Lampião

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Nascimento: 4 de junho de 1898, Serra Talhada, Pernambuco.

Falecimento: 28 de julho de 1938, Poço Redondo, Sergipe.

Lampião – História

Virgulino Ferreira da Silva foi mais uma vitima da má distribuição de renda e das injustiças cometidas no sertão nordestino brasileiro. Ainda, muito cedo conviveu com os desmandos dos coronéis que tinham o habito de confiscarem as terras alheias.

Lampião foi o apelido do famoso bandido do Nordeste brasileiro mais conhecido do Brasil chamado de Virgulino Ferreira da Silva.

Ele tinha sob seu comando cerca de 200 bandidos, que mostraram a morte, pilhagem e terror em todo o nordeste (Bahia, Pernambuco, Ceará, etc.), durante duas décadas.

Em 1938, Lampião e seu bando foram mortos em uma emboscada.

Lampião tornou-se um mito para muitos sertanejos, para quem o cangaço representava uma alternativa de ascensão social, o personagem criado em cima de sua pessoa está ligado aos interesses dos poderosos que temiam pela reforma agrária e pela distribuição de seus bens aos pobres de riqueza e de espírito.

O Perfil de Lampião

Em 04 de junho de 1898 nasceu Virgulino Ferreira da Silva, na fazenda Ingazeira de propriedade de seus pais, no Vale do Pajeú, em Pernambuco, terceiro filho de José Ferreira da Silva e D. Maria Lopes.

Seus pais casaram no dia 13 de outubro de 1894, na Matriz do Bom Jesus dos Aflitos, em Floresta do Navio. Depois de Virgulino, o casal teve mais seis filhos, quase que ano a ano.

Foram eles: Virtuosa, João, Angélica, Maria (Mocinha), Ezequiel e Anália.

Virgulino foi batizado aos três meses de nascido, na capela do povoado de São Francisco, sendo seus padrinhos os avós maternos: Manuel Pedro Lopes e D. Maria JacosaVieira.

A cerimônia foi oficiada por Padre Quincas, que profetizou:

– “Virgulino – explicou aopadre – vem de vírgula, quer dizer, pausa, parada.”

E arregalando os olhos:

– “Quem sabe, osertão inteiro e talvez o mundo vão parar de admiração por ele”. Quando menino viveu intensamente sua infância, na região que chamava carinhosamente de “Meu sertão sorridente!” Brincava nos cerrados, montava animais, pescava e nadava nas águas do riacho, empinava papagaio, soltava pião e tudo o mais que fazia parte dos folguedos de seu tempo de menino.

A esperteza do menino o fez cair nas predileções de sua avó e madrinha que aos cinco anos o levou para a sua casa, a 150 metros da casa paterna. Ainda menino já trabalhava, carrregando água, enchiqueirando bodes, dando comida e água aos animais da fazenda, pilando milho para fazer xerém e outras atividades compatíveis com sua idade.

Mais tarde, jovem robusto passou aos trabalhos de gente grande: cultivava algodão, milho, feijão de corda, abóbora, melancia, cuidava da criação degado, e dos animais. Posteriormente tornou-se vaqueiro e feirante.

A vida amorosa era como a de qualquer jovem de sua idade, e se não houvessem optado pela vida de cangaceiro, certamente teriam constituído sua família e tido um larestável como foi o de seus familiares.

Até entrar para o cangaço, Virgulino era uma pessoa comuns, pacífica, que vivia do trabalho (trabalhavam muito como qualquer sertanejo) na fazenda e na feira onde ia vender suas mercadorias. Uma das versões a respeito da origem de seu apelido é que, num dos cerrados tiroteios havidos durante um assalto noturno, à mercê dos continuados tiros o cano de seu rifle ficou em brasa, lembrando a luz mortiça de um Lampião .

Como o fato se repetiu, ficou conhecido como o Homem do Lampião, ou simplesmente Lampião.

Lampião o Homem que Conhecia muito pouco sobre as letras.

No lugar onde nasceu não havia escola e as crianças aprendiam com os mestres-escola, que ensinavam mediante contrato e hospedagem, durante períodos de três a quatro meses nas fazendas. Tempo suficiente para que aprendesse as primeiras letras e pudesse, pelo menos, escrever e responder cartas, o que já era mais instrução do que muitos conseguiam durante toda sua vida, naquelas circunstâncias.

Dos nove irmãos, Virgulino foium dos poucos a se interessar pelas letras. Seu aprendizado juntamente com outros meninos ocorreu graças aos professores Justino Nenéu e Domingos Soriano Lopes.

O cotidiano de Virgulino Ferreira da Silva

O sustento da família de Lampião vinha do criatório e da roça em que trabalhavamseu pai e os irmãos mais velhos, e da almocrevaria. O trabalho de almocreve estava mais acargo de Livino e de Virgolino, e consistia em transportar mercadorias de terceiros no lombode uma tropa de burros de propriedade da família.

Lampião desde criança demonstrou-se excelente vaqueiro. Cuidava do gadobovino, trabalhava com artesanato de couro e conduzia tropas de burros para comercializar na região da caatinga, lugar muito quente, com poucas chuvas e vegetação rala eespinhosa, no alto sertão de Pernambuco.

Esse conhecimento precoce dos caminhos do sertão foi, sem dúvida, muito valioso para o cangaceiro Lampião, alguns anos mais tarde.

Na região em que ele vivia era freqüente, também, os atritos entre famílias tradicionais devido às questões da posse das terras, às invasões de animais e às brigas pelo comando político da região.

Num desses confrontos, o pai de Lampião foi assassinado.

Para vingar a morte do pai, entre outros motivos, Lampião entra para o cangaço, por voltade 1920, ele e mais dois irmãos resolveram entrar para o bando do cangaceiro Sinhô Pereira, cujos integrantes variavam entre 30 e 100 membros, e passou a atacar fazendas epequenas cidades em cinco estados do Brasil, quase sempre a pé e às vezes montados a cavalo durante 20 anos, de 1918 a 1938.

Depois de participar do bando de Sinhô Pereira, durante um bom tempo, a maior parte dele agindo como braço direito do chefe, Lampião estava apto a dirigir seu próprio grupo.

O próprio comandante fizera a escolha, indicando-o para continuar em seu lugar, pois estava sendo duramente perseguido pela polícia. Essa preferência já havia ficado clara,quando o escolhera para chefiar seu bando em várias incursões anteriores.

E foi assim, entronizado pelo cangaceiro que respeitava e admirava, que Lampião começou a escrever sua própria história, já com seus 24 anos.

Os grupos e subgrupos formados pelos cangaceiros existiam em grande quantidade. Era habitual que depois de participar de um agrupamento durante algum tempo o indivíduo se sentisse apto a ter seu próprio bando.

No momento em que achava queestava preparado para ter sua própria organização ele se dirigia a seu líder e expunha seus planos. Geralmente não havia nenhum problema. O mais comum era encontrar respaldo em seu chefe que, por sua vez, sabia que, no futuro, se necessário, poderia contar com a ajuda desse seu ex-subalterno.

Grande estrategista militar, Lampião sempre saía vencedor nas lutas com a polícia, pois atacava sempre de surpresa e fugia para esconderijos no meio da caatinga, onde acampavam por vários dias até o próximo ataque.

Vários coronéis do sertão ofereciam armas, munição e abrigo em suas terras (“coiteiros”) ao cangaceiro, em troca de ajuda para sua segurança e na luta contra inimigos,assim como participação no butim dos saques.

Apesar de perseguido, Lampião e seu bando foram convocados para combater a Coluna Prestes, marcha de militares rebelados. O governo se juntou ao cangaceiro em1926, lhe forneceu fardas e fuzis automáticos.

Em 1927, após uma malograda tentativa de invadir a cidade de Mossoró, no RioGrande do Norte, Lampião e seu bando fugiram para a região que fica entre os estados deSergipe, Alagoas, Pernambuco e Bahia.

O objetivo era usar, a favor do grupo, a legislaçãoda época, que proibia a polícia de um estado de agir além de suas fronteiras.

Assim, Lampião circulava pelos quatro estados, de acordo com a aproximação das forças policiais.Numa dessas fugas, foi para o Raso da Catarina, na Bahia, região onde a caatinga é uma das mais secas e inóspitas do Brasil. Em suas andanças, chegou ao povoado deSanta Brígida, onde vivia Maria Bonita, a primeira mulher a fazer parte de um grupo de cangaceiros.

A novidade abriu espaço para que outras mulheres fossem aceitas no bando e outros casais surgiram, como Corisco e Dadá e Zé Sereno e Sila.

Mas nenhum tornou-setão célebre quanto Lampião e Maria Bonita. Dessa união nasceu Expedita Ferreira, filha única do lendário casal.Os ataques do rei do cangaço às fazendas de cana-de-açúcar levaram produtores e governos estaduais a investir em grupos militares e para militares.

A situação chegou a talponto que, em agosto de 1930, o Governo da Bahia espalhou um cartaz oferecendo uma recompensa de 50 contos de réis para quem entregasse, “de qualquer modo, o famigerado bandido”. “Seria algo como 200 mil reais hoje em dia”, estima o historiador Frederico Pernambucano de Mello.No entanto, seus atos de crueldade lhe valeram a alcunha de “Rei do Cangaço”. Para matar os inimigos, enfiava longos punhais entre a clavícula e o pescoço.

Seu bando seqüestrava crianças, botava fogo nas fazendas, exterminava rebanhos de gado, estuprava coletivamente, torturava, marcava o rosto de mulheres com ferro quente. Antes de fuzilar um de seus próprios homens, obrigou-o a comer um quilo de sal. Assassinou um prisioneiro na frente da mulher, que implorava perdão. Lampião arrancou olhos, cortou orelhas e línguas, sem a menor piedade. Perseguido, viu três de seus irmãos morrerem em combate e foi ferido seis vezes.

Os dezoito anos no cangaço forjaram um homem de personalidade forte e temidoentre todos, mas também trouxeram riqueza a Lampião .

No momento da sua morte, levava consigo 5 quilos de ouro e uma quantia em dinheiro equivalente a 600 mil reais. “Apenas no chapéu, ele ostentava 70 peças de ouro puro”, ressalta Frederico de Mello.

Foi também graças ao cangaço que conheceu seu grande amor: Maria Bonita.

Foram necessários oito anos de perseguições e confrontos pela caatinga até que Lampião e seu bando fossem mortos. Apesar de suas atrocidades, era religioso e trazia sempre no bornal um rosário e uma imagem de Nossa Senhora da Conceição.

Em 28 de julho de 1938, no município de Poço Redondo, Sergipe, na fazenda Angico, Lampião foi morto por um grupamento da polícia militar alagoana chefiado pelo tenente João Bezerra, juntamente com dez de seus cangaceiros, entre os quais se encontrava sua companheira, Maria Bonita.

Foram todos decapitados e suas cabeças, levadas como comprovante de suas mortes, foram expostas nas escadarias da igreja matriz de Santana do Ipanema.

De lá foram conduzidas a Maceió e depois para Salvador. Foram mantidas, até a década de 1970, como “objetos de pesquisa científica” no Instituto Médico Legal de Salvador (Instituto Nina Rodrigues).

A morte de Lampião, sempre foi um assunto que gerou controvérsias. Sabe-se que seu esconderijo foi informado pelo coiteiro Pedro Cândido, que foi morto misteriosamente no ano de 1940. A tropa que foi responsável pela degola dos cangaceiros era composta de 48 homens. Mas o mistério está em como podem ter sido abatidos tão ferozes cangaceiros em tão pouco tempo e sem terem oferecido quase nenhuma resistência.

Admite-se para tanto, a hipótese inclusive de envenenamento anterior. Como Pedro cândido era um homem de inteira confiança de Lampião, ele poderia ter levado algumas garrafas de bebidas envenenadas, sem terem suas tampas sido violadas. Algumas seringas de injeção fariam brilhantemente este trabalho.

Lampião – Biografia

Lampião
Lampião o Rei do Cangaço

Existe uma grande polêmica em torno desse personagem fantástico que foi Lampião . Quem foi? Um bandido sanguinário, assassino e perverso? Um homem revoltado? Um justiceiro? Herói? Como conseguiu sobreviver tanto tempo lutando contra sete estados com poucos homens?

Na realidade muitas histórias se contam sobre ele, sua vida e suas andanças. Sanfoneiro, repentista, cantador, poeta, místico, muitas vezes juiz outras enfermeiro e até dentista, Virgulino gozou do respeito e da admiração da maioria da população pobre e oprimida do Nordeste. Odiando a injustiça e o poder sufocante do coronelismo, imperante na região, Lampião era a referência do povo contra os poderosos. Bandeou-se para o cangaço, por ser essa a única opção daqueles que, vítimas da perseguição dos poderosos coronéis, queriam lutar ou vingar-se de alguma forma.

Homem de fibra, coragem, inteligência superior, grande estrategista militar, exímio atirador e disposto a fazer justiça com as próprias mãos, semeou o terror contra seus inimigos em suas andanças pelos estados de: Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Ceará, Rio Grande do Norte, Bahia e Sergipe.

Mulato de aproximadamente 1,70, cego de um olho e muito vaidoso, ostentava em seus dedos anéis e no pescoço um lenço.

Apesar das agruras da vida de cangaceiro, conseguia ser alegre, festeiro, protetor de sua família perseguida, um homem de fé e esperança .

Pelas inúmeras pessoas que matou e feriu, angariou o ódio de muitos e até de familiares, que, por sua causa, foram mais perseguidos, muitos mortos ou com suas vidas arrasadas pelas volantes da polícia.

Lampião
Capitão Virgulino

Lampião

Em 04 de junho de 1898 nasceu Virgulino Ferreira da Silva, na fazenda Ingazeira de propriedade de seus pais, no Vale do Pajeú, em Pernambuco, terceiro filho de José Ferreira da Silva e D. Maria Lopes. Seus pais casaram no dia 13 de outubro de 1894, na Matriz do Bom Jesus dos Aflitos, em Floresta do Navio, tendo seu primeiro filho em agosto de 1895, que chamaram Antônio em homenagem ao avô paterno. O segundo filho nasceu dia 07 de novembro de 1896, e foi chamado de Livino.

Depois de Virgulino, o casal teve mais seis filhos, quase que ano a ano que foram: Virtuosa, João, Angélica, Maria (Mocinha), Ezequiel e Anália.

Virgulino foi batizado aos três meses de nascido, na capela do povoado de São Francisco, sendo seus padrinhos os avós maternos: Manuel Pedro Lopes e D. Maria Jacosa Vieira.

A cerimônia foi oficiada por Padre Quincas, que profetizou:

– “Virgulino – explicou o padre – vem de vírgula, quer dizer, pausa, parada.”

E arregalando os olhos:

– “Quem sabe, o sertão inteiro e talvez o mundo vão parar de admiração por ele”.

Quando menino viveu intensamente sua infância, na região que chamava carinhosamente de meu sertão sorridente! Bricava nos cerrados, montava animais, pescava e nadava nas águas do riacho, empinava papagaio, soltava pião e tudo o mais que fazia parte dos folguedos de seu tempo de menino.

A esperteza do menino o fez cair nas predileções de sua avó e madrinha que aos cinco anos o levou para a sua casa, a 150 metros da casa paterna.

À influência educativa dos pais, que nunca cessou, acrescentou-se a desta senhora – a “Mulher Rendeira” – a quem o menino admirava quando ela, com incrível rapidez das mãos, trocando e batendo os bilros na almofada e mudando os espinhos e furos, tecia rendas e bicos de fino lavor

A primeira comunhão de Virgulino foi aos sete anos na capela de São Francisco, em 1905, juntamente com os irmãos Antônio (dez anos) e Livino (nove anos). A crisma aconteceu em 1912, aos quatorze anos e foi celebrada pelo recém empossado primeiro bispo D. Augusto Álvaro da Silva, sendo padrinho o Padre Manuel Firmino, vigário de Mata Grande, em Alagoas.

No lugar onde nasceu não havia escola e as crianças aprendiam com os mestres-escola , que ensinavam mediante contrato e hospedagem, durante períodos de três a quatro meses nas fazendas.Seu aprendizado com foi os professores Justino Nenéu e Domingos Soriano Lopes.

Ainda menino já trabalhava, carrregando água, enchiqueirando bodes, dando comida e água aos animais da fazenda, pilando milho para fazer xerém e outras atividades compatíveis com sua idade.

Mais tarde, jovem, robusto passou aos trabalhos de gente grande: cultivava algodão, milho, feijão de corda, abóbora, melancia, cuidava da criação de gado, e dos animais. Posteriormente tornou-se vaqueiro e feirante .

Seu alistamento eleitoral e de seus dois irmãos Antônio e Livino foi feito em 1915 por Metódio Godoi, apesar de não terem ainda os 21 anos exigidos por lei.

Sabe-se que votaram três vezes: em 1915, 1916 e 1919.

A vida amorosa dos três irmãos era como a de qualquer jovem de sua idade, e se não houvessem optado pela vida de cangaceiro, certamente teriam cada um constituído sua família e tido um lar estável como foi o de seus familiares. Até entrar para o cancaço, Virgulino e seus irmãos eram pessoas comuns, pacíficos sertanejos, que viviam do trabalho (trabalhavam muito como qualquer sertanejo) na fazenda e na feira onde iam vender suas mercadorias.

Virgulino Ferreira da Silva na certa seria sempre um homem comum, se fatos acontecidos com ele e sua família (que narraremos na página “Porque Virgulino entrou para o cangaço”) não o tivessem praticamente obrigado a optar pelo cangaço como saída para realizar sua vingança. Viveu no cangaço durante anos, vindo a falecer numa emboscada no dia, na fazenda Angicos, no estado de Alagoas.

A Mulher Rendeira

Virgulino, por ser muito esperto, atraiu a predileção de sua avó e madrinha de batismo, D. Maria Jacosa. Quando o menino completou cinco anos de idade, levou-o para morar em sua casa.

O menino espantava-se com a rapidez com que sua avó trocava e batia os bilros na almofada, mudando os espinhos nos furos, tecendo rendas e bicos de refinado gosto.

Virgulino foi educado tanto pelos pais quanto pela avó, a mulher rendeira.

A casa da avó ficava a cento e cinquenta metros da casa paterna e, o menino brincava no terreiro das duas casas.Mais tarde, em homenagem a sua avó, comporia a música que serviria de hino de guerra para suas andanças: “mulher rendeira”.

“Houve grande empenho em destruir a memória de Lampião .

Primeiro, arrasaram-lhe na Ingazeira a casa paterna e natal e a dos avós maternos, deixando unicamente restos dos torrões dos alicerces.” (Frederico Bezerra Maciel)

Porque Lampião era chamado de Capitão?

Muito curiosa a história de sua patente de oficial do exército, obtida do governo federal.

No início do ano de 1926, a Coluna Prestes percorria o Nordeste em sua peregrinação revolucionária, trazendo apreensão aos governantes e colocando em risco a segurança da nação segundo avaliação do governo central.

Em meados de janeiro, estavam prontos para entrar no Ceará. A tarefa de organizar a defesa do estado coube, em parte, a Floro Bartolomeu, de Juazeiro. A influência de Floro, perante todo o país, devia-se ao seu estreito relacionamento com o Padre Cícero Romão. Por sugestão do Padre Cícero, só havia em todo Nodeste uma pessoa que poderia combater a Coluna e sair-se bem da empreitada. Indicou então o nome de Virgulino.

Floro reuniu uma força de combate, composta, em sua maioria, de jagunços do Cariri. Os Batalhões Patrióticos, como foram chamados, ganharam armas dos depósitos do exército, porque tinham apoio material e financeiro do governo federal.

A tropa, organizada, foi levada por Floro a Campos Sales, no Ceará, onde se esperava a invasão. Floro mandou uma carta a Virgulino, convidando-o a fazer parte do batalhão.

O convite foi aceito nos primeiros dias de março, quando a Coluna Prestes já estava na Bahia. Em virtude da doença e posterior morte de Floro, em 8 de março, coube ao Padre Cícero a recepção a Lampião .

Lampião chegou à vizinhança de Juazeiro no princípio de março de l926. Só atendeu ao convite porque reconheceu a assinatura de Cícero no documento.

Acompanhado por um oficial dos Batalhões Patrióticos, entrou na comarca de Juazeiro em 03 de março, tendo os cangaceiros uma conduta exemplar.

Prometeram a ele, o seu perdão e o comando de um dos destacamentos , caso aceitasse contaber os revoltosos. Lampião e seu bando, entrou na cidade no dia 04 de março. Na audiência com o Padre Cícero, foi lavrado um documento, assinato por Pedro de Albuquerque Uchôa, inspetor agrícola do Ministério da Agricultura, nomeando Virgulino capitão dos Batalhões Patrióticos. Esse documento dava livre trânsito a Lampião e seu grupo, de estado a estado, para combater a coluna.

Receberam uniformes, armamentos e munição para o combate.

Lampião já tinha pensado muitas vezes em deixar o cangaço. Sem dúvida, aquela era uma grande oportunidade, proporcionada pelo seu protetor e padrinho Padre Cícero. Estava disposto a cumprir sua parte no trato e todas as promessas feitas ao Padre.

Daquele momento em diante, passou a chamar a si próprio de “Capitão Virgulino”.

Maria Bonita

Lampião
Lampião e Maria Bonita

Até 1930, ou início de 31, não se tem registro da existência da mulher no Cangaço.

Aparentemente, Lampião foi o primeiro a arranjar uma companheira. Maria Déia, que ficou conhecida posteriormente como Maria Bonita, foi a companheira de Virgulino até a morte de ambos. Maria Bonita chamava-se Dona Maria Neném, e era casada com José Nenem. Foi criada na pequena fazenda, de propriedade de seu pai, em Jeremoabo/Bahia e vivia em companhia do marido na cidadezinha de Santa Brígida. Maria não tinha bom relacionamento com o marido.

Lampião costumava passar várias vezes pela fazenda dos pais de Maria, porque a mesma ficava na fronteira entre Bahia e Sergipe. Os pais de Maria Bonita, sentiam pelo Capitão uma mistura de respeito e admiração. A mãe contou a Lampião que sua filha era sua admiradora. Um dia, ao passar pela fazenda, Virgulino encontrou Maria e apaixonou-se à primeira vista. Dias depois quando o bando retirou-se, já contava com a presença dela ao lado de Lampião , com o consentimento de sua mãe.

Maria Bonita representava o típo físico da mulher sertaneja: baixa, cheinha, olhos e cabelos escuros, dentes bonitos, pele morena clara. Era uma mulher atraente.

Governador do Sertão

Durante o tempo em que esteve preso por Lampião , Pedro Paulo Magalhães Dias (ou Pedro Paulo Mineiro Dias), inspetor da STANDAR OIL COMPANY (ESSO), conhecido como Mineiro, testemunhou a vida dos cangaceiros e traçou o perfil de Virgulino, segundo sua avaliação.

Lampião pediu à empresa um resgate de vinte contos de réis pelo prisioneiro e acertou que se o resgate não fosse pago, mataria Mineiro. Mineiro viveu os dias de cativeiro, atormentado por terrível temor de ser morto por Lampião.

Finalmente, percebendo o estado de espírito do prisioneiro, Virgulino tranquilizou-o afirmando:

– “Se vier o dinheiro eu solto, se não vier eu solto também, querendo Deus”.

Resolveu libertar Mineiro, antes porém, teve uma longa conversa com ele.

Falou para Mineiro, por sentir-se naquele momento Senhor Absoluto do Sertão, que poderia ser Governador do Sertão. Mineiro perguntou-lhe, caso fosse governador, que planos teria para governar.Ficou surpreso com as respostas, que revelaram ter Virgulino conhecimento da situação política da região, conhecento seus problemas mais urgentes.

Lampião afirmou:

– “Premero de tudo, querendo Deus, Justiça! Juiz e delegado que não fizer justiça só tem um jeito: passar ele na espingarda!

Vem logo as estradas para automóvel e caminhão!

– Mas, o capitão não é contra se fazer estrada? – objetou Mineiro.

– Sou contra porque o Governo só faz estrada pra botar persiga em cima de mim. Mas eu fazia estrada para o progresso do sertão. Sem estrada não pode ter adiantamento, Fica tudo no atraso.

Vem depois as escolas e eu obrigava todo mundo a aprender, querendo Deus.

Botava, também, muito doutor (médico) para cuidar da saúde do povo.

Para completar tudo, auxiliava o pessoal do campo, o agricultor e o criador, para ter as coisas mais barato, querendo Deus” (Frederico Bezerra Maciel).

Mineiro ouviu e concordou com Virgulino. O que acabara de ouvir representava uma parte da sabedoria do cangaceiro.

Lampião então, senhor de si, ditou para Mineiro, uma carta para o governador de Pernambuco, com a seguinte proposta:

” Senhor Governador de Pernambuco.

Suas saudações com os seus.

Faço-lhe esta devido a uma proposta que desejo fazer ao senhor pra evitar guerra no sertão e acabar de vez com as brigas… Se o senhor estiver de acordo, devemos dividir os nossos territórios. Eu que sou Capitão Virgulino Ferreira Lampião , Governador do sertão, fico governando esta zona de cá, por inteiro, até as pontas dos trilhos em Rio Branco. E o senhor, do seu lado, governa do Rio Branco até a pancada do mar no Recife. Isso mesmo. Fica cada um no que é seu. Pois então é o que convém. Assim ficamos os dois em paz, nem o senhor manda os seus macacos me emboscar, nem eu com os meninos atravessamos a extrema, cada um governando o que é seu sem haver questão. Faço esta por amor à Paz que eu tenho e para que não se diga que sou bandido, que não mereço.

Aguardo resposta e confio sempre.

Capitão Virgulino Ferreira Lampião , Governador do Sertão.

Seria Mineiro o portador dessa carta, colocada em envelope branco, tipo comercial, com a subscrição:

– Para o Exº Governador de Pernambuco – Recife” (Frederico Bezerra Maciel)

Mineiro notou que quase todos os cangaceiros eram analfabetos. Lampião sabia ler bem, mas escrevia com muita dificuldade. Antonio Ferreira lia com dificuldade e não escrevia. Apenas Antônio Maquinista, ex-sargento do Exército, sabia ler e escrever.

Enfim Lampião solta Mineiro, num ato que se transformou em festa, com muitos discursos e a emoção dos participantes.

Mineiro reconheceu nos cangaceiros, pessoas revoltadas contra a situação de abandono do sertão. Agradeceu a Deus os dias que passou na companhia de Lampião e seus cabras. Teceu elogios a Virgulino por sua personalidade capaz e inteligente. Afirmou que levava a melhor impressão de todos e que iria propagar, que o capitão e os seus, não eram o que diziam deles.

Lampião pediu então a Mineiro que dissesse ao mundo a verdade.

Lampião
Eronídes Ferreira de Carvalho (capitão-médico do Exército e Interventor de Sergipe em 1929). Foto inédita, tirada na Fazenda Jaramantáia, em Gararu, em 1929.

Despediu-se mineiro de todos, abraçando um por um os cangaceiros:

Luís Pedro, Maquinista, Jurema, Bom Devera, Zabelê, Colchete, Vinte e dois, Lua Branca, Relâmpago, Pinga Fogo, Sabiá, Bentevi, Chumbinho, Az de Ouro, Candeeiro, Vareda, Barra Nova, Serra do Mar, Rio Preto, Moreno, Euclides, Pai Velho, Mergulhão, Coqueiro, Quixadá, Cajueiro, Cocada, Beija Flor, Cacheado, Jatobá, Pinhão, Mormaço, Ezequiel Sabino, Jararaca, Gato, Ventania, Romeiro, Tenente, Manuel Velho, Serra Nova, Marreca, Pássaro Preto, Cícero Nogueira, Três cocos, Gaza, Emiliano, Acuana, Frutuoso, Feião, Biu, Sabino

Lampião – VIRGULINO FERREIRA DA SILVA

28 de julho de 1938. Chega ao fim a trajetória do mais popular cangaceiro do Brasil. Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião , foi morto na Grota do Angico, interior de Sergipe. Por sua inteligência e destreza, Lampião até hoje é considerado o Rei do Cangaço. Virgulino Ferreira da Silva nasceu em 1897, na comarca de Vila Bela, região do Vale do Pajeú, Estado de Pernambuco.

Dos 9 irmãos, Virgulino foi um dos poucos a se interessar pelas letras. Freqüentava as aulas dadas por mestres-escolas que se instalavam nas fazendas.

No sertão castigado por secas prolongadas e marcado por desigualdades sociais, a figura do coronel representava o poder e a lei. Criava-se desta forma um quadro de injustiças que favorecia o banditismo social. Pequenos bandos armados, chamados cangaceiros, insurgiam-se contra o poder vigente e espalhavam violência na região.

Lampião
Lampião o Rei do Cangaço

Eram freqüentes, também, os atritos entre famílias tradicionais devido às questões da posse das terras, às invasões de animais e às brigas pelo comando político da região. Num desses confrontos, o pai de Lampião foi assassinado. Para vingar a morte do pai, entre outros motivos, Lampião entra para o cangaço, por volta de 1920.

A princípio segue o bando de Sinhô Pereira. Mostrando-se hábil nas estratégias de luta, assume a chefia do bando em 1922, quando Sinhô Pereira deixa a vida do cangaço. Lampião e seu bando vivem de assaltos, da cobrança de tributos de fazendeiros e de “pactos” com chefes políticos.

Praticam assassinatos por vingança ou por encomenda. Pela fama que alcança, Lampião torna-se o “inimigo número um” da polícia nordestina. Muitas são as recompensas oferecidas pelo governo para quem o capture. Mas as tropas oficiais sempre sofrem derrotas quando enfrentam seu bando.

Lampião
Lampião e Maria Bonita

Como a polícia da capital não consegue sobreviver no sertão árido, surgem as unidades móveis da polícia, chamadas Volantes. Nelas se alistam os “cabras”, os “capangas” familiarizados com a região. As volantes acabam tornando-se mais temidas pela população do que os próprios cangaceiros.

Além de se utilizarem da mesma violência no agir, ainda contam com o respaldo do governo. Lampião ganha fama por onde passa. Muitas são as lendas criadas em torno de seu nome. Por sua vivência no sertão nordestino, em 1926, o governo do Ceará negocia a entrada de seu bando nas forças federais para combater a Coluna Prestes. Seu namoro com a lei dura pouco. Volta para o cangaço, agora melhor equipado com as armas e munições oferecidas pelo governo.

Em 1930, há o ingresso das mulheres no bando. E Maria Déia, a Maria Bonita, torna-se a grande companheira de Lampião . Em 1936, o comerciante Benjamin Abraão, com uma carta de recomendação do Padre Cícero, consegue chegar ao bando e documenta em filme Lampião e a vida no cangaço.

Esta “aristocracia cangaceira” , como define Lampião , tem suas regras, sua cultura e sua moda. As roupas, inspiradas em heróis e guerreiros, como Napoleão Bonaparte, são desenhadas e confeccionadas pelo próprio Lampião . Os chapéus, as botas, as cartucheiras, os ornamentos em ouro e prata, mostram sua habilidade como artesão.

Após dezoito anos, a polícia finalmente consegue pegar o maior dos cangaceiros. Na madrugada do dia 28 de julho de 1938, a Volante do tenente João Bezerra, numa emboscada feita na Grota do Angico, mata Lampião , Maria Bonita e parte de seu bando.

Suas cabeças são cortadas e expostas em praça pública. Lampião e o cangaço tornaram-se nacionalmente conhecidos. Seus feitos têm sido freqüentemente temas de romancistas, poetas, historiadores e cineastas, e fonte de inspiração para as manifestações da cultura popular, principalmente a literatura de cordel.

E nos versos de um poeta popular desconhecido, sua lenda se propaga:

“Seo Virgulino Ferreira,
conhecido Lampião ,
Muito fala que é bandido
o Imperador do Sertão”.

Dia da Morte de Lampião

A partir da metade do século XIX, diante da dura realidade do Sertão Nordestino, onde predominava a intensa miséria e injustiça social, criou-se uma manifestação caracterizada pelo banditismo: o Cangaço.

A organização já era conhecida desde 1834 e se referia a certos indivíduos que andavam armados, com chapéus de couro, carabinas e longos punhais entrançados que batiam na coxa. Levavam as carabinas passadas pelos ombros. Os cangaceiros surgiam em grupo, ao comando de um companheiro mais temível.

Em 04 de junho de 1898, nasceu Virgulino Ferreira da Silva, na fazenda Ingazeira, de propriedade de seus pais, no Vale do Pajeú, em Pernambuco. Terceiro filho de José Ferreira da Silva e D. Maria Lopes, Virgulino, que entraria para a história com o nome de Lampião , viria a tornar-se o mais notório cangaceiro. Até entrar para o cangaço, Virgulino e seus irmãos eram pessoas comuns, pacíficos sertanejos que viviam do trabalho na fazenda e na feira aonde iam vender suas mercadorias. Virgulino Ferreira da Silva na certa teria a vida de um homem comum, se fatos acontecidos com ele e sua família não o tivessem praticamente obrigado a optar pelo cangaço como saída para realizar sua vingança. Virgulino declarou que, tendo perdido seu pai por culpa da policia, e responsabilizando-a pela morte da sua mãe, iria lutar até a morte, e se pudesse tocaria fogo em Alagoas.

A morte de Lampião é assunto que gera controvérsias. Existem duas hipóteses para a sua morte e de dez dos seus cangaceiros.

1ª hipótese:

Em 1938, Lampião faz uma incursão no agreste alagoano, escondendo-se depois no estado de Sergipe. A polícia de Alagoas ficou sabendo do esconderijo de Lampião e uma volante comandada pelo Tenente João Bezerra da Silva juntamente com o Sargento Ancieto Rodrigues e sua tropa alagoana, conduzindo inclusive metralhadoras portáteis, cerca o bando. Na madrugada de 18 de julho de 1938 começou o ataque que durou aproximadamente 20 minutos e cerca de 40 cangaceiros conseguiram fugir.

Lampião e 10 cangaceiros foram mortos na gruta de Angico, suas cabeças foram cortadas e expostas em praça pública em diversas cidades. Angico era o esconderijo, a fortaleza de Lampião . É uma gruta de pedras redondas e pontiagudas que pertence ao estado de Sergipe. O esconderijo foi apontado para os policiais por um homem de confiança de Lampião , Pedro Cândido, que depois foi morto misteriosamente em 1940.

2ª hipótese:

Admite-se que houve um plano de envenenamento. Como Pedro Cândido era homem da inteira confiança de Lampião , ele poderia ter levado garrafas de quinado ou conhaque envenenadas, sem que as tampas tenham sido violadas. Outros historiadores afirmam que Pedro Cândido teria levado para os cangaceiros pães envenenados e como era de total confiança, os alimentos não foram testados antes de serem comidos.

Tal argumento se baseia nos urubus mortos perto dos corpos após terem comido as vísceras dos cangaceiros e também porque quase não houve reação às balas da volante policial.

A tropa, que tomou parte no fuzilamento e na degola dos cangaceiros, se compunha de 48 homens. O tenente João Bezerra que chefiava o ataque disse que foi rápido. Cercaram os bandidos num semicírculo. Um soldado da polícia foi morto, alguns ficaram feridos e 11 cangaceiros tiveram suas cabeças cortadas.

Lampião – Líder Cangaceiro

Em 28 de Julho de 1938 chegava ao fim a trajetória do líder cangaceiro mais polêmico e influente da história do cangaço.

A tentativa de explicar a morte de Lampião levanta controvérsias e alimenta a imaginação, dando origem a várias hipóteses acerca do fim de seu “reinado” nos sertões nordestinos. Existe a versão oficial que sustenta a chacina de Angicos pelas forças volantes de Alagoas e existe também a versão do envenenamento de grande parte do grupo que se encontrava acampado em Angicos.

A versão oficial explica que Lampião e a maior parte de seus grupos se encontravam acampados em Sergipe, na fazenda Angicos, no município de Poço Redondo, quando foram surpreendidos por volta das 5:30 da manhã; as forças volantes de Alagoas agiram guiadas pelo coiteiro Pedro de Cândido e os cangaceiros não tiveram tempo de esboçar qualquer reação. – Lampião é o primeiro a ser morto na emboscada.

Ao todo foram 11 cangaceiros mortos, entre eles Lampião e Maria Bonita; em seguida, depois da decapitação, deu-se a verdadeira caça ao tesouro dos cangaceiros, desde as jóias, dinheiro, perfumes importados e tudo mais que tinha valor foi alvo da rapinagem promovida pela polícia.

Lampião
Lampião e Maria Bonita

Depois de ter sido pressionado pelo ditador Getúlio Vargas, que sofria sérios ataques dos adversários por permitir a existência de Lampião , o interventor de Alagoas, Osman Loureiro, adotou providências para acabar com o cangaço; ele prometeu promover ao posto imediato da hierarquia o militar que trouxesse a cabeça de um cangaceiro.

Ao regressarem à cidade de Piranhas as autoridades alagoanas decidiram exibir na escadaria da Prefeitura, as cabeças dos 11 cangaceiros mortos em Angicos. A macabra exposição ainda seguiu para Santana do Ipanema e depois para Maceió, aonde os políticos puderam tirar proveito o quanto quiseram do evento mórbido – a morte de Lampião e o pseudo-fim do cangaço no Nordeste foram temas de muitas bravatas políticas.

LOCALIZAÇÃO

O acampamento onde estava Lampião e seu grupo ficava na margem direita do rio São Francisco, no Estado de Sergipe, município de Poço Redondo. A gruta de Angicos está situada a 1 km da margem do Velho Chico e estrategicamente favoreceu ao possível ataque da polícia alagoana. O local do acampamento é um riacho temporário que na época estava seco e a grande quantidade de areia depositada formava um piso excelente para armar o acampamento. Mas, por ser uma grota, desfavorecia aos cangaceiros que estavam acampados embaixo.

DE VIRGULINO A LAMPIÂO

Virgulino Ferreira da Silva nasceu no município de Serra Talhada, em Pernambuco, e se dedicou a várias atividades: vaqueiro, almocreve, poeta, músico, operário, coreógrafo, ator, estrategista militar e chegou a ser promovido ao posto de capitão das forças públicas do Brasil, na época do combate à Coluna Prestes, no governo de Getúlio Vargas.

Sua infância foi como a de qualquer outro menino nascido no sertão nordestino; pouco estudo e muito trabalho desde cedo. Ainda menino, Virgulino recebe de seu tio um livro da biografia de Napoleão Bonaparte o que vai permitir a introdução de várias novidades desde o formato do chapéu em meia lua, algo inexistente até a entrada de Lampião no cangaço, até a formação de grupos armados e passando por táticas de guerra.

O jovem Virgulino percorreu todo o Nordeste, do Moxotó ao Cariri, comercializando de tudo pelas cidades, povoados, vilas, sítios e fazendas da região – ele vendia bugigangas, tecidos, artigos em couro; trazia as mercadorias do litoral para abastecer o sertão. Na adolescência, por volta dos 19 anos, Virgulino trabalhou para Delmiro Gouveia transportando algodão e couro de bode para a fábrica da Pedra, hoje município homônimo do empresário que o fundou.

As estradas eram precárias e o automóvel algo raro para a realidade brasileira do início de século XX; o transporte utilizado por esses comerciantes para chegarem aos seus clientes era o lombo do burro. Foi daí que Virgulino passou a conhecer o Nordeste como poucos e esta fase de sua adolescência foi fundamental para a sua permanência, durante mais de vinte anos, no comando do cangaço.

E O QUE MUDOU?

O cangaço foi um fenômeno social bastante importante para a história das populações exploradas dos sertões brasileiros. Existem registros que datam do século XIX e que nos mostram a existência deste fenômeno por mais ou menos dois séculos. O cangaço só se tornou possível graças ao desinteresse do poder público e os desmandos cometidos pelos coronéis e pela polícia com a subserviência do Estado.

O sertão nordestino sempre foi tratado de forma desigual em relação à região litorânea, e o fenômeno da seca sempre foi utilizado para manutenção dos privilégios da elite regional. O fenômeno social do cangaço não deixa de ser uma reação a este modelo desumano de ocupação do território brasileiro, e à altíssima concentração de renda e de influência política.

O governo brasileiro nunca ofereceu os direitos básicos, fundamentais aos sertanejos; o Estado jamais ofereceu educação, saúde, moradia, emprego o que tornou a sobrevivência no sertão complicada; o único braço estatal conhecido na região é a polícia, que, como sabemos, age na defesa do status-quo, é prepotente e intimida.

O poder dos coronéis do sertão era o que prevalecia em detrimento dos direitos fundamentais da população. A economia sertaneja era basicamente a criação de gado para o suprimento do país, a carne do sertão abastecia os engenhos de açúcar e as cidades do Brasil. O sertão historicamente foi ocupado com a pecuária.

Passado 68 anos a realidade do sertão nordestino não mudou muito; o cangaço se foi e no lugar surgiram pistoleiros de aluguéis que moram no asfalto; e os coronéis de antigamente hoje estão espalhados e infiltrados nos três poderes, gozando de foro privilegiado. A seca ainda vitima milhões de sertanejos, que continua sendo tratada da mesma forma assistencialista do passado. Finalmente, a corrupção continua a mesma; mudaram os personagens e a moeda.

E, infelizmente, a impunidade que também é a mesma de muito antes do cangaço.

Fonte: www.geocities.com/www.tvcultura.com.br/Brasil Folclore;Soleis/www.espacodasophia.com.br

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