Guerra do Líbano

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Guerra do Líbano – O que foi

Guerra civil que opõe os cristãos maronitas, de um lado, e a coalizão de drusos e muçulmanos, de outro, entre 1975 e 1991.

O conflito tem reflexos na situação do Líbano até hoje. Em 1948, o Líbano recebe 170 mil refugiados palestinos, depois da derrota dos Exércitos árabes que tentaram impedir a criação do Estado de Israel.

A Constituição de 1926 estabelecia, por um acordo tácito, que o presidente seria sempre um cristão maronita e o primeiro-ministro, um muçulmano sunita. À medida que cresce a população muçulmana no país, o pacto estabelecido impede que esse grupo ocupe os cargos mais importantes do governo.

Uma guerra civil eclode em 1958, com insurreições muçulmanas contra o presidente maronita Camille Chamoun (pró-norte-americano), sob inspiração dos regimes nacionalistas pró-soviéticos da Síria e do Egito.

Tropas norte-americanas desembarcam no país, provocando imediato protesto soviético. A crise é contornada, depois de negociações, com a substituição de Chamoun e a retirada norte-americana.

Após a saída das tropas dos Estados Unidos (EUA), é encontrada uma solução política, a pedido da ONU (Organização das Nações Unidas).

Organiza-se um governo composto de líderes dos vários grupos religiosos do país.

O frágil equilíbrio de poder, no entanto, rompe-se na década de 70.

Uma nova derrota árabe na Guerra dos Seis Dias, em 1967, e o massacre dos palestinos na Jordânia durante o Setembro Negro, em 1970, elevam para mais de 300 mil o número de refugiados palestinos no Líbano.

A Organização para a Libertação da Palestina (OLP) estabelece seu quartel-general em Beirute e começa a atacar Israel a partir da fronteira libanesa, agindo com independência no interior do país.

A OLP é apoiada pelos setores reformistas e pan-arabistas (interessados em reunir todos os países de língua árabe), sendo hostilizada pelos conservadores, que a consideram uma ameaça à soberania do país e responsável pelas represálias israelenses.

Guerra do Líbano – Início

Guerra do Líbano
Guerra do Líbano

Os cristãos maronitas acusam o governo de ineficácia e integram-se às milícias do Partido Falangista, de extrema-direita, que defende a expulsão imediata dos palestinos e a manutenção do poder nas mãos dos cristãos.

Milhares de jovens drusos, sunitas e xiitas alistam-se nas forças de suas respectivas organizações políticas.

Em abril de 1975, as tensões explodem numa guerra civil em larga escala, que opõe a coalizão de esquerda druso-muçulmana, que tem o apoio da OLP, e a aliança maronita de direita. O Exército libanês, comandado por oficiais cristãos, fragmenta-se em facções rivais e o governo praticamente deixa de funcionar.

A guerra civil atinge o país com uma violência sem precedentes. Em 1976, diante da iminente vitória do bloco esquerdista, a Síria rompe sua aliança com os muçulmanos e invade o país, apoiando inicialmente as milícias maronitas. No decorrer do conflito, os sírios mudam de aliados várias vezes, passando a dominar cada vez mais o território e as instituições libanesas.

A presença de tropas sírias provoca protestos dos árabes e há deslocamento de tropas de França, EUA e União Soviética (URSS) para a região.

O prosseguimento da luta leva à desagregação da sociedade libanesa. Milícias armadas fracionam o país em enclaves étnico-religiosos rivais. Em 1976, realiza-se o Encontro de Riad, que obriga a Síria a reconciliar-se com a OLP e renunciar à intervenção no Líbano. Uma comissão formada por Egito, Arábia Saudita, Síria e Kuweit é encarregada de supervisionar a paz na região. Em 1977, no entanto, o assassinato do líder druso Kamal Jumblatt desencadeia nova onda de violência e os combates são retomados. A situação se agrava com a ação de Israel que, na operação Paz na Galiléia, realiza incursões militares no território libanês, com o objetivo de expulsar a OLP.

Em junho de 1982, com o apoio das milícias cristãs, Israel invade o Líbano e chega a Beirute. Após dois meses de intensos bombardeios israelenses, é negociada a retirada da OLP da capital libanesa. No ano seguinte, ela deixa o país. Em 16 de setembro, com permissão israelense, milícias cristãs libanesas invadem os campos de refugiados palestinos de Sabra e Chatila, na parte oeste de Beirute, e massacram a população civil.

A ação é uma represália pelo assassinato, dois dias antes, do presidente eleito Bachir Gemayel. O governo libanês pró-israelense é fortemente combatido, com a ajuda da Síria, e Israel retira suas tropas para uma estreita faixa ao longo da fronteira sul do Líbano.

Os EUA enviam suas tropas ao Líbano após os massacres de Sabra e Chatila e se retiram em fevereiro de 1984, após pressão internacional. A saída das tropas norte-americanas e das de Israel, em seguida, enfraquece os cristãos. Os drusos dominam a região do Chuf, área montanhosa ao sul e leste de Beirute, expulsando as comunidades maronitas que ali viviam há séculos.

Os falangistas sofrem uma significativa derrota em 1984 e 1985, quando, sob patrocínio sírio, as três principais facções militares libanesas a milícia drusa (xiita), a milícia Amal (também xiita, pró-Síria) e a Falange (cristã) assinam, em Damasco, um acordo para o cessar-fogo. O pacto é boicotado pelo Hezbollah (grupo xiita radical apoiado pelo Irã), pela Murabitun (milícia muçulmana sunita) e por setores da comunidade cristã.

A violência prossegue, com o seqüestro de vários estrangeiros, o assassinato do primeiro ministro Rashid Karame, em junho de 1987, e sangrentos combates nos subúrbios de Beirute, opondo o Amal e o Hezbollah.

Gemayel encerra seu mandato em setembro de 1988, sem conseguir pacificar o país.

Israel cria uma milícia libanesa aliada, o Exército do Sul do Líbano (ESL), e ocorrem 20 invasões aéreas israelenses durante o ano de 1988. Em 1989, uma nova reunião tripartite propõe uma “carta de reconciliação nacional”, que é apoiada por EUA, URSS, França, Reino Unido e principais governos árabes. Em 22 de outubro de 1989, a Assembléia Nacional Libanesa, reunida em at Taif, na Arábia Saudita, aprova essa carta. Ela determina a participação, em condições de igualdade, de cristãos e muçulmanos no governo e o desarmamento das milícias.

O general cristão Michel Aoun rejeita o acordo de at Taif e autoproclama-se presidente da República. Os combates terminam em outubro de 1990, quando bombardeios sírios destroem o quartel-general de Aoun e o forçam ao exílio na França. Uma frágil paz, estabelecida sob a proteção síria, é formalizada por um tratado em maio de 1991.

A Síria consolida seu domínio sobre o Líbano, mantendo 35 mil soldados no país. Todas as milícias são desarmadas, menos aquelas que atuam na região do sul libanês. Ali, a tensão continua, com ataques de guerrilheiros do Hezbollah, apoiados pelo Irã, contra o ESL e o norte de Israel. Os israelenses respondem com ataques aéreos às posições da guerrilha e, em 1996, iniciam maciços ataques aéreos e de artilharia que atingem, pela primeira vez desde 1982, os subúrbios de Beirute. Em abril de 1998, o gabinete israelense anuncia a intenção de cumprir a resolução 425 da ONU, que exige sua retirada da faixa de segurança de 15 quilômetros no sul do Líbano.

Guerra do Líbano – Conflito

O termo Guerra do Líbano pode se referir a qualquer um dos seguintes guerras, lutou no Líbano:

Guerra Civil Libanesa (1975-1990)
Guerra dos Cem Dias ” de 1978 (parte da Guerra Civil Libanesa)
1982 Guerra do Líbano (parte da Guerra Civil Libanesa, também conhecido como a Primeira Guerra do Líbano)
Guerra Mountain (Líbano) 1983-1984 (parte da Guerra Civil Libanesa)
Guerra dos Camps 1984-1989 (parte da Guerra Civil Libanesa)
Conflito Sul do Líbano (1985-2000)
2006 Guerra do Líbano (também conhecido como a guerra Segunda Guerra do Líbano ou Israel-Hezbollah)
2011-presente conflito no Líbano

Guerra do Líbano – Israel

Período : 1982-1985

Guerra do Líbano

Estado de Israel sempre tentou ter uma fronteira norte pacífica, mas a posição do Líbano como refúgio de terroristas tornava isto impossível. Em março de 1978, terroristas da OLP (Organização para Libertação da Palestina) invadiram Israel, mataram um turista americano e logo depois seqüestraram um ônibus civil. Quando o exército de Israel interceptou o ônibus, os terroristas abriram fogo.

No total, morreram 34 reféns.

Em resposta a este ataque terrorista o exército israelense invadiu o Líbano e atacou bases terroristas no sul do país, empurrando-as para longe da fronteira.

Depois de dois meses as tropas israelenses se retiraram, dando lugar às forças de paz da ONU, que se mostraram incapazes de conter o terrorismo.

A violência aumentava devido a ataques terroristas da OLP e represálias israelenses, chegando a um ponto em que uma intervenção externa foi necessária e os Estados Unidos mediaram um cessar-fogo entre a OLP e Israel.

Cessar-fogo que foi desrespeitado inúmeras vezes pelos terroristas da OLP durante 11 meses.

Neste meio tempo, 29 israelenses morreram e mais de 300 ficaram feridos, em 270 ataques terroristas.

Enquanto isso uma força do OLP contendo de quinze mil a dezoito mil homens estava acampada no Líbano, dos quais de cinco a seis mil eram mercenários estrangeiros vindos da Líbia, Síria, Sri Lanka, Chade e Moçambique. O Arsenal da OLP, suficiente para equipar cinco brigadas, era composto de, além de muitas armas leves e uma quantidade menor de armas médias e pesadas, morteiros, foguetes, centenas de tanques, uma extensa rede antiaérea e mísseis terra-ar (providos pela Síria).

Ataques do exército de Israel não conseguiram conter o crescimento do exército da OLP até que a situação na Galiléia (região norte de Israel, próxima ao Golan) tornou-se intolerável: milhares de pessoas foram forçadas a fugir de seus lares ou passar muito tempo em abrigos anti-bomba devido aos ataques terroristas.

A gota d’agua foi a tentativa de assassinato do embaixador de Israel na Grã Bretanha, Shlomo Argov, levada a cabo por um grupo de terroristas palestinos. Em represália, as Forças de Defesa de Israel invadiram o Líbano em 4 de junho de 1982. Em resposta, a OLP reagiu com artilharia massiva e ataques com morteiros direcionados à população israelense na Galiléia.

Em 6 de junho Israel lançou a operação “Paz para a Galiléia”, cujo sucesso inicial levou os oficiais israelenses a, ao invés de expulsar a OLP da região, tentaram induzir os líderes do Líbano a assinar um tratado de paz.

Em 1983, Amin Gemayel assinou um tratado de paz com Israel.

Um ano depois, no entanto, a Síria forçou Gemayel a abandonar o acordo de paz. A guerra terminou logo após, quando o exército israelense invadiu Beirute, capital libanesa, e cercou Yasser Arafat e sua guerrilha.

A Tirania da OLP no Líbano

Para os residentes árabes no sul do Líbano, controlado pela OLP, a vida era terrível. Depois de ser expulsa da Jordânia pelo rei Hussein em 1970, muitos militantes foram para o Líbano onde cometerem atrocidades com a população e usurparam a autoridade do governo libanês.

Em 14 de outubro de 1976, um embaixador libanês, Edward Ghorra, falou à ONU que a OLP estava arruinando seu país. Em suas palavras elementos palestinos pertencentes a várias organizações seqüestravam libaneses e estrangeiros, aprisionado, interrogando e as vezes matando-os.

Dois colunistas do Washington Post, reconhecidamente não favoráveis com Israel declararam que a OLP estava infestada de bandidos e aventureiros.

Um correspondente do New York Times visitou a cidade de Damour e escreveu que a OLP havia transformado a aldeia cristã em uma base militar. Quando a aldeia foi libertada pelo exército israelense, os habitantes disseram ao correspondente que sentiam-se muito felizes por terem sido libertados.

A Retirada Relutante da OLP

Quando Israel capturou Beirute havia de seis a nove mil terroristas na cidade e para prevenir mortes de civis, Israel acordou um cessar-fogo para permitir que um diplomata americano negociasse uma retirada pacífica da OLP do Líbano. Como gesto de flexibilidade, Israel permitiu que os membros da OLP se retirassem com suas armas pessoais.

A OLP adotou uma estratégia de violações controladas do cessar fogo com dois objetivos: causar danos ao exército israelense e fazer com que o mesmo retaliasse e acidentalmente infligisse danos à população civil libanesa. Esta tática tinha por objetivo extrair uma vitória política, fazendo que Israel fosse condenado internacionalmente, já que a vitória militar não foi possível.

Esta estratégia deu certo pois a mídia passou a relatar ataques israelenses a áreas em que aparentemente não havia atividade militar, mas a inteligência israelense dizia existirem terroristas escondidos.

Em uma noite uma rede de televisão americana reportou que Israel atacara sete embaixadas absolutamente pacíficas.

Fotos divulgadas pela inteligência israelense mostravam que as embaixadas estavam infestadas de tanques, morteiros, metralhadoras pesadas e posições antiaéreas. Mais tarde, o exército do Líbano descobriu uma extensa rede subterrânea de apoio aos terroristas.

Pela primeira vez na história de Israel, não houve consenso em relação à guerra, alguns a consideravam certa e outros não, fato que gerou imensos debates em Israel.

Menachem Begin demitiu-se devido ao clamor pelo fim dos combates e o governo de coalizão formado em 1984 decidiu retirar Israel da guerra, deixando para trás uma força simbólica de mil homens na fronteira entre o Líbano e Israel para auxiliar o exército libanês a conter o terrorismo.

Apesar da operação militar ter conseguido expulsar a OLP da fronteira, ela não encerrou o problema do terrorismo proveniente do Líbano. Além disso, nos combates, 1216 soldados israelenses morreram entre 5 de junho de 1982 e 31 de maio de 1985.

A violência continua

A violência, no entanto, continua. O grupo terrorista mais ativo é o Hezbolla, que é totalmente apoiado pela Síria. Existem outros como a Frente Popular para a Liberação da Palestina (FPLP), cuja ameaça ainda não foi extinta, entre outros. Em 1995, o exército de Israel, montou uma operação para conter bombardeios do Hezbolla na fronteira norte de Israel.

A artilharia israelense errou o alvo e acertou uma base das Nações Unidas, matando em torno de 100 civis que lá trabalhavam. Após este incidente, um mecanismo de prevenção do uso de civis em operações terroristas foi criado, com representantes dos EUA, França, Síria e Líbano.

Em 24 de março de 2000 a força israelense presente no sul do Líbano, retirou-se após 22 anos de ocupação militar. Todos os postos avançados foram evacuados de acordo com a resolução 425 do Conselho de Segurança das Nações Unidas (1978).

A Falange Cristã libanesa foi responsável pelos massacres ocorridos nos campos de refugiados árabes de Sabra e Shatila, em 16 e 17 de setembro de 1982.

As tropas israelenses permitiram que a milícia cristã entrasse nos campos para expulsar células terroristas que acreditava-se estarem lá. Estimava-se que haveria em torno de 200 homens armados nos bunkers da OLP construídos durante a ocupação.

Quando soldados israelenses ordenaram que a Falange Cristã deixasse os campos, eles encontraram muitos mortos de diversas nacionalidades árabes, incluindo crianças e mulheres (460 de acordo com a polícia libanesa e 700-800 de acordo com o exército israelense).

A matança foi realizada para vingar o assassinato do presidente libanês Bashir Gemayel e 25 seguidores seus, mortos num ataque a bomba, na mesma semana.

Israel declarou-se indiretamente responsável pelas mortes por não ter previsto a possibilidade de violência por parte da Falange. O general Raful Eitan, Chefe de Staff do exército foi demitido e o ministro da defesa Ariel Sharon (futuro primeiro-ministro) demitiu-se.

Ironicamente, enquanto 300.000 israelenses protestaram contra o massacre, o mundo árabe calou-se. Fora do Oriente Médio, Israel foi culpada pelo massacre. A Falange, que cometeu os crimes, foi salva da maior parte das críticas. Esse massacre ocorreu devido à guerra civil que ocorria no Líbano de 1975 a 1982, que resultou em quase 100.000 mortes.

Não houve pronunciamentos quando, em Maio de 1985, integrantes de milícias muçulmanas atacaram os campos de refugiados palestinos de Shatila e Burj-el Barajneh. De acordo com a ONU, 635 morreram e 2500 ficaram feridos. Durante uma guerra de dois anos entre a milícia Xiita apoiada pela Síria, Amal, e a OLP, 2.000 pessoas morreram, dentre as quais muitos civis. Não houve críticas direcionadas a OLP ou aos sírios.

Igualmente não houve reação do meio internacional quando forças Sírias atacaram áreas do Líbano sob controle cristão, em outubro de 1990, matando, na maior batalha da guerra civil libanesa, que durou 8 horas, 700 cristãos.

A Retirada Israelense

Israel retirou suas tropas do Sul do Líbano em 24 de maio de 2000, depois de uma ocupação militar de 22 anos. Todos os postos do exército de Israel foram evacuados.

A retirada foi feita cumprindo uma definição da ONU.

Hoje em dia os libaneses brigam pela retirada do exército sírio de seu território em grandes manifestações populares, buscando a independência e a democracia.

Isso mostra que há meios pacíficos mais legítimos do que a guerra, além de trazer a esperança de que o pensamento democrático esta chegando no oriente médio. Em 2005, o exército sírio se retirou do Líbano..

Guerra do Líbano – História

Desde 1975 conflitos acontecem no Líbano: cristãos contra palestinos; palestinos contra muçulmanos; muçulmanos contra muçulmanos. Uma guerra interminável.

E uma guerra em que morreram não apenas libaneses.

A leste e ao sul do Líbano, sírios e israelenses jogam seu jogo mortal de “dividir para conquistar”. Reféns, bombardeios, massacres, carros-bomba, campos de concentração de refugiados. Desde 1975, o Líbano tem sido o campo de extermínio de inúmeros senhores da guerra. Entretanto, nem faz tanto tempo, esta região era um símbolo de tolerância e vida digna.

Em Israel, a poucos quilômetros do Líbano, os judeus veneram o Muro das Lamentações, os cristãos cultuam o lugar do sacrifício de Jesus, e os muçulmanos, a rocha de onde o cavalo de Maomé saltou, levando-o para o céu.

Mesmo assim, nestes anos, morreram no Líbano mais de cem mil pessoas. Trinta por cento da população foi evacuada e mais de trezentos mil libaneses escolheram viver no exílio a ter de conviver com a guerra.

Por que tanto ódio? Por que tanta loucura?

1975. Antes do início da guerra, o Líbano era uma nação aberta e democrática. Beirute era a capital financeira e bancária de todo o Oriente Médio, uma próspera Suíça Oriental.

A situação do Líbano, contudo, é complexa. Dezessete diferentes comunidades convivem num exíguo território de três milhões de habitantes. Os cristãos e os muçulmanos dividem-se em muitos grupos.

E há os refugiados palestinos.

Governos cristãos gozavam de muitas regalias, mas já não alcançavam a maioria. Os muçulmanos aspiram a um poder maior e a mais influência na economia libanesa.

E se impacientam com a resistência que os cristãos oferecem às mudanças. Assim como há vários grupos e comunidades, o país divide-se em clãs poderosos, cada um com sua milícia armada.

Outras nações decidem intervir: a Síria tenta manter sua supremacia no Oriente Médio; o Irã também intervém através do Hezbollah; e Israel revida, agredindo os países árabes que oferecem proteção aos grupos que lutam pela libertação da Palestina.

Mais de trezentos mil palestinos vivem em campos de concentração de refugiados no Líbano, de onde emergiu um poderoso exército palestino.

A Organização de Libertação para a Palestina, liderada por Yassir Arafat, nasceu nesses campos de refugiados.

Cristãos contra cristãos; muçulmanos contra muçulmanos; palestinos contra palestinos. Os grupos se subdividem. Os inimigos trocam de lado.

O número de libaneses que atualmente vive fora do Líbano já é maior que o número que permaneceu no país. Esses libaneses estão longe, vivendo da esperança de que a paz volte a reinar e possam, afinal, voltar para casa.

Entenda o Conflito…

A partir da destruição do segundo templo em Jerusalém (70 a.C.), pelos romanos, o povo judeu deu início à sua dispersão pelo mundo (A Diáspora), fruto da dominação e de perseguições sofridas em seu território de origem. Desde então, os israelitas mantiveram o objetivo nacional e messiânico do retorno à pátria.

Durante séculos, contudo, esse propósito tinha, exclusivamente, uma dimensão religiosa, pouco ou nada sendo feito de concreto para realizá-lo.

No século XIX, quando explodiram na Europa Oriental os nacionalismos dos povos então sob impérios multinacionais, como os Austro- Húngaros, Russos e, parcialmente, o Turco-Otomanos, também o povo judeu começou a formular, de maneira política, a criação de um moderno Estado Judeu.

Nascia o sionismo: nacionalismo judaico que prega a ação política para recriar Israel em seu território original, a Palestina, então em mãos turcas. Para o avanço das idéias sionistas, cuja origem é atribuída a Theodor Hertzl, escritor judeu-húngaro que redigiu “O Estado Judeu”, também contribuiu um crescente anti-semitismo que ganhou corpo no leste europeu.

O preconceito contra os judeus levava-os a aspirar por um país próprio.

Na passagem dos séculos XIX e XX, o movimento sionista ganhou adeptos de várias ramificações – socialistas, religiosos e outros – que visavam levar colonos judeus para a Palestina, atraindo particularmente os jovens.

A Guerra do Líbano

O sofrimento e a destruição causados pela ofensiva de Israel contra o Hezbollah, que atinge sobretudo a população civil, começam a mudar a visão que o mundo tem desse conflito.

A questão, que fica cada vez mais aguda, é: por mais que tenha os motivos certos para retaliar seus agressores, Israel não pode lutar uma guerra suja.

Existem razões justas, baseadas na lei moral e nas regras internacionais, para iniciar uma guerra. Israel as teve todas ao revidar as agressões dos terroristas islâmicos instalados no seu vizinho do norte, o Líbano.

O trágico é que, por mais justas e embasadas que sejam as razões para disparar os canhões, quando eles começam a vomitar fogo o inferno se instala e consome igualmente vidas inocentes e de combatentes.

Em sua terceira semana, o conflito entre Israel e a milícia do Hezbollah, o “Partido de Deus”, parece estar apenas no começo. Apesar do nome, o Hezbollah nada tem de sagrado.

É uma falange sanguinária montada com dinheiro do Irã e armas fornecidas pela Síria. Seu objetivo imediato é matar israelenses, sendo-lhes indiferente se os alvos são civis ou militares.

Seu objetivo final é converter ou matar todos os que não pensem como seus líderes. O duplamente trágico no atual estágio da guerra iniciada por Israel deriva do fato de que, mesmo sem ser esse seu objetivo, as ações militares de Israel estão matando civis inocentes e, aos olhos do mundo, os justos começam a se assemelhar aos sicários que eles se propuseram a punir.

O número de mortos cresce, e não existe até agora um claro vencedor. Os civis pagam o preço mais alto. Pelas estimativas da sexta-feira passada, 800.000 libaneses, numa população de 4 milhões, foram forçados a abandonar suas casas e mais de 400 foram mortos. As cidades costeiras de Tiro e Sidon estão abarrotadas com mais de 100.000 refugiados. Israel sofre também, ainda que seu total de mortos seja dez vezes menor que o libanês. Ao menos 2.300 mísseis e foguetes lançados pelo Hezbollah já caíram em cidades e povoados israelenses, obrigando mais de 1 milhão de pessoas a procurar os abrigos antiaéreos. O balanço desproporcional em número de vítimas e nas dimensões da destruição está agora no centro de um complicado dilema ético que vai além do habitual debate entre Israel e seus detratores.

Diz respeito ao seguinte: uma guerra continua justa se for lutada de modo sujo?

Do ponto de vista das regras internacionais, todo Estado tem o direito e o dever de preservar a vida de seus cidadãos de ataques externos. A ofensiva israelense no território libanês é justa, ao menos no que diz respeito a sua motivação. Se o Hezbollah atravessou uma fronteira internacional e seqüestrou dois soldados (como fez três semanas atrás) e há anos lança regularmente foguetes sobre as cidades israelenses, é um direito de Israel usar a força para tentar eliminar esse grupo ou, pelo menos, reduzir sua campanha terrorista.

A moralidade da ofensiva torna-se nebulosa, contudo, quando Israel usa bombas de fragmentação em áreas populosas, ataca estradas e centrais elétricas que, apesar de terem algum uso militar, são vitais para a população civil. A quase universal compreensão com que o Estado judeu contou nos primeiros dias de confronto, até mesmo em alguns países árabes, está agora virada de cabeça para baixo.

A mudança deve-se exclusivamente ao sofrimento imposto à população do Líbano, da qual o Hezbollah representa apenas uma ínfima parcela.

Pelas normas internacionais, a maneira de fazer uma guerra é considerada justa quando preenche três requisitos: a resposta deve ser proporcional à ameaça ou agressão, não se pode usar força excessiva e os ataques têm de ser direcionados aos combatentes inimigos, e não aos civis. A proporcionalidade de um conflito não é julgada apenas pela agressão sofrida.

Há dois outros fatores igualmente importantes. O primeiro são as dimensões da ameaça (a chuva de foguetes e mísseis lançados contra o território israelense dá a dimensão do enorme perigo representado pelo Hezbollah). O segundo leva em conta a destruição que a guerra causa, em comparação aos benefícios que pode trazer. Se o Hezbollah for destruído ou contido, argumentam os israelenses, os benefícios serão enormes. Não apenas para Israel, mas também para o Líbano e para os outros países da região, ameaçados pelo extremismo islâmico patrocinado pelo Irã.

A questão da proporcionalidade cobre apenas uma parte da discussão ética. Desde o fim da II Guerra, o mundo tem colocado ênfase na diplomacia e na jurisprudência para a solução de litígios.

O conceito moderno é que a guerra deve ser o último recurso, depois de todos os outros terem se esgotado.

Uma série de acordos internacionais e a Convenção de Genebra é a mais conhecida tenta colocar ordem numa questão que já era discutida nos tempos da conquista da Gália por Júlio César: na guerra vale tudo?

A resposta ética é não. Mesmo que se entenda que o soldado, no meio da balaceira, não hesite em usar sua arma mais poderosa, certas regras separam a civilização da barbárie.

As questões essenciais são a imunidade do não combatente, a proteção aos feridos e a garantia de bom tratamento aos prisioneiros.

Essas regras básicas surgiram no século IV, nas obras de Santo Agostinho, que tratou do conceito da guerra justa de acordo com a moralidade cristã. Quem transformou o assunto em uma questão de direito, lançando as bases do que seria uma “lei da guerra”, foi o jurista holandês Hugo Grotius, no século XVII. Grotius defendeu a necessidade de alguma moderação nos conflitos, recomendando práticas como a preservação das riquezas arquitetônicas e obras de arte encontradas no território inimigo e o cuidado com a vida dos civis. Se não respeitar essas regras, Israel se igualará a seus inimigos, os terroristas.

Na sexta-feira passada, surgiu o primeiro fio de esperança: um plano de cessar-fogo proposto pelos Estados Unidos e por outros países, que deverá ser submetido ao Conselho de Segurança das Nações Unidas nesta semana. O resultado dessa iniciativa depende de várias questões fundamentais, alinhadas a seguir.

O CULPADO PELO COMEÇO DA GUERRA É O HEZBOLLAH

Nem sempre é fácil identificar o responsável por um novo surto de violência no Oriente Médio. Na guerra no Líbano, no entanto, há o consenso de que o Hezbollah bateu primeiro. Em 12 de julho, seus guerrilheiros cruzaram a fronteira, mataram três soldados israelenses e seqüestraram dois. Desde que se retirou do sul do Líbano, há seis anos, o Exército israelense reagia com moderação às provocações do Hezbollah.

A ESTRATÉGIA MILITAR DE ISRAEL É DUVIDOSA

O primeiro-ministro Ehud Olmert persegue dois objetivos principais no Líbano. O primeiro é usar o poderio aéreo para causar o maior estrago possível na estrutura militar, nas vias de transporte e de comunicação do Hezbollah antes de arriscar a vida de soldados israelenses em combates de infantaria. O segundo objetivo é demonstrar de forma enfática o poder de fogo israelense, de forma a persuadir o inimigo de que não vale a pena insistir em futuras agressões.

Ambas as metas esbarram no mesmo problema: a dificuldade de derrotar uma força guerrilheira que conhece bem o campo de batalha e tem o apoio da população.

O HEZBOLLAH, O HAMAS E A AL QAEDA REZAM PELA MESMA CARTILHA

O Hezbollah, o Hamas e a Al Qaeda compartilham a abominável estratégia do homem-bomba. Em princípio, esses movimentos radicais islâmicos querem a destruição do Estado de Israel e a construção de Estados teocráticos. Aí começam as diferenças. A Al Qaeda é um movimento global, sem vínculos territoriais ou nacionais. Seu objetivo é um califado mundial e a destruição de seu pior inimigo, a vertente xiita do Islã. O Hezbollah representa a comunidade xiita do Líbano, tem um braço político, com participação no governo libanês, e outro social. O Hamas ganhou as últimas eleições palestinas. Apesar da atual aliança tática e do inimigo em comum, a tensão entre o Hamas e o Hezbollah é grande e reflete o profundo racha dentro do mundo muçulmano. O Hezbollah é uma criação dos aiatolás do Irã. O Hamas foi financiado pelos xeques sunitas da Arábia Saudita, cujo maior inimigo são exatamente os xiitas iranianos.

RETIRADAS UNILATERAIS FORAM UMA BOA IDÉIA, MAS NÃO DERAM CERTO

Israel deixou a faixa de segurança que ocupava no sul do Líbano em 2000. No ano passado saiu da Faixa de Gaza, depois de 38 anos de ocupação.

O governo israelense promoveu todos esses recuos de forma unilateral.

Resultado: o Hezbollah, que passou dezoito anos combatendo a presença de tropas israelenses no território libanês, saiu do episódio com pose de vencedor.

Desde então Israel assistiu impotente à corrida do Hezbollah para construir bunkers, abrigos e armar-se com a ajuda do Irã. Na Faixa de Gaza, sem os israelenses para combater, seis ou sete grupos armados passaram a lutar uns com os outros, levando o caos à região. Hoje se vêem confirmadas as previsões pessimistas dos críticos tanto da direita quanto da esquerda israelense.

ACORDO NO LÍBANO É POSSÍVEL, MESMO SEM SOLUÇÃO PARA A ENCRENCA PALESTINA

Oficialmente, Israel e Líbano estão em estado de guerra desde 1948. Ambos assinaram o armistício de 1949, que estabeleceu as fronteiras entre os dois países.

Com uma grande minoria cristã e forte influência ocidental, o Líbano pode ser considerado o menos hostil e o mais fraco vizinho árabe de Israel. Na verdade, as invasões e os ataques israelenses nunca foram exatamente contra o Estado libanês, mas contra o Estado dentro do Estado criado pelos palestinos, em 1982, e agora contra o Estado dentro do Estado criado pelo Hezbollah. O governo libanês sempre repete que será o último país árabe a assinar a paz com Israel, para não ser acusado de traidor pelos demais. Por sua vez, o Hezbollah condiciona a convivência pacífica com os israelenses à solução do problema palestino.

Objetivamente, Israel e Líbano podem chegar a um compromisso em torno de assuntos concretos sem um tratado formal de paz.

A GUERRA NO LÍBANO REFLETE A DIVISÃO NO MUNDO MUÇULMANO

Qualquer solução para afastar o perigo do Hezbollah provavelmente teria o apoio de três influentes países de maioria sunita: o Egito, a Arábia Saudita e a Jordânia.

Os governos desses três países apressaram-se, logo de início, a criticar o ataque do grupo xiita libanês que deu início à guerra. O governo do Irã, de maioria xiita, tem se empenhado em aumentar seu poder regional influenciando grupos da mesma facção islâmica, como o Hezbollah, no Líbano, e os políticos xiitas que atualmente dominam o governo iraquiano.

O EQUILÍBRIO CONFESSIONAL NO LÍBANO ESTÁ AMEAÇADO

O equilíbrio entre dezessete confissões religiosas era a grande façanha daquele país até meses atrás. Agora, há dúvidas se o delicado equilíbrio pode sobreviver à guerra provocada pelo Hezbollah. No Líbano, há cinco subdivisões entre os muçulmanos, e doze entre os cristãos. Um em cada dez habitantes é refugiado palestino. Na guerra civil, que castigou o país de 1975 a 1990 e causou a morte de 150.000 pessoas, as rixas entre os grupos sectários foram alimentadas por interesses externos. A Síria, os palestinos e Israel tomaram partido e acabaram por participar diretamente do conflito.

O acordo de paz que pôs fim à guerra foi sacramentado por um líder carismático, o primeiro-ministro Rafik Hariri, assassinado no início de 2005. Muçulmano sunita, Hariri assumiu a chefia do governo em 1992.

Sob o seu comando, Beirute voltou a atrair turistas e investimentos estrangeiros.

Sobrou uma encrenca sem solução: todas as milícias foram desarmadas, exceto o Hezbollah.

TROPAS DE PAZ NUNCA DERAM CERTO NO ORIENTE MÉDIO

A proposta de cessar-fogo que os Estados Unidos e outros países devem apresentar, nesta semana, ao Conselho de Segurança das Nações Unidas prevê o envio de tropas internacionais para o sul do Líbano.

A missão dessas forças seria ajudar o governo libanês a desarmar o Hezbollah e garantir a chegada de ajuda humanitária. A solução é atraente mas de difícil execução. Se a guerra parar agora, a guerrilha xiita conserva boa parte de sua força militar e de seu prestígio popular e político. Em outras palavras, só entregará as armas se quiser.

SÓ A VITÓRIA INCONTESTE INTERESSA A ISRAEL

Israel embarcou nesta guerra para impor sua autoridade no sul do Líbano.

Seu objetivo é claro: destruir a capacidade ofensiva do Hezbollah de tal maneira que o grupo leve anos para se recuperar e, de preferência, nunca o faça.

Que alternativa poderia ser considerada uma vitória para Israel?

Talvez um acordo de cessar-fogo para desarmar o Hezbollah aos poucos e restituir ao Estado libanês o controle de todo o seu território.

Isso dificilmente poderia ser feito sem a supervisão de uma força internacional e sem a concordância tácita da Síria.

SE O HEZBOLLAH VENCER A GUERRA, O ORIENTE MÉDIO MUDA PARA PIOR

Quanto mais a guerra se estende e o número de baixas israelenses aumenta, mais o Hezbollah ganha crédito como a única força árabe a derrotar os israelenses. Se isso acontecer, será um desastre para o Oriente Médio.

Os terroristas do Hamas e da Jihad Islâmica interpretariam o sucesso do Hezbollah como se fosse deles próprios. Isso estimularia novos atentados palestinos e o crescimento do extremismo islâmico na Jordânia, no Egito e na Arábia Saudita, países aliados dos Estados Unidos. O governo de Israel fez uma aposta pesada ao mergulhar tão fundo na guerra contra o Hezbollah. Se fracassar, o mundo todo terá o que lamentar.

Fonte: www.tvcultura.com.br/chazit.com/www.libanoshow.com/cdn.cfr.org

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