Judeus na China

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Ninguém sabe ao certo quando os chineses tiveram o primeiro contato com os judeus.

Certos historiadores afirmam que, a partir do século VIII, os mercadores judeus que viajavam pelo mundo chegaram `a china, nação mercantilista por excelência.

Documentos datados de 717 atestam o estabelecimento no império chinês, de comerciantes judeus vindos do Oriente Médio. Uma carta escrita por volta do ano 718, por um mercador interessado em vender algumas ovelhas, e descoberta na região ocidental da China, há cerca de um século, é um dos inúmeros sinais que, segundo estudiosos, comprovam a centenária presença judaica no país.

A carta, escrita em judeu-persa com letras hebraicas, em um tipo de papel produzido até então apenas pelos chineses, utiliza uma linguagem comercial comum na Ásia Central, no período.

Posteriormente, foi encontrado nas Cavernas de Mil Budas, em Dunhuang, um outro documento em hebraico: uma das selichot.

Circulam várias histórias sobre a vida dos judeus na China. Uma delas conta que em 880, um judeu chamado Eldad HaDani, foi capturado por bandidos e levado à China, onde foi libertado por um comerciante de origem judaica.

Este episódio é mencionado por Rashi e por Hasdai ibn Shaprut. Outra referência à presença judaica foi encontrada em meio a documentos do diretor-geral dos Correios de Bagdá, Ibn Khurdadbih, na qual mencionava mercadores judeus conhecidos como Radanitas, que viajavam pelas regiões da Espanha, França e China.

No século X, o cronista muçulmano Abu Kaid a-Sirafi escreveu sobre a captura da cidade de Khanfhu (provavelmente Guang-chu, ou Cantão), nos anos 877 e 878, mencionando o massacre de muçulmanos, cristãos e mercadores judeus na região.

Há também relatos de encontros de viajantes cristãos com judeus no final do século XII. Outro relato foi feito por Marco Polo em seus diários de viagem, em 1286, afirmando ter encontrado judeus em Khanbalik (Pequim), durante sua visita à corte do rei Kubilai Khan.

Pouco depois, o missionário franciscano John de Montecorvino reafirmava em suas cartas, a presença judaica no país e, em 1326, o missionário Andrew de Perugia escrevia dizendo que os judeus de Guang-chu recusavam-se obstinadamente a abrir mão de sua fé e aceitar o batismo.

Em 1342, John de Marignoli contou, em correspondência, ter participado de “gloriosas disputas” intelectuais em Pequim com muçulmanos e judeus.

O viajante muçulmano Ibn Battuta também falou sobre a presença judaica na China, quando chegou na cidade de Hangzhou, em 1346.

Segundo narra, ele e seu grupo entraram na cidade através de um portão chamado “Portão dos judeus”, enfatizando que ali viviam “muitos judeus, cristãos e turcos, adoradores do sol”.

Novas evidências da vida judaica na China apareceram posteriormente, em meados do século XVI, mais uma vez na troca de correspondência entre missioná-rios, entre os quais Francisco Xavier, posteriormente canonizado pelo trabalho que realizou no Extremo Oriente.

O viajante português Galleato Pereira, ao escrever sobre o tempo em que ficou preso na China, entre 1549 e 1561, afirmou que nos tribunais chineses gentios e judeus faziam os juramentos cada um em sua própria fé.

A vida dos judeus em territórios chineses pode ser considerada tranquila, pois não há registro de perseguições pelas autoridades, fato que teria levado à assimilação.

Dizem os estudiosos que esta situação deve-se ao fato de que a filosofia confucionista, vigente na China desde o século V a.E.C., não perseguia os seguidores de outras religiões.

A comunidade judaica de Kaifeng

Uma jovem refugiada judeu jovem e suas amigas chineses em Xangai durante a Segunda Guerra Mundial

Coube ao jesuíta Matteo Ricci “descobrir”, no início do séc. XVII, os judeus de Kaifeng. Segundo seus relatos, a comunidade judaica de Kaifeng observava escrupulosamente as leis da Torá, falava o hebraico e sua sinagoga era suntuosa.

Infelizmente a revolução chinesa de 1644, que levou ao poder a dinastia Ching, provocara a destruição da sinagoga e dos livros sagrados, além de um declínio geral na vida comunitária judaica.

Apesar da sinagoga ter sido reconstruída, a vida judaica perdeu grande parte de sua vitalidade após esses eventos.

No século XVIII, os jesuítas que visitaram a cidade de Kaifeng aproximaram-se dos judeus e estudaram os seus textos sagrados. Durante este período, houve intensa troca de cartas entre Pequim e Roma e este material se tornou parte dos arquivos do Vaticano. Nessas cartas os religiosos descreviam a vida cotidiana e os costumes dos judeus chineses, ressaltando o orgulho e a maneira como cuidavam da sinagoga.

Jean Domenge, jesuíta que visitou os judeus chineses em 1722, fez alguns esboços da parte interna e externa da sinagoga de Kaifeng, registrando o grau de assimilação que já havia no seio da comunidade judaica local.

De acordo com a descrição de Domenge, a sinagoga de Kaifeng seguia o estilo arquitetônico local, com muitas áreas dedicadas aos ancestrais e personagens ilustres da histórica judaica.

Denominada Templo da Pureza e da Verdade – nome comum também para as mesquitas – tinha uma área separada para o sacrifício de animais. No seu interior, havia também uma mesa na qual se queimava incenso em honra dos patriarcas Abraham, Itzhak e Jacob.

Durante o Shabat, de acordo com Domenge, os judeus liam a Torá, mas somente depois que esta fosse colocada em uma “cadeira especial para Moisés”.

Acima da cadeira, havia uma placa com os seguintes dizeres em dourado: “Longa vida para o Grande Imperador Qing (referência ao nome da dinastia). Era uma exigência do governo para os templos judaicos, muçulmanos, confucionistas, budistas e taoístas, que vigorou até o estabelecimento da República da China, em 1911.

Nas sinagogas, no entanto, os judeus incluíram em hebraico a prece do Shemá, acima do texto em chinês, já que esta não poderia ser compreendida pelos não-judeus. Desta maneira, somente D’us e eles sabiam que o Todo-Poderoso estava acima de tudo.

Documentos dos jesuítas mencionam também dois monumentos com inscrições, erguidos na área externa da sinagoga de Kaifeng. Uma das inscrições, datada de 1489, fala sobre a história e a crenças dos judeus, ressaltando o ano de 1421, quando o imperador conferiu o sobrenome Zhao ao médico judeu An Ch’em, ato que simbolizou a aceitação dos judeus na socie-dade chinesa.

A partir dessa data, os judeus poderiam integrar-se aos serviços públicos. Esta inscrição também mencio-na o que seria o início da presença judaica em Kaifeng, em 960.

Nesse ano, seguindo a Rota da Seda, um grupo de judeus persas – mercadores ou refugiados de perseguições em seu país de origem – instalaram-se na cidade, sendo recebidos pelo então imperador da Dinastia Sung, do qual ouviram as seguintes palavras: “Vocês vieram para a nossa China. Respeitem e preservem os costumes de seus ancestrais e os reverenciem aqui em Pien-liang (Kaifeng)”.

No mesmo texto, ainda, conta-se que a primeira sinagoga foi construída em 1163. Na parte de trás deste monumento, há uma inscrição datada de 1512 que sugere a existência de comunidades judaicas em outras regiões da China, como por exemplo, a doação de um rolo de Torá feita pelo sr. Gold (Jin, em chinês), de Hangzhou, para a comunidade de Kaifeng.

Na inscrição encontra-se também uma tentativa de traçar um paralelo entre os princípios básicos do confucionismo e do judaísmo, algo facilmente identificável, pois ambas as religiões enfatizam a aplicação de princípios morais na vida cotidiana.

Segundo pesquisas feitas por historiadores, desde a sua chegada a Kaifeng, os judeus se instalaram em um bairro que se tornou conhecido como “A Rua

Daqueles que Ensinam as Escrituras”. A primeira sinagoga foi construída no entroncamento das ruas “Mercado da Terra” e “Deus do Fogo”. O monumento erguido em 1489 marcava a reinauguração do templo que fora destruído durante uma enchente.

Judeus na China – História

Refugiados judeus em Xangai

Os judeus chegaram à China já na Dinastia Tang, por volta do século VIII.

comunidade judaica em Kaifeng, que prosperou durante a Dinastia Song, era conhecida de todos. A partir de meados do século 19, quando a antiga comunidade judaica em Kaifeng foi assimilada, novas comunidades judaicas começaram a surgir entre o século 8 e o século 20, a cultura e a tradição dos judeus imigrantes se basearam e foram enriquecidas pelo país anfitrião –China.

Eles também exerceram sua influência na vida cultural e social da China.

As culturas chinesa e judaica são as duas civilizações mais antigas do mundo e compartilham muito em comum. Ambos enfatizam fortemente a função do vínculo familiar e o valor educacional e, embora ambos tenham absorvido várias culturas exóticas, seu núcleo central nunca mudou desde o nascimento.

O tópico “Judeus na China” tem valor acadêmico nas áreas de estudos judaicos, sinologia, história, estudos religiosos, estudos étnicos, antropologia cultural e filosofia. Além disso, este projeto tem um significado prático importante na oposição ao racismo e ao fascismo, promovendo relações de amizade e harmonia cultural entre todos os povos e preservando a paz no mundo.

Judeus na China Antiga: O Caso de Kaifeng

Foi durante a Dinastia Tang (por volta do século VIII) que os primeiros grupos de judeus chegaram à China pela Rota da Seda por terra. Outros então podem vir por mar para as áreas costeiras antes de se mudarem para o interior. Alguns estudiosos acreditam que os judeus chegaram à China já na dinastia Han (206 a.C.-220 d.C.); alguns vão tão longe a ponto de colocar sua chegada mais cedo, durante a dinastia Zhou (por volta do século 6 a.C.), embora não tenha havido nenhuma descoberta arqueológica que comprovasse tais afirmações.

Depois de entrar na China, os judeus viveram em muitas cidades e áreas, mas não foi até a Dinastia Song (960-1279) que a Comunidade Judaica Kaifeng se formou.

Na Dinastia Song do Norte, um grupo de judeus veio para a então capital Dongjing (agora Kaifeng).

Eles foram calorosamente recebidos pelas autoridades e tiveram permissão para viver em Kaifeng como chineses, mantendo suas próprias tradições e fé religiosa. A partir de então, eles gozaram, sem preconceito, dos mesmos direitos e tratamento que os povos Han em questões de residência, mobilidade, emprego, educação, transações de terras, crenças religiosas e casamento. Em tal ambiente seguro, estável e confortável, os judeus logo demonstraram seus talentos em negócios e finanças, obtendo sucesso no comércio e no comércio e se tornando um grupo rico em Kaifeng.

Ao mesmo tempo, suas atividades religiosas aumentaram. Em 1163, os judeus em Kaifeng construíram uma sinagoga bem no centro da cidade. Após mais de 100 anos, com o apoio do governo da Dinastia Yuan (1279-1368), a sinagoga foi reformada. Na Dinastia Ming (1368-1644), a comunidade judaica em Kaifeng atingiu seu período mais próspero. Incluía mais de 500 famílias, com uma população total de cerca de 4.000 a 5.000.

O status social dos judeus também continuou a subir. Naquela época, havia judeus que haviam se tornado funcionários do governo por meio de exames imperiais, alguns haviam enriquecido extraordinariamente por meio dos negócios, alguns se tornaram artesãos habilidosos ou fazendeiros prósperos e trabalhadores, e ainda outros médicos e clérigos. Ao mesmo tempo, os judeus estavam quase inconscientemente sendo assimilados pela corrente principal da cultura confucionista chinesa. Eles participaram dos exames imperiais, mudaram seus nomes hebraicos para chineses, usaram o chinês para falar e estudar, começaram a casar-se com outras nacionalidades, se vestiram como chineses e absorveram os hábitos e tradições chinesas enquanto os seus próprios desapareciam gradualmente.

Em 1642, a Sinagoga Kaifeng foi destruída e muitas escrituras religiosas perdidas em uma grande enchente do Rio Amarelo.

Os judeus em Kaifeng reconstruíram sua sinagoga em 1663 e recuperaram algumas das escrituras, mas o número da comunidade judaica havia diminuído para menos de 2.000.

No final do século 17, a comunidade judaica havia essencialmente perdido o contato com o mundo judaico lá fora.

Em meados do século 19, a Sinagoga Kaifeng estava em ruínas, e os judeus em Kaifeng viveram sem um rabino por muitos anos. Eles não sabiam ler hebraico e haviam parado de realizar rituais religiosos.

Mais ou menos nessa época, missionários ocidentais “descobriram” os descendentes de judeus em Kaifeng, provocando um frenesi de pesquisas de europeus e americanos sobre os judeus de Kaifeng. Mais tarde, os judeus em Xangai também tentaram em vão ajudar os descendentes de judeus em Kaifeng a restaurar as tradições judaicas. No final, a comunidade judaica em Kaifeng foi integrada à cultura chinesa.

Fonte: www.morasha.com.br/www.cjss.org.cn

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