Quilombo dos Palmares

( 1630-1694 )

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A origem de Palmares é anterior a 1600. Não se sabe exatamente o ano. Sabe-se que os escravos de um engenho se rebelaram, e tomaram o engenho.

Ficaram então diante de um problema: se ficassem no engenho, seriam esmagados pelas tropas do governo. Se levantassem aldeias no litoral, ficariam livres por um certo tempo, mas seriam apanhados mais cedo ou mais tarde pelos capitães do mato.

Os escravos decidiram então ir para uma região desconhecida, perigosa e temida pelos brancos: a região de Palmares.

O nome “Palmares” foi dado porque havia mata fechada, sem luz, cheia de mosquitos e animais perigosos.

A floresta se estendia por muitas serras, cercadas por precipícios. Homens, mulheres e crianças caminharam por muito tempo pela floresta, até escolherem um lugar para fundar uma aldeia. O lugar escolhido, na serra da Barriga, foi o início da República dos Palmares.

No começo, viviam de caça, pesca, coleta de frutos. Para os africanos isso era voltar para trás, pois na África tinham sido povos agricultores, pastores, artesãos, comerciantes e artistas. Era preciso de mais gente em Palmares, pois com mais braços seria possível desenvolver mais o quilombo. Pouco a pouco a população de Palmares aumentou. E a produção econômica também. Havia palmarinos com muitos conhecimentos de metalurgia do ferro, com técnicas trazidas da África.

Agora, em Palmares, podiam criar, com seu conhecimento, o que era necessário ao quilombo. Também houve crescimento na agricultura.

Palmares chegou a ter onze povoações conhecidas, os quilombos chegaram a cobrir uma área de 350 quilômetros, de norte a sul, em terras que hoje pertencem ao estado de Pernambuco e ao estado de Alagoas. As principais vilas perto de Palmares eram Porto Calvo, Alagoas, São Miguel, Una, Ipojuca e Serinhaém.

Desde seu início, Palmares estava aberto a todos os perseguidos pelo sistema colonial. Vinham para Palmares negros com as mais diferentes origens africanas, inclusive com diferentes tradições religiosas e de costumes. Vinham índios, vinham brancos pobres, vinham mestiços. Os quilombolas não tinham preconceito de cor ou raça. O que os unia era o fato de que todos eram pobres, oprimidos e explorados.

Dentro dos povoados palmarinos havia uma rua. Os maiores tinham três a quatro ruas. Ao longo da rua havia casas de madeiras, cobertas com folhas de palmeiras. No centro havia um largo, com uma casa de conselho, uma capela, oficinas dos artesãos, mercado e poço.

Cada povoação tinha um chefe, escolhido por sua força, inteligência e habilidade. Tinha também um conselho, que controlava o chefe. As decisões sobre os problemas mais complicados eram tomadas em uma assembléia geral, da qual participavam todos os adultos da povoação. Havia leis rigorosas, com pena de morte para roubo, adultério, homicídio e deserção. A língua falada era uma língua própria, misturando português, línguas africanas e indígenas.

Na religião, combinavam elementos das religiões africanas e cristã. As capelas tinham imagens dos dois tipos. A presença da língua portuguesa e da religião cristã nos quilombos, misturada com outras línguas e religiões, se deve a muita coisa. Uma das coisas que se pode dizer é que provavelmente serviam para unificar pessoas que vinham de culturas muito diferentes. Isto é, na África, os negros que agora estavam em palmares tinham pertencido a tribos diferentes, e até mesmo inimigas.

E a religião e a língua de Palmares tinham de incluir a todos, sem privilegiar uma tribo em prejuízo de outra. Para isto, os negros pegavam no “cristianismo” aquilo que eles têm de libertados e jogavam fora o “cristianismo” que era ensinado pelos padres nas senzalas, ensinando o escravo a ser passivo e submisso ao senhor de engenho.

Em 1602 houve uma primeira perseguição contra Palmares. Quem ia nas expedições contra Palmares sempre buscava com isso conseguir vantagens pessoais.

Havia senhores de engenho, interessados em arrebentar uma rebelião de escravos. Havia oficiais militares, interessados em impressionar o rei de Portugal e ganhar alguma coisa em troca. A maioria da tropa era formada por mamelucos, brancos pobres e negros libertos, que pretendiam capturar negros e depois vendê-los.

Havia também índios, que se contentavam com pequenos presentes. Alguns pretendiam capturar negros para comerem. Todos esses pobres buscavam melhorar um pouco a miséria em que viviam.

Essa primeira expedição voltou dizendo que tinha destruído totalmente o quilombo. Aliás, as expedições seguintes, por anos e anos, sempre voltavam dizendo isso. E sempre era falso. Logo vinham notícias das atividades dos palmarinos nas redondezas.

Em 1630 os holandeses invadiram a capitania de Pernambuco. Até certo ponto, Palmares saiu ganhando com isso, porque os portugueses passaram a guerrear com os holandeses. Quando os holandeses invadiram Olinda, e as tropas portuguesas se retiraram, os escravos saem às ruas, incendiando a cidade. As tropas holandesas entram na cidade, apagam o incêndio e saqueiam a cidade por 24 horas.

Os portugueses e os senhores de engenho organizam a defesa contra os holandeses, utilizando a guerra de guerrilhas. Mas em 1635 os holandeses conseguem vencer a resistência.

Os portugueses enfrentam duas frentes de batalha: de um lado os holandeses, de outro os escravos e os índios. Muitos índios se passam para o lado dos holandeses, contra os portugueses, descarregando sobre estes toda crueldade de que haviam sido vítimas. Uns poucos permanecem com os portugueses, sob o comando de Felipe Camarão, a maioria por dinheiro.

Os negros, entretanto, não escolhem nem portugueses, nem holandeses. Sabiam que nenhum dos dois era flor que se cheirasse. Na Bahia, os holandeses haviam tido apoio de negros, e depois os entregaram aos portugueses para serem novamente escravos. Foi uma das muitas guerras, onde ricos usaram pobres.

Em 1644, o governador holandês Mauricio de Nassau enviou uma primeira expedição contra Palmares. Pouco conseguiu. Em 1645, Nassau organizou outra expedição contra Palmares, comandada por um especialista em guerra de emboscada. Foi um fracasso total. A expedição nem conseguiu avistar o inimigo, encontrou apenas duas aldeias abandonadas.

Outra expedição parte. Fez alguns prisioneiros, que foram repartidos entre soldados. Ainda em 1655 houve mais duas outras expedições, uma armada pelos senhores de engenho, outra pelo governador; ambas sem resultados.

Em 1674, o governador de Pernambuco começa a preparar uma grande expedição. Promete aos voluntários a propriedade dos negros presos; manda vir índios da Paraíba e do Rio Grande do Norte e convoca os negros organizados sob o comando de Henrique Dias, cuja tropa chama-se “Terço dos Henriques”. Mas a expedição novamente fracassa.

Quando o governador convidou-os à atacar Palmares, em 1675, eles não aceitaram. Estavam acostumados a caçar índios, que se expunham aos ataques, mesmo com inferioridade de armas, e morriam assim aos milhares. Já os negros eram tão hábeis na guerra que haviam derrotado grandes militares de Pernambuco.

Os negros tinham táticas de recuo, de emboscada, de fortificação e muitas armas. Assim, o governador organiza outras expedições com gente da região, mas sem sucesso.

Em 1676 partem novas expedições. Em uma delas, são capturados parentes de Ganga-Zumba.

Os portugueses propõem a seguinte negociação: garantia de terra, direitos, e liberdade aos negros que se rendessem. No dia 18 de junho de 1678, entra em Recife uma embaixada de Palmares, com quinze pessoas, incluindo três filhos de Ganga-Zumba, para fazer acordo. Era uma traição aceitar este acordo, pois ele dizia que os negros nascidos fora de Palmares voltariam à escravidão. Mas Ganga-Zumba aceitou o acordo. Houve muita luta dentro de Palmares. Uma pequena parte da população acompanhou Ganga-Zumba.

Em novembro do mesmo ano, Ganga – Zumba foi a Recife, confirmar pessoalmente o acordo. Foi recebido solenemente pelo governador. Pouco depois, partia para Cucaú, distante 32 quilômetros de Serinhaém, onde viveriam nas novas terras prometidas pelo acordo.

Enquanto isso, o governador distribuiu 150 léguas de terras palmarinas a grandes proprietários pernambucanos. Como sempre, os livres e pobres que esperavam terras como recompensa, nada receberam. Mas nem os “premiados” conseguiram tomar posse de “suas” terras. Quando tentaram nelas entrar, foram violentamente repelidos pelos palmarinos.

Palmares não havia morrido. Foi apenas uma pequena parte que acompanhou Ganga-Zumba.

A maioria ficou, agora sob comando de um general que lutaria até a morte pela liberdade dos negros: Zumbi.

Muito jovem ainda, Zumbi já era chefe de uma das povoações. Na época do acordo feito com Ganga-Zumba, 1678, Zumbi era também chefe das forças armadas de Palmares. No entanto, a classe dominante procurou ocultar a grandeza. Hoje, o nome “Zumbi” é visto como nome de assombração, saci ou diabo.

Isso porque Zumbi assumiu a luta de seu povo. E os bandeirantes, que na verdade foram uns selvagens, são vistos como heróis. Muitos chefes militares importantes desertaram junto com Ganga-Zumba.

Era um grande perigo para os que ficavam, pois os portugueses poderiam ter informações completas sobre a organização de Palmares. Então Zumbi reorganiza toda a vida de Palmares, em função da guerra, que mais cedo ou mais tarde certamente viria.

Em 1692, o bandeirante Jorge Velho chega a Palmares, ataca, mas é combatido pelos palmarinos, que o obrigam a recuar. Cego e ódio, o bandeirante descarregou sua loucura degolando duzentos índios. Ainda em 1692, o padre Antônio Vieira escreve ao rei de Portugal, dizendo que não havia nenhuma possibilidade de negociação com os “quilombas”. Se continuassem livres em Palmares, em paz, seria um exemplo aos escravos.

O único jeito era destruir Palmares totalmente. O governo anunciou que os voluntários receberiam comida para guerrear contra Palmares. Os padres, nas missas, pregam o dever de todos de participar da “cruzada contra Palmares”.

E a tropa que se formou, em 1694, tinha nove mil homens. Chegando a Macaco, a tropa tem uma grande surpresa. A povoação estava incrivelmente defendida. Por dois dias, o exército fica sem saber o que fazer. Tenta dois ataques, fracassados, e encomenda novos reforços.

Chegam os reforços, trazendo também canhões, que eram um tipo novo de arma. Houve uma grande batalha, e Macaco foi incendiada. Os palmarinos lutavam bravamente. Os sobreviventes entravam na mata. Domingos Jorge Velho fica em Palmares, e aproveita para saquear as fazendas locais. Havia vários grupos negros, armados no mato.

Um deles era chefiado por Antônio Soares, que foi capturado pelos paulistas André Furtado de Mendonça. Foi torturado e delatou o esconderijo de Zumbi, em troca de liberdade e vida. Antônio Soares chega ao esconderijo, na mata. Zumbi o recebe de braços abertos, mas é retribuído com um punhal na barriga. Os paulistas atacam, e os negros não se rendem, preferindo morrer. Assim, em 20 de novembro de 1695 morre Zumbi. Sua cabeça foi cortada e exposta em praça pública, em Recife.

Vários palmarinos foram para a Paraíba, onde, com outros negros e índios, fundaram o quilombo Cumbe, que era muito combativo, e sobreviveu até 1731. Outros grupos negros permanecem no litoral, chefiados por Camoanga, atacando povoações para sobreviver.

As terras de Palmares foram divididas entre senhores de engenho.Mas até 1710, grupos armados negros combatiam na região. As terras ficaram abandonadas, transformadas em grandes latifúndios. Muitos perseguidos e lavradores sem terras buscaram refúgio nas matas de Palmares.

Fonte: www.ritosdeangola.com.br

Quilombo dos Palmares

( 1630-1694 )

No começo do século XVII já existiam aproximadamente 20 mil escravos negros no Brasil. Sofrendo maus tratos e todas provações e privações possíveis, mantinham em comum o forte desejo de liberdade. E, sempre que possível, fugiam do cativeiro. Embrenhando-se na floresta, tratavam de unir-se, para tentar escapar à recaptura. Formavam agrupamentos na selva, verdadeiras aldeias, que ficaram conhecidas como quilombos.

Os fazendeiros promoviam a busca aos “foragidos”, organizando “entradas” – expedições que vasculhavam a floresta procurando os insubmissos. Apesar da frequência das entradas, centenas de quilombos foram surgindo, principalmente no Nordeste.

Um deles destacou-se pela organização e resistência, mantendo guerra prolongada contra os fazendeiros: foi Palmares.

Já em 1600, um grupo de mais ou menos 45 fugitivos refugiara-se na Serra da Barriga (Estado das Alagoas). Abrigados pelas densas florestas de Palmeiras (daí o nome), os negros evitaram as entradas mandadas à sua procura em 1602 e 1608.

Na floresta foram construindo os primeiros mocambos, choupanas rústicas cobertas de folha de palmeira. Cada mocambo tinha seu chefe, da nobreza africana; mas isso não impediu que alguns, sem ser nobres, conseguissem o posto pela habilidade.

Cada mocambo tinha sua própria organização, com traços em comum como o sistema de defesa, que incluía postos de vigia no meio da mata e caminhos camuflados que interligavam todos os mocambos.

Em 1630 os holandeses invadem Pernambuco, gerando a guerra. Com o caos instalado na região, a fuga de escravos intensificou-se. A maioria dos fugitivos migrou para Palmares, atraídos pela fama do lugar. Nessa época, a população do quilombo chegou a 10 mil habitantes, abrigando também índios e até brancos.

Os holandeses chegaram a dominar todo o litoral nordestino, até a fronteira da Bahia.

Por duas vezes tentaram destruir Palmares: em 1644 e 1645, sem sucesso.

Em 1654 foram definitivamente expulsos do Brasil e os portugueses perceberam que destruir Palmares não seria uma tarefa simples.

A prosperidade do Quilombo de Palmares alcançou seu apogeu em 1670. Ocupava grande parte do atual Estado de Alagoas e Pernambuco. Eram aproximadamente 50 mil pessoas distribuídas num território de 260 Km de extensão por 132 Km de largura.

As atividades econômicas do quilombo eram tão desenvolvidas que extrapolavam seus limites, estabelecendo relações comerciais regulares com as vilas e povoados vizinhos. Os quilombolas produziam principalmente produtos agrícolas, além de serem fortes na caça e pesca.

Com a questão dos invasores solucionada, a Corôa e os fazendeiros da região voltaram-se para Palmares. Estes últimos já sentiam a decadência da indústria açucareira e sonhavam com as férteis terras do quilombo, além de toda mão-de-obra gratuita que conseguiriam com os negros capturados.

A partir de 1667 várias entradas foram organizadas para destruir o quilombo. As batalhas eram sangrentas, com baixas nos dois lados, mas sem um vencedor.

Em 1674 o novo governador de Pernambuco, Pedro de Almeida, formou uma grande expedição, que incluía índios e uma tropa de negros chamada “Têrço de Henrique Dias”, criada originalmente para combater os holandeses. Mais uma vez os combates foram terríveis e novamente terminaram sem vencedor.

Em 1675 um grande exército comandado por Manuel Lopes desmantela um dos mocambos de Palmares, capturando dezenas de negros.

O comandante instala-se no mocambo conquistado e em 1676 recebe auxílio de Fernão Carrilho, outro “notável” estrategista na luta contra quilombolas e índios.

Em 1677, Carrilho ataca de surpresa o mocambo de Aqualtune, derrotando seus surpreendidos moradores. Monta sua base neste mesmo mocambo e inicia uma série de ataques aos vizinhos. Mata Toculos e aprisiona Zambi e Acaiene, todos filhos de Ganga Zumba, rei de Palmares.

Carrilho, animado com suas sucessivas vitórias, investe contra o mocambo de Subupira, mas é surpreendido ao encontrá-lo já destruído pelos próprios palmarinos. Mesmo assim, o comandante consegue capturar Gana Zona, chefe militar de Palmares.

Carrilho, acreditando ter aniquilado o quilombo, funda o Arraial de Bom Jesus e parte, certo de seu sucesso.

Mais prudente, o governador Pedro de Almeida percebe que o enfraquecimento de palmares não significa sua derrota. Temendo a reorganização das forças do quilombo, propõe um acordo de paz a Ganga Zumba. Pelo tratado, Palmares submeteria-se à Coroa Portuguesa. Em troca, teria liberdade administrativa e seria considerada uma vila, onde Ganga Zumba ganharia o cargo de mestre-de-campo.

Acuado e militarmente em desvantagem, o rei de Palmares aceita o acordo.

Mas isto não será o fim do quilombo.

ZUMBI

A decisão de Ganga Zumba não agrada todos os palmarinos.

Seus principais opositores são dois importantes chefes de mocambos: Zumbi e Andalaquituche,

Que propõem libertar todos os escravos. Em meio à controvérsia, Ganga Zumba é envenenado e Zumbi torna-se rei.

O governador Pedro de Almeida não desiste de seu intento e numa derradeira tentativa de acordo liberta Gana Zona, mas isso de nada adianta. Uma nova fase se inicia em Palmares.

Zumbi, o novo rei, revela-se um corajoso estrategista militar, derrotando todas as expedições que tentaram derrubar Palmares, entre 1680 e 1691. Suas sucessivas vitórias aumentam sua fama, tornando-o temido e respeitado.

A QUEDA

Souto Mayor, o novo governador, decide organizar um exército exclusivamente para derrotar Zumbi e acabar de vez com Palmares. Para tanto, sela um acordo em 1691 com o sanguinário bandeirante Domingos Jorge Velho, célebre exterminador de índios. Pelo trato, em caso de vitória, Jorge Velho ficaria com um quinto do valor dos negros capturados, além de ganhar terras para serem repartidas entre seus homens.

No ano seguinte, o bandeirante ataca o mocambo Cêrca do Macaco, sede de resistência de Zumbi e sua tropa é arrasada. Pede reforços e recebe apoio de tropas pernambucanas chefiadas pelo capitão Bernardo Vieira de Melo.

Até 1694, o mocambo é mantido sob sítio, mas as investidas do exército são duramente repelidas.

Somente em 6 de fevereiro desse mesmo ano, com reforços redobrados, é que o exército consegue invadir o mocambo e derrotar os quilombolas. Encurralados entre os inimigos e um abismo, muitos pulam para a morte, outro fogem. Os que ficam são dizimados.

Entre os que conseguem escapar está Zumbi. As tropas não desistem e perseguem os sobreviventes um a um, matando-os ou aprisionando-os.

Zumbi só seria localizado um ano depois. Barbaramente morto e esquartejado, teve sua cabeça exposta no centro da cidade de Olinda, como prova final da destruição de Palmares.

Fonte: www.portalafro.com.br

Quilombo dos Palmares

A partir do início do século XVII, os escravos que conseguiam fugir das fazendas e dos engenhos começaram a reunir-se em lugares seguros e ali ficavam vivendo em liberdade, longe de seus senhores. Estes lugares ficaram conhecidos por “quilombos” e seus habitantes, “quilombolas”.

Houve muitos quilombos no Brasil. O mais importante foi o “Quilombo de Palmares”, instalado na Serra da Barriga, onde hoje é o estado de Alagoas. Durou mais de sessenta anos e chegou a contar com uma população de vinte mil habitantes, o que era bastante para a época. Na verdade, era um quilombo formado de vários outros, organizados sob a forma de reino.

Quando houve a Invasão da Holanda, os diversos quilombos que o compunham foram reforçados, pois inúmeros escravos deixavam os lugares onde viviam e iam refugiar-se nos quilombos, aproveitando a ausência dos seus senhores, que também fugiam dos invasores.

Enquanto os brasileiros e portugueses lutavam contra os holandeses, os fugitivos trataram de fortalecer os seus quilombos.

No princípio, para poder viver, os quilombolas praticavam assaltos às fazendas e povoados mais próximos. Pouco a pouco, foram-se organizando, cultivando a terra e trocando parte das colheitas por outras coisas de que precisavam.

Durante o tempo em que brasileiros e portugueses estavam ocupados, combatendo os invasores, os negros viveram sossegados. Logo, porém, que os holandeses deixaram de ser preocupação, os brancos começaram a combater os quilombolas.

Apesar dos inúmeros ataques que realizaram, os brancos não conseguiram arrasar os quilombos, como era sua intenção.

Os quilombos estavam bem reforçados, os negros eram corajosos e, ainda por cima, lutavam pela liberdade!

Por fim, o governo de Pernambuco solicitou a ajuda do bandeirante paulista Domingos Jorge Velho, que preparou uma expedição para derrotar os fugitivos.

Também ele falhou nas primeiras tentativas, mas não desistiu. Organizou um exército realmente poderoso e voltou ao ataque. Mesmo assim, a resistência dos quilombolas foi tão grande, tão valente, que a luta durou perto de três anos.

Os negros tinham uma desvantagem: estavam cercados. Enquanto os atacantes podiam conseguir reforços e munições de fora, principalmente contando com o interesse do governo, os quilombolas encontravam-se sozinhos e apenas podiam contar com o que possuíam. É claro que, um dia, a munição dos sitiados tinha de se esgotar. Quando isto se deu, muitos negros fugiram para o sertão. Outros se suicidaram ou renderam-se aos atacantes.

REPÚBLICA DOS PALMARES

1. Formação e Primeiros Tempos dos Palmares

Embora se costume atribuir, mais ou menos arbitrariamente, a data de 1630 para o início da existência plena dos Palmares, pesquisas recentes indicam que desde os primeiros tempos do século XVII as autoridades, como o governador de Pernambuco Diogo Botelho, se preocupavam com o ajuntamento de negros fugidos na região que se estendia da zona ao norte do curso inferior do São Francisco, em Alagoas, até às vizinhanças do cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco.

Uma expedição comandada por Bartolomeu Bezerra havia sido mandada, entre 1602 e 1608, para exterminar o agrupamento rebelde.

Entretanto, o assombroso crescimento do quilombo deu-se efetivamente a partir de 1630, quando as guerras com os holandeses desarticularam momentaneamente a economia e a organização açucareiros, relaxando a vigilância dos senhores. Mesmo na Bahia, as fugas em massa de escravos durante a luta foram comuns, permitindo a formação dos aldeamentos de Rio Vermelho e Itapicuru, destruídos respectivamente em 1632 e 1636.

Nos Palmares (região assim denominada pela presença intensa da palmeira pindoba), os negros se espalharam por uma região acidentada e de difícil acesso, coberta de espessa mata tropical, o que dificultava as investidos dos brancos.

Estes exigiram das autoridades alguma ação contra o quilombo desde o tempo do domínio holandês: os capitães Rodolfo Baro e Blaer atacaram-no respectivamente em 1644 e 1645, com escassos resultados.

Por volta dessa época, os aldeamentos deviam contar com cerca de 6 mil pessoas, número que se multiplicaria bastante, mais tarde. A natureza, embora inicialmente áspera, facilitava a sobrevivência, pela abundância de árvores frutíferas, animais de caça e rios piscosos que também resolviam a necessidade de água, em locais de fácil acesso. Derrubada a mata em clareiras, o solo restava fértil e úmido para o plantio.

Experientes no trabalho agrícola, os negros mantinham plantações que lhes propiciavam farta subsistência, chegando a gerar excedentes em pequena escala. Além da alimentação natural, a mata lhes fornecia também os materiais necessários construção de suas choças, normalmente feitas de várias palmeiras, ao fabrico de seus móveis rústicos e utensílios, bem como argila para sua cerâmica. Em alguns aldeamentos, praticavam uma metalurgia rudimentar, e os relatos falam de uma série de atividades artesanais entre eles.

Entre os produtos agrícolas, destacavam-se o milho, do qual muitas lavouras foram encontradas e destruídas pelos brancos, a mandioca, o feijão e a batata-doce. Banana e cana-de-açúcar também eram cultivadas, para o fabrico de rapadura e aguardente.

A importância das plantações palmarinas pode ser avaliada pelo fato de que o próprio Rei D. Pedro II (1683-1706), em despacho referente a uma das expedições que deviam atacar o reduto, recomendava que a data desta coincidisse com a época de colheita dos negros, para permitir o abastecimento da tropa.

As aldeias que compunham o quilombo eram chamadas mocambos, ajuntamentos de casas primitivas cobertas de folhas de palmeira, protegidos por paliçadas duplas de madeira. Espalhados por uma área de cerca de sessenta léguas (por volta de 1675), eles chegaram a abrigar uns 20 mil habitantes, segundo Jácome Bezerra, em 1671, ou 30 mil, segundo Brito Freire.

Essa população era bastante heterogênea. Entre os negros, encontravam-se elementos das mais variadas nações africanas, com predomínio de originários da Costa da Guiné, mas no quilombo havia também mestiços brasileiros e indígenas.

No mocambo do Engana-Colomim, quase só havia índios, vivendo e lutando ao lado dos negros em uma fraternidade racial nascida do conflito comum com o branco. Nos rituais religiosos e nos hábitos culturais (sobre os quais existem poucos dados), isto interferia, na medida em que tudo ganhava um caráter sincrético.

Não foi possível determinar o grau de predominância de alguma das culturas da costa guineana nos hábitos palmarinos, mas sabe-se que estas eram bastante misturadas com o catolicismo popular, como nos futuros “candomblés” e “umbandas”. No mocambo do Macaco, existia uma capela com imagens de divindades católicas e rezavam-se orações cristãs, chegando até a se celebrarem casamentos.

As uniões conjugais, por sua vez, também não tinham regras fixas, encontrando-se tanto a monogamia quanto, como no caso do rei Ganga-Zumba, com suas três esposas, a poligamia. Os portugueses, na tentativa de descaracterizar a organização social palmarina, pouco anotaram sobre seus padrões e normas éticas, mas sabe-se que, seguindo tradições africanas, “o roubo e o assassínio eram igualmente punidos com a morte”. Quanto aos negros que, no caso de uma incursão palmarina contra alguma fazenda das vizinhanças, se recusassem a unir-se aos fugitivos, eram feitos escravos até que concordassem em libertar mais algum cativo.

É importante notar que as expedições contra as senzalas, que aterrorizavam os senhores, eram uma prática não muito comum depois que o quilombo atingiu suas dimensões máximas: os senhores das redondezas acabavam por entrar em acordo com os quilombolas, para uma convivência pacífica.

A “colaboração” de brancos com os rebeldes de Palmares foi muito freqüente. Os seus excedentes agrícolas interessavam aos lavradores e mascates, que os trocavam por armas e utensílios. Por outro lado, para se prevenir de um ataque, alguns senhores pagavam uma espécie de tributo aos mocambos, prática veementemente condenada pelas autoridades, que também puniam o comércio.

Domingos Jorge Velho denunciou o Desembargador Cristóvão de Burgos, proprietário dos arredores palmarinos, como “colono dos negros”, impedindo-o de entrar novamente na posse de suas terras após o término da guerra contra aqueles.

Essa “colaboração” prendia-se, como a trégua que seria assinada em determinada ocasião entre Ganga-Zumba e o governo de Pernambuco, à realidade efetiva do poder que os negros conseguiram na região.

Embora não tivessem objetivos diretamente políticos, e pretendessem apenas a liberdade e o bem-estar, os fugitivos concentrados em Palmares representavam por isso mesmo um elemento profundamente subversivo da ordem colonial, a ser incessantemente combatido pelos senhores e autoridades.

E por isso mesmo, na medida em que adquiriam mais forças, podiam impor politicamente, através de negociações, alguns de seus objetivos. Da mesma forma, organizaram um verdadeiro Estado em moldes africanos, em que os chefes dos mocambos, organizados na forma de comunidade tribal, elegiam o rei, baseados em critérios como coragem, força e capacidade de mando.

O primeiro rei foi Ganga-Zumba, substituído depois de morto por seu sobrinho Zumbi, não por um critério de hereditariedade, mas pela liderança efetiva que este exercia, e que chegou a empanar a de Ganga-Zumba nos últimos anos de sua vida. Entretanto, a existência do Estado palmarino era absolutamente incompatível com a ordem lusitana e branca; ele devia ser incontinenti destruído.

2. Os Ataques Brancos e as Táticas de Guerra dos Negros

As guerras dos Palmares evidenciaram a coragem e o engenho que o amor à liberdade incutiu nos negros rebeldes. Sua capacidade de resistência aos ataques brancos, permitindo-lhes manter-se por mais de 65 anos, manifestou-se também no fato de que o quilombo foi o único a ter fortificações regulares, cuja eficácia causava espanto ao inimigo, ao mesmo tempo que os negros se valiam também (e principalmente) da guerra de movimento, em um terreno por eles bem conhecido e que multiplicava as agruras dos atacantes.

Já nos referimos acima aos ataques levados a efeito pelos holandeses, sem sucessos significativos; os negros, advertidos da expedição Blaer-Rejmbach (1645), simplesmente se retiraram para o mato, abandonando a maior parte de seus mocambos. A expedição de Baro (1644) também não passou de uma “escaramuça”.

Depois da expulsão dos batavos, em 1654, durante muito tempo houve apenas incursões policiais, ou de bandos de jagunços, que os senhores de engenho enviavam como represália por ataques às suas senzalas.

A primeira “entrada” de grande porte enviada aos Palmares foi a do mestre-de-campo Zenóbio Accioly de Vasconcelos, em 1667. Zenóbio atacou pela retaguarda, subindo o rio Panema e, na serra do Comonati, destruiu um mocambo e fez algum reconhecimento da região. Esta entrada fora organizada pelo governo de Pernambuco, mas as dificuldades financeiras deste, agravadas pela crise do comércio açucareiro que se iniciava, levaram-no a deixar aos cuidados das vilas próximas o combate ao reduto.

Estas logo fizeram entre si acordos de união financeira e militar para a luta, como o tratado entre Alagoas e Porto Calvo em 1668, ou aquele entre essas duas, Serinhaém e Rio de São Francisco (hoje Penedo), em 1669. Tais acordos nunca saíram do papel, havendo apenas notícias de ataques de pequenos bandos a grupos isolados de negros, que resultavam em reconduzir uns poucos s senzalas.

Essa providência resultava às vezes em pior prejuízo, pois os escravos recambiados freqüentemente estimulavam fugas de novos grupos, ou funcionavam como verdadeiros espiões. Por isso mesmo, o Governador Bernardo de Miranda Henriques estabeleceu, em 1669, a regra de que os negros capturados nos Palmares deveriam ser vendidos em Recife, sob pena de confisco.

Em 1670, o visível crescimento do quilombo e as constantes fugas faziam crescer a tensão, o que levou o Governador Fernão Coutinho a proibir o porte de qualquer arma a qualquer negro, mulato, índio, mameluco ou branco “que exerça qualquer ofício mecânico ou haja exercido”, residente nas vilas em torno da área de negros livres.

As autoridades decidiram-se a tomar medidas mais enérgicas, organizando entradas de maior porte, que chegavam a mil homens e mais. Entre 1671 e 1678, segundo um documento anônimo existente na Torre do Tombo, houve vinte e cinco expedições ofensivas, e sabe-se também que os governadores ordenavam a abertura de caminhos entre a densa mata, para facilitar os avanços brancos.

Algumas das entradas foram organizadas por particulares, como a de Cristóvão Lins, fazendeiro a quem os palmarinos haviam incendiado os canaviais, em uma ação de represália, e outras eram empresadas por militares ou chefes de bandos armados, como a do Capitão André da Rocha em 1671, organizada pelo mestre-de-campo General Francisco Barreto, herói da guerra holandesa.

Algumas tiveram certo sucesso, como a de Manuel Lopes, de 1675, que provocou 800 baixas entre os negros, e outras foram um fracasso, como a de Domingos Gonçalo, de 1672, destroçado e sofrendo inúmeras deserções. De qualquer forma, o conjunto dos ataques não conseguiu reduzir o quilombo, que continuou a crescer, ao mesmo tempo que fortaleceu os homens de Ganga-Zumba, seja pelo prestígio crescente que este possuía entre os negros das senzalas, estimulados para a fuga, seja porque as entradas derrotadas deixavam aos guerreiros quilombolas muitas armas de fogo, de difícil obtenção por outros meios.

Em parte, a resistência do reduto durante tanto tempo se deveu às táticas de guerra empregadas pelos seus defensores. Os relatos dos brancos, preocupados em exaltar a glória dos chefes atacantes, para conseguir-lhes títulos e favores, falam sempre das “fugas desordenadas” dos negros dos mocambos atacados, e de sua incapacidade de manter batalhas longas.

Entretanto, os mocambos que se dizia estarem destruídos, como o do Macaco, aparecem inteiros nos relatos subseqüentes. Na verdade, as retiradas dos palmarinos, no caso de batalhas em que as armas de fogo do inimigo impossibilitavam a defesa prolongada, obedeciam a uma estratégia de tipo guerrilheiro, em que os “mocambos” eram simplesmente mudados de lugar, pela facilidade de reconstrução das toscas casas de palmeira.

O próprio “Macaco”, que nos últimos tempos da guerra foi uma espécie de ,quartel-general” de Zumbi, ao que tudo indica mudou pelo menos uma vez de lugar. Por outro lado, depois que os brancos se retiravam, os sítios semidestruídos eram novamente ocupados e reconstruídos pelos rebeldes abrigados na mata. O Macaco teria sido destruído por Manuel Lopes em 1675, mas estava no mesmo lugar em relato posterior, de 1682.

Da mesma forma, mais tarde, quando o mocambo do Cucaú, chefiado por Zumbi, foi derrotado, os homens do chefe guerreiro se estabeleceram na serra do Barriga. E no ataque final a esse reduto o seu nome, segundo os brancos, seria o de Macaco. No quadro dessa “guerra de movimento”, as emboscadas dos palmarinos, facilitadas pelo conhecimento do terreno, infligiam perdas e terror aos inimigos, além de possibilitar a libertação de outros escravos.

Entretanto, os negros usavam também, para retardar as tropas contra eles enviadas, vários tipos de fortificações, aperfeiçoadas com o desenrolar da guerra. As paliçadas duplas que cercavam os mocambos eram protegidas por troncos, fojos (buracos dissimulados no fundo dos quais se armavam paus de ponta) e estrepes (lanças de madeira em riste, escondidas pela vegetação). Quando os inimigos conseguiam incendiar as paliçadas, os quilombolas se retiravam, reagrupando-se s vezes para o contra-ataque algumas centenas de metros depois, como fizeram com os homens de Manuel Lopes em 1675, ou investindo diretamente sobre os brancos, corno na entrada tríplice de Jácome Bezerra (1672), em que a coluna procedente de Alagoas foi completamente destroçado.

As fortificações se aperfeiçoaram de tal forma que, no assalto final de 1694, o poderoso exército comandado por Domingos Jorge Velho deparou, estupefato, com uma “cerca” tríplice de 5 434 metros de comprimento, com guaritas e redutos, protegida por uma intricada “tranqueira” de vegetação, fojos e estrepes. A artilharia empregada contra a cerca não foi capaz de abrir nela uma brecha suficiente para a penetração.

3. A Trégua

A luta contra os palmarinos, necessidade objetiva do poder colonial, era no entanto um peso excessivo para os senhores de terras que a ela forneciam apoio. As tropas requisitavam das vilas e seus moradores muitos mantimentos, munição, escravos para transporte, dinheiro para soldos de uma parte dos combatentes, etc.

Embora a destruição dos Palmares fosse de seu interesse, como um todo, muitos dos proprietários, como vimos, estabeleciam formas de convivência com os quilombolas, que os deixavam em paz. Assim, estes colonos viam a luta como tarefa das autoridades, encarregadas da manutenção do sistema, e contribuíam contrariados com seus bens para a custosa guerra.

A situação se agravava com a crise do açúcar no mercado internacional, que deixava em dificul dades os produtores, num quadro de aumento de impostos, como aquele causado pela necessidade de pagar o dote à rainha da Inglaterra, .conseqüência dos acordos de paz posteriores à derrota holandesa. Nos anos subseqüentes, vários relatos de governadores fizeram-se porta-vozes das queixas dos habitantes de Porto Calvo, Serinhaém, Alagoas e outras vilas próximas; em 1686, o Governador Souto Maior reclamou à Coroa que “estes povos têm suprido das suas fazendas mais do que lhes era possível, e não é justo que assistam para esta empresa (contra o quilombo) com mais do que têm.” Com dois engenhos de Porto Calvo completamente destruídos, seus moradores apelavam através da Câmara para a “piedade” de Sua Majestade.

A Coroa, porém, se ressentia bastante de inúmeros problemas financeiros, no quadro de uma grave crise comercial, para poder custear completamente as expedições. Em 1694, Caetano de Melo e Castro afirmava que a guerra dos Palmares havia custado ,,perto de 400 mil cruzados” da Real Fazenda, e “aos moradores e povo mais de um milhão”. Entre as queixas de Porto Calvo, constava a de que, para pagar os impostos novos exigidos por Lisboa, os proprietários “vieram praça arrematar-se as jóias do ornato de suas mulheres”.

Além disso, nos anos 1686-87 grassou em Pernambuco terrível epidemia, conhecida como “mal-de-bicho”, que debilitou ainda mais os brancos, ao mesmo tempo que as revoltas de índios na região do Assu carreavam homens e recursos. Era necessário um alívio da situação, e a idéia de uma trégua com os Palmares cresceu entre as autoridades. Era necessária, porém, uma vitória parcial que fortalecesse a posição do poder branco para o caso de uma negociação com a chefia quilombola.

Para isso foi chamado Fernão Carrilho, sertanista experiente e hábil lutador contra núcleos de negros e índios na selva, contando também com o “background” de ter reduzido dois quilombos no Sergipe, a mando do governador-geral do Brasil. O capitão fez uma primeira tentativa inútil em 1676 contra os rebeldes, sofrendo com as dificuldades financeiras das vilas que deviam financiá-lo.

Em 1677, porém, o capitão conseguiu reunir recursos suficientes e partiu de Porto Calvo, atacando logo o mocambo de Aqualtune, mãe do rei Ganga-Zumba.

Surpreendidos, os negros se retiraram para um novo agrupamento em Subupira, pondo em ação a sua tática de movimentos; mas Fernão não desistiu e, demonstrando tirocínio militar, evitou lançar suas forças em conjunto contra os negros, preferindo pequenos ataques enquanto esperava reforços. Assim que estes chegaram, sitiou o grande mocambo do Amaro (mais de mil casas), com grande sucesso, pondo em debandada Ganga-Zumba.

No conjunto da campanha, Carrilho aprisionou dois filhos do rei, Zambi e Acaiene, além de chefes de mocambo como Acaiúba e Ganga-Muíça, junto com dezenas de negros que foram distribuídos entre os cabos da tropa. O relativo enfraquecimento do quilombo permitiu ao capitão oferecer, através de dois prisioneiros importantes, uma suspensão das hostilidades ao rei Ganga-Zumba, com a condição de que os palmarinos depusessem as armas.

A oferta dividiu o quilombo. Embora Ganga-Zumba tendesse a aceitá-la, preocupado com as perdas humanas e com a possibilidade de aproveitar a paz para refazer-se, ao que parece muitos dos chefes mais jovens, como seu sobrinho Zumbi, percebendo o caráter irreconciliável da luta entre senhores e escravos, se opunham.

O irmão do rei, Gana-Zona, capturado pelos brancos, era favorável à iniciativa. Triunfando momentaneamente a opinião do chefe supremo, foi mandada uma “embaixada” a Recife, acompanhada de um alferes que tinha vindo renovar os apelos à pacificação.

A chegada a Recife, em 18 de junho de 1678, dos negros aquilombados, causou grande alvoroço. Suados pela caminhada, mal vestidos e cabisbaixos, os quilombolas temidos vinham resignar-se perante o Governador Aires de Souza e Castro, que os recebeu condignamente. Afinal, tratava-se de simples negros, a quem a opinião dos proprietários escravistas jamais imaginara dispensar atenção.

Souza e Castro, percebendo a importância política do evento, ouviu atentamente as reivindicações rebeldes para se chegar a um acordo. Tanto que, uma vez concretizado este, muitos dos brancos não acreditaram, pelo caráter concessivo dos seus termos. Os palmarinos, contrariando todas as diretrizes do sistema colonial, teriam direito à delimitação de uma área para viver em liberdade, bem como ao plantio, comércio e trato com os brancos, sem o fisco real, desde que se desfizessem de seu equipamento militar.

Se alguns brancos não viram com bons olhos o acordo, os quilombolas mais radicais o repudiaram inteiramente: Zumbi, chefiando o mocambo do Cucaú, continuou a fazer incursões destinadas a libertar mais escravos, ao mesmo tempo que pequenos grupos de brancos persistiam na apreensão de quilombolas surpreendidos nos caminhos da mata.

O governo, assim que ficou ciente da rebeldia do Cucaú, organizou a expedição de Gonçalo Moreira para destruí-lo. Nesse meio tempo, porém, Ganga-Zumba morrera envenenado, e Zumbi assumira o controle total dos palmarinos. Assim, quando Gonçalo atacou o mocambo rebelde, prendendo alguns chefes, como João Mulato e Canhonga, Zumbi não se encontrava mais no reduto, onde só haviam ficado 200 homens, e se internara na mata para organizar as novas defesas.

Para os brancos a fase seguinte da luta seria uma das mais terríveis, a ponto de os colonos mandarem por várias vezes Gana-Zona a negociar sem sucesso a rendição do sucessor de Ganga-Zumba e de propor nova trégua em 1685, rejeitada pelo Conselho Ultramarino. Por bastante tempo ainda, Palmares resistiria.

4. O Ataque Final

Para a submissão final do quilombo, o poder pernambucano não seria suficiente; resolveu-se contratar o paulista Domingos Jorge Velho, verdadeiro especialista no massacre de raças submetidas ao colonialismo.

Sertanismo de Contrato – Domingos Jorge Velho vinculava-se a uma particular atividade, muito comum no Brasil seiscentista como extensão das “bandeiras de apresamento” : o massacre e a submissão de grupos indígenas, contratados por autoridades do Nordeste, executados por paulistas experientes no ramo e eufemisticamente chamados pela historiografia de “sertanismo de contrato”. Desde os tempos de 1670, Domingos e seus capangas e índios armados combatiam no Piauí os tabajaras, oroazes e cupinharões, quando uma carta de 1685 do governador pernambucano Souto Maior o convidou para exterminar os Palmares.

Depois de uma extensa marcha até às proximidades do quilombo, a tropa paulista recebeu uma contra-ordem do governador-geral do Brasil, Matias da Cunha, mandando-os regressar ao norte, para combater os índios janduins que se rebelavam na região do Assu. Só em 1687 um emissário de Jorge Velho, o padre carmelita Cristóvão de Mendonça, foi a Pernambuco negociar os termos da sua participação na guerra palmarina, mas o acordo só foi aprovado em 1691 pelo novo governador, Marquês de Montebelo. Depois de esmagar os janduís, perdendo muitos homens, já com o título de mestre-de-campo, o chefe paulista dirigiu-se para os Palmares, onde chegou em 1692. O paulista Cardoso de Almeida, diante da ameaça de novas rebeliões índias, foi contratado para seu lugar.

Sua tropa contava com quase mil homens, na sua maioria (cerca de 800) índios armados. Os paulistas faziam jus ao exemplo de seu chefe, homem violento e cruel, detestado até pelos senhores de terra que dele necessitavam.

O bispo de Pernambuco dizia dele, em 1697: “Este homem é um dos maiores selvagens com que tenho topado. . . nem se diferencia do mais bárbaro tapuia mais que em dizer que é cristão, e não obstante o haver-se casado de pouco, lhe assistem sete índias concubinas. . . tendo sido a sua vida, desde que teve uso da razão, – se é que a teve, porque, se assim foi, de sorte a perdeu que entendo a não achará com facilidade, – até o presente, andar metido pelos matos à caça de índios, e de índias, estas para o exercício das suas torpezas, e aqueles para o granjeio de seus interesses.” Seus homens roubavam à larga os moradores das vilas por onde passavam, provocando inúmeras queixas, mas a violência maior era para com os índios, mesmo aqueles que viviam em paz com os brancos e que eram deixados assim pelas autoridades. Certa vez, Domingos Jorge Velho assassinou duzentos indígenas, cortando-lhes as cabeças, exclusivamente porque estes se recusaram a acompanhá-lo na luta contra os Palmares.

A luta contra os negros rebeldes atraía os paulistas porque também oferecia alguns aspectos das vantagens do “sertanismo de contrato”, na medida em que tradicionalmente as “entradas” capturavam os negros para venda, algumas vezes até com isenção dos quintos reais. Além disso, havia as ricas terras palmarinas, que mesmo antes da destruição do quilombo eram objeto de acirradas disputas.

O grupo de Jorge Velho fez acordos, ou “Capitulações”, com o Governador Souto Maior, ratificados depois pelo Marquês de Montebelo, que lhe concediam amplos direitos, como o recebimento de munições, armas, mantimentos regulares, isenção de impostos sobre venda dos negros apreendidos, terras de sesmaria na região da Paraíba, e “perdão para quaisquer crimes anteriores”, de que eles precisavam bastante.

Primeira Tentativa e Formação da Grande Expedição – Em dezembro de 1692, assim que chegaram aaos Palmares, os paulistas se atiraram galhardamente sobre os mocambos, contando derrotá-los facilmente. Não esperavam a resistência violenta e aperfeiçoada dos homens de Zumbi, e não conheciam perfeitamente o terreno íngreme.

Apesar de reforçados por uma tropa de moradores alagoanos, eles não conseguiram vencer a surpreendente primeira “cerca”, edificada a alguns quilômetros do antigo Macaco. O ataque fracassou redondamente, fazendo fugir em debandada os homens de Alagoas e desarticulando completamente o esquema ofensivo do mestre-de-campo. Desamparados e desmuniciados, “muito destroçados de fomes e marchas”, os paulistas voltaram a Porto Calvo sentindo na garganta o sabor desconhecido de uma derrota violenta diante de “simples negros”.

Em Porto Calvo, seu comportamento violento e desregrado valeu-lhes a hostilidade dos moradores, que com muito custo lhes arranjavam comida. A demora na chegada de munições fê-los ficar dez meses inativos, de janeiro a novembro de 1693, o que facilitou a debandada de mais alguns homens. Com isto, e com as baixas da derrota junto ao quilombo, a gente de Domingos Jorge Velho ficou reduzida a 600 índios e 45 brancos.

Quando chegaram as munições, o mestre-de-campo resolveu seguir assim mesmo para os Palmares, mas a incrível “cerca tríplice” do novo Macaco, na serra do Barriga, fê-lo desistir logo ao primeiro embate. Nos dois meses seguintes, Domingos permaneceu acampado nas redondezas, enquanto providenciava poderosos reforços, recrutando homens e novos agrupamentos regulares em todo Pernambuco e vilas alagoanas.

Ao mesmo tempo, valeu-se de um hediondo expediente para enfraquecer os palmarinos: vestiu alguns negros capturados com roupas de doentes e pestilentos, permitindo-lhes fugir para o reduto, espalhando ali moléstias contagiosas.

Em janeiro de 1694, chegaram os enormes reforços, carregando inclusive peças de artilharia, comandados por Zenóbio Accioly de Vasconcelos, Sebastião Dias e Bernardo Vieira de Melo. O conjunto dos atacantes era agora bem maior em número e muito mais armado, chegando a quase três mil homens.

Entretanto, a “cerca” de mais de cinco mil metros de mocambo, com todas as suas fortificações, situada em terreno escarpado, resistia firme ao sítio, que durou mais de 22 dias.

Disse depois Domingos Jorge Velho em carta ao Rei: eram “os exteriores tão cheios de estrepes ocultos, e de fojos cheios deles, de todas as medidas, uns de pés, outros de virilhas, outros de garganta, que era absolutamente impossível chegar alguém à dita cerca toda ao redor… e por ser o lugar muito escarpado, mal aparecia um soldado na extrema da estreparia para especular, e tirar algum estrepe, que era pescado na cerca; nem lhes era possível fazerem aproches, que a espessura e ligame da raizama do mato era tanta que não dera lugar a cavar. A artilharia, por esses motivos, não adiantou muito.

Assalto Final – Desde muitos anos antes, Zumbi era muito temido pelos brancos, que consideravam os seus companheiros próximos como “a melhor gente para combate”. Em 1675, o Capitão Gonçalo Moreira chamava-o de “general-das-armas” do quilombo. Durante 22 dias, até à data de 6 de fevereiro de 1694, Zumbi comandava vigorosamente seus soldados sitiados no Macaco, repelindo vários ataques violentos.

Mas os brancos, além de sua superioridade numérica, dispunham da preciosa munição que os quilombolas tinham em pequena quantidade. Enquanto o inimigo era mantido à distância pelos estrepes, Zumbi economizava.

Mas nos últimos dias de janeiro os comandantes do ataque puseram em execução uma tática mais eficaz de aproximação: passaram a construir cercas de madeira paralelas à “cerca” defensiva, que lhes permitiam limpar o terreno e chegar mais perto. Nos dias 23 e 29 foram desfechados poderosos ataques a partir dessas fortificações recentes, o que exigiu um grande gasto de pólvora dos quilombolas.

Finalmente, ao começar o mês de fevereiro, Domingos Jorge Velho teve a idéia de construir uma cerca oblíqua à fortificação rebelde, que aproximou rapidamente seus homens do objetivo. Zumbi, no dia 5, ao perceber o êxito da manobra, sentiu aproximar-se o fim. Estava sem munição, com os brancos nas suas barbas.

Nessa madrugada, resolveu tentar a retirada estratégica.

Silenciosamente, centenas de negros se esgueiraram para fora da paliçada, mas não foram felizes: as sentinelas inimigas perceberam seus movimentos e a tropa atacou maciçamente. Apanhados pelas costas, à beira de um penhasco, os palmarinos perderam mais de 400 homens nas primeiras horas da madrugada, deixando inúmeros feridos e prisioneiros, em uma fuga precipitada que os desarticulou definitivamente. As operações posteriores de Domingos Jorge Velho, além de massacrar e assassinar centenas de negros que não puderam fugir do Macaco após sua tomada definitiva, no dia 6, impossibilitaram a plena rearticulação dos rebeldes. Depois de mais de 65 anos de luta, o glorioso reduto da liberdade foi derrotado.

Zumbi, fugitivo após o combate do dia 6 de fevereiro, jamais se entregou, realizando nos meses seguintes algumas operações de guerrilha com seus homens.

Enquanto os brancos se digladiavam violentamente pela propriedade das terras conquistadas, em uma verdadeira “nova” guerra, ele permanecia internado na mata que tão bem conhecia. Mas os seus demais mocambos não puderam resistir chacina entusiástica perpetrada pelos vitoriosos. Em novembro de 1695, um mulato seu auxiliar, violentamente torturado pelo mestre-de-campo paulista, revelou seu esconderijo.

No dia 20 desse mês, surpreendido por Domingos Jorge Velho, Zumbi ainda resistiu, com apenas 20 homens. Em algumas horas, foram todos mortos. O rei negro, combatendo até ao fim em uma luta que sabia irreconciliável, e que ameaçou seriamente a ordem colonial, foi decapitado. Espetada em um poste da praça principal de Recife, à vista dos negros carregadores em sua faina interminável, sua cabeça aguardou com trágica serenidade o descarnamento.

Na mágica obscuridade de seus rituais ocultos, os negros de Pernambuco e Alagoas imortalizaram o grande líder.

A Morte de Zumbi

Quilombo dos Palmares

Segundo nos conta a tradição, logo no início da formação do quilombo, foi escolhido um rei: chamava-se Ganga zuma. Habitava um palácio denominado Musumba, juntamente com seus parentes, ministros e auxiliares mais próximos. Organizara e mantinha sob seu comando um verdadeiro exército.

Um dia, morreu Ganga zuma. Os quilombolas ficaram tristes, mas a vida continuava e eles precisavam de um novo rei.

Elegiam vitaliciamente, um Zumbi, o senhor da força militar e da lei tradicional.

Não havia ricos, nem pobres, nem furtos nem injustiças. Três cercas de madeira rodeavam, numa tríplice paliçada, o casario de milhares e milhares de homens.

Ao princípio, para viver, desciam os negros armados, assaltando, depredando, carregando o butim para as atalaias de sua fortaleza de pedra inacessível.

Depois o governo nasceu e com ele a ordem; a produção regular simplificou comunicações pacíficas, em vendas e compras nos lugarejos vizinhos; constituiu-se a família e nasceram os cidadãos palmarinos.

As plantações ficavam nos intervalos das cercas, vigiadas pelas guardas de duzentos homens, de lanças reluzentes, longas espadas e algumas armas de fogo.

No pátio central, como numa aringa africana, o primeiro governo livre em todas as terras americanas.

Ali o Zumbi distribuía justiça, exercitava as tropas, recebia festas e acompanhava o culto, religião espontânea, aculturação de catolicismo com os rituais do continente negro.

Vinte vezes, durante a existência, foram atacados, com sorte diversa, mas os Palmares resistiam, espalhando-se, divulgando-se, atraindo a esperança de todos os escravos chibateados nos eitos de Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia.

A república palmarina desorganizava o ritmo do trabalho escravo em toda a região. Dia a dia fugiam novos cativos, futuros soldados do Zumbi, com seu manto, sua espada e sua lança real.

Debalde o Zumbi levou suas forças ao combate, repelindo e vencendo. O inimigo recompunha-se, recebendo víveres e munições, quando os negros, sitiados, se alimentavam de furor e de vingança.

Numa manhã, todo exército atacou ao mesmo tempo, por todas as faces. As paliçadas foram cedendo, abatidas a machado, molhando-se o chão com o sangue desesperado dos negros guerreiros.

Os paulistas de Domingos Jorge Velho; Bernardo Vieira de Melo com as tropas de Olinda; Sebastião Dias com os homens de reforço – foram avançando e pagando caro cada polegada que a espada conquistava.

Gritando e morrendo, os vencedores subiam sempre, despedaçando as resistências, derramando-se como rios impetuosos, entre as casinhas de palha, incendiando, prendendo, trucidando.

Quando a derradeira cerca se espatifou, o Zumbi correu até o ponto mais alto da serra, de onde o panorama do reino saqueado era completo e vivo. Daí, com seus companheiros, olhou o final da batalha.

Paulistas e olindenses iniciavam a caçada humana, revirando as palhoças, vencendo os últimos obstinados.

Do cimo da serra, o Zumbi brandiu a lança espelhante, e saltou para o abismo.

Seus generais o acompanharam, numa fidelidade ao Rei e ao Reino vencidos.

Em certos pontos da serra ainda estão visíveis as pedras negras das fortificações.

E vive ainda a lembrança ao último Zumbi, o Rei de Palmares, o guerreiro que viveu na morte seu direito de liberdade e de heroísmo…

Fonte: www.terrabrasileira.net

Quilombo dos Palmares

( 1630-1694 )

O mais importante quilombo do período colonial chegou a concentrar mais de 20 mil negros, fugitivos das fazendas da região que se negavam a obedecer às ordens dos senhores brancos. Ocupando uma extensa área entre Pernambuco e Alagoas, Palmares se constituiu numa confederação de mocambos – aldeamento de escravos evadidos – organizada sob a direção de um chefe guerreiro. Zumbi, que substituiu Ganga-Zumba depois deste assinar um acordo com o governador Pedro de Almeida, foi o maior líder da resistência.

Em Palmares, além de escapar da escravidão, os negros refugiados tentavam recuperar suas raízes culturais. Eles plantavam, criavam porcos e galinhas e até produziam excedentes agrícolas, e essa fartura de alimentos lhes possibilitou resistir aos ataques das autoridades coloniais durante cerca de 100 anos – de 1590, quando surgiram as primeiras notícias dos ajuntamentos, a 1694, quando o quilombo foi destruído. Zumbi, ferido, escapou do ataque e continuou a resistência, mas foi traído por seu homem de confiança e morto no ano seguinte. Decepado, sua cabeça foi enviada a Recife e exposta em praça pública. Com sua morte sepultou-se o sonho de liberdade daqueles ex-escravos. A abolição da escravatura no Brasil só ocorreria em 1888.

Fonte: www.mre.gov.br

Quilombo dos Palmares

( 1630-1694 )

No período de escravidão no Brasil (séculos XVII e XVIII), os negros que conseguiam fugir se refugiavam com outros em igual situação em locais bem escondidos e fortificados no meio das matas. Estes locais eram conhecidos como quilombos. Nestas comunidades, eles viviam de acordo com sua cultura africana, plantando e produzindo em comunidade. Na época colonial, o Brasil chegou a ter centenas destas comunidades espalhadas, principalmente, pelos atuais estados da Bahia, Pernambuco, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais e Alagoas.

Na ocasião em que Pernambuco foi invadida pelos holandeses (1630), muitos dos senhores de engenho acabaram por abandonar suas terras. Este fato beneficiou a fuga de um grande número de escravos. Estes, após fugirem, buscaram abrigo no Quilombo dos Palmares, localizado em Alagoas.

Esse fato propiciou o crescimento do Quilombo dos Palmares. No ano de 1670, este já abrigava em torno de 50 mil escravos. Estes, também conhecidos como quilombolas, costumavam pegar alimentos às escondidas das plantações e dos engenhos existentes em regiões próximas; situação que incomodava os habitantes.

Esta situação fez com que os quilombolas fossem combatidos tanto pelos holandeses (primeiros a combatê-los) quanto pelo governo de Pernambuco, sendo que este último contou com os ser­viços do bandeirante Domingos Jorge Velho.

A luta contra os negros de Palmares durou por volta de cinco anos; contudo, apesar de todo o empenho e determinação dos negros chefiados por Zumbi, eles, por fim, foram derrotados.

Os quilombos representaram uma das formas de resistência e combate à escravidão. Rejeitando a cruel forma de vida, os negros buscavam a liberdade e uma vida com dignidade, resgatando a cultura e a forma de viver que deixaram na África.

Quilombo dos Palmares
Zumbi dos Palmares: líder do Quilombo dos Palmares

Fonte: www.bibliotecavirtual.sp.gov.br

Quilombo dos Palmares

O Quilombo dos Palmares tratou-se de um dos mais importantes redutos da resistência dos negros frente o jugo escravista do período colonial. Diz-se que o refúgio chegou a abrigar cerca de 20 mil negros fugitivos.

Localizado em território atualmente pertencente ao Estado de Alagoas, desde sua fundação até sua destruição o quilombo chegou a opor resistência ao branco durante um período de cerca de cem anos. Havia organização política interna, sendo que eleições para líderes eram estabelecidas. Um rei também era empossado pela escolha geral dos habitantes de Palmares. A figura do rei provinha dos antigos regimes tribais africanos, que os negros buscaram reproduzir em terras brasileiras em agrupamentos como Palmares.

O rei do Quilombo tratava de dar organização a aspectos como defesa do território, questões internas e divisão de tarefas. Para sua subsistência, o Quilombo possuía pequenas plantações próprias, administradas em caráter comunal. O Quilombo também empreendia investidas guerreiras contra terras e engenhos das áreas adjacentes.

O potencial guerreiro do Quilombo assustava o colonizador.

Os holandeses fixados em regiões do território nordestino foram os primeiros a investirem contra os aquilombados (ou quilombolas) em Palmares: mesmo bem armados e munidos, os holandeses não atingiram suas expectativas, resistindo portanto o Quilombo.

Houve tentativas de acordo entre o governador da capitania de Pernambuco e o rei de Palmares, então Ganga-Zumba: o governador exigia a pacificação através da baixa de defesas do quilombo.

O acordo dividiu opiniões entre os quilombolas: de um lado, Ganga-Zumba admitia a necessidade do acordo, enquanto outro líder negro, Zumbi, defendia a continuidade dessa resistência negra ao governo dos brancos. O ideal de Zumbi, tendo sido aprovado pela maioria dos quilombolas, o levou a ser escolhido como o novo rei, enquanto Ganga-Zumba terminou por deixar o quilombo.

O governo, após várias tentativas de aniquilamento do quilombo, acaba recorrendo ao experiente sertanista das bandeiras, Domingos Jorge Velho, oferecendo-lhe armas, mantimentos e ainda concedendo-lhe o direito a terras e ao dinheiro pelo resgate dos escravos aos senhores. Assim, é empreendida a jornada que resultou na Guerra de Palmares.

A guerra estendeu-se de 1690 a 1695, quando Palmares foi destruído. A morte de Zumbi é cercada de uma lenda em que o rei de Palmares teria se atirado de um penhasco, juntamente com seus seguidores, proferindo um último grito de liberdade. No entanto, Zumbi foi assassinado à traição, no ano de 1695, por um branco de sua confiança.

Fonte: www.rolltheboneshp.hpg.ig.com.br

Quilombo dos Palmares

Por volta de 1590 uma noticia assombrou a Capitania de Pernambuco. Um grupo de quarenta escravos havia se amotinado em um engenho de Porto Calvo, em Alagoas. Foi um banho de sangue. Eles mataram amos e feitores , puseram a casa grande abaixo, queimaram plantas e fugiram sem deixar vestígios.

Mais tarde, descobriu-se o paradeiro dos revoltosos. Eles estavam na Serra da Barriga. Escondiam-se dentro de uma mata cerrada e andavam bem armados.

Aquele ousado grupo era o como o do Quilombo dos Palmares. A mais impressionante comunidade de escravos fugidos neste país.

Palmares foi uma nação completa, um Estado negro onde se falavam dialetos africanos bantos. Uma comunidade econômica que se manteve auto suficiente por mais de um século. Uma sociedade multirracial na qual eram aceitos índios e brancos perseguidos pelo Estado colonial.

Um país dentro do Brasil que abrigou 30.000 habitantes, a sexta parte da população da época. Lá não havia fome. Palmares, chamada por seus habitantes de Angola-Janga (pequena angola), era uma terra cheia de farturas. Plantavam, pescavam, e caçavam, muitos moradores eram hábeis artesões e conheciam a metalurgia. O excedente da produto era comercializado nos vilarejos.

Nos seus 100 anos de existência Palmares sempre viveu a violência, as tentativas de invasão eram constantes. Havia motivos de sobra para que o governo colonial quisesse destruir Palmares. Os burocratas e senhores de engenho no gostavam do mau exemplo daqueles negros livres andando por ali, fora isso eles saqueavam os engenhos e comércio, seqüestravam mulheres, matavam os brancos e, havia mais o dinheiro…

Vender escravos era um bom negócio e ali em Palmares havia uma fortuna.

O fogo cerrado contra o quilombo começou em 1680 quando Palmares recusou o tratado de paz com os brancos.

Os portugueses resolveram acabar de vez com o quilombo e, para isso, contrataram o feroz bandeirante paulista Domingos Jorge Velho. A primeira vez que subiu a serra da Barriga em 1692, Domingos Jorge Velho levou um susto. Macaco, a capital do quilombo havia se transformado numa cidadela fortificada.

O bandeirante s voltou dois anos depois com 9.000 homens, seis canhões. O cerco durou 42 dias e na madrugada de 5 de fevereiro, os invasores finalmente romperam a resistência do quilombo. Mais de 400 guerreiros foram mortos no local, metade empurrada pelo despenhadeiro. Milhares fugiram para as matas, porém quase todos foram capturados e muitos degolados.

Zumbi conseguiu fugir mas morreria um ano depois em uma emboscada.

Nas cidades o fim do Quilombo dos Palmares foi festejado, o governador da Capitania de Pernambuco mandou rezar missa solene, encheu Olinda e Recife de lanternas e jogou dinheiro para o povo das janelas do palácio.

Fonte: capoeirasuldabahiasp.tripod.com.br

Quilombo dos Palmares

( 1630-1694 )

No Brasil, a exploração colonial resumia-se, em última análise, na exploração do trabalho escravo pelo senhor. Devido ao caráter colonial dessa exploração, é verdade que o próprio senhor não ficava com todo o produto do trabalho escravo. Boa parte da riqueza ia para o Estado na forma de impostos e, também, para os cofres dos comerciantes portugueses. Daí a razão da revolta dos senhores contra o sistema colonial e as autoridades que o representavam. Mas não era apenas a camada dominante que se rebelava. Também os escravos elaboraram meios de resistir contra o seu opressor imediato, isto é, o senhor.

A resistência dos escravos assumiu formas muito variadas: fuga, suicídio, assassinato, passividade no trabalho, etc. Em qualquer uma dessas formas, o escravo negava a sua condição e se contrapunha ao funcionamento do sistema como um todo.

A fuga, entretanto, foi a mais significativa forma de resistência e rebeldia.

Não pela fuga em si, mas pelas suas conseqüências: os fugitivos se reuniram e se organizavam em núcleos fortificados no sertão, desafiando as autoridades coloniais. Observemos que, no combate à rebeldia escrava, aliavam-se senhores e autoridades coloniais.

Esses núcleos eram formados por pequenas unidades, os mocambos (reunião de casas), que, no conjunto, formavam os quilombos. Cada mocambo possuía uma chefe, que, por sua vez, obedecia ao chefe do quilombo, denominado zumbi. Os moradores dos quilombos eram conhecidos como quilombolas. Eles se dedicavam ao trabalho agrícola e chegavam a estabelecer relações comerciais com os povos vizinhos.

Palmares foi o maior quilombo formado no Brasil. Localizava-se no estado atual de Alagoas e deve o seu nome à grande quantidade de palmeiras existentes na região.

Sua origem situa-se no início do século XVII, mas foi a partir de 1630, quando a conquista holandesa desorganizou os engenhos, que a fuga maciça de escravos tornou Palmares um quilombo de grandes proporções. Em 1675, a sua população foi avaliada em 20 ou 30 mil habitantes.

Com a expansão dos holandeses em 1654 e a escassez de mão-de-obra aliada ao fato de Palmares funcionar como pólo de atração para outros escravos, estimulando a sua fuga, as autoridades coloniais, apoiadas pelos senhores, decidiram pela sua destruição. Várias expedições foram feitas contra ele, mas nenhuma delas teve sucesso.

Foram contratadas então os serviços de um veterano bandeirante, Domingos Jorge Velho. Apoiado por abundante material bélico e homens, os bandeirante contratado conseguiu finalmente destruir Palmares em 1694. Todavia, o chefe do quilombo, Zumbi, não foi capturado na ocasião. Somente um ano depois foi encontrado e executado.

Fonte: www.redescobrindoobrasil.hpg.ig.com.br

Quilombo dos Palmares

O Quilombo dos Palmares foi provavelmente o maior quilombo já formado no Brasil, sendo dirigido pelo escravo fugido Zumbi dos Palmares. O quilombo passa a ser atacado insistentemente pelo exército paulista e por volta do ano de 1710 o quilombo se desfaz por completo.

Origem

Os primeiros registros do Quilombo datam 1580 e são de pequenos acampamentos formados por escravos fugitivos na Serra da Barriga, um local de acesso relativamente difícil, que era escolhido por estes como esconderijo.

Mas o crescimento começou a se dar quando, devido à União Ibérica, o comércio de açúcar com os holandeses foi prejudicado, e estes decidiram invadir a colônia. Foram montadas tropas para proteger a colônia da invasão, sendo oferecida a alforria para os escravos que lutassem contra os holandeses. Muitos dos negros alforriados aproveitavam a primeira oportunidade para fugir em direção a Palmares.

O Quilombo dos Palmares foi uma das maiores organizações de escravos negros foragidos das fazendas. Estruturou-se no período colonial e resistiu por quase um século. No final do século XVI o Quilombo dos Palmares ocupava uma vasta área coberta de palmeiras, que se estendia do Cabo de Santo Agostinho ao Rio São Francisco.

Em fins do século XVII o território foi reduzido à região de Una e Serinhaém, em Pernambuco, Porto Calvo e São Francisco, atual Penedo, em Alagoas. Os escravos organizaram um verdadeiro Estado, nos moldes africanos, com o quilombo constituído de povoações diversas, mocambos, governados por oligarcas sob a chefia suprema do rei Ganga Zumba. Zumbi, seu sobrinho, herdou a liderança do quilombo por valor pessoal e combatividade.

Ganga Zumba

Quando os Holandeses foram expulsos em 1654, a produção açucareira voltou a prosperar, e com isso a necessidade de mão-de-obra escrava aumentou e com ela a aquisição de novos escravos.

Quanto mais escravos aportavam em terras brasileiras, mais fugas ocorriam. Dado o elevado preço dos escravos, ataques a Palmares começaram a ser feitos visando a captura de negros. Segundo algumas fontes, um desses capturados foi um pequeno jovem que voltaria 15 anos depois e seria Zumbi, o mais famoso lider do quilombo.

Durante essa época o quilombo era governado por Ganga Zumba, um líder que fez as aldeias crescerem e que implementou táticas de guerrilha na defesa do território.

Tais táticas foram suficientes para que em 1677 Fernão Carrilho oferecesse um tratado de paz com Palmares, reconhecendo a liberdade dos nascidos no quilombo e dando a eles terras inférteis na região de Cocaú. Grande parte dos quilombolas rejeitou o acordo, nitidamente desfavorável, e uma enorme rixa surgiu entre eles, rixa esta que culminou com o envenenamento de Ganga Zumba e da ascensão ao poder de Ganga Zona, seu irmão e aliado dos brancos.

Com esse quadro insustentável para os negros, o acordo foi rompido e a maioria voltou para Palmares, nesse momento já liderados por Zumbi.

Zumbi

Inicialmente Zumbi substituiu a defensiva tática de guerrilha por uma estratégia de ataques de surpresa constantes a engenhos, libertando escravos e se apoderando de armas e outros materiais que pudessem ser úteis para novos ataques.

Com o tempo começou-se a desenvolver um comércio entre quilombolas e colonos, de tal forma que estes últimos chegavam a alugar terras para plantio e trocar alimentos por munição com os negros.

São atribuídas a Zumbi uma grande inteligência e habilidade para guiar o seu povo tanto na frente de batalha quanto empreendendo a parte administrativa dos Quilombos. Diante dessa prosperidade a coroa tinha que tomar alguma medida imediata para afirmar seu poder na região. Numa carta à coroa portuguesa, o governador-geral da região confidencia que os Quilombos são mais difíceis de vencer até mesmo que os neerlandeses.

O fim do Quilombo

Após várias investidas, relativamente infrutíferas contra a nação de Zumbi,o governador-geral contratou o experiente bandeirante Domingos Jorge Velho para conter e exterminar de vez a ameaça dos escravos fugitivos na região.

Mesmo ele teve grandes dificuldades em vencer as táticas dos quilombolas, muito mais elaboradas que a dos índios com quem tivera contato. Também encontrou problemas para contornar a inimizade criada com os colonos da região, que foram roubados por suas tropas por certas vezes.

Em janeiro de 1694, após um ataque frustrado, o seu exército começou uma empreitada vitoriosa. Um quilombola, Antonio Soares, foi capturado e Domigos Jorge Velho promete que dizendo o esconderijo de Zumbi ele ficaria livre. Conclusão, Zumbi foi capturado em uma emboscada que causou sua morte em 20 de novembro de 1695. A cabeça de Zumbi foi cortada e levada para Recife, e exposta em praça pública em cima de um mastro, para servir de exemplo para os outros escravos. Diziam os sobreviventes de Palmares que Zumbi tinha virado um inseto e que quando acontecia uma injustiça ele voltava para fazer justiça.

Curiosidades

É muito comum a idéia de Palmares como um acampamento único e superpopuloso, mas essa idéia cultivada pelo imaginário popular e incentivada por algumas obras de ficção é errônea. Na verdade o quilombo era um conglomerado de uma de dezena de aldeias menores que ocupou vastas terras no nordeste brasileiro e eram separados geograficamente por quilômetros de distância.

Fonte: www.conhecimentosgerais.com.br

Quilombo dos Palmares

( 1630-1694 )

Serra da Barriga!
Barriga de negranina!
As outras montanhas se cobrem de neves,
De noiva, de nuvens, de verde!
E tu, de Loanda, de panos-da-costa,
De argolas, de contas, de quilombos!
Serra da Barriga!
Te vejo da casa em que nasci.
Que medo danado de negro fujão!…

Jorge de Lima

Onde houve escravidão houve resistência e um dos tipos mais característicos de resistência negra na luta pela liberdade foi a fuga e A formação de grupos de escravos fugidos.

No Brasil esses grupos foram chamados principalmente de quilombos ou mocambos e seus membros de quilombolas, calhambolas ou mocambeiros.

Durante mais de 300 anos de escravidão no Brasil, os quilombos funcionaram como “válvula de escape” para a falta de liberdade e a violência das senzalas.

Já em 1597, numa carta do Padre Pero Lopes, provincial dos jesuítas em Pernambuco, há referências a grupos de escravos revoltados.

O quilombo dos Palmares, nasceu de escravos fugidos, principalmente, dos engenhos de açúcar pernambucanos, que se agruparam inicialmente a cerca de 70 quilômetros a oeste do litoral de Pernambuco, na Serra da Barriga, local de densas florestas de palmeiras (daí o nome Palmares), com terreno acidentado, o que tornava o acesso mais dificil.

O primeiro grupo de escravos construiu seus mocambos numa aldeia que foi denominada de Macaco, nome que poderá ser de origem banto (raça negra do sul da África), apesar dos portugueses o interpretarem como uma menção ao animal macaco. Era também chamada de Cerca Real e tornou-se com a expansão do quilombo sua capital ou quartel general.

Palmares chegou a contar com nove aldeias: Macaco, Andalaquituche, Subupira, Dambrabanga, Zumbi, Tabocas, Arotirene, Aqualtene e Amaro.

A floresta fornecia ao quilombola quase tudo que ele precisava para viver, como frutas para comer; folhas de palma, com a qual cobriam as choupanas; fibras para a confecção de esteiras, vassouras, chapéus, cestos; o coco para fazer óleo; a casca de algumas árvores que serviam para fazer roupas. Além de praticarem a caça e a pesca, eles plantavam milho, mandioca, feijão, legumes, fumo, e cana-de-açúcar, que abasteciam a comunidade e eram também comercializados com povoações vizinhas.

O quilombo era organizado como um pequeno Estado. Havia leis e normas que regulamentavam a vida dos seus habitantes, algumas até muito duras; roubo, deserção ou homicídio eram punidos com a morte. As decisões eram tomadas em assembléias, da qual participavam todos os adultos, sendo aceitas pois resultava da vontade coletiva.

Há registros da presença permanente, além de negros, de mulatos, índios e brancos nas aldeias. Talvez a perseguição existente na época a minorias étnicas, como judeus, mouros e outros, além do combate às bruxas, heréticos, ladrões e criminosos, possa explicar que alguns brancos tenham ido viver no quilombo de Palmares.

Os negros palmarinos eram católicos. Nas aldeias havia igrejas e até padres católicos. Os habitantes falavam várias línguas e dialetos em Palmares, inclusive o português ou um crioulo de português, mas não se sabe qual a língua comum usada no quilombo.

Considerados como uma grave ameaça para a classe dos proprietários rurais, senhores-de-engenhos e fazendeiros, o quilombo foi sistemática e duramente reprimido. Existiam os chamados capitães-do-mato, especialistas na captura dos negros fugidos e periodicamente também eram organizadas expedições para destuir seus esconderijos.

As expedições, também conhecidas como “entradas”, vasculhavam a floresta a procura dos negros “rebeldes”.

Apesar da freqüência com que essas expedições eram enviadas, surgiram diversos quilombos no Brasil, principalmente no Nordeste, e o de Palmares foi o mais conhecido pela sua organização e resistência.

De 1602 até 1694, foram enviadas diversas expedições para destruir Palmares, tanto pelos portugueses como também pelos holandeses que invadiram Pernambuco, em 1630. Nessa época, já existia no quilombo cerca de 10 mil habitantes. Até 1640, Palmares cresceu tanto que os flamengos chegaram a considerá-lo “um sério perigo”, enviando duas expedições para destruí-lo, uma em 1644 e outra em 1645, sem sucesso.

Depois que os holandeses deixaram o Brasil, em 1654, os portugueses organizaram mais inúmeras expedições contra Palmares, pondo em marcha, a partir de 1670, um plano de destruição sistemática. As batalhas eram sangrentas, havendo baixas dos dois lados, mas sem nenhum vencedor.

Em 1674, foi enviada pelo então governador da província de Pernambuco, Pedro de Almeida, uma grande expedição, com a presença de índios e uma tropa de negros chamada Terço de Henrique Dias, que havia sido criada para combater os holandeses, porém também dessa vez a luta terminou sem um vencedor.

Em 1675, Manuel Lopes à frente de um grande exército destruiu uma das aldeias de Palmares, capturando dezenas de negros e instalando-se no local conquistado. Em 1676, recebeu a ajuda de um grande estrategista na luta contra quilombolas e índios, Fernão Carrilho, o qual, em 1677, atacou de surpresa Aqualtene, montou seu quartel general na aldeia e fez uma série de ataques, matando um e aprisionando outros dois filhos de Ganga Zumba, o rei de Palmares, capturando depois o próprio rei.

O governador Pedro de Almeida temendo uma reorganização futura do quilombo, propôs um acordo de paz a Ganga Zumba: Palmares submeter-se-ia à Coroa Portuguesa em troca de liberadade administrativa, seria considerada uma vila e Ganga Zumba receberia o cargo de mestre-de-campo.

Militarmente em desvantagem o acordo foi aceito, mas a decisão não agradou a todos os palmarinos. Ganga Zumba foi envenenado e Zumbi (chefe da aldeia Zumbi), tornou-se rei do quilombo.

Zumbi, o novo rei, conseguiu derrotar todas as expedições enviadas a Palmares, entre 1680 e 1691, tornando-se temido e respeitado.

Em 1691, o novo governador de Pernambuco, Souto Mayor, organizou um exército para acabar definitivamente com o quilombo dos Palmares, contratando um célebre sanguinário exterminador de índios chamado Domingos Jorge Velho.

Em 1692, Domingos Velho atacou a aldeia de Macaco, local onde ficava Zumbi e teve suas tropas arrasadas. Pediu reforço e recebeu a ajuda de tropas chefiadas por Bernardo Vieira de Melo.

Até janeiro de 1694, o quilombo ficou sitiado, mas repeliu todas as investidas do exército, capitulando finalmente no dia 6 de fevereiro desse mesmo ano, quando o exército com as tropas reforçadas invadiu o local e derrotou os quilombolas.

Zumbi conseguiu escapar e só foi capturado um ano depois. Morto e esquartejado, teve sua cabeça exposta na cidade de Olinda.

Lúcia Gaspar

FONTES CONSULTADAS

DÉCIO, Freitas. Palmares: a guerra dos escravos. 4.ed. Rio de Janeiro: Graal, 1982. p.123-132.
MOTTA, Roberto. Palmares e o comunitarismo negro no Brasil. Revista do Patrimônio Histórica e Artístico Nacional, Rio de Janeiro, n.25, p.223-230, 1997.
REIS, João José; GOMES, Flávio dos Santos (Org.). Liberdade por um fio: história dos quilombos no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
SILVA, Fernando Carreia da. Zumbi dos Palmares: libertador dos escravos: 1655-1695. Disponível em: < http://vidaslusofonas.pt/zumbi_dos_palmares.htm> Acesso em: 16 nov. 2004.

Fonte: www.fundaj.gov.br

Quilombo dos Palmares

QUEBRA DO TRATADO DE PAZ – 1678

A proposta de paz pedida pelo Rei Ganga zuma foi um dos mais inteligentes golpes político de sua vida para reaver a sua família e de seus cabos de guerra que se achavam prisioneiros do governo português em Pernambuco pois o tratado de paz solenemente assinado em 21 de Junho de 1678 entre o Governador Aires de Souza de Castro e a embaixada negra do Rei Ganga zuma presidida pelo seu filho, não teve longa duração de trégua porque não foi ratificado pelo rei supremo dos palmerinos e deus da guerra dos quilombos devido as constantes ações de segurança desenvolvida pelo governador nas faldas da Serra da Barriga pelo Sargento-mor Manoel Lopes e pelas numerosas incursões do bando autorizado em Fevereiro de 1678 assinado por Dom Pedro de Almeida e que não fora revogado pelo tratado de paz, estes fatos trazia os palmerinos em constantes sobressaltos, e por outro lado os moradores de Porto Calvo e Serinhaém não viam com bons olhos a concessão dado aos negros na floresta de Cacau, todos estes fatos colaborava para fermentação da queda da paz, que não tinha sido aceita e ratificada pelo Rei Zumbi, o último coroado, segundo os usos e costumes preestabelecidos no reino. Devido aos acontecimentos os seguidores do Rei Ganga zuma começaram a discordar e a se reunir secretamente, e planejaram o envenenamento do soba negro, apesar da relutância de Gangazona, irmão do rei e fiel aos termos do tratado de paz, porém estava pregada a discórdia no sobado de Cacau devido a influencia do poderoso Zumbi e de seus embaixadores que soturnamente arrebanhavam nas vilas aramas, munições, mantimentos e escravos dos moradores das vilas para a resistência e desafio que o Rei Zumbi planejava oferecer aos portugueses e devido aos fatos o Governador Aires de Souza de Castro lançou mãos de Gangazona para chamar a ordem seus iramos, porém era tarde demais pois esta já havia sido envenenado e retirado dos bastidores da contenda.

Quilombo dos Palmares

Heróico, resoluto e sublime entre seus vassalos, Zumbi se impõe e jura aos seus não ensarilhar as armas da liberdade e Terça-las em defesa da raça negra com isto a trégua foi quebrada.

Tão logo tomou conhecimento dos atos de rebeldia do Rei Zumbi, o Governador Aires de Souza de Castro mandou preparar duas expedições contra o Rei Zumbi, sendo uma comandada pelo Capitão João de Freitas Cunha com destino ao Palmares a qual sofreu grandes danos nas marchas até aos Palmares onde teve um tremendo revés no encontro os homens do Rei Zumbi que pelo fato se tornara ainda mais enfurecido e mais insolente.

E este ataque serviu de lição aos palmerinos que a partir desta data passaram a defender os Palmares em uma única frente de combate, e a outra expedição enviada a floresta de Cacau sob o comando do Capitão mor Gonçalo Moreira foi mais feliz, pois seguindo a direção anteriormente traçada por Fernão Carrrilho encontrou vários quilombos despovoados em virtude da nova tática adotada pelo Rei Zumbi por isto atacaram a Aldeia de Una e Cucau onde fizeram de prisioneiro diversos negros com suas famílias e ali permaneceram por um período de três meses, sem contudo tentar um única investida direta sobre o quilombo fortificado do Rei Zumbi.

A campanha de Palmares entrava em uma fase aguda, dada a reconstituiçao das forças palmerinas, sob um único comando e absoluta obediência ao rei e deus da guerra: Zumbi.

O Governador da Capitania de Pernambuco, por seu turno, tomava medidas acertada, pois fundara diversos arraias nas proximidades de Palmares e organizara permanentemente o serviço de provisão das tropas sob o comando Sargento mor Manoel Lopes, porém as vilas não suportavam mais os ataques que vinham sofrendo dos negros dos Palmares, por estes motivo em 1680 o Capitão mor João da Fonseca pediu a Câmara de Alagoas mais recursos para as tropas ali estacionadas, estando a Capitania de Pernambuco arruinada economicamente, teve que apelar para os moradores para enfrentar as despesas com a guerra contra os palmerinos e devido a grave situação não houve a inadimplemento por parte dos moradores para manter as tropas ali estacionadas, pois de diversas vilas mais distante chegaram oferecimento de gente e alimentos em face do apelo do governador, que aproveitando a boa vontade recebida dos moradores e para angariar novos adeptos à causa de libertação da raça negra.

Ele concedeu uma carta patente do posto de Capitão mor de Campo a André Dias, morador do povoado de São Miguel da jurisdição da Vila de Alagoas, com amplos poderes de agir. André Dias de imediato organizou diversas expedições de caça ao negro pelas faldas da Serra da Barriga porém não chegou a penetrar nos sertões palmerinos, se tornando um Capitão do Mato privilegiado na apanha do negro fugido.

Ele concedeu uma carta patente do posto de Capitão mor de Campo a André Dias, morador do povoado de São Miguel da jurisdição da Vila de Alagoas, com amplos poderes de agir. André Dias de imediato organizou diversas expedições de caça ao negro pelas faldas da Serra da Barriga porém não chegou a penetrar nos sertões palmerinos, se tornando um Capitão do Mato privilegiado na apanha do negro fugido. No final do governo de Aires de Souza de Castro e inicio do governo de Dom João de Souza no ano de 1682 foi muito desgastante e de grande guerra de nervos, que os negros bem compreendiam e desta situação se aproveitaram para dilatar o seu reinado. As tropas portuguesas estavam sempre bastante alarmadas, não havia um plano de guerra sistemático, pois a luta mudava de aspecto todas as vezes em que era trocada a administração da Capitania de Pernambuco pois com a chegada de um novo governador os planos de guerra eram sempre diferentes um dos outros.

Porém entre os palmerinos era bem diferente a situação, tanto política como militar, porque todos obedeciam a um comando único: do Rei Zumbi.

Em 1683 o novo Governador Dom João de Souza organizou uma forte expedição sob o comando de Fernão Carrilho aparado em um regimento escrito com minuciosas diretivas para a expedição, do qual Fernão Carrilho discordou e pediu permissão ao governador para alterar o regimento que lhe fora dado no tocante, em que proibia terminantemente qualquer entendimento de paz com os negros, porém o seu pedido foi negado e Fernão Carrilho segui par ao Arraial do Outeiro na Serra da Barriga onde se tornou um espantalho para os negros, devido a sua fama de perigoso feiticeiro que mantinha entre os palmerinos.

Os negros palmerinos, diante dos resultados obtidos com o tratado de paz de 1678, lançaram mãos dos mesmos recursos, propondo a Fernão Carrilho, um novo tratado de paz, que ele aceitou sob o fundamento de cobrir as suas despesas, contrariando, assim, as diretivas da guerra baixada pelo governador da capitania.

Devido as confraternizações entre os portugueses e negros aquilombados em seu arraial, fatos estes que chegaram ao conhecimento do governador, que de imediato suspendeu e ordenou que viesse preso para Recife o comandante Fernão Carrilho, e para substitui-lo foi enviado o Capitão João de Freitas Cunha e quando da chegada de Fernão de Carrilho a Capitania de Pernambuco ele foi desterrado e mandado preso para o Ceará sem soldo e tendo Dom João de Souza apelado da sentença para o Conselho Ultramarino que encaminhou o processo para a coroa portuguesa, e com a chegada do Capitão João de Freitas da Cunha ao Outeiro na Serra da Barriga os negros já avisados por seus agentes, puseram-se em posição de oferecer resistência ao novo comandante das tropas portuguesa.

Em 8 de Agosto de 1685 tomava posse o novo Governador da Capitania de Pernambuco João da Cunha souto Maior, que ao tomar posse deu conta a coroa portuguesa a situação que se encontrava a Capitania de Pernambuco, pois sem recursos para continuar a guerra contra os Palmares, ele se via na situação de aceitar a paz se os palmerinos a pedissem.

Fernão Carrilho o famoso preador da paz em 1678 se achava sem soldo e degredado no Ceará escreveu uma carta ao Governador Souto Maior oferendo-se para tomar parte como soldado na expedição que estava-se organizando em Pernambuco.

O governador por falta de meios, comtemporizava a situação angustiosa dos moradores e estava disposto a aceitar as pazes com os negros, quando chegou a carta de Fernão Carrilho, o governador aceitou o seu oferecimento e o nomeou-o comandante da expedição e em carta a coroa em 7 de Novembro de 1685 deu conhecimento das razoes que o levaram a eleger Fernão Carrilho para comandante da expedição, pois sua escolha eqüivalia a um indulto ou perdão, a rija vontade de vencer os palmerinos do governador, casava-se plenamente com a de Fernão Carrilho, por isto em 10 de Janeiro de 1686 ele partiu laureado por ter sido julgado útil e necessário pelo governador como único e capaz de comandar uma tropa para semelhante façanha.

E ao chegar nas regiões dos Palmares sofreu diversas emboscadas dos negros em suas fortificações inexpugnáveis e invencíveis, porém Ferrão Carrilho e seus bandos conseguiu pô-los em fuga desordenadas, entretanto com a chegada do inverno as operações tiveram de ser suspensas, e com a chegada do verão o governador recomeçou as perseguição aos negros com grande êxito.

Apesar do seu feito e de estar comandando a casa forte dos Palmares, o Governador Souto Maior já estava se comunicando com o bandeirante paulista Domingos Jorge Velho que se encontrava no Piauí com sua gente, para descer a Pernambuco e atacar os Palmares, que por essa época já não existiam mais os chamados Palmares maiores e menores dos primeiros tempos dos quilombos, devido ao fato do Rei Zumbi ter assumido todos os poderes temporais e espirituais e a direção da guerra, tornando coesos todos os aquilombados que haviam recuado mais para o sertão e se engastado nos penhascos da Serra da Barriga com uma administração bem superior daqueles velhos tempos, havia coesão entre todos os elementos que eram dirigidos pelo próprio Rei Zumbi, os postos avançados tomaram caráter militar e eram constituído de grupos de homens dispostos a morrer pela liberdade, as lavouras ficavam sob uma única direção e atras das organizações militares e em todos os caminhos e carreiros foram colocado armadilhas, tocaias e postos de sentinelas avançadas para impedir os avanços dos portugueses.

Os negros assim dispostos, acompanhavam os avanços das tropas inimigas e aguardavam a chegada dos bandeirantes paulistas. No decorrer dos anos de 1686 e 1687 a situação na capitania era grave e o Governador Souto Maior nada pode fazer para reverter a situação e os índios Janduins ocuparam algumas aldeias no interior de Pernambuco e nas Capitanias de Itamaraca, Paraíba e do Rio Grande do Norte constituindo uma outra potencial ameaça aos portugueses; esta ameaça se tornou realidade e o governador mandou contra eles um forte contigentes de soldados, que foram facilmente vencidos pelos índios ao primeiro encontro, ateando a fogueira da insurreição geral, e as tropas destinadas para as guerras dos Palmares foram desviadas para combater os valentes índios Janduis durante seis anos, e desta trégua os palmerinos souberam aproveitar para reforçar suas defesas.

Sem derrotar os índios primeiro não era possível vencer os Palmares e todos os esforços foram feitos, para evitar a junção dos índios com os negros e para isto Domingos Jorge Velho marchou com sua gente para abater os índios Janduins no Rio Grande do Norte em meados de 1689, e com os entendimentos entre o Rei Caninde dos Janduins e os portugueses; Domingos Jorge Velho recebeu ordem para marchar sobre os Palmares do novo Governador da Capitania de Pernambuco, Marques de Montebelo.

Domingos Jorge Velho subestimou os palmerinos pois regressando vitorioso da campanha contra os índios Janduins, preferiu mudar de caminho e seguir diretamente para os Palmares em vez de faze-lo para Porto Calvo, onde iria descansar e juntar-se com outras tropas, não procurou refazer-se das fadigas causadas pelas longas caminhadas do altiplano da Serra da Barriga, estacionou nos Campos dos Garanhus perto do quilombo do Rei Zumbi e tratou logo de guerrear os negros rebelados, atirando-se a luta de corpo aberto, sendo fragosamente derrotado na primeira investida contra o Rei Zumbi, por isto retirou-se para a praia deserta de Paratagi onde permaneceu por dez meses descansando e se refazendo da derrota.

Por sua vês os palmerinos com a vitória alcançada sobre as gentes de Domingos Jorge Velho tornaram-se soberbos e já se consideravam invencíveis dentro de suas organizações e os negros das fazendas e engenhos se tornaram desaforados e insolentes e muitos fugiram para os Palmares de onde voltavam com os palmerinos para roubar, saquear e incendiar as vilas.

Fonte: www.zbi.vilabol.uol.com.br

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