Dia do Educador Ambiental

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15 de Outubro

A educação ambiental refere-se a esforços organizados para ensinar como funcionam os ambientes naturais e, particularmente, como os seres humanos podem gerenciar comportamentos e ecossistemas para viver de forma sustentável. É um campo multidisciplinar integrando disciplinas como biologia, química, física, ecologia, ciências da terra, ciências atmosféricas, matemática e geografia.

O termo muitas vezes implica educação dentro do sistema escolar, do primário ao pós-secundário. No entanto, às vezes inclui todos os esforços para educar o público e outros públicos, incluindo materiais impressos, sites, campanhas de mídia, etc.

A relação entre o educador ambiental e o designer

Introdução

Os indivíduos estão cada vez mais afastados da natureza, cada vez mais presos e envolvidos nos centros urbanos, que não param de crescer, se multiplicar e ocupar áreas rurais. Esta distância entre o ser humano e a natureza não é somente física e espacial, também representa a ausência de um laço, uma relação, o desconhecimento do meio natural sem a interferência do homem.

Neste novo cenário, ambientes naturais são completamente estranhos às pessoas, que não se sentem como parte daquele meio; os valores de relação com a natureza perderam o sentido para a sociedade moderna, a distância se tornou tão grande que as pessoas não mais percebem como suas ações interferem no meio ambiente e como ele afeta suas vidas. Como resultado, surgem problemas como a poluição; o desmatamento desenfreado; a caça esportiva, ilegal ou irracional; e problemas maiores, como a ocorrência de furações com a intensidade e em lugares nunca antes vistos

Em nome das futuras gerações e do bem-estar do planeta é preciso que a sociedade adote um modo de vida sustentável, ou seja, que vise simultaneamente o crescimento econômico, o desenvolvimento social e a preservação da natureza. Todavia, a sustentabilidade é atingida somente mediante a consciência da população, a educação ambiental.

A educação ambiental é uma forma abrangente da educação. Sua proposta é, através de processos pedagógicos participativos, criar nos cidadãos uma visão sistêmica, fazê-los perceberem-se como parte de um sistema maior para que exista uma consciência crítica sobre os problemas ambientais.

A preocupação do designer é o desenvolvimento do projeto independentemente da metodologia. Tanto os produtos quanto os projetos gráficos são dotados de conceito e preocupações funcionais, semióticas e ergonômicas. Porém, poucos profissionais são capazes de entender esses objetos como mediadores das relações sociais; poucos são os trabalhos que se preocupam em também promover experiências e evocar sentimentos; ou seja, muitos projetos puramente funcionais e estéticos e poucos focam na relação entre os usuários e o entorno projetado.

O fato do projeto gráfico ou do produto evocar sentimentos ou promover experiências no usuário pode servir como ferramenta na educação ambiental ao compor o processo pedagógico; nesta definição, as pessoas assumem um papel central e as decisões visuais envolvidas não provêem de pressupostos estéticos universais: encontram-se entre a realidade dos indivíduos e a realidade a qual se objetiva alcançar após o contato entre as pessoas e as mensagens. Em outras palavras, trata-se da realidade construída através de experiências proporcionadas pelo projeto gráfico ou produto e seus respectivos sentimentos evocados.

Educação Ambiental

A educação ambiental é de responsabilidade da escola, dos meios de comunicação e também de toda a sociedade, e surgiu como resposta a necessidades que não estavam sendo plenamente atendidas pela educação formal tradicional. Em outras palavras, a educação deveria incluir conhecimentos, valores, capacidades e responsabilidades, aspectos que fomentassem relações éticas entre seres humanos, e entre as pessoas e a vida no planeta.

A educação ambiental se tornou necessária por não estar integrada à teoria formal da educação. Segundo a doutora em educação ambiental, Susana Padua, “Se educação fosse plenamente abrangente, prescindiria de adjetivos como educação ambiental, educação sanitária, educação sexual, e tantas outras. Todas as áreas estariam contempladas, o que facilitaria a formação de cidadãos atuantes e engajados em melhorias que afetam a coletividade.” (PADUA, S. 2007)

Para ser efetivo, um programa de educação ambiental deve promover o desenvolvimento de conhecimento, de atitudes e de habilidades para preservar e melhorar a qualidade ambiental. O processo se inicia nas escolas e expande pela vizinhança até chegar à cidade, a região, o país, o continente e o planeta. A aprendizagem será mais efetiva caso a atividade esteja adaptada às situações da vida da cidade ou do meio em que o aluno e o professor vivem.

Apesar do objetivo ser o mesmo, a preservação do meio ambiente, a educação ambiental entre os países é diferente. Enquanto nos países desenvolvidos a preocupação é a proteção da natureza; nos países em desenvolvimento há um enfoque no desenvolvimento comunitário, visando à inclusão social. Todavia, são os países menos desenvolvidos que, normalmente, abrigam uma maior diversidade de fauna e flora e, infelizmente, não possuem recursos para resguardá-la e acabam sofrendo perdas de áreas naturais entre inúmeros danos ambientais.

Para construir uma sociedade sustentável, Esteva e Reyes (1998:36) estabelecem os seguintes aspectos:

1. Criação e fortalecimento de uma consciência ética capaz de promover o respeito à vida e articular uma visão de mundo onde prevaleçam valores que permitam uma relação harmônica e de longo prazo entre a humanidade e a natureza;

2. Elevação do nível de compreensão entre os cidadãos no que diz respeito à gravidade dos problemas socioambientais para que estes não sejam menosprezados ou percebidos com fatalidade;

3. Adoção de elementos conceituais e práticos capazes de ampliar o nível de participação política e social das sociedades regionais e dos indivíduos para a formulação de propostas de desenvolvimento sustentável;

4. Difusão de conhecimentos e alternativas específicas que permitam os seres humanos, na qualidade de indivíduos e membros de um coletivo, a assumir condutas e adotar tecnologias coerentes para o desenvolvimento sustentável;

5. Contribuição para o estreitamento de vínculos de solidariedade e respeito entre os grupos sociais, na busca de uma justiça econômica para reforçar os esforços que visem o rompimento da relação entre a pobreza e a depredação ambiental. Com tais bases conceituais, a educação ambiental facilita a criação de uma cultura ambiental, intimamente ligada à ética ambiental, por incluir todos os seres e apostar na transformação social baseada em novos modelos de desenvolvimento.

Histórico

Enquanto muitos autores apontam como marco da Educação Ambiental as grandes crises ambientais da década de 70, é possível afirmar, sob uma ótica elementar, que a temática emergiu na segunda metade do século XIX. Em 1864, o norte-americano Georges Perkins Marsh lançou o livro “O Homem e a Natureza” e, apenas cinco anos depois, Ernst Haeckel cunhava o termo “ecologia” como a definição dos estudos realizados sobre as relações entre as espécies e seu ambiente.

No plano internacional, é importante apontar um fato ocorrido no início da segunda metade do século XX que foi um momento relevante para a história educação ambiental.

Em 1952 houve um acidente de poluição do ar ocorrido em Londres por conseqüência da industrialização, causa a morte de aproximadamente 1.600 pessoas.

Diante da necessidade de compreender o ocorrido, organizou- se a “Conferência de Educação da Universidade de Keele” em 1965 – onde, pela primeira vez, utilizou-se o termo “educação ambiental”, apesar de, naquela época, estar associado diretamente à ecologia. Trava-se apenas de conservação ambiental conduzida por biólogos.

As concepções iniciais de educação ambiental emergiram com as primeiras crises ambientais da década de 70, conseqüência das práticas industriais insustentáveis, que indicaram a necessidade de se repensar à educação e a relação do homem com a natureza. A primeira definição de educação ambiental surgiu na referida década, em um workshop da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) em Carson City, no Estado Americano de Nevada.

Novas iniciativas de foco ambiental rapidamente emergiram e, em 1872, é criado na Conferência Intergovernamental do Ambiente Humano, em Estocolmo, Suécia, o Programa de Ambiente das Nações Unidas (UNEP).

Também foi o ano em que estabeleceu-se o primeiro Parque Nacional do mundo; “Yellowstone”, localizado nos Estados Unidos da América, mostrou-se um exemplo de iniciativa e, em 1896, o Brasil inaugurava seu primeiro parque estadual: o “Parque da Cidade”, no Estado de São Paulo.

Em 75 ocorre em Belgrado mais um workshop sobre Educação Ambiental, onde é elaborada a Carta de Belgrado sobre educação ambiental e é lançado o Programa Internacional de Educação Ambiental (IEEP) da UNEP/ UNESCO. A Carta de Belgrado atenta para a juventude, dizendo que ela precisa de uma nova educação, um novo tipo de relacionamento entre estudantes e professores; escolas e comunidades; sistemas educacionais e sociedades.

No ano de 77, em Tbilisi, ex-União Soviética, a Primeira Conferência Intergovernamental de Educação Ambiental, onde foram definidos os objetivos da educação ambiental:

1. O desenvolvimento de consciência e sensibilidade entre indivíduos e grupos sobre problemas globais e locais;

2. O aumento de conhecimentos que permitem uma maior compreensão sobre o meio ambiente e os problemas a ele associados;

3. Mudanças de atitude e valores para encorajar sentimentos de preocupação com o meio ambiente e motivar ações que o melhorem e protejam;

4. O desenvolvimento de capacidades que possam ajudar indivíduos e grupos a identificar e resolver problemas ambientais;

5. A promoção da participação, que significa o envolvimento ativo em todos os níveis da proteção ambiental(Czapski, 1998; Dias, 1993; Pedrini, 1998).

Os princípios definidos em Tbilisi são a base de discussão sobre educação ambiental no mundo e no Brasil. Nenhuma das reuniões que se seguiram contestaram o proposto, optaram por analisá-lo e encontrar meios para colocá-lo em prática. O desafio é sair da generalidade e das visões amplas e adequar os princípios aos diferentes contextos.

Em 1968, a UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, realizou um estudo interdisciplinar com foco na relação entre o meio ambiente e a escola. Assim, a UNESCO entendeu que a educação ambiental não deve ser limitada, simplesmente, a uma disciplina específica no currículo escolar. Fora essa interpretação que gerou, em 1999, a Política Nacional de Educação Ambiental, instituída pela Lei n.º 9.795/99, que no art. 10, §1º, dispõe: “A educação ambiental não deve ser implantada como disciplina específica no currículo de ensino”.

Design e Educação Ambiental

A educação ambiental, uma abordagem interdisciplinar, comporta profissionais de distintas áreas, não sendo o design uma exceção.

Segundo o designer argentino Jorge Frascara (2000), o design pode ser uma ferramenta efetiva para lidar com problemas sociais e amenizá-los significativamente, desde que a comunicação esteja pautada na realidade à qual se objetiva que os indivíduos tenham contato. Frascara afirma que, para isso, é necessário um cuidadoso estudo do público quando se tenta gerar mudanças em suas atitudes e comportamentos.

Para melhor perceber o público, o autor afirma que devemos buscar a interdisciplinaridade para entender as deficiências. Na Sociologia, contextualizar a atividade do designer no meio social. Na psicologia, entender os estudos da percepção. Na Antropologia, compreender as noções de cultura e diversidade cultural. Nas Ciências da Educação, entender os aspectos relativos à aprendizagem.

No Marketing, especificamente no Marketing Social, compreender as condutas coletivas do público. Finalmente, na área das Ciências Sociais, Jorge Frascara diz que encontraremos uma experiência multidisciplinar para enfrentar as diversas áreas e os diferentes potenciais de indivíduos distintos.

Ao melhor compreender seu público, o designer conseguirá imergir-se na realidade de seu usuário e causar uma comunicação efetiva. Assim, será capaz de estabelecer experiências e evocar sentimentos através da produção gráfica ou produto.

Como apontado anteriormente, ainda são poucos os profissionais que desenvolvem projetos com enfoque no usuário e nos sentimentos evocados. Para melhor ilustrar este ponto, apresento campanhas com intuito de educar ambientalmente seguidas de breves comentários.

Dia do Educador Ambiental

Dia do Educador Ambiental

É possível observar nas imagens apresentadas acima conceitos muito bem definidos, assim como preocupações ergonômicas. Todavia, é importante apontar que ambas as campanhas representam realidades muito distantes do público, o que não estabelece uma identificação entre o usuário e a mensagem.

A campanha a direita apresenta um enfoque diferenciado do que, atualmente, é possível observar no mercado.

Os designers em questão focaram-se no sentimento do animal ao estar encarcerado, mas, ainda sim, não construíram junto com o usuário uma comunicação efetiva. Isto ocorre, pois, apesar de abordá-lo momentaneamente, a experiência cumprida não estabelecerá um vínculo de longo prazo por não se tratar de uma realidade próxima ao usuário.

O objeto representado pela figura localiza na parte inferir da página é a síntese do pensamento apresentado. Ele estabelece, junto com o usuário, a mensagem do desperdício de papel. Provavelmente, o público refletirá sobre a questão e evitará retirar papel em excesso.

Considerações Finais

Não basta a educação ambiental estar dentro do modelo formal de educação, pois ele mesmo precisa sofrer alterações para acompanhar a evolução da sociedade. Cabe ao designer, como agente transformador, estabelecer novas relações entre a demanda dos usuários e o método como será transmitido o conteúdo. Assim, tornará um exercício contínuo a imersão no usuário, a criação de uma identificação e o estabelecimento de um vínculo contínuo.

Bibliografia

LEITE, Ailton Santos. O Design, as novas mídias e a Educação na construção de uma cidadania ambiental.
FRASCARA, Jorge. Diseño Gráfico para la gente: Comucaciones de masa y cambio social. Ed. Infinito, Buenos Aires, 2000.
PADUA, Suzana. Educação Ambiental em Destaque. O ECO, 24.04.2006.
____________. Potencial transformador do jovem. O ECO, 14.01.2006.
____________. Pensamentos sobre Educação Ambiental II. O ECO, 30.07.2007.
____________. Perspectivas sobre Educação Ambiental I. O ECO, 17.01.2007.
Marc Dourojeanni. Educação Pública Ambiental. O ECO, 12.08.2006.
ARAÚJO, T. C. d´Ávila. Principais marcos históricos mundiais da educação ambiental. www.ambientebrasil.com.br, acessado em 23/05/2008.

 

15 de Outubro

Segundo o famoso geógrafo Aziz Ab´Saber, educação ambiental ” é um processo que envolve um vigoroso esforço de recuperação de realidades e que garante um compromisso com o futuro. Uma ação entre missionária e utópica, destinada a reformular comportamentos humanos e recriar valores perdidos ou jamais alcançados. Trata-se de um novo ideário comportamental, tanto no âmbito individual como coletivo”.

O Educador Ambiental atua diretamente com crianças, empresas e comunidade, no sentido de conscientizá-las da necessidade de uma mudança correta de atitudes.É impossível falar em Educação Ambiental voltando-nos exclusivamente para a escala planetária ou para a escala nacional. Pelo contrário. Ela envolve todas as escalas. Começa em casa. Atinge a rua e a praça. Engloba o bairro. Ultrapassa as periferias. Repensa o destino dos bolsões de pobreza. Atinge as peculiaridades e diversidades regionais para, só depois, integrar, em mosaico, os espaços nacionais.

Trata-se de um processo educativo que envolve ciência e ética e uma renovada filosofia de vida. Trata-se de mudar enfoque, ajudando a preservação da biodiversidade; reintroduzindo a vegetação onde for possível; seqüestrando o gás carbônico liberado para a atmosfera nos últimos 100 anos da Revolução Industrial; multiplicando os bancos de germoplasmas necessários à produção de alimentos; reintroduzindo biomassas de interesse ambiental, social e econômico.

Exige método, noção de escala, boa percepção das relações entre tempo, espaço e conjunturas, conhecimentos sobre diferentes realidades regionais. E, sobretudo, códigos de linguagem adaptados às faixas etárias do alunado. É um processo que necessariamente revitaliza a pesquisa de campo, por parte dos professores e dos alunos. Implica em um exercício permanente de interdisciplinariedade. É um passo importante para a cidadania.

 

15 de Outubro

EDUCADOR AMBIENTAL: Ser ou não ser, eis a questão!

INTRODUÇÃO

“Ser ou não ser: eis a questão”. Embora a frase shakespereana seja centenária, ela permanece presente nos dias atuais, uma vez que de um modo ou de outro, consegue nos indagar, assim como acontecera com o príncipe Hamlet, quanto à condição que deveríamos seguir, a escolha a tomar. A mudança de hábitos, a substituição de paradigmas, sobretudo, aqueles relacionados à educação e educação ambiental (por que não dizer educação socioambiental?), são exemplos práticos que vivenciamos e questionamos no nosso cotidiano.

Desde a Revolução Industrial, o meio ambiente tem sido profundamente modificado pelas atividades humanas. Vários fatores negativos podem ser observados, apesar da melhoria das condições de vida da população, em decorrência dessa evolução tecnológica. Dentre esses fatores, destacam-se a explosão demográfica e a concentração crescente da ocupação urbana que, consequentemente, acarretam um aumento do consumo e de utilização de insumos e matériasprimas.

Em locais em que moravam alguns grupos consumidores de escassa qualidade de água, produzindo poucos detritos, hoje vivem milhares, o que exige a manutenção de imensos mananciais e gera toneladas de resíduos por dia. Isso se reflete na degradação ambiental e, portanto, na manutenção do planeta e na própria sobrevivência do homem.

Diante desse cenário, Vilhena e Politi (2000, p. 5) afirmam que “[…] a maioria dos problemas ambientais que hoje ocorrem no mundo poderia ter sido evitada se a educação ambiental e a conseqüente conscientização ecológica fizessem parte das preocupações das sociedades desenvolvidas, desde a revolução industrial”.

Os projetos de educação ambiental e de planejamento urbano deveriam sempre ser precedidos de estudos de percepção e comportamento socioambiental da população envolvida. Porém, há ainda uma lacuna nesse sentido, especialmente, porque os métodos para a quantificação da percepção são pouco discutidos e, mesmo em pesquisas bibliográficas, são pouco encontrados.

Há um esforço, por parte dos especialistas da área, em propor alternativas, sobretudo, em sugerir o debate das questões voltado ao que é /ou tem sido o papel do educador ambiental na atualidade.

Essas razões levaram à escolha do assunto “Educador Ambiental: Ser ou não ser, eis a questão!” para este artigo, no desejo de que ele seja uma contribuição para o início da discussão do tema por profissionais que lidam diretamente no contexto formal e/ou não-formal da Educação Ambiental.

DESENVOLVIMENTO

Didaticamente é preciso entender o que é Educação. De acordo com o Novo Dicionário Aurélio (FERREIRA, 1999, p. 719): “Educação, [Do lat. educatione.]

Substantivo feminino. Ato ou efeito de educar (-se). Processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral da criança e do ser humano em geral, visando à sua melhor integração individual e social”.

A educação, segundo Freire (1987), é libertação. Nessa concepção, o conhecimento parte da realidade concreta do homem e este reconhece o seu caráter histórico e transformador. A concepção de educação de Paulo Freire percebe o homem como um ser autônomo.

Diferentemente da visão capitalista de mercado, na qual as pessoas são meros objetos de manipulação dos detentores do poder e, por isso, são vistas como ‘coisas’ que não pensam, não dialogam e não buscam sua humanização, o caráter humanista educacional freireano, centraliza seus esforços na desmitificação do mundo e da realidade, em que os homens não são coisas, objetos, mas pessoas que podem transformar o mundo.

Enfim, a educação tem sido chamada para solucionar problemas de todos os níveis, sejam eles sociais, ambientais, político-pedagógicos, filosóficos, como sendo a grande redentora da sociedade, e, por isso, é também tema das mais acaloradas discussões na atualidade. Se a educação não está bem, a sociedade também não está. Arriscar compreender a educação demanda um mínimo de entendimento sobre seus padrões concebidos, bem como as idealizações que se tem a partir destes.

E essa tal Educação Ambiental?

A Educação Ambiental, como é entendida hoje, surgiu da necessidade de despertar as pessoas para os problemas causados pelos modelos de desenvolvimento econômico, os quais afetam direta ou indiretamente a qualidade de vida das populações. A aceleração da degradação do ambiente, pelo uso exagerado e inadequado dos recursos naturais, mostrou que nem todos se preocupam com a qualidade de vida e com as próximas gerações.

Entretanto, encontram-se ao longo de toda a história do homem algumas reflexões que demonstram a preocupação em preservar a natureza, não só por respeito, mas também como um alerta para a nossa dependência dos recursos que ela oferece.

Essas observações tornaram-se mais sistemáticas a partir do salto tecnológico das últimas décadas e do crescimento da população humana. A exploração desordenada e inconsequente de nossos recursos naturais vem interferindo drasticamente nos ciclos biológicos, acabando por influenciar a vida e o comportamento das pessoas.

Mauro Guimarães, em sua obra ‘A Formação de Educadores Ambientais’ (2004), enfaticamente explicita que entende a educação como um potencial motor das dinâmicas do sistema social, notadamente como um instrumento de luta que põe em conflito as forças sociais que desejam reproduzir a sociedade e as forças sociais que desejam transformar a sociedade. E alerta ainda, que a educação ambiental não pode mais continuar sendo considerada como algo à parte da dinâmica social, sob o risco de ocorrerem ações educativas pouco críticas da realidade, mesmo que bem-intencionadas, resultando em posturas politicamente conservadoras.

O Congresso de Belgrado, promovido pela União das Nações Unidas para a Educação (UNESCO) em 1975, definiu a Educação Ambiental como sendo um processo que visa:

[…] formar uma população mundial consciente e preocupada com o ambiente e com os problemas que lhe dizem respeito, uma população que tenha os conhecimentos, as competências, o estado de espírito, as motivações e o sentido de participação e engajamento que lhe permita trabalhar individualmente e coletivamente para resolver os problemas atuais e impedir que se repitam (SEARA FILHO, G. 1987).

No Capítulo 36 da Agenda 21, a Educação Ambiental é definida como o processo que busca:

[…] desenvolver uma população que seja consciente e preocupada com o meio ambiente e com os problemas que lhes são associados. Uma população que tenha conhecimentos, habilidades, atitudes, motivações e compromissos para trabalhar, individual e coletivamente, na busca de soluções para os problemas existentes e para a prevenção dos novos (BRASIL, 1996).

Existem ainda diversas formas de se definir a Educação Ambiental.

Dentre essas, destacam-se as definições levantadas por Donella Meadows (1994), por solicitação da Unesco e publicados em 1989:

É a preparação de pessoas para sua vida enquanto membros da biosfera;

É o aprendizado para compreender, apreciar, saber lidar e manter os sistemas ambientais na sua totalidade;

É a aprendizagem de como gerenciar e melhorar as relações entre a sociedade humana e o ambiente, de modo integrado e sustentável;

Significa aprender a empregar novas tecnologias, aumentar a produtividade, evitar desastres ambientais, minorar os danos existentes, conhecer e utilizar novas oportunidades e tomar decisões acertadas (PORTO, 1996, p. 25).

A Lei Federal nº 9.795 define a Educação Ambiental como: “o processo por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade” (art.1º, Lei Federal nº 9.795, de 27/4/99)

Para a Unesco:

Educação ambiental é um processo permanente, no qual os indivíduos a comunidade tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem conhecimentos, valores, habilidades, experiências e determinação que os tornam aptos a agir – individual e coletivamente – e resolver problemas ambientais presentes e futuros. (UNESCO, 1987).

Nesse sentido, a abordagem holística, preconizada pela Agenda 21 e pelo Programa Nacional de Educação Ambiental, mostra-se fundamental, como forma de evitar que os indivíduos e a sociedade tenham uma percepção e uma relação fragmentada com o meio ambiente. O seu enfoque deve buscar uma perspectiva mais sistêmica de ação, que relacione a natureza, o homem e o universo, diferentemente da perspectiva naturalista e/ou cartesiana, em que o homem percebe uma natureza representada somente pelos elementos naturais, a fauna, a flora, a água, o ar, os solos (NORONHA, 2005).

Salienta-se que o método cartesiano foi muito útil para propor soluções para problemas encontrados numa sociedade diferente da atual, na qual a preocupação estava muito mais voltada para a redução de fenômenos complexos a componentes básicos. No entanto, no mundo contemporâneo, o que se percebe é uma necessidade muito grande de inter-relação e interdependência nos diversos setores e áreas da vida.

Finalmente, a Educação Ambiental deve ser, acima de tudo, um ato político voltado para a transformação social. Formular uma educação ambiental que seja crítica e inovadora, em dois níveis: formal e não-formal, é o grande desafio do Educador Ambiental.

Qual Educador Ambiental?

Para Sorrentino (1998), os grandes desafios para os educadores ambientais são, de um lado, o resgate e o desenvolvimento de valores e comportamentos (confiança, respeito mútuo, responsabilidade, compromisso, solidariedade e iniciativa) e de outro, o estímulo a uma visão global e crítica das questões ambientais e a promoção de um enfoque interdisciplinar que resgate e construa saberes.

É necessário que o educador ambiental tenha uma atenção constante para inserir em suas ações, uma percepção crítica do processo educativo, fazendo parte de um organismo vivo e em expansão, e, ao mesmo tempo, estar conectado com o mundo do trabalho, com as organizações políticas e culturais mais avançadas que o seu grupo social desenvolve para dirigir a sociedade.

Guimarães (2004) acredita que o Educador Ambiental, como uma liderança que pretende contribuir para a superação dos problemas ambientais, não se contenta em promover ações pontuais, de caráter meramente informativo, como podem ser tratados os colóquios, as palestras, as capacitações, as exposições, as campanhas.

Esse processo educativo “[…] tem que ser potencializador, gerador de movimento, impulsionando o processo de transformação social. Um trabalho processual não é um sequenciamento de intervenções pontuais, principalmente quando estas se dão com a função exclusiva de informar” (GUIMARÃES, 2004, p. 139).

A metáfora da correnteza de um rio, mencionada por Guimarães (2004, p. 139), fala que “[…] se não houver, de nossa parte, um esforço para mudarmos de rumo, seremos empurrados e seguiremos na direção da correnteza” nos ajuda a reforçar o pensamento de que deve haver um esforço do educador ambiental no sentido de superar a inércia e não seguir um ‘caminho único’ da sociedade moderna, moldado pelos paradigmas dominantes. Ao educador ambiental cabe inserir-se na contra-correnteza dentro do movimento do rio, para criar como resultante uma nova dinâmica que poderá alterar o curso desse rio.

O educador ambiental que supera essa proposição busca, na compreensão da realidade socioambiental, na percepção do que movimenta a comunidade/sociedade, encontrar os caminhos de intervir. Intervenção para transformação da sociedade que, em sua intencionalidade, provoque movimentos de problematização, questionamentos e práticas de transformações de valores, hábitos e atitudes, individuais e coletivos, de forma que sejam inseridos no cotidiano daqueles (indivíduos em comunidade) que estão sofrendo a intervenção do processo educativo (GUIMARÃES, 2004, p. 139).

Cabe ao Educador Ambiental uma visão crítica que seja voltada para a transformação da sociedade, de seus modelos mentais, hábitos e valores, além das atitudes. Tais transformações podem se dar de forma expressiva, através da sinergia, em um movimento coletivo de intervenção, pois, sinergia significa, literalmente, trabalho conjunto. É o efeito multiplicador das partes de um sistema que alavanca o seu resultado global.

Segundo Lins (2003) é na natureza, onde a sinergia é freqüente e espontânea, que se encontram os melhores exemplos de efeitos sinérgicos, seja no ar que se respira, na água que se bebe, ou no sal que está presente nos mares.

Ao Educador Ambiental, como para qualquer outro Educador, faz-se necessário também, o exercício contínuo dos aprenderes, propostos pela Unesco:

[…] aprender a conhecer, isto é adquirir os instrumentos da compreensão; aprender a fazer, para poder agir sobre o meio envolvente; aprender a viver juntos, a fim de participar e cooperar com os outros em todas as atividades humanas; finalmente aprender a ser, via essencial que integra as três precedentes. (DELORS, 1998, p. 89-90).

O que mais se demanda de um Educador Ambiental é a capacidade de “aprender a aprender fazer”, de se comunicar com as comunidades envolvidas, de ter iniciativa, de inovar, trabalhar em equipe, desenvolvendo espírito cooperativo, de humildade, criatividade, determinação, ter intuição, saber resolver conflitos e ser flexível, ter entusiasmo com o que faz, e, acima de tudo, coragem para assumir uma certa dose de risco.

Para Morin (2001), o primeiro pilar “conhecer a conhecer” corresponde ao conhecimento do conhecimento”, que constitui um dos “sete saberes” necessários educação do futuro: conhecer o que é pertinente, aprender o global, o complexo, o contexto, relacionar o todo com as partes.

Segundo Morin (2001), o novo paradigma é a Terra, vista como uma única comunidade. É necessário educar para remover os obstáculos à compreensão humana, combatendo o egocentrismo, o etnocentrismo e o sociocentrismo, o antropocentrismo, que procuram colocar em posição subalterna questões relevantes para a vida das pessoas, da sociedade e do ambiente.

Mas será que todos aqueles que se propõem fazer educação ambiental comungam de um ideário ambiental comum?

A observação das diversas práticas ambientais atuais leva-nos a perceber um universo muito heterogêneo, no qual há uma grande variação das intencionalidades acerca do que seja a mudança ambiental desejada.

CONCLUSÃO

Estas reflexões nos levam a pensar quão grande é a transformação necessária educação e aos educadores ambientais de hoje ou nossos ‘mestres ecológicos do amanhã’. A sociedade precisa trabalhar urgentemente pela melhoria da educação de forma mais efetiva, formando cidadãos que possam, além de organizar o conhecimento, analisar o mundo a sua volta de forma crítica e, assim, ajudar a re-construir um planeta mais justo, mais sustentável e mais solidário.

O ‘ser ecológico’ em detrimento do ‘ter econômico’, a valorização da paz e do espírito que faz com que a maioria da humanidade consiga perceber a importância de outros valores, permitindose fazer uma relação do seu equilíbrio e bem-estar ao equilíbrio do todo e se transformar, então, em um cidadão comprometido com o mundo que o rodeia.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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15 de Outubro

EDUCAÇÃO AMBIENTAL DE CADA DIA

INTRODUÇÃO

Tudo começou muito, muito tempo atrás e levou muitos milhares de anos para acontecer de fato. Foi acontecendo aos pouquinhos e, há cerca de três bilhões e meio de anos, de alguma maneira, um grupo de moléculas produziu uma interação químico-física que possibilitou sua “auto catálise”, reproduzindo a si mesma, a partir das substâncias e energia disponíveis no AMBIENTE em que se encontrava. A partir deste momento a palavrinha sublinhada da sentença anterior tomou corpo e passou a ser importante, pois aquele fenômeno só se repete quando o ambiente é próprio.

Existe até um livro muito famoso, dizem até que foi o primeiro impresso de toda a história, que diz ter sido um “sopro” e, então, o fenômeno se realizou: “a vida”.

Desde então, aquele fenômeno – que não se sabe se ocorreu em um só local, se só naquela época, ou se em muitos locais e se ainda continua acontecendo em alguma parte deste universo que se descobre cada vez mais antigo e maior – que produziu aquele grupo de moléculas, que vêm se tornando mais complexo, criando membranas, corpúsculos e mais substâncias, agrupando-se, diferenciando-se, formando tecidos, órgãos, sistemas e organismos, até uma sofisticação incompreensível, tal que permite a elaboração deste texto por um ser criado a partir da evolução do que se formou naquele derradeiro momento inicial.

É incompreensível, também, entender o período de tempo que transcorreu de lá para cá, como tempo em si; falando assim, de 3 ou 4 bilhões de anos, até que não parece tanto, mas se quisermos pregar 3 bilhões de pregos e pensarmos em tudo o que isso significa, desde sua obtenção, começamos a perceber o tamanho deste número; como é incompreensível, também, entender o número e forma de organismos que se formaram desde então. Se buscarmos as revistas, jornais e livros que falam das espécies surgidas e desaparecidas, veremos que a quantidade de espécies e formas é grande o suficiente para lotarmos a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro com sua descrição, onde hoje existem mais de 4 milhões de volumes, outro numerinho.

O tempo é tão longo desde o “sopro” que, se para cada ano transcorrido, deslocássemos o Brasil em um centímetro em direção ao leste, daríamos quase uma volta completa no globo terrestre. E, o número de organismos que já viveram neste pequeno planeta é tão imenso que, se os colocássemos sobre a terra ao mesmo tempo, possívelmente teríamos uma camada de mais de cem metros de altura, incluíndo os mares e oceanos.

Houve mudanças ambientais naturais de alto impacto em cinco ocasiões, desde então. Todas elas levaram muito tempo para se concretizar e, mesmo assim, produziram catástrofes. Na última ocasião, até cerca de 30 mil anos, a Terra estava muito fria e a era glacial impunha condições especiais. Antes de iniciada a mudança, os animais tendiam a ter pequena relação entre superfície e volume do corpo para manterem energia e surgiram os mamíferos gigantes. Ao final da era glacial, há cerca de 20 mil anos, eles sucumbiram. Eram tigres, preguiças, mamutes, tatus e outros animais gigantescos, sem adaptação para o clima mais quente atual.

Os elefantes e outros animais africanos e asiáticos, de grande porte, sobreviveram porque sua pele se distendeu e perderam os pêlos, aumentando a relação da superfície do corpo em relação ao volume e reduzindo o efeito de isolamento térmico, ao contrário dos mamutes que tinham o couro plano e peludo, impedindo a dissipação de calor; por isso a pele dos elefantes e rinocerontes é enrugada.

Nossa espécie surgiu há míseros duzentos mil anos, isso é insignificante considerando-se a existência da vida na Terra, mas significou muito em termos de modificação do AMBIENTE. Até cerca de Dois Mil Anos atrás, foi quase tudo muito bem. O AMBIENTE mantinha-se próximo ao natural. Mas, repentinamente, Esta Espécie se desenvolveu e começou a se comparar a quem produziu o “sopro”, descobrindo e desenvolvendo sistemas para dominar o ambiente e modificá-lo, utilizando seus recursos intensivamente e multiplicando-se geometricamente.

Mal comparando, quem já viu um grande formigueiro de saúvas, daqueles decenários, e viu o quanto o sauveiro esgota as fontes de alimento ao seu redor, pode ter uma idéia do que estamos fazendo com o planeta. Mas as saúvas não têm o poder de raciocínio, enquanto há uns duzentos anos, algumas pessoas começaram a se preocupar com o esgotamento dos recursos para a civilização.

Um dos documentos mais antigos que se conhece é o conceito de sustentabilidade florestal emitido em 1713 por CARLOWITZ apud GROBER2 que preocupado com o esgotamento das florestas e aumento dos preços da madeira na região de Freiberg onde fica Silberstad, cidade onde morou a partir de 1690, publicou “Sylvicultura Oeconomica”, do qual se pode extrair alguns de seus pensamentos: “o povo tem direito à alimentação e manutenção, a exploração exagerada dos recursos destroi a prosperidade, a economia deve servir à comunidade; a natureza deve ser obrigatóriamente utilizada com base nas suas características naturais para o bem estar da população, manejada e conservada com cuidado e com a responsabilidade de deixar um bom legado para as futuras gerações; a plantação e manutenção das florestas deve ser feita de maneira que garanta sua continuidade e se tornem sustentáveis para aproveitamento futuro.”

CRONOLOGIA

Deixando de lado as reflexões dos filósofos gregos sobre ética, educação e ambiente, relaciona-se os passos da humanidade e dos brasileiros, neste sentido, nos últimos três séculos, conforme diversos documentos sobre o assunto:

1713 – Hanns Carl Edler von Carlowitz publica “Sylvicultura Oeconomica” com o primeiro texto conhecido sobre sustentabilidade.

1850 – D. Pedro II, Imperador do Brasil, proíbe a exploração de florestas nas novas terras descobertas.

1863 – Thomas Huxley publica “O Lugar do Homem na Natureza”.

1864 – George P. Marsh publica “O homem e a natureza”.

1932 – Realizado o 1º Congresso Internacional para a Proteção da Natureza, em Paris.

1948 – Criada a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUPN).

1949 – Aldo Leopoldo publica uma série de Artigos sobre ética no uso dos recursos da terra. Realizada a 1ª Conferência das Nações Unidas sobre Utilização de Recursos.

1961 – Um grupo de cientistas preocupados com a devastação da natureza cria a 1ª ONG ambiental na Suíça, o Fundo Mundial para a Vida Selvagem (WWF – Worl Wildlife Fund).

1962 – Rachel Carson publica o livro “Primavera Silenciosa” como um alerta sobre os danos das ações humanas sobre o ambiente.

1968 – Fundada a primeira organização governamental responsável pela educação ambiental de maneira formal conhecida, o Conselho para Educação Ambiental do Reino Unido. É criado o Clube de Roma (Reunião de 30 especialistas de várias áreas para discutir a crise presente e futura).

1970 – A revista britânica “The Ecologist” publica o “Manifesto para Sobrevivência”, alertando para a finitude dos recursos naturais.

1971 – Jean Dorst, Vice-Presidente da Comissão de Preservação, da União Internacional para a Conservação da Natureza, publica o livro traduzido para o português como “Por uma Ecologia Política – Antes que a Natureza Morra”, fazendo uma análise do contexto Homem versus Ambiente que pode ser usado até hoje como roteiro para análise das questões ambientais. Realizada a primeira ação do Greenpeace em protesto contra testes nucleares na ilha Amchitka no Alasca.

1972 – Ocorre a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, em Estocolmo, reunindo 113 países. Como conseqüência, além da declaração gerada na conferência, a ONU criou o Programa das Nações Unidas para o MeioAmbiente – PNUMA, sediado em Nairobi. O clube de Roma produz o relatório “Os Limites do Crescimento Econômico” fazendo a primeira recomendação de ações para conservação ambiental a nível global. A Universidade Federal do Rio Grande do Sul cria o primeiro curso de pós-graduação em Ecologia do país.

1975 – Em resposta às recomendações da Conferência de Estocolmo, A UNESCO promove o Encontro Internacional em Educação Ambiental em Belgrado, onde foi criado o Programa Internacional de Educação Ambiental – PIEA, quando foram formulados seus princípios e diretrizes, indicando que os caracteres de continuidade da Educação Ambiental e da sua multidisciplinaridade, devem ser integrados às diferenças regionais e voltados para os interesses nacionais. O encontro gerou a “Carta de Belgrado” que aborda o aspecto ético da civilização em relação ao ambiente.

1976 – Criados os cursos de pós-graduação em Ecologia nas Universidades do Amazonas, Brasília, Campinas, São Carlos e o Instituto Nacional de Pesquisas Aéreas – INPA em São José dos Campos.

1977 – Realiza-se a 1ª Conferência Intergovernamental da Educação Ambiental, em Tbilisi (ex- URSS), organizada pela UNESCO com apoio do PNUMA, como parte da primeira fase do Programa Internacional de Educação Ambiental, iniciado em 1975. Na conferência foram definidos os objetivos, diretrizes e estratégias para a Educação Ambiental. No Brasil, a disciplina “Ciências Ambientais” passou a fazer parte do currículo dos cursos de Engenharia.

1978 – As matérias de Saneamento Básico e Saneamento Ambiental começam a fazer parte do currículo de alguns cursos de Engenharia Sanitária.

1979 – UNESCO e PNUMA realizam o Seminário de Educação Ambiental para a América Latina na Costa Rica.

1984 – ocorre o 1º Encontro Paulista de Educação Ambiental.

1985 – O parecer 819/85 do MEC reforça a necessidade da inclusão de conteúdos ecológicos ao longo do processo de formação do ensino de 1º e 2º graus, para possibilitar a “formação da consciência ecológica do futuro cidadão”.

1987 – Ocorre o Congresso Internacional sobre Educação e Formação Relativas ao Meio-ambiente, em Moscou, promovido pela UNESCO, resultando no documento “Estratégia Internacional de ação em matéria de educação e formação ambiental para o decênio de 90”, que ressalta a importância da formação de recursos humanos nas áreas formais e não formais da Educação Ambiental e na inclusão da dimensão ambiental nos currículos de todos os níveis. No Brasil, o Conselho Federal de Educação decide como necessária a inclusão da Educação Ambiental dentre os conteúdos das propostas curriculares das escolas de 1º e 2º graus e sugeria a criação de Centros de Educação Ambiental. Lançado o relatório Brundtland “Nosso Futuro Comum”.

1988 – É incluído na Constituição da República Federativa do Brasil, o Capítulo VI, dedicado ao Meio Ambiente que, no Art. 225, Inciso VI, determina que o Poder Público deve promover a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino.

No Rio Grande do Sul, é realizado o Primeiro Congresso Brasileiro de Educação Ambiental. Em São Paulo é realizado o Primeiro Fórum de Educação Ambiental promovido pela CECAE/USP, mais tarde assumido pela Rede Brasileira de Educação Ambiental.

1989 – Realizada a 3º Conferência Internacional sobre Educação Ambiental para as Escolas de 2º Grau com o tema Tecnologia e Meio Ambiente, em Illinois, USA.

1990 – Aprovada, na Conferência Mundial sobre Educação para Todos, realizada em Jontien, Tailândia, de 5 a 9 de março, a Declaração Mundial sobre Educação para Todos: Satisfação das Necessidades Básicas de Aprendizagem, que reitera:

“confere aos membros de uma sociedade a possibilidade e, ao mesmo tempo, a responsabilidade de respeitar e desenvolver a sua herança cultural, lingüística e espiritual, de promover a educação de outros, de defender a causa da justiça social, de proteger o meio ambiente….”

1991 – MEC determina, através da Portaria 678/91, que a educação escolar deve contemplar a Educação Ambiental permeando todo o currículo dos diferentes níveis e modalidades de ensino, enfatizando a necessidade de investir na capacitação de professores. Adicionalmente, institui em caráter permanente, através da Portaria 2421/91, um Grupo de Trabalho de EA com o objetivo de definir com as Secretarias Estaduais de Educação, as metas e estratégias para a implantação da EA no país e elaborar proposta de atuação do MEC na área da educação formal e não-formal para a Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento.

MEC e SEMA promovem, ainda, o Encontro Nacional de Políticas e Metodologias para a Educação Ambiental, com apoio da UNESCO e Embaixada do Canadá em Brasília, com a finalidade de discutir diretrizes para definição da Política da Educação Ambiental.

1992 – Realizada a Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento, a ECO-92, no Rio de Janeiro, que resultou na elaboração da Agenda 21, entre outros documentos. Depois, o MEC promoveu, em Jacarepaguá, um workshop com o objetivo de socializar os resultados das experiências nacionais e internacionais de Educação Ambiental para discutir metodologias e currículos, resultando na Carta Brasileira para a Educação Ambiental.

1993 – O MEC institui através da Portaria 773/93, em caráter permanente, um Grupo de Trabalho para EA com o objetivo de coordenar, apoiar, acompanhar, avaliar e orientar as ações, metas e estratégias para a implementação da EA nos sistemas de ensino em todos os níveis e modalidades, concretizando as recomendações aprovadas na ECO-92.

1994 – Elaborada pelo MEC/MMA/MINC/MCT a proposta do Programa Nacional de Educação Ambiental – PRONEA, com o objetivo de “capacitar o sistema de educação formal e não-formal, supletivo e profissionalizante, em seus diversos níveis e modalidades.”

1995 – Criada a Câmara Técnica temporária de Educação Ambiental no Conselho Nacional de Meio Ambiente – CONAMA, para fortalecimento da Educação Ambiental.

1996 – Editada a Lei nº 9.276/96, que estabelece o Plano Plurianual do Governo 1996/1999, definindo como principais objetivos da área de Meio Ambiente a “promoção da Educação Ambiental, através da divulgação e uso de conhecimentos sobre tecnologias de gestão sustentável dos recursos naturais”, procurando garantir a implementação do PRONEA. A Coordenação de Educação Ambiental promove 3 cursos de Capacitação de Multiplicadores em Educação Ambiental – apoio do Acordo BRASIL/UNESCO, a fim de preparar técnicos das Secretarias Estaduais de Educação, Delegacias Regionais de Educação do MEC e algumas Universidades Federais, para atuarem no processo de inserção da Educação Ambiental no currículo escolar.

1997 – Ocorre a Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Sociedade: Educação e Consciência Pública para a Sustentabilidade, em Thessaloniki, onde houve o reconhecimento que, passados cinco anos da Conferência Rio-92, o desenvolvimento da EA foi insuficiente. Entretanto esse encontro foi beneficiado pelos numerosos encontros internacionais realizados em 1997 na Índia, Tailândia, México , Cuba, Brasil, Grécia entre outras.

O Brasil apresentou o documento “Declaração de Brasília para a Educação Ambiental”, consolidado após a I Conferência Nacional de Educação Ambiental – CNEA. Reconhece que a visão de educação e consciência pública foi enriquecida e reforçada pelas conferências internacionais e que os planos de ação dessas conferencias devem ser implementados pelos governos nacionais, sociedade civil (incluindo ONGs, empresas e a comunidade educacional), a ONU e outras organizações internacionais. São elaborados os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs com o tema “Convívio Social, Ética e Meio Ambiente”, onde a dimensão ambiental é inserida como um tema transversal nos currículos do Ensino Fundamental. A Coordenação de Educação Ambiental do MEC promove 7 Cursos de Capacitação de Multiplicadores e 5 Teleconferências.

1998 – A Coordenação de Educação Ambiental do MEC promove 8 Cursos de Capacitação de Multiplicadores, 5 teleconferências, 2 Seminários Nacionais e produz 10 vídeos para serem exibidos pela TV Escola. Ao final deste ano, a Coordenação de Educação Ambiental é inserida na Secretaria de Ensino Fundamental – SEF no MEC, após reforma administrativa. É realizado o Encontro das Lideranças em Kioto sobre o Aquecimento Global.

1999 – Promulgada a Lei nº 9.795, em 27 de abril, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental, com previsão de regulamentação após as discussões na Câmara Técnica Temporária de Educação Ambiental no CONAMA. É editada a Portaria 1648/99 do MEC que cria o Grupo de Trabalho com representantes de todas as suas Secretarias para discutir a regulamentação da Lei nº 9795/99. O MEC propõe o Programa “PCNs em Ação”, atendendo às solicitações dos Estados. O Meio Ambiente é definido como um dos temas transversais a serem trabalhados no ano 2000.

ÉTICA AMBIENTAL

O conceito de sustentabilidade de CARLOWITZ levou quase três séculos para ser disseminado a todas as áreas produtivas, mas começa a se formar uma nova ética baseada na preocupação com o legado que deixaremos para nossos filhos.

A preocupação quanto aos aspectos éticos relacionados ao ambiente e à formação do pensar do ser humano, vem tomando corpo desde a Antigüidade e fica bem caracterizada entre as recomendações da Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental aos Países Membros promovida pela ONU em Tbilisi, CEI, de 14 a 26 de outubro de 1977 onde se encontra a seguinte:

“…ainda que seja óbvio que os aspectos biológicos e físicos constituem a base natural do meio humano, as dimensões socioculturais e econômicas, e os valores éticos definem, por sua parte, as orientações e os instrumentos com os quais o homem poderá compreender e utilizar melhor os recursos da natureza com o objetivo de satisfazer as suas necessidades.”

É fundamental que se busque a ética para a conservação da natureza, com o reforço que a educação formal e não formal possam dar, como fator crucial à sobrevivência da nossa própria espécie.

Alguns dos principais documentos produzidos pela sociedade e que norteiam a maioria das ações neste sentido são:

A Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente Humano – Estocolmo – 1972;

A Carta de Belgrado – 1975*;

As recomendações da Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental – Tbilisi – 1977*;

O Capítulo VI da Constituição Federal – 1988*;

O Capítulo 36 da Agenda 21 – 1992*;

O Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global – 1992*;

A declaração da 1ª Conferência Nacional de Educação Ambiental – Brasília – 1997 (Declaração de Brasília para a Educação Ambiental)*;

O documento: Implantação da Educação Ambiental no Brasil – 1998; Publicação da COEA que fala sobre a história e os principais momentos da educação ambiental no Brasil até 1998*;

Textos da Série Educação Ambiental do Programa Salto para o Futuro – Livro publicado em 2000*.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL (EA)

Conhecer o passado é relevante para se situar no assunto, mas é de suma importância procurar entender o pensamento expresso nos diversos documentos gerados pelos atores envolvidos nos mais diferentes estágios do pensamento humano com relação educação para conservação e uso sustentável dos recursos naturais; um dos principais é a Apresentação dos temas transversais: Ensino de quinta a oitava séries, dos Parâmetros Curriculares Nacionais, onde se encontra o seguinte:

“A educação para a cidadania requer que questões sociais sejam apresentadas para a aprendizagem e a reflexão dos alunos, buscando um tratamento didático que contemple sua complexidade e sua dinâmica, dando-lhes a mesma importância das áreas convencionais.

Com isso o currículo ganha em flexibilidade e abertura, uma vez que os temas podem ser priorizados e contextualizados de acordo com as diferentes realidades locais e regionais e que novos temas sempre podem ser incluídos. O conjunto de temas aqui proposto — Ética, Meio Ambiente, Pluralidade Cultural, Saúde, Orientação Sexual, Trabalho e Consumo — recebeu o título geral de Temas Transversais, indicando a metodologia proposta para sua inclusão no currículo e seu tratamento didático.

Esse trabalho requer uma reflexão ética como eixo norteador, por envolver posicionamentos e concepções a respeito de suas causas e efeitos, de sua dimensão histórica e política.

A ética é um dos temas mais trabalhados do pensamento filosófico contemporâneo, mas é também um tema que escapa aos debates acadêmicos, que invade o cotidiano de cada um, que faz parte do vocabulário conhecido por quase todos.

A reflexão ética traz à luz a discussão sobre a liberdade de escolha. A ética interroga sobre a legitimidade de práticas e valores consagrados pela tradição e pelo costume. Abrange tanto a crítica das relações entre os grupos, dos grupos nas instituições e ante elas, quanto à dimensão das ações pessoais.

Trata-se portanto de discutir o sentido ético da convivência humana nas suas relações com várias dimensões da vida social: o ambiente, a cultura, o trabalho, o consumo, a sexualidade, a saúde.”

Os questionamentos que resultam da compreensão da situação atual com relação ao estado em que se encontra a biosfera são, principalmente, com relação ao legado que iremos deixar aos nossos descendentes. Que mundo queremos para eles? A geração atual tem o direito de poluir a biosfera e promover o esgotamento dos recursos naturais para seu bem estar, em detrimento das próximas gerações? Conforme VEIGA NETO (1994), as respostas são conhecidas por todos nós; e pode-se acrescentar: se não fossem conhecidas, não teríamos uma história sobre EA para contar, pois não estaríamos preocupados com os resultados das nossas ações.

Se, no período inicial da colonização americana, tivéssemos a consciência ética de hoje, não haveria tantas espécies em risco de extinção no continente.

Ainda, há poucas décadas passadas, caçávamos animais silvestres e destruíamos florestas sem nenhum remorso ou preocupação; competíamos nas caçadas para ver quem matava mais e depois saboreávamos uma farta perdizada com espaguete ao molho escabeche, com o maior prazer e, até hoje, sentimos a boca salivar pelo que já não existe mais. De outro lado, temos consciência de que isso não é ético nos tempos atuais e que temos de procurar outros prazeres de viver, sempre com vistas a evitar a sobrecarga que, infelizmente, impusemos ao ambiente que vamos deixar como legado.

O homem é apenas uma dos milhões de espécies existentes e os milhões que existem hoje são somente uma ínfima fração das que já existiram. Quanto tempo vamos sobreviver como espécie? Algumas sobrevivem ainda hoje, com mais de uma centena de milhões de anos, verdadeiros fósseis vivos; poderemos chegar lá também? – Talvez sim, se procurarmos manter a biosfera em condições de nos sustentar.

A história que o homem produziu, primeiro como coletor, depois como transformador e depois de destruição, voltando a querer a saúde, beleza e paz do natural, assim como a paz com a própria consciência, seguiu alguns passos até a EA, que podem ser resumidos como segue:

1° – Foi constatado e se tomou ciência de que tudo se esgota e se deteriora com o tempo e que o homem é um fator de aceleração destes processos;

2° – Tem-se desenvolvido tecnologias de recuperação, reutilização, reciclagem e economia para retardar o esgotamento dos recursos naturais;

3° – Determinou-se a necessidade de mudar a cultura de consumismo e desprezo dos aspectos negativos da civilização sobre o ambiente através da educação, a que se chamou de Educação Ambiental;

4° – Está sendo formada uma nova ética com relação ao ambiente em que vivemos, mais compatível com a sustentabilidade;

5° – Educação Ambiental é, portanto, responsabilidade de cada pessoa, à medida que desenvolve novos conceitos e os divulga, criando-se novos paradigmas que envolvem o modo de vida da população de forma a preservar a biosfera.

A mudança cultural que se deseja produzir com a EA passa por diversas fases seqüênciais, como em qualquer outro processo de mudanças de comportamento que, de acordo com HERSEY & BLANCHARD (1986), são as seguintes: a primeira fase, mais rápida e fácil, é a mudança de conhecimento, que é a mais fácilmente executada e controlada pelo educador; depois ocorre uma mudança de atitude interna em cada indivíduo através do conhecimento adquirido, que já não depende de quem deseja operar a mudança e leva algum tempo enquanto o indivíduo recebe cada vez mais informações, a seguir operam-se mudanças de comportamento individual devido ao convencimento de que é necessário e possível; e, finalmente, ocorrem as mudanças de desempenho coletivo quando uma boa parcela da população muda de comportamento. Mas a alimentação com novas informações durante todo o processo é que desempenha o papel de manter acesa a chama; quanto mais constante, mais rápida e mais forte é a mudança.

Portanto, eventos periódicos são importantes, mas não são eficazes; a tecla batida dia após dia é que opera o processo de mudança cultural.

Pode-se dizer, em síntese, que cabe a cada um de nós encontrar os caminhos para melhorar a forma de uso dos recursos disponíveis para a civilização e evitar o seu esgotamento, divulgando isso a todos, continuamente, através de um processo que desenvolvemos e chamamos de Educação Ambiental, com o objetivo de transformar a cultura, para garantir o bem estar da nossa e das futuras gerações – esta é a ética atual. A teoria de como isso deve ser realizado foi desenvolvida e está em muitas obras de, talvez, milhares de autores. Mas a prática tem sido uma dúvida constante.

Escolas criam semanas de meio ambiente, ONGs desenvolvem trabalhos com comunidades e organizam eventos, governos desenvolvem projetos de recuperação ambiental e tratamento de rejeitos, universidades criam cursos de pósgraduação, etc. Mas que conteúdo está sendo passado e que consciência está sendo formada?

As características de multidisciplinaridade, transversalidade e interdisciplinaridade da EA têm sido apregoadas aos quatro cantos, palavras complexas que tornam a EA um bicho de sete cabeças, mas não o é. EA é simples e não necessita de projetos mirabolantes, apenas de um pouco de criatividade para demonstrar, através de cada área do conhecimento, como o mundo realmente é e que respostas dá às ações do homem. Isso deve ser realizado diáriamente até que se torne um hábito como o de comer pão, ou mesmo involuntário como o de respirar.

Todo assunto pode ter aspectos de EA implícitos que podem ser usados pelo educador e assim ter-se-á a “Educação Ambiental Nossa de Cada Dia”, não somente naquele dia ou naquela semana dedicada ao meio ambiente, aliás, basta de meio, é necessário tratar do ambiente por inteiro: alguém fala meio ambiental? – Não! E é simples de entender, porque são duas palavras que expressam um só sentido, mas habituou-se a chamar de meio ambiente àquele bonito das florestas e praias selvagens, às savanas africanas e seus animais, enquanto nosso lar é a outra metade que não é visto como parte do meio ambiente, como se o homem não fosse só mais um animal sobre a terra só porque constrói edifícios e fábricas. Entretanto, quando se fala a palavra ambiente sozinha, nos vemos como parte dele. É tempo de entender que o nosso lar é parte do AMBIENTE que nos cerca e deve ser tratado conforme os princípios de CARLOWITZ para deixarmos um legado não em tão más condições como o estamos tornando.

É tempo de parar, também, com a história de que cuidar do ambiente é reciclar o lixo e tratar o esgoto, são problemas a serem resolvidos sim, mas é um ínfimo grão do que se deve plantar sobre os cuidados com a biosfera para alimentar toda a população durante centenas de milhares (ou milhões) de anos. Se alguém acredita que tratar os resíduos da civilização resolverá todos os problemas ambientais, está completamente enganado. Os problemas ambientais têm a ver com os ciclos da matéria e energia neste planeta; e, além dos ciclos naturais, o homem criou outros tantos, mas enquanto a natureza tratou ela mesma de criar ciclos que se renovam, o homem criou linhas de produção que tem um ponto crítico final, quase impedindo a renovação.

Se tratar dos rejeitos e realizar eventos não é suficiente, o que é que se deve ensinar com o intúito de que a civilização tome consciência dos cuidados que se deve ter com o ambiente? – Veja respostas nos próximos capítulos.

EA E OS CICLOS DA MATÉRIA

Pode-se começar a tratar da EA pelos ciclos da matéria, levando em consideração aquelas três palavrinhas difíceis: multidisciplinaridade, transversalidade e interdisciplinaridade.

CICLOS NATURAIS DA MATÉRIA

Um dos ciclos que se deve abordar e de mais fácil compreensão é o da água. Todos o conhecem, ou o entendem rapidamente quando exposto em diagramas.

A água líquida evapora com o calor do sol, forma núvens que vão se condensando até que o ar fica excessivamente úmido e formam-se gotas que se unem pela atração natural da matéria, ficando cada vez mais pesadas, até que caem na forma de chuva, neve ou granizo, escorrendo e penetrando pelo solo, formando nascentes, rios, lagos e escoando até os mares, enquanto vai evaporando novamente e formando novas núvens que irão precipitar outra vez. Neste interim, a água dissolve o gás carbônico do ar e se combina com ele formando ácido carbônico que cai com a chuva e penetra nas rochas auxiliando na dissolução das mesmas e na sua conseqüente desagregação e formação dos solos.

A água escorrendo sobre a terra e com o efeito solvente dela própria e do ácido carbônico, carreia substâncias químicas consigo, que alimentam os vegetais nos solos e rios e outros corpos d’água, chegando ao oceano que desde sua formação há 4 bilhões de anos vem sendo alimentado com os sais das rochas e por isso suas águas são salgadas.

Bem, vamos decidir sobre o PROFESSOR de que DISCIPLINA deve ensinar o ciclo da água de acordo com as características que se descreveu: TODOS. No ciclo da água estão implícitas todas as áreas do conhecimento. Veja bem, este é o ciclo mais simples e precisamos de especialistas em todas as áreas do conhecimento para explicá-lo em todas suas nuances.

É possível ver o professor de física ensinando os estados e forças de atração da matéria através do ciclo da água e sobre hidrelétricas, o de química falando sobre soluções, análise e combinação, o de biologia sobre nutrição, limnociclo e talassociclo, o de matemática sobre volumes e funções, o de história sobre navegação, o de geografia sobre formação do relevo, etc… e, por fim o de português solicitando uma redação sobre ciclos da natureza e falando sobre o uso de radicais greco-latinos na formação das palavras usadas nas ciências.

E os outros ciclos: do Carbono, Nitrogênio, Fósforo, etc, que ocorrem em cada tipo de comunidade terrestre e aquática. Todos são, também, afetos às várias áreas do conhecimento. Os ciclos da matéria tem um só problema para serem ensinados: eles precisam ser do conhecimento dos professores. A implantação de um programa efetivo de EA implica num primeiro passo imprescindível: a capacitação profissional dos educadores.

Suponha-se que os educadores estejam capacitados para ministrar EA, conhecendo os ciclos da matéria em cada área do conhecimento. Resta saber para quê ensinar isso; o que é que isso tem a ver com Educação Ambiental? – Pode-se afirmar que isto é a verdadeira EA. Ensinando como a natureza funciona em todos os seus aspectos é dada condição às pessoas de saber como tratá-la, pois só é possível cuidar daquilo que se conhece; a ignorância nos levou ao risco de esgotamento dos recursos e à extinção de espécies pela nossa mão.

OS CICLOS DE VIDA DE PRODUTOS DA CIVILIZAÇÃO

O primeiro contato com a análise do ciclo de vida de um produto qualquer da civilização é uma experiência marcante. Se bem conduzido e enraizado na cultura de um povo, para muitas pessoas, passa a ser um hábito o “quer saber de onde saiu e para onde vai”. Já começa a ser parte da cultura da União Européia (UE), tanto que as normas da série ISO 14000 são contempladas com uma subsérie sob o título de Análise do Ciclo de Vida, incluída principalmente por força de países da UE.

Dois exemplos resumidos podem ser citados para orientação de como o assunto pode ser abordado em sala de aula: parafusos e papel para escrever. De onde vêm? Para onde vão? Por quais processos passam? Quê insumos são necessários para produzí-los (químicos e energia)? Que problemas ambientais são decorrentes da obtenção do produto in natura, transporte para indústria, purificação, transformação e moldagem industrial, embalagem, armazenamento, distribuição, comércio, uso pelo consumidor, disposição final e reciclagem? O que se faz para evitar ou reduzir os impactos causados? Quê benefícios trazem para a civilização? Quê substitutivos há? Há vantagens nos substitutivos? – Todas são perguntas a serem feitas e que levam o aluno a formar um espírito de investigação e questionamento de questões relevantes para o ambiente. Ainda existem poucas análises do ciclo de vida de produtos, mas as existentes são suficientes para iniciar um trabalho de grande repercussão positiva para o ambiente no futuro.

PARAFUSOS

Parafusos são feitos de aço (mistura de ferro e carbono e alguns outros metais pesados em alguns casos).

O ferro é um recurso não renovável e dos metais mais comuns da crosta terrestre encontrado em minas exploráveis. O processo de produção inicia com a pesquisa das minas e posterior lavra do minério de ferro. As minas necessitam ser recuperadas, utilizando-se terra e outros materiais e nutrientes para formar um solo artificial sobre a rocha nua resultante da mineração, depois pode ser realizada uma mistura de sementes de espécies diversas que ocorrem na região da mina e o solo é inoculado com elas, ou se produz mudas em viveiros para posterior plantio na área minerada que já recebeu uma camada de solo como cobertura. A exploração do minério é realizada com explosões de dinamite colocada em perfurações realizadas com brocas apropriadas, como numa pedreira. Montanhas inteiras são removidas e levadas para a indústria.

O carbono é usado em forma de coque e sua produção é realizada em fornos especiais a partir de carvão vegetal ou mineral, com resíduos como cinzas e alcatrão e gases que necessitam de filtragem. O carvão vegetal para produção de aço, no Brasil, vem da madeira de eucalipto produzido em vastas plantações comerciais. O carvão mineral é importado, pois as minas brasileiras não tem carvão com a qualidade e pureza necessária para siderurgia.

O processo de produção do aço é realizado em siderurgicas que usam muita água, energia e produtos corrosivos, com rejeitos de toda espécie (gases, efluentes líquidos e resíduos sólidos, inclusive metais pesados e ácidos fortes – quase todos tóxicos e reativos) que necessitam de todo tipo de filtro e, em alguns casos, de áreas especialmente preparadas para disposição final.

Da siderurgia, o aço vai para moldagem e tornearia onde são fabricados os parafusos, com produção de resídos reaproveitáveis e outros não, que necessitam de tratamento adequado e locais proprios para disposição final. São embalados em caixas pláticas, de papel, madeira ou metal ou em containers metálicos à granel para uso industrial. As indústrias entregam as embalagens em grandes lotes que são distribuídos a longas distâncias por via rodoviária em todo o país.

Parafusos são utilizados em praticamente todos os produtos compostos por peças, como veículos, móveis, eletrodomésticos e na construção civil. A grande maioria vira sucata após o uso, com bom percentual de reaproveitamento e de reciclagem, mas enquanto dispostos em ferros-velhos estão enferrujando e contaminando o solo. Uma pequena percentagem vira entulho ou vai para o lixo e outra parte muito pequena, mas significativa ao longo do tempo, é perdida disseminadamente em todo o ciclo de vida, contaminando todo o ambiente com metais pesados através do processo de enferrujamento e dissolução na água das chuvas, por simples descuido das pessoas.

Parafusos, praticamente, não tem substitutivos e vêm facilitando as atividades produtivas do homem desde a invenção da rosca sem fim por Leonardo da Vinci. Onde o homem está, há parafusos por toda a parte e é quase impossível imaginar a civilização moderna sem eles.

Saber disso auxilia no cuidado com o ambiente? – Certamente, da próxima vez que for usar, ou jogar fora um parafuso, aquele que tomou conhecimento irá saber o que é certo ou errado, mas a escolha do quê fazer depende de cada um.

PAPEL BRANCO DE ESCREVER E IMPRIMIR

O papel branco de escrever e imprimir, no Brasil, é produzido a partir de madeira de eucalipto na quase totalidade. O cultivo de eucalipto pode ser considerado uma lavoura, uma monocultura como outra qualquer, com adubação, irrigação, uso de agrotóxicos para combater ervas, pragas e doenças, etc; com todas as conseqüências ambientais que a percolação de adubos e agrotóxicos possam ter para o subsolo e para as águas superficiais. Nas plantações de eucalipto devem ser tomados os cuidados necessários para conservação do solo e da sua fertilidade, assim como com as vias de acesso, para não serem erodidas pelas chuvas.

A colheita do eucalipto envolve operações onde são usadas máquinas para corte das árvores, traçamento da madeira, baldeio e carregamento para posterior transporte para a fábrica em caminhões. As fábricas descascam e transformam a madeira em cavacos, usando as cascas para geração de energia em caldeiras e os cavacos são cozidos em autoclaves gigantescas. A transformação da madeira nas indústrias produtoras de celulose e posterior fabricação do papel envolve o uso de muita água, energia e produtos químicos como ácido sulfúrico, calcário, soda cáustica, caulim, oxigênio, hipoclorito de sódio e outros em menor quantidade, que nas fábricas modernas são quase todos reciclados ou incorporados ao papel.

Os principais rejeitos são o gás sulfídrico que escapa em quase todo o processo de produção da celulose e o efluente líquido com alto teor orgânico e substâncias químicas usadas no processo de fabricação, que necessita de tratamento para depois ser incorporado ao corpo d’água receptor.

A distribuição é realizada, das fábricas para o consumidor, por via rodoviária em todo o território brasileiro.

O papel tem sido substituido, parcialmente, pelos meios eletrônicos de armazenagem e transmissão de dados. Na verdade os meios eletrônicos incrementaram estas duas atividades consideravelmente além do que se poderia fazer através do papel. Não é possível imaginar como fazer tudo o que é feito através da rede mundial de computadores (internet) por meios físicos de armazenagem e transmissão de dados. Os limites para a substituição são o hábito das pessoas em ler documentos impressos e os custos envolvidos no acesso à tecnologia por todas as camadas da população.

A reciclagem do papel no nosso país não atingiu os níveis desejáveis, está longe disso. Uma tonelada de celulose tem um preço histórico em torno de quinhentos dólares americanos (US$ 500.00). No papel reciclado este custo é repassado parcialmente às operações desde a coleta até a porta da fábrica, sendo que o valor do papel reciclado é menor que do original.

Numa tonelada de papel, dependendo do caso, estão de três a sete toneladas de madeira com casca. Isto significa que para cada 5 toneladas de papel é necessário cerca de um hectare de floresta de eucalipto, ou 500g/m², ou ainda, 5 gramas por decímetro quadrado. Uma folha de papel pesa algo em torno de 5 gramas, pense nisso quando for desperdiçar a próxima folha de papel, você estará destinando um decímetro quadrado de terras, durante um ano, para plantações de eucalipto, não é o fabricante que faz isso, é VOCÊ.

EA E OS CICLOS NATURAIS

Cadeias tróficas e ciclo de vida de animais e plantas podem ser abordados através da projeção de imagens de gráficos e fotografias ilustrativos com certa facilidade. Conhecer os ciclos naturais é essencial para identificar os pontos críticos e onde o homem cria problemas. O acúmulo de toxinas nas cadeias tróficas é um exemplo que pode ser considerado e pode ser abordado tanto na física, quanto na matemática ou na biologia.

Outro exemplo, mais complexo, é o de fixação do carbono pelos seres vivos e conseqüente redução de sua presença na atmosfera, gerando ciclos de longa duração que podem durar milhares e até milhões de anos. Existe a suspeita de que antes da última glaciação o teor de CO2 na atmosfera foi diminuindo tanto até que a radiação solar não ficava presa na atmosfera, reduzindo exageradamente o efeito estufa, então as populações de seres vivos foram reduzindo, morrendo devido ao frio e carência de alimentos e entrando em decomposição, liberando novamente o CO2 para o ar que voltou a se aquecer até que acabou a glaciação.

Atualmente o homem está liberando CO2 em excesso para a atmosfera, provocando um superaquecimento de conseqüências imprevisíveis para a vida na terra.

EA E AS TRANSFORMAÇÕES DA PAISAGEM

O homem pré-histórico abria espaços nas florestas para plantações, na antiguidade e idade média já arava a terra, construia estradas, diques e cidades.

Na idade moderna ampliou estas atividades e na idade contemporânea passou a produzir todo tipo de alteração, aterrando áreas marítimas, dreenando grandes áreas alagadas, mudando o curso de rios, construíndo grandes barragens, a tal ponto de provocar desertificação de terras férteis e até a redução do mar de Araal na Ásia a uma pequena percentagem da sua superfície original, chegando a haver navios encalhados distantes mais de um quilômetro da água.

Às vezes, também, há transformações benéficas, fixando barras, regulando o regime dos rios, criando ambientes cultiváveis em desertos, mudando paisagens inóspitas em belas áreas de lazer.

O importante é aprender a ocupar os espaços e modificá-los de forma planejada para que se tornem funcionais em todos os aspectos.

A metodologia de análise e planejamento da paisagem pode ser adequada para fazer parte dos currículos das matérias tradicionais de ensino regular.

EA E OS ESPAÇOS NATURAIS

Espaços naturais são necessários, não só para conservação do patrimônio genético natural, como também para pesquisa, educação e laser. As funções dos espaços naturais tem de ser planejadas de acordo com suas aptidões e são regulados pela Lei N° 6.938/81 e pelo Código Florestal Brasileiro. Espaços naturais são adequados, principalmente, para ensino prático de biologia e geografia.

EA E OS ESPAÇOS RURAIS ANTRÓPICOS

Os espaços rurais antrópicos são representados pelas terras cultivadas e infraestrutura rural. Seu planejamento é regulado pela Lei 4.771/65 e pelo programa de Zoneamento Econômico Ambiental coordenado pelo IBAMA e Secretarias Estaduais de Meio Ambiente. Está previsto, também, a elaboração de planos diretores municipais que deverão criar diretrizes para ocupação do solo e transformação da paisagem rural.

Espaços rurais servem de inspiração para o ensino de qualquer disciplina como fonte inesgotável de exemplos.

EA E OS ESPAÇOS URBANOS, INDUSTRIAIS E DE REDES

O uso e ocupação de espaços urbanos, industriais e as redes (viárias, de distribuição e de coleta), seguem a orientação dos planos diretores urbanos municipais e as diretrizes técnico-científicas da engenharia, da arquitetura e do urbanismo. As redes localizadas fora das áreas urbanas estão suijeitas, ainda, à toda a legislação ambiental, sejam viárias, de distribuição de energia e dutos de qualquer espécie. Nestes espaços pode-se encontrar exemplos de aplicação para todas as áreas do conhecimento.

EA E ENERGIA

O estudo das fontes de energia, sua transformação para uso antrópico, armazenagem, distribuição e uso são importantes para a economia de energia e seu uso racional.

FONTES DE ENERGIA

Renováveis: madeira; óleos, graxas e resinas vegetais e animais.

Não Renováveis: fósseis (turfa, hulha, carvão vegetal e petróleo); energia química e nuclear.

Contínuas: geotérmica, gravitacional (aproveitável pelas marés), solar e cinética da terra e as energias derivadas das anteriores: eólica e hidráulica.

ACUMULAÇÃO, GERAÇÃO E TRANSMISSÃO DE ENERGIA

A acumulação de energia é difícil de realizar e manter; é feita por meio de baterias, materiais combustíveis estocados e nos lagos das hidrelétricas. A distribuição sempre demanda dissipação e perdas no percurso. A demonstração de como se realiza tanto a acumulação, quanto a geração e transmissão sempre é cercada de grande interesse e curiosidade.

CONSUMO DE ENERGIA

A composição do consumo de energia por setores e percapita por regiões, de acordo com as característica de cada uma, dá margem para bons exemplos de funções matemáticas e físicas, além de inspirar temas de geografia.

EA, POLÍTICA E LEGISLAÇÃO

Não há como falar sobre EA sem abordar a política e legislação ambiental brasileira. A Constituição de Federal de 1988 dedica seu capítulo IV à área ambiental.

As formas de transmitir os aspectos legais e políticos relacionados ao ambiente em sala de aula são muitos e também afetos à todas as áreas do conhecimento pela sua abrangência. Uma das formas é incluir este conteúdo conjugado ao aspecto científico nas aulas, ou quando se trata de assuntos ligados à Cidadania.

Outra forma é através de excursões pedagógicas, principalmente se for possível o acompanhamento de um representante de órgão ambiental governamental (municipal, estadual ou federal) e que possa servir de consultor durante as atividades.

POLÍTICA E LEGISLAÇÃO FEDERAL

Deve-se destacar, nesta seção, a Lei N° 9.795/99 (ver anexo V), que dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEM) e representou um avanço em direção às mudanças culturais que se fazem necessárias quanto ao relacionamento do brasileiro com o ambiente, embora o artigo 18 que disponibilizava os recursos necessários tenha sido vetado pelo Presidente da República, retardando consideravelmente sua aplicação.

O Ministério do Meio Ambiente (MMA) é o órgão maior que coordena a política e todos os programas da área ambiental no Brasil. Estão subordinados ao MMA o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) como órgão consultivo e deliberativo criado pela Lei 6938/81 e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), órgão executivo criado pela Lei 7.735/89 que o instituiu em substituição ao grupo de órgãos executivos federais da área ambiental naquela época.

Há duas leis ambientais básicas no Brasil, alteradas e regulamentadas por diversos atos do poder público, às quais se somam mais algumas centenas de outras leis, decretos, resoluções e instruções e que regem a política e as atividades ambientais no país:

Lei N° 6.938, de 31 e agosto de 1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente e cria o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) e o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA);

Lei N° 4771, de 15 de setembro de 1965, que Instituiu o novo Código Florestal, depois alterado por uma medida provisória e diversas leis.

O direito brasileiro é positivo, ou seja, a lei é criada para que se cumpra alguma coisa, antes de se ter tornado parte da cultura do povo; este paternalismo vem do tipo de colonização realizada pelos portugueses, no sentido de enriquecer a corôa portuguesa às custas das colônias, com pequenas concessões aos seus representates que recebiam títulos e benefícios suficientes para viverem como nobres. Este tipo de raciocínio injusto perdura até os dias de hoje na “justiça brasileira”, impondo o que os todos poderosos burocratas do governo entendem ser adequado ao povo comum, seja um operário ou um cientista, num modelo não muito longe do Imperial.

O direito ambiental brasileiro não é diferente. Até bem pouco tempo a legislação ambiental brasileira era tida por governantes e técnicos burocratas como uma das mais avançadas do mundo, a maioria ainda acredita nisso. Nosso Código Florestal Federal é tão inadequado à civilização brasileira que, até hoje, pouco proporcionou de benefícios sensíveis para os brasileiros. Nenhum dos índices ou parâmetros existentes na Lei 4.771/65 têm bases científicas; não foram desenvolvidos a partir de nenhum modelo experimental ou dedutivo, nem mesmo por empirismo responsável.

Deixar 30 metros de vegetação natural como preservação permanente ao longo de um curso de água pode ser pouco, como também pode ser excessivo, depende das condições topográficas, edáficas, climáticas, do tipo de cobertura natural existente, do regime do curso d’água, do uso dos solos na circunvizinhança, etc… e até da “largura do rio” em que a lei se baseia; a necessidade real irá variar de local para local; o indicador “largura do curso d’água” é só um e de pequena influência sobre a determinação da largura adequada para a faixa de proteção com vegetação natural a ser preservada ao longo dos cursos d’água; a lei, ainda, não permite e não prevê a pesquisa para determinar como se deve calcular, simplesmente impõe um valor que ninguém tem a mínima idéia de onde saiu, desincentivando todo e qualquer esforço de pesquisa científica e de desenvolvimento. É necessário criar a consciência e espírito crítico nos brasileiros quanto à nossa legislação “perfeita”, de forma que venha a ser modificada no futuro; a medida provisória que alterou a lei 4.771/65 demonstra a total ignorância do que se expôs neste parágrafo por parte dos “legisladores”, pois em vez de melhorar a lei, impôs novos índices sem critério técnico ou científico num padrão nacional, como se nosso território fosse homogêneo de norte a sul.

Mas as leis estão aí e é necessário informar para educar. Bem ou mal, acredita-se que alguma proteção e auxílio elas possibilitam, mas não se pode basear cuidados com o ambiente exclusivamente no Código Florestal federal brasileiro, sob pena de não se proteger o ambiente de maneira adequada.

Além das leis citadas, também são importantes, entre outras:

Decreto N° 24.643/34 – Código de Águas;

Lei N° 5.197/67 – Lei de proteção à fauna;

Lei N° 7.802/89 – Lei dos Agrotóxicos;

Lei N° 9.605/98 – Lei dos Crimes Ambientais;

Lei N° 9.985/00 – Institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza.

POLÍTICA E LEGISLAÇÃO ESTADUALE MUNICIPAL

Nos Estados e Municípios, a estrutura é semelhante à federal, com algumas variações, mas segundo as mesmas diretrizes.

No Estado do Rio Grande do Sul a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SEMA) faz o papel da coordenação geral, o Conselho Estadual do Meio Ambiente (CONSEMA) é o órgão consultivo e deliberativo e a Fundação Zoobotânica (FZB), o Departamento de Florestas e Áreas Protegidas (Defap) e a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), são os órgãos executivos da política Ambiental Estadual.

O Rio Grande do Sul é um dos Estados que já conta com um Código Estadual do Meio Ambiente, a Lei 11.520, de 3 de agosto de 2000, bastante avançado com relação à lei federal, que pode servir como referência, sem impor condições ou índices empíricos, dando oportunidade à pesquisa científica para sua aplicação; mas até que a legislação federal evolua para níveis mais sérios e comprometidos com as realidades socio-econômicas e ambientais de cada região, valem os limites federais.

São importantes órgãos consultivo-deliberativos nos Estados, a nível de bacia hidrográfica, os Comitês de Gerenciamento de Bacias, responsáveis pela elaboração de diretrizes para a gestão das águas superficiais, como órgãos auxiliares dos Sistemas Ambientais Estaduais.

Os Municípios começaram, há pouco tempo, a desenvolver seus sistemas ambientais. Devem ser criadas as Secretarias Municipais Ambientais e os Conselhos, assim como os órgãos executivos. Os planos diretores municipais urbano e rural deverão dar as diretrizes para os cuidados ambientais, mas é possível que cada município crie seu código ambiental, além dos planos diretores.

O governo federal vem, paulatinamente, transferindo a responsabilidade de execução da política ambiental para os Estados quando é da sua competência, o mesmo fazem os Estados com Relação aos Municípios. Quando todos os sistemas ambientais estiverem criados nos níveis Federal, Estadual e Municipal, cada um deverá exercer suas competências legais dentro de sua área de atuação territorial. Acredita-se que isso deverá se concretizar nos próximos três a dez anos, dependendo da ênfase, apoio e exigências governamentais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Abordou-se a Educação Ambiental da maneira que parece ser mais adequada para a formação de espírito crítico por parte das pessoas de uma maneira geral, procurando-se abranger os seus aspectos mais significativos.

Encontrou-se todo tipo de abordagem na literatura e em projetos de EA, inclusive alguns que possuem uma linha filosófica semelhante à que se usou neste texto.

O que se pode concluir com certeza é que é necessário adaptar o ensino de ciências e de outras disciplinas à realidade que nos cerca, utilizando exemplos das coisas que nos cercam, assim como utilizar o ambiente em que vivemos como fonte de inspiração e de exemplos práticos para aplicar no ensino regular.

Não é viável, nem possível, nem ético, responsabilizar somente o educador profissional pela Educação Ambiental. Todos tem algum conhecimento com o qual podem contribuir, até o aluno tem algo a ensinar ao professor. A sala de aula não é o único local de ensino, no nosso lar e no ambiente social que vivemos, pode-se praticar EA diariamente, basta ter vontade de melhorar o mundo que nos cerca em nosso próprio benefício.

Para encerrar: é do exemplo que se forma o caráter do ser humano, não basta mostrar, há que se fazer primeiro.

BIBLIOGRAFIA

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ANEEL Site Oficial. Agência Nacional de Energia Elétrica. Disponível em: <http://www.aneel.gov.br/>. Acesso em: jul/2002.
BRASIL. CAPÍTULO VI – Do Meio Ambiente. In: Constituição Federal da República Federativa do Brasil. Brasília: DOU, 1988.
BRASIL. LEI 9795 DE 27.04.1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Brasília: DOU, 28/04/1999.
BRASIL. LEI Nº 4.771 DE 15.09.1965. Institui o Novo Código Florestal. Brasília: DOU, 16/09/1965.
BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais – terceiro e quarto ciclos: apresentação dos temas transversais. Brasília: MEC, Secretaria de Educação Fundamental, 1998. 436 p.
GROBER, Ulrich. Von Kursachsen Nach Rio – Ein Lebensbild über den Erfinder der Nachhaltigkeit Hannß Carl Edler von Carlowitz und die Wegbeschreibung eines Konzeptes – aus der Silberstadt Freiberg. Disponível em: <http://www.forschungsheim.de/fachstelle/arb_carl.htm>. Acesso em: 5/nov/2002.
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SBL. Site Oficial. Sociedade Brasileira de Limnologia. Disponível em: <http://www.iph.ufrgs.br/sbl>. Acesso em: jul/2002.
VEIGA-NETO, Alfredo. Ciência, ética e educação ambiental em um cenário pós-moderno. Educação e Realidade, v. 19, n. 2, p. 141-169, Porto Alegre, 1994.

 

15 de Outubro

 

O dia do educador ambiental é comemorado no mesmo dia em que se homenageiam os professores. Não é por menos. No fundo, o educador ambiental também é um professor, mas que não transmite simplesmente valores verdes aos seus alunos. É alguém que prioriza a ação efetiva desse alunado no meio ambiente e que prega com ele atitudes coerentes para a harmoniosa relação ser humano-natureza.

Essa pode – e deve – ser tarefa do professor também. Mas a partir do momento em que se considera a educação ambiental uma disciplina transversal na sala de aula, destaca-se o educador ambiental do professor. As atividades se confundem em sala de aula e revela-se que a melhor prática é feita em sua extensão. O pátio da escola, a própria casa, o bosque do parque: extensões das quatro paredes em que se transmite o conhecimento.

Propiciar uma atividade na prática pode ser garantia de um aprendizado efetivo. A conscientização proposta por um educador ambiental segue por esse caminho. Obviamente, às vezes isso não passa de teoria. Até porque registrar que isso é tarefa de um educador ambiental ou pregar que determinadas atitudes são exclusivas desse profissional generalizam e delimitam o campo.

Talvez a própria criação do termo educador ambiental já sugira um estreitamento de significado. O surgimento da nomenclatura, assim, tanto é positivo quanto negativo. O educador ambiental é destacado e ganha um dia para ser homenageado oficialmente. O seu campo de atuação por vezes pode ficar específico demais, como sempre ocorre na categorização de funções.

Enfim, o fato é que no dia 15 de outubro ambos os profissionais – professores e educadores ambientais – merecem oficialmente ser homenageados. De qualquer modo, um educador ambiental não deixa de ser um professor. Vale pensar se a recíproca é verdadeira…

 

15 de Outubro

O educador ambiental ensina por suas atitudes

Para resolver os problemas ambientais, é necessário mais do que separar o lixo para reciclagem ou fechar a torneira enquanto se escova os dentes. Refletir sobre o nosso comportamento e as relações que temos com a natureza e com as pessoas também é parte fundamental desse processo na opinião de Rita Mendonça. Bióloga e socióloga, ela é co-fundadora do Instituto Romã, entidade sediada em São Paulo que representa no Brasil a Sharing Nature Foundation – organização não-governamental americana dedicada à educação ao ar livre. Rita abrasileirou a metodologia de ensino da Sharing, baseada em dinâmicas e jogos seqüenciais.

O objetivo é levar os participantes a concentrar a atenção, a aguçar a percepção e a ter um contato mais profundo com a natureza, já que a experiência é essencial para a mudança de comportamento em relação ao mundo. Educadores estão sendo formados pelo Instituto Romã para trabalhar com essa perspectiva em um programa que une teoria e muita prática, em viagens a campo. “O professor já sabe muita coisa sobre o tema, mas precisa experimentar o que ensina”, diz Rita. Nesta entrevista concedida a NOVA ESCOLA, ela explica esse novo conceito de educação ambiental.

Como nasceu a educação ambiental?

Durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente realizada em Estocolmo, na Suécia, em 1972, a sociedade tomou conhecimento dos problemas ambientais e os governos definiram que a saída para mudar o mundo seria a educação. Foi necessário criar o termo educação ambiental porque nos afastamos da natureza. Os processos educativos ficaram racionais e a escola descuidou dos sentimentos, das sensações e das relações em sala de aula, esquecendo o ar, a água, o corpo, o bairro, a cidade, o planeta. Ora, se a educação ambiental pretende resolver os problemas ambientais pela formação das pessoas, é preciso usar ferramentas transformadoras. Uma delas é o aprendizado seqüencial.

O que é o aprendizado seqüencial em educação ambiental?

É uma pedagogia que desenvolve a percepção de alunos e professores. A proposta consiste em uma seqüência de atividades, em quatro fases, que deve ser aplicada em espaços naturais – na praça, no parque, na praia, na montanha, no mangue e até mesmo no jardim da escola.

Como se dá, na prática, esse aprendizado?

A primeira fase, Despertar Entusiasmo, é formada por jogos que servem para criar interação e harmonia no grupo. Uma das dinâmicas é realizada em uma área com diferentes espécies de árvore. O professor escolhe uma que tenha uma aparência atraente – um salgueiro ou um pinheiro, por exemplo – e imita a forma dela com seu corpo. Observando o professor, as crianças tentam reconhecer qual é a árvore escolhida. A segunda, Concentrar a Atenção, é o foco da metodologia: visa promover a concentração da turma e acalmar a mente. Os exercícios despertam o interesse em ouvir os sons da natureza e perceber diferentes temperaturas e cheiros. A terceira, Experiência Direta, desenvolve a percepção das diferenças entre os elementos da natureza. Em uma das brincadeiras, os alunos, de olhos vendados, sentem uma árvore pela textura, pela forma e pelo cheiro. Depois, de olhos abertos, eles têm que reconhecer, na mata, qual é aquela árvore. Essa interação aguça a intuição e a percepção. Na última fase, Compartilhar, os estudantes dividem suas impressões sobre o que fizeram durante essas aulas contando histórias, fazendo desenhos, poesias coletivas e individuais e haicais.

Como é o trabalho do educador no aprendizado seqüencial?

Ao explorar a natureza com as crianças, ele aplica cinco regras da educação ao ar livre. A primeira é ensinar menos e compartilhar mais. Isso torna qualquer visita mais agradável, porque a criança se cansa de ficar apenas ouvindo. A segunda é ser receptivo, perceber o que os alunos estão pedindo e humanizar as relações. A terceira é se concentrar, porque não dá para fazer nada se a turma não estiver atenta. A quarta regra é experimentar primeiro e falar depois. Nem tudo precisa ser explicado. É importante dar ao professor e às crianças tempo para encantar-se com detalhes que ainda ninguém viu e compartilhar o que todos estão sentindo. Por fim, criar um ambiente leve, alegre e receptivo, onde todos se sintam bem. O trabalho visa fazer alunos e professores perceberem o que estão sentindo, pois o sentimento influencia a maneira de compreender e pensar. É mais fácil discordar de uma idéia se você está irritado. Quando está feliz, tende a ser mais receptivo.

Professores de todas as disciplinas podem ser educadores ambientais?

Sim. O professor de Ciências tem muita informação sobre a natureza e acaba fazendo um trabalho mais explicativo. Mas o fundamental para qualquer professor é educar principalmente pelo que ele é, por suas atitudes, e não apenas pelo conhecimento que tem da matéria. As crianças aprendem muito pela imitação. O bom professor diz aquilo em que de fato acredita. Ele refletiu sobre o conteúdo que leciona e fala do assunto com convicção, fazendo uma confissão por meio da Física, da Matemática, da Língua Portuguesa.

O professor está preparado para ser um educador ambiental?

Especialmente preparado, porque é um educador. Mas, se ele quer se engajar na questão ambiental, deve começar pensando na sua vida, no seu comportamento e na sua relação com o próprio corpo e com a natureza. O contato mais direto que temos com ela é pela alimentação. Então, ele deve analisar a relação entre o que come, o ambiente e o modo como monta seu cardápio, por exemplo. Uma maneira de fazer isso é pensar sobre o ciclo que aquele alimento percorreu, desde sua origem até chegar à mesa. É importante também refletir sobre o que consome e como se relaciona com o mundo à sua volta. O professor pode ainda perceber como se sente na frente de uma vitrine. Tem vontade de comprar? Fica frustrado se não pode? Analisa por que necessita daquilo? Esse exercício dá uma grande bagagem, equivalente à que ele acumularia em vários cursos. É só aprender a usá-la.

Qual o benefício de a escola proporcionar uma vivência na natureza?

Em contato com a natureza percebemos que temos uma existência em comum. Quanto mais unificamos as relações entre nós e o ambiente, mais harmônica é nossa vida. Na nossa proposta pedagógica, o professor não ensina o que é natureza e não a descreve, mas relaciona-se com ela e compartilha com os alunos o que para ele faz sentido nessa experiência. O encantamento dos estudantes pelo tema vem dessa troca com o professor, que motiva a turma a querer aprender. O relacionamento entre eles se torna mais intenso e sincero, as mentes se acalmam e a concentração de todos melhora.

A questão ambiental tem caráter filosófico?

O problema ambiental é resultado de uma crise de percepção. Se queremos resolver essa crise, temos de melhorar nosso entendimento sobre o mundo. Assim, criamos um território fértil para encontrar soluções, e a escola pode ajudar nisso. Durante as aulas, promovemos momentos de diálogo – o que é muito diferente do debate -, em que os estudantes conversam, analisando o que pensam sobre aquele assunto e procurando entender o que está acontecendo em nosso planeta.

Esse é um exercício de observação de nossa forma de pensar e das dificuldades de aceitar opiniões diferentes.

Qual é a origem dos problemas ambientais?

Os biólogos chilenos Humberto Maturana e Francisco Valera e a historiadora austríaca Riane Eisler sustentam a idéia de que os problemas ambientais surgiram há 7 mil anos, com o fim das culturas “matrísticas” – o termo vem da palavra matriz e se refere à mulher – e o surgimento das culturas patriarcais. Na cultura matrística, a relação com a natureza e com as pessoas da comunidade e de outros povos era estabelecida por limites e de forma harmônica. Os povos se viam como parte do ambiente e a complexidade estava nas relações e não nas questões materiais. A cultura patriarcal surgiu na Mesopotâmia, quando o homem começou a desejar dominar o meio e outros povos. Hoje, temos o mesmo conflito: aceitar os limites impostos pela natureza sabendo que somos 6 bilhões e que vivemos em um planeta só ou atender ao desejo de ter uma vida confortável e consumir cada vez mais?

Por que a tecnologia e a ciência não conseguiram resolver esses problemas?

Albert Einstein dizia que nós não conseguimos solucionar um problema permanecendo no mesmo nível de consciência em que ele foi criado. Veja o exemplo do lixo: começamos a criar substâncias artificiais que a natureza não reconhece. Daí, desenvolvemos tecnologias de reciclagem que imitam com muita limitação o ciclo da natureza, mas não resolvem a questão. A confiança na tecnologia faz as pessoas consumirem sem compromisso. Hoje, o volume de produção de lixo é desproporcional ao que é possível reciclar. Então, a reciclagem nunca solucionará a questão, porque a indústria vai criar novas substâncias e as pessoas vão consumir cada vez mais achando que tudo pode ser reciclado.

 

15 de Outubro

Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global

RIO DE JANEIRO – ECO 92

Quando cerca de 600 educadores de todo o mundo se reuniram na Jornada de Educação Ambiental para debater e elaborar o primeiro Tratado de Educação Ambiental de que se tem notícia, o desafio parecia impossível de ser vencido. Movimentos sociais e ONGs procuraram ao longo de cinco dias de intensos debates sob as tendas do Fórum Global, resgatar o papel da educação e do educador comprometido com as questões ambientais. O resultado deste intenso trabalho foi transformado em 4 páginas, redigidas em quatro idiomas, adotadas no dia 7 de junho de 1992, pelo Fórum Internacional de Organizações não Governamentais como um dos principais documentos referentes a este assunto existentes na atualidade.

Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global

Apresentamos a seguir as linhas gerais do Tratado de Educação Ambiental e publicamos, na íntegra, os princípios fundamentais que devem direcionar os trabalhos nesta área.

O Tratado é dirigido a movimentos sociais – ecologistas, ONGs, profissionais de educação, cientistas e instituições científicas, grupos religiosos, governos locais e nacionais, empresários e profissionais de educação interessados em implantar programas voltados para questão ambientar.

Seus recursos podem provir de governos, políticas de Educação Ambiental, políticas econômicas que estimulem as empresas a fazer treinamento de pessoal, incentivem agências financeiras a alocarem recursos para a educação ambientar, assim como da formação de um sistema bancário, cooperativo e descentralizado, das ONGs e movimentos sociais.

Seu principal plano de ação consiste em transformar as declarações nele contidas em documentos a serem utilizados pela rede formal de ensino em programas educativos dos movimentos sociais e suas organizações.

E, para que suas propostas tenham continuidade e possam ser constantemente avaliadas, ele estabelece a criação e desenvolvimento de redes de educadores ambientais.

Princípios da Educação para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global

l. A educação é um direito de todos; somos todos aprendizes e educadores.

2. A educação ambiental deve ter como base o pensamento crítico e inovador, em qualquer tempo ou lugar, em seus modos formal, não formal e informal, promovendo a transformação e a construção da sociedade.

3. A educação ambiental é individual e coletiva. Tem o propósito de formar cidadãos com consciência local e planetária, que respeitem a autodeterminação dos povos e a soberania das nações.

4. A educação ambiental não é neutra, mas ideológica. É um ato político, baseado em valores para a transformação social.

5. A educação ambiental deve envolver uma perspectiva holística, enfocando a relação entre o ser humano, a natureza e o universo de forma interdisciplinar.

6. A educação ambiental deve estimular a solidariedade, a igualdade e o respeito aos direitos humanos, valendo-se de estratégias democráticas e da interação entre as culturas.

7. A educação ambiental deve tratar as questões globais críticas, suas causas e interrelações em uma perspectiva sistêmica, em seu contexto social e histórico. Aspectos primordiais relacionados ao desenvolvimento e ao meio ambiente tais como população, saúde, paz, direitos humanos, democracia, fome, degradação da flora e fauna devem ser abordados dessa maneira.

8. A educação ambiental deve facilitar a cooperação mútua e equitativa nos processos de decisão em todos os níveis e etapas.

9. A educação ambiental deve recuperar, reconhecer, respeitar, refletir e utilizar a história indígena e culturais locais, assim como promover a diversidade cultural, lingüística e ecológica. isto implica em uma revisão da história dos povos nativos para modificar Os enfoques etnocêntricos, além de estimular a educação bilíngue.

10. A educação ambiental deve estimular e potencializar o poder das diversas populações, promover oportunidades para as mudanças democráticas de base que estimulem os setores populares da sociedade. Isto implica que as comunidades devem retomar a condução de seus próprios destinos.

11. A educação ambiental valoriza as diferentes formas do conhecimento. Este é diversificado, acumulado e produzido socialmente.

12. A educação ambiental deve ser planejada para capacitar as pessoas a trabalharem conflitos de maneira justa e humana.

13. A educação ambiental deve promover a cooperação e o diálogo entre indivíduos e instituições, com a finalidade de criar novos modos de vida, baseados em atender às necessidades básicas de todos, sem distinções étnicas, físicas, de gênero, idade, religião, classe ou mentais.

14. A educação ambiental requer a democratização dos meios de comunicação de massa e seu comprometimento com os interesses de todos os setores da sociedade. A comunicação é um direito inalienável e os meios de comunicação de massa devem ser transformados em um canal privilegiado de educação não somente disseminando informações em bases igualitárias , mas também promovendo intercâmbio de experiências, métodos e valores.

15. A educação ambiental deve integrar conhecimentos, aptidões, valores, atitudes e ações. Deve converter cada oportunidade em experiências educativas de sociedades sustentáveis.

16. A educação ambiental deve ajudar a desenvolver uma consciência ética sobre todas as formas de vida com as quais compartilhamos este planeta, respeitar seus cicios vitais e impôr limites à exploração dessas formas de vida pelos seres humanos.

Ea nº 1: Educador Ambiental entrevista Aziz Ab’Saber

O Educador Ambiental procurou o geógrafo, Aziz Ab’Saber, atual presidente da SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, para trocar idéias sobre EA, falar dos maiores desafios desta área transdisciplinar do conhecimento e como o Brasil deveria se preparar para introduzir seus conceitos no dia a dia dos currículos escolares.

Educador Ambiental: Como o Sr. define Educação Ambiental?

Aziz Ab’Saber: É um processo que envolve um vigoroso esforço de recuperação de realidades e que garante um compromisso com o futuro. Uma ação entre missionária e utópica, destinada a reformular comportamentos humanos e recriar valores perdidos ou jamais alcançados. Trata-se de um novo ideário comportamental, tanto no âmbito individual como coletivo.

EA: Como integrá-la em nosso dia a dia? É fácil?

AAS: É impossível falar em EA voltando-nos exclusivamente para a escala planetária ou para a escala nacional. Pelo contrário. Ela envolve todas as escalas. Começa em casa. Atinge a rua e a praça. Engloba o bairro. Ultrapassa as periferias. Repensa o destino dos bolsões de pobreza. Atinge as peculiaridades e diversidades regionais para, só depois, integrar, em mosaico, os espaços nacionais.

Trata-se de um processo educativo que envolve ciência e ética e uma renovada filosofia de vida. Trata-se de mudar enfoque, ajudando a preservação da biodiversidade IN SITU; reintroduzindo a vegetação onde for possível; seqüestrando o gás carbônico liberado para a atmosfera nos últimos 100 anos da Revolução Industrial; multiplicando os bancos de germoplasmas necessários à produção de alimentos; reintroduzindo biomassas de interesse ambiental, social e econômico.

EA: Mas como se faz isso do ponto de vista prático?

AAS: EA exige método, noção de escala, boa percepção das relações entre tempo, espaço e conjunturas, conhecimentos sobre diferentes realidades regionais. E, sobretudo, códigos de linguagem adaptados às faixas etárias do alunado. É um processo que necessariamente revitaliza a pesquisa de campo, por parte dos professores e dos alunos. Implica em um exercício permanente de interdisciplinariedade – a prévia da transdisciplinariedade. Elimina teorizações elitistas e aperfeiçoa novas linhas teóricas, em bases mais sólidas e de entendimento mais amplo. É um passo fundamental para a reconquista da cidadania.

Na prática, teremos que manter por um bom tempo a educação formal como está hoje tentando introduzir a EA de forma a conquistar um espaço tal que permita que elas se misturem e a EA perpasse todas as áreas do conhecimento.

EA: O que já existe em outros países pode ser aproveitado e adaptado em EA?

AAS: Não há como impingir noções genéricas para habitantes da beira de um lago ou das margens de um rio na Amazônia e estendê-las para os moradores dos sertões do Rio Grande do Sul. Ou ainda pretender usar conhecimentos e posturas relacionados aos litorais do Brasil atlântico para os habitantes de favelas dos grandes centros. A EA deve gerar conhecimento local e ser trabalhada dentro dessa perspectiva sem perder de vista sua integração com o mundo.

EA: Como a universidade poderia ajudar a ampliar ou acelerar este processo?

AAS: Não acho que a universidade seja o lugar dos deuses, o ponto de referência único. A sociedade está mais dinâmica hoje e pode perfeitamente colaborar para que o processo seja ampliado tanto na universidade, quanto através de grupos esclarecidos. No entanto, é preciso notar que deve haver um esforço na direção de integrar o conjunto das idéias novas sobre EA ao estoque de conhecimentos disciplinares tradicionais da educação formal.

 

15 de Outubro

A Educação Ambiental é um processo educativo que envolve ciência, ética, compromisso, atitudes, valores, em vários níveis, sejam no âmbito individual ou coletivo.

O Educador Ambiental atua na esfera da educação formal e informal com crianças e adultos em escolas, parques, empresas, ong’s, comunidades.

Com competência, o educador aborda temas diversos relacionadas às questões ambientais, passando informações, conceitos e técnicas necessárias que levem à reflexão e compreensão da realidade no sentido de conscientizá-las a uma mudança correta de atitudes.

Nesse sentido, o educador ambiental contribui no relacionamento entre sociedade e natureza, criando um ambiente harmonioso e sustentável diante da emergência ambiental.

“O verdadeiro educador é o que acompanha as mutações da vida, dos tempos, dos comportamentos”.

Artur da Távola

Fonte: www.dad.puc-rio.br/Vale Verde/ www3.mg.senac.br/www.bvsde.paho.org/www.bandpenorio.com.br/www.adital.com.br/www.agua.bio.br/www.floraefauna.com

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