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Tardígrados – O que é
Os tardígrados marinhos ocorrem nos espaços intersticiais dos primeiros centímetros de areia da zona litoral, no limo orgânico de algas, em carapaças de cracas e outros substratos, incluindo um ectoparasita de invertebrados marinhos (Tetrakentron synaptae), e no sedimento de mares profundos.
Apesar de serem cosmopolitas, incluem algumas famílias com distribuição diferenciada: os Batillipedidae são tipicamente mesopsâmicos e intertidais, enquanto os Halechiniscidae habitam as zonas subtidais.
Este tipo de distribuição é relacionado à forma geral do corpo e às adaptações dos apêndices locomotores.
A história do conhecimento dos tardígrados marinhos no Brasil resume-se principalmente aos estudos realizados em São Paulo, em meados deste século, pelo Prof. Dr. Ernst Marcus e por sua esposa, a Sra. Eveline Du Bois-Reymond Marcus (Marcus, 1946; Marcus, E. du B.-R., 1952).
Outras contribuições foram dadas por Höfling-Epiphanio (1972). Medeiros (1987) relatou a presença maciça de Tardígrados numa praia da Ilha Anchieta, SP, em seu estudo sobre meiobentos no Brasil. Corrêa (1987) organizou informações sobre técnicas de coleta e preparação empregadas para o filo.
Tardígrado
Estudos meiofaunísticos realizados em Pernambuco pela Profa. Dra. Verônica da Fonsêca-Genevois e sua equipe forneceram material que foi descrito por Renaud-Mornant (1990). Desde então, pouco foi feito em prol do conhecimento da diversidade dos tardígrados marinhos no Brasil e no estado de São Paulo, a não ser por alguns registros de ocorrência de exemplares do filo em amostragens realizadas em estudos de meiofauna.
A despeito da possibilidade de existir uma grande diversidade de Tardígrados no nosso litoral, permanecemos aquém das expectativas em se tratando de investigações e contribuições para o conhecimento do grupo.
Os tardígrados dulciaqüícolas apresentam grande diversidade morfológica. Enquanto os representantes das ordens Heterotardigrada Marcus, 1927 e Mesotardigrada Rahm, 1937 possuem apêndices sensoriais cefálicos, que são utilizados como caracteres diagnósticos importantes, os representantes da ordem Eutardigrada Marcus, 1927 não os apresentam. Além disto, os Eutardigrada não possuem a cutícula de quitina ornamentada e dividida em placas, caráter muito importante entre a maioria dos Heterotardigrada. Alguns são cosmopolitas, enquanto outros têm distribuição mais restrita. Ocorrem em vários tipos de ambientes, tais como musgos e líquens, na terra, em folhiços, no sedimento ou sobre algas e plantas submersas de lagos, rios, poças etc.
Apesar de não possuírem importância econômica, são fundamentais nos estudos de filogenia de Metazoa.
Posição Sistemática
Reino: Animalia
Sub reino: Metazoa
Filo Tardigrada
Classe Heterotardigrad
Classe Mesotardigrada
Classe Eutardigrada
Número de espécies
No mundo: 136 (marinhas)
No Brasil: 6 (marinhas)
Latim: tardus = lento; gradus = andar
Nome vernáculo: tardigrado
Tardígrados – Animais
Os Tardígrados são animais de pequenas dimensões (0,05 a 1,5 mm) que constituem um filo independente, aparentado com os Artrópodes (grande grupo zoológico que inclui insetos, crustáceos, aracnídeos, miriápodes…).
Os raríssimos registos fósseis de Tardígrados apontam para uma origem há cerca de 600 milhões de anos no Pré-Câmbrico.
Terão sido observados pela primeira vez em 1773 por J. A. E. Goeze, pároco duma pequena localidade alemã (Quedlinburg, Harz), que os designou ?Kleiner Wasser Bär?, em português Ursinhos-de-água.
O nome Tardígrado foi atribuído em 1776 por Lazzaro Spallanzani, professor de História Natural na Universidade de Pádua, Itália, vem do latim tardus = lento + gradus = passo, tendo sido inspirado na forma como estes animais se movimentam.
Onde se encontram?
Conhecem-se cerca de 1000 espécies, desde formas marinhas, de água doce e limnoterrestres, isto é, de ambientes semi-aquáticos, tais como as gotículas de água que existem em musgos, líquenes, manta-morta, solo, etc.
Podem encontrar-se em praticamente todos os locais do mundo, mesmo aqueles em que as condições de vida são muito adversas, desde regiões secas a florestas húmidas, altas montanhas, Antártida, etc.
As formas marinhas estão presentes em todos os oceanos, desde zonas costeiras intertidais até profundidades abissais, vivendo em sedimentos mais ou menos finos, rochas e algas.
Também se podem encontrar em estuários de água salobra. Pensa-se que a dispersão dos Tardígrados deverá ser fortemente influenciada pelas correntes e ventos.
Os Tardígrados alimentam-se dos fluidos celulares de bactérias, algas, outros pequenos invertebrados (como nematodes e rotíferos), conhecendo-se apenas uma espécie marinha parasita de holotúrias.
Um tardígrado da classe Heterotardigrada. Repare-se na cutícula subdividida em placas dorsais
Um tardígrado da classe Eutardigrada. Repare-se na cutícula lisa e no aparelho bucal visível por transparência
Habitat típico de tardígrados marinhos
Qual é o seu aspeto morfológico?
Os Tardígrados são caracterizados por possuírem um corpo robusto subdividido em cinco segmentos, o primeiro correspondente à zona cefálica, os restantes, cada um com um par de pés não articulados, chamados lobópodes, constituem o tronco. Cada um dos oito pés termina em dedos, discos adesivos ou garras.
O corpo é coberto por uma cutícula por vezes dividida em placas ornamentadas e pigmentadas. O crescimento, tal como nos Artrópodes, dá-se por mudas (ecdysis).
Há evidências de que os Tardígrados são animais eutélicos, nome dado aos organismos em que, durante o crescimento, não há multiplicação do número de células, mas antes um aumento do volume de cada uma delas.
Apresentam sistema nervoso com órgãos sensíveis à luz e outras estruturas sensoriais; sistema excretor, músculos desenvolvidos, e um aparelho digestivo completo com uma região buco-faríngea sugadora única e muitíssimo complexa. Não têm aparelho respiratório nem sistema circulatório.
A cavidade do corpo (hemocélio) está preenchida por um fluido no qual se movimentam células especiais, os glóbulos cavitares, que desempenham funções respiratórias, circulatórias e, eventualmente, também excretoras. O aparelho reprodutor é constituído por uma gónada ímpar colocada dorsalmente.
Com base nas características morfológicas, o filo Tardígrados foi subdividido em três classes:
HETEROTARDIGRADA,
EUTARDÍGRADA e
MESOTARDIGRADA
Os Heterotardigrada são caracterizados por possuírem uma cutícula subdividida em placas; cirros cefálicos e papilas sensoriais e, geralmente, quatro garras, dedos ou discos adesivos em cada lobópode.
Nos Eutardigrada a cutícula, geralmente lisa, não é subdividida em placas, o bolbo bucal apresenta placóides (barras cuticulares dispostas em fi adas) separados, e, em cada lobópode há duas diplogarras (garra com dois ramos, um principal e um secundário).
A classe Mesotardigrada, com características intermédias, é hoje considerada duvidosa. Com efeito, esta classe é representada por uma única espécie descoberta em 1937 numa fonte termal no Japão.
Acontece que as preparações microscópicas usadas na descrição original se perderam e não voltaram a ser encontrados novos exemplares dessa espécie.
Aspeto das garras de tardígrados
Quatro garras separadas típicas dos Heterotardigrada
Diplogarras típicas dos Eutardigrada. Barra da escala = 10µm
Como se reproduzem?
Nos Tardígrados conhecem-se formas dióicas em que há sexos separados. Nestas formas, os machos fixam-se tenazmente às fêmeas durante a cópula com a ajuda das garras do primeiro par de patas. Há também formas hermafroditas em que os indivíduos têm possibilidade de autofecundação, e formas partenogenéticas.
Nos Tardígrados a reprodução partenogenética designa-se telitoquia. Trata-se de uma forma muito interessante de partenogénese em que não há machos.
As fêmeas produzem ovos que não são fecundados mas dos quais se originam novas fêmeas.
Os ovos são postos isoladamente e podem ter o corion ornamentado com processos mais ou menos complexos, ou então são depositados na velha cutícula no momento da muda. A ornamentação dos ovos constitui uma importante ferramenta taxonômica, pois é diferente de espécie para espécie. Por vezes os indivíduos pertencentes a duas espécies distintas são idênticos mas a ornamentação dos ovos de cada uma dessas espécies é diferente.
O desenvolvimento é direto, quer isto dizer que não há metamorfoses, sendo os juvenis muito semelhantes aos adultos. Estes juvenis são por vezes chamados larvas pois, relativamente aos adultos, apresentam um número mais reduzido de garras em cada lobópode (geralmente duas em vez de quatro) e tanto o ânus como o orifício genital estão ausentes.
Detalhes do aparelho bucal de quatro espécies diferentes de Eutardígrados. Barra da escala = 10µm
Fonte: www.biomania.com/www.parquebiologico.pt/www.nationalgeographic.com