República Romana

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O significado da República

A palavra República vem das palavras latinas para ‘coisa’ e ‘do povo “Os res publica ou respublica referido’ a propriedade pública” ou “bem comum”.

Também poderia significar a administração.

República Romana – O que foi

Período: 509 a.C. a 27 d.C.

República Romana, o estado antigo que centrada na cidade de Roma, desde o tempo dos acontecimentos que levaram à fundação da república em 509 aC, através da criação do Império Romano em 27 aC.

Essencialmente aristocrática, a República (509 a.C.-27 a.C.) tem o Senado como órgão supremo de governo.

Os senadores, vitalícios, supervisionam as finanças públicas, dirigem a política externa e administram as províncias.

As funções executivas são distribuídas entre os membros da Magistratura, como os cônsules e os tribunos da plebe.

Os tribunos surgem ao longo do período da República em conseqüência da luta dos plebeus por direitos políticos.

Entre suas conquistas destaca-se a Lei das Doze Tábuas (451 a.C.- 449 a.C.). Até então transmitidas por via oral e totalmente manipuladas pelos patrícios, as leis passam a ser escritas e públicas.

As magistraturas: Nos primeiros séculos as magistraturas eram cargos que só podiam ser exercidos pelos patrícios.

Havia sempre dois magistrados para cada cargo. Os magistrados eram eleitos pela Assembléia Centuriata.

Os principais Magistrados eram:

Cônsules: exerciam o poder executivo, eram eleitos para o mandato de um ano, propunham as leis e presidiam as Assembléias e o Senado;
Pretores: 
responsáveis pela aplicação da justiça;
Cesores:
 vigiavam a conduta moral do cidadão e faziam o recenseamento da população;
Questores:
 administravam o dinheiro público;
Edis: 
encarregados da conservação pública do policiamento e do abastecimento da cidade;
Tribunos da Plebe:
 magistraturas que surgiram em conseqüências das lutas plebéias por reformas sociais. Podiam vetar as leis consideradas lesivas aos interesses da plebe.

Expansionismo

A partir de 510 a.C., Roma dedica-se à conquista de toda a península Itálica. Em 264 a.C., o interesse pelo domínio da Sicília coloca Roma em conflito com Cartago, dando início às Guerras Púnicas (264 a.C.-201 a.C.), das quais sai vencedora. De 200 a.C. até o fim do Império Romano do Ocidente, em 476, atravessa seis séculos de contínua expansão territorial. Os romanos conquistam a Macedônia e a Grécia, a Ásia Menor, o Egito, a Cirenaica (atual Líbia), a península Ibérica, a Gália (França), a Germânia (Alemanha), a Ilíria (Albânia), a Trácia, a Síria e a Palestina.

As numerosas conquistas afetam a estrutura e o modo de vida dos romanos. Roma deixa de ser agrária e torna-se mercantil, urbana e luxuosa.

O Exército vira uma instituição poderosa e o escravismo passa a ser o modo de produção dominante.

As lutas civis

O regime aristocrático de governo predominante durante o período republicano foi incapaz de administrar o imenso território conquistado pelo exército romano.

O senado continuava exercendo o monopólio sobre as principais decisões políticas, excluindo do poder a grande massa de habitantes das províncias. A passagem do regime republicano ao imperial foi marcada, portando, por uma série crise econômica e social proveniente do próprio movimento expansionista.

As disputas pelo poder político em Roma tiveram início com as propostas de reforma apresentadas pelos irmãos Tibério e Caio Graco, eleitos tribunos da plebe em 133 e 123 a.C., respectivamente.

Tibério apresentou uma ousada proposta de reforma agrária, causando uma forte reação por parte da aristocracia patrícia, que mandou assassiná-lo juntamente com muitos de seus seguidores. Caio Graco, inspirado na concepção de democracia ateniense, procurou transferir as decisões políticas da esfera exclusiva do senado para a Assembléia popular. Seu destino, no entanto, não foi muito diferente do de seu irmão, pois uma nova repressão aristocrática pôs fim às idéias reformistas, levando-o a cometer suicídio.

O conflito entre os anseios da camada popular e dos membros da aristocracia prossegue. Após a morte dos irmãos Graco, a disputa entre Mário – cônsul da República, chefe do partido popular – e Sila – representante do senado – expressava a intensificação das lutas políticas. Mais uma vez, na história da política republicana, predominava a força da elite conservadora e Sila tornou-se ditador da República.

Durante o governo de Sila, a aristocracia consolidava seu poder, a medida que o ditador limitava o poder dos tribunos da plebe. Os plebeus responderam prontamente através de uma nova revolta, desta feita liderada por Catilina, senador de grande prestígio popular, o qual representava os interesses desta camada social. No entanto, o orador Cícero (cônsul da República) através de inflamados discursos denunciou a conspiração de Catilina, acusando-o de tentar um golpe de estado e transformando-o em inimigo de Roma.

Os triunviratos

Diante do grave quadro de crise política, três líderes populares, Pompeu, Crasso e Júlio César, impuseram-se diante do senado estabelecendo um acordo político (60 a.C.) o Primeiro Triunvirato.

Após a morte de um dos triúnviros, Crasso, em 53 a.C., os outros dois Pompeu e Júlio César, lutaram pelo exercício do poder pessoal. Contando com o apoio popular (possuía muito prestígio junto à Plebe), César venceu Pompeu e tornou-se ditador da república romana.

César possuía plenos poderes, e seu governo indicava uma forte tendência à monarquia. No sentido de atender aos anseios da plebe, realizou um conjunto de reformas sociais ferindo os interesses da classe dominante.

Ele procurou unificar o mundo romano ampliando o direito à cidadania romana aos habitantes das províncias; promoveu a fundação de várias colônias fora da Itália; reformou o calendário romano utilizando seu nome para designar o sétimo mês (daí a denominação Julho); organizou as finanças públicas, proibindo o abuso do luxo, e construiu diversas obras públicas (estradas em todos os domínios do Império, melhorias em Roma, drenagens dos pântanos, etc.). Dentre as novas leis que atingiam diretamente os privilégios da aristocracia, devemos destacar a obrigação de os proprietários empregarem pelo menos um terço dos homens livres em suas terras e a introdução de cidadãos estrangeiros no senado.

A aristocracia romana, despojada de muitos de seus privilégios e temendo que César concentrasse o poder em suas mãos, tornando-se imperador, resolveu assassiná-lo, procurando restaurar o regime republicano.

Contudo, a morte de Júlio César revolto a camada popular, tornando ainda mais acirrada a disputa entre os defensores de um governo pessoal e absoluto e aqueles que defendiam a restauração da republica.

Os responsáveis pelo assassinato de César – os republicanos Cássio e Brutus – tentaram tomar o poder, mas foram impedidos por Marco Antônio, importante líder “cesarista” que instigava a massa plebéia contra o senado, evitando a conspiração restauradora.

Nesse contexto, formou-se o segundo triunvirato, composto por Marco Antônio, Lépido e Otávio, que dividem o governo das províncias entre si: Marco Antônio comandaria o Oriente; Otávio, o ocidente; e Lépido, a África. No entanto, a rivalidade entre os triúnviros logo provoca a passagem da ditadura coletiva para a ditadura pessoal e, consequentemente, desta para a instauração da Monarquia.

Lépido é afastado pelas forças de Otávio, rompendo o equilíbrio do poder e gerando o confronto com Marco Antônio. Este rompeu definitivamente com Otávio e, ao se aliar com Cleópatra no Egito, fortaleceu sua base militar no Oriente.

Otávio, visando tomar o Egito, fortalece seu exército e inicia uma campanha para derrotar Marco Antônio. Durante a batalha Naval de Cio, 31 a.C., Otávio consegue finalmente afastar o último dos seus oponentes, tornando-se senhor absoluto de Roma.

Otávio manteve as instituições republicanas, mas reduziu o poder do senado e das Magistraturas. Desta forma, Otávio consolida seu poder pessoal sobre o estado e, ao receber do senado o título de Augusto (significa sagrado, divino), torna-se definitivamente o primeiro imperador romano em 27 a.C.

República Romana – Governo

Os romanos estabeleceram uma forma de governo – uma república – que foi copiado pelos países há séculos na verdade, o governo dos Estados Unidos é baseado em parte no modelo de Roma.

Tudo começou quando os romanos derrubaram seus conquistadores etruscas em 509 aC norte Centrado de Roma, os etruscos tinham dominado sobre os romanos por centenas de anos.

Uma vez livre, os romanos estabeleceram uma república, um governo no qual os cidadãos elegeram representantes para governar em seu nome. A república é muito diferente de uma democracia, em que se espera que cada cidadão a desempenhar um papel ativo no governo do Estado.

Cidadão

O conceito romano do cidadão evoluiu durante a República Romana e mudou significativamente durante o Império Romano mais tarde. Depois que os romanos se libertaram os etruscos, eles estabeleceram uma república, e todos os homens com mais de 15 que eram descendentes de tribos originais de Roma tornaram-se cidadãos.

Os cidadãos de Roma distinguiu-se dos escravos e outros não-cidadãos vestindo uma toga; A maioria usava uma toga branca. Durante o Império, cada imperador vestiu a toga púrpura a distinguir-se como o princeps, ou “primeiro cidadão.”

Cidadania variado muito. O cidadão pleno podiam votar, casar-se com pessoas nascidas livres, e praticar o comércio. Alguns cidadãos não foram autorizados a votar ou ocupar cargos públicos, mas manteve os outros direitos. Um terceiro tipo de cidadão poderia votar e practive commerce, mas não podia exercer o cargo ou se casar com mulheres nascidas livres.

No final da República, os escravos do sexo masculino que foram concedidos sua liberdade poderia tornar-se cidadãos de pleno direito. Cerca de 90 aC, os aliados não-romanos da República ganhou os direitos de cidadania, e em 212 dC, sob o Édito de Caracalla, todos os povos livres do Império Romano poderia tornar-se cidadãos.

A aristocracia (classe rica) dominou o início República Romana. Na sociedade romana, os aristocratas eram conhecidos como patrícios. Os mais altos cargos no governo foram realizadas por dois cônsules, ou líderes, que governou a República Romana. Um Senado composto por patrícios eleito esses cônsules. Neste momento, os cidadãos de classe baixa, ou plebeus, tinha praticamente nenhum dizer no governo.

Tanto os homens como as mulheres eram cidadãos da república romana, mas apenas os homens podiam votar.

Tradição ditou que patrícios e plebeus deve ser estritamente separadas; casamento entre as duas classes foi mesmo proibido. Com o tempo, os plebeus elegeram seus próprios representantes, chamados tribunos, que ganhou o poder de vetar as medidas aprovadas pelo Senado.

Aos poucos, os plebeus obtido ainda mais poder e, eventualmente, poderia ocupar o cargo de cônsul. Apesar dessas mudanças, no entanto, os patrícios ainda foram capazes de usar sua riqueza para comprar o controle e influência sobre os líderes eleitos.

O Senado romano

história do Senado romano vai tão longe para trás como a história da própria Roma. Ele foi criado pela primeira vez como um grupo consultivo de 100 membros para os reis romanos.

Reis posteriores expandiu o grupo de 300 membros. Quando os reis foram expulsos de Roma e da República foi formada, o Senado tornou-se o órgão mais poderoso. Em vez de aconselhar o chefe de Estado, que elegeu os presidentes-executivos, chamada cônsules.

Senadores foram, durante séculos, estritamente a partir da classe aristocrática. Eles praticavam as habilidades de retórica e oratória para convencer outros membros do corpo governante.

O Senado convocada e aprovaram leis na cúria, um grande edifício em razão do Fórum Romano. Muito mais tarde, Júlio César construiu uma Curia maiores para um Senado expandida.

Até o século BCE 3, Roma tinha conquistado vastos territórios, e os senadores poderosos enviou exércitos, negociado termos de tratados, e teve o controle total sobre as questões financeiras da República.

Controle Senatorial acabou sendo desafiado por Ditador Sulla cerca de 82 aC Sulla tinha centenas de senadores assassinado, o aumento da adesão do Senado para 600, e instalou muitos nonpatricians como senadores.

Júlio César elevou o número para 900 (que foi reduzido após o seu assassinato).

Após a criação do Império Romano em 27 aC, o Senado ficou enfraquecido sob imperadores fortes que muitas vezes forçadamente coagidas este corpo dirigente. Embora tenha sobrevivido até a queda de Roma, o Senado Romano tornou-se apenas um órgão de cerimonial de ricos homens, inteligentes, com o poder de governar.

Ocasionalmente, uma situação de emergência (como a guerra) surgiu que exigia a liderança decisiva de um indivíduo. Nestas circunstâncias, o Senado e os cônsules poderia nomear um ditador temporário para governar por um tempo limitado até que a crise foi resolvida. A posição do ditador foi muito democrática por natureza. Na verdade, um ditador tinha todo o poder, tomou decisões sem qualquer aprovação, e tinha total controle sobre os militares.

O melhor exemplo de um ditador ideal era um cidadão romano chamado Cincinato. Durante uma emergência militar grave, o Senado romano chamado Cincinato de sua fazenda para servir como ditador e para liderar o exército romano. Quando Cincinato desceu da ditadura e voltou para sua fazenda de apenas 15 dias depois que ele derrotou os inimigos de Roma, os líderes republicanos retomaram o controle sobre Roma.

As Doze Tábuas

Uma das inovações da República Romana foi a noção de igualdade perante a lei. Em 449 aC, os líderes do governo esculpida algumas das leis mais importantes de Roma em 12 grandes tablets. As Doze Tábuas, como eles vieram a ser conhecidos, foram as primeiras leis romanas colocadas por escrito. Embora as leis eram bastante dura para os padrões atuais, eles fizeram garantir a cada cidadão igualdade de tratamento perante a lei.

Leis das Doze Tábuas

As fêmeas deverão permanecer em guarda, mesmo quando eles atingiram a maioridade (exceto virgens vestais).
A perdulário é proibido de exercer a administração sobre seus próprios bens.
É permitida a colher o fruto cair na fazenda de um outro homem.
Se alguma pessoa tenha cantado ou composta contra outra pessoa uma canção como estava causando calúnia ou insulto para outro, ele deve ser batido até a morte.
Rapidamente matar … uma criança terrivelmente deformado.

No que diz respeito à lei e à cidadania, os romanos tomaram uma abordagem única para as terras que eles conquistaram. Ao invés de governar as pessoas como sujeitos conquistados, os romanos convidou-os a tornarem-se cidadãos. Essas pessoas tornaram-se, em seguida, uma parte de Roma, ao invés de inimigos que lutam contra ela. Naturalmente, estes novos cidadãos receberam os mesmos direitos legais que todos os outros.

República Romana – História

Período: 509 a.C. a 27 d.C.

República Romana
Senado romano
A escada para o poder político no Senado romano era diferente para os patrícios ricos do que para os plebeus de classe baixa

Nos últimos anos do século VI a.e.c., Roma, segundo a tradição, libertou-se do jugo de Tarquínio, o Soberbo e aboliu a realeza. Os reis foram substituídos por dois magistrados, pretores e depois cônsules, eleitos anualmente. Com a realeza terminava também a predominância dos Etruscos na Cidade. Pela mesma época, Atenas, como é sabido, expulsava os Pisistrátidas e recuperava a liberdade.

Esta coincidência pareceu suspeita a muitos historiadores modernos, que se recusaram a admitir a data de 509 tradicionalmente apontada para o estabelecimento da República. Mas esta coincidência, só por si, não é uma razão suficiente para contestar a afirmação de um fato tão importante e cuja data, pelo menos aproximada, não poderia deixar de ser conhecida de todos. De resto, alguns argumentos vêm contrariar este ceticismo. Verifica-se, por exemplo, que a influência helênica, tão sensível na Roma etrusca, diminui consideravelmente no século V. Ora, sabemos que o inicio do século V marca, na Itália, a diminuição do poder etrusco, que sofre uma primeira série de reveses e, abandonando as suas recentes conquistas, tende a encerrar-se novamente na Etrúria propriamente dita.

Seja como for, Roma perdeu nessa época uma parte do seu esplendor e talvez do seu poder. A liga latina, até então dominada, segundo consta, por uma Roma forte e etrusquizada, retoma a sua independência.

Por outro lado, certas cidades etruscas parecem ter sido tentadas, se não a restaurar os Tarquinios em Roma, pelo menos a substituí-los, beneficiando da cumplicidade do clã etrusco que aí permanecia.

Mas os Romanos enfrentaram o perigo externo, liquidaram internamente as facções perigosas, souberam manter boas relações com várias cidades etruscas, como Caere, e vencer a aliança dos Latinos na batalha do lago Regilo, no território de Túsculo, em 499. No entanto, apesar das vitórias conseguidas, Roma parece uma cidade sitiada; a paz é sempre precária, formam-se constantemente alianças ameaçadoras; compreendem povos de diversas raças que vêem no jovem Estado romano um temível inimigo.

Também é provável que os exilados dispersos pela revolução tenham criado intrigas um pouco por toda a parte, contribuindo assim para alimentar a agitação no Lácio.

Em meados do século V, foi concluída a paz entre Roma e as cidades latinas.

Esta paz foi imposta por uma nova ameaça: na Itália Central e Meridional, um pouco por toda a parte, os povos da montanha descem para as planícies costeiras.

Na Campânia, os Samnitas apoderam-se de Cápua e da colônia grega de Cumas e fundam um verdadeiro Estado campaniense. Em breve os seus irmãos de raça, os Lucanos, ao sul de Salerno, estendem o seu domínio à região de Pesto. Na encosta adriática, as colônias gregas, mais prósperas e mais sólidas que as da encosta tirrena, conseguem resistir à vaga de invasões sabélicas, mas saem profundamente abaladas. O Lácio não é poupado. Os Sabinos, que representam apenas um ramo da raça samnita, ocupam as regiões etrusquizadas do vale médio do Tibre, por exemplo, a cidade de Faléria.

Ao sul de Roma, avançam até às montanhas que orlam o horizonte da Cidade e ocupam a estrada da Campânia. Mais uma vez, Roma consegue conter os invasores – pelo menos segundo o que dizem os historiadores antigos e tendo em vista que não é de admitir a existência de um período sabino, como houvera um período etrusco.

De qualquer modo, e apesar de o equilíbrio interno da Cidade se ter encontrado alterado a favor dos Sabinos num determinado momento do século V, Roma não perdeu a unidade nem a independência política e, passando por sua vez à ofensiva, quis proteger-se a norte conquistando a cidade etrusca de Veios, nas margens do rio Crêmero. é possível, de resto, que esta tentativa contra Veios se destinasse menos a evitar eventuais ataques dos Etruscos do que a cortar aos Sabinos, criando uma base sólida na margem direita do Tibre, qualquer possibilidade de invadirem o Lácio passando pelo vale do rio. A guerra contra Veios foi longa. A cidade, diz-se, resistiu tanto como Tróia; só foi conquistada nos primeiros anos do século IV (em 396, segundo a cronologia liviana), pelo ditador Fúrio Camilo.

O Conflito entre Patrícios e Plebeus

No interior, o século V foi preenchido por uma longa sucessão de lutas entre os patrícios e a plebe, as duas classes em que se divide a sociedade romana de então.

Esta oposição chegou a pôr em causa a própria existência do Estado romano. É fácil adivinhar que o conflito tinha por causa o desejo, nos primeiros, de manter as prerrogativas políticas e, nos segundos, de conquistar a igualdade de direitos; mas ignoramos como se instituiu esta realidade e quais são exatamente as origens do patriciado e da plebe.

Aparentemente, o conflito começou no inicio da República. Talvez porque esta começou por ser – como aconteceu tantas vezes nas cidades gregas – não uma verdadeira democracia, mas uma oligarquia e porque as circunstâncias em que se produziu a revolução de 509 deram o poder a uma aristocracia lentamente constituída ao longo dos séculos anteriores.

Parece que os patrícios eram membros de algumas grandes famílias cujas tradições gentílicas mantinham uma organização de caráter arcaico. Os chefes dessas famílias tinham assento no Senado, esse conselho dos Antigos instituído pelos reis e que sobreviveu à queda da realeza. Esses patres tinham à sua volta, para aumentar a sua influência, não só os seus próximos e aliados, mas também “clientes”, isto é, homens que não possuíam qualquer fortuna e que se ligavam à um rico e nobre “patrão”, do qual recebiam ajuda e proteção em troca de certas obrigações definidas. Este costume da clientela (próprio das gentes patrícias) Não é, de resto, característico de Roma; encontra-se, por exemplo, em diversas sociedades célticas; é tentador imaginar que remonta a um longínquo passado e que, portanto, as gentes patrícias representam a sobrevivência de um estado social muito antigo próprio dos invasores indo-europeus e comum, por conseguinte, aos Latinos e aos Sabinos.

Mas importa acrescentar imediatamente uma restrição: em Roma, as gentes não parecem ter formado, na origem, um quadro oficial da cidade. Os patrícios, no século V, começam a surgir como proprietários rurais, dedicando-se sobretudo à criação de animais. Os plebeus, pelo contrário, são essencialmente agricultores; ou, quando residem na cidade, são artífices, cidadãos que não se encontram apoiados nem enquadrados pelas tradições de qualquer gens.

Do ponto de vista religioso, os patrícios possuem um privilégio que em breve se tornará precioso: o de conhecer os “auspícios”, isto é, de interpretar diretamente, sem recurso a um sacerdote, a vontade divina.

Saberemos avaliar a importância deste poder se pensarmos que todo o ato público deve ser precedido de um entendimento entre os deuses. Assim, os patrícios não tardaram a reivindicar o monopólio das magistraturas que comportavam o conhecimento dos auspícios, ou seja, na prática, o consulado e as outras magistraturas mais importantes que, progressivamente, foram sendo criadas. Este aspecto religioso da oposição contribuiu muito para fortalecer e para criar entre as duas metades da sociedade romana uma diferença que rapidamente se tornou irredutível.

A revolução de 509 apenas veio exacerbar um conflito ate então latente. A plebe, afastada do poder, já que não podia ter acesso ao consulado que substituira a função real, ameaçou criar uma secessão.

Retirou-se do pomerium para a sua colina, o Aventino, onde se erguia o templo de Ceres, que era por excelência a deusa dos plebeus, e declarou querer fundar uma cidade separada de Roma.

Os patrícios aceitaram então que fossem criados magistrados plebeus, encarregados de proteger a plebe contra os abusos de poder dos outros magistrados. Assim se constituiu o colégio dos tribunos da plebe, primeiro com dois e depois com cinco membros. Estes homens gozavam de poderes extraordinariamente extensos, pois tinham o direito de impedir a ação de qualquer magistrado pelo seu veto e eram eles próprios invioláveis na sua pessoa e nos seus bens, tratando-se de uma das instituições mais curiosas da República.

Considerados sagrados, isto é, literalmente intocáveis, viverão até ao Império uma existência à parte na hierarquia das magistraturas e mesmo depois de eliminadas todas as diferenças políticas entre patrícios e plebeus continuarão a ser sacrossantos.

A criação dos tribunos teve conseqüências diversas; para eleger estes magistrados particulares da plebe e os seus assistentes, os edis plebeus, foi necessário legalizar uma nova assembléia, o conselho da plebe (concilium plebis), que se reunia no quadro das tribos. Desde o tempo de Sérvio, novas tribos tinham vindo juntar-se às quatro existentes. Eram agora dezessete, chamadas rústicas por o seu território se estender para fora de Roma, pelos campos latinos. Muito rapidamente, o concilium plebis, não contente por eleger os magistrados plebeus, votou moções de âmbito geral que, naturalmente, não tinham força de lei, mas concorriam com as decisões dos comícios centuriais em que os patrícios, pela sua riqueza e pelo jogo da hierarquia censitária, exerciam a preponderância.

Perante uma plebe assim organizada, os privilégios legais dos patrícios não podiam manter-se por muito tempo. De fato, os plebeus reclamaram rapidamente o direito de serem eleitos cônsules, Os patrícios objetaram que era impossível, uma vez que um cônsul devia ele próprio interpretar os auspícios, e que esta função só poderia ser assumida por um patrício.

Finalmente, depois de vencidas muitas dificuldades, adotou-se um compromisso: o consulado seria substituído por um tribunato militar com poderes consulares, para o qual seriam elegíveis os plebeus.

Mas esta solução não foi definitiva; em certos anos, havia cônsules patrícios; só se recorria ao expediente dos tribunos militares nos anos em que a plebe, particularmente agitada, impunha concessões aos patrícios.

E em meados do século V que a tradição situa a redação de um código das leis que, até então, se tinham mantido secretas, apenas conhecidas pelos pontífices e os magistrados patrícios.

Foi encarregada deste trabalho uma comissão de dez juristas, naturalmente patrícios, os decênviros, que durante dois anos exerceu o poder de fato na Cidade. O resultado foi a publicação da Lei das Doze Tábuas, que constituíram a base de todas as leis futuras.

Roma evoluía, portanto, para um regime mais amplamente democrático, apesar dos egoísmos de classe e também dos entraves causados pela religião, prudentemente tradicionalista, quando sobreveio uma catástrofe que, a dada altura, pareceu capaz de pôr fim à sua própria existência. Nos últimos anos do século V, bandos célticos penetraram no Norte de Itália, de onde pretendiam expulsar os Etruscos. Um destes bandos, formado por Sénones, avançou ousadamente para sul e chegou até Roma. Rapidamente alertado, o exercito romano, que incluía praticamente todos os homens válidos, partiu ao encontro do inimigo. Este encontro ocorreu a pouca distância de Roma, nas margens do Alía. Em pânico, os Romanos fugiram.

A estrada de Roma encontrava-se livre. Os Gauleses, desconfiados, avançaram prudentemente.

Esperavam uma forte resistência, mas acabaram por se render à evidência: portas abertas, muralhas desguarnecidas, Roma não se defendia. O inimigo espalhou-se então pela cidade, pilhou, incendiou as casas e os templos. Os raros defensores, acompanhados de mulheres e velhos, entrincheiraram-se no Capitólio, na cidadela. Mas, sitiados, pressionados pela fome, viram-se obrigados a negociar a retirada dos Gauleses em troca de um pesado resgate.

A invasão dos Gauleses não durou muito, mas deixou atrás de si terríveis ruínas. Mais grave ainda, abalou a confiança que os Romanos depositavam no destino da Cidade – a ponto de muitos deles pensarem seriamente em abandonar o solo profanado para se instalarem mais ao norte, na cidade de Veios, recentemente conquistada. Porém, o patriotismo prevaleceu; devem ter concluído que, como o Capitólio não fora ocupado pelo inimigo, a honra estava salva e era claramente a vontade dos deuses que permanecessem onde a Fundação os instalara.

À catástrofe seguiu-se um período de agitações, tanto no interior como no exterior. No interior, os problemas tradicionais continuavam a pôr-se com acuidade: o problema das dívidas que pesavam duramente sobre uma parte da população e também o da utilização dos territórios conquistados (ager publicus), que os patrícios tinham tendência para açambarcar em detrimento dos pequenos agricultores; e ainda a resistência obstinada dos patrícios ao acesso dos plebeus ao consulado. Por fim, as leis licinianas, votadas em 366, introduziram soluções, pelo menos provisórias, e marcaram um novo progresso da plebe. A partir daí, um dos dois cônsules podia ser plebeu; esta possibilidade tornou-se mesmo, rapidamente, uma obrigação e as duas metades da cidade passaram a estar regularmente representadas na magistratura suprema.

O alargamento dos limites da velha cidade teve um resultado imediato: Já que os patrícios tinham deixado de ter o monopólio do consulado, este tornava-se acessível aos recém-chegados à cidade romana e as cidades que aceitassem ligar o seu destino ao de Roma poderiam passar a ser tratadas como iguais.

O Estado romano flexibilizava-se e adquiria assim uma das suas características mais originais, a faculdade de acolher, oferecendo-lhe a plenitude dos direitos, se não os inimigos, pelo menos os estrangeiros da véspera.

A concórdia interna assegurada pelas leis licinianas permitiu que Roma superasse a crise externa que colocou o exército em confronto com os vizinhos, os Etruscos de Tarquinia e de Caere, e também com os Latinos.

O seu território encontra-se rapidamente orlado por uma série de cidades federadas, ligadas a Roma por tratados de aliança; na foz do Tibre, a colônia de Ostia (talvez fundada no reinado de Ancus Martius) desempenha um papel importante e o povoamento romano efetivo estende-se ao longo da costa na região pontina e até Ancio e Terracina.

As cidades latinas federadas acabaram pura e simplesmente por ser anexadas. Pela mesma época, Roma, cada vez mais preocupada com a ameaça que os povos sabélicos continuam a constituir para as planícies, vê-se obrigada a intervir na Campânia, chamada, de resto, pela aristocracia local. Tratava-se de uma ocasião inesperada para consolidar a conquista da costa latina e proteger as colônias. Foi assim que se criou, em 34O, um Estado romano-campaniense, no qual os cavaleiros de Cápua – isto é, a nobreza – obtinham o direito de cidadania romana. Esta nova situação não trazia só vantagens para Roma; criava-lhe também a obrigação imperiosa de travar apartir daí uma luta contra os Samnitas, o que a empenhou numa guerra que durou quase setenta anos e que foi marcada por terríveis reveses, como a captura de um exército romano no desfiladeiro de Caudium (Forcas Caudinas).

As guerras samnitas foram uma dura escola para o exército romano, que se tornou muito mais sólido, mais flexível, treinado para suportar operações de longa duração muito diferentes das expedições organizadas contra cidades próximas de Roma. As legiões começam a percorrer a península, a transpor montanhas e florestas, e todos os obstáculos naturais que, ate então, tinham limitado a sua ação. Além disso, o Estado romano, tendo-se tornado uma potência costeira, assegura com uma frota o policiamento do litoral.

A super potência do Lácio

No fim do século IV, Roma era a maior potência de toda a Itália. Pela Campânia, estava em contato com as colônias gregas, que a consideravam a melhor aliada contra as populações itálicas do interior.

Já anteriormente, Roma contribuíra para aliviar a ameaça etrusca que pesava sobre a colônia focense de Marselha, e é possível que, a partir do fim do século VI, os Romanos teriam enviado oficialmente deputados para consultar o oráculo de Delfos.

Em Roma existia mesmo toda uma corrente Helênica cuja ação sobre o pensamento e a vida dos Romanos foi desde muito cedo considerável, embora tenhamos dificuldade em acompanhar as suas diversas manifestações. Esta corrente foi reforçada pelo renascimento sofrido pelas colônias gregas da Itália Meridional nos últimos decênios do século IV, e também pela nova vaga de helenismo que então veio vivificar a civilização etrusca.

É verdade que Roma deixara há muito de ser ignorada pelos Gregos, mas conheciam-na muito vagamente. Consideravam-na uma cidade grega fundada nos tempos heróicos por algum sobrevivente da epopéia de Tróia.

A partir de agora, os Gregos vão adquirir um conhecimento mais direto da nova potência, à medida que os cidadãos romanos ou federados começam a negociar com regiões helênicas.

Não nos parece que Roma tenha criado de um dia para o outro uma frota comercial. As populações costeiras do Lácio tinham os seus marinheiros, muitas vezes piratas como os de Ancio. Depois da conquista, o pavilhão romano cobria a sua atividade pacificada e não deve surpreender-nos que, a partir de 306, Roma tenha mantido relações de amizade com os Rodienses, que eram nessa época, e foram durante ainda mais de um século, os mais ativos navegadores do Mediterrâneo Oriental. Três anos mais tarde, outro tratado, entre Roma e Tarento, proibia os navios romanos de passar para leste do cabo Lacinio.

Mas o entendimento entre as cidades da Magna Grécia e Roma não durou muito. Foi em Tarento que rebentou o conflito, a primeira guerra em que Roma se defrontou com Helenos.

O pretexto invocado pelos Tarentinos foi o fato de os Romanos terem violado as cláusulas do tratado de 303, enviando uma frota para o mar Jônico. Na realidade, Tarento sentia-se ameaçada pelos progressos de Roma, que fazia uma política tortuosa, aliando-se ora com os Lucanos, ora apoiando contra eles os Gregos de Thurii, rivais particularmente detestados dos Tarentinos, e fundando na costa adriática várias colônias suscetíveis de servir de base às suas esquadras. Segundo um costume já antigo, os Tarentinos pediram auxilio a um exército estrangeiro; dirigiram-se ao rei do Epiro, Pirro, que alegava descender de Neoptolemo, filho de Aquiles.

Pirro chegou a Tarento em 280, â frente de um exército de tipo helenístico que compreendia – inovação tática impressionante – elefantes de combate.

Venceu em Heracleia do Sins. Depois, confiando na sua forca, e também na sua diplomacia, decidiu marchar sobre Roma, esperando firmemente que a sua aproximação provocaria a sublevação das cidades subjugadas. Conseguiu avançar até Preneste, perto de Roma, mas não se verificou nenhuma das deserções esperadas, e ainda tinha à sua frente exércitos romanos para lhe barrar o caminho.

Retirou-se para a Campânia, de onde enviou uma embaixada, chefiada por Cineias, para pedir a paz. Mas o antigo censor Apio Cláudio Ceco, intervindo no Senado, conseguiu que estes avanços fossem contidos: seria vergornhoso para Roma, disse ele, decretar a paz enquanto um rei estrangeiro estivesse em Itália. No ano seguinte (279), Os acontecimentos deram razão a Apio Cláudio. Pirro, após uma indecisa batalha em Ausculum, retirou-se; outras ambições o chamavam. Os Sicilianos pediam-lhe que organizasse a luta contra Cartago.

Cedeu à tentação e, durante três anos, foi senhor da ilha, mas, ao fim deste período, as cidades sicilianas, fartas dele e dos seus amigos, revoltaram-se e Pirro, passando com dificuldade o estreito de Messina, regressou a Tarento.

Na sua ausência, os Romanos tinham recuperado e concluído uma aliança com Cartago. Pirro foi derrotado perto de Benevento e, dessa vez, abandonou definitivamente o campo de batalha.

A guarnição que deixou em Tarento viria a capitular em 272, entregando a praça ao cônsul L. Papirius Cursor. Seis anos mais tarde, na Etrúria, a cidade santa de Volsinii, capital religiosa da confederação, era conquistada e pilhada pelos Romanos.

A aventura de Pirro, rei cavaleiro e político ousado, terminava com vantagem para Roma: reforçada pelas vitórias na Itália Meridional, liquidava todas as possibilidades de renascimento etrusco e mantinha-se senhora incontestada da península, ao sul de uma linha que ia aproximadamente de Pisa a Rimini.

As Guerras Púnicas

A guerra contra Pirro prefigura em muitos aspectos a longa série de lutas que ocupam a segunda metade do século III e só terminarão definitivamente em 146 com a destruição de Cartago.

Fundada por Tirios no fim do século IX a.e.c., Cartago conseguira construir uma vasta talassocracia no Mediterrâneo Ocidental, muitas vezes a custa de mercadores e colonos gregos. Na Sicilia, a rivalidade agravara-se a ponto de provocar guerras constantes entre Púnicos e cidades gregas.

A intervenção de Roma na Magna Grécia, depois da vitória sobre Pirro, precipitou o conflito. Os habitantes de Messina, Itálicos que tinham conquistado, alguns anos antes, a cidade grega, viram-se obrigados, para não serem subjugados por Cartago, a recorrer aos Romanos. Estes, não sem hesitações, aceitaram ajudá-los, em 264. Assim começou a primeira guerra púnica.

Muito rapidamente, o exército romano obteve grandes sucessos na Sicilia, o que lhe valeu a aliança do tirano de Siracusa, Hiero II. Duílio, que comandava a frota romana, obteve, por sua vez, uma vitória em Mylae, em 260. Animados, os Romanos retomaram um projeto do siracusano Agatocles e organizaram uma expedição à Africa e à Cartago; O comando foi confiado ao cônsul Atílio Régulo. Régulo conseguiu desembarcar mas, após um começo favorável, teve de capitular. A sua derrota ficou a dever-se a um grego, um chefe de mercenários, o espartano Xantipo.

Esta derrota prolongou a guerra. Uma série de reveses das frotas romanas restituiu a Cartago o domínio do mar. A partir daí, as principais operações desenrolaram-se na Sicilia, sobretudo a volta de Palermo.

Pela parte de Cartago, eram conduzidas por Amilcar Barca que, beneficiando da supremacia naval de Cartago, organizou muitos ataques de surpresa às costas italianas. Até ao dia em que Roma, já farta, construiu uma frota nova com a qual o cônsul C. Lutácio Catulo obteve sobre os Cartagineses a vitória decisiva das ilhas Egatas, na Primavera de 241. Cartago, esgotada por uma luta que durava há vinte e três anos, não insistiu e aceitou a paz. Os Cartagineses evacuaram a Sicilia e comprometeram-se a pagar uma pesada indenização de guerra.

Os Romanos acrescentaram-lhe rapidamente outras exigências: os Cartagineses deviam abandonar a Sardenha e a Córsega – o que fizeram.

Os Cartagineses, e sobretudo o clã dos Barca, decidiram ir em busca de outras compensações e construir outro império, na Hispânia. Precisamente no ano em que Roma iniciava a ocupação da Sardenha, Amilcar empreendia a conquista do interior da Hispânia. No seu pensamento, tratava-se sobretudo de conseguir novos recursos para levar a bom termo a sua vingança.

Mas não tardou a morrer em combate contra uma tribo de íberos. O genro, Asdrúbal, que lhe sucedeu, prosseguiu a sua política, fundando a Nova Cartago (Cartagena). Roma sentiu-se preocupada.

Acompanhava os progressos da conquista dos Bárcidas, provavelmente informada pelos seus aliados de Marselha. Para se precaver, na medida do possível, contra o perigo, obrigou Asdrúbal a assinar o tratado do Ebro, estipulando que os Cartagineses não deviam atravessar este rio (parece não se tratar do Ebro moderno, mas do Jucar – opinião discutível, contudo), nem atentar em nada contra a independência das cidades gregas fundadas na costa.

Durante estes anos que separaram as duas primeiras guerras púnicas, Roma também não se manteve inativa. A extensão da sua atividade marítima levava-a a intervir nos assuntos iliricos. População turbulenta, os Ilirios exerciam a pirataria no Adriático e perseguiam constantemente os Gregos até a Elida e à Messênia. A dada altura, pareciam prestes a fundar um verdadeiro império ilírico em detrimento dos Epirotas.

Para proteger os seus nacionais, os comerciantes e navegadores italianos que traficavam nessas paragens, Roma teve de enviar uma expedição que ocupou Apolônia e Epidamno (Durazzo).

Os iIírios, assustados, reconheceram o protetorado de Roma: esta tornava-se potência preponderante no Adriático e adquiria uma testa-de-ponte na península Balcânica.

Embaixadores romanos puderam anunciar oficialmente, em Corinto, o fim do pesadelo ilírico, e os Corintios, reconhecidos, concederam a Roma o direito de participar nos Jogos ístmicos, que se realizavam no seu território. Roma encontrava-se assim integrada, simbolicamente, na comunidade religiosa das cidades helênicas.

Pela mesma época, os exércitos romanos penetravam ainda mais no Norte de Itália, onde estavam instalados os invasores gauleses. Impediram uma ofensiva gaulesa e ocuparam Mediolanum (Milão) em 222.

Pouco tempo depois, eram fundadas as duas colônias de Cremona e Placencia, postos avançados da ocupação romana na Gália Cisalpina.

Roma parecia bem encaminhada para terminar a conquista da Itália quando a vontade de Aníbal, filho de Amilcar, veio pôr tudo em causa. A guerra de Aníbal, (assim que os Romanos chamaram a segunda guerra púnica) não foi grave só porque a própria existência do Estado se viu ameaçada, mas porque todo o pensamento, toda a civilização de Roma sofreram uma crise de onde saíram profundamente modificadas.

Como acontece freqüentemente, a vitória final sobreveio demasiado tarde para permitir o regresso puro e simples ao estado antigo. Roma começou a guerra em parte para defender os interesses do helenismo ocidental; terminou-a como inimiga, ou, pelo menos, como rival dos reinos helênicos do Oriente. No início, ainda estava aberta a todas as correntes do helenismo; no fim, fechara-se sobre si mesma, endurecida pela vontade de resistir, orgulhosa de ter triunfado sobre Aníbal, chefe genial formado na escola dos táticos gregos; tomara consciência dos seus próprios valores tradicionais e, em vez de se abandonar a corrente que há vários séculos a arrastava para o helenismo, esforça-se por confiscar em seu proveito, mais do que assimilar francamente, uma civilização cujo declínio vai ser precipitado pela sua política.

As operações militares começaram em conseqüência de uma provocação consciente de Aníbal que, em 219, atravessou o Jucar e atacou Sagunto. O Senado pediu a Cartago que reparasse esta violação do tratado.

Os Cartagineses não quiseram desdizer o Bárcida e este pôs-se em marcha, à frente de um formidável exército, ao longo das costas espanholas. Alguns compromissos, mas sobretudo o terror que inspirava, abriram-lhe a passagem. Os seus enviados há muito tinham conquistado algumas cumplicidades. Na Gália Cisalpina, tinham provocado uma rebelião dos Insubres e dos Boios, o que atrasou os preparativos romanos.

Quando o exército romano se apresentou no Ródano, era demasiado tarde para impedir Aníbal de transpor os Alpes, sem dúvida por São Bemardo, para historiadores modernos por Clapier. Os Romanos, desprevenidos, não conseguiram detê-lo na Gália Cisalpina e a sublevação dos Gauleses acabou de desorganizar a defesa.

Na Primavera de 217, Aníbal, descendo os Apeninos, surgiu na Itália Central. Um dos cônsules, C. Flaminio, esperava-o na região do Arretium (Arezzo), mas deixou-se surpreender nas margens do lago Trasimeno, e o seu exército foi derrotado. A estrada de Roma estava livre. No entanto, Aníbal absteve-se – como outrora Pirro – de atacar o Lácio de frente.

Alcançou a costa do Adriático, onde tentou, por meio da persuasão ou da força, ganhar para a sua causa populações recentemente subjugadas por Roma e muito particularmente os Campanienses.

Esta política permitiu que os Romanos tivessem tempo de confiar um exército a Q. Fábio, um dos mais tradicionalistas entre os aristocratas. Fábio, com a sua táctica prudente de contemporizador, talvez tivesse resolvido a situação se um dos cônsules de 216, C. Teréncio Varrão, não tivesse cedido a tentação de travar uma batalha nas margens do Aufide. Aníbal venceu novamente, desta vez no campo de batalha de Canas. Esta derrota, um desastre sem precedentes para Roma, acabou com as hesitações dos Campanienses; todo o Sul de Itália se declarou por Cartago.

Cápua abandonou a sua aliada.

Os Romanos, contudo, não se deixaram desencorajar. Opuseram a Aníbal uma estratégia de terra queimada. O Púnico, afastado das suas bases, tinha grande dificuldade em se abastecer. Porém, os exércitos romanos tinham escolhido Cápua como objetivo e, lentamente, fechavam o cerco a sua volta, A cidade foi conquistada em 211; a aristocracia foi massacrada, a plebe vendida, escravizada, as próprias casas foram abandonadas sem que Aníbal tivesse podido tentar fazer alguma coisa para salvar a sua aliada.

Depois da conquista de Cápua, Aníbal pensou generalizar o conflito; voltando-se para o mundo grego, negociou uma aliança com o rei da Macedônia, Filipe V.

Este tratado previa uma verdadeira partilha do mundo entre Gregos e Cartagineses; os primeiros deviam conquistar o Oriente, os segundos o Ocidente.

Acidentalmente, Roma soube destas negociatas, o que contribuiu para aumentar a desconfiança que se começava a sentir em relação aos reinos helenísticos. Mais do que nunca, os homens de Estado romanos convenceram-se de que lutavam para defender uma civilização que lhes era querida, contra a barbárie púnica e a corrupção cínica dos reis orientais.

Todavia, a ajuda fornecida por Filipe V a Aníbal revelou-se pouco eficaz, e o destino da guerra não se jogou na Itália. Foi na Hispânia, onde os Bárcidas continuavam a reunir reforços, que se desferiu o primeiro golpe.

Um jovem, P. Cornélio Cipião, conseguiu que o povo o encarregasse das operações na Hispânia, onde o pai e o tio acabavam de ser mortos. Em poucos meses, inverteu o equilíbrio de forças, apoderou-se de Cartagena, mas não pôde impedir Asdrúbal, o irmão mais novo de Aníbal, de transpor os Pirenéus com um exército. Aníbal preparava-se para marchar sobre o Norte de Brutium, onde as legiões romanas o mantinham à distância. Roma parecia prestes a sucumbir a este duplo assalto simultaneamente pelos dois irmãos. Mas produziu-se um verdadeiro milagre, que a salvou.

O cônsul Cláudio Nero, que tinha por missão vigiar Aníbal na Apália, teve conhecimento dos reforços vindos da Hispânia. Ousadamente, dirigiu-se ao seu encontro e, deixando apenas uma barreira de tropas em frente de Aníbal, juntou-se ao colega, Livio Salinator, nas margens do Metauro. Os dois exércitos romanos esmagaram Asdrúbal que, desesperado, se deixou matar no recontro (207). Alguns dias mais tarde, à sua cabeça, mensagem fúnebre, lançada pelos Romanos, rolava aos pés de Aníbal, no seu campo.

A partir daí, a iniciativa pertencia a Roma. Cipião obteve do Senado autorização para partir para a Africa e, em 204, desembarcou na útica. Aníbal teve de abandonar a Itália para socorrer a sua pátria, mas nem o seu gênio conseguiu evitar a derrota de Zama que, em 202, pôs fim à guerra.

Por que “púnica”?

Como é que a palavra “púnica” tornar-se um adjetivo que significa “relativo ao povo de Cartago”

“Púnica” é derivado da palavra latina Poenicus, que significa “um habitante de Cartago.” Carthage foi fundada por fenícios, e Poenicus é a palavra latina para “fenício.”

Pela Terceira Guerra Púnica, Roma estava pronto para acabar com a ameaça cartaginesa para o bem. Depois de um cerco de vários anos de sucesso de Cartago, os romanos queimaram a cidade para o chão.

Diz a lenda que os romanos, em seguida, derramou sal no solo, de modo que nada voltaria a crescer novamente. Carthage foi finalmente derrotado, e a República Romana era seguro.

A conquista da Grécia

Roma saiu da segunda guerra púnica desfeita, mas fortalecida e aureolada de um prestigio extraordinário em todo o mundo mediterrânico. Senhora de toda a Itália, tendo reduzido a Sicilia a uma província, não conseguiu furtar-se a intervir nos negócios do Oriente. Receando a constituição de um vasto reino macedônico englobando o Epiro e a Ilíria, e que se estenderia aos confins do Norte de Itália, declarou a guerra a Filipe V. Uma vitória decisiva obtida em 197 em Cinoscéfalos permitiu que Roma libertasse as cidades gregas do jugo macedônico; nos Jogos Ístmicos de 196, as cidades gregas foram declaradas independentes e livres de se administrarem a si mesmas.

Esta primeira intervenção no Oriente foi seguida de uma ação contra o rei da Síria, Antioco III, que também sonhava com a formação de um grande império.

Expulso da Grécia pela vitória dos Romanos nas Termópilas, foi definitivamente derrotado em 189 na batalha de Magnésia.

No interior, o Senado, que tinha sido a alma da luta, gozava de um prestigio renovado. Passado o perigo, o velho espírito oligárquico prevalecera e Cipião, o vencedor de Aníbal, refugiara-se num exílio suntuoso, em Literno, na costa campaniense, das investidas de Catão. Uma boa parte dos senadores sentia que a obra de Roma estava realizada e que, de futuro, os esforços deviam tender para conservar este equilíbrio vitorioso.

Mas muitos fatores intervinham na política romana, não permitindo que se detivessem nesta sabedoria. Os soldados e os chefes tinham experimentado a pilhagem, a embriaguez do poder e, progressivamente, os espíritos começaram a imaginar a possibilidade de novas conquistas.

O renascimento de uma Macedônia forte, no reinado de Perseu, originou novos temores, ordenou uma nova guerra que terminou com a vitória de Paulo Emilio em Pidna, em 167: era o fim da Macedônia independente e, em breve, perante a anarquia em que a Grécia caiu, os Romanos tiveram de reduzir a Macedônia a uma província romana e reforçar o controle sobre as cíclades e as confederações (148 a.e.c.).

O equilíbrio político do Oriente helenístico ia-se esboroando progressivamente, sob pressão de Roma. Para derrotar os Rodienses demasiado favoráveis a Perseu, o Senado decidiu criar um porto franco em Delos, o que arruinou o seu comércio e desenvolveu consideravelmente a atividade dos negociantes italianos, que começaram imediatamente a canalizar para Roma as riquezas do Oriente.

Em meados do século, o poder romano encontrava-se instalado em toda a orla do Mediterrâneo. Cartago, arruinada pelas exigências romanas, foi cercada e conquistada por Cipiâo Emiliano, o segundo Africano, no tempo em que Corinto, capital da Confederação dos Acaios revoltada, também era tomada e saqueada.

Na Hispânia, onde a resistência das populações indígenas prosseguiu durante muito tempo, a pacificação foi conduzida sem descanso. Terminou em 133, com o terrível cerco de Numância, último bastião dos Celtiberos.

Na Asia, o último rei de Pérgamo, Atabo III, legou o seu reino aos Romanos, que aceitaram a herança e constituíram, assim, o primeiro núcleo da província da Ásia.

Mas esta imensa obra teve grandes conseqüências para a política interna, acabando por conduzir ao fim da República e do regime oligárquico.

A ruína da república oligárquica

Os Principais beneficiários das conquistas tinham sido os aristocratas, que adquiriram domínios imensos em que os escravos, em bandos, se dedicavam a agricultura e à criação de animais. Por seu lado, o comércio enriquecera os cavaleiros, que formavam uma burguesia poderosa e ativa. Perante estas classes privilegiadas, a plebe de Roma e dos campos mantinha uma situação econômica precária.

O desenvolvimento da economia capitalista, a capacidade dos especuladores e dos publicanos, muitas vezes associada ao conservantismo senatorial, originava a miséria dos pequenos proprietários. Mesmo na Cidade, o crescimento do Império atraira muitos emigrantes sem recursos, Italianos desenraizados, Gregos em busca de protetores e sobretudo escravos libertados de todas as raças que formavam uma massa miserável e ociosa. Esta plebe carenciada encontrou apoio no seio da aristocracia, junto de homens influenciados pelas idéias formuladas pelos filósofos gregos em nome da justiça e da humanidade e que, sobretudo, estavam recordados de que a força de Roma sempre residira na solidez de uma classe de camponeses, firmemente decididos a defender a sua terra, nela permanecendo.

Em 133, Tibério Grace, neto de Cipião, o primeiro Africano, por parte da mãe, foi eleito tribuno da plebe, começando imediatamente a defender a causa dos pobres. Elaborou uma lei agrária, pedindo que se limitasse o direito de ocupação do ager publicus pelos grandes proprietários e que fossem atribuídos aos cidadãos necessitados lotes de terra inalienáveis.

Os oligarcas irredutíveis organizaram contra ele um motim, no qual morreu. O seu programa foi então retomado pelo irmão, Caio Grace, em novas proporções.

Compreendendo que só se poderiam obter resultados sérios à custa de uma reforma profunda do Estado, tentou reduzir, por meio de diversas medidas, os poderes do Senado e apelar para os direitos de cidadão das massas italianas. Um Estado italiano, assente numa ampla base social, teria mais força e peso do que a plebe romana para resistir a onipotência dos “nobres” e assegurar uma melhor administração. Começa a adivinhar-se a solução adotada por Augusto e esboçada por César para por termo à paralisia em que a cidade caira de fato, reduzida aos habitantes da Cidade. Mas também ele, tal como o irmão, foi vitima da violência. No entanto, a obra dos Gracos, reduzida se considerarmos apenas os resultados práticos, revelou-se muito importante ao provocar a formação de um partido popular cujos chefes interpelarão, até ao fim da República, o partido senatorial. E, entre um mal-estar sempre crescente, rebentou uma crise que abalou os próprios fundamentos do poder romano.

Na verdade, os Italianos, descontentes por terem sido excluídos da cidade romana, ameaçados por verem os seus territórios ocupados por colonos, devido às leis agrárias, revoltaram-se em 91.

Os velhos ódios reacenderam-se de novo. Os mais encarniçados entre os insurrectos foram os povos samnitas, que fundaram uma capital de nome simbólico, Itálica, e tentaram arrastar Campanienses e Etruscos.

O medo arrancou a nobreza romana às concessões até então recusadas.

A guerra social terminou com vantagem para Roma, e a Itália sofreu transformações; o velho Estado-cidade está a tornar-se uma nação, a nação italiana.

No conjunto dos municípios, a partir de agora organizados segundo o modelo da metrópole, todos os habitantes gozam integralmente dos direitos reconhecidos aos cidadãos da própria Roma: se, quando afastados da capital, não os exercem, nem participam, de fato, nas eleições e na votação das leis, tem sempre a possibilidade de fazer a viagem, se surgir alguma circunstância grave, e a sua presença é susceptível de modificar as maiorias. Assim acontecerá muitas vezes no tempo de Cícero.

Mas novas perturbações agitam Roma. A guerra social mal terminara e já a era das guerras civis se inicia, para só terminar com a ditadura de Otávio e o advento do Império. Lutas multiformes, fecundas em peripécias, mas a aposta é uma só, seja qual for a personalidade dos protagonistas. Trata-se de saber em benefício de quem, de que grupo social, de que homem será explorado o imenso domínio de que a cidade se dotou.

Roma atravessa então, durante três quartos de século, uma crise de crescimento: a cidade oligárquica, já abalada pela guerra social, transforma-se em império.

Para tal, as instituições devem flexibilizar-se, ou mesmo transformar-se radicalmente, o que gera, como é fácil de imaginar, tumultos graves e variados. Surgem novos interesses, com o advento de uma classe média enriquecida pelo comércio (era o caso, em particular, dos novos cidadãos, vindos das cidades italianas depois da guerra social) e a cobrança de impostos nas províncias; o número de escravos libertados e de peregrinos que vivem em Roma aumenta constantemente; é difícil não ter em conta esta massa, muitas vezes turbulenta, à mercê dos agitadores.

Assim, a história deste período, tão rica em conflitos pessoais, tão fecunda em heróis e em episódios pitorescos, apresenta, porém, uma unidade profunda: o velho mundo está a desfazer-se um pouco por toda a parte, as instituições tradicionais já não podem suportar o enorme peso do Império e, apesar das oscilações que, momentaneamente, parecem conter a evolução, o lento trabalho prossegue obscura e irresistivelmente, até que a máquina se revele adaptada a todas as novas necessidades.

A instituição da república romana

Em 509 a.e.c., um grupo de aristocratas expulsou Tarquínio e pôs fim à monarquia. Em seu lugar, instituiu uma magistratura colegiada, na qual dois homens compartilhavam o poder supremo. Os cônsules, como foram chamados depois (no principio eram conhecidos simplesmente como “pretores”, e aqui o termo cônsul é utilizado para evitar confusões), eram escolhidos pelos comitia centuriata e desempenhavam o cargo pelo período de um ano. Não era permitida a reeleição em períodos consecutivos. Os cônsules tinham imperium (ainda que fossem obrigados a acatar o voto dos comitia centuriata) e conservaram todos os sinais extemos da monarquia, embora os fundadores da República dispusessem que os cônsules deviam possuir os fasces por turnos, para não dar a impressão de haverem substituído um rei por dois.

Mas o poder dos cônsules era limitado em outros aspectos mais importantes. Segundo a tradição, no primeiro ano da República foi aprovada uma lei que deu às cidades o direito de recorrer (provocatio) ao povo contra uma decisão de um magistrado. Alguns especialistas põem em duvida a autenticidade dessa lei e a consideram um precedente fictício de leis similares aprovadas em 449 e 300 a.e.c.; mas não há provas disso, e a tradição não é, naturalmente, tão incerta como se pretende. Sua liberdade de ação, além do mais, era limitada pelo fato de seu cargo ser colegiado e anual. Os princípios paralelos de “colegialidade” e “anualidade” se transformaram em elementos básicos da prática constitucional romana e foram aplicados a todas as magistraturas posteriores; a única exceção (parcial) foi a ditadura.

O principio colegiado pretendia que os projetos de qualquer cônsul pudessem ser frustrados pela intervenção de seus colegas, já que se acordou que em qualquer disputa devia prevalecer a opinião negativa. A limitação do mandato do cônsul a um ano reduzia igualmente as possibilidades de prejudicar o restante e assegurava que a continuidade de governo e a direção política do sistema dependessem do Senado, no qual se elegiam os cônsules e ao qual estes retornaram.

De fato, ainda que o Senado só pudesse aconselhá-los, já que seus membros mais influentes tinham sido cônsules antes, sua opinião determinava de fato as ações dos que exerciam o cargo por um tempo.

O Senado foi uma encarnação viva da tradição romana e o depositário da sabedoria e da experiência politicas. Na prática, era o corpo governante de Roma, e os magistrados, meros executores.

A única exceção a essas regras básicas foi a ditadura, instituída em 500 a.e.c. Em casos de excepcional perigo, os cônsules podiam nomear um ditador para que atuasse como comandante supremo e cabeça do Estado.

Ele tinha um ajudante, o chefe da cavalaria, subordinado estritamente ao ditador. Não cabia apelação contra um ditador, que não podia ser discutido por seus colegas; por outro lado, a duração de seu cargo era apenas de seis meses.

Entre outros magistrados, estavam os questores, que ajudavam os cônsules; eles eram eleitos por votação popular a partir de 447 a.e.., e os censores, eleitos pela primeira vez no ano de 443.

Estes se encarregavam das tarefas que antigamente tinham desempenhado os cônsules; a mais importante de suas obrigações era levar a efeito o censo da comunidade, fixar os direitos e obrigações dos cidadãos e designá-los para as tribos e centúrias correspondentes. Os censores eram eleitos de quatro em quatro ou de cinco em cinco anos, e exerciam o cargo por dezoito.

O novo sistema constituía um conjunto muito sofisticado de instituições politicas que, pelo que sabemos, não tinham comparação no mundo grego nem na Etrúria.

Por essa razão, alguns especialistas duvidaram que uma instituição única como o consulado pudesse haver surgido do nada no inicio da República, argumentando, em contrapartida, que o consulado se desenvolveu gradualmente a partir de um sistema mais primitivo em que o Estado era governado por um ditador anual ou um único magistrado principal (Praetor maximus).

Mas não há nenhuma prova convincente que apoie essas teorias.

De fato, existem bons motivos para pensar que os fundadores da República estavam muito longe de ser políticos inexperientes.

Uma de suas inovações mais ousadas foi a nomeação de um oficial destinado a encarregar-se das antigas funções religiosas do rei. Esse oficial foi chamado rex sacrorum (rei dos sacrifícios).

Suas funções eram puramente religiosas e não lhe era permitido ocupar nenhum outro cargo. A proibição foi sem dúvida concebida para evitar que o titulo de “rei” se associasse um determinado traço ou poder politico.

Segundo A. Momigliano, “o duplo consulado não foi uma forma usual de governo e implicou certa maturidade. A maturidade dos homens que criaram o rex sacrorum para isolar e anular o poder sagrado dos reis.

Nós vemos atrás disso uma aristocracia vigilante e inquieta trabalhando no início da República romana”.

Mas, apesar de sua complexidade, o novo sistema não pode (nem se propôs a isso primordialmente) assegurar um governo estável e bem ordenado. Ao contrário, a historia politica e militar de Roma no primeiro meio século de existência da República é uma imagem confusa de tumulto e desordem. Parece que a autoridade fortemente centralizada estabelecida pelos reis, e que desapareceu com a queda de Tarquínio, abriu caminho para um ressurgimento da rivalidade entre poderosos grupos e indivíduos, que conseguiram retomar suas atividades à margem do controle do Estado e atuar com exércitos próprios de subordinados e clientes.

O melhor exemplo dessa situação é a história do líder sabino Atio Clauso, que emigrou para Roma em 504 a.e.c. com 5.000 clientes e subordinados; assumindo o nome de Apio Cláudio, foi admitido no Senado e se transformou no antecessor da gens Claudia. Outros exemplos do mesmo fenômeno são a tentativa de golpe de Estado de Apio Herdonio, que em 460 a.e.c. ocupou o Capitólio com um grupo de 4.000 clientes, e a guerra privada dos Fábios e seus clientes, que em 477 a.e.c. foram aniquilados pelos etruscos na batalha do Rio Crémera.

A importância politica dos Fábios nesse período é confirmada pelo fato de, por sete anos consecutivos a partir de 479 a.e,c. (momento do inicio da campanha de Crêmera), um dos cônsules ter sido sempre um Fábio; após o desastre de Crémera, os Fábios ficaram afastados do consulado até 467.

A visão geral de uma sociedade dominada por grupos fechados sob a liderança aristocrática pode ser confirmada graças ao recente achado de uma inscrição, procedente de Sitírico, em honra a Marte, dos “companheiros de Públio Valério”. A inscrição data aproximadamente de 500 a.e.c., o que aumenta a possibilidade de que o celebre P. Valério Publicola fosse um dos fundadores da República.

A questão mais importante é assinalar a existência de um grupo de homens que se auto-definissem não como cidadãos de um Estado ou membros de um grupo étnico, mas como companheiros de um chefe.

A palavra latina sodales, aqui traduzida por “companheiros”, implica um grupo unido por um forte sentimento de solidariedade e lealdade a serviço de um ou vários chefes.

A mesma palavra é também utilizada por Tito Lívio para qualificar os seguidores dos Fábios em Crêmera.

Semelhantes agrupamentos se encontram em muitas sociedades aristocráticas: podemos recordar, por exemplo, os celtas amboti (circundantes), que acompanhavam os capitães gauleses e que foram considerados por Cesar como similares aos clientes (Guerra das Gálias, 6.15).

Parece que essa estrutura social teve seu apogeu durante um breve período que se seguiu à desintegração do regime centralizado e ordenado dos reis.

Muitas das instituições cívicas criadas sob os últimos reis devem ter caído em desuso quando os aristocratas se assumiram o poder em 509 a.e.c. Devemos supor, por exemplo, que o sistema centurial de Sérvio Túlio fosse bastante impreciso e ineficaz no tempo da batalha de Crémera. Mas o ímpeto aristocrático terminou no segundo quarto do século V. Isso sucedeu, em parte, em consequência da catástrofe de Crêmera, que foi na verdade mais um de uma série de reveses militares.

Mas o desafio principal à ordem aristocrática proveio de um fator completamente novo, que começou a fazer-se sentir naqueles anos; esse fator era a recém-organizada força da plebe.

Romance de Lucrécia

Tudo começou com um aposta estúpida, daquelas que comprometem jovens ébrios no final de um festim. Na esperança de colher ricos despojos, o rei de Roma, Tarquínio, o Soberbo, conduziu seu exercito para diante de Ardeia, cidade do Lácio, a cerca de 30 quilômetros de Roma. Mas a guerra contra essa cidade se revela mais difícil que o previsto.

O exercito romano deve se instalar no local Para um cerco do qual ninguém pode prever o fim.

Para aliviar seu aborrecimento, os jovens oficiais se reúnem com freqüência e matam o tempo em banquetes e alegres jogos. Entre eles estão todos os príncipes da família real, os três filhos de Tarquínio e seu primo Tarquínio Colatino. No decorrer de uma dessas reuniões, a conversa recai sobre as esposas dos homens presentes e cada um deles passa a elogiar as qualidades excepcionais das suas. O tom sobe, os espíritos se aquecem.

Colatino propõe então a seus companheiros ir controlar em seus lares a conduta de suas esposas.

Os jovens oficiais percorrem à rédea solta a estrada até Roma, onde chegam ao cair da noite. Passando de uma residência a outra, descobrem suas mulheres que se banqueteiam em companhia de homens e mulheres de sua idade, distendidas em camas unidas a mesa à moda etrusca. Em seguida, tomam o caminho de Collatium, onde reside a esposa de Colatino, Lucrecia, filha de um aristocrata romano, Lucrécio.

A cena que se oferece a seus olhos é exemplar: apesar da hora tardia, Lucrecia, sentada numa poltrona, fia a lã com suas criadas à luz de uma lamparina.

Todos os oficiais reconhecem de bom grado que o “concurso dos esposas” é vencido de longe por Lucrecia e felicitam Colatino por possuir tal companheira.

O marido vencedor convida seus companheiros a um banquete, em que a própria Lucrecia se desdobra para o conforto de seus hóspedes. De madrugada, todos os jovens soldados retornam a seu acampamento em Ardeia.

Sexto, filho de Tarquínio, o Soberbo, contudo, cativado pela grande beleza de Lucrecia, concebe o projeto de seduzi-la. Volta ao Collatium alguns dias mais tarde. Muito bom acolhido por Lucrecia, faz sua refeição, depois se recolhe no quarto de hóspedes. No meio da noite, certo de que toda a criadagem esta dormindo, Sexto entra no quarto de Lucrecia, de espada na mão. Mantendo brutalmente a jovem mulher sobre sua cama, tenta convencê-la a ceder a seu desejo.

Vendo que, mesmo sob a ameaça de ser morta, Lucrecia não cede, recorre a uma última intimidação: vai matá-la e colocar junto dela o cadáver de um escravo nu e degolado, o que levaria a crer que ela cometeu um adultério desonroso e fora morta por seu crime. Aterrorizada, Lucrécia cede às instancias de Sexto, que, vangloria de ter tirado a honra da mulher mais virtuosa de Roma.

De manha cedo, Lucrecia manda chamar seu pai e seu marido. Ela rerevela chorando a violência que sofreu e pede por vingança. A seguir, sacando m punhal escondido sob suas roupas traspassa o próprio coração.

Perto de Colatino, está também seu amigo Junius Brutus. Este jovem sobrinho de Tarquínio, constatando a crueldade do rei com relação a rivais eventuais, simula por muito tempo estupidez, derivando disso seu apelido Brutus (que significa imbecil. Diante do desespero da família de Lucrecia, Brutus abandona seu personagem.

Retira a faca ensangüentada do peito de Lucrecia e exclama:

“Por este sangue tão puro antes do crime do príncipe, juro diante de vós, ó deuses, expulsar, pelo fogo, pelo ferro e por todos os meios a meu alcance, Tarquínio, o Soberbo, sua criminosa esposa e todos os seus filhos e juro não tolerar mais reis em Roma, nem eles nem qualquer outro”.

Estupefatos pelo inesperado vigor de Brutus, as testemunhas cena repetem seu juramento. Tomando o corpo de Lucrecia, levam-no para fora e amotinam os habitantes de Collatium.

Atiçados pela dor do pai e pelo apelo a vingança de Brutus, os jovens se armam e se precipitam sobre Roma. Toda a população da cidade, reunida no fórum, esta galvanizada pelo discurso de Brutus.

Ele lhes conta em termos comoventes a morte ignominiosa de Lucrecia e recorda os numerosos crimes de Tarquínio e de sua família. O povo vota então uma lei que revoga a autoridade do rei e o condena ao exílio, ele com toda a sua família.

Tarquínio consegue fugir e, com dois de seus filhos, se refugia na cidade etrusca de Caere, enquanto o violador de Lucrecia, Sexto, se retira em Gabies, onde é assassinado.

A república nasceu em Roma e o povo elege imediatamente seus dois primeiros cônsules, Brutus e Colatino.

A sedução de Lucrecia é a versão romanceada per Tito Lívio de uma realidade histórica, a queda da monarquia em Roma e o estabelecimento da republica.

As causaa da expulsão dos etruscos de Roma permanecem obscuras. A data de sua partida, certamente mais tardia que a do ano 509 a.e.c., transmitida pelos historiadores antigos, teve lugar provavelmente na primeira metade do século V. O que é certo, em contrapartida, é que os etruscos se instalaram em Roma no final do século VII e transformaram a cidade, graças a grandes obras públicas, tendo de abandonar o Lácio no decorrer do século V.

Fonte: www.geocities.com/www.roma.templodeapolo.net/www.nomismatike.hpg.ig.com.br/www.ushistory.org

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