Dia do Falecimento de Juscelino Kubitschek

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22 Agosto

Juscelino Kubitschek nasceu em Diamantina, Minas Gerais, no dia 12 de setembro de 1902.

Desde os trinta e dois anos de idade se dividia entre a medicina e a carreira política, mas em 1934, com sua vitória para deputado federal, decidiu-se pela dedicação ao Brasil.

Foi nomeado para a prefeitura de Belo Horizonte em 1940 e, dez anos depois, foi eleito governador do estado de Minas, com o slogan “Energia e Transporte”.

Dia do Falecimento de Juscelino Kubitschek

Eleito presidente da república em 1955 com uma diferença pequena de votos para Juarez Távora (6%), JK encontrou o país ainda sobre tensão de toda a questão política que havia ocorrido com o suicídio de Getúlio Vargas.

Já em janeiro de 1956, o Levante de Jacareacanga viria comprovar a intranquilidade do país. Inúmeras greves, a forte seca no Nordeste, a Revolta de Aragaças, e outras conturbações se seguiriam, mas foram os planos de desenvolvimento do país que ficaram como marca do seu governo.

O lema “cinquenta anos em cinco”, o plano de metas, a criação da Sudene, a transferência da capital para Brasília, e a política externa na operação Pan-americana foram as características que ficaram para a história.

JK, com o objetivo de “desenvolver para sobreviver”, abriu as portas do país para o capital externo e enfatizou o processo de substituição de importações. Saiu do poder com grande popularidade e muitas chances de reeleição, como muitos profetizaram.

Mas o regime militar cassou os seus direitos e encerrou a sua carreira política, partindo para a Europa em 1961.

De volta ao Brasil em 1964, aliou-se a Carlos Lacerda e João Goulart na Frente Ampla, mas não obteve sucesso.

Juscelino faleceu num acidente de carro na estrada entre Rio de Janeiro e São Paulo, a 22 de agosto de 1976.

22 Agosto

RELATÓRIO FINAL DA COMISSÃO ESPECIAL PARA, NO PRAZO DE 60 DIAS, ACOMPANHAR, SUBSIDIAR E DAR O NECESSÁRIO APOIO INSTITUCIONAL AOS TRABALHOS DA COMISSÃO EXTERNA DA CÂMARA DOS DEPUTADOS DESTINADA A ESCLARECER AS CINRCUNSTÂNCIAS EM QUE OCORREU A MORTE DO EX-PRESIDENTE JUSCELINO KUBITSCHEK, NO ACIDENTE OCORRIDO NA RODOVIA PRESIDENTE DUTRA

Dia do Falecimento de Juscelino Kubitschek

(Publicado em 07/11/2000)

ANTECEDENTES

O ex-Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira faleceu em 22/8/76, vítima de um acidente automobilístico, no Km 165 da Rodovia Presidente Dutra, no município de Rezende, localizado no Estado do Rio de Janeiro.

O carro – um opala – dirigido por seu motorista de confiança, Geraldo Ribeiro, atravessou o canteiro divisório da pista, colidindo com uma carreta Scania.

As dúvidas surgidas quanto ao acidente centram-se essencialmente nos seguintes fatos:

1 – Contradições constantes no processo referente à morte do ex-Presidente, dentre as quais podem ser destacadas: afirmação de que o ônibus da empresa Cometa havia batido no opala, provocando o desastre, baseada em depoimentos conflitantes e sem uma investigação mais aprofundada; utilização de instituto particular para fazer as perícias, com mudança de peritos; ausência de material fotográfico, que foi ocultado.

2 – Dois episódios, que revelaram publicamente o incômodo sentido pelas autoridades que comandavam o País, à época, com a presença de Juscelino Kubitschek, que, diga-se de passagem, nunca perdeu a popularidade e o amor do cidadão comum, a saber:

a) a torre de Brasília proibiu o pouso de um avião que sobrevoava a Capital, com pane por falta de combustível, uma vez que o ex-Presidente estava a bordo da aeronave;

b) o caso Parasar, divulgado por revista de circulação nacional, contendo denúncia de um militar de atentado contra a vida do ex-Presidente.

3 – Juscelino Kubitschek sentia-se ameaçado de morte, conforme inúmeros depoimentos a pessoas mais próximas a ele, inclusive escritos, tendo convicção absoluta de ter o telefone grampeado.

4 – Quinze dias antes de sua morte, correu o País um boato de que o ex- Presidente havia morrido em acidente de carro. A Câmara dos Deputados criou, em 14/6/2000, comissão externa para investigar as circunstâncias da morte do ex-Presidente.

Duas linhas de trabalho foram estabelecidas: uma, material, ligada diretamente s circunstâncias que vitimaram o ex-Presidente, buscando determinar se o acidente teve causas naturais ou se teria sido provocado; a segunda, uma investigação política, histórico-ideológica, partindo dos sinais da chamada Operação Condor.

Essa operação, apoiada pelas ditaduras militares do continente, teria sido responsável por perseguições e atentados contra opositores dos governos militares latino-americanos na década de 70, suspeitando-se da existência de uma conspiração no Cone Sul e na América Latina para impedir a ascensão ou o regresso dos líderes excluídos, como seria o caso de Juscelino Kubitschek.

A Assembléia Legislativa de Minas, como não poderia deixar de ser, imediatamente criou, nesta Casa, comissão especial, com o objetivo de acompanhar e oferecer subsídios àquela Comissão Externa da Câmara dos Deputados. Juscelino Kubitschek de Oliveira, nascido em Diamantina, médico em Belo Horizonte, iniciou sua carreira política sendo eleito Deputado Federal por Minas Gerais.

Prefeito de Belo Horizonte, concretizou obras das mais significativas. Eleito Governador de Minas, incrementou passos fundamentais para o Estado, tendo baseado sua administração no binômio energia e transporte. Portanto, antes de ser o gigante inesquecível à frente da Nação foi ele o mineiro apaixonado pelas Gerais.

Assim, no momento em que as circunstâncias de sua morte são investigadas, é imprescindível o empenho dos parlamentares mineiros, contribuindo com todos os recursos possíveis, para a busca do restabelecimento daquela verdade histórica. DEPOIMENTOS NA COMISSÃO A Comissão Especial da Assembléia Legislativa ouviu os Srs. Deputado Federal Osmânio Pereira, relator da Comissão Externa da Câmara dos Deputados, Serafim Melo Jardim, secretário particular de Juscelino Kubitschek, e Alberto Carlos de Minas, perito e professor de criminalística que vem estudando o caso.

Registre-se que houve impossibilidade da presença do Sr. Josias Nunes de Oliveira, motorista do ônibus da Cometa, para prestar esclarecimentos junto Comissão, em virtude de seu estado de saúde bastante delicado.

O depoimento do motorista do ônibus seria da mais alta relevância para o esclarecimento do caso.

No entanto, tendo sido indiciado como o causador da morte de Juscelino Kubitschek e de seu motorista Geraldo Ribeiro, sendo, imediatamente, considerado culpado pela opinião pública, apesar das falhas constantes do processo, Josias Nunes de Oliveira ficou emocionalmente abalado, sofrendo todas as consequências disto: separou-se da esposa, perdeu o emprego, chegando a se transformar em catador de papel em São Paulo.

Depoimento do Sr. Serafim Melo Jardim O Sr. Serafim Melo Jardim foi secretário particular de Juscelino Kubitschek, conviveu com o ex-Presidente por nove anos e manteve convívio de amizade com a viúva, D. Sarah Kubitschek, e sua filha, Márcia, de cuja campanha pra Deputado Federal foi coordenador.

Hoje é Presidente da Casa de Juscelino, em Diamantina, e faz questão de enfatizar que tem como objetivo manter viva a imagem do ex- Presidente e ver esclarecida a verdade sobre a sua morte.

Em extenso e detalhado depoimento, procurou demonstrar as contradições e falhas do processo, apresentando documentos colhidos e reunidos em livro já publicado e dando seu testemunho quanto a acontecimentos presenciados.

Segundo o depoimento de Jardim, o aspecto mais conflitante do processo refere-se ao depoimento de 9 dos 33 passageiros do ônibus, os únicos ouvidos e que não fazem nenhuma referência à colisão do ônibus com o Opala.

Todos dizem que o carro estava, aproximadamente, 10m à frente. Corroborando a incongruência, apresentou o voto do relator Lisandro de Lima, do Tribunal de Alçada, que assegura ser impossível, pelas leis da Física, a ocorrência descrita no laudo.

Na parte da reunião destinada a debates, o Sr. Serafim Jardim foi questionado quanto à reabertura do processo – em especial, sobre o motivo por que, somente 20 anos depois, tomou-se a decisão de fazer a denúncia e, em consequência, os levantamentos que agora são levados avante.

O convidado esclareceu que somente tomou a decisão de pedir a reabertura do caso Juscelino após o falecimento de D. Sarah – que acreditava que a morte do marido não tinha sido acidental, mas resolvera calar-se, temendo dificuldades políticas para a filha. Disse que, se, em 1996, com o advogado Paulo Castelo Branco e Alberto Carlos de Minas, não tivessem tentado a reabertura do caso JK, ninguém questionaria a morte do ex-Presidente, pois o processo estaria esquecido para sempre.

Depoimento do Sr. Alberto Carlos de Minas O perito, professor de Criminalística Geral, com amplo currículo, que inclui estágio na polícia francesa, relatou sua indignação com as incoerências e a inconsistência das perícias realizadas.

Ressaltou sete itens preponderantes, discorrendo sobre cada um deles.

Como evidência, apontou o fato de terem sido feitos dois laudos: um no dia 22, que nada diz.

E um segundo, no dia 23, chamado de complementar, com informações especificadas, determinando o motorista da Viação Cometa como responsável pelo acidente.

Ressaltou a questão da exumação do cadáver de Geraldo Ribeiro, quando contestou várias explicações dos legistas. Na fase de debates, especificou, ainda, diversos outros aspectos técnicos. Depoimento do Deputado Osmânio Pereira O ilustre Deputado Osmânio Pereira fez um relato das atividades já desenvolvidas pela Comissão da Câmara do Deputados, informando que já há um farto material, com, aproximadamente, 1.300 páginas de laudos, processos e documentos.

Esclareceu que a Comissão foi a São Paulo, fez o mesmo trajeto que o ex-Presidente percorreu até o momento do acidente, as mesmas paradas e procurou ouvir familiares das pessoas que teriam estado com ele e que prestaram importantes informações Comissão.

Quanto à vertente ideológica da investigação, explicou que a busca está sendo feita para verificar quem teria interesse na morte de Juscelino Kubitschek. Para que sejam esgotadas todas as possibilidades, a Comissão irá ao Chile, visando obter maiores informações sobre a Operação Condor, por meio de contatos com a Suprema Corte, com lideranças não governamentais ligadas às questões dos direitos humanos, além dos parlamentares chilenos.

A Comissão investiga, também, o Gen. Contreras – hoje cumprindo prisão domiciliar, que teria estado em São Paulo poucos meses antes da morte do ex-Presidente Juscelino Kubitschek. Finalmente, o Deputado ressaltou a importância da colaboração dos parlamentares mineiros, por meio de uma Comissão Especial da Assembléia Legislativa de Minas, para reconstituir a verdade histórica.

CONCLUSÕES

Quanto ao acidente em si, apesar de muitos fatos obscuros e controvertidos, não há provas de que tenha sido provocado. Quanto ao aspecto político, ainda há muito o que descobrir. O ex-Presidente Juscelino Kubitschek teve uma trajetória política voltada para o desenvolvimento, para a afirmação da capacidade brasileira de realização.

Eleito Presidente da República, imediatamente pôs em ação um fabuloso plano de metas, que foi bem resumido no “slogan”: 50 anos em 5.

Estóico na resistência aos arremessos do medo, da incompreensão, do derrotismo, Juscelino Kubitschek, homem síntese, compêndio de energias, possibilitou que sonhos se transformassem em realidade, mas, antes de tudo, pôs por terra a imagem da figura até então estabelecida para o brasileiro: um pigmeu, acocorado no litoral ou perdido no cenário imenso de uma natureza hostil e intratável, que nunca lograria vencer.

Quando Bernardo Saião tombou debaixo da última árvore que desimpediu o traçado da rodovia Belém-Brasília, quando os “candangos” possibilitaram que as moles de cimento e aço de Brasília surgissem no descampado do sertão bruto e desértico, quando adveio o resultado da determinação e da coragem dos homens da nação – tudo arrancado do nosso gênio criador – Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, Burle Max e tantos outros, houve a afirmação de uma brasilidade real, vigorosa e admirável, perante o mundo.

Provávamos que poderíamos ser muito mais do que simples copiadores, respirando unicamente o cosmopolitismo, vivendo dos seus vícios e das suas descaracterizações.

Brasília custara uma quota de sacrifício para cada cidadão, em decorrência dos gastos necessários à sua construção. Mas a iniciativa trazia, indubitavelmente agregadas as consequências geossociais e geopolíticas da independência, que só a certeza da capacidade realizadora pode trazer, com uma aceleração rumo ao progresso sem chances de retrocesso.

Essa realidade histórica demonstra quão poderosa pode ser a afirmação do povo brasileiro, orientado por líderes natos e autênticos.

O mandato de JK encerrou-se em 1961. Em 1965, pretendia candidatar-se novamente, para dar continuidade a idéias e ideais, que tanto impulsionaram o País.

No entanto, em junho de 1964 teve seus direitos políticos cassados pelo regime militar. O que aconteceria se, efetivada a abertura democrática, o velho líder voltasse a ser candidato?

Se não foi possível à comissão apresentar fatos conclusivos, trazer à tona todas essas indagações já é um passo importante, na busca da reconstrução dos acontecimentos histórico-políticos de Minas e do Brasil, com vistas à consolidação dos valores democráticos.

Recomendações

O que se recomenda, neste momento, além do apoio aos Deputados Federais em suas investigações e do acompanhamento das atividades da Comissão Externa da Câmara dos Deputados, é que todos os representantes do povo mineiro estejam atentos a quaisquer fatos que possam contribuir para esclarecer aquele infausto acontecimento, na busca incessante da verdade.

Sala das Reuniões, 31 de outubro de 2000. Bené Guedes, Presidente – Márcio Kangussu, relator – Luiz Tadeu Leite. – Publique-se para os fins do parágrafo único do art. 114 do Regimento Interno.

22 Agosto

Juscelino Kubitschek

Presidente do Brasil eleito por voto popular, natural de Diamantina, Minas Gerais, teve sua gestão no período entre 1956 e 1960.

Formou-se em Medicina, tendo ingressado como capitão-médico na polícia militar de Minas Gerais. Foi prefeito de Belo Horizonte (1940-1945), governador de Minas Gerais (1950-1954), senador por Goiás (1962-1964).

Assumiu a presidência sob forte crise político-militar, mas conseguiu levar avante um arrojado projeto de governo. Iniciou a arrancada industrial brasileira com o lema 50 anos em 5, sendo lançado durante sua gestão o primeiro automóvel nacional.

Inaugurou a rodovia Belém-Brasília e a nova capital federal, uma época em que os candangos trabalhavam a toque de caixa e até o cimento era transportado por avião.

Cassado pelo militarismo em 1964, foi essa a única razão pela qual não se candidatou novamente à presidência da República, ato que interrompeu sua ascensão política.

Em novembro de 1965, no que chamou de exílio voluntário, abandonou o país e foi para a Europa. Com relação a uma de suas virtudes artísticas, a Companhia Internacional de Seguros distribuiu como brinde a seus clientes em 1977, um disco onde J.K. interpreta Elvira, Escuta, modinha muito popular em sua terra natal.

Dotado de razoáveis recursos vocais, ele tinha grande admiração pela música e adorava ouvir Peixe Vivo. O título do disco em questão é Cantares Brasileiros.

O acidente na Via Dutra, onde pereceram o ex-presidente e seu motorista particular durante 36 anos, foi causado por um ônibus que teria fechado o opala de J.K., fazendo com que este se chocasse com uma carreta.

Tempos antes, foi registrado o seguinte diálogo entre patrão e empregado: Geraldo, se você morrer primeiro do que eu, vou segurar a alça do seu caixão.

E Geraldo retrucou:

E se o senhor for antes, farei o mesmo. No que Juscelino falou: Não, somos irmãos, vamos morrer juntos.

No editorial do The New York Times de 25 de agosto de 1976:

A morte de Juscelino Kubitschek de Oliveira, aos 73 anos, vem retirar do palco latino-americano não só uma das personagens políticas mais ricas dos últimos tempos, como um homem que fez coisas impressionantes.

Enfrentando a oposição ferrenha e até ridicularizado, o Presidente Kubitschek perseguiu obstinadamente o seu sonho de transferir a capital brasileira para o interior do país, a 600 milhas do Rio de Janeiro… a maior contribuição do Dr. Kubitschek ao continente americano durante sua presidência (1956/196l), foi a operação Pan Americana, um projeto de mobilização de enormes recursos para o desenvolvimento das Américas.

Dia do Falecimento de Juscelino Kubitschek
Dona Sarah e Dr Juscelino

Em 1995, foi publicado Juscelino, uma História de Amor, de João Pinheiro Neto e onde relata o romance de dezoito anos entre JK e Maria Lúcia Pedroso, uma socialite carioca. O ex-presidente era casado com Dona Sarah Kubitschek. Faleceu aos 73 anos, em 22 de agosto de 1976.

22 Agosto

Lembranças da morte

Já se tornou um clichê brasileiro quando a programação da Globo é interrompida com aquela musiquinha – que todos conhecem – do plantão de notícias.

Todos os telespectadores param para ouvir a possível morte de alguém importante – geralmente representantes políticos. Em seguida, a versão oficial da morte é transmitida a todas as mídias.

Neste momento surgem dois grupos interpretativos sobre a investigação dos fatos: da verdade absoluta, e da mentira conspiratória.

Episódios semelhantes ficaram registrados na história de grandes presidentes brasileiros como Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, João Goulart e Tancredo Neves.

Estes enquanto vivos, se tornaram populares e enfrentaram oposições, perseguições e ameaças. Após suas mortes surgiram muitas dúvidas, se realmente aconteceu como os inquéritos afirmaram ou se tudo foi um complô.

A quem diga, que teriam sido misteriosamente assassinados com o objetivo de aniquilar todos os líderes populares da América Latina, inimigos da ditadura.

Dia do Falecimento de Juscelino Kubitschek

Já era Vargas

Getúlio Dornelles Vargas. Este foi o presidente que teve a sua própria “era” – A Era Vargas – que trouxe muitas mudanças na economia e na política brasileira criando aliados e inimigos à esquerda e à direita, com suas jogadas bastante política.

Porém, chegou ao seu fim de forma inesperada no dia 24 de agosto de 1954. Vargas foi encontrado morto com um tiro no coração, acompanhado de uma carta-testamento que se transformaria num dos mais conhecidos documentos históricos brasileiros.

O motivo estaria ligado às muitas pressões que sofria pelas Forças Armadas, que durante uma reunião ministerial realizada na madrugada de 23 para 24 de agosto, Vargas se viu confrontado com a eminência da renúncia ou deposição.

A história conta que após a reunião, suicidou-se.

O caso Getúlio Vargas é especialmente difícil de ser analisado, porém, muito contestado pelos conspirólogos que não acreditam no suicídio, e sim, num assassinato.

Para alguns, o testamento foi uma carta de amor e nacionalismo pela sua nação. Para outros, foi a carta que acusou os inimigos da nação como os responsáveis por seu suicídio.

A morte de JK

O ex-presidente Juscelino Kubitschek teve seu “reinado” interrompido após um acidente de carro, em seu Opala , em 22 de agosto de 1976.

Saindo de São Paulo, com destino ao Rio de Janeiro, na rodovia Presidente Dutra, o carro desgovernou, cruzou a pista de sentido contrário e bateu de frente com uma carreta Scania. JK e seu motorista, Geraldo Ribeiro tiveram morte instantânea.

Segundo a perícia, o acidente aconteceu porque um ônibus da Viação Cometa teria encostado na traseira do Opala.

Nos dois laudos do acidente, os peritos não incluíram alguns detalhes como fotos dos corpos de JK e do motorista “por recomendação de ordem superior”.

Também a polícia ouviu apenas nove dos 33 passageiros do ônibus.

Mas para os adeptos a teoria conspiratória as versões são outras.

Para o motorista ter perdido a direção existem três explicações possíveis: ter sido baleado por um atirador de elite próximo ao local; o carro foi alvo de sabotagem; uma bomba que explodiu o carro.

O mais intrigante nos episódios mal explicados de JK foi que duas semanas antes do acidente, vários veículos de comunicação receberam a notícia de morte do então presidente, inclusive numa batida de carro em outra estrada ligava Luziânia – onde ficava sua fazenda – a Brasília.

O percurso que realmente faria, mas que na última hora preferiu ficar onde estava.

Dia do Falecimento de Juscelino Kubitschek

O exílio mortal de Jango

Três meses depois da morte de JK, foi a vez de Jango.

O falecimento do ex-presidente João Goulart, em uma fazenda na província Argentina de Corrientes, em 6 de dezembro de 1976, teve o registro oficial de problemas cardíacos.

Porém a verdade pode ser bem diferente da versão oficial.

Como o seu corpo não foi submetido a uma autópsia, surgiram algumas teses conspiratórias de que Jango talvez tenha sido envenenado.

Segundo o ex-governador, Leonel Brizola – casado com a irmã de Jango -, foi um complô internacional de forças ligadas à ditadura militar.

Os responsáveis seriam agentes da Operação Condor, que através de um esquema de governantes, perseguiam militantes da esquerda nas décadas de 70 e 80.

O velório que antecedeu a posse

Já com a morte de Tancredo Neves, – na véspera de sua posse como presidente do Brasil – o episódio estimulou inúmeras teorias conspiratórias.

Em 14 de março de 1985, ele foi levado com urgência no Hospital de Base de Brasília por um mal-estar que parecia simples, mas logo diagnosticado de diverticulite intestinal.

A coisa piorou.

Tancredo Neves teve que passar por sete intervenções cirúrgicas em 38 dias de agonia.

Então, chegou a nota de falecimento em 21 de abril, Dia de Tiradentes, no Instituto do Coração, em São Paulo. Cerca de dois milhões de brasileiros acompanharam o cortejo fúnebre do presidente que nem chegou a exercer o seu mais elevado cargo.

Na época, muitos boatos circularam. Um deles era que Tancredo, defensor das eleições diretas, teria sido baleado por um militar linha-dura, contra a democracia.

O atentado teria acontecido enquanto era entrevistado por Glória Maria, da TV Globo , na Catedral de Brasília. A jornalista teria sido mandada para o exterior para abafar o caso.

Uma segunda versão, afirma que a morte de Tancredo fora causada por envenenamento.

A hipótese é baseada pelo fato de que seu mordomo João Rosa – que acompanhava Tancredo na sua residência – fora internado com dores similares a de seu chefe. João morreu com o mesmo diagnóstico de Tancredo, após sete cirurgias e internado por 16 dias.

As ideias de uma suposta conspiração ganharam peso maior, após a revelação publicada na revista Veja de que na verdade Tancredo teria morrido um dia antes do anunciado.

A fonte, um médico que acompanhou o estado clínico do presidente, teria falado que o cérebro de Tancredo parou na noite de 20 de abril. Mas devido por ser próximo ao feriado de Tiradentes, a data poderia ter sido escolhida para ser lembrado como um herói nacional.

Muitos conspirólogos acreditam que os militares foram os grandes culpados e envolvidos nas mortes destes representantes populares do País. Mas nada é confirmado. A pergunta continua no ar. Quem matou os presidentes?

A resposta pode ser um ponto final ou uma interrogação.

Dayse Bezerra

22 Agosto

Juscelino Kubitschek  de Oliveira

Diamante em Formação (1902-1932) Raízes

Juscelino Kubitschek de Oliveira, o vigésimo brasileiro a ocupar a presidência da República, nasceu num sobrado da rua Direita, em Diamantina, cidade mineira a 282 quilômetros de Belo Horizonte, no dia 12 de setembro de 1902.

Era filho de João César de Oliveira, irrequieto personagem que teve os mais variados ofícios – caixeiro de loja, bombeiro, lapidador de pedras preciosas, caixeiro-viajante, delegado de polícia, fiscal de rendas e capitão da Guarda Nacional – antes de morrer, ainda jovem, de tuberculose.

Sua mãe, a professora primária Júlia Kubitschek, era neta de um marceneiro checo nascido na Boêmia, Jan Nepomuscký Kubitschek, conhecido como João Alemão, que chegou ao Brasil por volta de 1831, o ano em que d. Pedro I abdicou do trono. O país tinha então pouco mais de 5 milhões de habitantes.

Instalado na região de Diamantina, Jan não tardou a fazer fortuna e viu seu nome ser abrasileirado, pela gente do lugar, para João Alemão. Casado com uma brasileira, teve três garotos – um dos quais, João Nepomuceno Kubitschek, faria carreira política, tendo chegado a senador estadual constituinte e a vice-governador de Minas Gerais no final do século XIX.

O mais velho dos filhos de João Alemão morreu menino. O terceiro, Augusto Elias Kubitschek, homem sossegado e de pouca conversa, comerciante de armarinho que trocava tudo por um bom livro, foi o pai da professora Júlia Kubitschek e avô do futuro presidente do Brasil.

No Seminário

Com a morte do marido, em 1905, Júlia Kubitschek se mudou com os dois filhos para o morro da Grupiara e, mais tarde, para uma casinha na rua São Francisco, 241, em Diamantina, onde a família viveria por onze anos e que abriga hoje o museu Casa de Juscelino.

Foi com a mãe que o garoto fez os seus primeiros estudos. O tempo livre era preenchido com as histórias contadas pela amiga e vizinha Augusta de Generosa, filha de escravos, e brincadeiras com um carneirinho, o Gigante.

Lembranças fortes daquela época: a chegada da luz elétrica a Diamantina e a passagem do cometa de Halley, ambas em 1910.

Concluído o curso primário (foi o orador da turma, lendo discurso escrito por seu tio Juscelino Fonseca), como não houvesse ginásio na região, Juscelino convenceu a mãe a matriculá-lo no seminário de Diamantina.

D. Júlia relutou: a mensalidade era de 50 mil-réis e ela ganhava pouco mais de 140 por mês. O reitor disse ao menino que os estudos nada lhe custariam se quisesse ser padre. Juscelino respondeu que a vida religiosa não o tentava, mas ainda assim foi aceito, pagando 40 mil-réis por mês.

Entrou aos doze anos, em 1914, e ali permaneceu até 1917, num regime espartano em que tinha que estar de pé às cinco da manhã e deitar-se às oito da noite. A batina, obrigatória até para jogar futebol, só era despida para dormir e tomar banho, não raro num ribeirão das vizinhanças.

O mais famoso ex-aluno do seminário de Diamantina deixou nele marcas até físicas de sua passagem por lá: o nome gravado, a canivete, no tampo da carteira que ocupava na sala de estudos.

Em busca de novo horizonte

Com quinze anos incompletos o garoto Juscelino havia concluído o curso de humanidades no seminário de Diamantina, mas não queria parar nesse ponto.

Sonhava com uma carreira de médico que a todos parecia impossível. A mãe não tinha dinheiro para que ele fosse prestar exames complementares numa cidade grande, abrindo caminho rumo à universidade. Para Júlia Kubitschek, já estaria bom se ele se tornasse, como o falecido pai, fiscal de rendas. Mas Juscelino sentia sufocar-se naquela Diamantina sem perspectivas.

O isolamento em que vivia era quebrado apenas pelos jornais de Belo Horizonte e do Rio de Janeiro, que começaram a chegar àquele fim de mundo quando a estrada de ferro foi inaugurada, em 1914. Quem lhe emprestava essas publicações, além de livros – pois Juscelino herdara do avô Augusto Elias a mania de leitura – era o médico Álvaro Mata Machado. Foi ele quem, mais adiante, indicou ao rapaz o trilho até o seu primeiro emprego, ao lhe contar que o Departamento dos Correios tinha aberto, em Belo Horizonte, um concurso para o posto de telegrafista.

A certidão falsa

O adolescente Juscelino parecia condenado aos horizontes curtos da vida de funcionário público, na mesmice de Diamantina – quando, em 1918, um decreto federal veio tornar possível seu sonho de cursar medicina. Por causa da gripe espanhola que grassou naquele ano, o governo facilitou aos estudantes de todo o país a prestação dos exames preparatórios. O Nonô de d. Júlia pôde, assim, fazer as provas que o separavam da Faculdade de Medicina.

Ao mesmo tempo, inscreveu-se no concurso para telegrafista dos Correios.

Como ainda não tinha dezoito anos, a idade mínima exigida pelo regulamento do concurso – estava com dezesseis –, a família recorreu a uma falcatrua em boa causa: com a cumplicidade de um amigo, Antônio Honório Perpétuo, o Ninico, oficial do registro civil em Diamantina, forjou-se uma certidão que dava Juscelino Kubitschek de Oliveira como tendo nascido não em 1902, mas em 1900. É essa a data que se pode ler em seu diploma de médico.

O telegrafista

Para que o filho pudesse viajar a Belo Horizonte e lá prestar o concurso para telegrafista, em julho de 1919, Júlia Kubitschek precisou vender a única joia que tinha, um colar de ouro, herdado da mãe. Eram 89 candidatos e Juscelino classificou-se em 19º lugar.

Enquanto esperava a nomeação, voltou para Diamantina e conseguiu autorização para praticar telegrafia na agência local dos Correios.

Deixou de vez sua cidade quando, finalmente, foi convocado para assumir o posto de telegrafista-auxiliar na estação ferroviária de Belo Horizonte, a 19 de maio de 1921. Ganhava 6 mil-réis por dia – e só a cama e a comida, na pensão onde morava, num porão na avenida Afonso Pena, no centro da cidade, consumiam 50 mil-réis por mês.

Matriculado num curso particular para os exames preparatórios, conheceu nessa época um rapaz magrinho, vindo de Itabira, que se formaria na Escola de Farmácia – o já poeta Carlos Drummond de Andrade.

Quando o salário saltou para 8 mil-réis por hora, Juscelino se mudou para uma república de estudantes.

Ali reencontrou um amigo feioso e baixinho, porém inteligentíssimo: José Maria Alkmin, futuro marido de sua prima Maria das Dores da Fonseca. Era, como ele, telegrafista, e haveria de se converter no próprio símbolo da raposice da política mineira, tendo sido deputado, ministro de Estado e vice-presidente da República.

Estudante de medicina

Em janeiro de 1922, com dezenove anos de idade, Juscelino entrou na Faculdade de Medicina de Belo Horizonte, que cinco anos mais tarde viria a formar, com outras faculdades, a Universidade de Minas Gerais.

Trabalhando à noite como telegrafista, ele saía da estação ferroviária com dia claro, a tempo de pegar a primeira aula, às oito horas da manhã. De sua turma, com vinte alunos, fazia parte o futuro escritor Pedro Nava, que evocará o colega numa bela página de um de seus livros de memórias, Beira-mar.

Curiosamente, o futuro presidente não se preocupava com a política. Tinha olhos apenas para a carreira em preparo. A partir do quinto ano, entrou como interno na terceira enfermaria da Santa Casa de Misericórdia, a convite de um colega mais velho, Júlio Soares, que se casou com sua irmã, Maria da Conceição, a Naná.

Foi viver em casa deles.

Mais tarde, também a convite do cunhado, tornou-se sócio de seu consultório. Em 1923, saiu pela primeira vez de Minas Gerais, numa viagem ao Rio de Janeiro.

Dois anos depois, um congresso de estudantes de medicina o levou a São Paulo, com direito a uma esticada em Santos.

Sua paixão, porém, era Belo Horizonte, uma cidade que, inaugurada havia menos de trinta anos, atravessava então um dos momentos mais fascinantes de sua existência.

Dr. Kubitschek, Urologista

Dia do Falecimento de Juscelino Kubitschek
Juscelino Kubitschek de Oliveira

Dia do Falecimento de Juscelino Kubitschek
Dr Juscelino

Formado em medicina em dezembro de 1927, Juscelino Kubitschek andou pensando em se mudar para Uberaba, no Triângulo Mineiro, mas foi dissuadido pelo cunhado, colega e sócio de consultório Júlio Soares.

Na decisão de permanecer em Belo Horizonte pesou também o namoro com aquela que viria a ser sua mulher, Sarah Gomes de Lemos. Ligando-se a ela, Juscelino de certa forma punha os pés na política, pois a moça era filha de um falecido deputado federal, Jaime Gomes de Souza Lemos.

Por parte da mãe, Luísa Negrão, a namorada tinha dois primos que viriam a se destacar na vida pública: Francisco Negrão de Lima, futuro ministro, embaixador e governador do estado da Guanabara, e Otacílio Negrão de Lima, futuro prefeito de Belo Horizonte. Uma irmã de Sarah, Amélia, vai se casar com Gabriel Passos, que em 1950 perderá para JK a disputa pelo governo de Minas.

Naquela altura, porém, o jovem médico ainda não dava sinais de querer enveredar pela política. Dividia seu tempo entre a Santa Casa de Misericórdia, o consultório e a Faculdade de Medicina, onde era assistente nas cadeiras de clínica cirúrgica e física médica. Logo arranjaria mais trabalho, na Caixa Beneficente da Imprensa Oficial, nomeado por intercessão do amigo José Maria Alkmin, vice-diretor da casa.

Já sem aflições financeiras, o filho da professora Júlia Kubitschek logo pôde comprar seu primeiro carro, um valente Ford que o levava de um emprego a outro.

Rumo a Paris

Com exceção da irmã, Naná, toda a família achou que Juscelino ia dar um mau passo quando, em 1930, decidiu interromper uma carreira que ia tão bem e buscar especialização na Europa. Ele teria que abrir um parêntese, também, em seu namoro com Sarah Lemos. Mas estava mesmo decidido. Rapou as economias, vendeu o carro, levantou um empréstimo – e, no final de abril, embarcou para a França.

Em Paris, matriculou-se no curso do professor Maurice Chevassu, renomado urologista, que incluía treinamento no Hospital Cochin. (Quase três décadas depois, em 1956, visitando a cidade como presidente eleito, o ex-aluno foi ver o velho mestre, que dele se lembrava.).

Terminado o curso, Juscelino fez uma longa viagem de navio pelo Mediterrâneo. Conheceu o Egito, Síria, Turquia, Grécia, Terra Santa e Líbano. Esticou por terra até Milão, Veneza, Viena, Budapeste. Emocionou-se ao conhecer Praga, a capital da Checoslováquia que o bisavô Jan Nepomuscký Kubitschek trocara pelo Brasil um século antes.

Estava em Berlim quando, a 3 de outubro, irrompeu no Brasil a Revolução de 1930.

Em Paris, teve a confirmação da vitória, que comemorou em companhia de dois brasileiros de quem se tornara amigo na Europa:o pintor Cândido Portinari e o ator Leopoldo Fróis.

De volta ao Rio de Janeiro, a 21 de novembro, por pouco não cruzou no porto com o presidente deposto, Washington Luís, que na véspera tomara o rumo do exílio.

Capitão-médico

Difícil imaginar o que teria sido a vida de Juscelino Kubitschek se ele não tivesse ingressado, em março de 1931, na Força Pública de Minas Gerais, para trabalhar no Hospital Militar.

Era capitão-médico quando, a 9 de julho de 1932, eclodiu em São Paulo a Revolução Constitucionalista. Estava casado havia seis meses – desde o dia 30 de dezembro de 1931 – com Sarah Lemos. De uma hora para outra, foi enviado para o front, na região do túnel da Mantiqueira, divisa com São Paulo, que os revoltosos paulistas haviam atravessado.

Ficou baseado em Passa Quatro, como responsável por um hospital.

Mas acabou tendo um papel muito mais importante no conflito, conta o biógrafo Francisco de Assis Barbosa: JK “seria de fato o cirurgião da campanha, infatigável no seu posto, indo e vindo do front para o hospital de sangue, sem conhecer cansaço”.

O que mudou sua vida, no entanto, não foi o desempenho como médico, mas as relações que fez em Passa Quatro. Conheceu, entre outros, o então coronel Eurico Dutra, futuro ministro da Guerra e presidente da República.

Mais decisiva ainda seria a amizade com o obscuro prefeito de Pará de Minas, Benedito Valadares, chefe de polícia na região conflagrada. Nomeado por Getúlio Vargas interventor em Minas, no ano seguinte, Benedito arrastaria para um destino político o capitão-médico que conhecera em Passa Quatro.

Nas palavras de Francisco de Assis Barbosa, “Juscelino receberia, com a campanha de 1932, além do batismo de fogo, o batismo da política”.

A Paixão Imprevista (1933-1954)

Secretário de governo

Em setembro de 1933, o governador de Minas, Olegário Maciel, 77 anos de idade, morre dentro de uma banheira, no Palácio da Liberdade.

Para substituí-lo como interventor federal, Getúlio Vargas faz uma escolha surpreendente: quando se esperava a indicação de Gustavo Capanema, que ocupava interinamente o cargo, ou Virgílio Melo Franco, outro político muito conhecido no estado, o presidente saca o nome do pouco expressivo deputado Benedito Valadares – o mesmo que, durante a Revolução Constitucionalista, no ano anterior, tinha sido chefe de polícia na zona do túnel da Mantiqueira.

Benedito se lembra então do capitão-médico de quem se tornara amigo, e, no dia seguinte à posse, oferece ao dr. Juscelino Kubitschek o posto de secretário da Interventoria, equivalente, hoje, ao de secretário de governo. JK hesita, mas acaba cedendo à tentação da política. Não desativa ainda seu próspero consultório de urologia, nem se demite do Hospital Militar e da Santa Casa. Mas abandona definitivamente a elaboração da tese com que pretendia concorrer a uma cátedra na Faculdade de Medicina.

Deputado federal

Em outubro de 1934 Juscelino Kubitschek disputou a sua primeira eleição, na chapa do Partido Progressista, e foi o deputado federal mais votado de Minas Gerais.

Estabelecido agora no Rio de Janeiro, não se descuidou das bases eleitorais, sobretudo na sua Diamantina, onde em 1936 conseguiu eleger o prefeito e onze dos quinze vereadores. No ano seguinte, aproximando-se as eleições presidenciais marcadas para janeiro de 1938, engajou-se na campanha do líder paraibano José Américo de Almeida, que concorreria com o governador de São Paulo, Armando de Sales Oliveira.

Nos primeiros dias de novembro, porém, pressentindo como inevitável o golpe que Getúlio Vargas armava para se manter no poder, JK viajou para Belo Horizonte e reassumiu o consultório, que havia cedido a um colega.

Não se enganou: no dia 10 de novembro, o presidente anunciou o Estado Novo, convertendo-se em ditador.

Sem mandato, pois o Congresso Nacional foi dissolvido, Juscelino Kubitschek voltou a seu emprego no Hospital Militar. Afastado do ofício havia quatro anos, achou que tinha perdido a destreza no manejo do bisturi. Para recuperá-la, praticou durante três meses, à noite, técnicas de cirurgia em cadáveres.

Deixando a medicina

No final da década de 1930 Juscelino Kubitschek dava a impressão de haver encerrado para sempre seu namoro com a política. A medicina lhe proporcionava satisfação, prestígio e dinheiro.

Formara já um razoável patrimônio: tinha comprado uma boa casa, em estilo moderno – a primeira com piscina em Belo Horizonte.

Na Força Pública, promovido a tenente-coronel médico, fora nomeado chefe do Serviço de Cirurgia do Hospital Militar.

Estavam as coisas nesse pé quando, em fevereiro de 1940, Benedito Valadares o chama ao palácio com um convite: a prefeitura de Belo Horizonte.

JK recusa, não quer afastar-se outra vez da profissão. Mas a 16 de abril a nomeação é publicada no Minas Gerais, o diário oficial do estado. Tomou posse dois dias depois.

Virou prefeito sem deixar de ser médico: operava todas as manhãs no Hospital Militar e ainda chefiava o Serviço de Urologia da Santa Casa.

A última vez que empunhou um bisturi foi no Hospital São Lucas, de Belo Horizonte, quando operou de apendicite aguda o escritor Eduardo Frieiro.

JK disse então à mulher do autor de O cabo das tormentas: “Hoje vou dar duas altas, d. Noêmia. Uma ao Frieiro, que já está bom e pode retornar a suas atividades. E outra, a mim mesmo, pois encerro, com o caso de seu marido, minha atividade profissional”.

Despediu-se e saiu. “A opção, sobre a qual eu havia hesitado durante tanto tempo, acabara de ser feita. Já não era médico. Mas político.”

O “prefeito furacão”

No entusiasmo de seus 37 anos, Juscelino mudou a cara de Belo Horizonte, a tal ponto que o povo começou a chamá-lo de “prefeito furacão”.

“Irei administrar na rua, e não fechado num gabinete”, anunciara. Rodava a cidade de um lado para outro, levado por Geraldo Ribeiro – o motorista que o acompanharia na prefeitura, no governo do estado, na presidência da República, nas desventuras de cassado – e no acidente em que ambos morreram, a 22 de agosto de 1976.

O prefeito criou bairros inteiros, como o Sion e a Cidade Jardim, asfaltou vias importantes como a avenida Afonso Pena, que atravessa a cidade, e concluiu a avenida do Contorno.

Criou a Escola de Arquitetura e o Museu Histórico da cidade. Foi buscar no Rio o pintor Alberto da Veiga Guignard, que formaria mais de uma geração de artistas mineiros. Vinte e dois anos depois da Semana de Arte Moderna de São Paulo, JK promoveu em 1944 uma “semaninha”, como ficou conhecida, decisiva para a renovação das artes em Minas Gerais.

A grande marca da sua passagem pela prefeitura, no entanto, ficaria sendo o conjunto arquitetônico da Pampulha – o Cassino (hoje Museu de Arte), a Casa do Baile, o Iate Clube e a igrejinha de São Francisco –, em que se somaram os talentos do jovem arquiteto Oscar Niemeyer, do paisagista Burle Marx, do pintor Portinari e do escultor Alfredo Ceschiatti.

Vinte anos antes, foi uma prefiguração das ousadias de Brasília. “Eu comecei a minha arquitetura com a Pampulha”, escreverá Oscar Niemeyer. “Brasília foi um seguimento natural.”

Governador de Minas

O fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, abalou as tiranias ao redor do mundo – entre elas, o Estado Novo imposto por Getúlio Vargas em 1937. Pressionado, em fevereiro daquele ano o ditador marcou eleições gerais. Manobrando com astúcia, incentivou a criação do Partido Social Democrático (PSD) e a candidatura de seu ministro da Guerra, o general Eurico Gaspar Dutra, à presidência da República.

Vargas acabaria deposto, em outubro de 1945, mas conservou influência suficiente para, em dezembro, eleger Dutra, com larga vantagem sobre o brigadeiro Eduardo Gomes, e para conquistar uma cadeira de senador.

Nas eleições para a Assembléia Nacional Constituinte, realizadas no mesmo dia, o PSD fez a maioria dos senadores e dos deputados federais – entre estes, Juscelino Kubitschek, que com o fim do Estado Novo deixara a prefeitura de Belo Horizonte.

Foi o segundo deputado mais votado em Minas e chegou a ter seu nome cogitado para disputar o governo estadual nas eleições de janeiro de 1947. Já estava, porém, comprometido com a candidatura de José Francisco Bias Fortes e não aceitou. Bias seria derrotado por Milton Campos, da União Democrática Nacional (UDN).

Na eleição seguinte, em 1950, JK brigou com Bias pela indicação na convenção do PSD mineiro e saiu vitorioso, por treze votos a dez. A 3 de outubro, enquanto Vargas era eleito presidente, batendo Eduardo Gomes, JK vencia seu concunhado Gabriel Passos, candidato da UDN, e, com 56,5% dos votos, se tornava governador de Minas Gerais.

Binômio energia e transporte

JK chegou ao governo de Minas com um programa que se chamava “binômio energia e transporte”.

O principal objetivo – promover a industrialização de um estado até então condenado à agricultura e à pecuária – seria alcançado com a criação de empresas energéticas regionais e ao entrosamento delas numa holding, as Centrais Elétricas de Minas Gerais (Cemig).

A eletrificação do estado, graças à construção das usinas de Salto Grande, Itutinga, Paredão e Pandeiros, entre outras, e a ampliação da usina de Pai Joaquim, permitiu a instalação, em Contagem, nas imediações de Belo Horizonte, de uma usina siderúrgica do grupo alemão Mannesmann.

No outro item do binômio, os transportes, o governo JK construiu dezesseis estradas-tronco – mais de 3 mil quilômetros –, permitindo integrar as regiões de Minas e facilitando o acesso a outros estados.

Cuidou-se também dos transportes aéreos – não fosse JK um apaixonado pela aviação: ao termo de seu mandato, havia em Minas 75 campos de pouso capazes de receber aviões de porte médio.

O setor da agricultura ganhou uma empresa, a Fertilizantes de Minas Gerais (Fertisa), para produzir adubos com a apatita de Araxá e o potássio de Poços de Caldas. A pecuária viu surgir a Companhia de Frigoríficos de Minas Gerais (Frimisa). Foram construídos 120 postos de saúde, 137 escolas e 251 pontes, ao mesmo tempo em que se criavam conservatórios de música e faculdades de medicina, direito, farmácia, odontologia e belas-artes.

Visíveis para além das fronteiras de Minas, as realizações de seu governo permitiram a JK sonhar com vôo mais alto, que o faria pousar no Catete, sede da presidência da República – o “Palácio das Águias”, como era então conhecido.

Um Furacão na Presidência (1955-1961)

Turbulências pela frente

O último ano de JK no governo de Minas foi dos mais acidentados, e não apenas para ele. Em abril de 1954, rompeu-se em Belo Horizonte a barragem da Pampulha, que só em 1958 seria reinaugurada. No Rio, na noite de 5 de agosto, pistoleiros mataram o major da Aeronáutica Rubens Florentino Vaz na rua Tonelero, em Copacabana.

Os tiros visavam o jornalista Carlos Lacerda, que, nas páginas de sua Tribuna da Imprensa, fazia violenta campanha contra o presidente Getúlio Vargas. Ferido no pé, Lacerda intensificou seus ataques, ao mesmo tempo em que as investigações policiais revelavam o envolvimento de membros da guarda pessoal do presidente no atentado.

Getúlio viu-se no centro do que a oposição chamou de “mar de lama”. Acuado pelos adversários, com seu poder cada vez mais enfraquecido, ainda assim Vargas fez questão de cumprir sua agenda e viajou a Belo Horizonte no dia 12, para a inauguração da usina da Mannesmann em Contagem. Foi o último ato público do velho presidente, e também seu último encontro com JK, que o hospedou no Palácio das Mangabeiras.

Doze dias mais tarde, na manhã de 24 de agosto, depois de anunciar que só morto sairia do Catete, Getúlio Vargas suicidou-se com um tiro no peito, deixando uma contundente carta-testamento.

A candidatura à presidência, que Juscelino vinha engatilhando, entrou em fase de dramática turbulência e por pouco não naufragou.

Sem medo

Morto Getúlio Vargas, assumiu a presidência o vice, João Café Filho, político do Rio Grande do Norte filiado ao Partido Social Progressista (PSP).

Mês e meio mais tarde, em outubro de 1954, quando Juscelino, ainda governador de Minas, deixou clara a sua intenção de disputar a sucessão em 1955, Café chamou-o ao Catete. Tentou convencê-lo a aceitar a idéia do governador pernambucano Etelvino Lins – pessedista eleito com o apoio da União Democrática Nacional (UDN) – de se buscar uma candidatura única.

JK, que não gostava de Café Filho – destinatário de uma deliciosa farpa sua -, não gostou também da idéia, e trabalhou para que o Partido Social Democrático (PSD) tivesse candidato próprio.

Mais difícil foi obter apoio do partido para o seu nome, contra o qual votaram as bancadas de Santa Catarina, do Rio Grande do Sul e de Pernambuco.

Enfrentou resistências, também, da parte de seu antigo padrinho político, Benedito Valadares, temeroso de que o crescimento de JK lhe roubasse influência em Minas. Ainda assim, a indicação foi aprovada.

No final do ano, militares de alta patente levaram a Café Filho um documento em defesa da candidatura única. O presidente – que tomou a iniciativa de ler o texto no programa A voz do Brasil – ainda procurou demover JK, com o argumento de que as Forças Armadas não aprovavam a sua pretensão. O governador mineiro não se deixou intimidar. “Deus poupou-me o sentimento do medo”, declarou.

Comentário de Benedito: “Esse telegrafista ainda vai nos levar para o buraco”.

A outro interlocutor: “O Juscelino quer bancar o Tiradentes com o pescoço dos outros”.

A disputa de 1955

Indicado pela maioria dos diretórios do PSD, JK teve a sua candidatura homologada em convenção do partido a 10 de fevereiro de 1955.

Em 31 de março, deixou o governo de Minas e se lançou numa campanha que se desenrolou debaixo de implacável e permanente artilharia dos adversários, empenhados em apresentá-lo à opinião pública – e aos quartéis, sobretudo – como um político comprometido com Getúlio Vargas.

A tensão só aumentou quando, em abril, o PSD acolheu João Goulart – ex-ministro e afilhado político do falecido presidente –, do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), como vice na chapa de Juscelino.

Em maio, deputados da UDN tentaram impugnar a candidatura de JK, acusando-o de corrupção e exigindo que entregasse à Câmara uma relação de seus bens. Armou-se uma comissão parlamentar de inquérito, que, por ser inconstitucional, não foi adiante.

No fim do primeiro semestre o eleitor já conhecia os nomes que a 3 de outubro disputariam a presidência, e as forças que o apoiavam: Juscelino Kubitschek: Partido Social Democrático (PSD), Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Partido Republicano (PR), Partido Trabalhista Nacional (PTN), Partido Social Trabalhista (PST) e Partido Republicano Trabalhista (PRT); Juarez Távora: União Democrática Nacional (UDN), Partido Democrata Cristão (PDC), Partido Socialista Brasileiro (PSB), Partido Libertador (PL) e dissidentes do PSD; Ademar de Barros: Partido Social Progressista (PSP) e dissidentes do PTB; Plínio Salgado: Partido de Representação Popular (PRP).

A candidatura em risco

Os meses que precederam as eleições de 1955 foram de constante crise.

Em agosto, no primeiro aniversário do atentado da rua Tonelero, o general Canrobert Pereira da Costa fez um discurso pondo em dúvida a legalidade e o caráter democrático do regime.

Dias depois, um manifesto do Partido Comunista Brasileiro (PCB) causou irritação nas Forças Armadas ao anunciar apoio à chapa JK-João Goulart.

Também em agosto, alegando risco de fraude eleitoral, a UDN propôs a adoção de uma cédula única com os nomes dos quatro candidatos, a ser distribuída pelo Estado. Até então, cada partido fazia e distribuía as cédulas com o nome de seu candidato. Para garantir que a cédula única chegasse a todos os cantos do país – já que o poder central lhe era hostil –, o PSD conseguiu que também os partidos pudessem distribuí-la.

Ao mesmo tempo, o deputado udenista Carlos Lacerda propôs um pacote de medidas que incluiriam a adoção do parlamentarismo, o adiamento das eleições, a dissolução do Congresso Nacional e a convocação de uma assembléia destinada a votar uma nova Constituição que os ministros elaborariam.

Em setembro, o mesmo Lacerda divulgou um documento – forjado –, a chamada carta Brandi, em que um deputado argentino mencionava acordo entre João Goulart e o presidente Juan Domingo Perón para a implantação de uma república sindicalista no Brasil.

Num último lance para evitar a vitória de JK, a UDN tentou mudar a Constituição para que nenhum candidato fosse declarado eleito se não obtivesse a maioria absoluta dos votos (50% mais um). Não conseguiu.

A vitória nas urnas

Abertas as urnas de 3 de outubro de 1955, soube-se que o vencedor era Juscelino Kubitschek, com 3 077 411 votos: 36% dos sufrágios válidos. Juarez Távora obteve 2 610 462 (30%), Ademar de Barros, 2 222 725 (26%) e Plínio Salgado, 714 379 (8%).

Inconformados, a UDN e setores das Forças Armadas, entre eles uma Cruzada Brasileira Anticomunista, a todo custo tentaram anular a eleição. Apesar da falta de respaldo na Constituição, retomaram a tese da falta de maioria absoluta. Sem provas, denunciaram a ocorrência de fraude, sobretudo em Minas Gerais. Por fim, sustentaram a ilegalidade dos votos comunistas que teriam sido dados a JK e ao vice João Goulart – como se fosse possível distinguir, na massa dos sufrágios, os que provinham dessa ou daquela corrente.

Sem argumentos, os adversários de JK partiram então para a pregação pura e simples de um golpe militar. Por pouco não conseguiram.

O 11 de novembro

O apelo mais direto ao golpe partiu do coronel Jurandir de Bizarria Mamede. Discursando no enterro do general Canrobert Pereira da Costa, dia 1º de novembro de 1955, o militar baiano conclamou as Forças Armadas a impedir a posse de JK e João Goulart.

O ministro da Guerra, general Henrique Teixeira Lott, quis punir Mamede, mas o coronel, por pertencer aos quadros da Escola Superior de Guerra, estava subordinado à presidência da República – só poderia ser enquadrado se esta o revertesse ao Ministério da Guerra.

O presidente, Café Filho, adoeceu dois dias depois, sem ter tomado essa medida, requerida por Lott. Foi substituído pelo presidente da Câmara, Carlos Luz – deputado do PSD mineiro bem próximo dos udenistas.

Como também Luz resistisse à idéia de punir Mamede, Lott demitiu-se no dia 10. Na madrugada de 11, porém, antes que o seu sucessor fosse empossado, pôs os tanques nas ruas do Rio, desfechando um “contragolpe preventivo”, ou “golpe da legalidade”, para a garantir a posse dos eleitos.

No mesmo dia, o Congresso aprovou o impedimento de Carlos Luz, que, em companhia de líderes golpistas, entre eles Carlos Lacerda, embarcou no cruzador Tamandaré, com a intenção de transferir a sede do governo para Santos.

Café Filho, cuja simpatia pela causa golpista era evidente, foi impedido de reassumir o posto, ocupado agora pelo vice-presidente do Senado, Nereu Ramos. Este solicitou e obteve do Congresso a aprovação do estado de sítio – e o país, em relativa tranquilidade, caminhou para a posse de JK e João Goulart.

Dia do Falecimento de Juscelino Kubitschek
Roupa da Posse de Juscelino Kubitschek

Mas a novela do 11 de novembro não se fecharia sem o tempero brasileiro do humor, por conta do impagável Barão de Itararé, pseudônimo do jornalista e humorista gaúcho Aparício Torelly (1895-1971), que deu a sua versão sobre o contragolpe desfechado pelo general Lott: “No Palácio do Catete, em 11 de novembro de 1955, faltava Café e Luz, mas tinha pão de Lott”.

O levante de Jacareacanga

Restabelecida a ordem, graças ao contragolpe de 11 de novembro, JK viajou pela Europa e Estados Unidos antes de tomar posse na presidência da República, a 31 de janeiro de 1956, com 53 anos de idade. Imediatamente, pediu e obteve que o Congresso suspendesse o estado de sítio implantado em novembro. Pôs fim também à censura à imprensa. E deu partida a seu ambicioso programa de governo, conhecido como Plano de Metas.

Mal esquentara a cadeira presidencial quando, a 11 de fevereiro de 1956, dois oficiais da Aeronáutica, o major Haroldo Veloso e o capitão José Chaves Lameirão, se apossaram de um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) e voaram para a base de Jacareacanga, no Pará. Lá se juntou aos revoltosos o major Paulo Vítor da Silva – ao mesmo tempo em que, por todo o país, oficiais da Aeronáutica se recusaram a cumprir ordens do ministro, o major-brigadeiro Vasco Alves Seco.

A rebelião foi debelada em pouco mais de duas semanas, com a prisão de Haroldo Veloso e a fuga de Lameirão e Paulo Vítor para a Bolívia.

Em lugar de punir os revoltosos, JK os desarmou, concedendo-lhes anistia.

Três anos depois, em 1959, já tenente-coronel-aviador, Veloso participará de outro levante, em Aragarças. Foi de novo anistiado. Com o golpe de 1964, chegou ao topo da carreira, como brigadeiro.

No final dos anos 1960, perseguido pela ditadura militar, JK teve a surpresa de receber a visita de Haroldo Veloso, no Rio. “Presidente”, disse o brigadeiro, “vim aqui para me penitenciar do meu erro”.

A compra do porta-aviões

No final de seu primeiro ano de mandato, ainda sob forte oposição de setores das Forças Armadas, Juscelino achou prudente atender a uma reivindicação da Marinha e da Aeronáutica – e autorizou a compra do porta-aviões inglês Vengeance, que no Brasil foi rebatizado Minas Gerais.

Custou 82 milhões de cruzeiros. “Se o preço da submissão da Marinha à Constituição é o porta-aviões”, ponderou JK, “acho que vale a pena”.

Logo se deu conta de que as coisas não correriam exatamente conforme planejara.

Para começar, o compositor e cantor Juca Chaves glosou o acontecimento nos versos de uma marchinha:

“Brasil já vai à guerra
comprou porta-aviões
Um viva pra Inglaterra
de 82 milhões
– ah, mas que ladrões!”

E foi o de menos, a irreverência do menestrel. Longe de aplacar os ânimos dos militares, o Minas Gerais veio abrir uma crise entre a Aeronáutica e a Marinha, que disputavam o direito de controlar os aviões embarcados. A pendenga se arrastaria até 1964, quando o governo Castelo Branco deu ganho de causa à Aeronáutica.

A revolta dos estudantes

Pouco tempo depois do levante de Jacareacanga, em fevereiro de 1956, foi a vez dos estudantes: em maio, nas ruas do Rio de Janeiro, eles armaram manifestações contra um aumento no preço das passagens de bonde. Incontroláveis, os protestos se alastraram, criando uma situação inquietante. Já não era um problema estudantil, mas de ordem pública.

Houve pancadaria em frente ao prédio da União Nacional dos Estudantes (UNE), na praia do Flamengo, que fora cercado pelo Exército, e até um parlamentar levou bordoada. A história rendeu furiosos discursos na Câmara dos Deputados e ameaçava inchar perigosamente.

JK teve então a idéia de convidar as lideranças estudantis para uma conversa no Palácio do Catete. Recebeu-os com um sorriso e, num lance de grande esperteza, fez questão de que o presidente da UNE, Carlos Veloso de Oliveira, se sentasse na cadeira reservada ao chefe da nação – para que o rapaz, pondo-se no seu lugar, pudesse avaliar as graves responsabilidades da hora. “Carlos, me ajude a salvar o regime”, pediu Juscelino.

A rebelião terminou ali, em clima de grande cordialidade.

Como no episódio da anistia aos revoltosos de Jacareacanga, JK agira movido pelo que se chamou de “instinto kubitschekiano” – que não costumava falhar.

O dia-a-dia do presidente

O presidente JK era madrugador. Às seis horas, no Palácio das Laranjeiras, já estava no banho, providenciado pelo camareiro Geraldo Batista. Ali mesmo, na banheira, começava trabalhar, despachando com assessores mais chegados – o coronel Affonso Heliodoro, por exemplo, subchefe do gabinete civil. Ou o escritor Autran Dourado, secretário de Imprensa. “A minha intimidade com JK ia a tal ponto que chegava mesmo ao ridículo de eu despachar com ele no banheiro, o que não me agradava muito”, conta Autran no livro Gaiola aberta. “Me incomodava sobretudo ele ficar se ensaboando na banheira.”

Encontrava preparadas as roupas que ia vestir. As calças só com suspensório, pois não usava cinto. Os sapatos sem cadarço. As meias pelo avesso, para facilitar o trabalho de calçá-las. O lenço perfumado no bolsinho do paletó.

No café da manhã, rodeado de auxiliares, seguia trabalhando, enquanto dava conta de um bife bem fino, pão com manteiga, queijo-de-minas, café e fruta.

Se almoçava no Palácio do Catete, d. Sarah mandava comidinha mineira das Laranjeiras.

Depois, quando podia, JK punha pijama e tirava uma sesta, seguida de chuveiro. O jantar nunca era servido antes das nove da noite. De raro em raro, uma roda íntima de papo e música, com o pianista Bené Nunes, o violonista Dilermando Reis e a voz do amigo César Prates, fechava a noite.

Férias? Não teve disso nos dez anos de governador e de presidente da República, atesta o coronel Affonso Heliodoro.

O homem JK

Informal, mas nunca vulgar, Juscelino Kubitschek tinha hábitos simples – um dos quais, tirar os sapatos, fazia a delícia dos fotógrafos. Teria, quando jovem, machucado um dedo, e sempre que podia liberava os pés – os pés que lhe valeram fama de exímio dançarino. Mesmo que fosse em presença de uma beldade como a atriz americana Kim Novak, em cuja companhia foi fotografado – ambos descalços, numa cena que inspirou bela página do escritor Nelson Rodrigues.

Filho de Diamantina, adorava serenata, em especial quando se cantava o “Peixe vivo”, canção folclórica que acabou se convertendo numa espécie de hino com que Juscelino era saudado em toda parte. Em 1968, por iniciativa do amigo e antigo assessor Serafim Jardim, gravou texto de apresentação para um disco – JK em serenata – de seresteiros diamantinenses. Gostava do “Apesar de você” de Chico Buarque. E de “Fascinação”, que pediu para Nat King Cole tocar e cantar para ele no Palácio do Catete, certo dia de 1959.

Flexível, não se acanhava de mudar de idéia quando necessário: “Não tenho compromisso com o erro”, insistia.

E, se alguma coisa não dava certo – sua tentativa de entrar para a Academia Brasileira de Letras, por exemplo –, não se deixava abater: “Vamos virar essa página”, dizia. Virou muitas.

A Operação Pan-Americana

Concebida pelo escritor Augusto Frederico Schmidt, seu conselheiro, a Operação Pan-Americana (OPA) foi a grande tacada da política externa do presidente JK.

A ideia nasceu quando o vice-presidente americano Richard Nixon, em visita a países da América Latina, em 1958, foi recebido em toda parte com ruidosos protestos contra a política de seu país para o continente.

Instigado por Schmidt, Juscelino escreveu uma carta ao presidente dos Estados Unidos, Dwight Eisenhower, na qual, depois de lamentar aqueles incidentes, propôs que se buscasse um novo relacionamento entre os países das Américas, sob a forma de um programa multilateral de desenvolvimento econômico que constituiria, também, uma estratégia de defesa do continente.

Eisenhower foi receptivo e conversações se puseram em marcha. A Operação Pan-Americana empacou, no entanto, pois a opção da Revolução Cubana pelo socialismo, no início dos anos 1960, veio transformar o combate ao comunismo na política prioritária dos Estados Unidos para a América Latina.

Já no governo John Fitzgerald Kennedy, numa iniciativa unilateral, Washington pôs de pé a sua própria operação pan-americana, que se chamou Aliança para o Progresso. Com seu caráter basicamente assistencialista, não teria vida longa.

Sem ter ido adiante, a OPA de Juscelino Kubitschek deixou pelo menos um fruto: o atuante Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), criado em dezembro de 1959.

A política externa do governo Kubitschek foi marcada, ainda, por um ruidoso rompimento com o FMI, o Fundo Monetário Internacional, e por negociações nem sempre tranquilas com John Foster Dulles, inflexível secretário de Estado do governo americano.

As eleições de 1960

A sucessão de Juscelino Kubitschek já estava aberta em 1959, mais de um ano antes do término de seu mandato.

A primeira candidatura a se firmar foi a de Jânio Quadros, com o apoio da UDN. Fiel a seu estilo, a certa altura o ex-governador paulista renunciou à disputa – provocando, com isso, o levante militar de Aragarças –, para voltar atrás dias depois. Desafeto de Jânio, o prefeito de São Paulo, Ademar de Barros, lançou-se outra vez por seu PSP.

Entre os governistas, custou a sair um nome. Matreiramente, JK chegou a cogitar a candidatura de um udenista, o cearense Juraci Magalhães, então governador da Bahia. Seria uma forma de criar uma alternância, quebrando o domínio do PSD e do PTB, que se estendia desde a eleição de Getúlio Vargas, em 1950. Para JK, ficaria mais fácil voltar como oposição em 1965. A candidatura Juraci seria uma forma, também, de garantir a ele um pós-governo razoavelmente a salvo das perseguições da UDN, já que o ocupante do Palácio do Planalto seria um udenista. A idéia não prosperou.

Aos poucos, consolidou-se a candidatura do ministro da Guerra, marechal Henrique Lott. O PSD aprovou sem problemas a indicação do homem que garantira a posse de Juscelino, mas no PTB houve resistências, pois Leonel Brizola forçava a escolha de um nome “popular e nacionalista” para encabeçar a chapa do governo, na qual o vice seria, outra vez, João Goulart. O próprio Goulart impôs o general Lott – cujo símbolo de campanha seria uma espada, contra a vassoura com que Jânio prometia “varrer a bandalheira”.

A 3 de outubro de 1960, Jânio Quadros saiu vitorioso com 5 636 623 votos (48% dos votos válidos), contra 3 846 825 (32%) dados ao marechal Lott e 2 195 709 (20%) a Ademar de Barros.

Preparado para bater em Jânio

A posse de Jânio Quadros na presidência, no dia 31 de janeiro de 1961, poderia ter se transformado num escândalo sem precedentes na história da República.

Quem conta é o escritor Carlos Heitor Cony, no livro JK – Memorial do exílio:

“Somando informações de outros setores, JK ficou sabendo que o seu sucessor, realmente, aproveitaria a própria cerimônia de posse para, diante das autoridades, do povo, da televisão, insultá-lo pessoalmente, dedo em riste – gesto que se devia menos à agressividade de Jânio e mais à sua retórica provinciana.

“Tomara então uma decisão, a única que lhe deu tranquilidade para reagir à provocação que as paixões políticas pretendiam colocar à sua frente, desafiando-o em seu último dia de poder.

“Se, durante a cerimônia, Jânio lesse tal discurso, com acusações e infâmias que nem mesmo durante a campanha eleitoral tivera a coragem de formular, JK partiria para a solução que lhe restava: a reação física, de homem para homem, o escândalo. Sua decisão, acrescida e beneficiada pelas versões de cada um dos que dela tomaram conhecimento, chegou ao quartel-general de Jânio.

“Em seu livro de memórias, o próprio JK diz que pediu aos encarregados do cerimonial que colocassem os dois mandatários – o que saía e o que entrava – bem afastados das demais autoridades. Uma boa briga exige espaço. Jânio não leu o discurso.”

Um balanço do governo JK

Durante os cinco anos do governo Kubitschek, o produto interno bruto (PIB) cresceu à média anual de 7%, contra os 5,2% do período de 1945 a 1955.

O PIB industrial foi ainda mais expressivo: 10,7% ao ano, em média. A produção industrial cresceu 80%, a siderurgia, 100%, a indústria mecânica, 125%, a elétrica e de comunicações, 300%, e o setor de transportes em espetaculares 600%. A inflação média anual, de 24,7%, seria desprezível diante dos patamares que alcançaria no futuro.

O governo JK construiu 20 mil quilômetros de estradas e pavimentou 5 600 quilômetros de rodovias já existentes, literalmente abrindo caminhos para a nascente indústria automobilística nacional. Implantou a indústria da construção naval e elevou a produção de petróleo de 6 800 para 100 mil barris diários. Construiu a refinaria Duque de Caxias – e as hidrelétricas de Três Marias e Furnas, aumentando a potência total instalada de 3 milhões de kW, em 1954, para 4,7 milhões no final do quinquênio. Criou ainda a Sudene, para promover o desenvolvimento do Nordeste, e a Comissão Nacional de Energia Nuclear.

O esplendor dos anos JK

Aqueles foram tempos luminosos para a cultura e o esporte no Brasil.

Grande momento cultural

Vistos à distância, os anos JK aparecem como um dos períodos mais ricos da produção cultural brasileira, num quadro de fundas mudanças de comportamento.

Foram os anos da consolidação do Cinema Novo, surgido pouco antes e que consagraria diretores como Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos e Joaquim Pedro de Andrade.

No teatro, aquele foi o tempo em que deslancharam os grupos Arena e Oficina, ao impulso de criadores como Augusto Boal, Gianfrancesco Guarnieri e José Celso Martinez Corrêa.

No terreno da literatura, o quinquênio de Juscelino Kubitschek viu chegarem às livrarias obras imediatamente clássicas como Grande sertão: veredas e Corpo de baile, de Guimarães Rosa, Laços de família, de Clarice Lispector, O encontro marcado, de Fernando Sabino, Duas águas, de João Cabral de Melo Neto e Crônica da casa assassinada, de Lúcio Cardoso.

O panorama literário enriqueceu-se, ainda, com o surgimento do concretismo e do neoconcretismo, movimentos animados, entre outros, pelos poetas Augusto e Haroldo de Campos, Décio Pignatari, Ferreira Gullar, José Lino Grünewald e Reinaldo Jardim, e divulgados nas páginas do influente Suplemento Dominical do Jornal do Brasil.

Os estudos brasileiros foram alimentados com o lançamento de ensaios seminais como Formação da literatura brasileira, de Antonio Candido, Visão do paraíso, de Sérgio Buarque de Holanda – também organizador da História geral da civilização brasileira –, Formação econômica do Brasil, de Celso Furtado, Os donos do poder, de Raymundo Faoro, e Ordem e progresso, de Gilberto Freyre.

O panorama das artes

O momento esplêndido que a arquitetura atravessava, sobretudo com a construção de Brasília, tinha uma contrapartida não menos fecunda no campo do design, em especial com os móveis concebidos por Sergio Rodrigues, o criador da internacionalmente conhecida e premiada Poltrona Mole.

No campo das artes plásticas, um passo importante foi a eclosão do movimento neoconcreto, tentativa de encontrar uma expressão nacional para o projeto construtivista internacional, a partir de um manifesto assinado, em março de 1959, por Amilcar de Castro, Ferreira Gullar, Franz Weissmann, Lygia Clark, Lígia Pape e Reinaldo Jardim. O período foi marcado, ainda, por um adensamento da produção artística brasileira. É desse tempo, talvez, a melhor fase da pintura de Guignard. Artistas como Iberê Camargo, Sérgio Camargo, Alfredo Volpi e Mira Schendel entraram na posse de sua maturidade.

Os ventos modernizantes daqueles anos alcançaram também a imprensa, sobretudo com a reformulação gráfica do Jornal do Brasil, que influenciaria várias outras publicações, e o lançamento da revista Senhor, excepcional tanto pelo conteúdo como pelo design gráfico.

A revolução da bossa nova

Um grande poeta, Vinicius de Moraes, desgarrou-se da poesia escrita para encorpar, como letrista, a revolução musical que foi a bossa nova, surgida em 1958 – ano de lançamento do histórico Canção do amor demais, de Elizeth Cardoso, que em duas faixas, “Chega de saudade” e “Outra vez”, registrou a inovadora batida do violão de um desconhecido João Gilberto.

A música brasileira perdeu Villa-Lobos. Mas ganhou Tom Jobim. Longe de esgotar-se em si mesmo, o esplendor criativo dos anos JK formou uma garotada cujos talentos iriam florescer mais adiante, em meados da década de 1960. Para lembrar apenas a música, cresceu ali a geração ainda hoje inigualável de Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Edu Lobo e tantos outros.

Brilho brasileiro no esporte

Também no esporte foi inesquecível o quinquênio 1956-1961, pontilhado por títulos inéditos e grandes feitos de atletas brasileiros.

Em 1956, nos jogos de Melbourne, na Austrália, Ademar Ferreira da Silva sagrou-se bicampeão olímpico, reprisando o feito de 1952, em Helsinque, na Finlândia, e batendo novamente o recorde mundial de salto triplo.

Em 1958, a seleção brasileira de futebol conquistou na Suécia a sua primeira Copa do Mundo, a taça Jules Rimet (mais tarde furtada e derretida por ladrões de ouro, no Rio de Janeiro), numa sucessão de vitórias em que brilhou um garoto de dezessete anos, Pelé.

No mesmo ano, a tenista Maria Esther Bueno ganhou seu primeiro título no torneio de Wimbledon, na Inglaterra, em dupla com a americana Althea Gibson. Ela seria bicampeã em 1960, quando se tornou também a primeira mulher a vencer os torneios de duplas do Grand Slam (Australian Open, Wimbledon, Roland Garros e US Open).

Em 1959, a seleção brasileira de basquete trouxe de Santiago, no Chile, seu primeiro título mundial.

Também no boxe o Brasil ganhou seu primeiro título mundial, quando, em 1960, o peso-galo Éder Jofre derrotou o mexicano Eloy Sánchez.

Brasília, Um delírio Possível (1955-1960)

Rumo ao planalto

Menos de três meses depois de tomar posse na presidência, JK deu o primeiro passo para construir uma nova capital no centro do país – cumprindo, assim, promessa que fizera, no início da campanha, durante um comício na cidade goiana de Jataí.

Cumpria também um dispositivo incluído em sucessivas Constituições – a idéia de transferir a capital federal vinha de muito longe, do tempo do Império, sem que os governantes fizessem muito para tirá-la do papel. Disposto a fazer dela a “meta-síntese” do ambicioso Plano de Metas com que chegou à presidência, a 18 de abril de 1956 Juscelino enviou projeto de lei ao Congresso Nacional.

Depois de vencer resistências de parlamentares da oposição, o projeto se transformou em lei, sancionada a 19 de setembro, que fixava os limites do novo Distrito Federal e autorizava a criação da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap). Para presidi-la, JK escolheu um velho amigo, o engenheiro Israel Pinheiro, deputado federal pelo Partido Social Democrático (PSD) de Minas Gerais.

Outra lei, de 1º de outubro, fixou a data para a mudança da capital: 21 de abril de 1960. Significava que tudo teria que ser feito no curto espaço de três anos e sete meses.

Mesmo entre os governistas, poucos acreditavam que isso aconteceria. E a oposição apostava que o presidente, ao se meter naquela missão impossível, acabaria desmoralizado.

A primeira visita ao planalto

Dia do Falecimento de Juscelino Kubitschek
Foto Oficial do Presidente JK

Marcada para 21 de abril de 1960 a mudança da capital, a 2 de outubro de 1956 o presidente JK embarcou com pequena comitiva num DC-3 da Força Aérea Brasileira e foi conhecer o lugar onde Brasília seria edificada.

O avião desceu numa precaríssima pista de 2 mil metros, rasgada dias antes pelo vice-governador de Goiás, o engenheiro agrônomo carioca Bernardo Sayão – responsável, entre outras obras, pela abertura da rodovia Belém-Brasília, em cuja construção morrerá, em janeiro de 1959.

Por ocasião dessa primeira visita, JK deixou no Livro de Ouro da futura capital uma frase que se tornou célebre e está gravada no mármore do Museu da Cidade, na praça dos Três Poderes:

“Deste planalto Central, desta solidão que em breve se transformará em cérebro das altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada com fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino.”

Nasce uma cidade

Sob o comando de Israel Pinheiro, o presidente da Novacap, a 3 de novembro de 1956 tratores já levantavam poeira nos trabalhos de terraplenagem em Brasília. Uma semana depois, estava pronto um “palácio” de madeira, o Catetinho. A pista de pouso provisória aberta por Bernardo Sayão para a primeira visita de JK, um mês antes, foi espichada para 3 mil metros e no começo de 1957 estava pavimentada.

O presidente, que tinha paixão por aviões, haveria de usá-la, nas frequentes viagens que fazia do Rio de Janeiro – a “Belacap”, dizia-se então, ou “Velhacap” –, a bordo de valentes DC-3 (trocados, mais adiante, por um turboélice Viscount), em vôos que duravam quase cinco horas. Saía no começo da noite, inspecionava obras no início da madrugada, pegava o avião de volta e, acomodado num leito improvisado, ia amanhecer no Rio. Em cinco anos de governo, faria 365 viagens a Brasília.

Estradas eram abertas para ligar a lonjura do planalto aos grandes centros do país, pondo por terra a lenda, alimentada pelos críticos da mudança, de que a construção de Brasília dependia do dispendioso transporte aéreo.

Em março de 1957, no Rio, uma comissão julgadora formada por urbanistas brasileiros e estrangeiros escolhia o melhor projeto para a nova capital, com previsão de 600 mil habitantes – o de número 22, assinado por Lúcio Costa.

No Plano Piloto por ele concebido, de genial simplicidade, tudo se organizava em torno de dois eixos dispostos em cruz. Brasília, dirá o autor, “nasceu do gesto primário de quem assinala um lugar ou dele toma posse: dois eixos cruzando-se em ângulo reto, ou seja, o próprio sinal-da-cruz”.

Do alto, JK vê as obras

Com a mudança da capital marcada para 21 de abril de 1960, tudo teria que ser feito em regime de urgência. O planalto Central transformou-se num fervedouro de candangos, como eram chamados os operários, em sua maioria vindos do Nordeste em busca de trabalho. (Junto com o nome do presidente, o apelido desses trabalhadores foi tomado para batizar uma espécie até então desconhecida de roedor, encontrada no cerrado goiano, nessa época, pelo biólogo João Moojen de Oliveira.)

Instalados em cidades-satélites que brotaram à margem do plano-piloto, em abril de 1957 eles eram 10 mil.

Três anos depois, 60 mil. JK recordará aquele poeirento formigueiro:

“Sobrevoando o planalto é que se tinha uma visão de conjunto dos trabalhos. Caminhões iam e vinham, levando ou trazendo material de construção. Bulldozers, às dezenas, revolviam a terra, abrindo clareiras no cerrado. […] Aqui e ali, já se viam as torres metálicas das estações de telecomunicações, através das quais centenas de mensagens eram enviadas, pedindo cimento, cobrando remessas de material elétrico, exigindo jipes, caixas-d’água, tambores de gasolina, gêneros enlatados, peças de veículos. Era um mundo que despertava no cerrado, ressonante de sons metálicos e estuante de energia humana. […] O próprio chão estremecia, rasgado pelas estacas Franki. Os edifícios iam surgindo da terra, perfurada em todas as direções. Cada obra ostentava uma tabuleta com os dizeres: ‘Iniciada no dia tal. Será concluída no dia tal’.”

Os críticos de Brasília

No bem-bom do litoral, adversários de JK duvidavam de que ele concluísse a tempo a construção da cidade. Os prazos, porém, foram pontualmente observados. Em apenas um ano se fez o Palácio da Alvorada, inaugurado em junho de 1958. Do mesmo ano são o Palácio do Planalto, as duas cuias e os prédios gêmeos do Congresso Nacional, a praça dos Três Poderes e edifícios dos ministérios.

Um dos detratores de Brasília, o escritor Gustavo Corção, sacava seu diploma de engenheiro para afirmar que o lago Paranoá nunca encheria, pois o solo era por demais poroso.

Até receber um telegrama presidencial: “Encheu, viu?!”.

Duvidou também de que o ermo de Brasília pudesse ser ligado por telefone com o Rio de Janeiro. Quando isso aconteceu, a 17 de abril de 1960, JK mandou discar para a casa de Corção.

Crítico feroz de Juscelino e de Brasília, o economista Eugênio Gudin recusou convite de Israel Pinheiro, para visitar a capital em construção – morreu falando mal da cidade e de seu criador, em 1986.

Menos azedo, um jovem compositor popular, Juca Chaves, alfinetava JK numa canção que fez sucesso em 1960: “Presidente bossa-nova”, expressamente dedicada “ao muso”. Censores por demais zelosos apressaram-se em proibir a música, mas o “muso” não apenas mandou liberá-la como convidou o autor a visitá-lo no palácio. Juca Chaves compareceu de terno – e sem sapatos.

A nova capital dava samba – e também marchinha: “Vamos pra Brasília”, que animou o Carnaval de 1958, na voz de Jorge Veiga. “Não vou pra Brasília”, retrucava, no mesmo ano, um samba de Billy Blanco, cantado pelo grupo Os Cariocas.

Para JK, cinco anos de mandato foram cinquenta de brincadeiras e piadas, por vezes ofensivas. Nem por um minuto perdeu o bom humor e a tolerância.

Visitantes ilustres

Um dos prazeres de JK, durante a construção de Brasília, era mostrar sua cidade aos visitantes. Lá estiveram chefes de Estado, como o presidente americano Dwight Eisenhower.

Ou escritores como Jean-Paul Sartre, Aldous Huxley e André Malraux, ministro da Cultura da França – que não se conteve: “Esta é a capital da esperança”, disse a JK.

O ator inglês David Niven, que fez com ele um vôo de helicóptero sobre a cidade, registrou anos depois, em suas memórias, o entusiasmo e a jovialidade do presidente – não se esquecendo de contar que foi convidado para a inauguração, do lago Paranoá, no dia seguinte.

Em maio de 1959, quatro meses depois de tomar o poder em Cuba, o jovem primeiro-ministro Fidel Castro não decepcionou quem dele esperava discursos fluviais – e só se calou quando viu Brasília do alto, ao lado de JK.

O poder voa para Brasília

Na véspera da mudança da capital para Brasília, 20 de abril de 1960, JK chegou ao Palácio do Catete com a mulher, d. Sarah, as filhas, Márcia e Maria Estela, e a mãe, Júlia. Reuniu os funcionários no salão nobre para uma despedida.

Dia do Falecimento de Juscelino Kubitschek
Dona Sarah e suas filhas Márcia e Maria Estela

Conta o escritor Autran Dourado, secretário de Imprensa da Presidência, no livro Gaiola aberta: “Todo o mundo ria muito, Juscelino era dente só.

Como se fosse o seu aniversário, ele menino. Houve ordem para que se abrisse o portão, quem quisesse entrar para se despedir da família que entrasse”.

Depois, com a família e todo o pessoal, JK desceu a escadaria do palácio. Na calçada, foi homenageado pelos alunos da vizinha escola Rodrigues Alves, que acenaram com lenços brancos para ele. O povo, emocionado, envolveu seu presidente.

Juscelino caminhou então até o portão do Catete – Museu da República, a partir daquele instante – e, lentamente, o fechou.

Depois, o poder voou para Brasília.

“Só mesmo o Nonô”

A festa da inauguração de Brasília começou na noite da véspera, 20 de abril de 1960, com uma missa campal que invadiu o dia 21 e arrancou lágrimas do criador da cidade.

Despertado na manhã seguinte com um toque de alvorada, ele enfrentou alegremente uma agenda em que lhe coube, entre muitos outros compromissos, recepcionar embaixadores estrangeiros e presidir uma reunião do ministério – formalmente, a instalação do poder executivo na nova capital.

Primeiro ato oficial de JK: assinatura de mensagem propondo a criação da Universidade de Brasília.

Numa paisagem em que a poeira do planalto cobria democraticamente as cartolas e casacas das autoridades e as roupas domingueiras dos trabalhadores, tudo era festa em Brasília naquela quinta-feira. Parada militar, desfile de candangos, baile improvisado nas ruas, queima de fogos no Eixo Rodoviário, JK percorrendo avenidas em carro aberto, Esquadrilha da Fumaça roncando no céu onde no final da tarde se abriu um arco-íris. À noite, no Palácio do Planalto, baile de gala para 3 mil convidados.

A certa altura do dia, a primeira-dama, d. Sarah, encontrou a sogra debruçada numa janela do Palácio da Alvorada. “Só mesmo o Nonô”, murmurou d. Júlia, “seria capaz de fazer tudo isso”.

O Tempo da Amargura (1961-1976)

Uma cadeira no Senado

Já de olho numa volta à presidência nas eleições de 1965, e para não ficar a descoberto – pois Jânio Quadros fatalmente o hostilizaria, abrindo uma devassa em seu governo –, Juscelino Kubitschek providenciou para si um mandato legislativo antes mesmo de deixar o poder.

Não era temporada eleitoral, mas negociou-se uma brecha: em janeiro de 1961, o senador Taciano Gomes de Melo, do Partido Social Democrático (PSD) de Goiás, foi convencido a renunciar à sua cadeira, abrindo assim uma vaga a ser preenchida, meses mais tarde, em eleição complementar. Em troca, foi nomeado ministro do Tribunal de Contas do Distrito Federal.

Concorrendo com Wagner Estelita Campos, do Partido Democrata Cristão (PDC), que tinha o apoio de Jânio, no dia 4 de junho de 1961 o ex-presidente se elegeu com folga, obtendo 146 366 votos, contra 26 800 dados a seu concorrente.

Aquele seria o seu último mandato.

A renúncia de Jânio

Empossado em janeiro de 1961, Jânio Quadros não tardou a desagradar às forças conservadoras que, num coquetel de legendas partidárias, o haviam levado à presidência.

A União Democrática Nacional (UDN), em especial, irritou-se com a política externa do novo governo, pois Jânio, numa afirmação de independência diante dos Estados Unidos, passou a flertar com os regimes comunistas de Cuba e da União Soviética. Os partidos da situação sentiam-se desprestigiados por seu líder. O presidente, por seu turno, queixava-se do Legislativo, relutante em aprovar suas iniciativas.

Ao mesmo tempo, miudezas como a proibição do biquíni, do lança-perfume, da briga de galos e das corridas de cavalos em dias de semana não favoreciam a popularidade de Jânio – um chefe de Estado que se comunicava com seus ministros por meio de bilhetinhos, não raro desaforados, e que a certa altura pretendeu impor ao funcionalismo público seu bizarro traje de trabalho, espécie de farda de mangas curtas chamado slack.

Para Jânio, foi fatal ganhar a inimizade do antigo aliado Carlos Lacerda. A 24 de agosto de 1961, o governador do estado da Guanabara denunciou pela televisão as intenções golpistas do presidente, que estaria desejoso de livrar-se dos partidos e do Legislativo.

Jânio provocou animosidade também entre os militares ao condecorar o marxista Ernesto “Che” Guevara, ministro da Revolução Cubana.

No dia seguinte às acusações de Lacerda, Jânio encaminhou ao Congresso uma carta-renúncia. Esperava, provavelmente, que ela fosse recusada e que uma reação popular o devolvesse à presidência, com poderes aumentados.

“Não farei nada para voltar, mas considero minha volta inevitável”, confiou a auxiliares na base aérea de Cumbica, em São Paulo, onde foi aguardar os desdobramentos de seu gesto. “Dentro de três meses, se tanto, estará nas ruas, espontaneamente, o clamor pela reimplantação do nosso governo.”

O Congresso Nacional, porém, graças à esperteza do deputado oposicionista e ex-ministro de JK José Maria Alkmin, aceitou prontamente a renúncia – para desespero de Jânio, que, em Cumbica, caiu em prantos. Não houve, na hora ou mais tarde, clamor nenhum.

A Crise da Legalidade

Com a renúncia de Jânio, deveria assumir o vice, João Goulart, que naquele agosto de 1961 viajava pela China com uma delegação comercial do Brasil. Na sua ausência, empossou-se o substituto legal – o presidente da Câmara, deputado Pascoal Ranieri Mazzilli.

No dia 30, os três ministros militares – vice-almirante Sílvio Heck, o marechal Odílio Denys e o brigadeiro-do-ar Gabriel Grün Moss – divulgaram nota contra a posse de Goulart, para eles inaceitável por ser o herdeiro político de Getúlio Vargas. Estava criada o que se chamou de Crise da Legalidade.

Legalista, e temeroso de solavancos institucionais que viessem prejudicar seus planos de voltar à presidência em 1965, o senador JK pronunciou-se pela posse do vice-presidente. No Rio Grande do Sul, o governador Leonel Brizola, cunhado de Goulart, declarou-se decidido a pegar em armas pelo respeito à Constituição. Tinha o apoio do comandante do III Exército, general José Machado Lopes, que chefiava as maiores tropas do país, e armou uma aguerrida e ruidosa rede de emissoras de rádio, batizada Cadeia da Legalidade.

O impasse seria superado com aprovação de uma emenda constitucional que implantou o parlamentarismo – Goulart pôde, finalmente, voltar ao Brasil e, a 7 de setembro de 1961, tomar posse. O chefe do primeiro gabinete parlamentarista foi o deputado Tancredo Neves, do PSD de Minas Gerais.

Mas o novo regime não “pegou”, e em janeiro de 1963, um plebiscito trouxe de volta o presidencialismo.

JK-65

Ao deixar o poder, no dia 31 de janeiro de 1961, ainda jovem – tinha 58 anos –, Juscelino Kubitschek já saiu candidato a um novo período no Palácio do Planalto. A campanha JK-65 não tardou a ir para as ruas.

O lema, dessa vez, seria “5 anos de agricultura, 50 anos de fartura!”. O programa teria não mais 31 metas, como o anterior, mas sessenta. Aquele haveria de ser o quinquênio da agricultura, anunciava Kubitschek, “com a integração do campo na maturidade do desenvolvimento brasileiro”.

A 19 de março de 1964, uma convenção do PSD homologou a candidatura de JK à presidência por 2 848 votos, contra um dado ao marechal Dutra e 39 abstenções.

Em plena ebulição de uma enorme crise, era possível perceber que o governo de João Goulart se aproximava de um desenlace. Só não se sabia que ele estaria no chão, em pedaços, dali a menos de duas semanas.

A caminho do golpe

A direita que em agosto de 1961 tentou impedir a posse de João Goulart na presidência da República, vaga com a renúncia de Jânio Quadros, não haveria de desistir de seus intentos golpistas. Sua tarefa seria facilitada pela fraqueza de Goulart, incapaz de conter a crescente radicalização da esquerda.

O clamor pelas chamadas “reformas de base” – em especial a reforma agrária, em nome da qual surgiram atuantes Ligas Camponesas – cresceu durante o ano de 1963 e os primeiros meses de 1964, na mesma proporção do descontentamento dos conservadores, aos quais se juntavam fatias cada vez maiores de uma classe média atemorizada. A inflação disparava.

Empresários e governadores hostis ao presidente se puseram a conspirar contra ele. As forças golpistas contavam com o apoio cada vez mais explícito do governo dos Estados Unidos, escaldado pelo caráter marxista da vitoriosa Revolução Cubana.

Nas Forças Armadas, o conservadorismo era alimentado também pelo descontentamento com a quebra da hierarquia, pois soldados, marinheiros, cabos e sargentos, atropelando os regulamentos, multiplicavam reivindicações e atos de indisciplina. A figura mais notória desses movimentos, certo cabo Anselmo, teria funesta participação na repressão à militância de esquerda, na qual se infiltrou, durante a ditadura militar.

O golpe de 1964

A 13 de março de 1964, no Rio, o presidente João Goulart falou à multidão num comício gigantesco – o “comício da Central da Brasil”, como ficou conhecido –, anunciando medidas para concretizar as “reformas de base”. A resposta de seus adversários, dias depois, foi uma caudalosa Marcha da Família com Deus pela Liberdade, em São Paulo.

A derrocada do governo rapidamente tornou-se inevitável – e a 31 de março o comandante da IV Região Militar, general Olímpio Mourão Filho, em Juiz de Fora, pôs suas tropas em marcha rumo ao Rio de Janeiro.

Também em Minas, o governador Magalhães Pinto assumia a liderança civil do movimento. Na tarde daquele dia, o ex-presidente Juscelino Kubitschek levou a Goulart, no Palácio das Laranjeiras, um tardio e inútil apelo para que desautorizasse os radicais de seu governo e tranquilizasse as Forças Armadas, nomeando um ministério conservador e punindo os militares que haviam quebrado a hierarquia.

O decantado dispositivo militar de Jango, cuja base seria o I Exército, no Rio de Janeiro, não funcionou, e o Ministério da Guerra foi tomado pelo general Artur da Costa e Silva. Na manhã de 1o de abril o presidente voou do Rio para Brasília, e dali para Porto Alegre, de onde seguiria, no dia 4, para um exílio sem fim no Uruguai e na Argentina. Ainda estava no Brasil quando, na madrugada de 2 de abril, o presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, declarou vaga a presidência da República e deu posse ao deputado Ranieri Mazzilli.

Editado logo em seguida, o Ato Institucional no 1 da junta que sucedeu a Mazzilli manteve as eleições previstas para 3 de outubro de 1965, mas suspendeu por seis meses as garantias constitucionais e legais de vitaliciedade e estabilidade. “No interesse da paz e da honra nacional”, enunciava o texto, “e sem as limitações previstas na Constituição, os comandantes-em-chefe que editam o presente ato poderão suspender os direitos políticos pelo prazo de dez anos e cassar mandatos legislativos federais, estaduais e municipais, excluída a apreciação judicial desses atos.”

JK apóia Castelo Branco

Diante do fato consumado de que o novo presidente da República seria um militar, a ser eleito pelo Congresso Nacional, o PSD do senador Juscelino Kubitschek concordou em apoiar a candidatura do general cearense Humberto de Alencar Castelo Branco. Era um oficial que o ex-presidente havia promovido, em parte devido à insistência do poeta Augusto Frederico Schmidt, amigo de ambos.

O apoio foi sacramentado durante reunião realizada no dia 10 de abril em casa do deputado catarinense Joaquim Ramos, com a presença de JK e outros líderes do partido. Castelo, que dependia dos votos dos congressistas do PSD para se eleger, comprometeu-se a manter o calendário eleitoral e a dar posse ao candidato que fosse vitorioso em 1965.

No dia seguinte, o general estava eleito, tendo assumido a 15 de abril.

A cassação do mandato

Instalado na presidência da República, nem por isso Castelo Branco tinha controle total sobre as Forças Armadas. A linha dura, à sua direita, pedia a cabeça de lideranças civis. Fazia pressão o general Costa e Silva, que no dia do golpe se apossara do Ministério da Guerra e Castelo tivera de engolir.

No dia 26 de maio, um emissário do ministro procurou o ex-presidente, no Rio, e lhe pediu, dramaticamente, que desistisse da candidatura em 1965, “para o bem do Brasil e para seu próprio bem”. JK não aceitou.

No mesmo dia, durante um vôo de São Paulo para Brasília, Costa e Silva disse ao presidente, diante de várias testemunhas:

“Seu Castelo, temos que cassar o Juscelino”.

“Castelo ficou numa situação difícil”, lembrou anos mais tarde o general Ernesto Geisel, na época ministro-chefe do Gabinete Militar da presidência da República.

“Na verdade, acho que ele não queria cassar o Juscelino. Mas o Costa e Silva fez a proposta.”

O mentor da cassação de JK se orgulhava do seu feito. Tancredo Neves contava que certa vez a esposa do então governador mineiro Israel Pinheiro, d. Coraci, comentou com Costa e Silva, durante um café-da-manhã no Palácio das Mangabeiras, em Belo Horizonte: tinha admiração por Castelo, mas não lhe perdoava ter cassado Juscelino.

O general respondeu: “Então pode perdoar, porque quem cassou fui eu.

Um discurso antes da cassação

Sabendo que sua cassação era iminente, JK discursou no Senado a 3 de junho de 1964:

“Na previsão de que se confirme a cassação dos meus direitos políticos, que implicaria na cassação do meu direito de cidadão, julgo do meu dever dirigir, desta tribuna, algumas palavras à nação brasileira. Faço-o agora, para que – se o ato de violência vier a consumar-se – não me veja eu privado do dever de denunciar o atentado que na minha pessoa vão sofrer as instituições livres. […] Neste momento, sinto uma perfeita correlação entre a minha ação presidencial e a iníqua perseguição que me estão movendo. […] Se me forem retirados os direitos políticos – como se anuncia em toda parte –, não me intimidarei, não deixarei de lutar. Do ponto de vista da minha biografia, só terei de que me orgulhar desse ato. […] Mas querendo eu ou não, a semente da injustiça, do arbítrio, da maldade, da crueldade, da violação da pessoa humana, do desrespeito, medrará, crescerá, dará frutos e depois – como tem acontecido invariavelmente – o castigo chegará, levando tudo de vencida.”

Cassado, JK reage

Tão logo foi cassado pelo regime militar, a 8 de junho de 1964, JK divulgou uma nota em que dizia:

“No instante em que a iniquidade se consuma e me obriga ao silêncio – cassando-me o mandato de senador conferido pelo bravo povo goiano e retirando-me os direitos políticos –, quero pedir aos brasileiros que não se deixem um só momento impressionar com as calúnias e as mentiras que os inimigos jurados da democracia certamente hão de continuar atirando sobre mim. Saibam os brasileiros que daqui por diante só não lhes falarei, e só não me defenderei, se fizerem silenciar a minha voz. […] Minha atitude diante da agressão a que me submetem é de serena tranquilidade. Sei que o tempo confundirá os meus inimigos gratuitos, sufocará os ódios e restaurará a justiça e o sentimento de grandeza.”

O ex-presidente fez em seguida uma previsão que o tempo confirmaria: “Esse ato não marcará o fim do arbítrio. O vendaval de insânias arrastará na sua violenta arrancada mesmo os meus mais rancorosos desafetos. Um por um, eles sentirão os efeitos da tirania que ajudaram a instalar no poder”.

Asilo no Rio

Depois de fazer seu último discurso no Senado, a 3 de junho de 1964, JK seguiu de carro para Belo Horizonte e de lá para o Rio de Janeiro, numa viagem cheia de peripécias determinadas por um clima de constante apreensão.

Pretendia asilar-se na embaixada da Colômbia, na avenida Rui Barbosa. Mas, como havia pessoas suspeitas nas proximidades, JK entrou no prédio ao lado – e ali, com a ajuda de uma escada, saltou o muro. Foi recebido pelo embaixador colombiano, Dario Botezo.

Começaram entendimentos para que o ex-presidente fosse refugiar-se na residência do embaixador da Espanha, no mesmo edifício onde morava, na avenida Vieira Souto.

A Espanha não tinha acordo de asilo político com o Brasil, mas o embaixador Jaime Alba Delibes, depois de consultar seu governo, acolheu JK.

A cassação do ex-presidente e a suspensão de seus direitos políticos foram anunciadas a 8 de junho, no programa A voz do Brasil. No dia 13, JK embarcava para Madri, iniciando um exílio que duraria 976 dias.

JK no exílio

“Deixo o Brasil porque esta é a melhor forma de exprimir meu protesto contra a violência”, declarou JK ao partir para o exílio, a 13 de junho de 1964. Durante quase mil dias, viveria em Paris, Lisboa e Nova York.

Na capital francesa, o ex-presidente morou num apartamento de dois quartos e teve uma cozinheira portuguesa que parecia ter sido escolhida pelo nome: Diamantina. Sem motorista, dirigia ele mesmo o seu carrinho, um castigado Simca, pelas ruas de Paris. Para pagar as contas, envolveu-se em atividades empresariais em Lisboa; nos Estados Unidos, aceitava convites para fazer palestras.

Em nenhum lugar sentiu-se feliz, à vontade. “Não posso deixar de confessar que viver fora do país, sem saber quando será possível o regresso, é o castigo mais cruel imposto a um homem que só pensava no Brasil”, escreveu a um amigo nos primeiros tempos do exílio.

Tinha medo de morrer longe da pátria. Mas dizia não querer voltar durante o governo de Castelo Branco – o “Monstro”, rotulava –, que lhe cassara o mandato e suspendera os direitos políticos.

Seu exílio (mas não seu calvário) acabou a 9 de abril de 1967, já no governo Costa e Silva. Ao desembarcar no Rio, disse que só morto deixaria o país outra vez.

Duros interrogatórios

JK veio ao Brasil duas vezes durante o exílio. Na primeira, dia 4 de outubro de 1965, duas intimações para depor em inquéritos policiais militares o esperavam no pé da escada do avião, no aeroporto do Rio de Janeiro.

Havia um motivo adicional para as perseguições que passou a sofrer: nas eleições do dia 3, Francisco Negrão de Lima e Israel Pinheiro, que tinham o apoio de JK, se elegeram para os governos da Guanabara e de Minas Gerais, respectivamente. Para irritação dos militares, o ex-presidente foi recebido, no Rio, com grandes manifestações populares de carinho.

Era acusado de ligação com os comunistas e de corrupção – havia quem dissesse que ele era dono da sétima fortuna do mundo. “Esta revolução foi feita contra João Goulart, mas 72 horas depois ela se voltou contra mim”, costumava dizer JK ao editor Adolfo Bloch, seu amigo.

Em menos de duas semanas, o ex-presidente passaria sessenta horas em extenuantes interrogatórios que chegaram a durar nove horas. Foi nessa ocasião que a sua saúde começou a fraquejar.

Juscelino deixou o país novamente no dia 9 de novembro. A 9 de junho de 1966, quando morreu sua irmã, Naná, ele precisou de autorização do governo militar para assistir ao enterro, em Belo Horizonte. Foi proibido de dar declarações e de receber manifestações, e apenas três dias depois teve que tomar o avião de volta para Nova York.

O político vira empresário

Ao contrário do que diziam seus adversários, Juscelino Kubitschek não dispunha de fortuna que lhe permitisse viver sem trabalhar. Por essa razão, na volta do exílio, em 1967, foi convidado pelos genros, Baldomero Barbará Neto e Rodrigo Pádua Lopes, donos de uma corretora de valores, para se juntar a eles na formação de um banco de investimentos.

Diretor-presidente, JK não teria, no Denasa – Desenvolvimento Nacional Sociedade Anônima –, uma função meramente decorativa. Seu prestígio assegurou bons negócios ao banco até 1975, quando, com a tumultuada separação da filha Márcia, viu-se forçado a abandonar a sociedade.

Por oferecimento do amigo Adolfo Bloch, Juscelino começou então a dar expediente no edifício da Manchete, na praia do Russel, no Rio. Com a assistência do escritor Carlos Heitor Cony, trabalhou ali em alguns de seus livros de memórias. A pedido de Bloch, escrevia resenhas de livros para a revista Manchete. Na viagem em que perdeu a vida, levava consigo um exemplar de Ó Jerusalém!, de Larry Collins e Dominique Lapierre, que estava lendo para redigir um desses artigos.

O AI-5 e a prisão

Na noite de 13 de dezembro de 1968, o ministro da Justiça do governo Costa e Silva, Luís Antônio da Gama e Silva, foi à televisão, em rede nacional, para liquidar o que ainda restava em matéria de liberdade no país. Sob a forma do Ato Institucional nº 5 (AI-5), o violento “golpe dentro do golpe” suspendeu as garantias individuais e abriu caminho para um novo ciclo punitivo.

As prisões se encheram não apenas de políticos – entre eles Carlos Lacerda, que teve os seus direitos políticos suspensos – mas também de inúmeros intelectuais e artistas, como Caetano Veloso, Gilberto Gil e os escritores Ferreira Gullar e Carlos Heitor Cony. Sem qualquer possibilidade de se opor à truculência do regime, muitos partiram para o exílio. Outros tomariam o caminho desesperado da luta armada.

Naquela noite, o ex-presidente JK paraninfava uma turma de formandos em engenharia no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. À saída, foi preso por um oficial à paisana e levado para um quartel em Niterói, onde permaneceu por vários dias, sem roupa para trocar e nada para ler, num pequeno quarto onde todos os seus movimentos eram observados, o tempo todo, através de um buraco no teto. Quando finalmente saiu, foi levado para o seu apartamento, na zona sul do Rio, e ali viveu durante um mês em regime de prisão domiciliar.

Brasília revisitada

Quando retornou do exílio, em 1967, JK foi proibido de ir a Brasília. Durante o governo Medici, nos anos 1970, ele voava certa vez de Minas para Anápolis, em Goiás, a bordo de um monomotor Bonanza, quando, na altura da capital, o aparelho entrou em pane, por superaquecimento de óleo. Era uma situação de risco e o piloto pediu à torre do aeroporto permissão para pousar. Perguntaram quem estava a bordo – e a autorização foi negada. O avião teve que descer em Luziânia, a 67 quilômetros de distância.

Durante mais de sete anos o ex-presidente não pôs os pés na sua cidade, que deixara às vésperas de sua cassação, em junho de 1964.

Voltou discretamente, na boléia de um velho caminhão Ford, no dia 7 de janeiro de 1972. Ia rumo a Planaltina quando um temporal interrompeu a viagem. Pediu então ao motorista que tocasse para Brasília.

Rodou pelo Plano Piloto, foi à praça dos Três Poderes, esteve bem perto do Palácio da Alvorada, visitou a catedral, que ainda não conhecia depois de pronta. “Senti-me um súdito romano das Gálias que pela primeira vez visita Roma”, contou mais tarde. “A Roma do primeiro século, com seus palácios de mármore, sua suntuosidade e sua consciência de centro do mundo civilizado.”

Relatou a emocionada visita ao jornalista Carlos Chagas, que a 18 de janeiro publicou no jornal O Estado de S. Paulo o artigo “Brasília não vê JK chorar”.

Um recorte com esse texto foi achado num bolso de seu paletó no dia em que morreu, 22 de agosto de 1976.

O fazendeiro JK

No dia em que deixou a presidência da República, jornalistas perguntaram a JK que planos tinha ele para o futuro. “Vou ser fazendeiro”, respondeu.

O projeto haveria de realizar-se no final da vida, em 1972, quando Juscelino levantou empréstimos e comprou uma pequena propriedade – 310 alqueires mineiros –, a Fazenda JK, a dezoito quilômetros de Luziânia e 67 de Brasília.

Construiu ali uma casa com projeto de Oscar Niemeyer e uma capela copiando a do Palácio da Alvorada. Plantou soja e milho, além de café, cuja primeira colheita não chegaria a ver.

Passava lá temporadas cada vez maiores. “Há quase um mês estou na minha solidão da Fazenda JK”, escreveu ele a sua amiga Vera Brant no dia 8 de agosto de 1976, duas semanas exatas antes de morrer. “Recolho-me à rede da varanda, afino os ouvidos pelo silêncio das quebradas e leio.”

Tinha com a sua propriedade uma relação de amor e desgosto. “A Fazenda JK está envenenando a minha vida”, anotou em seu diário em dezembro de 1974. “Continuo?” Continuou, até o fim.

Depois de sua morte, a Fazenda JK foi vendida.

A única derrota nas urnas

No final da vida, JK quis ingressar na Academia Brasileira de Letras, que é aberta não apenas a escritores, mas também a expoentes da vida nacional.

Os militares não gostaram – e pressionaram o presidente da entidade, Austregésilo de Athayde, para impor a Juscelino o que seria a sua única derrota eleitoral em toda a vida.

A Academia tinha pedido financiamento oficial para construir um edifício ao lado de sua sede, no centro do Rio – em terreno, aliás, doado por JK quando presidente. Se ele fosse eleito, o financiamento não sairia.

Apesar das pressões, sondagens indicavam que poderia ganhar. No dia 23 de outubro de 1975, porém, Juscelino perdeu a disputa para o escritor goiano Bernardo Élis, por vinte votos a dezoito. Recebeu a notícia na casa da filha Maria Estela, onde havia uma festa preparada. “Vamos virar essa página”, disse ele, e saiu dançando com a filha.

Depois comentaria:

“Me venderam por um bloco de cimento”. E anotou em seu diário: “Estou pulverizado por dentro. Pus muita fé na minha eleição. Desejava-a ardentemente, o prestígio que compensasse os imensos dissabores de 1964. […] Nunca imaginei que a derrota pudesse me ferir tanto”.

Dias depois, Athayde convidou JK para um almoço e tentou lhe explicar o que ocorrera. JK não deixou. “Presidente”, cortou ele, “sou entendido em matéria de eleições. Quando se perde, não se deve perguntar por quê”.

Elegante, fez questão de comparecer à posse de Élis e apertar-lhe a mão.

JK pertenceu, desde 1974, à Academia Mineira de Letras, e em 1976 recebeu da União Brasileira de Escritores o troféu Juca Pato, como o intelectual do ano de 1975.

A morte de Juscelino

Dia do Falecimento de Juscelino Kubitschek

No dia 9 de agosto de 1976, uma notícia correu o país: Juscelino Kubitschek morrera num acidente de estrada. Amigos e jornalistas se precipitaram à Fazenda JK, onde não havia telefone – e o encontraram vivo, sorridente. “Estão querendo me matar, mas ainda não conseguiram”, disse ele.

Duas semanas depois, no final da tarde de 22 de agosto, quando a notícia voltou a correr, era verdade: a poucos dias de completar 74 anos, o ex-presidente havia morrido, às 17h55, num acidente no quilômetro 165 da via Dutra, quando viajava de São Paulo para o Rio de Janeiro.

Segundo o inquérito policial, o Chevrolet Opala 1970 em que ia o ex-presidente, conduzido por Geraldo Ribeiro – seu motorista desde o primeiro dia como prefeito de Belo Horizonte, em 1940 –, foi atingido, por trás, por um ônibus. Desgovernado, atravessou o canteiro central e, na outra pista, foi apanhado, de frente, por uma carreta.

Dúvidas surgidas naquela tarde nunca foram esclarecidas. Poderia tratar-se não de acidente, mas de atentado. O caso foi reaberto quase vinte anos depois, sem que nenhuma evidência disso tenha sido encontrada.

Sem endossar a tese de atentado, o escritor Carlos Heitor Cony chamou atenção para o fato de que as três maiores lideranças civis brasileiras desapareceram no espaço de poucos meses, todas em circunstâncias no mínimo estranhas, num momento em que o governo do general Ernesto Geisel promovia um lento – lentíssimo – movimento de retorno à democracia. Carlos Lacerda se internou com uma gripe forte, recebeu uma injeção e morreu. João Goulart, que teria morrido de infarto, foi achado com um travesseiro sobre o rosto.

Anos mais tarde desvendou-se parcialmente um plano conjunto de ditaduras militares do continente sul-americano, a tenebrosa Operação Condor, para eliminar opositores incômodos. Um deles, o chileno Orlando Letelier, ex-chanceler do governo do presidente socialista Salvador Allende, foi assassinado em Washington a 21 de setembro de 1976. Embora não haja provas, há quem sustente que JK, morto poucos dias antes de Letelier, e João Goulart, alguns meses depois, teriam sido, como ele, vítimas da Operação Condor.

“Democracia neste país, só depois de minha morte”, dissera JK ao deputado Carlos Murilo às vésperas do acidente que o matou. “Eles têm muito medo de mim.”

No enterro: “O povo leva!”

Transportado para o Instituto Médico Legal do Rio de Janeiro, o corpo de Juscelino Kubitschek foi em seguida velado no saguão do edifício da revista Manchete, na praia do Russel, pelo qual, durante toda a manhã de 23 de agosto, desfilaram milhares de pessoas.

Às quatro da tarde, o caixão desembarcava em Brasília, onde, depois de alguma hesitação, o governo do general Ernesto Geisel decretou luto oficial – o primeiro em honra de um adversário do regime militar. O velório iniciado no Rio prosseguiu na catedral metropolitana.

Após emocionada missa de corpo presente, os bombeiros tiveram dificuldade para colocar a urna na carreta que a conduziria ao Campo da Esperança, o cemitério de Brasília. Em mais de uma ocasião a multidão tomou-a nas mãos, aos gritos de “o povo leva! O povo leva!”.

O cortejo se arrastou por quatro horas, e já eram 23h35 quando o corpo do ex-presidente finalmente baixou à sepultura, debaixo de um coro em que “Viva JK!” e “Viva a democracia!” se alternavam com as estrofes de “Peixe vivo”, a canção preferida de Juscelino, cantadas pela multidão.

O túmulo, a poucos metros do de um dos pioneiros da nova capital, o engenheiro Bernardo Sayão, foi projetado por Oscar Niemeyer, com revestimento de mármore de Carrara que sobrou da construção da catedral metropolitana.

Ali o ex-presidente foi reverenciado até 12 de setembro de 1981 – data em que completaria 79 anos de idade –, quando seus restos foram transportados para o recém-construído Memorial JK, também projeto de Niemeyer, erguido no ponto mais alto da cidade, o Cruzeiro, o lugar onde a 3 de maio de 1957 se rezou a primeira missa de Brasília.

Carmen Lucia de Azevedo, Paulo Cesar de Azevedo, Ana Laura Moura, Humberto Werneck, Carlos Seabra, Mário Pina Seabra, Thiago de Azevedo, Roberta Martinelli e Barbosa, Rosângela Sampaio, Ligia Paula Silber, José Adolfo Stulman, Paulo Martins Werneck, Jaime Acioli, José Silveira Rangel

Fonte: Agb Curitiba/www.almg.gov.br/www.memorialdafama.com/www.canaldaimprensa.com.br/www.sbhm.org.br

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