâneos seus. Lucien Pisarro, John Russel e Gauguin são alguns dos artista que imortalizarão sua imagem.

O holandês quando contemplou o quadro que Gauguin fez dele, pintanto os girassóis, afirmou: “Sim, sou eu, mas após ter enloquecido…”

Os auto-retratos de Van Gogh são uma fonte de primeira mão sobre sua formação pictórica e sobre suas preocupações pessoais. Nos últimos anos de sua vida a decadência e a doença estão presentes nos seus quadros. Como mostra, não há mais que contemplar a tela na qual ele aparece de orelha cortada. É impactante o expressionismo que se desprende dos seus retratos finais, onde a amargura é desenhada com pinceladas inquietantes e frenéticas.

5. Um lugar muito pitoresco

Van Rappard, com quem Vincent continua mantendo correspondência, lhe aconselha que faça grandes cenas. A beleza das dunas da praia e da paisagem holandesa animam o pintor a se propor este novo desafio. A composição vai ser um dos aspectos que mais lhe preocuparão ao dar este passo. Como no resto dos gêneros, distinguem-se duas etapas no estudo de seu trabalho. O esquematismo e a tosquedade de seus primeiros ensaios se transformam em colorido e expressão, quando ele chega a França. Dentro desta etapa parisiense um dos seus descobrimentos mais importantes são as teorias de Delacroix relativas à cor. O pintor holandês aprende a aplicação do contraste complementar, que se produz ao confrontar uma das três cores básicas -vermelho, amarelo ou azul- com a misturra formada pelas duas restantes. Outro gênero que Vincent aborda é a cópia de estampas japonesas. Durante sua estadia em Paris, ele realiza várias imitações, inspiradas em quadros de Hiroshigue. O holandês imprime seu próprio estilo a estes quadros e os adapta a sua linguagm pictórica. Ao aplicar a cor, a textura fica pastosa em vez de lisa e o formato aparece mais alargado com caracteres japoneses o que Van Gogh seguramente desconhece.

6. A cor da noite

Van Gogh descobre na Provença as cores da noite. Ele passeia altas horas da madrugada, com um chapéu rodeado de velas para captar os tons e matizes da escuridão. “O céu estrelado pintado na noite sob uma luz de gás. O céu azul-verde; a água é azul-real, os terrenos cor-de-malva. A cidade é azul e violeta; a luz de gás é amarela e os reflexos são como ouro vermelho e descem até o bronze verde. No campo azul e verde do céu, a Ursa Maior tem um resplendor verde e rosa, cuja discreta palidez contrasta com o ouro do rude gás. Duas figurinhas coloridas de namorados em primeiro plano.”Se pintar ao ar livre é uma inovação do século XIX, pintar de noite e na rua será uma iniciativa pessoal de Vincent. Com esta técnica ele se situa no lado oposto dos imporessionistas. O holandês pratica a pintura noturna até seus últimos dias. Sua produção dentro desta modalidade culmina com A Noite Estrelada. Os dias que faz mal tempo ele pinta utilizando o recurso da memória. O resultado final é muito mais artístico que a cópia direta sobre modelos.

Para compreender a composição daqueles quadros que evocam paisagens e interiores, é preciso recordar o conceito que Van Gogh Goh tem da natureza.

Trata-se de um ser vivo que estabelece uma relação ativa com o pintor. A aplicação da cor é fundamental. Os tons são convertidos em sentimentos. A colocação ou a forma dos objetos também não são questões arbitrárias. Tudo está meditado. Quando Van Gogh realiza um quadro, seu objetivo não se limita a plasmar uma imagem na tela, ele vai mais além e invoca os sentidos. Um exemplo disso é a descrição que ele realiza de um estudo de O Quarto de Arles. “A cor deve predominar aqui, dando com sua simplificação um estilo maior às coisas, chegando a sugerir o repouso ou o sono geral. Finalmente, diante do quadro se deve descansar a cabeça ou mais exatamente a imaginação. As paredes são de um violeta pálido. O piso é vermelho quadriculado. A madeira da cama e das cadeiras são de um amarelo de manteiga fresca; o lençol e as almofadas, verde limão muito claro. A colcha, vermelha escarlate. A janela, verde. O lavabo, alaranjado; a pia, azul. As portas, lilazes. A forma quadrada dos móveis deve insistir na expressão de repouso inquebrantável. Os retratos na parede, um espelho, uma garrafa e algumas roupas. “Nesta obra os elementos que aparecem não estão ali por casualidade. São o resultado de um profundo estudo. Partindo de um conceito inicial -o repouso- o pintor se encarrega de que tudo fique integrado e em perfeita harmonia. No entanto, a sensação que sente o espectador diante desta tela costuma ser paradoxicamente a contrária buscada pelo pintor.

7. Metáfora das paixões

As cores deixam de ser um simples elemento da composição para se converterem numa metáfora das paixões humanas. A esperança ou a solidão são sentimentos que se traduzem em vermelhos, verdes, amarelos ou azuis, dependendo do momento. Pela mesma época ele esboça um cristo azul e um anjo amarelo, num quadro e em outros representa A Noite Estrelada e Os Campos Lavrados. Na opinião de Van Gogh, estas duas telas são mais serenas que as outras, e por isso parecem mais agradáveis à vista. Muitas vezes ele emprega símbolos com o fim de representar um desejo ou uma idéia. “Expressar a esperança por alguma estrela. O ardor de um ser pela radiação do sol poente.”

A pincelada deixa de ser impressionista, apertada e miúda, para ser substituida por um toque longo, ondulante e circular. “Tento encontrar uma técnica cada vez mais simples, que, talvez, já não seja impressionista”, escreve ele.

O Expressionismo dos seus quadros, que pertencem a seus últimos dias, canaliza a amargura e a dor. A contemplação destes transmite uma sensação de desassossego que recorda a loucura do pintor. Sua última tela, na qual os corvos negros voam sobre um trigal, é presságio de seu fatal destino. Os críticos coincidem em que se trata de uma de suas melhores obras.

Durante os dez anos nos quais ele desenvolve sua atividade pictórica, o louco de cabelo ruivo consegue uma produção superior aos oitocentos quadros. Para compreender e reconhecer a obra deste artista é preciso entender a relação que existe entre sua personalidade e suas criações.

8. Estilo Próprio

No final do século XIX, um manifesto destaca os aspectos mais importantes de um novo movimento, o Simbolismo. O que se pretende é encontrar a satisfação no sentimento que produzem os objetos através dos meios que oferece a arte, isto é, não se trata de expressar a imagem mas sim seu caráter. Van Gogh estabelece relação com esta corrente, ao buscar a essência do que representa. Quando ele pinta Os Girassóis, as flores estão realizadas com grande precisão, no entanto a colocação caótica das folhas e, em geral, a força que emana do quadro dota esta composição de um significado mais profundo.

Outro elemento peculiar que define os simbolistas é que eles enquadram os objetos dentro de um contorno para realçá-los e dar-lhes indepenência na composição e assim convertê-los em símbolos. Um exemplo é o retrato A Arlesiana. Neste quadro, o encosto da cadeira, a silhueta da mulher e a superfície da mesa estão perfeitamente delimitadas para imprimir vida e relevo à composição. Em dezembro de 1888, coincidindo com a estadia de Gauguin em Arles,Van Gogh pinta dois quadros com um acentuado caráter simbolista, A Cadeira de Gauguin e a sua. As duas estão vazias e são uma metáfora da personalidade de cada autor. Sobre a cadeira deVan Gogh, de madeira e mais simples, encontra-se um cachimbo e um saquinho de tabaco. Os tons claros desta tela expressam a luminosidade e a claridade do dia. A cadeira de Gauguin é mais elegante e com braços. Uns livros e uma vela, que se situam em cima desta, simbolizam a cultura e a sabedoria deste pintor. Os tons verde e vermelho do quadro recordam a violência e a paixão do Café Noturno.

Não se pode afirmar que Van Gogh fosse um dos representantes mais destacados deste movimento, porque isto não seria certo. Simplesmente relacionam-no pela proximidade no tempo e na temática de algumas de suas telas. A personalidade carismática e a ambição por adquirir uma boa educação através dos livros fazem deste pintor uma das personalidades mais interessantes da época. Seu particular estilo lhe permite se introduzir no Impressionismo, no Expressionismo e inclusive no Simbolismo, como já ficou exposto. Mas sempre sob umas normas de estilo muito pessoais. Todos estes fatores convertem-no numa espécie única a imitar e lhe fazem merecedor da admiração de muitos artista posteriores.

9. Os primitivos do séc 20

Van Gogh e Gauguin, junto com Toulouse Lautrec, buscam a salvação nos primitivos, reivindicam a arte negra e a estampa japonesa. Com sua volta rechaçam a pintura plana dos últimos quatro séculos de arte ocidental.

Quando, no Salão do Outono de 1905, apresenta-se o movimento Fauve, entra em crise o prestígio do academicismo.

Vários autores desconhecidos são congregados numa sala independente: Derain, Matisse, Rouault, Vlamick, Manguin, Puy e Valtat. A interpretação de suas obras é livre. O colorido é brilhante e se funde numa alegre provocação. O sentido último desta nova tendência é a liberação completa do temperamento e do instinto. A origem do Fauvismo se situa por volta de 1890, naqueles anos em que Gauguin e Van Gogh fugindo do Impressionismo, tentavam expresasr toda sua paixão com obras intensamente coloridas. A paixão do pintor holandês continua esta mesma linha e conduz a exageros idênticos e parecidas liberdades.

Matisse entra em contato com a obra de Van Gogh em 1896. Numa viagem a Bretanha, Rusell mostra-lhe os quadros do pintor holandês. Mais tarde, numa entrevista que Tériade realiza a Matisse em 1929, o artista assinala a influência de Van Gogh em sua vida.

Neste fragmento, ele fala previamente do Neoimpressionismo: ” O fauvismo acabou com a tirania do Pontilhismo. Neste momento de minha vida aparece também a influência de Gauguin e de Van Gogh.

As idéias daquela época eram: construção por meio de superfícies coloridas. Busca de intensidade na cor, sem reparar em nada na matéria…

A luz não é suprimida, mas se encontra expressa pela harmonia das superfícies intensamente coloridas.” Matisse, ademais, compartilha com Van Gogh uma concepção da pintura muito mais profunda. A harmonia se torna uma prioridade.

Para Matisse tudo deve estar integrado no conjunto a fim de chegar aos sentidos.

“Numa natureza-morta, copiar os objetos não representa nenhuma dificuldade; mas, ademais, é preciso refletir as emoções que despertam em cada um de nós: a emoção que sugere o conjunto, a correlação dos objetos, o caráter específico de cada objeto -modificado por sua relação com os outros- e tudo isto misturado como a trama de um tecido.” As palavras de Matisse recordam as intenções de Vincent quando pintava O Quarto de Arles, no qual ele pretendia infundir uma sensação de repouso. A cor também não é casual. A obra de Henri Matisse é o resultado de um laborioso e complexo estudo. Algumas das passagens, em que ele explica sua técnica, sua concepção da natureza e as formas, parecem estar diretamente relacionadas com as reflexões de Van Gogh sobre a natureza.

Maurice de Valminck é a personalidade mais desbordante e anárquica do grupo fauve. As pinceladas curtas e vibrantes de seus quadros manifestam sua grande admiração por Van Gogh. A pintura se converte para ele numa forma de liberação da violência de suas próprias emoções. O artista se enfrenta à natureza para dar-lhe vida. Quando no mês de março de 1901, ele visita uma retrospectiva de Van Gogh na galeria Bernheim-Jeune, diz a Matisse; ” Eu gosto de Van Gogh mais do que do meu pai.” Merenda no Campo, 1905, ou Remolcador em Chatou, 1906, são algumas mostras da influência do louco de cabelo ruivo neste fauvista.

10. Precurssor do expressionismo

O holandês abre os caminhos do Expressionismo, uma corrente que situa o homem no centro de seus interesses.

Estes mesmos sentimentos presidem as preocupações dos artistas: James Ensor e Edvard Munch. Os dois pintores se alimentam. dos problemas sociais. Os desenhos que Ensor realiza, entre 1879 e 1880, coincidem com os que pertencem etapa holandesa de Van Gogh. Pescadores, lavadeiras e mineiros são algumas das clases socias que configuram a temática deste autor.

Munch, como Vincent, tem uma personalidade independente que reflete uma atitude mais autônoma em relação ao resto das tendências artísticas. Este pintor assimila determinadas sugestões do holandês, de Gauguin e de Toulouse-Lautrec. Pode-se afirmar que os pais diretos do Expressionismo são Van Gogh, Ensor, Munch e Gauguin. A maior influência sobre os expressionistas alemães, por outra parte, foi exercida pelos artistas franceses, entre eles Vincent.

Os primeiros sintomas desta corrente, como movimento, deixa-se sentir no início do século XX, depois da I Guerra Mundial. Os artista alemães e de outros países europeus estão afundados no desespero. Sua amargura expressada nas telas se transforma na chave desta tendência. O grupo “Die Brücke” (A Ponte) é uma verdadeira organização de artistas com um programa escrito. Constitui-se em Dresde, em 1905, ao redor da figura central de Ernst Ludwig Kirchener (1880-1938). Kirchner, um estudante de arquitetura de 25 anos, sente-se atraído pela pintura, pela arte africana e oriental e, em concreto, por Van Gogh. O programa que preconizam os chefes deste movimento esta associado à devoção que eles têm pelo holandês. Rechaçam a arte de seu tempo, a favor de um romantismo artesanal. No fim de 1907, o alemão Nolde, que já não pertence a este grupo, confessa sua admiração pelos pintores de finais do XIX. Para ele Gauguin, Van Gogh e Munch são três personagens essenciais em sua formação.

Oskar Kokoschka, pintor da terceira geração de expressionistas, quando vê por primeira vez as obras de Van Gogh começa a pintar em Viena uma série de retratos nos quais reflete o seu desequilíbrio emocional e intelectual.

11. O mestre dos coloristas

A influência de Van Gogh também é reconhecida na obra de Paul Klee. Na exposição de Munique ele contempla os quadros de Van Gogh e Cèzanne. Em seguida compreende que o que eles ensinam é excepcional. Um dos aspectos que mais lhe chama a atenção é o livre jogo de linealismo e a expressividade de suas obras.

Picasso, o malaguenho, se identifica com a vida e a obra de Van Gogh quando afirma:.” Começando com Van Gogh, por muito grande que ele tenha sido, o certo é que todos, de certa forma, somos autodidatas… quase poderíamos dizer pintores primitivos.” Por outra parte ele considera que Vincent é um dos coloristas mais importantes. Para Picasso Van Gogh é o primeiro em descobrir a chave de uma tensão cheia de cor.

Neste sentido, ele recorda suas próprias palavras:

“Estou criando um amarelo.” O espanhol faz referência aos campos de trigo: “não se pode dizer que fosse um verdadeiro amarelo-cádmio. Mas uma vez introduzida na cabeça do pintor a idéia de chegar a uma determinação arbitrária de cor ele emprega uma que não consta dentro da escala natural mas muito mais além dela, então, ele escolhe, para o resto de sua composição, cores e relações que se livrem da camisa de força da natureza. Esa é a forma pela qual ele se exime dessa natureza e alcança sua liberdade, conseguindo que seja intereessante tudo quanto faça.”

A ansiedade e a agitação interior do autor holandês se transforma numa espécie de lente que deforma a realidade: “Em vez de tentar reproduzir exatamente o que tenho ante meus olhos, me sirvo das cores arbitrariamente para expressar-me de modo mais intenso.” O uso violento e desordenado dos tons é uma das chaves do subjetivismo moderno. Para Van Gogh a cor tem valor de metáfora.

12. Especuladores da arte

Na última carta que Van Gogh escreve a Théo expressa-lhe suas dúvidas quanto ao trabalho dos marchantes de arte. A estes últimos lhes define como marchantes de homens, ao se dar conta do valor que adquirem os quadros dos artistas mortos. Parece que com suas últimas palavras ele previa o que aconteceria com sua própria produção artística.

Pouco tempo depois da morte de Van Gogh são organizadas várias exposições de seus quadros e seus desenhos. Sua vida atormentada e sua trágica morte servem de detonante para que os críticos se interessem por suas criações. Em 1937, os nazistas classificam como decadentes as obras do holandês e elas são excluidas da Neue Pinakotheke de Munique.

Dez anos mais tarde, por ocasião de uma retrospectiva de Van Gogh no Museu L’Orangerie de Paris, Georges D’Espagnat escreve:

“Van Gogh está de moda, moda frenética, a ponto de que nos últimos dias os visitantes se aglomeravam em quatro filas diante dos seus quadros, enquanto uma fila tão comprida como a que vemos nos cinemas se extendia entrada do museu. E em todos os lugares elegantes, nas salas de chá luxuosas ou simplesmente burguesas, as pessoas do mundo mais elegante lança exclamações, cheias de admiração por este pintor que todo mundo se congratula de ter descoberto.”

Quando se cumpre cem anos de seu nascimento seu centenário é celebrado com grande expectativa nos Países Baixos. Especialistas do mundo inteiro se reunem durante vários dias em Haia para comentar a obra do pintor. Na mesma cidade é realizada uma exposição de 280 quadros seus, no Museu Nacional de Kröller-Müller. Em Zundert, é colocada uma placa comemorativa na casa em que ele nasceu e em Paris outra, no número 54 da Rue Lepic, onde ele viveu durante uns meses.

Estende-se cada vez mais o reconhecimento deste pintor, não só no âmbito pictórico mas também em outros campos. Os produtores de cinema levaram à sétima arte mais de uma vez, a peculiar personalidade deste homem. O Louco de Cabelo Ruivo (Lust for life), é um dos filmes que se fizeram sobre este tema.

No mundo dos leilões de arte, os quadros de Van Gogh chegaram a preços desorbitantes. Um dado curioso é a afição dos japoneses pelas telas deste pintor, o que os converte nos principais compradores e inversores de sua obra. Os girassóis, Os Lírios ou o Retrato do Doutor Gachet estão entre as pinturas mais caras da história da arte. Longe de toda esta especulação mercantilista, seu autor morreu na miséria mais absoluta.

Fonte: www.biography.com/www.famouspeoplebiographyguide.com/br.geocities.com

 

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