Roberto Landell Moura

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Nascimento: 22 de janeiro de 1861, Porto Alegre, Rio Grande do Sul.

Falecimento: 30 de junho de 1928, Porto Alegre, Rio Grande do Sul.

Roberto Landell Moura – Vida

Roberto Landell Moura
Roberto Landell de Moura

No dia 30 de junho de 1998 transcorreu o septuagésimo aniversário da morte do Padre-cientista ROBERTO LANDELL DE MOURA, gaúcho, nascido em Porto Alegre, numa casa de esquina da rua Bragança, hoje Marechal Floriano Peixoto, com a antiga Praça do Mercado, aos 21 de janeiro de 1861, tendo sido batizado, conjuntamente com sua irmã Rosa, a 19 de fevereiro de l863, na igreja do Rosário, que anos mais tarde viria a ser seu vigário.

Landell de Moura era o quarto de quatorze irmãos, sendo seus pais o Sr. Inácio José Ferreira de Moura e Sara Mariana Landell de Moura, ambos descendentes de tradicionais famílias rio-grandenses, com ascendência inglesa.

Roberto Landell de Moura estudou com o pai as primeiras letras. Freqüentou a Escola Pública do Professor Hilário Ribeiro, no bairro da Azenha, a seguir entrou para o Colégio do Professor Fernando Ferreira Gomes. Com 11 anos, em 1872, estudou no Colégio Jesuíta de Nossa Senhora da Conceição, de São Leopoldo-RS, onde concluiu o curso de Humanidades. Após seguiu para o Rio de Janeiro, onde foi cursar a Escola Politécnica. Em companhia do seu irmão Guilherme, seguiu para Roma, matriculando-se ambos a 22 de março de 1878 no Colégio Pio Americano, após cursou a Universidade Gregoriana onde, em 28 de outubro de 1886, foi ordenado Padre.

Retornou ao Rio de Janeiro em 1886, residindo no Seminário São José e, neste mesmo ano, reza sua primeira missa na Igreja do Outeiro da Glória para Dom Pedro II e toda sua côrte. Em função disso, expôs suas idéias sobre transmissão do som e da imagem ao Imperador. Substituiu o coadjutor do capelão do Paço Imperial, mantendo, ainda, palestras de caráter científico com Dom Pedro II.

No dia 28 de fevereiro de 1887 foi nomeado capelão da Igreja do Bomfim e professor de História Universal no Seminário Episcopal de Porto Alegre. A 25 de março de 1891 foi conduzido a vigário, por um ano, na cidade de Uruguaiana-RS. Em 1892 é transferido para o Estado de São Paulo, onde foi vigário em Santos, Campinas e Santana e capelão do Colégio Santana. Em julho de 1901 partiu para os Estados Unidos da América do Norte. Retornou a São Paulo em 1905, dirigindo as Paróquias de Botucatu e Mogi das Cruzes. Em 1908 voltou ao Rio Grande do Sul onde dirigiu a Paróquia do Menino Deus e, em 1916, a Paróquia de Nossa Senhora do Rosário.

Padre Landell foi um dos pioneiros na descoberta do telefone sem fio, ou rádio, como é hoje conhecido, o precursor da radiotelefonia, o bandeirante da própria televisão,o descobridor das Ondas Landeleanas. Em 1893? muito antes da primeira experiência realizada por Guglielmo Marconi? o gaúcho padre Landell de Moura realizava, em São Paulo, do alto da Av

Paulista para o alto de Sant’Ana, as primeiras transmissões de telegrafia e telefonia sem fio, com aparelhos de sua invenção, numa distância aproximada de uns oito quilômetros em linha reta, entre aparelhos transmissor e receptor, presenciada pelo Cônsul Britânico em São Paulo, Sr. C. P. Lupton, autoridades brasileiras, povo e vários capitalistas paulistanos. Tratava-se da primeira radiotransmissão da qual se tem notícias. Só um ano depois foi que Marconi iniciou as experiências com seu telégrafo sem fio.

Em virtude de brilhante êxito de suas experiências inéditas, em nível mundial, Landell obteve uma patente brasileira para um “aparelho destinado à transmissão phonética à distância, com fio ou sem fio, através do espaço, da terra e do elemento aquoso”, patente nº. 3.279. Era o dia 09 de março de 1901. O mérito do Padre Landell é ainda maior se considerarmos que desenvolveu tudo sozinho. Era dessas pessoas que além do seu lado místico, integrava em sua personalidade o gênio teórico e o lado prático para a construção de seus aparelhos.

Ele era o cientista, o engenheiro e o operário ao mesmo tempo. Consciente de que suas invenções tinham real valor, o padre Landell partiu com destino aos Estados Unidos da América, quatro meses depois, com o intuito de patentear os seus aparelhos.

Obtém três patentes em Washington, Estados Unidos: “Transmissor de Ondas” – precursor do rádio, em 11 de outubro de 1904, patente de nº. 771.917; “Telefone sem fio” e “Telégrafo sem fio”, em 22 de novembro de 1904, patentes de nºs. 775.337 e 775.846. Nas patentes agrega vários avanços técnicos como transmissão por ondas contínuas, por meio da luz, princípio da fibra óptica e por ondas curtas; e a válvula de três eletrodos, peça fundamental no desenvolvimento da radiodifusão e para enviar mensagens.

Também em 1904 o Padre Landell começa a projetar, de forma precursora, a transmissão da imagem, ou seja televisão e de textos, teletipo, à distância. As Ondas Landeleanas, denominadas assim por um jornal de São Paulo, que em 1900 se ocupou das teorias científicas do Padre inventor, conquanto sejam, aparentemente, do mesmo número das Ondas Hertzianas, todavia diferem muito destas últimas, porque estas são ondas mais ou menos amortecíveis e produzidas por movimentos vibratórios elétricos sem Constância nem Uniformidade, que vão pouco a pouco, decrescendo, ao passo de que as Ondas Landeleanas não estão sujeitas a tais transformações e são produzidas por movimentos vibratórios elétricos, cujos valores ondulatórios são CONTÍNUOS e permanecem sempre iguais.

Como bem se verifica, as Ondas Landeleanas desempenham, em seu sistema de telegrafia e telefonia-sem-fio, o papel de um condutor metálico. A idéia da criação desse campo ondulatório através do espaço, além de ser genial, é de grande alcance prático e científico, pois já tem sido aproveitado para vários fins. Nela baseava-se o Padre Landell na possibilidade de transmitir, também sem fio, a IMAGEM a grandes distâncias, ou seja, a TELEVISÃO que agora se pratica.

Como conseqüência das suas descobertas, a Marinha de Guerra do Brasil, logo no retorno de Landell de Moura dos Estados Unidos, em 1º de março de 1905 realizava experiências com a telegrafia por centelhamento, no encouraçado Aquidabã. Foram usados os aparelhos patenteados em 1901, no Brasil e 1904, nos Estados Unidos. A Marinha de Guerra é a pioneira no Brasil, da radiotelegrafia permanente.

Por seu pioneirismo nas telecomunicações, o Padre Roberto Landell de Moura é considerado o “Patrono dos Radioamadores Brasileiros”. Na verdade foi o 1º radioamador brasileiro em telegrafia e fonia.

Em 1984 a Fundação de Ciência e Tecnologia – CIENTEC, em Porto Alegre, construiu uma réplica daquele que pode ser considerado o primeiro aparelho de rádio do mundo: o Transmissor de Ondas (Wave Transmitter, patente nº. 771.917, de 11 de outubro de 1.904). Esta réplica encontra-se em exposição no saguão da Fundação Educacional e Cultural Padre Landell de Moura, na Av. Ipiranga, 3.501, em Porto Alegre – RS.

Além das ciências físicas, Roberto Landell de Moura se interessou pela química, biologia, psicologia, parapsicologia e medicina, sendo o primeiro cientista brasileiro com registro internacional de invenção pioneira. Suas descobertas estão servindo à humanidade até hoje.

Roberto Landell de Moura foi Cônego do Cabido Metropolitano de Porto Alegre. Em 17 de setembro de 1927 foi elevado, pelo Vaticano, a Monsenhor, e seis meses antes de falecer nomeado Arcediago.

Aos 67 anos, no dia 30 de junho de 1928, sábado, às 17:45 horas, morreu anonimamente, abatido pela tuberculose, num modesto quarto da Beneficência Portuguesa de Porto Alegre, cercado apenas por seus parentes e meia dúzia de amigos fiéis e devotados.

O Monsenhor João Emílio Berwanger, pró-vigário geral, celebrou, no domingo, dia 1º de julho, pela manhã, na Capela da Beneficência, missa de corpo presente.

Em caráter solene, na Catedral Metropolitana, às 15:00 horas, foi celebrada a encomendação, tendo presidido as cerimônias o arcebispo Dom João Becker, secundadas pelos monsenhores João Emílio Berwanger, João Maria Balém, José Barea e Nicolau Marx, e assistidas por todos os cônegos do Cabido Metropolitano. O “Libera-me Domine” foi cantado com o acompanhamento de todo o clero secular e regular da arquidiocese. O templo estava repleto de fiéis e lá fora, uma chuva torrencial.

Roberto Landell Moura – Biografia

Roberto Landell Moura
Roberto Landell de Moura

Roberto Landell de Moura nasceu em Porto Alegre a 21 de janeiro de 1861. Estudou no Colégio dos Jesuítas. Sempre gostou tanto da Ciência quanto da Religião. Ordenou-se sacerdote em 1886, na capital do Rio Grande do Sul, depois de ter estudado por alguns anos na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, onde aprendeu Física e desenvolveu seus primeiros estudos sobre a “Unidade das forças físicas e a harmonia do Universo”. Transferido de Porto Alegre para São Paulo em 1892, o padre Landell de Moura foi pároco em Campinas e em Mogi das Cruzes.

Na capital paulista, fez suas experiências extraordinárias, conseguindo, em 1893, transmitir sinais e sons musicais a uma distância de oito quilômetros, entre a Avenida Paulista e o Alto de Santana, num sistema de telefonia sem fios. E, na realidade, como provam seus desenhos e esquemas, foi ele o verdadeiro inventor da válvula de três pólos, ou tríodo, com a qual era possível modular uma corrente elétrica e transmiti-la, sem fios, a longas distâncias.

O mais triste em toda a história de Landell de Moura é que a incompreensão de seus contemporâneos, em lugar da glória, lhe trouxe o ridículo e a perseguição.

Chamavam-no “lunático, louco, bruxo e diabólico”. Nem os seus superiores religiosos foram capazes de apoiá-lo e chegaram a proibi-lo de continuar com suas “estranhas manias de inventar aparelhos elétricos e de tentar transmitir a voz a distância”.

Os professores Nilo Ruschel e Homero Simon, do Departamento de Engenharia da PUC, referiram-se às descobertas do padre Landell de Moura de forma incisiva e entusiástica: “É impressionante como esse homem vivia adiante de sua época. Há afirmações em suas patentes relacionadas com o moderno sistema de microondas. É uma combinação exata da rede de telefonia – que já era bem desenvolvida no final do século passado – com as ondas hertzianas, o que é completamente original”.

Algumas obras especializadas estrangeiras, embora sem citá-lo nominalmente, falam da importância dos trabalhos de um padre brasileiro, “precursor de Marconi na TSF” (telefonia sem fio) e na descoberta da válvula de três pólos (patenteada por Lee De Forest em 1906, nos Estados Unidos). Na realidade, há poucos documentos sobre os trabalhos científicos do padre Landell de Moura. Mas esses papéis, reunidos no livro de Ernani Fornari, são largamente suficientes para comprovar que suas idéias chegaram a ser efetivamente mais avançadas do que as de qualquer outro inventor ou cientista de sua época.

Landell de Moura, fugindo à incompreensão, viajou para os Estados Unidos em 1901, onde passou a enfrentar numerosas outras dificuldades (inclusive econômicas). No entanto, arquivou no Serviço de Patentes dos Estados Unidos (U.S. Patent Office) três inventos originais para “um transmissor de ondas”, um tipo especial de “telégrafo sem fios” e outro de um modelo pioneiro de “telefone sem fios” – os quais ganharam as patentes de números 771.917, 775.337 e 775.846. Voltando ao Brasil, não encontrou apoio entre seus conterrâneos. Tentou fazer a demonstração de seus equipamentos em navios da Marinha de Guerra, no Rio de Janeiro, mas não foi levado a sério.

Conta-se que, quando um auxiliar do Presidente Rodrigues Alves lhe perguntou a que distância queria que os navios ficassem da costa, para a realização das experiências, o padre lhe respondeu: “A quantas milhas quiser, pois meus aparelhos podem funcionar a qualquer distância e poderão servir, no futuro, para comunicações interplanetárias”.

O pedido foi arquivado, sob a alegação de que a “Marinha tinha coisas mais importantes a fazer” do que se submeter a experiências de padres malucos.

Era muita ciência para a época.

Roberto Landell Moura – Padre

Roberto Landell Moura
Roberto Landell de Moura

Em 1890, a Europa e os Estados Unidos, em plena revolução industrial, fervilhavam com as novas descobertas no campo da eletricidade e comunicação.

Enquanto os inventores europeus e americanos têm à mão técnicos especializados, fábricas e laboratórios para confeccionar o produto de suas obras, na mesma época, no Brasil, isolado do mundo técnico-científico, o cérebro de um magro e alto padre também borbulhava, cheio de novas idéias e feitos, concebendo e executando ele mesmo seus inventos, sendo a um só tempo o sábio que inventa, o engenheiro que calcula e o operário que forja e ajusta todas as peças.

Só estas capacidades e habilidades são provas da mais remontada sabedoria, capaz de eternizar o nome de seu inventor. Mas o humilde sacerdote se fecha em sua modéstia habitual, em vez de dormir sobre os louros que lhe tributam os poucos amigos e admiradores, trabalha sem cessar, para honrar sua Pátria.

A História desta terra, um dia, o consagrará, quando o tempo e os fatos justificarem o imenso mérito de suas obras maravilhosas.

Esta incrível história, você irá conhecer: um só homem foi ao mesmo tempo, o projetista, o engenheiro e o construtor de seus inventos.

Na vida, qualquer pessoa passa normalmente por três ciclos ou etapas: ressurgimento, auge e ocaso. E três ciclos são conhecidos como o ciclo da vida que corresponde ao gráfico ao lado.

Para um jovem em formação, esse conhecimento é de suma importância para projetar sua vida, pois tudo tem seu tempo e o bom aproveitamento de cada etapa servirá para obter os melhores resultados.

Referimo-nos a esta parte, pois uma das formas de se preparar, é conhecer a vida de outras pessoas que já passaram por essas etapas, e delas podemos extrair aquilo que realmente é favorável.

Feito este preâmbulo, vamos examinar os ciclos de vida do Padre Landell e extrair as conclusões.

Ciclo do Ressurgimento ou da Preparação

Roberto Landell de Moura nasceu na cidade de Porto Alegre, RS, em 21 de Janeiro de 1861, sendo ordenado padre em Roma, em 1886.

Seus interesses intelectuais e as preocupações eram múltiplos, enveredando por temas que, certamente, hoje não teriam a censura da igreja.

Estes interesses abrangiam ciências físicas, químicas, biológicas, filosofia, psicologia, parapsicologia e medicina. Mas, ao mesmo tempo, era dotado de um profundo sentimento teológico e, para ele, não havia incompatibilidade entre a religião e a ciência.

A primeira lição: enquanto estudava Teologia, em Roma, para se tornar padre, aplicava-se em cursos de Física e Química, onde iniciou o desenvolvimento de suas primeiras idéias que nortearam as suas invenções.

Em outras palavras, o Pe Landell é multi-especialista, o que hoje é tão importante para o desenvolvimento profissional de um técnico.

Ciclo do Auge ou da Produção

Constrói em 1893, com êxito, um aparelho multifuncional conhecido como “Transmissor de Ondas”, que integrava a transmissão e recepção de sinais de voz e de luz por meio de ondas eletromagnéticas, constituindo-se na primeira transmissão que se tem notícia na história mundial da comunicação.

A primeira transmissão aconteceu no bairro de Santana, na cidade de São Paulo.

Em 1904, obteve as primeiras patentes internacionais registradas no US Patent Office, em Washington, dadas a um brasileiro, para os seguintes dispositivos:

Wave Transmitter – Patent Number 771.917 – Oct/11/1904
Wireless Telephone –
Patent Number 775.337-Nov/11/1904
Wireless Telegraph –
Patent Number 775.846 – Nov/22/1904

O diário nova-iorquino New York Herald, em 12 de Outubro de 1902, revelou o seguinte sobre as patentes do Padre Landell: “as suas teorias são tão revolucionárias, que a patente (nos EUA) não poderia ser concedida sem a apresentação de modelos para fazer demonstrações de suas verdades. Esses modelos ele apresentou mais tarde, assim que teve condições de recebê-la”.

Para seus aparelhos funcionarem, criou e desenvolveu a válvula de três pólos (tríodo), patenteadas por Lee De Forest, em 1906, peça fundamental para o desenvolvimento do rádio e da televisão.

Já em 1901, recomendava o emprego das ondas curtas para aumentar o alcance das transmissões. O grande Marconi considerou que era coisa inútil, mas em 1924 admitiu que estava enganado.

Foi seu caráter eclético que o levou a pesquisar e a descobrir que todos os corpos são circundados por uma aura ou energia luminosa, invisíveis a olho nu. Há documentos alusivos a essa descoberta datados de 1907. Ele chegou inclusive a fotografar o efeito, que na história oficial, seria batizado de “Efeito Kirlian” em 1939, por causa dos trabalhos do casal soviético Semyon e Valentina Kirlian.

Também formulou as primeiras idéias e descobriu a utilidade do arco voltaico para a transmissão de sinais de intensidade variada, que resultaria no desenvolvimento do laser e da fibra ótica.

A segunda lição: mesmo desprestigiado em seu país, sempre procurava dar os créditos de seus inventos ao Brasil. Amava aquela terra. Muitas pessoas se ofereceram para comprar os inventos, mas queria que os mesmos ficassem naquela terra.

Ciclo do Ocaso ou Declínio

A partir de 1910, voltou para sua terra natal, dedicando-se integralmente a sua missão de sacerdote, tornando-se posteriormente Monsenhor da principal paróquia de Porto Alegre, a do Rosário.

“Quero mostrar ao mundo que a Igreja católica não é inimiga da ciência e do progresso humano. Indivíduos na Igreja podem neste ou naquele caso estar opostos à luz, porém eles cegam a verdade católica. Eu mesmo tenho encontrado oposição com os meus queridos crentes. No Brasil, uma multidão supersticiosa me acusava de participante com o diabo, interrompiam meus estudos e quebravam meus aparelhos. Todos os meus amigos de educação e inteligência, dentro ou fora das ordens santas, olhavam as minhas teorias como contrárias à ciência.

Conheci o que é sentir como Galileu para gritar: “Eppur si muove”.

Quando todos eram contra mim, simplesmente pus-me de pé e disse: Isto é assim, isto não pode ser de outro modo”.

O Padre Landell, como gostava de ser chamado, mesmo após receber o título de Monsenhor, morreu em 30 de junho de 1928 aos 67 anos, abandonado, incompreendido e desalentado pelas autoridades, clero e cientistas do seu tempo, mesmo depois de ter dado tantas provas de sua criatividade e genialidade.

A terceira lição: renunciou às glórias da ciência para respeitar seus votos de padre.

“Tenho a consoladora esperança de que, em breve, minha obra científica brilhará como o sol do meio-dia e outros inventores, mais afortunados que eu, irão descobrir os seus próprios inventos. O que desejo é que o fruto dos meus estudos se traduza em proveito e glória de minha Pátria Brasileira, e em holocausto a Deus Supremo, que me inspirou e iluminou”.

Conclusão

Em poucas palavras, foi um ser inspiradíssimo que viveu muito além de seu tempo.

Imagine, você, quantas incompreensões este padre deve ter sofrido ao expor suas idéias avançadissimas que, para muitos fiéis, era “a voz do demônio”; para outros, um “padre maluco ou louco” e, para a própria Igreja, o “parceiro do Diabo”, chegando à proibição de rezar missas.

Mais tarde, em 1927, ainda vivo, a Igreja se redimiu, dando-lhe diversos títulos.

Seu exemplo de lutas continua no reconhecimento do IJI aos feitos e a glória deste grande gênio brasileiro.

Roberto Landell Moura – O inventor do rádio

Roberto Landell Moura
Roberto Landell de Moura

Como ocorre em muitos casos de grandes descobertas, a invenção do rádio é rodeada por uma aura de polêmica.

Tudo pelo fato de que a criação da “caixa que fala”, uma das primeiras denominações do meio de comunicação, foi atribuída a dois autores: ao italiano Guglielmo Marconi e, com algumas ressalvas por parte de puristas, ao padre gaúcho Roberto Landell de Moura, mais conhecido como Padre Landell.

O primeiro foi alçado ao posto de cientista por ter patenteado, em 1896, o telégrafo sem fio. Landell , mesmo tendo realizado as primeiras transmissões com telefonia sem fio, três anos antes da experiência do italiano, em São Paulo, vivendo num Brasil com poucos dias de república, não obteve sucesso no próprio país e carregou o estigma de bruxo. De acordo com algumas publicações da época, Padre Landell chegou mesmo a ser chamado de filho do demônio escondido sob a batina de cristão.A voz do pai do rádio pelo sobrinho

Quando decidimos rever a “história não-oficial” do rádio e buscar mais informações sobre o Padre Landell encontramos um desafio. O projeto Vozes do rádio, por princípio, reúne, como numa espécie de museu, as maiores vozes do radio (desde o radiojornalismo até a radionovela e radioteatro) contadas pelos próprios radialistas, pelas próprias personalidades. Precisávamos encontrar uma “voz” que pudesse narrar, veridicamente, um pouco sobre a trajetória de Padre Landell.

Quem gentilmente nos concedeu este privilégio foi Guilherme Landell de Moura, sobrinho do padre e umas das poucas pessoas vivas que chegaram a conhecer e a conviver com o gênio gaúcho. Aos 90 anos e aparentando uma lucidez e memória invejáveis, o sobrinho contou, em entrevista realizada nos estúdios da Famecos, no dia 22 de outubro de 2002, um pouco sobre o Padre Landell. Um depoimento, uma voz, que certamente veio a acrescentar um pouco de luz sobre um dos maiores inventores de todos os tempos. O surgimento de um gênio – da infância à adolescência

Roberto Landell de Moura, filho de Inácio José Ferreira de Moura e de Sara Mariana Landell de Moura, nasceu em 21 de janeiro de 1861, em Porto Alegre, na rua que é conhecida hoje como Marechal Floriano. O pai, filho de protestantes calvinistas foi o responsável pelos seus primeiros anos de educação, desenvolvidos mais tarde na escola pública do professor Hilário Ribeiro, no bairro Azenha. Os talentos do menino foram descobertos cedo, no Colégio Jesuíta de São Leopoldo.

Considerado pelos professores como ótimo aluno, desde pequeno manifestou gosto pela física e pela química. Também se interessava por biologia, filosofia, psicologia e, mais tarde, por parapsicologia. Certamente motivado por seu espírito inquieto, Padre Landell mudou-se para o Rio de Janeiro, capital federal na época, em 1879, com 18 anos. Uma das primeiras atitudes tomadas no efervescente Rio de Janeiro do período foi matricular-se na Escola

Politécnica e trabalhar como balconista em um armazém de secos e molhados para manter-se. Pelo fato de apresentar, segundo declarações de amigos, uma personalidade complexa, Padre Landell tanto parecia ser um grande estudioso, um “rato de biblioteca” , como um homem divertido, dado a conversas com amigos nas esquinas das ruas de Porto Alegre. Talvez por esse motivo não tenha sido tão grande a surpresa quando resolveu acompanhar o irmão, Guilherme, em uma viagem à Roma.

Todos os caminhos levam a Roma – o sacerdócio

Até hoje os biógrafos da vida do Padre Landell debatem-se com uma dúvida: será que ele embarcou para a Europa para ordenar-se sacerdote no Colégio Pio Americano, ou para estudar ciências físicas e químicas na Universidade Gregoriana? Para todos os efeitos, matriculou-se nas duas instituições e cursou-as ao mesmo tempo. O ano era 1878 e , junto com os estudos, Landell assumiu a vocação religiosa , ordenando-se padre em 1886.

Ele sempre foi considerado um sacerdote empenhado, um pregador da fé católica, não encontrando obstáculos para os deslocamentos, às vezes difíceis.

Definitivamente não parava em lugar nenhum, estava sempre ativo e realizou seu primeiro trabalho religioso no Brasil em 1886, quando retornou ao Rio de Janeiro, celebrando sua primeira missa na Igreja do Outeiro da Glória, na presença do imperador Dom Pedro II e sua corte (tempos depois Padre Landell acabou expondo suas idéias sobre a transmissão de imagens e de som para os presentes na ocasião). Mas, foi retornando a São Paulo, que encontrou o ponto crítico de sua carreira como padre e cientista. Na volta a Campinas a população da cidade estava empenhada em dar fim às pesquisas de Padre Landell. As pressões não foram fortes o suficiente para fazê-lo desistir daquilo em que acreditava.

O brilho de gênio – as invenções

Embora suas atividades tenham sido levadas para o lado do ocultismo, Padre Landell não admitia tons supersticiosos nas idéias e teorias que formulava. A gota d’água veio com a destruição de seus instrumentos na oficina em que trabalhava, quando já havia retornado da Itália e estava instalado em São Paulo, logo depois de, também, ter passado pelo Rio Grande do Sul. Quando viajou a Campinas – período em que já realizava experiências com a transmissão de som sem fios – um grupo de fanáticos, acreditando na heresia do Padre, invadiu a casa paroquial, a demoliu e o instigou, posteriormente, a abandonar a batina.

Na ocasião, jornais da época declararam que Padre Landell salientou: “Quero mostrar ao mundo que a Igreja Católica não é inimiga da ciência e do progresso humano. Indivíduos, na Igreja, podem neste ou naquele caso, haver se oposto a esta verdade; mas fizeram-no por cegueira. A verdadeira fé católica não nega.

Embora tenham me acusado de participar com o diabo e interrompido meus estudos pela destruição de meus aparelhos, hei de sempre afirmar: isto é assim e não pode ser de outro modo. Só agora compreendo Galileu exclamando E por si muove”.Uma fuga que não foi fuga – a tentativa de mostrar ao mundo seus equipamentos

Foi por estas e por outras que Padre Landell decidiu ir, em 1901, para os Estados Unidos, que não foi escolhido ao mero acaso. Era naquele país que se realizavam experimentos científicos avançados e onde estavam industriais dispostos a adquirir alguns de seus inventos. Patriota, Padre Landell repetia com ênfase que “meus inventos pertencem à nação brasileira e ao seu povo”. Tal como um Santos Dummont às avessas, o que trouxe da terra do Tio Sam quando retornou ao Brasil foram algumas patentes daquelas que são consideradas suas maiores descobertas. Chegando ao país, encaminhou uma carta ao presidente da república, Rodrigues Alves, solicitando dois navios para demonstrar seus inventos. Mais uma vez Padre Landell não foi reconhecido e chegou mesmo a ser considerado louco. As patentes registradas

Quando esteve nos Estados Unidos, Padre Landell conseguiu registrar quatro patentes:

A primeira, registrada em 9 de março de 1901, de número 3.279, dizia respeito a um equipamento destinado à transmissão fonética à distância, com fio ou sem fio, através do espaço, da terra e da água. No entanto, imbuído de um espírito que mesclava o lado teórico (devido, certamente, à sua formação humanista) ao lado prático na criação de seus inventos – o que poderíamos chamar hoje em dia de self-made man, aquele que se “constrói” a si próprio. Certo de seu valor como cientista, passou cerca de quatro meses em Washington onde obteve mais três patentes, pelo “Transmissor de ondas”, em 11 de outubro de 1904 e pelo equipamento que viria a ser o precursor do rádio, sob a patente de número 771.917. Padre Landell ainda pôde registrar, em 22 de novembro de 1904, sob o número 775.337, o “Telefone sem fio”, seguido do “Telégrafo sem fio”, que obteve o número 775.846.

Enquanto isso, Marconi…

De acordo com registros históricos, a companhia de Guglielmo Marconi , o inventor “oficial” do rádio, foi fundada no início do século XX. Tido como um homem pioneiro para a época ele soube aproveitar a oportunidade (chance que, por ter nascido em um país atrasado tecnologicamente na época, Padre Landell não teve) de viver na Europa, o famoso berço ocidental. Enquanto Padre Landell só obtinha negativas do governo brasileiro, Marconi recebeu a ajuda do governo italiano, embarcando em seguida para Londres. A capital inglesa iria servir de palco para as investidas de Marconi.

A História pródiga

O grande problema de Padre Landell foi não ter conseguido as patentes para seus inventos na época apropriada. O registro oficial só foi conseguido depois de Marconi, que registrara oficialmente seus aparelhos em 1893. Era tarde. Desmotivado, ele retornou para Porto Alegre em 1897, onde foi capelão no bairro Bom Fim e professor de História Universal no Seminário Episcopal. Anos depois, retornou a São Paulo. A volta para Porto Alegre ocorreu em 1908.

Na oportunidade, dirigiu a Paróquia do Menino Deus, a Paróquia da Glória e a Paróquia Nossa Senhora do Rosário, localizada no centro da capital.

Foi em Porto Alegre que ele vivenciou seus últimos anos de vida religiosa, sendo que em 1927 o Vaticano o elevou a Monsenhor. Dizem que foi em um dia chuvoso e frio, em 30 de junho de 1928, que Padre Landell, aos 67 anos, faleceu. Sofrendo de tuberculose, morreu num quarto do Hospital Beneficência Portuguesa, tendo, ao redor, seus familiares e fiéis. Seus restos mortais permaneceram até 2002 no Cemitério dos Padres, próximo à Gruta de Nossa Senhora de Lourdes. Em 13 de julho de 2002 foi feita a transferência dos restos para um depósito definitivo, na Igreja Nossa Senhora do Rosário, na rua Vigário José Inácio, em Porto Alegre..

Extrapolando as fronteiras do rádio

Hoje é sabido que Padre Landell foi um homem à frente de seu tempo, um inventor, um descobridor. Tanto que suas “habilidades” extrapolaram o estudo sobre a transmissão de ondas radiofônicas. O pequeno grande gênio gaúcho também desenvolveu estudos sobre a a fotografia da aura, escrevendo um verdadeiro tratado sobre os efeitos eletroluminescentes da aura humana e sua gravação em filme fotográfico. Mas somente em 1939 esse efeito foi conhecido, na Rússia, sob a denominação de efeito Kirlian.O rádio no mundo

Enquanto as discussões sobre a invenção do rádio ficavam em torno de Marconi e Padre Landell, no mundo a efervescência a respeito de outras formas de comunicação ganhavam contornos mais sérios.

Alguns homens que fizeram a história da mídia pesquisavam sobre as ondas eletromagnéticas e a difusão sonora em ondas:foram os antepassados daquilo que viria a ser o rádio. Em 1885, por exemplo, Heinrich Hertz, um físico alemão, comprovou a existência de energia em formas de ondas eletromagnéticas (teoria prevista anteriormente por Maxwell). Hertz construiu um aparelho formado por duas varas metálicas, colocadas no mesmo sentido e separadas. Essas varinhas, unidas aos pólos de um gerador de alta tensão, carregava um condensador que era alterado por correntes de curta duração e que variavam rapidamente.

As ondas descobertas foram batizadas de “Hertzianas” (que viajam na mesma velocidade da luz) em homenagem ao seu inventor. Já em 1908, depois de, em 1903 Marconi ter enviado uma mensagem entre dois oceanos, físicos e \s e todo o mundo esforçaram-se para aperfeiçoar o invento. Foram Joseph John Thomson, Thomas Alva Edson, Lee de Forest, John Ambrose Fleming e Erving Langmuir os construtores das primeiras válvulas.

Roberto Landell Moura – Cientista

Nossas atenções neste momento se voltam para um gaúcho nascido em Porto Alegre em 21 de janeiro de 1861, ainda durante o Império no Brasil, seu nome Roberto Landell de Moura.

Landell de Moura era filho de brasileiros que descendiam de portugueses e de escoceses.

Existem publicados diversos trabalhos e artigos sobre e trajetória de vida e de descobertas de Roberto Landell, destaca-se neste texto, no entanto, duas das biografias sobre o inventor, a de Hamilton Almeida (2007) e a de Ernani Fornari (1984). Pelas informações elencadas pelos dois biógrafos sabe-se que Landell desde cedo foi dedicado aos estudos, sendo, assim como a maioria dos jovens de sua época, alfabetizado pelo pai. Landell freqüentou a Escola Pública do Professor Hilário Ribeiro, no bairro da Azenha e, a seguir, entrou para o Colégio do Professor Fernando Ferreira Gomes. Com 11 anos, em 1872, estudou no Colégio Jesuíta de Nossa Senhora da Conceição, de São Leopoldo-RS, onde concluiu o curso de Humanidades.

Após este período seguiu para o Rio de Janeiro, onde foi cursar a Escola Politécnica. Em companhia do seu irmão Guilherme, seguiu para Roma, onde ambos estudaram direito canônico. Em 22 de março de 1878 matriculou-se no Colégio Pio Americano, cursando simultaneamente Física e Química na Universidade Gregoriana. Em 28 de outubro de 1886 foi ordenado Padre.

Segundo a análise de César Augusto Azevedo dos Santos, não existe na produção sobre Padre Landell precisão com relação às datas de seus deslocamentos do Rio Grande do Sul para a capital, Rio de Janeiro, mas Azevedo dos Santos destaca que depois de sua transferência para Roma com seu irmão, Landell se defrontou com um processo de mudanças sociais e econômicas bastante diferentes da que desfrutava em São Leopoldo.

O autor afirma que:

dotado de uma consistente formação cultural, Landell de Moura, ao sair de sua cidade natal – que refletia um contexto de baixa urbanização e desenvolvimento tecnológico para instalar se em Roma, encontrou campo fértil para expandir sua curiosidade intelectual a partir da convivência com uma nova realidade cultural, social e econômica. Foi em Roma que ele concebeu as primeiras idéias acerca de sua teoria da unidade das forças físicas e a harmonia do universo.

Além dos estudos Landell também se destacou no exercício da fé cristã e em fevereiro de 1887 foi nomeado capelão da Igreja do Bomfim e professor de História Universal no Seminário Episcopal de Porto Alegre. Em 1891, foi conduzido a vigário, por um ano, na cidade de Uruguaiana-RS.

Em 1892, foi transferido para o Estado de São Paulo, onde foi vigário em Santos, Campinas e Santana e capelão do Colégio Santana. Em julho de 1901 partiu para os Estados Unidos da América do Norte. Retornou a São Paulo em 1905, para dirigir as Paróquias de Botucatu e Mogi das Cruzes. Em 1908 voltou ao Rio Grande do Sul, onde dirigiu a Paróquia do Menino Deus e, em 1916, a Paróquia de Nossa Senhora do Rosário.

Mas, para retomar a discussão sobre memória, outros aspectos da vida do padre Landell parecem interessar neste momento. Landell, além de sacerdote, foi um audacioso empreendedor do desenvolvimento técnico no Brasil e, é justamente sobre esta sua feição de desbravador do conhecimento científico que este texto pretende se debruçar a partir daqui.

Percorrendo a história do desenvolvimento técnico empreendido por Padre Landell, encontram-se, dentre outros avanços, a descoberta do telefone sem fio, que evoluiria para o rádio que hoje, tornou – se mundialmente conhecido, e, faz parte do cotidiano da maior parte dos cidadãos.

Diante do exposto, fica evidente a necessidade de se recuperar, ainda que de forma tímida, a memória deste brasileiro que já em 1893, muito antes da primeira experiência realizada por Guglielmo Marconi, realizou em São Paulo, do alto da Av. Paulista para o alto de Sant’Ana, as primeiras transmissões de telefonia sem fio, surpreendentemente com aparelhos de sua invenção.

O interessante de recuperar a trajetória de Landell de Moura, enquanto cientista é demonstrar que suas obras são dignas de revisões e estudos mais profundos que ainda não foram desenvolvidos por historiadores brasileiros, dedicados ao estudo da ciência e da tecnologia. Ao mesmo tempo, Landell não é reconhecido pela sociedade brasileira como o pioneiro destes feitos nas telecomunicações, não recebendo desta forma o devido reconhecimento pelo seu trabalho científico.

O recorte que se segue do Jornal do Comércio apresenta um chamado para que a sociedade carioca fosse contemplar a invenção do cientista e sacerdote Landell

Esta experiência foi a primeira radiotransmissão da qual se tem notícia na história, pois como já foi dito anteriormente, Marconi – a quem se convencionou atribuir a patente deste feito – iniciou as experiências com seu telégrafo sem fio um ano mais tarde. Em virtude do brilhante êxito de suas experiências inéditas, em nível mundial, Landell obteve uma patente brasileira para um “aparelho destinado à transmissão phonética à distância, com fio ou sem fio, através do espaço, da terra e do elemento aquoso”, patente nº. 3.279, no dia 09 de março de 1901.

Deve-se levar também em conta que o Padre Landell desenvolveu seus experimentos, ao que se tem notícia, sozinho, o que pode ser explicado tomando-se o fator histórico de que a educação no Brasil em fins do século XIX e início do século XX continuava muito restrita, além das representações culturais que faziam parte do imaginário da sociedade brasileira, com uma vertente forte da religiosidade católica, que não enxergava com bons olhos a atuação de um sacerdote no campo da ciência, visto que fé e ciência sempre foram encarados como antagônicos. Acabando assim, por haver resistência por parte da sociedade, a suas propostas e seus experimentos. As mudanças e descobertas da ciência européia eram, em grande medida, desconhecidas, para a maior parte da população brasileira deste período.

Padre Landell de Moura, no entanto, destoando da maioria dos clérigos católicos, dedicava-se, além do misticismo da fé, ao desenvolvimento da pesquisa cientifica, enfrentando as barreiras naturais de sua época e de sua função religiosa, mas por ter em sua personalidade, a ousadia de um gênio, teorizava ao mesmo tempo em que desenvolvia o lado prático, necessário a construção de seus aparelhos.

Roberto Landell era desta forma, o cientista brasileiro deste período. Uma época marcada pelo início da República. Suas primeiras experiências no ano de 1893 foram paralelas a uma época na qual a nação enfrentava mudanças sociais, sendo marcada por uma política econômica baseada na proteção do café, de forma que as disputas em torno do poder eram protagonizadas por sujeitos que desfrutavam da concentração da riqueza e do prestígio.

A cultura educacional do Brasil era ainda, apesar de um relativo crescimento durante o Império, baseada na valorização do ensino nas escolas estrangeiras, de modo que só os filhos de famílias abastadas poderiam desfrutar de uma educação mais avançada, aos filhos dos pobres não eram dadas estas oportunidades, o Estado brasileiro não se comprometia com um projeto educacional de vulto. De modo que uma proposta como a de Padre Landell não encontrava respaldo na estrutura social de sua nação para se concretizar e alcançar reconhecimento mundial. Coisa que acontecia com grande parte dos cientistas internacionais, sobretudo os europeus.

Consciente de que suas invenções tinham real valor, e sem apoio do governo brasileiro que não estava sensível a tais transformações científicas, o Padre Landell partiu para os Estados Unidos da América, quatro meses depois de seus primeiros testes, com o intuito de patentear os seus aparelhos. Nos Estados Unidos, instalou o seu gabinete de física na cidade de Nova York, onde residiu por três anos.

Em 04 de Outubro de 1901, deu entrada no “The Patent Office at Washington” pedindo privilégio para as suas invenções o que foi protocolado sob The United States Patent Office Building, número 77576. Este primeiro requerimento seria desmembrado posteriormente, em mais uma invenção, protocolada sob o número 89976, em 16 de janeiro de 1902. A 9 de fevereiro de 1903, Padre Landell requeria nova patente, protocolada sob número 142440. Durante a sua permanência nos Estados Unidos, realizou alterações nos seus projetos de invenções para atender as exigências do departamento de patentes, que lhe eram comunicadas pelos seus advogados que acompanhavam o processo.

Um artigo disponível no site www.aminharadio.com.br expõe alguns relatos de jornais dos Estados Unidos sobre Landell de Moura, quando da sua estadia naquele país.

O site traz que:

Segundo o jornal New York Herald, 12 de Outubro de 1902 – a telegrafia sem fio já era um fato aceite pelos cientistas e pelo público. A telefonia sem fio, entretanto pairava no ar. E citava que cientistas, na Inglaterra e na Alemanha, estavam interessados no assunto. “As várias tentativas públicas nunca tiveram um líder que as conduzissem a finalidades positivas”, registrava o jornal. E dizia: “Por entre os cientistas, o brasileiro Padre Landell de Moura é muito pouco conhecido. Poucos deles têm dado atenção aos seus títulos para ser o pioneiro nesse ramo de investigação elétrica. Brightom, na Inglaterra e Ruhmer, na Alemanha, empenharam o seu saber, recentemente, em experimentos de telefonia sem fio. Mas, antes de Brighton e Ruhmer, Padre Landell, após anos de experimentação, conseguiu obter uma patente brasileira para a sua invenção, a que chamou de Gouradphone” .

O jornal acima citado revelou também que Landell recebeu a “declaração de que as suas teorias eram tão revolucionárias que a patente (nos EUA) não poderia ser concedida sem a apresentação de modelos para fazer demonstrações das suas verdades. Esses modelos ele apresentou mais tarde, assim que teve condições de fazê-lo”.

Nos Estados Unidos, Landell acabou adoecendo, tendo ido a Cuba para tratar de uma pneumonia. Além disso, Landell contraiu dívidas nos Estados Unidos que o levaram a dever a um amigo, Daniel Tamagno, a quantia de 4.000 dólares que só conseguiu pagar quando já estava de volta ao Brasil. Consta que foi proibido de oficiar, por razões ocultas. Este foi um duro golpe, um duríssimo sacrifício, para quem a religião estava em primeiro lugar.

Ainda a partir de informações colhidas nos site www.aminharadio.com, Monsenhor Vicente Lustosa, em viajem aos Estados Unidos, encontrou-se com Landell. Após este encontro o monsenhor teria relatado, em crônica escrita a 7 de maio de 1904, em Nova York, e publicada a 19 de junho no Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, a situação de Landell nos Estados Unidos.

A respeito desta crônica, o mesmo artigo ainda relata site relata o que o Padre:

“montou um modesto gabinete e conseguiu descobrir novas e interessantes aplicações de eletricidade” (sic). E mais: “Os jornais de Nova York já se ocuparam honrosamente de seu nome, publicando o seu retrato e diplomando-o de sábio. E distintos engenheiros, em sinal de apreço, e consideração, ofereceram-lhe um jantar”. (Segundo informações colhidas com Antonio Carvalho Landell de Moura, sobrinho do padre-cientista, Landell esteve numa reunião com inventores nos Estados Unidos, onde falou das dificuldades para a projeção do seu invento no Brasil. Falou, inclusive que talvez desistisse de tudo). Ao terminar sua referência, Lustosa dizia: “O padre Landell está inteiramente abandonado de seus patrícios, vive aqui com parcos recursos e sem poder alargar a esfera de sua atividade (sic) nos seus inventos e aplicações. Uma companhia exploradora já quis comprar, por preço insignificante, os seus privilégios para rotular tudo como coisas americanas. O Americano é muito cioso do seu gênio inventivo”.

Ultrapassadas as dificuldades, foram outorgadas a Landell as patentes para um Transmissor de Ondas sob o número 771917, em 11 de outubro de 1904, para um Telefone sem Fio, número 775337, em 22 de novembro de 1904, e para um Telégrafo sem Fio, número 775846, na mesma data.

Em 1º de março de 1905, regressando para o Brasil Padre Landell obteve o reconhecimento de suas contribuições para o progresso da técnica, pela Marinha de Guerra do Brasil. Nestas experiências, Padre Landell utilizou as “obras de suas mãos”, ou seja, os instrumentos que ele já houvera patenteado, tanto no Brasil em 1901, quando iniciou suas experiências, quanto nos EUA, já em 1904. Esta oportunidade concedida ao Padre Landell pela Marinha de Guerra brasileira, tornou-a pioneira na radiotelegrafia permanente, em nível nacional.

Era intenção de Landell voltar aos Estados Unidos para continuar o aperfeiçoamento dos seus aparelhos, porém, foi-lhe desta vez negado o pedido para viajar.

Landell passou então a ser dedicar somente à vida religiosa. Em 30 de Junho de 1928, no Hospital da Beneficência Portuguesa em Porto Alegre faleceu vitimado por uma tuberculose. Os seus restos mortais foram transferidos para a Igreja do Rosário em Porto Alegre, onde o padre foi vigário de 1915 a 1928.

No entanto, não foi reservado ao Padre Landell as honras e méritos merecidos, por questões históricas, seu nome ficou sufocado em favor de outros nomes, especialmente o de norte-americanos, que utilizando poder político, econômico e de manipulação da memória e dos discursos sobre o passado, figura como arauto das telecomunicações sem fio, o nome do italiano Guglielmo Marconi. As questões históricas apontadas anteriormente para uma possível justificativa das limitações que Landell enfrentou, perpassam a ausência de apoio oficial, ou seja, do governo brasileiro a suas pesquisas e a seus inventos. Não é por acaso que as honras ficaram com o cientista Marconi que realizou proezas semelhantes às de Landell, ao que se sabe anos depois do padre brasileiro.

Fonte: www.radioantigo.com.br/www.pucrs.br/iecom.dee.ufcg.edu.br

 

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