Lygia Clark

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Nascimento: 23 de outubro de 1920, Belo Horizonte, Minas Gerais.

Falecimento: 25 de abril de 1988, Rio de Janeiro.

Lygia Clark – Pintora, escultora

Lygia Clark
Lygia Clark

A artista plástica mineira Lygia Clark acreditava que arte e terapia psicológica andavam de mãos dadas. Tanto que, com base em objetos manuseáveis que criava ou recolhia da natureza, como balões de ar, sacos de terra e água e até pedras, pensava ter o dom de curar os males da alma. Certa feita, uma aluna entrou em transe profundo e caiu desmaiada, durante uma das sessões da arteterapia de Lygia, na Sorbonne, em Paris, na década de 70. Dando graças a Deus que não era nada grave, a artista explicou que a jovem não tinha o preparo psicológico necessário para suportar os exercícios de sensibilização e relaxamentos, que “liberavam os conteúdos reprimidos e a imaginação” dos alunos.

Aqueles instrumentos, que nas mãos de Lygia assumiam poderes imprevisíveis, eram chamados por ela de Objetos sensoriais. Tais objetos nunca foram vistos por bons olhos por psicanalistas franceses e brasileiros, porque ela não tinha formação acadêmica na área. Lygia, por sua vez, não deixava ninguém sem resposta.

Comprava briga com qualquer um que ousasse falar mal de seu trabalho, que tinha por trás conceitos dos mais sofisticados, elaborados por ela mesma.

Nascida na Belo Horizonte de 1920, numa tradicional família mineira, esqueceu tudo o que aprendera no colégio de freiras Sacre-Coeur depois que resolveu virar pintora, em 1947. Naquele ano, mudou-se para o Rio, decidida a estudar pintura com Roberto Burle Marx. Até juntar-se ao amigo e também artista plástico Hélio Oiticica, na década de 50, não ousava em sua arte. Com Oiticica, entretanto, aventurou-se em grupos de vanguarda como o Frente, de Ivan Serpa, e os neoconcretos, que incluíam o poeta Ferreira Gullar.

“Detesto ler, gosto mais é de encher a cara e jogar biriba”, dizia Lygia.

Definitivamente, não era uma mulher como as outras de seu tempo – aquelas que só sabiam bordar e cozinhar, além de cuidar do marido e dos filhos. Não que ela nunca tivesse feito isso, pelo contrário. Casou virgem aos 18 anos, com o engenheiro Aloisio Ribeiro, e foi mãe de três filhos. Mas o tempo passou e Lygia foi se dedicando cada vez mais ao trabalho, até que foi devidamente recompensada, nos anos 60, quando ganhou reconhecimento internacional. Não como pintora, é verdade, mas por suas experiências terapêuticas.

Na década de 70, rejeitou o rótulo de artista e exigiu ser chamada de “propositora”. Deu aulas na Sorbonne, de 1972 a 1977, e voltou ao Brasil em 1978 para dar consultas particulares. Dez anos depois, morreu de parada cardíaca. Estava com 68 anos e deixou uma legião de seguidores que não se cansam de reinventar sua arte.

VOCÊ SABIA?

Corajosos eram os que se atreviam a frequentar suas sessões de arteterapia na década de 70. Segundo Lygia, seu método para a “liberação dos conteúdos reprimidos” era tão eficiente que homossexuais viravam heterossexuais e vice-versa.

Cronologia

1947/1950 – Rio de Janeiro RJ – Vive nesta cidade
1950/1952 – Paris (França) – Vive e estuda na capital francesa
1953/ca.1970 – Rio de Janeiro RJ – Reside no Rio de Janeiro
1954/1956 – Rio de Janeiro RJ – Integra o Grupo Frente, liderado por Ivan Serpa (1923 – 1973) e formado por Hélio Oiticica (1937 – 1980), Lygia Pape (1929 – 2004), Aluísio Carvão (1920 – 2001), Décio Vieira (1922 – 1988), Franz Weissmann (1911 – 2005) e Abraham Palatnik (1928), entre outros
1954/1958 – Rio de Janeiro RJ – Realiza a série Superfícies Moduladas e a série Contra-Relevos
1958/1960 – Nova York (Estados Unidos) – Prêmio Internacional Guggenheim
1959 – Rio de Janeiro RJ – É uma das fundadoras do Grupo Neoconcreto
1960 – Rio de Janeiro RJ – Leciona artes plásticas no Instituto Nacional de Educação dos Surdos
1960/1964 – Rio de Janeiro RJ – Cria a série Bichos, construções metálicas geométricas que se articulam por meio de dobradiças e requerem a co-participação do espectador
1964 – Rio de Janeiro RJ – Cria a proposição Caminhando, recorte em uma fita de Moebius praticado pelo participante
1966 – Passa a dedicar-se à exploração sensorial, em trabalhos como A Casa É o Corpo
1969 – Los Angeles (Estados Unidos) – Participa do Simpósio de Arte Sensorial
1970/1976 – Paris (França) – Vive e trabalha na capital francesa
1970/1975 – Paris (França) – É professora na Faculté d’Arts Plastiques St. Charles, na Sorbonne, e seu trabalho converge para vivências criativas com ênfase no sentido grupal
1973 – Eduardo Clark realiza o documentário O Mundo de Lygia Clark
1976/1988 – Rio de Janeiro RJ – Volta a residir nesta cidade
1978/1985 – Passa a dedicar-se ao estudo das possibilidades teurapêuticas da arte sensorial, trabalhando com os objetos relacionais
1982 – São Paulo SP – Profere a palestra O Método Terapêutico de Lygia Clark, com Luiz Carlos Vanderlei Soares, no Tuca
1983/1984 – Rio de Janeiro RJ – Publica Livro-Obra e Meu Doce Rio
1985-Rio de Janeiro RJ – É apresentado o vídeo Memória do Corpo, de Mario Carneiro, sobre o trabalho da artista

Lygia Clark – Vida

Lygia Clark
Lygia Clark

Nascida Lygia Pimentel Lins em Belo Horizonte (1920), na mais tradicional família mineira e de juristas -Lins e Mendes Pimentel-, permaneceu casada por 12 anos com Aluisio Clark, homem  conservador, e mãe de três filhos: Álvaro, Eduardo e Elisabeth, liberta-se dos condicionamentos  familiares para no Rio de Janeiro se dedicar a arte sob orientação de Burle Marx, com quem  começou seus estudos em 1947.

De 1950 a 1952 residiu na França, antes rompendo com tudo e  partindo para Paris, onde estudou e prosseguiu seus estudos de pintura com os mestres Léger,  Dobrinsky e Arspad Szenes.

Ao retornar ao Rio de Janeiro, Lygia passa a levar uma vida tumultuada e aventurosa e se integra ao Grupo Concretista Frente (1954 a 1956), liderado por Ivan Serpa e tendo como companheiros Hélio Oiticica, Palatnik, Lygia Pape, entre outros. Nesse momento a arte passa a ser para Lygia algo estruturante e ao mesmo tempo desestruturante, em uma estreita relação entre seu desenvolvimento  pessoal e seu trabalho artístico.

Lygia participou intensamente dos movimentos concretista e neoconcretista no Brasil, assinando o manifesto Neoconcreto, que consistia na radicalização e no rompimento da importação cultural. O que distingue o  movimento neoconcreto é a prioridade à expressão individual, à expressão criadora  do artista, à invenção e à imaginação, ao contrário do movimento concreto, que tendia a uma certa   impessoalidade e à busca de uma arte racionalizada onde determinados princípios eram suficientes para definir a obra de arte quando a intuição estética era sim o fundamental na criação.

Já no  concretismo, Lygia rompeu com o figurativismo e superou a própria pintura enquanto substrato de  criação, engajando-se no abstracionismo e na confecção de objetos tridimesionais, dando início às  séries Bichos, Casulos e Trepantes que mobilizavam de forma tátil e motora e necessitavam de   interação dos espectadores com investimento “libidinal” dos mesmos, subvertendo as divisões  bastante marcadas entre a artista e o próprio espectador, desmistificando a própria arte.

Dotada de intuição plástica poderosa, Lygia é dos concretistas quem mais profundamente  compreende e trabalha as relações espaço-temporais do plano.

Em 1968, participa da Bienal de  Veneza e passa a residir na Europa.

Retorna  ao Brasil em 1976, quando realiza um trabalho entre terapia e arte.

Participou de várias mostras nacionais e internacionais sendo conhecida sempre como a representante dos movimentos de vanguarda brasileira desde os anos 50, destacando Guggenheim Internacional, Konkrete Kunst, em Zurique, e seis Bienais de São Paulo.

Já no final da vida Lygia trabalhou com objetos relacionais para fins terapêuticos buscando resgatar a memória do corpo para reviver experiências difíceis de verbalizar.

Em síntese, a obra de Lygia sempre foi  marcada pela permanente busca de uma conciliação entre uma racionalidade fundada na tradição construtiva e uma intuição que se revela no onírico e  no sensório.

Lygia Clark poderia ser melhor definida como um bicho impenetrável, às vezes poderia ser classificada como uma provocadora até mesmo orgulhosa, uma pessoa muito complicada e de personalidade muito forte que durante anos foi objeto de análise, freqüentou analistas e então se tornou terapeuta e inverteu a posição, e que não foi apenas uma das principais representantes dos dilemas que marcaram intensamente a geração que despontou nos anos 50.

Lygia sempre radicalizou  de todas as maneiras, sempre consciente de tudo, até mesmo fazendo piadas de sua própria natureza, como disse uma vez a Hélio Oiticica que sabia que era a mulher mais maluca do  universo e dizia amém por sê-la, chegando as últimas conseqüências em todas as  experiências possíveis nas fronteiras entre a vida e a arte.

Nosso convívio com a obra de Lygia nos ensina que se não nos aproximarmos  dela com despojamento e receptividade não poderemos dizer que nosso contato foi  pleno ou que sabemos qualquer coisa a seu respeito. Entretanto interatividade em sua arte não é simplesmente o resultado da presença da acessibilidade – de preferncia deve ser lembrado e classificado como arte contemporânea e  também como desenvolvimento ante ao não material, um fenômeno evidenciado em seus trabalhos, considerando como base a circulação de idéias trabalhadas de forma ampla e vasta, explorando visualmente e conceitualmente diferentes paralelos que por sua vez ilustram o  conceito de sua permanente busca.

Em síntese, a obra de Lygia sempre foi  marcada pela permanente busca de uma conciliação entre uma racionalidade fundada na tradição construtiva e uma intuição que se revela no onírico e no sensório. Com a exceção de um período vivido em Paris na década de 70, Lygia residiu a maior parte de sua vida no Rio de Janeiro, onde foi atuante no  movimento artístico do neo concretismo, como Hélio Oitica, com quem dividiu um diálogo artístico ao longo de sua carreira.

Assim, suas trajetórias (a de Lygia e a de Hélio) foram únicas e em ambos os casos radicais em diferentes  perspectivas e contribuindo para o desenvolvimento de um vocabulário artístico de interatividade. No caso de Lygia, fundindo a dualidade do corpo e da mente focando primariamente em dimensões subjetivas e psicológicas, experimentalistas e   sensoriais

Lygia faleceu em 1988 no Rio de Janeiro, e seu legado está presente até os dias de hoje. Ela ficará para sempre como uma artista de seminal importância para a arte moderna.

Principais fases dos trabalhos de Lygia:

Linha orgânica e Quebra da Moldura(1954-1956)- Foi uma das primeiras descobertas de Lygia quanto ao espaço. Partiu do princípio da observação que a justaposição de dois planos de uma mesma cor produz uma linha entre eles, o que não ocorria na justaposição de planos com cores diferentes .

Superfície Modulada(1955-1958)-  Trata-se do espaço liberto da moldura mas articulado com menos planos e  figuras, nesse momento a questão da cor é reduzida e seu trabalho desenvolvido apenas com o preto, o cinza e o branco.

Espaços Modulados e Unidades(1958-1959)- Os espaços modulados são pinturas quadradas e verticais nas quais a superfície do plano de fundo negro em sua maioria era cortada por uma linha branca chamada linha-luz. É nestes trabalhos que ela começa a descobrir os relevos para o plano ao sobrepor camadas leves de madeira sobre o quadro.

Contra-relevos (1959)- Nesta fase o trabalho era desenvolvido basicamente em madeira ainda mais grossa, já apontando ao novo caminho da tridimensionalidade ser seguido. A exploração da área frontal e a área lateral em formas com que o espectador podesse olhar pelos lados chegando ate o espaço interno. Essencial para chegar ate a tridimensionalidade de suas obras.

Casulos(1959)- Aqui se estabelece de vez o caráter tridimensional em seus trabalhos. Ocorre a projeção dos planos do quadro para o espaço realizado em chapas de ferro, dobradas e pintadas de branco e preto

Bichos(1960-1966)- Invenção sem precedentes na escultura, os bichos são objetos móveis formados por planos triangulares e retangulares, circulares e semi circulares que se unem por meios de dobradiças, possibilitando infinitas posições quando manipulados. Assemelham-se a origamis.

Trepantes(1960-1964)- A série trepantes foi a derivação da questão espacial dos bichos, sendo diferenciado dos mesmos por não possuírem dobradiças. São chapas de aço e latão, cobre ou borracha recortadas, que partem sempre de formas circulares chegando ao resultado orgânico do espaço, podendo ser enroscados em pedras galhos ou grandes árvores. Os trepantes de borracha,  também chamados de obra mole devido à maleabilidade da borracha, apresentavam caráter praticamente banal a ponto de ser chamado “obra de arte para se chutar”.

Caminhando(1965)- Momento especial em que Lygia afirma a dissolução do objeto de arte, com uma tira de papel que vai se alongando infinitamente de acordo com o corte de uma tesoura.

Objetos Sensoriais(1966-1975)- Foram uma série de objetos relacionados ao corpo, uma série de descobertas de possibilidades orgânicas todas associadas ao corpo. A partir daí é desenvolvido todo um trabalho com uma seqüência de grandes objetos cada vez mais relacionados à questão do corpo.

Objetos relacionais(1976-1984)-  Foram objetos criados especialmente para a técnica terapêutica que Lygia passou a aplicar em seus “pacientes”. Constituiam basicamente em sacos com água, colchão de nylon com bolinhas de isopor, pequenas almofadas chamadas de leve-pesado (metade areia, metade isopor), conchas e búzios para ouvidos e mel.

Lygia Clark – Biografia

Lygia Clark
Lygia Clark

Mineira de Belo Horizonte, Lygia Clark (1920-1988) é um dos maiores nomes do neoconcretismo.

Começou seus estudos no Rio de Janeiro, em 1947, como aluna de Burle Marx. De 1950 a 1952 residiu em Paris onde foi aluna de Fernand Léger. A partir de 1953, expressando-se numa linguagem geométrica de total despojamento, busca novos horizontes rompendo com a tradicional base (tela) para integrar-se com o espaço em sua volta. O espaço exterior passa a ser seu mais ardente desejo. De volta ao Brasil passa a fazer parte do Grupo Frente de 1954 a 1956, nesse último participou da primeira Exposição Nacional de Arte Concreta, em São Paulo.

Já nessa época seus trabalhos já estão bem próximos da natureza da arquitetura (tridimensionalidade rigorosa) e da escultura (autonomia da forma). O campo ótico da pintura fica em segundo plano. Aos contra-relevos de 1960 – superfícies moduladas em figuras geométricas justapostas – surgem os “não-objetos” e os “bichos”, formas manipuláveis formadas por planos de metal articulados por meio de dobradiças (suas obras mais conhecidas do grande público). Seguiram-se as séries Caminhando (1963), Abrigos Arquitetônicos (1963), A Casa é o Corpo (1968).

No ano de 1969, a artista voltou-se para as experiências táteis e sensoriais. Entre os anos de 1970 a 1976, foi professora na Sorbonne, França. Nessa época seu trabalho tem uma aproximação discreta com a Body Art (que tomava fôlego em todo o planeta). À base de redes, tubos, bolinhas de pingue-pongue, sacos plásticos cheios de água, pedras etc; Lygia Clark motiva seus alunos a “fragmentar” o corpo aproximando-se da intrincada psicologia humana. Nessa época ao voltar para o Brasil, a artista autodenomina-se “não-artista”. Além de fragmentar o objeto através da arte, Lygia Clark rompeu com o papel mítico da arte. Ao denominar-se “não-artista” fez séculos de arte caírem por terra abaixo.

O artista perde seu papel tradicional de “revelador e protagonista” de sua própria criação. Mais que um estilo, o artista teria a partir do neoconcretismo de Lygia Clark buscar suas limitações e torná-las ferramentas proeminentes de seu trabalho. As limitações passaram a ser encaradas como um caminho obrigatório. E o conhecimento técnico tornou-se obsoleto. A idéia que a obra está no mundo e o espaço é o lugar onde a “forma” se articula e se fragmenta.

A partir daí nasceu a idéia de integrar Vida e Arte. “Acaba o que se entendia de arte desde o Renascimento (século 15). Lygia Clark e Hélio Oiticica vão acabar com a materialidade da obra de arte e com sua representação porque não querem dar objetos para serem absorvidos pelo sistema”, esclarece Maria Alice Millet, diretora técnica do Museu de Arte Moderna de São Paulo. Com essa observação aguda, angulosa e revolucionária tanto Lygia Clark e Oiticica desmontam a casta artística. Hoje, o neoconcretismo é considerado por críticos brasileiros e internacionais como um dos mais ricos momentos criativos do vigésimo século nas artes plásticas brasileiras ( pós-modernismo de 1922 e seus desdobramentos). Um dos grandes momentos da arte brasileira a atravessar fronteiras além-mar.

Nos últimos anos a obra de Lygia Clark tem percorrido o mundo: Barcelona, Marselha, Porto e Bruxelas. Todo esse itinerário pode ser visto como um interesse póstumo pela obra da artista brasileira. Mesmo em vida Lygia Clark atingiu um prestigio internacional pouco visto entre as artistas brasileiras. Participou de três bienais de Veneza e entre 1965 e 1975, de importantes mostras individuais em Londres e dez outras exposições coletivas.

A ESTRUTURAÇÃO DO SELF

A obra de Lygia Clark é de uma modernidade drástica pois simboliza a morte do objeto artístico e privilegia a interação do espectador com o objeto tridimensional.

Mesmo com a morte simbólica do objeto, a arte está lá envolvida pela experimentação, pelo dualismo, pela negação e a exacerbação da forma: a linguagem da obra perde o exílio e ganha a participação ativa do espectador que deixa de ser “espectador” para ser co-autor da obra artística. A desilusão com o sistema de arte (marchands e galerias) faz com o trabalho absolutamente autoral uma viagem de riscos e de vislumbres libertários. Mas é bom lembrar que todo rompimento é difícil e doloroso. Lygia Clark de uma certa forma comeu o pão que poucos artistas o quase ninguém quis experimentar. E ocupa um lugar de absoluto destaque na Arte Contemporânea. Em 1977 passa a criar os objetos sensoriais. Como terapeuta, qualifica seu método de “estruturação do self” e passa sofrer pressões da medicina institucionalizada para se afastar de uma prática para qual não tem formação. Lygia Clark se dizia “inculta”.

Mas na opinião do francês Yves-Alain Bois, historiador de arte, hoje professor da Universidade de Harvard e que nos anos 70, foi amigo próximo da artista, Lygia Clark era intuitiva e fazia da sua grande curiosidade o leitmotiv para um grande volume de leituras que incluía Freud, George Groddeck , que publicou em 1923 “O Livro do Id”, espécie de tratado sobre as pulsões e os desejos. Tinha particular interesse pelas obras do escocês Ronald D. Laing, autor de “O Ego Dividido”, fundador da antipsiquiatria e pelo inglês D.W. Winnicott especialista em psicoses geradas pela má relação mãe&filho. É importante deixar claro que essas referências psiquiátricas tinham para Lygia Clark uma motivação precisa.

Em períodos sofridos e de longos hiatos colocava em dúvida suas certezas estéticas. Passava de uma descoberta para outra – sem garantias. O grande dilema da artista sempre foi como produzir algo que não fosse reduzido apenas ao objeto artístico ou que encontrasse uma situação confortável nas correntes estéticas da arte. Eddie Benjamin

Lygia Clark – Escultora

Lygia Clark
Lygia Clark

Lygia Clark nasceu em Belo Horizonte, 1920 e faleceu no Rio de Janeiro, 1988.

Escultora, pintora, desenhista e psicoterapeuta, começou a estudar artes plásticas com Roberto Burle Marx em 1947. Em 1950, foi à Paris, onde estudou com Fernand Léger. Em 1952, fez sua primeira exposição, na Galeria Endoplastique. Neste ano, voltou ao Brasil e expôs no Ministério da Educação, no Rio de Janeiro, recebendo o prêmio “Augusto Frederico Schmidt” e sendo considerada revelação artística do ano pelos críticos.

Aproximou-se de Ivan Serpa, com o qual dividiu uma exposição em 1953, em São Luís (MA), e fundou o Grupo Frente, que reunia artistas concretos, em sua maioria, mas também era aberto à participação da arte naïf e infantil. O Grupo era formado por alunos de Serpa e outros artistas como Lygia Pape, Aluísio Carvão e Décio Vieira, Abraham Palatnik, Elisa Martins da Silveira e por Carlos Val. O trabalho de Lygia Clark, a partir de então, foi revolucionário em três aspectos.

Primeiramente, ele se caracterizou por experiências de exploração tempo-espaciais reformulando os conceitos clássicos do espaço da obra de arte. Entre 1954/58 inaugurou as chamadas “superfícies moduladas”, em que a artista rompe com a superfície do quadro e com a moldura, trazendo para a responsabilidade do artista também a construção do espaço de criação. Clark gerou também novos espaços de criação, feitos a partir de maquetes, com placas cortadas formando superfícies curvas sobre uma base em forma de losangos, que a artista deu o nome de “ovos” e “casulos”.

Em segundo lugar, Lygia Clark e outros artistas e amigos como Helio Oiticica reformularam o papel do espectador que, de agente passivo, se tornou parte integrante e co-autor das obras. Assim, em 1960, ela criou obras que podiam ser alteradas pelo espectador. Eram chapas de metal articuladas por dobradiças, que a artista chamou de Bichos e que assumiam formas diferentes após a manipulação para a qual os espectadores eram agora (ao invés de proibidos) convidados. Essas obras são revolucionárias, pois foi a primeira vez que o público podia modificar uma obra de arte, quebrando com os conceitos de aura, sacralidade e autoria única, solidificados desde o Renascimento. Em 1956/57, Lygia Clark participou da I Exposição Nacional de Arte Concreta, mostra que reuniu artistas concretos de São Paulo e do Rio de Janeiro. Na ocasião, ficou evidenciado que as obras de Clark estavam rompendo com os padrões da arte moderna, levando as discussões para o plano da fenomenologia. Suas obras, assim como as de Hélio Oiticica, geraram novas teorias que levaram Ferreira Gullar a desenvolver a “Teoria do Não-Objeto”. Em 1957, a artista foi premiada na IV Bienal de São Paulo. Clark expôs na Bienal de Veneza em 1960, 62 e 68, e em Nova Iorque em 1963.

Teve uma Sala Especial na Bienal de São Paulo de 1963. Em 1966, expôs pela primeira vez seus Trepantes, obras também manipuláveis pelo público, feitas com borracha, plástico, caixas de fósforo e papelão, materiais novos do mundo industrial, integrados agora às artes plásticas. Ela lecionou na Sorbone, Paris, em 1971 e 1975.

Em terceiro lugar, a partir de 1968, Lygia passou a refletir sobre as questões do corpo, integrando o público com a obra de modo sensório, em trabalhos como A Casa é o Corpo (1968), o Corpo Coletivo (1974) e Roupa-corpo-roupa. Dessas experiências extraiu conceitos terapêuticos que criavam uma interface inédita entre arte e ciência. Em 1978, começou a fazer experiências de utilização das obras com fins terapêuticos individuais. Dizia na época que era mais psicóloga que artista, criando situações experimentais em grupo. O fio condutor desse fase da sua obra é a relação entre corpo humano e arte. Seus “objetos relacionais” são uma série de manipulações artísticas que ancoram sua obra no universo de uma arte construída a partir do espectador/paciente.

O processo terapêutico se irradia nas duas direções: na cura do sujeito/paciente que participa do processo da obra e na emancipação da obra de arte do seu status de objeto/produto. Segundo ela própria, quando o objeto perde sua especificidade como mercadoria/produto/obra e adquire significado na sua relação com a estrutura psicológica do sujeito, então a arte acontece e a possibilidade de cura aparece.

Obviamente, Lygia Clark foi polêmica durante toda a sua vida e a última fase da sua obra gerou inúmeras críticas por parte de artistas e psicólogos. Mas não é este o fascínio e a maldição dos pioneiros? Ana Maria Caetano de Faria

Fonte: br.geocities.com/www.eletronicbrasil.com.br

 

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