Cristovão Colombo

Cristovão Colombo – Explorador 1451 – 1506

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Explorador e navegador Cristovão Colombo nasceu em 1451 na República de Génova, Itália.

Sua primeira viagem para o Oceano Atlântico em 1476 quase lhe custou a vida.

O explorador Cristóvão Colombo fez quatro viagens através do Oceano Atlântico a partir de Espanha: em 1492, 1493, 1498 e 1502.

Cristovão Colombo participou de várias outras expedições à África. 1492, Cristovão Colombo deixou a Espanha na Santa Maria, com o Pinta e a Niña ao longo do lado. A ele foi creditado para a abertura das Américas a colonização européia.

Cristovão ColomboNavegador

A nacionalidade de Cristovão Colombo é conflituosa, a versão mais conhecida diz que nasceu em Gênova, na Itália, filho de um tecelão, e que trabalhara com lã antes de se dedicar à navegação.

Outros o associam a um espanhol de nome Cristobo Colon, filho de Susan Fonterosa, natural de Pontevedra, Espanha, judia convertida ao Cristianismo.

O nome Colombo poderia também ser uma versão italiana para Colon, um nome encontrado entre judeus da Itália por volta do séc. XV. Colombo deixou registrado que “no mesmo mês que os governantes da Espanha determinaram a expulsão dos judeus de todo o reino, eles me deram a minha missão de empreender uma viagem às Índias”.

Colombo estudou navegação em Portugal e desenvolveu a idéia de alcançar a Índia indo em direção ao Oeste.

Levou cinco anos tentando obter apoio para a sua viagem, até conseguir dos reis da Espanha Fernando e Isabel, os Reis Católicos, três naus (Santa Maria, Pinta e Niña) para empreender sua viagem. Entre os financiadores de Colombo também estavam Isaac Abrabanel e Abraham Seneor, ambos posteriormente forçados, por ação da Inquisição, a abandonar a Espanha junto com outros judeus.

Seneor evitou a expulsão aceitando o batismo e tornando-se um cristão-novo. Outros cristãos-novos também financiaram Colombo, como Luiz de Santangel e Gabriel Sanchez, além daqueles que participaram de suas viagens à América. Em 12 de outubro de 1492, ele chegou à ilha que viria a se chamar Watling, nas Bahamas, indo dali para as ilhas onde hoje são Cuba e Hispaniola (Haiti-República Dominicana).

Conseguiu do governo espanhol ser feito governador geral de todas as ilhas que encontrara. Em 1493, explorou Porto Rico e as ilhas Leeward e estabeleceu uma colônia em Hispaniola. Só em 1498, quando iniciou a exploração da Venezuela, foi que começou a acreditar haver chegado a um continente. Colombo foi provavelmente o primeiro europeu a fazer uso de mão-de-obra escrava na América.

Acusado de má administração da ilha de Hispaniola, perdeu seu cargo de governador em 1500 e foi levado preso à Espanha. Livrando-se da acusação, fez sua última viagem em 1502, chegando à parte continental da América Central. Faleceu em 1506, desprestigiado.

No final do séc. XX, o governo da República Dominicana mandou erguer um majestoso mausoléu para guardar seus restos mortais.

NAVEGADOR

Não se sabe ao certo quando nasceu, supõe-se, entretanto que foi entre 26 de Agosto e 31 de Outubro de 1451, seu pai foi um pobre cardador e que os dias de sua juventude foram passados entre aventuras românticas e servindo em navios piratas onde ajudou a saquear e a apresar os galeões venezianos e pelejar denodadamente contra os ferozes corsários argelinos.

E numa época em que se julgava que as ilhas britânicas constituíam o limite ocidental das terras e que o mundo era plano e pequeno, que se alongavam para o ocidente formando os territórios asiáticos e que não havia noticia alguma da América. Para que tudo isto se tornar realidade, custou mais de meio século para os marinheiros portugueses abrissem caminho para o sul ao longo das costas ocidentais da África quando Gil Eanes ao dobrar o cabo Bojador e depois dele Bartolomeu Dias ir além e regressar triunfalmente aplaudido pela multidão que o aguardava em Lisboa. Cristóvão Colombo que se encontrava nomeio da multidão com a idéia de averiguar o que havia para além daquele mar imenso em razão de seus estudos de que além daqueles abismos coberto de água deveria existir outra terra, pois tinha ouvido falar de que objetos estranhos haviam sido encontrados a grande distancia da costa, e de recolhimento de pedaços de madeiras em que apareciam gravados alguns sinais fora do comum, e de volumosos bambus que não se conheciam na época. E de acordo com os estudos e investigações realizadas por Cristóvão Colombo, sobretudo dos mapas e de quantos escritos logrou reunir.

Ao tomar conhecimento de uma carta em que o astrônomo Toscanelli respondia à pergunta do rei Dom Afonso V sobre a possibilidade de chegar a Índia pelo ocidente, Cristóvão Colombo sabendo que a terra era redonda, e, portanto se navegando para oeste poderia chegar a Índia.

Imediatamente participou o seu projeto a Dom João II que era filho de Dom Afonso V, todavia o monarca português repeliu a proposta de Cristóvão Colombo, que por isto foi oferecer-se ao reino da Espanha onde a principio o acolhimento de suas idéias não foram favoráveis, por este motivo ele resolveu passar o seu projeto à França onde ao bater as portas de um convento os monges que o acolheram ficaram encantados com suas idéias, e um dos religiosos que gozava de grande prestigio junto à rainha da Espanha acabou escrevendo uma carta ponderando a importância dos planos de Cristóvão Colombo. A rainha ao se interessar pelo projeto de Cristóvão Colombo, de imediato ordenou que ele retornasse a Espanha onde recebeu três caravelas para a expedição, e no dia 3 de Agosto de 1492 Cristóvão Colombo zarpou com os seus três navios para uma viagem em que a tripulação pediu-lhe repetidas vezes que desistisse de prosseguir no projeto e que regressasse.

Após dois meses de travessia Cristóvão Colombo avistou terras em 11 de Outubro e na manhã seguinte vestido de grande gala e arvorando a bandeira da Espanha Cristóvão Colombo desembarcou em terra e ordenou aos seus homens que seguissem os seus exemplo ao ajoelhar e beijar o solo do qual tomou posse em nome do rei de Castela.

E ao continuar a sua navegação em demanda de outras ilhas, Cristóvão Colombo imaginou que todas elas pertenciam a um arquipélago ocidental da Índia e por este motivo chamou as terras descobertas de Índias Ocidentais e os seus habitantes de índios, e ao descobrir outras ilhas, ele chamou de Cuba e uma outra de São Domingos onde após deixar alguns homens regressou a Espanha aonde chegou em 15 de Março de 1493 e recebeu da corte o mais brilhante acolhimento.

E em pouco tempo lhe confiaram uma nova expedição, na qual descobriu novas ilhas. Apesar de ter levado a cabo tão grande empresa, o famoso navegador chegou a ser preso e ao morrer se encontrava pobre e isolado.

Cristovão ColomboHistória

 

Cristovão Colombo
Cristovão Colombo

Cristóvão Colombo foi um dos maiores exploradores da história, e é amplamente reconhecido como um dos primeiros europeus a liderar uma frota de navios até a América.

A vida de Colombo sempre foi cercada de mitos, e pouco se sabe sobre seus primeiros anos. Historiadores concordam que ele provavelmente nasceu em Gênova, em 1451, apesar de não haver provas conclusivas.

Ele provavelmente começou sua carreira no mar quando trabalhava como mercador.

A partir de 1477, Colombo empreendeu uma série de viagens a lugares como Madeira, Irlanda, Groenlândia e Guiné. Nessas viagens, ele aprendeu tudo o que pôde sobre os sistemas de ventos do Atlântico, mas sua grande ambição era descobrir a rota marítima ocidental para Ásia.

Cristóvão Colombo partiu em direção às Índias atravessando o Atlântico em 3 de agosto de 1492. Ele chegou ao litoral que hoje conhecemos como as Bahamas dez semanas depois, em 12 de outubro. Ele voltou à Espanha triunfante, e nos próximos seis anos completou mais três viagens pela coroa espanhola. Ele morreu de complicações decorrentes de gota

Cristovão ColomboVida

Cristovão Colombo
Cristovão Colombo

Cristóvão Colombo nasceu em 1451, muito provavelmente em Génova, cidade que se havia transformado em importante centro comercial no mediterrâneo.

As cidades-estados da península itálica procuravam imiscuir-se nos novos negócios para Ocidente, diversificando os seus pontos de interesse, para além do mercado tradicional do mediterrâneo oriental.

Em 1476, Cristovão Colombo encontrava-se em Lisboa como agente de negócios de outros genoveses. Quando abandonou Portugal em 1486, estava determinado a atingir a Ásia pelo Ocidente.

Viveu alguns anos no arquipélago da Madeira, casando em 1479 ou 80 com Filipa de Moniz, filha de Bartolomeu Perestrelo, primeiro capitão donatário do Porto Santo.

Por essa época estabeleceu contatos com muitos navegadores portugueses ligados às descobertas na costa ocidental de África, de onde vinham noticias de terras para Ocidente, carregadas de bruma e mistérios. Cálculos, como os de Toscanelli, sobre a dimensão da Terra levaram-no a acreditar na possibilidade de atingir o Oriente pelo Ocidente.

Abandona Portugal, por não ter conseguido apoio de D. João II para tal empresa.

Dirige-se a Castela, onde os reis católicos, Fernando e Isabel, se encontravam muito empenhados na tomada do último reino muçulmano da Península, o de Granada, não dando uma atenção imediata a Cristóvão Colombo. Só em 1492, Isabel a Católica viria a apoiar o projeto.

Em 3 de Agosto de 1492, saíram de Palos três embarcações, a Santa Maria, sob o comando de Cristóvão Colombo, a Pinta, comandada por Martín Alonso Pinzón e a Nina, comandada por Vicente Yanez Pinzón.

Após uma pequena paragem nas Canárias, Colombo deixa a ilha de Gomera em Setembro. A 12 de Outubro e pela primeira vez avista terra, uma das ilhas do arquipélago das Bahamas. Viria a explorar ainda as costas do Haiti e de Cuba, convencido de que se encontrava no Oriente.

De regresso passou por Lisboa, em 1493, tendo sido recebido por D. João II, que de imediato reclamou a posse das novas terras, abrindo uma crise diplomática.

A 14 de Março de 1493, completava a sua primeira viagem, tendo sido recebido com as maiores honras pelos reis católicos.

Em 25 de Novembro de 1493, partiu de novo para Ocidente, comandando uma poderosa armada de 14 caravelas e três grandes naus, transportando cerca de 1500 pessoas.

Nesta segunda viagem, descobre mais ilhas: Guadalupe, Porto Rico, Martinica e as Antilhas. Regressou à Europa na primavera de 1496, deixando um grupo de povoadores no Haiti.

Em 1498, partiu para a sua terceira viagem, descobrindo a ilha da Trindade e avistou a costa da Venezuela. Vitima de intrigas, regressou a Castela sob prisão em 1500.

A sua quarta viagem iniciou-se em 1502, dirigindo-se para as atuais Honduras e Panamá, que Colombo julgou ser a Indochina, tendo procurado insistentemente o estreito de Malaca. De regresso à Europa, em 1504, foi ignorado, vindo a morrer desacreditado em 1506. Esteve sempre convicto de que estivera no Extremo Oriente. Nunca concebeu que o mundo incluía o imenso continente americano e o Oceano Pacífico.

Cristóvão Colombo: sua relação com a Madeira e o Porto Santo

Cristóvão Colombo, de provável origem genovesa, aportou à Madeira em ligação direta com os negócios do açúcar que por esses tempos se intensificavam. Havia chegado a Lisboa em 1476, procurando integrar-se na colónia genovesa. Nesta década de 70, a produção açucareira da Madeira ascendia já às 20.000 arrobas, sendo intenso o comércio açucareiro. Vários florentinos e genoveses, como Francisco Calvo, Misser Leão e Baptista Lomellini, eram até produtores açucareiros na Madeira.

Em 1478, Colombo desloca-se à Madeira, trabalhando para Paolo di Negro, em negócios intermediários de açúcar, com destino a Ludovico Centurione.

Outros laços ligaram Cristovão Colombo à Madeira. Casa com Filipa de Moniz, filha de Isabel Moniz e de Bartolomeu Perestrelo, primeiro Capitão Donatário do Porto Santo.

Existem várias versões e interpretações sobre este casamento e do seu real alcance e mesmo sobre a origem de Cristóvão Colombo. Importa referir que os antepassados de Colombo são originários de Placência, assim como os de Bartolomeu Perestrelo.

O casamento realizou-se provavelmente em Lisboa, por volta de 1479 ou 80. Do casamento nasceu um filho, Diogo de Colombo, cerca de 1480, em Lisboa (?) ou no Porto Santo (?), sem se conhecer de forma irrefutável o exato local.

Cristovão Colombo
Cristovão Colombo – Viagem

A permanência de Cristovão Colombo na Madeira, provavelmente entre 1480-82, facultou-lhe dados importantes, e essenciais para a sua formação náutica, sobre a navegação atlântica. Na época, decorriam a bom ritmo as descobertas e exploração portuguesas da costa ocidental africana.

Quando Colombo se deslocou para o Porto Santo, era capitão donatário o seu cunhado, Bartolomeu Perestrelo, filho.

O segundo capitão havia sido Pedro Correia, casado com Guiomar Teixeira, filha do Capitão donatário de Machico.

O Porto Santo, mesmo com a concorrência de outros portos do arquipélago como o de Machico ou do Funchal, era muitas vezes usado como escala técnica.

Em 1498, aquando da sua terceira viagem à América, fez escala no Porto Santo.

Por várias fontes, é conhecida a presença do navegador nas ilhas, como a Historia de las Indias de Frei Bartolomé de las Casas, a Vida del Almirante Don Cristobal Colon, escrita por seu filho Fernando Colon, assim como uma ata do notário Gerolamo Ventimiglia, de Génova.

Em 1498, na sua terceira viagem ás Índias, esteve também na ilha da Madeira: “Na aldeia foi realmente muito bem recebido e muita celebração, conhecido por estar lá, que era seu vizinho em algum tempo” como nos diz Bartolomé de las Casas. A estadia de Colombo na Casa de João Esmeraldo, no Funchal, popularmente conhecida por Casa de Colombo, só poderia ter ocorrido em 1498, no regresso da sua terceira viagem às Antilhas, porque só nessa época a casa se encontraria construída.

No Porto Santo, uma tradição oral localiza a casa onde viveu Cristovão Colombo no local onde hoje se encontra construído o Museu de Porto Santo. Uma parede de pedra, em que se abrem duas janelas de arcos ogivais, prova a existência de pelo menos uma relação epocal com Cristóvão Colombo.

Mais do que a localização das casas onde viveu Cristovão Colombo, o arquipélago da Madeira liga-se de forma insofismável à sua formação como navegador, e é essa a nossa maior contribuição para o descobrimento de um novo continente.

ANSI era viver que Cristóvão Colombo à ilha de Porto Santo, que deu à luz seu primogênito disse herdeiro D. Diego Colon, talvez por esta razão que querem navegar, deixando sua esposa lá, e porque existe naquela ilha e a Madeira, que fica ao lado, e, em seguida, descobriu também havia, começou a ter grandes navios de concorrência em sua população e vizinhança, e freqüente todos os dias novas descobertas estavam sendo feitas novamente ser tido. Frei Bartolomé de las Casas (1484-1566), Historia de las Indias

João Esmeraldo, Jeanin Esmerandt ou Esmenaut, nascido em Béthume, no condado de Artois, veio de Bruges para Lisboa, em 1480, como funcionário da casa comercial Despars, sediada em Bruges. Esta empresa dedicava-se aos negócios com o açúcar da Madeira.

Na condição de comerciante, João Esmeraldo deslocou-se várias vezes à Madeira até aqui se instalar definitivamente. Torna-se mesmo produtor de açúcar, adquirindo a Rui Gonçalves da Câmara a grande propriedade da Lombada, na Ponta do Sol, ilha da Madeira, onde ainda hoje, apesar de grandes modificações, existe o Solar dos Esmeraldos.

Naturalmente devido aos seus negócios de açúcar, conheceu o também negociante Cristovão Colombo. Este esteve pela primeira vez em Portugal por volta de 1476. Em 1478, Paolo Di Negro incumbe Colombo de carregar açúcar na Madeira para o genovês Ludovico Centurione. Entre 1480-82, esteve na Madeira e deve ter conhecido João Esmeraldo.

Em 1498, Cristovão Colombo, elevado à condição de Almirante e Vice-Rei das Índias, a caminho da sua terceira viagem à América, passa pela Madeira. Uma tradição alimentada ao longo de séculos diz que passou na casa do Funchal de João Esmeraldo os seis dias da sua estada. A casa de João Esmeraldo havia sido construída por volta de 1495, pelo pedreiro Gomes Garcia. Infelizmente viria a ser destruída em 1876.

Não se conhece ao certo a data do descobrimento das Ilhas Canárias. Na cartografia europeia é referenciada em 1339, mas o seu conhecimento é naturalmente anterior. São conhecidas expedições genovesas, no final do século XII, em sua demanda. Quase todo o arquipélago aparece na carta Pizzigani de 1367. Contrariamente a outros arquipélagos atlânticos, as Canárias eram habitadas, o que parece ter dificultado a ocupação.

No primeiro quartel do século XIV, Lançarote Malocello procura dominar a ilha que ganhará o seu nome: Lançarote. Várias expedições de catalães e maiorquinos irão acontecer ao longo do século. Em 1345, D. Afonso IV, rei de Portugal, reclama as ilhas. Em 1402, Jean de Bettencourt conquista Lançarote.

Portugal mantém a pretensão ao senhorio das Canárias, como apoio estratégico para os avanços na costa ocidental africana. Uma tentativa foi ensaiada em 1415 pelo Infante D. Henrique, comandada por D. João de Castro, outra em 1424, comandada por D. Fernando de Castro, não teve êxito, como a de 1427, por António Gonçalves da Câmara. Já em 1448 Maciot de Bettencourt vende a Ilha de Lançarote ao Infante D. Henrique, que é ocupada, por pouco tempo, por Antão Gonçalves. O Infante D. Henrique renuncia à sua posse em 1454. Em 1455, Henrique IV de Castela doou aos Condes de Atouguia e Vila Real o senhorio das Canárias. No tratado de Toledo de 1480, Portugal abandona definitivamente as suas pretensões às Ilhas Canárias.

Cristovão ColomboAmérica

Cristovão Colombo
Cristovão Colombo

Dos escritos de Cristovão Colombo, Hernán Cortez e Frei Bartolomé de Las casas podemos observar diferentes pensamentos e objetivos dentro do processo de conquista e na montagem da vasta e complicada empresa colonial, tendo este trabalho como objetivo principal a análise de como estes três cronistas/conquistadores perceberam o homem americano através de seus relatos. Cristovão Colombo nasceu em 1451 e faleceu em 1506, grande parte dos documentos indicam que o grande navegador era genovês, falava genovês, espanhol e português e transitava o tempo todo de região, se sabe muito pouco sobre Colombo, do que ele escreveu restaram os diários via Las casas e via o filho Fernando Colombo e alguns fragmentos da profecia que ele escreveu, enfim este navegador se trata de uma figura ambígua e contraditória que permite varias interpretações. A narrativa mais influente para as navegações de Colombo vem de Marco polo, Colombo anotou sua edição do livro das maravilhas com abundantes notas às margens, a descrição de riquíssimos reinos como Cipango e Catai faz somarem-se os interesses mercantilistas com os interesses épicos de conquista.

Ao ler os relatos de Colombo podemos perceber que a América foi inventada antes de ser descoberta, ou seja na verdade Colombo não “descobre” a América e sim ao invés de dar a conhecer, identifica e verifica a América. É curioso notar como Colombo vê muito pouco das coisas que surgem na sua viagem de 1492, sua certeza é alimentada por convicções ligadas a Marco polo, sua narrativa busca apenas aquilo que quer encontrar, não problematiza, não desenvolve possibilidades que fujam a estas estruturas de narração.

Seu autoritarismo mistura-se a sua condescendência e nasce de um elemento que seria comum a muitos outros descobridores: identifica o mundo como um, e seus valores passam a ser validos em todo o universo.

Na verdade Colombo busca o paraíso, ele chega a afirmar que encontrou vários sinais da presença do paraíso, o “paraíso” para Colombo é uma realidade física, ele constrói a realidade que ele quer ,ou seja, ele empreende uma viagem de navegação simplesmente para identificar aquilo que já conhecia de antemão, entretanto quando Colombo chega as Ilhas do Caribe a realidade é outra, por isso Colombo inventa ficcionaliza, encobre e deforma, pois Colombo não abre mão de seu esquema mental.

Colombo era uma figura messiânica, que acreditava ser um enviado de deus, ele achava uma missão dada a ele cristianizar os povos, e por ter chegado a “Ásia” era a confirmação de seu papel como enviado de deus .Colombo vê a cultura desses povos como uma folha em branco a qual pode se escrever a evangelização e a escravidão “eles serão bons vassalos”, os relatos de Colombo passam a idéia de um povo pacífico”(…) já que os índios não são gente capaz de fazer alguma coisa, mesmo premeditada(…)”.

A busca por riqueza esta presente desde o começo do relato ” E eu estava atento, me esforçando para saber se havia ouro, e vi que alguns traziam um pedacinho pendurado num furo que têm no nariz e, por sinais, consegui entender que indo para o sul ou contornando a ilha naquela direção, encontraria um rei que tinha grandes taças disso e em vasta quantidade”, podemos ver assim a idéia do comercio neste sentido, na cabeça de Colombo ele estava na Ásia ,se ele ainda não encontrou riqueza seria porquê não estava no interior. Os habitantes da América devido ao erro histórico de Colombo são chamados de índios, um termo genérico que opera em um processo que acaba com a diferença

Um ato fundamental para Colombo foi o de nomear e tomar posse, podemos perceber que Colombo teve uma verdadeira verocidade em nomear e tomar posse das terras, o nomear era no sentido de apropriar, pois as terras que ele encontrou já estavam nomeadas. Colombo não dialogava com os índios porquê achava que eles não sabiam falar, pois não tinham escrita, para Colombo a língua era uma referencia direta daquilo que era universal conforme observamos ” É verdade que, como essa gente pouco se comunica entre uma ilha e outra, existe alguma diferença entre suas línguas (…)enviá-los aí para Castela só poderia fazer bem, porque se livrariam, de uma vez por todas, desse costume desumano que têm de comer gente, e aí em Castela, entendendo a língua, receberiam bem mais rápido o batismo, com grande proveito para suas almas”, ou seja, Colombo recomenda que os índios sejam levados para Europa para aprenderem a falar. Não para aprenderem o espanhol ou latim, mas para aprenderem a falar.

Hernán Cortez nasceu em Medellín, em 1485,filho de Martins Cortez de Monroy, que era capitão da infantaria ,sua mãe se chamava Catarina pizarro altamurano, vinda de família tradicional e religiosa, relatos da época mostram que a família de Hernán Cortez era de uma baixa nobreza. Desde pequeno aprende as atividades da nobreza ,cavalgar com precisão e caça esportiva, passando os primeiros 14 anos de sua vida em Medellín saindo rumo a Salamarca somente em 1499 e ao que tudo indica foi estudar direito, tendo assim aprendido o latin, mas permaneceu apenas 2 anos, deixando seus estudos. Nas cartas de relatos de Hernán Cortez dão conta da exploração e conquista do México, que elevou Cortez ao mais alto cargo entre os capitães e políticos de seu tempo, nesses relatos o leitor encontrará tudo que aconteceu desde seu desembarque em Yucatán até a queda de tenochtitlán, a capital Asteca. A segunda carta, uma das mais importantes para conhecer a historia da conquista do México, foi datada de 30 de outubro de 1520, na qual Cortez justifica sua liderança pelas seguintes palavras “não tenho outro pensamento senão servir a deus e ao rei”, podemos perceber que Cortez era um homem de profunda fé e em segundo lugar temos o nome do rei, e a figura do rei não é simplesmente de um líder, mas de uma espécie de deus na terra, principalmente o rei da Espanha que era estandarte da fé católica, Cortez antes de um saqueador era um civilizador, antes de um destruidor era um catequizador.

Já no inicio da segunda carta é falado em conquista e pacificação “E depois disto só não mandarei informações por falta de navios e por estar ocupado na pacificação e conquista desta terra, pois é meu desejo que vossa alteza saiba de tudo que aqui esta ocorrendo”, Cortez tinha claro em sua mente que sua função era a de conquistar aquele território e pacificar o seu povo, desde os primeiros relatos a importância da dominação política já parece bem clara. Cortez chama os índios de súditos e os seus senhores de vassalos de Carlos V, ou seja Cortez estava fazendo uma estrutura de dominação política aos moldes europeu ,assim Cortez via os índios como homens assim como ele era ,e tendo estes aceitado a fé cristã, são tão grande quanto os vassalos europeus(lembrando que vassalo=nobre),podemos notar que Cortez se preocupou em integrar os índios ao seu projeto e a sociedade que estava criando, ainda que fosse uma integração a força. Todorov nos mostra que Cortez se preocupava na comunicação, ia atrás de intérpretes, queria entender e se fazer entender “O que Cortez quer, inicialmente, não é tomar, mas compreender, são os signos que interessam a ele em primeiro lugar, não os referentes. Sua expedição começa com uma busca por informação e não por ouro. A primeira ação que executa é(…)procurar um intérprete. Ouve falar de índios que empregam palavras espanholas, deduz que talvez haja Espanhóis entre eles, suas suposições são confirmadas(…)um deles, Jerônimo de Aquilar se une á tropa de Cortez(…)esse Aquilar, transformado em intérprete oficial de Cortez lhe prestara serviços inestimáveis”, entretanto Aquilar só falava o Maia, e na busca por intérpretes Cortez encontra “la malinche” que lhe serviu de intérprete durante todo o processo e que também foi sua amante.

Podemos observar que Cortez venceu os Astecas muito mais pela força das palavras, do que pela força das armas, como por exemplo o apoio dos tarcaltecas e dos cempoal, dai a grande importância de Malinche, que era sua vez para a comunicação com todos.

O assunto mais estudado da vida de Cortez é a conquista tenochitlán e só se pode entender essa conquista ao se enxergar qual era o projeto que tinha estabelecido e quais as bases ele traçou para atingir esse objetivo, o primeiro ponto interessante é a chegada de Hernán Cortez á cidade ,o seu espanto com a grandeza e a riqueza, podemos notar varias vezes as palavras” riqueza” e “bonito”. Como sabemos a vitoria final foi de Cortez, não tanto pela força da espada ,mas pela força da palavra, não eram 500 contra100.000, mas 100.000 aliados a Cortez contra os Astecas, que já estavam sem um líder e com revoltas internas causadas pela morte de Montezuma. Nos dois últimos parágrafos da carta de Cortez percebemos a comparação feita a Espanha “Pelo que tenho visto, existe muita similaridade entre esta terra e a Espanha, tanto em sua grandeza, fertilidade e frio, alem de outras coisas”, Cortez em todo o decorrer da sua carta faz essas comparações da Espanha com a nova terra encontrada.

Frei Bartolomé de Las casas é natural de Servilha, nasceu no dia 11 de novembro de 1474 filho de um modesto comerciante chamado Pedro de Las casas e de Isabel de Sosa. O primeiro contato de Bartolomé com o novo mundo foi através de seu pai, que embarcou na segunda expedição de Cristovão Colombo em 1493 e volta em 1499,trazendo um jovem índio que se torna amigo de Bartolomé e desperta no futuro frei o interesse pelos povos do novo mundo. Em 1522 Pedro de Las casas se alista na expedição de Ovando e leva consigo Bartolomé, que nos dois anos seguintes escreve seu primeiro livro “historia de las índias”, onde retrata as ferozes matanças dos índios comandadas por Ovando, e assim por diante escreve varias obras. Frei Bartolomé de Las casas, considerado apóstolo dos índios ou “defensor e protetor universal de todos os povos índigenas “, foi um encomiendeiro que durante um sermão se converteu e consagrou sua vida na defesa dos indígenas do novo mundo, o frei constantemente cita que os índios são filhos de deus e tem o direito de serem evangelizados, dizendo que os Espanhóis nunca tiveram o mínimo cuidado em procurar fazer com que essa gente fossem pregados a fé de Jesus cristo, como se os índios fossem animais e ainda proibiam os religiosos afim de que não pregassem, pois acreditavam que isso os impediriam de adquirir o ouro.

A “Brevíssima relação de destruição das índias” é seguramente, a obra mais importante de frei Bartolomé, foi lançado em 1552 transformando-se em um best-seller e é um texto onde o autor descreve província por província, as violências realizadas pelos Espanhóis durante a conquista em meio á qual foram mortos perto de 20 milhões de índios, a partir do livro criou-se a chamada “leyenda negra”, neste livro las casas chama os conquistadores de “sujos”,”tiranos cruéis”, “sangrento destruidores” conforme podemos observar: “os Espanhóis com seus cavalos, suas espadas, suas lanças começaram a praticar crueldades estranhas…Arrancavam os filhos dos seios da mãe e lhes esfregavam a cabeça contra os rochedos….Outros mais furiosos, passavam as mães e os filhos a fio de espada…faziam certas forças baixas, de forma que os pés tocavam quase a terra treza, em honra e reverencia de nosso senhor e de seus 12 apóstolos(como diziam) e, deitando-lhes fogo, queimavam vivos todos”. Este é basicamente o conteúdo do livro que leva o leitor a criticar a conquista da América e todos os tipos de violência praticados contra o indígena.

Das obras de Las casas podemos apreciar sua dedicação aos índios, descrevem ainda a excepcional doçura humildade, pobreza, sensibilidade e generosidade dos índigenas e em função destas características buscava na medida do possível uma catequização pacifica e humana dentro do processo de conquista, demonstrando as qualidades humanas e culturais dos índios e as possibilidades pacificas de sua cristianização. O intuito de Las casas era utilizar procedimentos pacíficos para conseguir a transformação das culturas indígenas, procurando sua ocidentalização, ao menos em alguns aspectos, como as crenças religiosas, sua única concessão para o planejamento dominante da cultura conquistadora era a relativa evangelização daquela nova humanidade e isso não deveria ser entendido como processo de dominação mas como um meio de liberação.

De 1574 a 1566, Las casas leva adiante sua luta cada vez mais radical, fazendo dezenas de denúncias, protestos, pedidos, exigindo que os indígenas fossem encarados como os verdadeiros proprietários daquela terra, conseguindo na pratica duas importantes vitórias (mas que ele sempre considerou insuficientes): as novas leis de 1492, que praticamente acaba com as encomiendas e as doutrinas jurídicas expostas na Universidade de Salamanca pelo reformador da teologia Francisco de vitória, que lhe garantiu a vitória contra Juan Gines de Sepulveda, o qual pregava a “servidão natural” dos índios da América. Las casas morre aos 92 anos, deixando suas obras no colégio de San Gregorio, firmado e assinado no testamento escrito em 1564 deixando também uma quantia para ser repartida entre os índios de tepetlaoztoc de um convento do México e de Vera paz. Podemos assim analisar grandes diferenças entre Colombo, Cortez e Las casas. Enquanto Colombo não se interessou por conhecer mais a terra conquistada e saber mais sobre a população que vivia lá, optando por inventar e modificar de acordo com seu esquema mental.

Hernán Cortez já teve uma visão muito mais avançada do que seus contemporâneos vendo os índios como homens e procurando saber mais sobre eles conforme a citação de Todorov:” A diferença entre Cortez e os que o precederam talvez esteja no fato de ter sido ele o primeiro a possuir uma consciência política e até mesmo histórica de seus atos”, dai se explica o fato deste conquistador obter muito mais sucesso no processo de conquista, do que o processo de conquista de Colombo. Outro aspecto interessante é a comparação entre as três narrativas, Colombo se destaca pela admiração pela natureza e em rebatizar os lugares encontrados, enquanto Cortez constrói uma narrativa épica parecendo assim um herói, já Las casas denuncia o sistema das encomiendas, a exploração e o massacre espanhol sobre os indígenas.

Uma coisa em comum nos três cronistas é a busca pela catequização dos povos dominados, apesar de grau diferente de interesse, podemos perceber que os projetos de Las casa eram éticos e estavam fora do tempo com suas concepções de liberdade, autodeterminação e relativismo cultural, enquanto para Colombo e Cortez o significado da colonização seria muito mais um meio para realizar os mandamentos da escritura na qual pregava que todos os povos da América precisava ouvir o evangelho, e isso deveria ocorrer mesmo que fosse necessário usar a violência. O intuito de Las casas era utilizar procedimentos pacíficos para conseguir a transformação das culturas indígenas. Percebemos que Las casas quer deixar de mostrar os índios como ser inferior ou irracional como eram tachados, e sim mostrar seu potencial através da riqueza dos seus mitos, sua arte e literatura e tantos outros componentes de sua cultura.

Como vimos estes três cronistas escreveram obras importantes que contam a história da colonização espanhola, em três visões diferentes. Os estilos de exposição escolhidos pelos autores dizem muito sobre seu objetivo, como por exemplo o titulo da obra de Las casas ” O paraíso destruído”, essa proposição empregada fomenta a idéia de que os índios mexicanos seriam vitimas da conquista espanhola, nos mostrando assim que o autor trabalha com a visão dos dominados, enquanto Colombo e Cortez exalta a conquista por trabalhar com a visão dos dominantes. Quanto aos estilos em si, nos escritos de Colombo, Cortez e Las casas, percebemos a existência de dois tipos básicos de narração (entendida como uma série de acontecimentos articulados cronologicamente dentro de um trama principal) e a análise(ou seja uma exposição que procura explicar os mecanismos de inter-relação dos fenômenos), diferentemente dosados em cada um deles.

Cristovão Colombo – Descoberta da América

Em 12 de outubro de 1492, Cristovão Colombo chegou a uma ilha do Caribe, convencido de que atingira a Índia.

Os livros escolares nos dão uma imagem bastante distorcida de tudo que diz respeito à chamada Descoberta da América por Colombo. Primeiro, vem a informação de que ainda se achava que a Terra era plana e Colombo teria sido um dos pioneiros em acreditar que ela era redonda, e portanto ele podia chegar ao Oriente navegando em direção ao Ocidente.

Isso não era verdade: a teoria de que a Terra é redonda já era aceita pela elite bem informada. É possível que o povo ainda achasse que ela era plana, mas pessoas cultas não.

Segundo, costuma-se indicar qual a ilha do Caribe a que Colombo aportou pela primeira vez no continente. Não é verdade, não se sabe qual foi a ilha, não existe documentação que indique isso. A ilha na qual Colombo se fixou em viagens posteriores, onde exterminou a tribo dos Arawak, e que é hoje ocupada pelo Haiti e a República Dominicana, não foi a primeira em que ele pisou em solo americano. Quando dos 500 anos da viagem inaugural de Colombo, comemorados em 1992, surgiram filmes e livros sobre ele, de modo geral mostrando-o como um idealista que queria resolver um problema de todos os europeus – facilitar o comércio com o Oriente, que até então era feito por terra, por caravanas de camelos.

De idealista ele não tinha nada: queria era ficar rico e famoso, e conseguiu.

O contrato que ele negociou com os reis da Espanha previa honrarias e uma fortuna caso ele fosse bem-sucedido na busca do caminho das Índias. Como ele declarou ter chegado lá, recebeu todos os prêmios previstos, inclusive título de nobreza que foi herdado por seus descendentes. Até o fim da sua vida, e depois de quatro viagens, ele continuou insistindo que tinha chegado lá. Também não é verdade que Colombo acabou pobre e na desgraça. Morreu desprestigiado talvez, mas rico, com o título de Almirante. Seu filho foi nomeado duque e herdou grandes propriedades no Novo Mundo.

Colombo aprendeu com os sábios de Constantinopla

1. A terra já era redonda

Aprendemos na escola que na época de Colombo todo mundo achava que a Terra era plana. Ele teria sido um dos primeiros a se convencer que a Terra era redonda e bolou a idéia de que, saindo da Europa em direção ao Oeste, poderia chegar ao Leste. Essa historinha simplesmente é falsa. Que a Terra era redonda já era fato sabido há muito tempo, e a idéia de atingir o Oriente por esse caminho também era velha.

Os gregos, 500 anos antes de Cristo, já sabiam que a Terra era redonda, e chegaram a calcular a sua circunferência com bastante exatidão. Durante a Idade Média esse conhecimento se perdeu, no Ocidente, mas depois voltou através dos sábios de Constantinopla que fugiam da invasão turca. Na década de 1480 qualquer pessoa bem informada sabia que a Terra era redonda.

Quanto à idéia de ir para o Oriente navegando através do Atlântico, ela já estava sendo discutida pelo menos vinte anos antes da viagem de Colombo. Ninguém tinha tentado ainda por ser muito longe, e as técnicas de navegação da época eram precárias. O pessoal estava acostumado a navegar sempre beirando a terra firme. O caminho que Portugal estava buscando para as Índias era assim, navegando ao longo da costa da África. O mérito de Colombo foi ter tido a coragem e a obstinação para realizar essa empreitada de atravessar o Oceano Atlântico.

2. Comércio

Naquela época o principal, praticamente o único, comércio internacional era com o Oriente. Por Oriente entenda-se China e Índia, de onde vinham artigos de luxo como sedas, temperos (cravo, canela, pimenta, etc) e outros. Esse comércio era feito através de caravanas que vinham por terra até a margem do Mediterrâneo. Essa fase do transporte era controlada por árabes e por asiáticos. Já a partir daí as Cidades-República italianas, como Veneza e Gênova, dominavam o comércio. Veneza foi durante séculos uma cidade-nação rica e poderosa graças à sua posição de grande dona do comércio no Mediterrâneo.

Em meados do século XV tudo mudou. Com a conquista de Constantinopla pelos turcos em 1453 o livre trânsito de mercadorias por terra acabou. Os turcos passaram a impôr sobrepreços enormes nas mercadorias, aumentando os preços finais em até dez vezes.

Nessa época Portugal liderava os progressos na navegação. Sendo o país mais ocidental da Europa, localizado fora do Mediterrâneo, com saída apenas para o Atlântico, era natural que tivesse mais interesse em buscar novas fronteiras por mar. O príncipe Dom Henrique, o Navegador, tinha fundado a Escola de Sagres, que durante algumas décadas foi o principal centro de estudos marítimos da Europa.

Os portugueses foram responsáveis por dois progressos fundamentais para a navegação: aperfeiçoaram o uso do astrolábio e do quadrante, instrumentos que permitiam ao navegador saber a sua localização observando os astros, e desenvolveram o uso das velas móveis, que tornaram possível navegar não só na direção do vento, mas também quase contra ele.

Com o fechamento parcial do caminho terrestre pelos turcos, achar um caminho por mar tornou-se urgente. Os portugueses passaram a procurar o caminho mais fácil, que era contornar a costa da África. Hoje em dia isso parece simples, mas naquele tempo não havia experiência de se navegar tão longe. Os navios portugueses passaram a descer pela costa do continente africano, indo cada vez um pouco mais longe. Á medida que faziam isso, iam estabelecendo postos de comércio na costa, encarregados de adquirir mercadorias locais. Essas mercadorias eram marfim, pimenta, ouro em pó e escravos negros. Esses foram os primeiros estabelecimentos coloniais daquelas nações que se tornariam as potências coloniais européias. Por coincidência, foram também os últimos, já que Portugal foi o último país a decidir se retirar das antigas colônias. Entre a chegada e a saída, foram 500 anos de permanência colonial européia na África.

3. O projeto

Radicado em Portugal, Colombo primeiro tentou vender sua idéia de alcançar o que eles chamavam as Índias para o rei português. Acontece que este já estava investindo recursos na outra rota, pela África, e não fazia sentido dispersar recursos em duas tentativas diferentes. Lá pelo começo de 1485 o rei deu a negativa final a Colombo. Nessa época morreu sua mulher, que era portuguesa, e ele decidiu partir para a Espanha.

Tendo conseguido uma apresentação aos reis Fernando e Isabel, Colombo passou a tentar convencê-los de seu plano. Foi só depois de alguns anos que afinal a viagem foi aprovada. O país estava sem dinheiro, depois do esforço de expulsão dos mouros e de lutas internas para unificar os vários reinos.

Como parte de sua argumentação Colombo usava o apelo religioso: era preciso atingir os povos pagãos da Ásia para convertê-los à verdadeira fé. No processo, é claro, se tomaria muito ouro deles, e esse ouro seria utilizado para conquistar a Terra Santa ocupada por muçulmanos. A História mostra que esses pagãos, no caso os nossos índios, não foram convertidos a nada, mas sim escravizados ou mortos. Quanto ao ouro, foi usado para qualquer coisa menos a conquista da Terra Santa. Mas o pessoal era crédulo e acreditou na pregação moralista de Colombo, e o apoio da Igreja foi fundamental para a aprovação final do plano.

Nosso herói era bom negociador e soube vender-se bem. No acerto final com a Casa Real, Colombo teve garantido para ele uma comissão de dez por cento de todo o comércio com as regiões que atingisse. E foi nomeado Almirante do Ocidente, e Governador-Geral de quaisquer terras desconhecidas que descobrisse. Tanto a comissão de 10% quanto o título de Almirante seriam hereditários.

No final os reis pagaram apenas uma pequena parte dos custos da expedição. Grande parte foi financiada por bancos italianos (os principais bancos eram italianos, em decorrência do domínio italiano no comércio internacional). Além disso, um dos banqueiros, que era diretor do equivalente local da nossa Polícia Federal, que tinha o nome sugestivo de Santa Hermandad — provavelmente entidade irmâ da Santa Inquisição, que havia sido fundada, havia pouco tempo, para torturar e matar judeus e muçulmanos –, conseguiu inventar uma multa, ninguém sabe bem a que pretexto, que obrigou a cidade de Palos de la Frontera a dar dois dos três navios de que Colombo precisava.

4. A viagem

O grande mérito geralmente atribuído aos reis Fernando e Isabel é muito exagerado, já que eles arriscaram muito pouco de seu dinheiro no projeto de Colombo. Também o grande mérito atribuído ao descobridor como teórico da redondeza da Terra, e do novo caminho para as Índias, é falso. Verdadeiro, porém, e grande, repita-se, é o seu mérito, e o da tripulação, no que diz respeito à coragem. Deixar a costa e rumar para alto mar, sem saber quanto tempo duraria a viagem, que ventos encontrariam e como voltariam para casa, requeria muita valentia.

As condições de vida a bordo de uma caravela eram abomináveis. Não havia alojamentos — o pessoal dormia onde achasse um canto seco para se deitar o que, num pequeno navio à vela, freqüentemente é difícil. A comida era nojenta, e piorava a medida em que o tempo passava e os mantimentos iam se estragando. Mesmo a água ia ficando ruim, e era misturada com vinho para que pudesse ser bebida.

O pior, nessa viagem pioneira, era a grande incerteza: quanto tempo demoraria para se chegar a algum lugar? Se demorasse demais — se houvesse uma calmaria e os navios ficassem parados por muito tempo — poderia acabar a comida ou a água, e isso significaria morte certa para todos.

O capitão era senhor absoluto, com direito de vida e morte sobre a tripulação. Num acesso de mau humor ele podia mandar chicotear, enforcar ou jogar ao mar qualquer tripulante, e isso às vezes acontecia.

Como a viagem nunca tinha sido feita antes, ninguém podia saber seus macetes. Uma grande descoberta de Colombo foi que havia um vento constante soprando da costa da África para o Caribe. Tendo ele descido em direção sul até as Ilhas Canárias, sua frota se beneficiou desse vento que sopra permanentemente na direção certa. Essa descoberta fez tanta diferença que ajudou a reduzir o tempo da viagem de 33 dias para 21, na segunda expedição. Na volta, descobriu-se um outro vento, também permanente, soprando na direção oposta. Era só subir um pouco para o norte, lá do lado do continente americano, e pegar o vento que levava de volta para a Europa. É engraçado, mas ao mesmo tempo que existem correntes marítimas, existem também ventos predominantes que sopram a maior parte do tempo.

Esses ventos facilitaram muito a vida dos espanhóis e portugueses em suas viagens para a América. Já os países do norte da Europa como Inglaterra, França e Holanda, mais tarde aprenderam uma outra rota mais pelo norte do Oceano Atlântico, e o fato de que a América do Norte foi colonizada pelos europeus do norte, e a América Central e a do Sul pelos ibéricos, tem ligação com essas rotas dos ventos.

Não havia, é claro, instrumentos para medir a velocidade de um navio. Não havia nem relógios. Só havia ampulhetas, aqueles instrumentos de vidro, cheios de areia, a qual escorre de uma metade para a outra num tempo pré-determinado. A técnica de medir a velocidade consistia em jogar um pedaço de madeira na água, lá na frente do navio e medir, com a ampulheta, quanto tempo levava para essa madeira chegar ao fim do navio. Disso se extrapolava a velocidade, e se calculava quanta distância se percorria a cada dia, o que era registrado no diário de bordo.

Quem fazia esses cálculos, e os registrava, era Colombo.

Receoso de que a tripulação começasse a ficar com medo da grande distância da viagem, ele mantinha dois diários: um com a distância que considerava correta, para seu uso, e outro falsificado, com distância menor, que mostrava aos tripulantes.

Dois meses depois de terem partido da Espanha a tripulação já estava começando a ficar nervosa. Colombo jurava que a terra estava perto, e realmente começaram a surgir cada vez mais indícios disso, como pedaços de pau boiando e passarinhos voando. Finalmente em 12 de outubro, logo de manhã cedo, avistou-se terra. O rei havia prometido uma grande recompensa em dinheiro para o primeiro a ver terra, e o marinheiro que deu o grito de TERRA, chamado Juan Rodríguez Bermeo, pensou que estava rico. Ledo engano. Colombo declarou que já tinha visto uma luz ao longe, na noite anterior, embora tivesse esquecido de contar aos outros, e que portanto a recompensa era sua. Como com o Comandante não se discute, o prêmio ficou para Colombo.

5. Primeiros contatos

Até hoje não se sabe qual foi essa ilha do Caribe onde os espanhóis tiveram o primeiro contato com o continente americano. Os instrumentos de navegação não tinham precisão, além do que Colombo não era bom nesses cálculos. Existem duas ou três diferentes teorias sobre qual seria a ilha. Mais de um pesquisador refez a travessia do Atlântico usando o diário de bordo da viagem original como guia, mas a imprecisão dos dados, e a existência de dezenas de ilhas parecidas, torna impossível se ter certeza. Colombo achava que tinha chegado às Índias e é por isso que os nossos índios receberam esse nome. Colombo ainda viveria 14 anos, faria mais três viagens à América, e morreria afirmando que tinha chegado à Ásia. Ainda nessa primeira viagem ele andou explorando as ilhas do Caribe, e quando chegou à ilha que é hoje Cuba achou que estava no Japão.

A primeira impressão dos espanhóis sobre os índios foi de gente dócil, ingênua e confiante. Eles ficaram encantados com os presentes que os espanhóis davam, tipo contas de vidro colorido, e em troca estavam dispostos a dar qualquer coisa que tivessem. Na sua ingenuidade os nativos subiam nos navios sem qualquer receio, e os espanhóis aproveitaram para prender sete deles para levar de volta para a Espanha como escravos. Alguns dos índios usavam enfeites de ouro, e os espanhóis acharam que estavam perto das minas do precioso metal que tanto queriam achar.

Fora aprisionarem alguns índios, e algumas pequenas brigas, o contato entre europeus e nativos nessa viagem foi bom. Ao partir, Colombo deixou 39 homens na ilha de Hispaniola, com a missão de construir um forte que seria o primeiro posto da futura ocupação da região. Quando, um ano depois, Colombo chegou em sua segunda expedição, não achou ninguém. Só uns restos de cabanas de madeira queimados. Através de intérpretes soube-se que os espanhóis, ao invés de construir um forte, tinham se dedicado aos prazeres da carne. Andavam pela ilha em bandos, se aproveitando de qualquer mulher que lhes atraísse, chegando ao estupro se a vítima não cedesse. Depois de algum tempo dessa situação os nativos perderam a paciência e trucidaram os espanhóis. As informações sobre o comportamento de seus homens devem ter sido realmente chocantes, pois Colombo aceitou a vingança dos índios.

6. Espanhóis x índios

A partir do início da segunda viagem, o relacionamento com os índios mudou. Aqueles que antes eram elogiados pela sua generosidade e inocência, agora eram chamados de selvagens. Em vez de falar em fraternidade, e em conversão ao catolicismo, falava-se em escravos e ouro.

As interpretações mais recentes da vida de Colombo lhe dão o papel de um homem indeciso e fraco, às vezes violento, e falam em matança de índios e genocídio.

Embora haja controvérsias a respeito, vou reproduzir aqui algumas dessas acusações já que, exageradas ou não, são um assunto importante que não pode ser omitido. A principal fonte de informações para estes fatos é o Frei Bartolomeu de las Casas, que chegou à America no começo do séculos XVI. Ele escreveu um relato do descobrimento. O problema é que o conceito de rigor histórico não existia naquele tempo, e um historiador freqüentemente misturava fatos com boatos e lendas. Além disso, las Casas foi um veemente defensor dos índios, e tinha a tendência de acreditar em tudo que lhe contassem que fosse favorável aos índios e desfavorável aos descobridores.

Um dos primeiros episódios de violência foi com um índio que tinha sido capturado e cuja barriga tinha sido aberta por um golpe de espada de um espanhol. Ao ver que ele não tinha mais serventia como escravo, pois o ferimento parecia grave, os espanhóis o atiraram para fora do navio, que estava ancorado perto de uma ilha. Segurando sua barriga com uma mão, para que os intestinos não saíssem para fora, o índio começou a nadar com o outro braço em direção terra. Os espanhóis foram atrás dele num bote, capturaram-no de novo, e o atiraram ao mar outra vez, depois de amarrar seus pés e mãos. Teimosamente o índio conseguiu se soltar, e começou mais uma vez a nadar em direção terra. Imediatamente, do navio, dispararam uma série de tiros, e o infeliz afinal afundou nas águas transparentes.

Nessa mesma época inicial dez índias foram capturadas e levadas ao navio principal, o de Colombo, mas seis conseguiram fugir. O Almirante, através de seus intérpretes, mandou pedir ao cacique que as mandasse de volta. Elas deveriam servir de escravas sexuais dos marinheiros, para mantê-los mais sossegados.

Alguns dos navios dessa segunda expedição iam voltar para a Espanha, e nada de ouro ou outras riquezas que eles pudessem levar. Para não mandá-los de mãos abanando, montou-se uma grande expedição de caça a escravos, que capturou mil e quinhentos nativos. Os navios só tinham lugar para quinhentos, de modo que os exemplares de melhor físico foram escolhidos. O resto foi solto. Dos quinhentos exemplares embarcados, só trezentos chegaram vivos à Espanha. Colombo logo concluiu que o trafico de escravos não seria bom negócio, porque a mortalidade em viagem era alta, e decidiu dar preferência à busca do ouro.

De qualquer forma, ele escreveu: Vamos, em nome da Santíssima Trindade, continuar mandando todos os escravos que der para vender.

A partir daí criou-se na ilha de Hispaniola, segundo o relato de Las Casas, um reino de terror sem igual. O Almirante queria ouro, para contentar seus reis e receber seus dez por cento. Como os índios usavam alguns enfeites de ouro, que era garimpado em riachos, os espanhóis se convenceram de que deviam existir grandes jazidas do metal, o que não era fato. Exigiu-se que cada índio, homem ou mulher, a partir dos catorze anos de idade, trouxesse a cada três meses uma determinada quantidade de ouro a um dos fortes dos colonizadores. Em troca, o índio recebia uma fichinha de cobre, estampada com um símbolo do trimestre, que tinha de ser usado pendurado no pescoço. Era assim uma espécie de selo-pedágio.

Quem era visto sem seu pedágio era punido: suas duas mãos eram decepadas. Inevitávelmente a morte vinha em poucos minutos. Gravuras da época mostram os índios cambaleando, o sangue correndo, e a terrível expressão de surpresa na fisionomia dos coitados olhando para o toco de seus pulsos.

Em alguns meses os poucos enfeites de ouro que restavam foram entregues aos espanhóis, e os nativos passavam os dias inteiros garimpando para tentar contentar seus senhores. Mas era impossível. Aqueles que tentavam fugir para as montanhas eram caçados, com a ajuda de cachorros, e mortos.

Nessa época começaram os suicídios em massa. O pessoal se matava com um veneno feito com mandioca. Estima-se que em dois anos morreu metade, ou algo entre 100.000 e 500.000, da população dessa tribo de Arawaks, habitantes de Hispaniola.

Entre a terceira e a quarta viagens de Colombo veio uma viagem de outro espanhol chamado Ovando, com a maior tropa até então, com 31 navios e 2500 homens. Ele foi recebido pela cacique mulher Anacoana, que convidou todos os outros caciques sobreviventes, oitenta e quatro, para dar as boas vindas ao espanhol. Criando um precedente mais tarde seguido por Cortez e Pizarro, os conquistadores puseram fogo na casa de Anacoana, matando todos os caciques que estavam dentro, e em seguida mataram os que estavam do lado de fora e enforcaram Anacoana.

Em 1515 só sobravam 10.000 Arawaks e quarenta anos depois a raça havia desaparecido. Os conquistadores tinham apagado da face da terra um povo inteiro, aquele mesmo que tinham descrito como bom e dócil. Nem um havia se convertido para a religião católica. A partir daí escravos negros, de físico mais forte, foram trazidos da África para trabalhar nas plantações da ilha. Anos depois essa ilha passaria à posse da França e no fim do séculos XVIII os escravos se rebelariam e fundariam a República do Haiti.

Na continuação da colonização existem outros relatos horripilantes de violência. Os irmãos Diego e Franco Porras, por exemplo, decidiram desertar e fugir numa canoa indígena, com alguns remadores nativos. Veio uma tempestade, já em mar alto, e eles acharam que a canoa estava muito pesada e jogaram para fora os remadores. Como alguns deles teimassem em agarrar a borda da canoa, para não ficarem para trás e morrerem afogados, os espanhóis calmamente deceparam suas mãos.

Uma outra história conta de índios que deviam ser enforcados por algum crime que supostamente teriam cometido. Eles eram pendurados baixinho, com os pés quase tocando o chão. Embaixo deles faziam uma fogueira de maneira que se eles quisessem se apoiar no chão para não morrer enforcados, eram queimados. Já os caciques, por consideração especial, não eram enforcados, mas sim queimados vivos numa espécie de assadeira, que os queimava devagar. Uma vez um capitão espanhol reclamou que não conseguia dormir por causa dos gritos dos que estavam sendo queimados, e mandou que eles fossem liquidados imediatamente. Mas o carrasco, em vez disso, amordaçou-os para que não pudessem gritar, e continuou a queimá-los devagarinho, como ele gostava.

Outros condenados, ainda na Hispaniola governada por Colombo, eram cortados em pedaços e a carne era vendida aos colonos como alimento para cachorros. Isso era considerado militarmente uma boa política, pois fazia os cachorros se habituarem ao gosto da carne índia, o que vinha a calhar quando tinham de caçar índios fugidos.

7. Os anos finais

Mesmo tendo realizado o grande feito de atravessar o Atlântico e descobrir um novo mundo, Colombo não estava satisfeito. A mera descoberta, por si só, não valia dinheiro. Mesmo a glória era duvidosa. Como ainda não sabiam do imenso tamanho do continente, descobrir um mundo novo não valia muita coisa. O que valeria glória seria provar que eles tinham chegado à Ásia, e o que valeria muito dinheiro seria achar ouro.

Daí as duas obsessões do descobridor para o resto da vida: provar que tinha atingido a Ásia e achar ouro. No relatório da primeira viagem Colombo insiste em exagerar o tamanho dos locais visitados, tentando convencer seus patrões que terras tão grandes não podiam ser ilhas desconhecidas, mas sim o continente asiático. Ele fala ainda em minas de ouro e de outros metais que são somente um produto da sua imaginação.

A segunda expedição de Colombo deixou a Espanha em setembro de 1493, um ano após a primeira. Desta vez eram dezessete navios, com uma tripulação entre 1.200 e 1.500 pessoas. Essa expedição durou mais de dois anos, durante os quais Colombo estabeleceu uma base de operações em Hispaniola e explorou o Caribe. Ele seguiu a costa de Cuba em direção ao sul durante algum tempo, tentando determinar se aquilo era ilha ou continente. Ventos contrários, e doenças no navio, fizeram-no voltar. Colombo obrigou toda a tripulação a assinar uma declaração dizendo que a grande extensão daquela costa provava que era um continente, já que ilha nenhuma pode ser tão grande, e que portanto tinham atingido a Ásia.

Durante esse tempo todo Colombo estava sendo duramente criticado na Espanha. Muita gente estranhava a falta de notícias, a falta do ouro, e começava a desconfiar que Colombo mentia. A nova colônia não produzia dividendos e, ao contrário, vivia pedindo que mais víveres fossem enviados da Espanha.

Os colonizadores espanhóis, assim como os nossos antepassados de Portugal, não vinham para cá para ficar, mas sim para ganhar dinheiro rápido e voltar para casa. Qualquer espanhol que se considerasse como valendo alguma coisa era contra trabalho físico. Assim, os colonizadores não criavam uma agricultura que pudesse sustentá-los.

Quando a segunda expedição já durava dois anos, os reis mandaram um investigador para ver o que estava acontecendo. Isso deixou Colombo nervoso e ele resolveu voltar para se explicar. A recepção que teve foi fria. A essa altura já fazia quase quatro anos da descoberta e nada de ouro ou de especiarias, nada de asiáticos. Colombo insistia em montar uma nova expedição, mas isso demorou. Alguns navios com suprimentos e mais colonizadores, incluindo as primeiras mulheres, foram enviados, mas Colombo só conseguiu chefiar uma nova viagem, a terceira, em maio de 1498, dois anos depois de voltar da anterior.

Dos seis navios dessa expedição, três rumaram direto para Hispaniola; com os outros três Colombo foi procurar a China. Ele atingiu, pela primeira vez, a costa da América do Sul, na altura da Venezuela, e viajou ao longo dela durante seis semanas, antes de desistir e rumar, ele também, para Hispaniola. Impressionado talvez com a exuberância da vegetação e com o tempo bom, Colombo, em seu relatório enviado aos reis de Espanha, declarou que tinha achado o Paraíso. Ele dizia que …o mundo não é exatamente redondo mas tem o formato de uma pera, ou do seio de uma mulher…esse seio tem um mamilo, onde a Terra tem altitude maior, se aproximando mais do céu… bem no meio desse mamilo fica o Paraíso. A essa altura dá a impressão de que anos de ansiedade estavam deixando o descobridor um tanto desequilibrado.

É mais ou menos dessa época a viagem ao Novo Mundo de um italiano chamado Amérigo (assim mesmo, com G) Vespucci. As descrições muito bonitas que ele escreveu dessa e de outras viagens ficaram famosas, e seu nome acabou sendo usado nos mapas da época, dando assim o nome de América ao nosso continente.

O cargo de Governador-Geral dava a Colombo poder total no território descoberto. Como ele não confiava em quase ninguém, e era visto pelos seus comandados espanhóis como estrangeiro, tinha entregue o comando da colônia em Hispaniola, durante suas ausências, aos seus irmãos Bartolomeu e Diego.

Esses dois adotavam atitudes autoritárias, e até tirânicas, não só com os índios mas também com os seus comandados brancos, e quando Colombo chegou a Hispaniola depois da sua exploração da costa sul-americana os colonizadores estavam a ponto de se rebelar. Os dois irmãos de Colombo já haviam até enforcado alguns espanhóis para conter a revolta, e a situação estava muito tensa. Colombo apoiou seus irmãos, e a tensão piorou.

Nesse momento a Corte mandou um interventor, com plenos poderes para assumir o comando dos novos territórios. Ele chamava-se Bobadilha. Sua primeira atitude, ao chegar e ouvir depoimentos de todo mundo, foi prender os três irmãos e enviá-los, acorrentados, para serem julgados na Espanha. O capitão do navio ficou com pena de Colombo e, após a partida, ofereceu-se para tirar as correntes que o prendiam. Colombo recusou a oferta, dizendo que as correntes que tinham sido colocadas por ordem real só sairiam por ordem real. Ele fez questão de comparecer à audiência com o rei e a rainha acorrentado, dramatizando a injustiça que achava que estava sendo feita. O resto de sua vida Colombo guardou essas correntes, mesmo depois que foram retiradas, e determinou que elas fossem enterradas com ele.

Colombo foi julgado e absolvido. As autoridades chegaram à conclusão de que Bobadilha tinha sido rigoroso demais com ele. Não queriam, porém, dar-lhe a oportunidade de novas viagens. Durante alguns anos o navegador insistiu e implorou, jurando que se lhe dessem só mais uma chance ele chegaria à China. Finalmente em 1502 Colombo conseguiu.

Deram-lhe quatro navios, e permitiram a viagem com as seguintes condições:

Não poderia ir à ilha de Hispaniola
Não poderia trazer escravos.
Assumia o compromisso de não fazer reclamações de qualquer espécie, ao voltar.
Levaria um tabelião oficial que faria uma lista de todo ouro ou preciosidades encontradas.
Deveria tratar bem sua tripulação, como súditos reais.

Pela quarta vez Colombo viajaria ao Novo Mundo e voltaria sem qualquer conclusão final. E pela quarta vez ele faria um relatório insistindo em que tinha chegado Ásia, e falando em riquezas imensas que na verdade não existiam. Na realidade, ele pisara pela primeira vez em terra firme da América Central. Até então todos os territórios visitados eram ilhas do Caribe. Durante essa viagem Colombo mandou uma carta para o Rei e a Rainha, na qual se revelava bastante tresloucado. Além de se fazer de vítima, dizendo-se um injustiçado e incompreendido, ele contava que Deus falava com ele, comparando-o a Moisés e Davi, e exortando-o a não desistir. Ao mesmo tempo, a carta inventa mais histórias de minas de ouro imensas, cujo caminho só ele conhecia. Em novembro de 1504 a expedição, que durara mais de dois anos, estava de volta à Espanha.

Colombo viveria menos de dois anos, pois veio a morrer em maio de 1506. Até o fim ele se queixou dos maus tratos e injustiças recebidos, e passou para a posteridade a imagem de ter tido um final de vida na solidão e na pobreza. A realidade não foi bem essa. Colombo teve reconfirmados pelo rei Fernando (a rainha Isabel morreu em 1505) os títulos de Almirante e Vice-Rei. Além disso, após muitas discussões sobre os dez por cento que esperava ter de todo o comércio com os novos territórios, o rei lhe deu dez por cento do quinto real, ou dois por cento do total, o que era suficiente para deixar qualquer um muito rico.

Além dos títulos já mencionados, o filho de Colombo foi agraciado com o título de Duque de Veragua, nome de uma vasta área de terra que ele ganhou no Panamá. Mais tarde a família vendeu essa propriedade de volta para a Coroa. Também a ilha que é hoje a Jamaica era propriedade da família, só que foi tomada pelos ingleses no séculos XVII.

Alguma riqueza sobrou. O escritor Ernest Hemingway, em seu livro Death in the Afternoon, sobre touradas, fala dos famosos touros de raça especial para touradas criados pelo Duque de Veragua no começo do século XX. O atual duque, descendente direto de Colombo, chama-se Cristovão Colombo (ou melhor, Cristóbal Colón, que é a versão espanhola do nome), e é capitão da Marinha Espanhola.

Cristovão Colombo – Resumo

1451: Nasce em Génova
1476:
Representando comerciantes genoveses, naufraga nas costas portuguesas. Ficará no Reino cerca de dez anos, a maior parte dos quais no arquipélago da Madeira.
1480:
Casa com Filipa Moniz, filha de Bartolomeu Perestrelo, o primeiro donatário de Porto Santo.
1484 (?):
D. João II recusa o projeto de Colombo de alcançar a Ásia rumando para ocidente.
1492:
Obtém o apoio de Isabel I de Castela para a viagem que D. João II recusara. Comandando três naves pequenas (Santa Maria, Pinta e Niña), a 12 de Outubro descobre o continente que virá a ser chamado de América. Pensa ter alcançado o extremo ocidental da Ásia, convicção que jamais o abandonará, apesar de sucessivas provas em contrário. Explora as ilhas que virão a ser chamadas de Bahamas, Haiti e Cuba. Regressa a Castela em 1493.
1493/96:
Segunda viagem à América, comandando frota de dezassete navios. Explora as Antilhas e Porto Rico.
1498/1500: Terceira viagem à América; toca a Venezuela; regressa a Castela sob prisão.
1502/04:
Quarta viagem à América.
1506:
A 20 de Maio, morre em Valhodolid, esquecido e abandonado.

ESPECIARIAS

De Oriente para Ocidente, a evolução do preço das especiarias. Entretanto, o que está a acontecer no resto do mundo? Consulta a Tábua Cronológica.

Esgotos não existem. Os despejos são feitos diretamente para as ruas. Cidades infectas, as da Europa medieval.

E insalubres: volta e meia, as pestes dizimam as populações. Alimentação ? Os legumes são raros, a beterraba é desconhecida, ignorados o café e o cacau.

Portanto, peixe seco ou carne salgada. E durante o ano inteiro, monotonia do paladar. Apenas alguns senhores dos mais favorecidos é que se dão ao luxo de ter nas suas mesas ânforas de vinho e açucareiros.

Eis quando começam a chegar à Europa as especiarias do Oriente. Pimenta e cravo-da-índia para transformar o gosto da carne. Canela, noz-moscada, gengibre, benjoim e aloés para enriquecer o sabor dos reduzidos acepipes. Sândalo, resinas aromáticas para opor à pestilência das ruas.

Navios começam a cabotar os portos do Mediterrâneo: ida e volta de Veneza e Génova para Constantinopla e Alexandria. Do Oriente para Ocidente, singra o comércio de especiarias.

Entretanto, hordas de Gengis Kã afugentam as tribos turcas para a Pérsia. Estas conquistam e fixam-se no território. Alastram por todo o Próximo Oriente.

Observam as caravanas de mercadores que atravessam os seus domínios. Invocam o Profeta Maomet que morrera seis séculos antes e desencadeiam guerra santa contra os cristãos, os infiéis.

Consequências: tampão turco entre o Oriente e o Ocidente, rarefação de especiarias na Europa.

No século XVI será feita a seguinte avaliação: um quintal de cravo-da-índia custa 2 ducados nas Molucas, 14 ducados em Malacia, 50 ducados em Calecut e 213 ducados em Londres. Com este progressivo aumento de preços, conforme se vai marchando de leste para oeste, poderia haver melhor negócio do que abrir caminho alternativo para o comércio das especiarias ?

Melhor se entende agora a obsessão de reis, infantes e príncipes da dinastia de Avis: rumar, rumar para o sul, contornar a África, subir ao longo da contracosta, descobrir o caminho marítimo para a Índia, isolar e combater pela retaguarda o Turco anti-cristão! As garras do interesse, as luvas da cruzada…

Primeiro são os portugueses a perseguir a miragem. Logo a seguir os vizinhos da Península, mas rumos alternativos serão os seus… E eis que surge Messer Cristóvão Colombo a pedir audiência a Isabel I de Castela. Mas antes…

NAUFRÁGIO NA COSTA PORTUGUESA

1476. Uma frota mercante genovesa cruza o Mediterrâneo. Cristóvão Colombo numa das naves. Tem 25 anos e é natural de Génova. Por conta de dois abastados mercadores, Di Negro e Spinola, navega rumo a Lisboa onde o aguarda o seu irmão Bartolomeu, cartógrafo ao serviço da Coroa lusitana. Mareado, Cristóvão recolhe ao seu beliche. Começa a reler O Livro das Maravilhas do Mundo, de Marco Polo. A leitura volta a apaixoná-lo. Raramente sobe ao convés.

Quando a frota passa ao largo da Córsega, estão Marco Polo e Colombo indignados com a fuga dos dois frades que deveriam evangelizar os povos de Catai (China). Quando a Maiorca surge no horizonte, estão Marco Polo e Colombo a subir e a descer as montanhas do Pamir. Quando ultrapassa as colunas de Hércules (Gibraltar) estão Marco Polo e Colombo a serem recebidos e muito honrados pelo grande Kubilai Kã. Quando o gajeiro da nau-capitã avista o cabo de S. Vicente, está Marco Polo a descrever a Colombo as maravilhas de uma ilha fabulosa, Cipângu (Japão). Sedas, ouro, pérolas, rubis, diamantes, esmeraldas e de repente um estrondo, gritos, mas desta vez no Atlântico, a caminho de Lisboa. O navio a meter água e novo tiro de bombarda. São piratas luso-franceses ao ataque. Colombo galga ao convés. Fragor, um mastro a despenhar-se e a arrastar todo o cordame atrás de si. A nave adorna, já vai a pique, escaleres salva-vidas já vão longe. Descalça as botas, despe o gibão, atira-se ao mar. Não tem o que temer por sua vida, um Anjo assopra-lhe que Deus o reserva para grandes feitos, salvador da Fé Sagrada, defensor da Cristandade. E nada. Durante horas nada e esbraceja contra ondas e correntes. Por fim consegue arribar à praia, exaustão. Uma família de pescadores algarvios dá-lhe abrigo num casebre.

EM LISBOA

Lisboa, o Tejo, estuário imenso. Na primavera, vindas de África, naus e caravelas demandam a barra. Tornam carregadas de presas de elefante, malagueta e escravos negros. Chegado o Outono, outra vez irão rumar para o sul. Levarão carga apreciada de barretes encarnados, berloques, espelhos e contas de vidro.

Muita gente desvairada pelas ruas de Lisboa. Marinheiros ainda a gingar de bombordo a estibordo. Morenos e vermelhos, franzinos e gigantes, cabelos pretos e de palha, línguas muitas. Também papagaios a palrar nas varandas, um deles até canta em castelhano. Há paredes cobertas de azulejos. Um coche e os cavalos a galopar, arreda, arreda! Chafarizes e africanos a fazer fila, esperam vez. Percutem nas vasilhas por encher, é batuque na Europa, todos cantam, todos dançam, riem muito. Peixeiras lançam pregões. Mulheres assomam-se à janela, ó freguesa, é do alto, é fresquinha. Um perna de pau exibe as habilidades do macaquito que apanhara na Guiné. Na Ribeira das Naus dois camponeses tentam alistar-se como grumetes. As Índias, as Índias, um dia chegarão às Índias, a fortuna para todos! No Terreiro do Paço, à beira-rio, Bartolomeu Colombo, o genovês, aperta contra o peito o seu irmão Cristóvão, quase afogado nos mares do Algarve. Irá iniciá-lo nos segredos da cartografia.

Meses depois, Cristóvão continua a achar insensata a empresa dos portugueses: por que insistem eles em tentar contornar a África, se a Ásia está do outro lado do Mar Atlântico, a poucos dias de viagem ? Mais fácil será cabotar depois ao longo da costa asiática, reconhecer a ilha Cipângu, levar ao Grande Kã de Catai os frades evangelizadores que ele pedira a Nicolo Polo e finalmente atacar pela retaguarda o Turco infiel que ameaça apoderar-se do Santo Sepulcro. Bartolomeu sorri. Contesta a geografia do seu irmão, inspirada em Toscanelli. A circunferência da Terra será bem maior do que dizem os seus cálculos. Cristóvão não se deixa convencer, um Anjo assopra que está certo. Mas encerra a discussão. Tem mais que fazer, tem que cuidar da sua vida. A pedido de Messer Di Negro embarca para Porto Santo em busca de açúcar para vender na Itália.

O PRÍNCIPE PERFEITO

Colombo embevecido com a leitura de Marco Polo. Entretanto, o que está a acontecer no resto do mundo? Consulta a Tábua Cronológica.

Porto Santo, depois Madeira. Em 1480 casa com D. Filipa Moniz, filha de Bartolomeu Perestrelo, o 1º capitão-donatário da ilha de Porto Santo. Amor ? Talvez amor, talvez degrau para o projeto que o Anjo não se cansa de assoprar. Enviuva quatro anos depois. Do casamento tivera um filho, ao qual dera o nome de Diogo. Portanto Messer Colombo continua ligado a uma das mais nobres famílias lusitanas. Portanto Messer Colombo continua a ter acesso ao Paço Real.

Acamarada com os mais importantes navegadores que fundeiam e fazem aguada na Madeira. Alguns garantem-lhe ter avistado ilhas a Ocidente e outra vez o Anjo assopra que o extremo oriental da Ásia ficará a poucos dias de viagem para Oeste. Colombo quer apresentar o seu projeto a D. João II. Mas antes terá que fazer prova de lealdade. Embarca numa expedição à Guiné.

Em 1484 pede audiência real e o Príncipe Perfeito recebe-o.

Cristóvão Colombo diz de suas razões, por sua boca fala o Anjo: a geografia de Toscanelli, Marco Polo, Kubilai Kã, a Ásia a poucos dias de viagem para oeste, o Santo Sepulcro ameaçado pelos infiéis. Pede que Sua Alteza lhe entregue o comando de uma frota que possa demandar, por Ocidente, a ilha de Cipângu, que ficará na mesma latitude das Canárias. D. João II não se deixa convencer. Acha delirante o projeto do genovês. Mas tocam-no as palavras de profeta iluminado. Adia a decisão, faz seguir o plano para o Conselho científico de navegação.

Que o rejeita: ignorâncias, miragens.

OS REIS CATÓLICOS

Colombo pretende alcançar a Ásia por ocidente. Entretanto, o que está a acontecer no resto do mundo? Consulta a Tábua Cronológica.

Tocado por um Anjo, Colombo persegue apenas um plano e já deixou de cuidar da própria vida. Credores não arredam da sua porta. Solução ? Marchar para a fronteira, quase uma fuga.

Do outro lado, a Espanha é já um Estado unificado, Fernando de Aragão casado com Isabel de Castela. Em nome de Cristo, os Reis Católicos já tinham expulso os judeus do Reino. Colombo aprovara a expulsão. Em nome de Cristo, os Reis Católicos querem agora expulsar os mouros do emirado de Granada. Colombo aprova, Colombo exulta, cruzada contra Mafoma.

Consegue ser recebido pela rainha. Outra vez o Anjo fala pela boca de Colombo. Isabel fascinada com o plano, fervor, veemência, o que é preciso é derrotar os infiéis. E se, ao mesmo tempo, puder lançar mão das riquezas asiáticas, tanto melhor… Contudo, por um resto de prudência, Isabel resolve submeter o projeto ao seu conselho de navegação.

E também este o rejeita: incoerências, falsidades, magreza de justificações teóricas.

Colombo outra vez se volta para D. João II.

E outra vez falham as suas diligências: Bartolomeu Dias dobrara o Cabo da Boa Esperança, por fim aberto o caminho marítimo para a Índia.

Retorna a Espanha. Consegue segunda audiência com Isabel, obstinação. A soberana pede-lhe para aguardar o término da conquista de Granada.

Torna o Anjo ao seu discurso:

– Nobre e poderosa princesa cristã, rainha de Espanha e das Ilhas do Mar: existe nas Índias um príncipe a que dão o nome de Grande Cã. Tanto ele, como os seus ancestrais, já referidos por Messer Marco Polo, enviaram embaixada a Roma, procurando mestres da nossa Santa Fé, capazes de doutrinarem o seu povo no respeito a Cristo e à Santíssima Trindade. Poderei eu alcançar por oeste o reino do Grande Cã e induzi-lo, como primeiro ato de fé, a subsidiar uma cruzada pela libertação do Santo Sepulcro. Considerai, nobre princesa cristã, o que este vosso súbdito e modesto navegador vos propõe.

Isabel promete reconsiderar a decisão logo depois da vitória sobre os mouros de Granada.

Rende-se a capital mourisca. Rapina, festejos, aclamações e fanfarras, o projeto de Colombo arquivado no olvido.

1492. Desesperanças, sorvedouros, remoinhos. Escarranchado em mula pachorrenta, aí vai Messer Cristóvão Colombo a caminho de França. Talvez Carlos VIII patrocine o seu projeto, assim o queira Deus e louvado seja o Santo Nome.

Entretanto, em Córdova, D. Luís de Santangel, banqueiro poderoso e amigo do genovês, argumenta com os reis de Espanha:

– Bartolomeu Dias dobrou os confins da África. Em breve os portugueses alcançarão as Índias. Creio ser este o momento em que deveis arriscar o pouco que Colombo vos pede, pelo muito que ele vos promete.

Os Reis Católicos arriscam. Mandam emissário atrás de Colombo. O genovês é alcançado em Piños-Puente, a dez milhas de Granada. Colombo escuta a mensagem real. Desce da mula. Ajoelha-se na terra seca. Benze-se. Levanta a cabeça, fita o firmamento. Abre os braços. Seis anos de provações. Porém um Anjo a guardar o seu destino, comoção.

SANTA MARIA, PINTA E NIÑA

Colombo corrige o rumo da sua frota. Entretanto, o que está a acontecer no resto do mundo? Consulta a Tábua Cronológica.

Três navios de pequeno calado: Santa Maria, a nau-capitã, cem tonéis e quarenta tripulantes; Pinta, cinquenta e cinco tonéis e vinte e seis tripulantes; Niña, sessenta tonéis e vinte e quatro tripulantes. Colombo comanda a frota e um Anjo comando Colombo. Largam de Palos (Sevilha) a 12 de Maio de 1492. Arribam às Canárias. Os navios são aí calafetados, pintados e abastecidos.

Intervalo e D. Cristóvão envolve-se com D. Beatriz de Peraza, viúva do Governador da ilha de Gomera. D. Beatriz, a desterrada no meio do mar por ordem de D. Isabel, já que tentara enfeitiçar el-Rei Fernando. E agora o enfeitiçado é D. Cristóvão Colombo, Almirante dos Reis de Espanha no Mar Oceano e antecipado Vice-Rei das terras que descobrir. Cavalgam os amantes pelos montes e pelas ruas de Gomera. Murmuram os marinheiros que a expedição chegara ao fim. Mas a 8 de Setembro o Anjo assopra ao ouvido de D. Cristóvão. E a 9 de Setembro, Santa Maria, Pinta e Niña fazem-se ao largo.

Rumo oeste ! assopra o Anjo. E D. Cristóvão manda rumar para oeste. Está certo o Anjo. Só no fim do Verão começa a ventar do quadrante de nordeste.

O Almirante leva cartas assinadas pelos Reis Católicos e dirigidas ao Grande Kã e a todos os príncipes orientais. É navegante seguro.

Os instrumentos é que não são de confiança e sabe disso: ampulhetas de areia para medir o tempo e comparar a hora local com a de Espanha; um quarto de círculo de madeira para medir a altura das estrelas, e os graus oscilam conforme a oscilação de bombordo a estibordo. Em contrapartida, um Anjo é quem dirige D. Cristóvão pelos mares.

A 16 de Setembro três quilhas fundas começam a rasgar o esverdeado e viscoso Mar de Sargaços.

Logo o medo e o pavor dos tripulantes: que o mar acaba em lama e nela ficarão atolados para sempre; que o fim do mar é o fim do mundo, homens com focinho de lobo, um demónio negro com duas cabeças, uma bruxa que da própria pata imensa faz guarda-sol enquanto dorme; que não há vento de retorno para a pátria, Santa Maria, Mãe de Deus, ora pro nobis…

A 20 de Setembro estão as três naves imobilizadas na mais profunda calmaria e os demónios sobem a bordo, alguém os viu, todos a temer as próprias sombras.

A 25 de Setembro, no fim do dia, um gajeiro grita: terra ! Na manhã seguinte terra não há, fora encanto do Diabo e todos já predispostos ao motim.

De 2 a 6 de Outubro recomeça a ventar a e as velas já correm pandas. Oficiais pedem a D. Cristóvão que regresse a Espanha, pois o mar não tem fim. D. Cristóvão recusa. Já ultrapassaram, certamente, a ilha de Cipângu. Agora rumam para Catai e ele não tornará a Pallos sem novas da Índia.

A 7 de Outubro um outro gajeiro volta a gritar: terra ! Mas terra não há, novo encanto do Diabo. Ao cair da noite, apontando a sudoeste, aves migratórias começam a sobrevoar as três naves, é bando que parece não ter fim.

D. Cristóvão lembra-se: foi assim que os portugueses descobriram os Açores. Manda rumar para sudoeste. Mas a 10 de Outubro, os navios açoitados por tempestade, outra vez assopra o Anjo ao ouvido de D. Cristóvão. E o Almirante manda corrigir o rumo para oeste. Bem sabe o Anjo o que assopra. Não houvesse súbita mudança de rumo e a frota iria naufragar contra os escolhos de uma ilha.

Para prevenir um motim D. Cristóvão convoca os seus oficiais e promete que, passados três dias, não achando terra, voltarão a Espanha. Ordena ainda que, apesar da tempestade, desfraldem todas as velas. É loucura, é corrida contra o tempo, desvario do genovês.

Ao cair a noite de 11 de Outubro D. Cristóvão pensa ter visto ao longe uma luzinha. Mas cala, ajoelha-se e reza. Amanhã será o fim do prazo prometido. Possa ele ser amparado pelo que seu Anjo da Guarda…

Às duas da madrugada de 12 de Outubro, mas a lua a cintilar sobre as ondas, do alto da Pinta um gajeiro grita:

– Terra, aleluia, agora é terra, é mesmo terra !

Realmente a palidez de um areal. Mais ao longe colinas e montes, sombreado. Trinta e três dias de viagem. Chega a alvorada e desembarcam. Ajoelham-se na praia. Benzem-se, oram, contrição. Um povo desnudo e pacífico contempla-os. Os corpos cor do cobre, os olhos rasgados. Não será Cipângu. Não será Catai ainda. Mas certamente a Ásia, certamente a Índia.

D. Cristóvão aponta, define:

– Índios ! São índios !

O Anjo assopra-lhe que tem razão.

AMÉRICA

Primeira ilha da Ásia recém descoberta por Ocidente ! Como se chama ? O Anjo assopra e D. Cristóvão dá-lhe o nome de S. Salvador. Está perto do continente, sabe disso. Irá pisá-lo mais tarde, numa próxima viagem.

Em S. Salvador D. Cristóvão não alcança notícias do Grande Cã. Nem encontra ouro de qualidade, nem pérolas, nem esmeraldas, nem sedas, nem palácios. De especiarias, acha apenas uma espécie de pimenta e uma folha amarga a que os naturais chamam tabac e cujo fumo aspiram. Também um tubérculo açucarado que na Europa será chamado de batata-doce.

Sempre em busca de riquezas, navega para ilhas próximas que virão a ser conhecidas como Bahamas, Cuba e Haiti. A esta, D. Cristóvão dá o nome de Hispaniola. Por descuido do grumete de guarda, é justamente em Hispaniola que vem a naufragar a Santa Maria, a nau-capitã. Com os seus destroços D. Cristóvão manda levantar um fortim e ali se quedam 39 homens enquanto ele, e os outros, regressam a Espanha. Pinta e Niña a navegar, torna-viagem.

Referindo-se aos índios, dirá o Almirante aos Reis Católicos:

– Estes gentios ignoram completamente a prática das armas. Com cinquenta homens será fácil subjugá-los e fazermos deles o que quisermos.

Nem os Reis Católicos, nem D. Cristóvão, nem sequer o Anjo têm qualquer reserva contra a escravatura. Se riquezas não há, antes isso do que nada.

CALA-SE O ANJO

Em 1493, na 2ª. viagem às suas Índias Ocidentais, comandando uma frota de dezassete naves, D. Cristóvão reconhece as ilhas que virão a ser conhecidas como Antilhas e Porto Rico. Riquezas ? Quase nada.

Em 1499, durante a 3ª. viagem, pela primeira vez D. Cristóvão Colombo pisa o Continente, na região onde será mais tarde a Venezuela. Um índio conta-lhe então que a oeste de terra firme existe um outro oceano tão grande quanto o de leste. D. Cristóvão não acredita, não pode acreditar em tal notícia. Açoita o índio e o Anjo cala-se. Nunca mais assoprará.

OS DESASTRES DO GRANDE ALMIRANTE

Ainda durante a 3ª. viagem regressa a Espanha sob prisão. Será depois ilibado das acusações. Faz ainda uma 4ª. viagem em 1502.

Escreve aos Reis Católicos, lamenta-se:

«Era jovem quando ofereci os meus serviços a Vossas Majestades. Agora os meus cabelos são brancos e o meu corpo é débil. Tudo o que meus irmãos e eu mesmo possuímos, foi-nos tomado e vendido, inclusive o meu manto, o que grandemente ofendeu a minha honra. Não creio ter sido o acontecimento ordem de Vossas Majestades. A restauração da minha honra e a restauração das minhas perdas, assim como o castigo dos que provocaram tais injustiças, somente poderão engrandecer, mais uma vez, Vossas Majestades. (…) Debruçado sobre a minha dor, ferido e aguardando quotidianamente a morte, cercado por um milhão de selvagens hostis e cruéis, privado dos Sacramentos da Santa Igreja, como ficará abandonada a minha alma assim que ela deixar o meu corpo ! (…) Suplico humildemente a Vossas Majestades que se dignem ajudar-me, se Deus permitir que abandone estas paragens, e me desloque a Roma, e inicie outras peregrinações. Queira a Santíssima Trindade proteger vossas vidas e vossos bens.

Escrita nas Índias, na ilha da Jamaica, a sete de Julho de mil quinhentos e três.»

Afinal sempre fora encontrado ouro nas Índias Ocidentais. Dando o dito por não dito, El-rei D. Fernando dividira o vice-reinado por tantos responsáveis quantos os mais capacitados para aumentarem em tempo mínimo o tesouro da Casa Real, rapinagem. E para isso Messer Colombo não serve, visionários são empecilho…

Regressa a Espanha em 1504. Tenta reaver o vice-reinado que lhe fora prometido. Não consegue. Morre em Valhodolid a 20 de Maio de 1506.

Pobre, esquecido e abandonado por todos. Inclusive pelo Anjo.

Fonte: www.geocities.com/www.discoverybrasil.com/www.museucolombo-portosanto.com/www.vidaslusofonas.pt

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